Acessibilidade / Reportar erro

Presentes Perigosos: dinâmicas de risco de infecção ao HIV/Aids nos relacionamentos de namoro em Maputo

Dangerous gifts: HIV/Aids risk dynamics in namoro relationships in Maputo

Resumos

O presente estudo explora as percepções e práticas sexuais entre jovens no Moçambique pós-colonial e pós-socialista, especificamente na cidade de Maputo. Usando uma combinação de diferentes métodos qualitativos, o estudo analisa profundamente relações de namoro. As relações de namoro, onde a relação sexual toma, preferencialmente, a forma de sexo não protegido (sem o uso do preservativo) - "sexo verdadeiro" - são reciprocadas pelo amor e pela proposta de um compromisso por parte do jovem. Assim, verifica-se um sistema de trocas de presentes que neste estudo é analisado a partir do quadro teórico do dom de Marcel Mauss (1969). Mas, devido ao fato de a grande maioria dos jovens que participaram do estudo praticar a monogamia serial e à existência de parceiros ocasionais com quem o sexo protegido nem sempre é praticado, existem potenciais grandes riscos para infecção com ITSs e HIV/Aids. Assim, a troca de amor por sexo constitui um presente perigoso, pois põe em risco a saúde e a vida desses jovens.

Sexo; jovem; namoro; HIV/Aids; Moçambique


This study explores the perceptions and the sexual practices of young men and women in post colonial and post socialist Mozambique, specifically in Maputo city. Using a combination of various qualitative methods, the study performs an in-depth analysis of stable relationships called namoro. The namoro relationships, where people preferably engage in non-protected sex (no condom use) - "real sex" are exchanged by the declaration of love and the proposal for a serious commitment from the young man to the young woman. Therefore, there is a gift exchange system which, in this study, is analyzed under the theoretical framework of the gift of Marcel Mauss (1969). However, since a great part of the young people in this study practice serial monogamy and due to the existence of occasional partners with whom protected sex is not always practiced, there are potential risks to STIs and HIV/Aids infection. Thus, the exchange of sex for love is translated into a very dangerous gift, as it puts the health and the lives of these youngsters at risk.

Sex; young people; stable relationships (namoro); HIV/Aids; Mozambique


Presentes Perigosos: dinâmicas de risco de infecção ao HIV/Aids nos relacionamentos de namoro em Maputo

Dangerous gifts: HIV/Aids risk dynamics in namoro relationships in Maputo

Sandra Manuel

Antropóloga social, docente e pesquisadora na Universidade Eduardo Mondlane, Departamento de Arqueologia e Antropologia, Universidade Eduardo Mondlane, Moçambique. Endereço eletrônico: sandra.manuel@uem.mz

RESUMO

O presente estudo explora as percepções e práticas sexuais entre jovens no Moçambique pós-colonial e pós-socialista, especificamente na cidade de Maputo. Usando uma combinação de diferentes métodos qualitativos, o estudo analisa profundamente relações de namoro. As relações de namoro, onde a relação sexual toma, preferencialmente, a forma de sexo não protegido (sem o uso do preservativo) - "sexo verdadeiro" - são reciprocadas pelo amor e pela proposta de um compromisso por parte do jovem. Assim, verifica-se um sistema de trocas de presentes que neste estudo é analisado a partir do quadro teórico do dom de Marcel Mauss (1969). Mas, devido ao fato de a grande maioria dos jovens que participaram do estudo praticar a monogamia serial e à existência de parceiros ocasionais com quem o sexo protegido nem sempre é praticado, existem potenciais grandes riscos para infecção com ITSs e HIV/Aids. Assim, a troca de amor por sexo constitui um presente perigoso, pois põe em risco a saúde e a vida desses jovens.

Palavras-chave: Sexo, jovem, namoro, HIV/Aids; Moçambique.

ABSTRACT

This study explores the perceptions and the sexual practices of young men and women in post colonial and post socialist Mozambique, specifically in Maputo city. Using a combination of various qualitative methods, the study performs an in-depth analysis of stable relationships called namoro. The namoro relationships, where people preferably engage in non-protected sex (no condom use) - "real sex" are exchanged by the declaration of love and the proposal for a serious commitment from the young man to the young woman. Therefore, there is a gift exchange system which, in this study, is analyzed under the theoretical framework of the gift of Marcel Mauss (1969). However, since a great part of the young people in this study practice serial monogamy and due to the existence of occasional partners with whom protected sex is not always practiced, there are potential risks to STIs and HIV/Aids infection. Thus, the exchange of sex for love is translated into a very dangerous gift, as it puts the health and the lives of these youngsters at risk.

Key words: Sex; young people; stable relationships (namoro); HIV/Aids; Mozambique.

Introdução

O presente artigo se centra na análise das relações de namoro (relações estáveis) caracterizadas por amor e confiança. Nesse relacionamento, o sexo é usado como demonstração, prova ou expressão de amor, uma vez que é localmente aceito que o sentimento "amor" está sujeito à prova que se pode materializar através do oferecimento do ato sexual. De modo a subsidiar este argumento, irei descrever a construção de amor elaborada pelos informantes, assim como diferenciar a noção e prática de ato sexual nas relações de namoro e noutras formas de relacionamento de caráter ocasional.

