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Prevalência de Paramphistomum no rúmen e retículo de bovinos no Estado do Rio Grande do Sul - Brasil

Prevalence of Paramphistomum in the bovine stomach and reticulum in the State of Rio Grande do Sul - Brazil

Resumos

Estudou-se a prevalência de trematódeos no rúmen e retículo de 2.202 bovinos provenientes de 24 municípios do Estado do Rio Grande do Sul, através de necropsias efetuadas em matadouro. Constatou-se que 21 dos municípios estudados estavam positivos para Paramphistomum spp. e 26,3% dos rumens e retículos parasitados com o helminto. A prevalência deste trematódeo foi maior nos municípios de Santa Vitória do Palmar (100%); Capão do Leão (97,6%) e Palmares (90%).

Paramphistomum; helminto; necropsia


The prevalence of stomach and reticulum flukes was observed in 2.202 cattle from 24 counties located in state of Rio Grande do Sul state, Brazil, through necropsies at slaughterhouse. It has been found that 21 counties were positive for Paramphistomum spp. and 26.3% of stomachs-reticulum were parasited with the helminth. The prevalence of the flukes was higher in Santa Vitória do Palmar (100%); Capão do Leão (96.7%) and Palmares (90%).

Paramphistomum; helminths; necropsy


PREVALÊNCIA DE Paramphistomum NO RÚMEN E RETÍCULO DE BOVINOS NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL - BRASIL

PREVALENCE OF Paramphistomum IN THE BOVINE STOMACH AND RETICULUM IN THE STATE OF RIO GRANDE DO SUL - BRAZIL

Mary Jane Tweedie de Mattos1 1 Médico Veterinário, MSc., Professor Assistente, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Caixa Postal 15034, 91540-000, Porto Alegre, RS. Autor para correspondência. Hakaru Ueno2 1 Médico Veterinário, MSc., Professor Assistente, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Caixa Postal 15034, 91540-000, Porto Alegre, RS. Autor para correspondência.

RESUMO

Estudou-se a prevalência de trematódeos no rúmen e retículo de 2.202 bovinos provenientes de 24 municípios do Estado do Rio Grande do Sul, através de necropsias efetuadas em matadouro. Constatou-se que 21 dos municípios estudados estavam positivos para Paramphistomum spp. e 26,3% dos rumens e retículos parasitados com o helminto. A prevalência deste trematódeo foi maior nos municípios de Santa Vitória do Palmar (100%); Capão do Leão (97,6%) e Palmares (90%).

Palavras-chave: Paramphistomum, helminto, necropsia.

SUMMARY

The prevalence of stomach and reticulum flukes was observed in 2.202 cattle from 24 counties located in state of Rio Grande do Sul state, Brazil, through necropsies at slaughterhouse. It has been found that 21 counties were positive for Paramphistomum spp. and 26.3% of stomachs-reticulum were parasited with the helminth. The prevalence of the flukes was higher in Santa Vitória do Palmar (100%); Capão do Leão (96.7%) and Palmares (90%).

Key words: Paramphistomum, helminths, necropsy.

INTRODUÇÃO

O gênero Paramphistomum, FISCHOEDER (1901), ocupa uma ampla distribuição geográfica no mundo, tendo sido identificado na África, Ásia, Austrália, Europa Ocidental, Rússia e Países do Mediterrâneo (HORAK, 1971) e Uruguai (CARBALLO et al, 1981). A primeira referência sobre a ocorrência de Paramphistomum spp no Brasil foi feita por Rockett et al. (1965), apud FREIRE (1967), que verificaram este trematódeo parasitando o rumem de bovinos do município de Jaguarão, no Estado do Rio Grande do Sul. Neste município, o parasito foi também mencionado por FREIRE (1967).

A literatura ainda registra a ocorrência de paramfistomídeos nos seguintes municípios deste Estado: Alegrete (VELASQUEZ-MALDONADO, 1976; VIEIRA et al., 1976 e MENDES, 1980); Bagé (VIEIRA et al., 1976 e MENDES, 1980); Cachoeira do Sul (VELASQUEZ-MALDONADO, 1976);Canguçu (VIEIRA et al., 1976); Herval do Sul (VIEIRA et al., 1976); Pedro Osório (VELASQUEZ-MALDONADO, 1976; VIEIRA et al., 1976 e MENDES, 1980); Pinheiro Machado (VIEIRA et al., 1976); Santa Maria (VIEIRA et al, 1976); Santa Vitória do Palmar (VELASQUEZ-MALDONADO, 1976 e VIEIRA et al., 1976); São Gabriel (VIEIRA et al., 1976; MENDES, 1980); São Lourenço (VIEIRA et al., 1976) e Camaquã(MENDES, 1980).

