Acessibilidade / Reportar erro

Normal-patológico, saúde-doença: revisitando Canguilhem

Normal-pathologique, santé-maladie en revisitant Canguilhem

Normal-pathological, health-disease: revisiting Canguilhem

Resumos

Este artigo pretende reavaliar a obra de G. Canguilhem sobre a normalidade, a saúde, a doença e a patologia. Discute inicialmente a crítica canguilhemiana da abordagem positivista da dicotomia normal-patológico, avaliando-a como insatisfat6ria porque reafirma a disjunção qualitativo-quantitativo. Analisa ainda a distinção entre normalidade e saúde, juntamente com a proposição da saúde como capacidade normativa. Por fim, apresenta a reflexão ética pioneira de Canguilhem sobre a engenharia genética e a sua proposta de distinção entre saúde privada (subjetiva) e saúde pública, apontando para a necessidade de investigações epistemológicas sobre o conceito de saúde.

Saúde; normalidade; epistemologia; Canguilhem


Ce texte analyse l'oeuvre du philosophe français G. Canguilhem sur les rapports entre les concepts de santé, normalité, maladie et pathologie. La critique de Canguilhem sur l'approche positiviste de ia dichotomie normal-pathologique y est considerée comme insatisfaisante, parce qu'elle réaffirme la disjonction quantitatif-qualitatif. La distinction entre normalité et santé, et également la conception de santé en tant que capacité normative, y sont analysées. À la fin, il présente la réflexion éthique pionniere de Canguilhem sur le génie génétique et sa proposition de distinction entre santé privé subjective et santé publique, en soulignant la nécessité de recherches épistémologiques concemant le concept de santé.

Santé; normalité; épistémologie; Canguilhem


This paper evaluates the work of the French philosopher G. Canguilhem on the relationship of the concepts of health, normality, disease and pathology. Canguilhem's critique of the positivistic approach on the dichotomy normalpathological is considered unsatisfactory, because it reinforces the disjunction quantitative-qualitative. The distinction between normality and health, as well as the conception of health as normative capacity, is analysed. Finally, his pioneer ethical reflection on genetic engineering and his distinction between private, subjective health and public health are presented, pointing to the need for epistemological researches on the health concept.

Health; normality; epistemology; Canguilhem


Normal-patológico, saúde-doença: revisitando Canguilhem* * Trabalho realizado com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), sob a forma de Bolsa de Mestrado para o primeiro autor e de Bolsa de Produtividade para o segundo (Proc. 520573/95-1). Os autores agradecem a valiosa colaboração de Jairnilson Silva Paim, Ugia Vieira da Silva e anônimos revisores de Physis, cuja leitura crítica rigorosa muito contribuiu para a versão final do presente texto.

Normal-pathological, health-disease: revisiting Canguilhem

Normal-pathologique, santé-maladie en revisitant Canguilhem

Maria Thereza Ávila Dantas CoelhoI; Naomar de Almeida FilhoII

IPsicóloga, membro do Colegiado Diretivo do Colégio de Psicanálise da Bahia, doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva - Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia

IIPh.D., Diretor do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia, Pesquisador I-A do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)

RESUMO

Este artigo pretende reavaliar a obra de G. Canguilhem sobre a normalidade, a saúde, a doença e a patologia. Discute inicialmente a crítica canguilhemiana da abordagem positivista da dicotomia normal-patológico, avaliando-a como insatisfat6ria porque reafirma a disjunção qualitativo-quantitativo. Analisa ainda a distinção entre normalidade e saúde, juntamente com a proposição da saúde como capacidade normativa. Por fim, apresenta a reflexão ética pioneira de Canguilhem sobre a engenharia genética e a sua proposta de distinção entre saúde privada (subjetiva) e saúde pública, apontando para a necessidade de investigações epistemológicas sobre o conceito de saúde.

Palavras-chave: Saúde; normalidade; epistemologia; Canguilhem.

ABSTRACT

This paper evaluates the work of the French philosopher G. Canguilhem on the relationship of the concepts of health, normality, disease and pathology. Canguilhem's critique of the positivistic approach on the dichotomy normalpathological is considered unsatisfactory, because it reinforces the disjunction quantitative-qualitative. The distinction between normality and health, as well as the conception of health as normative capacity, is analysed. Finally, his pioneer ethical reflection on genetic engineering and his distinction between private, subjective health and public health are presented, pointing to the need for epistemological researches on the health concept.

Keywords: Health; normality; epistemology; Canguilhem.

RÉSUMÉ

Ce texte analyse l'oeuvre du philosophe français G. Canguilhem sur les rapports entre les concepts de santé, normalité, maladie et pathologie. La critique de Canguilhem sur l'approche positiviste de ia dichotomie normal-pathologique y est considerée comme insatisfaisante, parce qu'elle réaffirme la disjonction quantitatif-qualitatif. La distinction entre normalité et santé, et également la conception de santé en tant que capacité normative, y sont analysées. À la fin, il présente la réflexion éthique pionniere de Canguilhem sur le génie génétique et sa proposition de distinction entre santé privé subjective et santé publique, en soulignant la nécessité de recherches épistémologiques concemant le concept de santé.

Mots-clé: Santé; normalité; épistémologie; Canguilhem.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Recebido em 19/10/98.

Aprovado em 20/05/99.