No contexto de Maputo, contracenam variados tipos de relacionamentos complexos e com especificidades próprias. O namoro foi o selecionado para este estudo devido ao foco dado à confiança e ao amor, que se tornam as condições de proteção do casal em relação a forças exteriores, incluíndo as ITSs e HIV/Aids. Embora dentro desse relacionamento exista uma complexidade de variações que ocorrem com base na classe social de seus membros, interesses, perspectivas e informação sobre sexualidade e prevenção de ITS e gravidez, achei pertinente explorar a versão avançada pelo grupo alvo do estudo.

O estudo decorreu em Maputo com 14 jovens de classe média alta. Este grupo incluía tanto rapazes como moças com idades compreendidas entre os 17 e os 22 anos que se autoidentificaram como heterossexuais. A grande maioria eram estudantes finalistas do ensino secundário, enquanto uma pequena percentagem já havia concluído o ensino secundário e aguardava ingresso na universidade. São todos falantes da língua portuguesa e nos seus tempos livres divertem-se em passeios pela cidade, teatro, cinema, igreja, festas, almoços nos fins de semana, discotecas e bares ou barracas, onde consomem álcool (principalmente os jovens).

Os dados foram colhidos entre 2004 e 2005, usando a perspectiva qualitativa dentro da tradição etnográfica, a partir de uma combinação de quatro métodos diferentes: discussões em grupos focais, entrevistas individuais semiestruturadas, conversas informais e observação "participante". Cada um destes métodos serviu a objetivos específicos e possibilitou o processo de triangulação. Os métodos foram desenhados de modo a serem complementares. Ao longo do texto, uso pseudônimos para me referir aos informantes.

Namoro versus relações ocasionais

Namoro é um relacionamento particularmente intenso, no qual a namorada efetua visitas regulares a casa do namorado e conhece sua família. Dois fatores principais definem a relação de namoro: a exposição social do relacionamento e a existência de fortes laços sentimentais que unem o casal. Para a expor seu namoro ,o casal demonstra seu estado na esfera pública através da troca de carícias, beijos (na boca),1 1 Beijos na boca ou beijos molhados possuem um significado diferente dos dois beijos na bochecha, que representam uma forma de cumprimento habitual em Maputo e é usada entre mulheres ou entre homens e mulheres de qualquer idade. Dois homens cumprimentam-se com o aperto de mão. abraços e outras formas de demonstração de intimidade em público. Por outro lado, o casal apresenta-se a seus pares e famíliares como sendo namorados. Assim o namorado irá levar a namorada a casa para que sua família a conheça com esse estatuto, e não apenas como uma amiga ou colega.

O processo na parte da família da namorada, tradicionalmente, não é tão rápido. Embora haja conhecimento do relacionamento, este pode não ter um carácter formal. O procedimento habitual é que o namorado seja recebido na casa da namorada após um longo período de namoro ou após uma cerimônia de oficialização do namoro, que envolve a participação de famíliares do namorado (normalmente um tio, tia ou irmãos mais velhos). Essa cerimônia representa o primeiro passo de uma série de cerimônias de declaração de intenções do namorado à namorada e sua família, que tende a culminar com o casamento. Este ato consolida o namoro.

Mitó, de 21 anos, que vem saíndo com Catarina há oito meses, descreve da seguinte maneira seu namoro:

A minha namorada sai comigo; [...] nós vamos ao cinema, jantamos fora, tomamos um lanche ou vamos a discoteca. Ela vem a minha casa e os meus pais conhecem-na. [...] nós andamos de mãos dadas na rua [...].

A presença de um laço sentimental forte entre o casal é outro dos aspectos que unem o casal. Assim, a principal palavra usada pelos informantes para se referirem a este laço foi "amor", que é descrito como incluindo proximidade e intimidade. Como mencionou Dalila, de 19 anos:

Eu digo que nos amamos porque somos uma espécie de irmãos mas ao mesmo tempo somos amigos e namorados [...] temos muito carinho, cuidado e atenção um pra com o outro."

Como ilustram essas afirmações, o amor é caracterizado como um sentimento profundo que significa ser tudo um para o outro, assim como fazer tudo um pelo outro. O amor também revitaliza o espírito: o coração de repente começa a bater com mais força quando vês ou ouves a pessoa que amas (Dalila) ou após teres estado com a pessoa que amas sentes-te tão bem como se tivesses "visto passarinho verde"2 2 "Ver passarinho verde" é uma expressão usada em Maputo para se referir a alguém que aparenta e age como se estivesse apaixonada ou a amar - feliz e sempre com boa disposição-- sorrindo, cantando, dançando, cumprimentando toda a gente, sendo simpático, etc. É uma expressão comum em Maputo importada do Posrtuguês falado no Brasil através das telenovelas. No contexto brasileiro, passarinho é tambem um termo usado para designar pênis, assim a expressão pode também significar a felicidade que se vive após o ato sexual. - sentes uma harmonia e paz intensa que toda a gente pergunta se se passa algo.

