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CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ARBORIZAÇÃO DA CIDADE DE BENTO GONÇALVES - RS

GENERAL CHARACTERIZATION OF ARBOREOUS ÁREAS OF BENTO GONÇALVES CITY

Resumos

Através de um levantamento em 56 ruas, foi avaliada a arborização da cidade de Bento Gonçalves, RS. Concluiu-se, que a arborização atual corresponde a 45% das necessidades e que os altos índices de falhas e faltas sugerem a criação de um plano de arborização e de educação ambiental.

arborização; levantamento; paisagismo


A survey of 56 streets was conducted in the Bento Gonçalves, RS city aiming to observe the general characteristics of its arboreous areas. It was concluded that the arboreous areas corresponds to 45% of the necessities and that the high rate of failures and gaps suggests the criation of tree planting program and a environmental education.

arboreous; survey; landscape


CARACTERIZAÇÃO GERAL DA ARBORIZAÇÃO DA CIDADE DE BENTO GONÇALVES - RS

GENERAL CHARACTERIZATION OF ARBOREOUS ÁREAS OF BENTO GONÇALVES CITY

Italo Filippi Teixeira1 1 Engenheiro Florestal, Professor, Departamento de Fitotecnia (DF), Centro de Ciências Rurais (CCR), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). 97119-900 - Santa Maria, RS. Nara Rejane Zamberlan dos Santos2 1 Engenheiro Florestal, Professor, Departamento de Fitotecnia (DF), Centro de Ciências Rurais (CCR), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). 97119-900 - Santa Maria, RS. Sandro Vaccaro3 1 Engenheiro Florestal, Professor, Departamento de Fitotecnia (DF), Centro de Ciências Rurais (CCR), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). 97119-900 - Santa Maria, RS.

RESUMO

Através de um levantamento em 56 ruas, foi avaliada a arborização da cidade de Bento Gonçalves, RS. Concluiu-se, que a arborização atual corresponde a 45% das necessidades e que os altos índices de falhas e faltas sugerem a criação de um plano de arborização e de educação ambiental.

Palavras-chave: arborização, levantamento, paisagismo.

SUMMARY

A survey of 56 streets was conducted in the Bento Gonçalves, RS city aiming to observe the general characteristics of its arboreous areas. It was concluded that the arboreous areas corresponds to 45% of the necessities and that the high rate of failures and gaps suggests the criation of tree planting program and a environmental education.

Key Words: arboreous, survey, landscape.

INTRODUÇÃO

Até a presente data, a arborização urbana consiste na distribuição de diminutas mudas, em covas mal dimensionadas, dispostas ao longo das ruas.

Apesar deste quadro que se vislumbra, "a vegetação urbana como em qualquer sistema ecológico desempenha um papel relevante, sobretudo por ser a base em que se apoiam os ecossistemas" (CESTARO, 1985).

Observa-se também que, "para a efetivação dos benefícios da arborização urbana, é necessário a adequada distribuição espacial das áreas verdes por todo o espaço urbano" (LAPOIX, 1979).

De importância vital também são "as espécies vegetais que, com sua diversidade de formas, cores, estruturas e dimensões, não são elementos acessórios mas estruturadores do espaço urbano" (BUSARELO, 1990).

O fato de plantar árvores, então, se traduz em uma atitude de extrema necessidade porém, alguns aspectos inerentes da malha urbana devem ser considerados, tais como: local, aspectos edafo-climáticos, culturais e sociais.

Assim, arborizar deve ser enfocado como um processo onde estão envolvidos administradores, políticos, profissionais e a comunidade com o objetivo comum de criar um meio ambiente harmonioso, capaz de assegurar o bem estar da população e o equilíbrio ecológico.

Atualmente o "bem-estar" da comunidade e principalmente o equilíbrio ecológico estão ameaçados pois "o atual processo de urbanização e, conseqüentemente, de verticalização e da coletivização dos espaços urbanos construídos, trouxe importantes e irreversíveis modificações nas formas das cidades" (NEVES, 1985).

MOHR (1985), reitera, dizendo que "a situação atual de grande parte das cidades, em especial do terceiro mundo, é de total antagonismo ao meio natural, com conseqüentes desequilíbrios ecológicos, climáticos e sociais e ausência de espaços naturais e massas vegetais no interior da malha urbana".

Conforme GEISER et al (1976), deve-se considerar sobretudo o problema da metropolização sentida nas cidades, o que reflete na concorrência da cidade em relação ao espaço verde, representado pela vegetação, com sua substituição pelo piso urbano.

