Acessibilidade / Reportar erro

Saber ver: recursos visuais e formação médica

Apprendre à regarder: recours visuels et formation médicale

Knowing how to see: visual resources and medical education

Resumos

Este artigo apresenta um estudo etnográfico da formação médica numa escola do Rio de Janeiro, Brasil, com atenção especial para o uso das imagens no ensino. Isto revelou as formas de inculcação das disposições práticas que orientam a prática profissional no campo médico. O estudo mostrou que as práticas acadêmicas continuam a reproduzir as relações estruturantes do campo médi co, sem que os agentes envolvidos possam ter um controle cons ciente desse processo, seja em termos de transformá-lo ou de torná-lo mais eficaz.

Etnografia; formação médica; práticas acadêmicas


Cet article présent un étude etnographique sur la formation médicale dans une école à Rio de Janeiro, Brésil, centré surtout sur l'usage des images pour l' enseignement. On a revelé les modéles d'inculcation des dispositifs pratiques à orienter le travail professionel au champs médical. L' étude a demontré la reproduction des rapports structurels du champs médical par les pratiques académiques, d'une façon telle que les agents y engagés ne sont pas capables d' y prendre conscience, soit pour les transformer, soit pour les tourner plus efficaces.

Ethnographie; éducation médicale; pratiques académiques


This paper presents an ethnographic study of medical formation in a school in Rio de Janeiro, Brazil, with special attention to the use of images in teaching. This showed how practical dispositions that guide practice in the medical field are ingrained into the students. The study demonstrated that academic practices still reproduce the structuring relationships of the medical field, while the involved agents cannot have a conscious control of this process, whether for transforming it or making it more effective.

Ethnography; medical education; academic practices


Saber ver: recursos visuais e formação médica* * Versão modificada do argumento central da dissertação de mestrado intitulada Saber Ver: Recursos Visuais e Formação Médica, orientada pelo prof. Kenneth Rochel de Camargo Jr. (Pinto, 1997).

Knowing how to see - visual resources and medical education

Apprendre à regarder: recours visuels et formation médicale

Paulo Gabriel Hilu da Rocha Pinto

Médico, historiador, mestre em Saúde Coletiva pelo IMS/UERJ e doutorando em Antropologia pela Brown University

RESUMO

Este artigo apresenta um estudo etnográfico da formação médica numa escola do Rio de Janeiro, Brasil, com atenção especial para o uso das imagens no ensino. Isto revelou as formas de inculcação das disposições práticas que orientam a prática profissional no campo médico. O estudo mostrou que as práticas acadêmicas continuam a reproduzir as relações estruturantes do campo médi co, sem que os agentes envolvidos possam ter um controle cons ciente desse processo, seja em termos de transformá-lo ou de torná-lo mais eficaz.

Palavras-chave: Etnografia; formação médica; práticas acadêmicas.

ABSTRACT

This paper presents an ethnographic study of medical formation in a school in Rio de Janeiro, Brazil, with special attention to the use of images in teaching. This showed how practical dispositions that guide practice in the medical field are ingrained into the students. The study demonstrated that academic practices still reproduce the structuring relationships of the medical field, while the involved agents cannot have a conscious control of this process, whether for transforming it or making it more effective.

Keywords: Ethnography; medical education; academic practices.

RÉSUMÉ

Cet article présent un étude etnographique sur la formation médicale dans une école à Rio de Janeiro, Brésil, centré surtout sur l'usage des images pour l' enseignement. On a revelé les modéles d'inculcation des dispositifs pratiques à orienter le travail professionel au champs médical. L' étude a demontré la reproduction des rapports structurels du champs médical par les pratiques académiques, d'une façon telle que les agents y engagés ne sont pas capables d' y prendre conscience, soit pour les transformer, soit pour les tourner plus efficaces.

Mots-clé: Ethnographie; éducation médicale; pratiques académiques.

Texto completo disponível apenas em PDF.

Full text available only in PDF format.