Outro aspecto importante de namoro é a confiança. Moore e Rosenthal (1993) encontraram um padrão similar entre jovens na Austrália que descreveram amor em termos de intimidade, fidelidade, confiança e respeito. Para os jovens em Maputo, amor é um sentimento construído no relacionamento ao longo do tempo, que permite que se estabeleça confiança entre as duas partes.

O princípio é que o relacionamento de namoro/amor pode começar pela atração física, devido aos atributos físicos ou charme das partes. Ao longo do tempo, este sentimento desenvolve para uma fase de maior seriedade, caracterizada pela demarcação de certos limites nas formas de comportamento do casal. Esses limites estão relacionados com a indumentária, saídas nocturnas, ciclo de amigos, entre outros. As regras são na maior parte dos casos verbalizadas pelo namorado, embora exista a possibilidade de a namorada também expor suas regras. Uma vez definidos e implementados estes paramêntros, estabelece-se/reforça-se a confiança entre o casal.

Em relação à indumentária, por exemplo, parte dos jovens neste estudo obstava que na sua ausência as namoradas usassem roupas que revelam a fisionomia, como minissaias ou roupas transparentes. Alguns proibiam terminantemente que as namoradas vestissem tais tipos de roupa em qualquer situação. A explicação tem base moral - que outros homens que olhem para suas namoradas com roupas ousadas podem-nas tomar como mulheres fáceis e de má conduta. Assim, através da negociação e/ou ameaça de terminar, o namoro estes discordam que suas namoradas vistam tais roupas.

Por seu lado, as jovens opunham-se a que os seus namorados tivessem uma intensa vida noturna com seus amigos, uma vez que o consumo de álcool é elevado e, nestas circunstâncias, na sua visão, seus namorados teriam mais probabilidade de se envolver com outras mulheres. Igualmente, os jovens se preocupavam as saídas noturnas de suas namoradas, principalmente para discoteas e festas na sua ausência, pois teriam menor poder e mecanismos de as controlar e garantir que estas não são vistas como "miúdas da noite",3 3 "Miúdas da noite" foi a expressão usada pelos informantes para classificar moças ou mulheres que visitam com frequência discotecas, festas, shows e se vestem de forma provocativa como se estivessem chamando a atenção dos homens. Estas em geral consomeme elevadas quantidades de álcool e permitem ser acariciadas e tocadas pelos homens livremente. Estas são consideradas baratas e não constituem objeto para namoro, pois não são vistas com respeito. o que denota a perda de respeito e consideração. Os rapazes também mencionaram que os estilos de dança sensuais que estão em voga (Kuduru e Tarracha, por exemplo)4 4 Kuduru é um estilo de dança angolano que chegou a Moçambique através da rádio eTV e foi facilmente assimilado e divulgado. A base da dança são movimentos sensuais em que as pessoas vão rodando a cintura, as ancas e o glúteos. Tarracha é também africana e segue a mesma lógica, só que é dançada aos pares e num compasso bastante lento. podem criar noutros homens atração e desejo por suas namoradas, situação que eles não gostariam que acontecesse.

Os mecanismos de controle são um dos fatores que diferenciam o namoro (amor) das relações ocasionais (paixão e desejo). Nas últimas, o relacionamento é puramente baseado na atração física - fico com ela por ser uma gostosa ou boazuda (Mário). Desejo e paixão são normalmente o mote para relações ocasionais como pito/pita e saca-cenas (KARLYN, 2003).

A noção de amor elaborada pelos informantes se liga diretamente à noção de "sexo verdadeiro". Para os jovens deste estudo, "sexo verdadeiro" é exclusivamente sexo vaginal penetrativo, no qual o indivíduo pode desfrutar do "contato (físico) e sentir o calor e o sangue do seu parceiro" (Sérgio). "Sexo verdadeiro" é idealizado como sexo sem nenhum tipo de barreira, de modo a permitir que ambos parceiros sintam o calor e o sague um do outro". Evidentemente, significa que neste tipo de sexo não se usa proteção (preservativo).

O sangue e o calor são elementos importantes de serem sentidos nesse tipo de ato sexual, pois o sangue é usado simbolicamente para representar o contato mais profundo que acontece com a prática de sexo sem proteção entre namorados. Flood refere-se a este fenômeno como "natural sex" - no qual o sexo penetrativo heterossexual e sem proteção significa intimidade (FLOOD 1995, p. 1-3).

Os informantes argumentam que "sexo verdadeiro" deve acontecer no namoro, pois neste relacionamento os parceiros confiam um no outro e por isso podem ter relações sexuais sem usar preservativo, uma vez que ambos estão amando e confiam que nenhum deles trará ITS para o outro, uma vez que "ninguém trairá o outro".5 5 A contradição entre o discurso e a prática sobre traição no namoro mostra a subjectividade e ambiguidade das definições idealizadas com que os informantes trabalham. Daí que a autora tenha optado por manter a frase entre aspas. Traição no namoro significa o envolvimento (sexual ou não) de um dos parceiros com uma terceira parte.