  • AROUCA, A. S. O dilema preventivista: contribuição para a compreensão e crítica da Medicina Preventiva Tese (Doutorado em Medicina Social). Departamento de Medicina Social da UNICAMP, Campinas, 1975. 259p.
  • AYRES, J. R. Epidemiologia e emancipação São Paulo / Rio de Janeiro: Hucitec / Abrasco, 1995. 231p.
  • BERLINGUER, G. Medicina e política São Paulo: Hucitec, 1978.
  • BERNARD, C. lntroduction à l'étude de la medicine expérimentale Paris: Gamier Flammarion, 1966.
  • BIBEAU, G. Hay una enfermidad en las Americas? Outro caminho de la Antropologia médica para nuestro tiempo. In: Cultura y salud en la construccion de las Americas Bogotá: Instituto Colombiano de Cultura, 1994, p. 44-70.
  • BUNGE, M. latrofilosofia. In: Filosofia da tecnologia. São Paulo, Alfa-Omega, 1994. p. 211-221.
  • CANGUILHEM, G. Le normal e le pathologique. Paris: Presses Universitaires de France, 1943. 224 p.
  • ____ . La connaissance de la vie. Paris: Vrin, 1965. 198 p.
  • ____ . Nouvelles réflexions sur le normal et le pathologique. Paris: PUF, 1966.
  • ____ . Études d'histoire et de philosophie des sciences. Paris: Vrin, 1968. 394 p.
  • ____ . La sante: concept vulgaire et question philosophique. Tou1ouse: Sab1es, 1990. 36p.
  • ____ . Novas reflexões sobre o normal e o patológico. In: O normal e o patológico. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1978.
  • CLAVREUL, J. A ordem médica. São Paulo: Brasiliense, 1980.
  • COMTE, A. System of positive polity New York: Lenox Hill, 1854.
  • CORIN, E. The social and cultural matrix of health and disease In: EV ANS R. G.; BARER, M. L.; MARMOR, T. R. (eds.). Why are some people healthy and others not? The determinants of the health of populations. Hawthorne, NY: Aldine, 1994. p. 93-132.
  • CZERESNIA, D. Do contágio à transmissão: uma mudança na estrutura perceptiva de apreensão da epidemia. História, Ciências, Saúde - Manguinhos, v. IV, n. 1, p. 75-94, mar./jun. 1997.
  • DONNÂNGELO, M. C. Medicina e estrutura social (o campo da emergência da medicina comuntária). Tese (Doutorado em Medicina Preventiva). Departamento de Medicina Preventiva da Universidade de São Paulo, 1976. 121p.
  • FOUCAULT, M. Mental illness and psychology New York: Harper and Row, 1976. 241p.
  • FREUD, S. Cinco lições de psicanálise. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas Rio de Janeiro: Imago, v. XI, p. 3-51, 1980.
  • GADAMER, H.-G. The enigma of health. California: Stanford University Press, 1996. 180p.
  • ILLICH, I. A expropriação da saúde: nêmesis da medicina Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1981. 196p.
  • LAURELL, A. C.; NORIEGA, M. Processo de produção e saúde: trabalho e desgaste operário São Paulo: Hucitec, 1989. 333p.
  • ____ . Trabajo y salud: estado del conocimiento. In: FRANCO, S.; NUNES, E.; BREILH, J.; LAURELL, C. Debates em Medicina Social Quito: OPAS/ ALAMES, 1991, p. 249-323 (Série Recursos Humanos, 92).
  • LEA VELL, H.; CLARK, E. G. Preventive medicine for the doctor in his comunity New York: McGraw-Hill, 1965. 744p.
  • MACHADO, R. Ciência e saber: a trajetória da arqueologia de Foucault. Rio de Janeiro: Graal, 1981, 218 p.
  • MENDES, E. V. Uma agenda para a saúde São Paulo: Hucitec, 1996. 300p.
  • MENDES-GONÇALVES, R. B. Medicina y historia: raíces sociales del trabajo médico México: Siglo XXI, 1984.
  • PAIM, J. S. Saúde, crises e reformas Salvador: Centro Editorial e Didático da UFBA, 1986. 250 p.
  • ____ . Collective health and the challenges of practice. PAHO. The crisis of public health: reflections for the debate. Washington, 1992, p. 136-150 (Scientific Publication, 540).
  • PAIM, J. S.; ALMEIDA FILHO, N. A crise da saúde pública e a saúde coletiva: uma nova saúde pública ou campo aberto a novos paradigmas? Revista de Saúde Pública, n. 32, s/p, 1998.
  • RABINOW, P. Introduction. In: Foucault reader. New York: Pantheon, 1984. p. 3-30.
  • ____ . Severing the ties: fragmentation and dignity in late modernity. Knowledge and society: the anthropology of science and technology, v. 9, p. 169-187, 1992.
  • ROUDINESCO, E. História da psicanálise na França. A batalha dos cem anos (v. 2: 1925-1985). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988. 835p.
  • TAMBELLINI, A. Medicina de comunidade: implicações de uma teoria. Saúde em Debate, n. 1, p. 20-23, 1976.
  • *
    Trabalho realizado com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), sob a forma de Bolsa de Mestrado para o primeiro autor e de Bolsa de Produtividade para o segundo (Proc. 520573/95-1). Os autores agradecem a valiosa colaboração de Jairnilson Silva Paim, Ugia Vieira da Silva e anônimos revisores de Physis, cuja leitura crítica rigorosa muito contribuiu para a versão final do presente texto.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      24 Nov 2008
    • Data do Fascículo
      Jun 1999

    Histórico

    • Aceito
      20 Maio 1999
    • Recebido
      19 Out 1998
    PHYSIS - Revista de Saúde Coletiva Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro - UERJ, Rua São Francisco Xavier, 524 - sala 6013-E- Maracanã. 20550-013 - Rio de Janeiro - RJ - Brasil, Tel.: (21) 2334-0504 - ramal 268, Web: https://www.ims.uerj.br/publicacoes/physis/ - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
    E-mail: publicacoes@ims.uerj.br