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A inocência e o vício: du coté de Chez Proust

L'innocence et le vice: du côté de Chez Proust

Innocence and vice: du côté de Chez Proust

Resumos

Este trabalho trata da criação da linguagem descritiva do homosse-xualismo masculino em Sodoma e Gomorra de Proust. Defende-se a tese de que Proust definiu a pretensa natureza do homoerotismo servindo-se das categorias da inocência e do vício, implícitas na tessitura do romance. Ambas as categorias estão fortemente marcadas pelas ideologias evolucionistas e instintivas do século XIX e desenham um perfil moral do homoerotismo com base em uma ética predominantemente naturalista, preconceituosa e estig-matizante. Ao lado desta constatação, o estudo mostra também a articulação da invenção teórico-estética dc Proust sobre o homoerotismo com a realidade histórico-social de seu tempo e a extraordinária capacidade do autor para redcscrever a idéia dc sujeito ou subjetividade, como um entrccruzamento de crenças e desejos contingentes.


Ce travail a pour but d'analyser, dans Sodorne et Gomorre dc Proust, la créafion d'un langage servant à décrire l'homosexualisme masculin. Pour définir la soi-disante nature de l'homoérotisme, Proust s'est servi, selon l'au-teur, de deux catégories qui sont implicites dans le tissu même du roman: l'Innocence et le Vice. Aussi bien i'une que l'autre sont fortement marquées par les idéologies évolutionmstes ei instinctivistes propres au XIXème siècie. Elles dessinent un profil moral de rhomoérotisme basé sur une éthique es-semiellement naturaliste, empreinte de préjugés et stigmatisante. Mais l'étude ne se limite pas arendre compte de cette constatation. Ellerévèle aussi comment l' invention théorique et esthétique de Prousten cequi concerne V homoérotisme s'articule avec laréafité historique et sociale de son époque. Elle montre enfin 1'extraordinaire capacité dont fait preuve cet auteur quand il redécrit 1'idée de sujet ou de suhjectivité comme un entrecroisement de croyances et de désirs contingents.


The aríiele deals with Proust's creation of language descriptive of mas-culine horaosexuality in his novel Sodom and Gomorrah. Tlie thesis is that Proust used the categories of innocence and vice, implieit in lhe contexture of this novel, to define lhe would-he nature of homoerotism, Both of these calegories are heavily branded hy tlie nineteenth century's evolutionist and instinctive ideologies and draw a moral profile of homoerotism grounded in a predominantly naturalist, prejudiced, and stigmatizing ethic. Tlie artiele also shows tlie articulation of Proust's theoretical-aestheíic invention regarding homoerotism with the historical-social reality of his time and points to the author's extraordinary ahility lo redescribe the idea of subjecí or subjecüvity as a blending of contingent beliefs and desires.


A inocência e o vício: du coté de Chez Proust

Innocence and vice: du côté de Chez Proust

L'innocence et le vice: du côté de Chez Proust

Jurandir Freire Costa

Professor adjunto do Departamento de Políticas e Instituições de Saúde do Instituto de Medicina SociaI/UERJ

RESUMO

Este trabalho trata da criação da linguagem descritiva do homosse-xualismo masculino em Sodoma e Gomorra de Proust. Defende-se a tese de que Proust definiu a pretensa natureza do homoerotismo servindo-se das categorias da inocência e do vício, implícitas na tessitura do romance. Ambas as categorias estão fortemente marcadas pelas ideologias evolucionistas e instintivas do século XIX e desenham um perfil moral do homoerotismo com base em uma ética predominantemente naturalista, preconceituosa e estig-matizante. Ao lado desta constatação, o estudo mostra também a articulação da invenção teórico-estética dc Proust sobre o homoerotismo com a realidade histórico-social de seu tempo e a extraordinária capacidade do autor para redcscrever a idéia dc sujeito ou subjetividade, como um entrccruzamento de crenças e desejos contingentes.

ABSTRACT

The aríiele deals with Proust's creation of language descriptive of mas-culine horaosexuality in his novel Sodom and Gomorrah. Tlie thesis is that Proust used the categories of innocence and vice, implieit in lhe contexture of this novel, to define lhe would-he nature of homoerotism, Both of these calegories are heavily branded hy tlie nineteenth century's evolutionist and instinctive ideologies and draw a moral profile of homoerotism grounded in a predominantly naturalist, prejudiced, and stigmatizing ethic. Tlie artiele also shows tlie articulation of Proust's theoretical-aestheíic invention regarding homoerotism with the historical-social reality of his time and points to the author's extraordinary ahility lo redescribe the idea of subjecí or subjecüvity as a blending of contingent beliefs and desires.

RESUME

Ce travail a pour but d'analyser, dans Sodorne et Gomorre dc Proust, la créafion d'un langage servant à décrire l'homosexualisme masculin. Pour définir la soi-disante nature de l'homoérotisme, Proust s'est servi, selon l'au-teur, de deux catégories qui sont implicites dans le tissu même du roman: l'Innocence et le Vice. Aussi bien i'une que l'autre sont fortement marquées par les idéologies évolutionmstes ei instinctivistes propres au XIXème siècie. Elles dessinent un profil moral de rhomoérotisme basé sur une éthique es-semiellement naturaliste, empreinte de préjugés et stigmatisante. Mais l'étude ne se limite pas arendre compte de cette constatation. Ellerévèle aussi comment l' invention théorique et esthétique de Prousten cequi concerne V homoérotisme s'articule avec laréafité historique et sociale de son époque. Elle montre enfin 1'extraordinaire capacité dont fait preuve cet auteur quand il redécrit 1'idée de sujet ou de suhjectivité comme un entrecroisement de croyances et de désirs contingents.

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1 PAINTER, George D. Mareei Proust, Rio, Guanabara, 1990, p.484.