De forma contrastante ao relacionamento de pito/a ou ficar, onde não existe compromisso e a traição é "permitida", no namoro certos tipos de traição - como a existência de uma relação de longo termo por uma das partes do casal com uma terceira parte e a revelação pública desta - podem culminar com o fim do relacionamento. Apesar do risco consciente da traição, "sexo verdadeiro" é ainda o preferido nos relacionamentos de namoro, visto que os jovens acreditam que no evento de uma traição o parceiro irá proteger-se a si e ao/a parceiro/a (consequentemente, o relacionamento) de ITS usando o preservativo durante o ato sexual (MANUEL, 2005), embora os próprios informantes afirmem existir situacões em que realizam sexo em relações ocasionais sem usar preservativo.

Mesmo abstraindo os riscos associados ao sexo sem proteção (gravidez indesejada, assim como ITS), a noção de "sexo verdadeiro" ou "natural sex" (FLOOD, 1995) é bastante problemática, pois representa uma visão de sexualidade baseada na heteronormatividade do sexo com penetração. Esta visão contribui para a popular percepção de que outras formas de expressão de sexualidade, como homossexualidade ou sexo sem penetração, são consideradas aberrações ou expressões não-naturais de sexualidade, ou que sexo oral não é sexo. Na verdade, muitos dos informantes, embora se referissem ao cunnilingus e fellatio como sexo oral, não consideravam estas práticas como tendo finalidade satisfação sexual mas como preliminares ou foreplay, que criariam excitação para preparar o ambiente para a consolidação do ato sexual - que significa sexo penetrativo do pênis na vagina. Estas posições contribuem, inevitavelmente, para uma leitura negativa e uma visão estigmatizada dos homosexuais, uma visão que é partilhada pelos informantes deste estudo.

"Sexo verdadeiro" é uma característica particular no relacionamento de namoro que é idealizada pela presença de amor - um sentimento compartilhado que aumenta o bem-estar e felicidade dos envolvidos, criando um clima de confiança, cuidado, respeito e companhia. Noutros tipos de relacionamento, sexo efetua-se preferencialmente com o uso do presevativo, uma vez que não existem garantias de que o parceiro se tenha protegido anteriormente (e assim o/a proteja das ITSs e HIV/Aids).

Este padrão de uso de preservativo (ou melhor, não-uso do preservativo) em relações estáveis corrobora muito da literatura antropológica concernente à sexualidade dos jovens pelo mundo. Por exemplo, Moore e Rosenthal (1993) mostram como na Austrália, no início do relacionamento, os jovens usam o preservativo quando mantêm relações sexuais. No entanto, após algum tempo e estabelecimento de confiança entre o casal, o preservativo é progressivamente substituído por pílulas anticonceptivas. Levine e Ross (2001) mostram que estudantes universitários em Cape Town, na África do Sul, acreditam que em relações baseadas no amor e confiança os parceiros estão protegidos, e por isso não existe necessidade de uso do preservativo para proteção contra ITSs ou HIV/Aids. Embora essa literatura apresente semelhanças com os resultados deste estudo, ela não explica como e por que sexo é considerado uma prova para um sentimento particular - amor. Assim, a próxima seção procura possíveis avenidas para tal explicação.

Discursos sexuais

Vários cientistas sociais que analisaram as dinâmicas socioculturais da pandemia do HIV/Aids focaram especialmente no comportamento sexual dos jovens no continente africano. Algumas das conclusões indicam que alguns grupos de mulheres jovens oferecem sexo em troca de dinheiro (SCHOEPH, 1992; McGRATH et al., 1993; VARGA, 1996; BAGNOL; CHAMO, 2003) ou por outras comodidades que constituem mais "desejos" do que "necessidades" (HUNTER 2002; BAGNOL; CHAMO 2003; LECLERC-MADLALA, 2003). Eles concluíram que este comportamento das mulheres põe-nas, a elas e suas comunidades, numa situação de grande exposição ao risco de ITSs, e ainda mais perigoso, HIV/Aids. No entanto, estudos desenvolvidos no continente não explicam a situação em que sexo serve como moeda de troca para o sentimento de amor.

O estudo de Leclerc-Madlala (2003), por exemplo, argumenta que as jovens em Durban, África do Sul, envolvem-se com múltiplos parceiros (principalmente homens adultos e "taxi drivers") movidas pelo contexto sociocultural, de modo a acederem a "comodidades caras como jóias, telefones celulares, roupa moderna e a oportunidade de serem vistas em carros de luxo" (LECLERC-MADLALA, 2003, p. 2). Embora esta assertiva seja válida para explicar relacionamentos descritos pelos jovens em Maputo, como "catorzinhas" e "tios" (BAGNOL; CHAMO, 2003) (relações de caráter sexual que são intergeracionais e com fins de obteção de bens e serviços), não explica a situação de namoro em que sexo é efetuado como prova de amor.