Referências Bibliográficas

BARTHES, R. Aula. São Paulo: Cultrix, 1980.

BECKER, H. S. Métodos de pesquisa em ciências sociais. São Paulo: Hucitec, 1994.

BECKER, H. S; GEER, B. et al. Boys in white: student culture in Medical School. New Brunswick/London: Transaction, 1992.

BOLTANSKI, L. As classes sociais e o corpo. Rio de Janeiro: Graal, 1989.

BOURDIEU, P. Esquisse d'une théorie de la pratique. GenevelParis: Droz, 1972.

____ . Homo academicus. Stanford: Stanford University Press, 1988.

____ . O poder simbólico. Lisboa: Difel, 1989.

BOURDIEU, P.; BOLTANSKI, L. et al. Un art moyen: essai sur les usages sociaux de la photographie. Paris: Minuit, 1965.

BOURDIEU, P.; PASSERON, J.-C. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de Ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1982.

CAMARGO JR., K. R. (Ir)racionalidade médica: os paradoxos da clínica. Physis Revista de Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v. 2, n. 1, p. 203-227, 1992.

____ . As ciências da AIDS e a AIDS da ciência: discurso médico e a cons trução da AIDS. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1994.

DA MATTA, R. Carnavais, malandros e heróis. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.

DURKHEIM, E.; MAUSS, M. Algumas formas primitivas de classificação. Contribuição para o estudo das representações coletivas (1903). In: MAUSS, M. En saios de sociologia. São Paulo: Perspectiva, 1981. p. 399-455.

EICKELMAN, D. Knowledge and power in Morocco. Princeton: Princeton University Press, 1985.

FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1985.

____ . Isto não é um cachimbo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.

FRAGA FILHO, C.; ROSA, A. R. Temas de educação médica. n. 1.: MEC/Secretaria de Ensino Superior, s/do (Série Monografias de Ensino Superior, V. 1).

FREIDSON, E. Profession of medicine: a study of Sociology of applied knowledge. New York: Dodd/Mead, 1972.

GOMES, A. C. Da Defesa de tese na universidade. Folha Médica. Rio de Janeiro, V. 84, n. 1-2, p. 3-14, jan./fev. 1982.

GOODY, J. A lógica da escrita e a organização da sociedade. Lisboa: Ed.70, 1987.

HOSSNE, W. S. Relação professor-aluno: inquietações-indagações-ética. Revista Brasileira de Educação Médica. Rio de Janeiro, v. 18, n. 2, p. 49-94, mai.lago. 1994.

HUMPHREYS, S. Introduction. In: HUMPHREYS, S. (ed.). Cultures of scholarship. Ann Arbor: Michigan University Press, 1997.

KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1989.

LAMBEK, M. Knowledge and practice in Mayoue. Toronto: University of Toronto Press, 1993.

LEROI-GOURHAN, A. O gesto e a palavra: 2 - Memória e ritmos. Lisboa: Ed.70, 1987, v.2.

LÉVI-STRAUSS, C. O pensamento selvagem. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1976.

MARIN, L. Ler um quadro: uma carta de Poussin em 1639. In: CHARTIER, R. (org.). Práticas da leitura. São Paulo: Estação Liberdade, 1996. p. 117-140.

MAUSS, M. Les techniques du corps. In: _. Sociologie et Anthropologie. Paris: PUF, 1995. p. 365-386.

MESSICK, B. Genealogies of reading and the scholarly cultures of Islam. In: HUMPHREYS, S. (ed.). Cultures of scholarship. Ann Arbor: Michigan University Press, 1997.

PEIRANO, M. A Favor da etnografia. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1995.

PINTO, P. G. H. R. Saber ver: recursos visuais e formação médica. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) - Instituto de Medicina Social da UERJ, Rio de Janeiro, 1997.

PORTO, M. A. T. Um espectro na máquina. Tese (Doutorado em Saúde Pública) - Escola Nacional em Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 1995.