Em algumas áreas, como a Índia e Austrália, a mortalidade de bovinos e ovinos, durante a fase intestinal da paranfístomose, é em torno de 30% e 40%, respectivamente (BORAY, 1959 e SOULSBY, 1965 e 1982). Segundo SOULSBY (1982), são necessários 30.000 formas imaturas de Paramphistomum para ocasionar diarréia.

A patogenia das formas adultas de Paramphistomum spp, que se localizam no rúmen e retículo, é bastante discutível, enquanto JENSEN & MACKEY (1965); ANDERSON e WALLER (1983) consideram apatogências. ROURCHET (1964) afirma que, em infecções pesadas, as lesões causadas por este trematódeo facilitam a chegada de produtos tóxicos à circulação hemática ou linfática do animal parasitado.

Segundo OLSEN (1962), somente Paramphistomum cervi teria poder patogênico, não havendo constatado sinais de enfermidades nas outras espécies do gênero; porém outros autores não distinguem a patogenicidade entre as distintas espécies (BLOOD & HANDERSON, 1963).

O presente estudo tem o objetivo de verificar as áreas de ocorrência de Paramphistomum spp no Estado do Rio Grande do Sul e o número dos exemplares que pode ser encontrado em cada órgão.

MATERIAIS E MÉTODOS

Procedência dos Bovinos

Através de visitas semanais ao frigorífico ROST, durante o período de julho de 1982 a junho de 1983, foram observados um total de 2.202 rúmens e retículos de bovinos procedentes dos municípios de Alegrete (449), Arroio Grande (22), Bagé (47), Cacequi (6), Cachoeira do Sul (79), Capão do Leão (41), Carazinho (42), Dom Pedrito (59), Encruzilhada (5), Itaqui (7), Lavras do Sul (124), Palmares (20), Quaraí (189), Rio Grande (4), Rio Pardo (20), Rosário do Sul (206), Santa Bárbara do Sul (121),Santa Vitória do Palmar (67), Santana do Livramento (428), São Borja (40), São Francisco de Assis (7), São Gabriel (41), Santiago (28) e Uruguaiana (150).

Coleta de helmintos

Os rúmens e retículos foram distendidos em uma mesa e após o exame todos os positivos foram registrados. Os quinze primeiros rúmens e retículos parasitados por Paramphistomum foram separados para coleta dos helmintos. Cada um dos quinze rúmens e retículos era distendido sobre uma mesa e retiravam-se os trematódeos, junto com a parede do órgão ao qual estavam aderidos. O material coletado foi colocado em saco plástico numerado e transportado ao Laboratório de Helmintoses, da Faculdade de Veterinária/UFRGS, em caixa de isopor com gelo. No Laboratório de Helmintoses, as amostras eram retiradas da caixa de isopor e colocadas no refrigerador por um período de 2-4 horas. Após o desprendimento das amostras eram retiradas da caixa de isopor e colocadas no refrigerador por um período de 2-4 horas. Após o desprendimento dos helmintos da mucosa do rúmen e do retículo, procedia-se à limpeza, identificação e contagem dos mesmos.

RESULTADOS

Dos 24 municípios estudados, 83,3% estavam positivos para Paramphistomum spp. Constatou-se que entre os municípios estudados (Tabela 1), a maior prevalência de Paramphistomum ocorreu em Santa Vitória do Palmar (100%), Capão do Leão (97,6%), Palmares (90%), Arroio Grande (77,3%) e Rio Grande (75,0%).

Os números mínimos e máximos de Paramphistomum spp, encontrados em cada órgão, variavam entre 1-2752 (Tabela 2), e a média foi de 30,29%, sendo que o maior número foi observado no rúmen de bovinos provenientes do município de Bagé. Verificou-se que os trematódeos, na maioria das vezes, encontravam-se na zona do primeiro pilar do rúmen, em focos, raramente distribuídos ao longo de todo rúmen. Estes helmintos foram também localizados no retículo, porém em menor número e muitas vezes em infecções mistas com Balanorchis sp.

DISCUSSÃO

A ocorrência de Paramphistomum spp em bovinos do Estado do Rio Grande do Sul foi registrada por Rockett et al. (1965) apud FREIRE (1967); VIEIRA et al (1976); VELASQUEZ-MALDONADO (1976) e MENDES (1980).