A análise de Leclerc-Madlala cega-se ao fato de que também nas culturas ocidentais é esperado que o homem ganhe privilégios sexuais após pagar-lhe um jantar e oferecerlhe um anel de diamantes. Assim, relações sexuais em troca de bens materiais podem ser entendidas dentro da "lógica do dom" (MAUSS, 1969), e não apenas em termos culturais, como tende a enfatizar a versão de Leclerc-Madlala.

A lógica do dom é bastante válida para explicar a situação em que sexo é reciprocado por amor na relação de namoro entre os jovens em Maputo. Mauss descreve o dom como "prestações" que são teoricamente desinteressadas e espontâneas, mas na verdade são obrigações e são revestidas de interesse (MAUSS, 1969, p. 1). Usando esta perspectiva, argumento que quando o jovem se aproxima da jovem e revela seu interesse em estabelecer com ela uma relação de namoro, através da declaração de seus sentimentos e propondo-lhe tal relacionamento, ele está admitindo que tem sentimentos profundos e intenções sérias para com ela.

Grande parte das jovens entrevistadas no estudo afirmaram ser uma honra serem pedidas em namoro, uma vez que, a seu ver, a grande parte dos homens prefere envolver-se em relações ocasionais com objetivo de satisfação sexual. Assim, o pedido de namoro é desejado, pois é socialmente percebido como regado de sentimentos profundos e de caráter sério. Outros motivos incluem o fato de que o número de homens solteiros na cidade está decrescendo,6 6 O motivo para a redução do número de homens jovens neste grupo social está ligada à crescente migração para prosseguimento da carreira acadêmica no exterior do país. enquanto o número de mulheres aumenta. Na verdade, as estatísticas mostram que de modo geral em Moçambique, e em particular Maputo, existem mais mulheres do que homens (INE, 1999). Para os relacionamentos, este fato é agravado, pois grande parte dos homens já estão envolvidos em algum tipo de ralcionamento, o que dificulta para as mulheres a aquisição de novos parceiros, pois:

[T]he very way in which the sexual partnering is organized in the society and the investments that are made in such partners shape the opportunity to acquire or change sexual partners. (GAGNON; PARKER, 1995, p. 15).

No entanto, o pedido de namoro tende a acontecer quando o jovem já conhece a jovem há algum tempo. Eles podem já ser amigos, colegas de escola ou vizinhos. São pessoas que já passaram tempo juntos a conversar, em festas, estudando ou outras atividades recreativas. Em alguns casos, o jovem pode ter investigado a jovem por algum tempo, embora não seja próximo dela. Convencionalmente e de forma mais comum, é o homem quem se aproxima da mulher para a pedir em namoro. Este papel é percebido como masculino, e na verdade alguns homens podem recusar de forma rude e até ficarem chateados quando pedidos em namoro por uma mulher. No entanto, os informantes apresentaram vários exemplos de exceções, que elucidam novas dinâmicas de papéis e expectativas de gênero.

Pode-se assim argumentar que, quando o jovem se aproxima da jovem e a pede em namoro, ele está oferecendo-lhe um presente - o presente do seus sentimentos profundos e do compromisso que está disposto a estabelecer com ela. Uma das características do presente é que este " carrega consigo a obrigação de retribuir o presente recebido" (MAUSS, 1969, p. 10). Assim, se a jovem aceitar a proposta de namoro, o jovem irá esperar que ela reconheça seus sentimentos e intenções entregando-se sexualmente a ele.

"Sexo verdadeiro" é a forma esperada e privilegiada da materialização dessa retribuição, pois dá a possibilidade de intimidade, de estar "um dentro do outro [...] para sentir o corpo, o sangue e os líquidos" como comentou Gildo. Essa noção de passagem e transmissão dos fluidos corporais está estritamente ligada à noção de saúde e bem-estar, como foram estudadas noutros cantos do continente (TAYLOR, 1990; NIHEAUS, 2002; THORNTON, 2002). "Sexo verdadeiro" constitui, assim, o pagamento do presente, uma vez que estabelece que o casal se pertence. Sexo sem proteção permite não só a troca de calor, mas dá um forte sentido de posse. De forma contrastante, sexo protegido é considerado frio, pois presume distância e falta de confiança entre o casal.

A troca de sexo por amor e vice-versa mantém-se durante o namoro, o que significa que existe uma constante necessidade de provar amor em situações de ciúmes ou insegurança. Por outro lado, existe a crença de que o casal deve continuar a trocar calor e fluidos, de modo a promover um estado saudável. O celibato prolongado é percebido como trazendo consequências negativas para a saúde (cf. NIHEAUS, 2002, p. 194), uma vez que cria depressão e borbulhas na cara, como afirmaram Lucha, de 20 anos, e Mário.

É um fato que, quando questionados, os informantes afirmaram a necessidade de o compromisso de amor exigir o mínimo de conforto material, que se traduziria na presença de presentes materiais regulares (que poderiam variar de flores, roupas ou pagamento de visitas ao cabelereiro), almoços ou jantares nos restaurantes, cinema ou uma noite na discoteca. Os pedidos viriam, na quase totalidade dos casos, da namorada para o namorado. Esta ideia de conforto material ecoa outros estudos realizados na África (SILBERSCHIDT, 1999; HARAM, 2004), onde os envolvidos na relação de amor exigem conforto material e apontam a pobreza como ameaça para o relacionamento.