2 Ibid.

3 Cit. por COMPAGNON, Antoine, in: PROUST, M., Sodome et Gomorrhe, Paris, Gallimard, 1989, p. XXXI.

4 lbid.

S GIDE, A. Journal, 1889-1939, Paris, Gallimard, 1948, p. 694.

6 Ibid, p.70S.

7 Ibid, p. 692.

8 GAY, P. A paixão terna. A experiência burguesa da rainha Vitória a Freud. São Paulo,

Companhia das Letras, 1990.

9 WEBER, E. Françafin-de-siecle. São Paulo, Companhia das Letras, 1988; PERROT, M. "Funções da fanu1ia", in: História da Vida Privada, op. cito pp. 105-121, 1991; MARTlNFUGIER, A. "Os ritos da vida privada burguesa", in: História da Vida Privada, op. cit., pp. 193-203, 1991; GA Y, P.A paixão tema, op. cito

10 GAY,P. op.cit.,p.47.

11 PAINTER, G. D. op. cit., p. 254.

12 RORTY, R. Contingency, frony, and solidarity, Cambridge, Cambridge University Press, 1989.

13 ARENDT, H., As origens do totalitarismo -Anti-semitismo, instrumento de poder. Rio, Editora Documentário, 1979.

14 PROUST, M. , op. cit., p. 531.

15 PROUST, M., op. cit., pp. 153-154.

16 ELMAM, R., Oscar Wilde, São Paulo, Companhia das Letras, 1989, p. 313.

17 Ibid.

18 Ibid.

19 WEBER, E., op. cit., p. 20.

20 Ibid, p. 97.

21 PROUST, M., op. cit., p. 81.

22 Ibid, p. 122.

23 PROUST, M., op. cit., p. 100.

24 Ibid, p. 476.

25 ARENDT, H,, As origens do totalitarismo —Anti-semitismo, instrumento de poder, op, cit.

26 PROUST, M. op. cit., p, 345.

27 ARENDT. H., op. cit.

28 Ibid.

29 PROUST, M., op. cit., p. 114.

30 Ibid, p. 429.

31 WEBER, E., op. cit., p. 172.

32 Ver COMPAGNON, in Proust, op. cito p. XV.

33 Ibid, pp.29, 63-64, 91,94, 95, 192, 300, 343, 344, 356,450,454, etc.

34 WEBER, E., op.cit., PERROT, M., op.cit, 1991.

35 PAINTER, GD., op. cit., p. 144.

36 COSTA, J.F., Impasses da ética naturalista: Gide e o homoerotismo. Conferência feita em São Paulo e Curitiba, no Seminário sobre "Ética", organizado pelo Departamento Cultural da Prefeitura de São Paulo, 1991, inédito.

37 RNERS, J. E., "Tbe Mytb and Science of Homosexuality in Ala recberche du temps perdu", in, Homosexualities and French Literl1ture, Ed. George Stambolian e Elaine Marks, Ithaca and London, Cornell Oniversity Press, 1979, pp. 262-278.

38 ALTER, R., "Proust and the ideological reader", in:Salmagundi, nQ 58-59, Fa'1l1982, Winter, 1983, pp. 347-358.

39 PAINTER, G. D. Marcel Proust, op. cit., p. 614.

40 HUNT, L. "Revolução Francesa e vida privada", in: História da vida privada, op. cit., pp. 21-23, 1991; HALL, C. "Sweet Home", in História da Vida Privada. Da revoluçãofrancesa à Primeira Guerra. Tomo 4, Coleção dirigida por Philippe Aries e Georges Duby, São Paulo, Companhia das Letras, 1991, pp. 53-93.

41 PROUST, M., op. cit., p. 248.

42 PAINTER, 0.0., op. cit., p. 405.

43 Ibid, p. 407.

44 PAINTER, G. O., op. cit., p. 390.

45 PROUST, M., op. cit., p. 520-522.

46 Ibid.

47 PAINTER, G. D., op. cit., p. 217.

48 Ibid, p. 219.

49 Ibid, p. 220.

50 PROUST, M., op. cit., p. 311.

51 Ibid.

52 Ibid, pp. 311-312.

53 Ibid.

54 Ibid, pp. 15,246,343,437.

55 PAINTER, G. D., op. cit., pp. 49,63,93, 126,352.

56 Ibid, p. 137. .

57 Ibid.

58 Ibid, p. 132.

59 PROUST, M., op. cit., p. 214.

60 PAINTER, O.D., op. cit., p. 416.

61 Ibid, p. 551.

62 PROUST, M., op. cit., p. 346.

63 PROUST, op. cit., p. 415.

64 Ibid, p. 113 .

65 PAINTER, GD. , op. cit., p. 607-608.

66 .PAINTER, G. D., op. cit., p. 671.

67 Ibid, pp. 49 e 329.

  • 1 PAINTER, George D. Mareei Proust, Rio, Guanabara, 1990, p.484.
  • 16 ELMAM, R., Oscar Wilde, São Paulo, Companhia das Letras, 1989, p. 313.
  • 18 Ibid. 19 WEBER, E., op. cit., p. 20. 20 Ibid, p. 97. 21 PROUST, M., op. cit., p. 81. 22 Ibid, p. 122. 23 PROUST, M., op. cit., p. 100. 24 Ibid, p. 476. 25 ARENDT, H,, As origens do totalitarismo Anti-semitismo, instrumento de poder, op, cit.
  • 36 COSTA, J.F., Impasses da ética naturalista: Gide e o homoerotismo. Conferência feita em São Paulo e Curitiba, no Seminário sobre "Ética", organizado pelo Departamento Cultural da Prefeitura de São Paulo, 1991, inédito.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    05 Out 2011
  • Data do Fascículo
    1992
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