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Apresentação

Apresentação

Laura Moutinho; Ruben Mattos

O presente dossiê é fruto de uma série de inquietações. Em vários trabalhos de pesquisa realizados nos últimos anos, nos âmbitos do CLAM/IMS/UERJ, USP e Cebrap, deparamo-nos com uma série de questões de ordens e escalas diversas relativas à epidemia da Aids. Após longas conversas a respeito com Ruben Mattos e com uma variada gama de pesquisadores de distintas nacionalidades, amadurecemos a ideia de produzir um dossiê que versasse sobre temáticas que de algum modo representassem, senão situações limites, ao menos: 1) tensões entre as estratégias de prevenção veiculadas; 2) a relação entre organizações da sociedade civil e instâncias governamentais; 3) a interconexão entre doença e política na produção científica e 4) os cálculos preventivos dos indivíduos - igualmente variados e marcados tanto por questões biográficas quanto culturais.

De modo mais específico, foi possível notar que o Brasil e a África do Sul, em particular, vivem um momento especialmente importante no contexto mundial, com relação aos limites da liberdade, da responsabilidade e de seu complexo respaldo no quadro mais amplo das políticas sexuais. Os saberes sobre a epidemia da Aids vêm construindo uma (e se baseando numa) certa realidade profundamente conectada com a forma como certos "marcadores sociais da diferença" são entrecruzados na história destes dois países. Neste sentido, foi possível notar que o entrecruzamento entre raça, sexualidade, classe, gênero e os cuidados com a saúde precisavam ser qualificados.

Neste percurso, nossa rede se estendeu para Moçambique, que ampliou (e complexificou) a compreensão acerca dos intricados limites impostos pela pandemia. Uma questão, assim, se impôs: o que países colocados em posições contrastantes no cenário internacional teriam a dizer um ao outro? O Brasil, por exemplo, vem sendo festejado nas arenas nacional e internacional por possuir um programa nacional de combate à epidemia eficiente (que já conta com certa exportação na África portuguesa) e a África do Sul, que poderia ser situada no polo oposto, por ser um dos países mais criticados.

Como será visto, ofertamos aos leitores neste número um conjunto significativo de reflexões e análises que entrecruza, de modo mais ou menos explícito, os planos locais e globais.

Em Aids, política e sexualidade: refletindo sobre as respostas governamentais à Aids na África do Sul e no Brasil, Gustavo Gomes da Costa Santos analisa as respostas governamentais à epidemia de Aids no Brasil e na África do Sul, observando justamente as posições opostas nas quais estes países se inscrevem. Em Argumentos em torno da possibilidade de infecção por DST e Aids entre mulheres que se autodefinem como lésbicas, G. Almeida discorre sobre a construção da vulnerabilidade lésbica às DSTs no quadro mais amplo da epidemia. Com o artigo de Zethu Matebeni, ALL SEXED UP: A resposta de mulheres lésbicas negras jovens ao sexo (mais) seguro em Johannesburg, África do Sul, vemos como as DSTs/Aids são compreendidas e vividas por um grupo de mulheres que se apresentam como lésbicas e negras na África do Sul. Na sequência, temos o artigo O discurso da prevenção da Aids frente às lógicas sexuais de casais sorodiscordantes: sobre normas e práticas, de Ivia Maksud, que investiga um tema relativamente recente: os casais sorodiscordantes, suas práticas sexuais e compreensões acerca da prevenção e transmissão do HIV. A dinâmica da prevenção entre jovens engajados em relações duradouras retorna no artigo Presentes perigosos: dinâmicas de risco de infecção ao HIV/Aids nos relacionamentos de namoro em Maputo, de Sandra Manuel, e em Cuidados consigo mesma, sexualidade e erotismo na Província de Tete, Moçambique, de autoria de Brigitte Bagnol e Esmeralda Mariano, temos acesso à forma como mulheres da Província de Tete preparam (e compreendem) seu corpo para o ato sexual. Deste modo, Moçambique, com suas dinâmicas específicas relativas à sexualidade e ao risco de contaminação ao HIV é, ao menos parcialmente, discutido nos dois artigos que fecham a coletânea.

Esperamos que este dossiê não somente amplie o corpo de conhecimentos produzido em relação à epidemia da Aids, bem como possibilite uma reflexão acurada acerca de algumas das tensões que vêm constituindo este debate numa perspectiva comparada internacional.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Nov 2009
  • Data do Fascículo
    2009
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