No estudo com os jovens em Maputo, pobreza não representa uma ameaça imediata, e muitos deles tomam em consideração o fato de que ambos ainda são estudantes e não têm fontes de rendimento estabelecidas (muitos deles ganham uma mesada de seus pais ou vendem roupas, ou dão expliacações a outros estudantes sobre determinadas matérias a troco de dinheiro).

Dimensão simbólica e dimensão pragmática de sexo como prova de amor

O uso do sexo para reciprocar amor apresenta uma dimensão simbólica que se liga aos significados do sexo no namoro, e uma pragmática que vai de acordo com as normas de gênero que os namorados usam: a demonstração de seus sentimentos à namorada como forma de incnetivá-la a iniciar com ele a atividade sexual. Simbolicamente, "sexo verdadeiro" cria no namoro laços fortes (através da troca de calor e fluidos) entre as duas pessoas, dando um senso de unidade e confirmando que o relacionamento é baseado no amor.

Por outro lado e de forma pragmática, os jovens tendem a pressionar suas namoradas a iniciar a atividade sexual logo a seguir ao pedido de namoro, pois eles têm consciência de que as jovens esperam algum tempo antes de mostrarem interesse em fazer sexo. Essa pressão baseada no gênero resulta do fato de a grande parte das jovens, mesmo quando amando, tende a preservar-se sexualmente entre os primeiros três a seis meses do relacionamento, de modo a garantir que seu parceiro realmente partilhe o mesmo tipo de interesse que ela e estabeleça um relacionamento "sólido". Mais ainda, as jovens não querem ser confundidas com mulheres que facilmente praticam sexo com um novo parceiro logo no início da relação.

Parece que as jovens dividem as mesmas expectativas de intimidade sexual que os homens - uma vez que estas consideram algo natural e normal no relacionamento - mas suas escalas temporais são diferentes. Só quando estas confirmam que o relacionamento é "sólido", i.e. depois de os namorados terem esperado algum tempo sem as pressionar para sexo, elas darão o passo seguinte. No entanto, a grande maioria dos jovens não se dispõe a esperar o período definido pelas jovens para se engajar em sexo. Eles pressionam a namorada a provar que o está realmente amando iniciando as relações sexuais. Pedro, de 18 anos, explicou como iria pressionar: "Eu perguntaria: porque estás a recusar? Queres que procure outras mulheres? Afinal não és minha? Então?... Eu estou aqui a precisar...". Suas palavras mostram as formas de pressão social impostas sobre as jovens que são socializadas a prosseguirem em relacionamentos que às vezes condicionam seu senso de ser e seus desejos.

As jovens também se queixaram de que os namorados as chantageavam emocionalmente de modo a iniciarem a atividade sexual afirmando que o comportamento delas os empurrava para outras mulheres ou que, se assim continuassem, eles preferiam terminar o relacionamento. No entanto, as jovens consideram esse tipo de chantagem normal e, na verdade, esperam que ela aconteça, uma vez que os "homens não conseguem controlar os seus instintos sexuais", como expressou Pedro:

O desejo de um homem é diferente do desejo de uma mulher. Quando o homem quer [sexo] ele realmente quer... Não é uma questão de respeito... Ahh tu... o teu namorado pode te respeitar muito mas, quando ele está realmente necessitado, verás que ele vai insistir até conseguir o que quer.

Como resultado, muitas jovens se envolvem sexualmente com os namorados quando sentem que não possuem mais argumentos para contrapor a chantagem. Este fato não significa, no entanto, que elas são forçadas físicamente a fazer sexo, uma vez que nenhuma das jovens assim mencionou. Elas explicaram que "ficam sem palavras". Por outro lado, os jovens tendem a ficar confusos com as respostas das namoradas quando estes pedem para terem relações sexuais. As namoradas podem dizer "não" para o sexo enquanto na realidade querem dizer "sim". A estratégia das mulheres parece ser uma tentiva de evitar ser olhada como barata, vulgar ou fácil, i.e., sexualmente disponível . Assim, mesmo quando a jovem quer sexo, ela pode dizer "não", e só após insistência do parceiro ela aceitará.

Tal esta situação, inevitavelmente, cria problemas para o namorado, que não é capaz de identificar que "não" realmente significa "não" e que "não" significa "sim" ou "talvez". Como consequência, os jovens generalizam e assumem que todas as vezes que a namorada diz que "não", ela está interessada em sexo. Assim, eles consideram as mulheres falsas e acusam-nas de gingar (fingir não querer algo que quer). Esta confusão dos homens surge do conflito que as mulheres vivem entre expressar seu desejo sexual e o comportamento feminino socialmente sancionado.