ROITMAN, R. Tecnologia educacional: fim ou meio. Revista Brasileira de Educa ção Médica. Rio de Janeiro, v. 2, n. 3, p. 79-84, set./dez. 1978.

____ . Aula expositiva. Revista Brasileira de Educação Médica. Rio de Janei ro, v. 5, n. 1, p. 38-41, jan.labr. 1981.

____ . Uso e abuso de projeções fixas. Revista Brasileira de Educação Mé dica. Rio de Janeiro, v. 5, n. 2, p. 131-136, mai.lago. 1981b.

ROSA, A. R.; FRAGA FILHO, C.; PONTES, 1. L. Ensino médico: atualidade de uma experiência. Rio de Janeiro: UFRJ, 1995.

SAENGER, P. Physiologie de la lecture et la séparation des mots. Annales E.S.c. Paris, n. 4, p. 939-952, juil./aout 1989.

SAHLINS, M. Ilhas de história. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.

SARTRE, J.-P. L'imaginaire: psychologie, phénoménologie de l'imagination. Paris: Gallimard, 1986.

____ . A imaginação. In: PESSANHA, J. A. M. (org.). Sartre. São Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 33-107 (Coleção Os Pensadores).

SCHRAIBER, L. B. O médico e o seu trabalho. São Paulo: Hucitec, 1993.

Recebido em 6/6/00.

Aprovado em 29/6/00.