Esta vegetação urbana apresenta uma função extremamente importante como elemento de integração, que é incorporar a expressão da paisagem urbana na da macropaisagem regional envolvente (SANTOS, 1977).

Para LOMBARDO (1990), a vegetação desempenha importante papel nas áreas urbanizadas no que se refere à qualidade ambiental e pode-se otimizá-la como um índice através do qual pode-se avaliar a qualidade de vida urbana.

Considerando, então, a premente necessidade de se conhecer a real situação da arborização, fez-se este levantamento preliminar para caracterizar a adequação dos indivíduos na malha urbana e a sua ocupação do solo, na cidade de Bento Gonçalves, RS.

MATERIAL E MÉTODOS

O levantamento realizou-se na cidade de Bento Gonçalves, a qual situa-se na Encosta Superior do Nordeste, no Estado do Rio Grande do Sul, cujas coordenadas geográficas são: latitude 29° 12' S, longitude 51°25' N e altitude de 618m.

O clima é do tipo Cfb, segundo a classificação climática de Koeppen, MORENO (1961). A precipitação anual tem um valor normal de 1500mm e temperatura média anual de 17,2°C, com valores de máximas de 36°C e mínimas de -3,4°C.

O solo pertence as associações Ciríaco-Charrua e Caxias-Farroupilha-Carlos Barbosa, caracterizado por ser solo raso, pedregoso, susceptível a erosão, com relevo fortemente ondulado a montanhoso (BRASIL, 1973).

Os dados foram coletados no Bairro Centro e parte dos bairros Juventude da Enologia, Cidade Alta, São Bento, São Francisco e Humaitá, que constituem a região central da cidade, caracterizada em função de seu relevo como "cidade baixa" e início da "cidade alta".

Para avaliação da arborização foi utilizada uma ficha com as seguintes informações:

- Rua ou avenida: nome e bairro pertencente;

- Presença da fiação aérea;

- Sentido: par, ímpar ou canteiro central;

- Espécie vegetal plantada;

- Necessidade de remoção: os casos em que se observou a necessidade de remover o elemento vegetal foram: árvores mutiladas sem recuperação, mortas, com ataques de pragas e doenças sem solução, decorticadas sem recuperação, com cortes severos de raiz, com inclinação excessiva, que estejam causando danos severos no patrimônio público e particular;

- Falhas: referem-se aos locais destinados ao plantio, ao longo das calçadas e que por motivos diversos não apresentam qualquer tipo de vegetal;

- Faltas: referem-se aos indivíduos que seriam necessários para compor a arborização de cada artéria Foi utilizado como compasso o afastamento de 10m. Este item não inclui os valores registrados como "falhas".

- Recuo: foi observada a posição das construções nos lotes em relação às calçadas.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Observando-se os dados contidos na tabela 1 nota-se que as cinqüenta e seis ruas levantadas apresentam arborização mesmo que em escala reduzida. Nenhuma rua apresenta-se isenta de árvores. Um dos fatores positivos do planejamento urbano foi a freqüência de 80,4% das ruas cujas casas apresentam recuo, o que sugere a possibilidade ampla na escolha das espécies, inclusive as que apresentam maior volume de copa.

Dentre as ruas, as que apresentam maior número de indivíduos são a Xingu, Oswaldo Aranha, Salgado Filho, Olavo Bilac e Planalto, sendo que, com exceção da rua Oswaldo Aranha, todas pertencem ao bairro São Bento.

As ruas com menores índices de arborização concentram-se no bairro Centro e são a Rio Branco, General Vitorino, José Mário Mônaco e Saldanha Marinho.

Quanto a localização dos exemplares sob a fiação aérea, observa-se na tabela 2, 48,4% dos mesmos encontram-se nestas condições e que a maioria 51,6% não sofre a concorrência do espaço aéreo com fiação.

Segundo MIRANDA (1970), fios aéreos de iluminação, de tração elétrica e de telefone constituem sempre empecilhos para a arborização das ruas.

Nos dias de hoje, ainda preocupam os trabalhos realizados na vegetação que visam compatibilizá-la com os equipamentos urbanos, especialmente com redes elétricas e telefônicas (SANCHOTENE, 1990).

A tabela 3 apresenta os valores referentes às falhas. Observa-se que as mesmas são elevadas refletindo possivelmente a falta de conscientização da população, a ação de vândalos e a falta de planejamento e de manutenção.

A Educação Ambiental deverá ser direcionada no sentido de que se implante como um sistema e que capacite a aprender e a configurar-se segundo a experiência, passando assim de um movimento caótico e de relativamente grande improdutividade para um estado onde haja possibilidade real de orientação e gerenciamento (BRASIL, 1985).