Todas as informantes concordaram que só elas sabem quando o "não" significa "sim" ou "não". Como consequência, elas se sentem com poder de domínio da situação em determinadas circunstâncias. Homens e mulheres baseiam-se na linguagem corporal e no contexto para gerarem pistas sobre o significado e desejo ao mesmo tempo que parecem conformar-se com os ideias sociais. A implicação do contexto pode significar que os homens descartam as recusas verbais naquele contexto mesmo quando a expressão corresponde à recusa.

Algumas campanhas de HIV/Aids tentaram estabelecer uma ligação direta entre a palavra e a intenção. Por exemplo, o billboard da campanha sul-africana da LoveLife pergunta "Since when does 'no' mean 'yes'?". Esta implica que "não" significa "não". Esta dedução é difícil de ser aplicada nas práticas quotidianas, pois estes termos não são sempre usados literalmente. Durante a negociação sexual, o sentimento, o contexto e outros fatores, como chantangem, jogam um papel importante na decisão de se envolver sexualmente. Por isso, tais campanhas devem prestar a devida atenção ao explorar a relação entre a linguagem, as emoções e os outputs que se geram. Devem ainda desenvolver mensagens específicas para os diferentes tipos de relacionamentos, pois as lógicas tendem a ser diferentes.

HIV/Aids : uma ameaça

Dados os elevados índices de infeção de HIV/Aids em Moçambique - os dados de prevalência em 2004 apontavam para 16,2% (GTM 2005) - o "sexo verdadeiro" (sem proteção) torna-se bastante problemático, pois põe os jovens em elevado risco de infecção . Assim, este presente (sexo verdadeiro) torna-se bastante perigoso.

Apesar deste fato, foi interessante notar que a maioria dos jovens informantes no estudo não imaginam a possibilidade de estarem ou se tornarem infectados pelo HIV/Aids. Apenas dois informantes mencionaram já ter feito o teste. Os restantes participantes recusavam-se a testar pois afirmavam que não tinham como estar infectados. Grande parte deles sustentava sua crença no fato de usar preservativos nas relações sexuais ocasionais e criarem uma série de mitos de auto-proteção (MANUEL, 2005). Esses jovens trocam de parceiros estáveis (namorado/a) de forma frequente, guiando para uma situação de monogamia serial (serial monogamy): embora uma relação estável seja estabelecida com cada novo parceiro, eles irão praticar "sexo verdadeiro" com cada um dos novos parceiros, o que significa que não irão usar preservativo. Este fato reduz as probabilidades de proteção de ITSs e HIV/Aids.

A confiança, um dos aspectos positivos da relação de namoro, juntamente com o ideal de "sexo verdadeiro", que permite a formação de laços fortes entre o casal a partir da troca de fluidos e calor, ironicamente se torna o fator que proíbe que os jovens namorados usem o preservativo. Como consequência, a relação de amor inadequadamente os protege das ITSs e HIV/Aids.

Conclusão

Este artigo explorou as relações de namoro entre jovens na cidade de Maputo. Usando o quadro teórico de Mauss (1969) da lógica do dom, descreveu como uma relação de reprocidade é estabelecida entre amor e sexo. Esta reprocidade acontece num contexto local onde as percepções de amor e saúde são enfatizadas pela maneira como o sexo é fetichizado no contexto urbano de Maputo. Existem dimensões simbólicas e pragmáticas do relacionamento amoroso sexual que são acompanhadas por uma série de expectativas, contradições e pressões guiadas por normas de gênero que revelam dinâmicas diferentes na relação de namoro.

Sexo nas relações de namoro é desprotegido, por isso definido como "sexo verdadeiro". Os riscos de tal prática são ignorados pelos jovens. Assim, a lógica de namoro decrita e analisada neste artigo sugere que a instituição é complexa e que, de forma inocente, o amor expõe os parceiros sexuais à vulnerabilidade da pandemia mortal que é o HIV/Aids.

Notas

Recebido em: 10/01/2009.

Aprovado: 08/04/2009.