No presente trabalho, verificou-se que 580 dos 2.202 rúmens-retículos de bovinos examinados estavam parasitados por Paramphistomum spp, o que foi mais baixo do que o observado por VELASQUEZ-MALDONADO (1976) e MENDES (1980). Estes autores verificaram que, de 522 e 232 rúmens de bovinos, 44,25% e 35%, respectivamente, estavam parasitados pelo trematódeo. Esta variação de ocorrência observada, provavelmente se deva ao menor número de órgãos examinados por eles.

Os municípios com maior prevalência, observados no presente estudo, foram Santa Vitória do Palmar (100%); Capão do Leão (97,6%); Palmares (90%) e Arroio Grande (77,7%), embora somente 67, 41, 20 e 22 animais, respectivamente, tenham sido examinados.

Para VELASQUEZ - MALDONADO (1976), o município com maior prevalência também foi Santa Vitória do Palmar, embora para este autor tenha sido de 68,6%. Isto pode ser explicado pelo maior número de rúmens e retículos (225) examinados por este pesquisador, neste município, quando comparado com o presente estudo (Tabela 1). Os outros três municípios de maior prevalência não foram estudados por este autor.

No município de Alegrete, VELASQUEZ-MALDONADO (1976) e MENDES (1980) verificaram uma prevalência em tomo de 14,28% e 36,6%, respectivamente, de 70 e 123 animais examinados, e no presente estudo, 27,6% num total de 449 rúmens e retículos (Tabela 1) indicando uma grande variação entre os autores.

A variação de ocorrência nos diferentes municípios provavelmente se deva à existência de focos ou nichos ecológicos dos moluscos hospedeiros intermediários. Deve-se salientar também que, em alguns rúmens e retículos, observou-se que embora não parasitados apresentaram áreas da mucosa, mais ou menos extensa, carentes de papilas e com proliferações fibrosas. Estas lesões, típicas de parasitismo pelo trematódeo adulto, indicam que, provavelmente, estes animais tenham sido medicados anteriormente à necropsia e que talvez a ocorrência do helminto seja maior do que a observada no presente estudo.

Os números mínimos e máximos de Paramphistomum spp encontradas nos 2.202 rúmens e retículos examinados, no presente trabalho, foram 1-2752, respectivamente (Tabela 2) enquanto que nos 522 examinados por VELASQUEZ-MALDONADO (1976), estes valores variam de 4-1299 helmintos por órgão.

As médias observadas por VELASQUEZ-MALDONADO (1976) e MENDES (1980) foram 144,6 e 36,34, respectivamente, e no presente estudo foi de 30,29.

O gênero Paramphistomum, como observado neste estudo, localiza-se, principalmente, próximo à Lagoa dos Patos e zonas fronteiriças com o Uruguai e Argentina. Esta distribuição geográfica se assemelha à descrição da ocorrência de Fasciola hepática, no Estado do Rio Grande do Sul, feita por SILVA et al., (l980).

CONCLUSÕES

A constatação de Paramphistomum spp em bovinos provenientes dos municípios de Arroio Grande, Capão do Leão, Itaqui, Lavras do Sul, Palmares, Quaraí, Rio Grande, Rio Pardo, Uruguaiana, Rosário do Sul, Santa Bárbara do Sul e São Borja, amplia a área de ocorrência, até o momento registrada, para o Estado do Rio Grande do Sul.

Há necessidade de se fazer um estudo mais aprofundado sobre a patogenia das formas adultas de Paramphistomum spp, bem como da epidemiologia desta doença a campo.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem aos Dr. Joci Fausto W. Costa, Dr. Mário F. Lopes e ao Prof. Pedro Cabral Gonçalves pela colaboração prestada.

Agradecem ainda, ao Frigorífico ROST Ltda, pela franquia do estabelecimento durante a pesquisa.

2 Médico Veterinário, PhD, Professor Visitante, Faculdade de Veterinária, UFRGS, Convênio JICA.

Recebido para publicação em 20.04.95. Aprovado em 20.12.95.

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  • 1
    Médico Veterinário, MSc., Professor Assistente, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Caixa Postal 15034, 91540-000, Porto Alegre, RS. Autor para correspondência.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      25 Set 2008
    • Data do Fascículo
      Ago 1996

    Histórico

    • Aceito
      20 Dez 1995
    • Recebido
      20 Abr 1995
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