Conforme FERREIRA (1985), grande parte dos problemas enfrentados na arborização urbana estão ligados ao desconhecimento das espécies, evidenciando que a adequada seleção contribui para o sucesso do empreendimento.

BALENSIEFER (1987) destaca entre os principais problemas decorrentes da falta de planejamento, as falhas e a incorreta implantação da arborização.

Da população levantada verifica-se que 303 exemplares (Tabela 3), o que representa 11,3% dos indivíduos, deverão ser removidos em função de suas condições físicas e sanitárias.

No arranjo em fileiras, que caracteriza a arborização da cidade de Bento Gonçalves, levando em consideração o compasso utilizado, verifica-se uma deficiência de 3.254 exemplares ao longo das ruas levantadas.

Tanto a arborização de ruas como as áreas verdes de uma cidade, precisam passar periodicamente por uma avaliação do seu desempenho para se proceder alterações quando for necessário (BIONDI, 1990).

A avaliação da arborização, segundo MILANO (1987), permitirá conhecer a condição da arborização em termos de adaptabilidade, potencialidade e eventuais problemas das espécies, bem como os problemas relacionados às condições dos plantios. Com isso será possível definir remoções de árvores ou eliminação de espécies, projetar novos plantios com proporcionalidade e características de posicionamento adequadas e estabelecer sistemas de manejo e condução a serem adotados.

CONCLUSÃO

O levantamento de 56 ruas da cidade de Bento Gonçalves permite concluir que:

a) A atual arborização corresponde a 45% das necessidades do município;

b) a maioria dos indivíduos não se encontram sob fiação o que facilita sobremodo a escolha de espécies e manejo;

c) a comprovação de índices elevados de falhas e faltas possibilita a sugestão de criação de um plano de arborização e de educação ambiental para a cidade.

2Engenheiro Agrônomo, Professor Adjunto, DF, CCR, UFSM.

3Aluno do Curso de Engenharia Florestal - UFSM.

Recebido para publicação em 29.08.91. Aprovado para publicação em 08.04.92.

  • BALENSIEFER, M. Fomento e extensão em arborização urbana. In: ENCONTRO NACIONAL SOBRE ARBORIZAÇÃO URBANA, 1987, Maringá, PR. Anais ... Maringá: PMM/ITCF/SEAA, 1987. 236 p. p. 20-25.
  • BIONDI, D. Situação da arborização urbana e das áreas verdes da cidade de Recife - PE. In: ENCONTRO NACIONAL SOBRE ARBORIZAÇÃO URBANA, 1990, Curitiba, PR. Anais ... Curitiba; FUPEF, 1990. 368 p. p. 27-33.
  • BRASIL. Levantamento de reconhecimento dos solos do Estado do Rio Grande do Sul Recife: Ministério da Agricultura, 1973. 431 p, Boletim técnico, 30.
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  • BUSARELLO, O. Planejamento urbano e arborização. In: ENCONTRO NACIONAL SOBRE ARBORIZAÇÃO URBANA, 1990, Curitiba, PR. Anais ... Curitiba: FUPEF, 1990. 368 p. p. 54-59.
  • CESTARO, LA. A vegetação no Ecossistema Urbano. In: ENCONTRO NACIONAL SOBRE ARBORIZAÇÃO URBANA, 1985, Porto Alegre, RS. Contribuições técnico-científicas ... Porto Alegre: PMPA/SMMA, 1985. 255 p. p. 51-56.
  • FERREIRA, L Usos da vegetação. In: ENCONTRO NACIONAL SOBRE ARBORIZAÇÃO URBANA, 1985, Porto Alegre, RS, Contribuições técnico-científicas ... Porto Alegre: PMPA/SMMA, 1985. 255 p. p. 89-95.
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  • MORENO, J.A. Clima do Rio Grande do Sul Porto Alegre: Secretaria da Agricultura, 1961. 46 p.
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  • SANTOS, L. F.C. dos. Carmo: nova opção de lazer para São Paulo. SILVICULTURA, São Paulo, v. 1. n. 4, p. 37-40, jan/fev 1977.
  • 1
    Engenheiro Florestal, Professor, Departamento de Fitotecnia (DF), Centro de Ciências Rurais (CCR), Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). 97119-900 - Santa Maria, RS.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      08 Set 2014
    • Data do Fascículo
      Abr 1992

    Histórico

    • Recebido
      29 Ago 1991
    • Aceito
      08 Abr 1992
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