  • BAGNOL, B.; CHAMO, E. Titios e catorzinhas: pesquisa qualitative sobre "sugar daddies" na Zambézia (Quelimane e Pebane). Mozambique: DFID/PMG Mozambique, 2003.
  • FLOOD, M. Heterosexual men's sexuality. Family Planning Association of NSW, special issue, v. 3, n. 4, 1995. Disponível em: http://www.xyonline.net/Heteromensexuality.shtml Acesso em: 15 out. 2002.
  • GAGNON, J.; PARKER, R. Conceiving sexuality. In: PARKER, R.; GAGNON, J. (eds). Conceiving sexuality New York: Routledge, 1995. p. 3-16.
  • GTM. Vigilância epidemiológica 2004. GTM, 2005.
  • HARAM, L. Prostitutes or modern women? Negotiating respectability in Northern Tanzânia. In ARNFRED, S. (ed). Re-thinking sexualities in Africa Sweden: Almqvist & Wiksell Tryckeri, 2004. p. 211-229.
  • HUNTER, M. The materiality of everyday sex: thinking beyond prostitution. African Studies, v. 61, n. 1, p. 99-120, 2002.
  • INSTITUTO NACIONAL DE ESTATÍSTICAS. II Recenseamento Geral da População e Habitação 1997: resultados definitivos, cidade de Maputo. Maputo: INE, 1999.
  • KARLYN, A. Intimacy revealed: the language and context of adolescent experimentation in Maputo, Mozambique. In: SEX AND SECRECY CONFERENCE, Johannesburg, June 2003.
  • WITS University, 2003. LECLERC-MADLALA, S. Modernity, meaning and money: urban youth and the commodification of relationships. Cape Town: Centre for Social Science Research, University of Cape Town, 2003.
  • LEVINE, S.; ROSS, F.. Perceptions of and attitudes to HIV/Aids among young adults at University of Cape Town (UCT). Cape Town: UCT, 2001. Mimeo.
  • MANUEL, S. Obstacles to condom use among secondary school students in Maputo city, Mozambique. Culture, Health and Sexuality, v. 7, n. 3, p. 293-302, 2005.
  • MAUSS, M. The gift: forms and functions of exchange in archaic societies. London: Cohen & West, 1969.
  • MCGRATH, J. W. et al. Anthropology and Aids: the cultural context of sexual risk behaviour among urban Baganda women in Kampala, Uganda. Social Science and Medicine, v. 36, n. 4, p. 429-439, 1993.
  • MOORE, S.; ROSENTHAL, D. Sexuality in adolescence. London: Routledge, 1993.
  • NIEHAUS, I. Bodies, heat and taboos: Conceptualizing modern personhood in the South African Lowveld. Ethnology, v. 41, n. 3, p. 189-207, 2002.
  • SCHOEPH, B. Women at risk: cases studies from Zaire. In: HERDT, G.; LINDENBAUM, S. (eds). Times of Aids: social analysis, theory and method. London: Sage Press, 1992.
  • SILBERSCHMIDT, M. Women forget that men are the masters: gender antagonism and the socio-economic change in Kisii District, Kenya. Estocolmo: Nordiska Afrikainstitutet, 1999.
  • TAYLOR, C. Condoms and cosmology: the fractal person and sexual risk in Rwanda. Social Science and Medicine, v. 31, n. 9, p. 1.023-1.028, 1990.
  • THORNTON, R. Flows of 'sexual substance' and representation of the body in South Africa. Johannesburg: University of Witwatersrand, 2002.
  • VARGA, C. Commercial sex-workers in Durban: towards a participatory intervention approach to HIV/Aids prevention. Final Project Report. Pretoria, Medical Research Council of South Africa, 1996.
  • 1
    Beijos na boca ou beijos molhados possuem um significado diferente dos dois beijos na bochecha, que representam uma forma de cumprimento habitual em Maputo e é usada entre mulheres ou entre homens e mulheres de qualquer idade. Dois homens cumprimentam-se com o aperto de mão.
  • 2
    "Ver passarinho verde" é uma expressão usada em Maputo para se referir a alguém que aparenta e age como se estivesse apaixonada ou a amar - feliz e sempre com boa disposição-- sorrindo, cantando, dançando, cumprimentando toda a gente, sendo simpático, etc. É uma expressão comum em Maputo importada do Posrtuguês falado no Brasil através das telenovelas. No contexto brasileiro, passarinho é tambem um termo usado para designar pênis, assim a expressão pode também significar a felicidade que se vive após o ato sexual.
  • 3
    "Miúdas da noite" foi a expressão usada pelos informantes para classificar moças ou mulheres que visitam com frequência discotecas, festas, shows e se vestem de forma provocativa como se estivessem chamando a atenção dos homens. Estas em geral consomeme elevadas quantidades de álcool e permitem ser acariciadas e tocadas pelos homens livremente. Estas são consideradas baratas e não constituem objeto para namoro, pois não são vistas com respeito.
  • 4
    Kuduru é um estilo de dança angolano que chegou a Moçambique através da rádio eTV e foi facilmente assimilado e divulgado. A base da dança são movimentos sensuais em que as pessoas vão rodando a cintura, as ancas e o glúteos.
    Tarracha é também africana e segue a mesma lógica, só que é dançada aos pares e num compasso bastante lento.
  • 5
    A contradição entre o discurso e a prática sobre traição no namoro mostra a subjectividade e ambiguidade das definições idealizadas com que os informantes trabalham. Daí que a autora tenha optado por manter a frase entre aspas.
  • 6
    O motivo para a redução do número de homens jovens neste grupo social está ligada à crescente migração para prosseguimento da carreira acadêmica no exterior do país.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      16 Nov 2009
    • Data do Fascículo
      2009

    Histórico

    • Aceito
      08 Abr 2009
    • Recebido
      10 Jan 2009
    PHYSIS - Revista de Saúde Coletiva Instituto de Medicina Social Hesio Cordeiro - UERJ, Rua São Francisco Xavier, 524 - sala 6013-E- Maracanã. 20550-013 - Rio de Janeiro - RJ - Brasil, Tel.: (21) 2334-0504 - ramal 268, Web: https://www.ims.uerj.br/publicacoes/physis/ - Rio de Janeiro - RJ - Brazil
    E-mail: publicacoes@ims.uerj.br