  • BARTHES, R. Aula. São Paulo: Cultrix, 1980.
  • BECKER, H. S. Métodos de pesquisa em ciências sociais. São Paulo: Hucitec, 1994.
  • BECKER, H. S; GEER, B. et al. Boys in white: student culture in Medical School. New Brunswick/London: Transaction, 1992.
  • BOLTANSKI, L. As classes sociais e o corpo. Rio de Janeiro: Graal, 1989.
  • BOURDIEU, P. Esquisse d'une théorie de la pratique. GenevelParis: Droz, 1972.
  • ____ . Homo academicus. Stanford: Stanford University Press, 1988.
  • ____ . O poder simbólico. Lisboa: Difel, 1989.
  • BOURDIEU, P.; BOLTANSKI, L. et al. Un art moyen: essai sur les usages sociaux de la photographie. Paris: Minuit, 1965.
  • BOURDIEU, P.; PASSERON, J.-C. A reprodução: elementos para uma teoria do sistema de Ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1982.
  • CAMARGO JR., K. R. (Ir)racionalidade médica: os paradoxos da clínica. Physis Revista de Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v. 2, n. 1, p. 203-227, 1992.
  • ____ . As ciências da AIDS e a AIDS da ciência: discurso médico e a cons trução da AIDS. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1994.
  • DA MATTA, R. Carnavais, malandros e heróis. Rio de Janeiro: Zahar, 1985.
  • DURKHEIM, E.; MAUSS, M. Algumas formas primitivas de classificação. Contribuição para o estudo das representações coletivas (1903). In: MAUSS, M. En saios de sociologia. São Paulo: Perspectiva, 1981. p. 399-455.
  • EICKELMAN, D. Knowledge and power in Morocco. Princeton: Princeton University Press, 1985.
  • FOUCAULT, M. Microfísica do poder. Rio de Janeiro: Graal, 1985.
  • ____ . Isto não é um cachimbo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
  • FRAGA FILHO, C.; ROSA, A. R. Temas de educação médica. n. 1.: MEC/Secretaria de Ensino Superior, s/do (Série Monografias de Ensino Superior, V. 1).
  • FREIDSON, E. Profession of medicine: a study of Sociology of applied knowledge New York: Dodd/Mead, 1972.
  • GOMES, A. C. Da Defesa de tese na universidade. Folha Médica. Rio de Janeiro, V. 84, n. 1-2, p. 3-14, jan./fev. 1982.
  • GOODY, J. A lógica da escrita e a organização da sociedade. Lisboa: Ed.70, 1987.
  • HOSSNE, W. S. Relação professor-aluno: inquietações-indagações-ética. Revista Brasileira de Educação Médica. Rio de Janeiro, v. 18, n. 2, p. 49-94, mai.lago. 1994.
  • HUMPHREYS, S. Introduction. In: HUMPHREYS, S. (ed.). Cultures of scholarship. Ann Arbor: Michigan University Press, 1997.
  • KUHN, T. S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 1989.
  • LAMBEK, M. Knowledge and practice in Mayoue. Toronto: University of Toronto Press, 1993.
  • LEROI-GOURHAN, A. O gesto e a palavra: 2 - Memória e ritmos. Lisboa: Ed.70, 1987, v.2.
  • LÉVI-STRAUSS, C. O pensamento selvagem. São Paulo: Cia. Editora Nacional, 1976.
  • MARIN, L. Ler um quadro: uma carta de Poussin em 1639. In: CHARTIER, R. (org.). Práticas da leitura. São Paulo: Estação Liberdade, 1996. p. 117-140.
  • MAUSS, M. Les techniques du corps. In: _. Sociologie et Anthropologie. Paris: PUF, 1995. p. 365-386.
  • MESSICK, B. Genealogies of reading and the scholarly cultures of Islam. In: HUMPHREYS, S. (ed.). Cultures of scholarship. Ann Arbor: Michigan University Press, 1997.
  • PEIRANO, M. A Favor da etnografia. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1995.
  • PINTO, P. G. H. R. Saber ver: recursos visuais e formação médica. Dissertação (Mestrado em Saúde Coletiva) - Instituto de Medicina Social da UERJ, Rio de Janeiro, 1997.
  • PORTO, M. A. T. Um espectro na máquina. Tese (Doutorado em Saúde Pública) - Escola Nacional em Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, 1995.
  • ROITMAN, R. Tecnologia educacional: fim ou meio. Revista Brasileira de Educa ção Médica. Rio de Janeiro, v. 2, n. 3, p. 79-84, set./dez. 1978.
  • ____ . Aula expositiva. Revista Brasileira de Educação Médica. Rio de Janei ro, v. 5, n. 1, p. 38-41, jan.labr. 1981.
  • ____ . Uso e abuso de projeções fixas. Revista Brasileira de Educação Mé dica. Rio de Janeiro, v. 5, n. 2, p. 131-136, mai.lago. 1981b.
  • ROSA, A. R.; FRAGA FILHO, C.; PONTES, 1. L. Ensino médico: atualidade de uma experiência. Rio de Janeiro: UFRJ, 1995.
  • SAENGER, P. Physiologie de la lecture et la séparation des mots. Annales E.S.c. Paris, n. 4, p. 939-952, juil./aout 1989.
  • SAHLINS, M. Ilhas de história. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.
  • SARTRE, J.-P. L'imaginaire: psychologie, phénoménologie de l'imagination. Paris: Gallimard, 1986.
  • ____ . A imaginação. In: PESSANHA, J. A. M. (org.). Sartre. São Paulo: Nova Cultural, 1987, p. 33-107 (Coleção Os Pensadores).
  • SCHRAIBER, L. B. O médico e o seu trabalho. São Paulo: Hucitec, 1993.
  • *
    Versão modificada do argumento central da dissertação de mestrado intitulada
    Saber Ver: Recursos Visuais e Formação Médica, orientada pelo prof. Kenneth Rochel de Camargo Jr. (Pinto, 1997).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      04 Nov 2008
    • Data do Fascículo
      Jun 2000

    Histórico

    • Aceito
      29 Jun 2000
    • Recebido
      06 Jun 2000
    PHYSIS - Revista de Saúde Coletiva Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro - UERJ, Rua São Francisco Xavier, 524 - sala 6013-E- Maracanã. 20550-013 - Rio de Janeiro - RJ - Brasil, Tel.: (21) 2334-0504 - ramal 268, Web: https://www.ims.uerj.br/publicacoes/physis/ - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
    E-mail: publicacoes@ims.uerj.br