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Apresentação: saúde coletiva, práticas alimentares e bem-estar social

Apresentação. Saúde coletiva, práticas alimentares e bem-estar social

Neste número da Physis diversas questões são exploradas nos seus diversos artigos, da perspectiva da saúde coletiva. Da alimentação ao Estado de Bem-Estar social, passando pela assistência à terceira idade e à administração, os diferentes trabalhos aqui editados colaboram para a construção do campo da saúde coletiva. Neste cardápio diferenciado de temas, a questão da alimentação foi privilegiada, quando resolvemos fazer um pequeno número monográfico sobre o tema, por diversas razões.

Antes de mais nada, a alimentação é uma problemática crucial do campo da saúde coletiva. Entretanto, trata-se de um tema muito pouco explorado entre nós, por razões que cabe ainda indagar. Não é o lugar, aqui, para isto. Nem tampouco este é o momento adequado para esta reflexão. Cabe, contudo, evocar este silêncio existente no campo da saúde coletiva e sublinhar o paradoxo de que a questão da alimentação tenha sido esquecida, apesar de sua importância. Além disso, cabe retirar este tema do silêncio e conferir­ lhe o seu lugar devido no nosso tempo.

Por isto mesmo, decidimos dedicar este número da Physis principalmente à problemática da alimentação, dando-lhe todo o destaque possível. Para tal, os textos selecionados fizeram um deslocamento significativo, procurando pensar a alimentação das práticas alimentares. O que implica este deslocamento? A alimentação se move, com isso, do registro da nutrição e se inscreve nas práticas sociais. Vale dizer, a alimentação se desloca do registro estritamente biológico e metabólico para inscrever-se nos registros social e antropológico. É justamente por esta diferença de registros que uma reflexão da saúde coletiva sobre a nutrição e sobre o ato alimentar se torna possível. Pode-se verificar imediatamente com isto que os trabalhos dos autores têm uma efetiva perspectiva interdisciplinar.

Assim, enunciam-se diversas problemáticas através das pesquisas apresentadas. No artigo de abertura - "Gênese e constituição da educação alimentar: uma síntese", de Eronides da Silva Lima - a autora procura estabelecer a história da alimentação racional e da educação alimentar. Neste deslocamento, do registro racional para o pedagógico, pode-se entrever a transformação da problemática da alimentação do registro biológico para o social. Contudo, a dita educação alimentar funda-se em critérios normativos, retirados do discurso biológico sobre a nutrição, como se pode depreender facilmente.

O artigo seguinte, "Variações temporais do estado nutricional e do consumo alimentar no Brasil", assinado por vários autores, estuda as modificações do estado nutricional e da dieta da população brasileira nos últimos vinte anos. Pode-se depreender aqui como a dieta e a nutrição passam a ser permeadas por valores que oscilam entre a "boa" saúde e a beleza, já que estes passam a regular a ingestão de alimentos. Revela-se aqui uma incógnita importante:· a questão da obesidade. As mulheres destacam-se aqui como foco particular do interesse analítico.

Em "Representações sociais da alimentação e saúde e suas repercussões no comportamento alimentar", de Rosa W. Diez Garcia, e "Alimentação e cultura: em torno do natural", de J. Lifschitz - o eixo antropológico de leitura se inscreve no primeiro plano. A categoria da representação social (Moscovici) enuncia-se aqui como fundamental para a leitura das práticas alimentares. Além disso, a categoria de natural é analisada corno sendo essencial para que se pense nas modalidades de alimentação na atualidade.

Nos demais artigos analisa-se o Estado de Bem-Estar social no contexto atual de globalização e do neoliberalismo, a assistência à terceira idade no Asilo Cristo Redentor e uma tentativa de resgate da questão da administração como objeto de saber e de pesquisa interdisciplinar.

Rio de Janeiro, 16 de dezembro de 1997.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Jan 2009
  • Data do Fascículo
    Dez 1997
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