Tratamento de sementes com fungicidas relacionado com o controle de patógenos e rendimento de milho

Seed treatment with fungicides related to the control of pathogens and corn yield

TRATAMENTO DE SEMENTES COM FUNGICIDAS RELACIONADO COM O CONTROLE DE PATÓGENOS E RENDIMENTO DE MILHO

SEED TREATMENT WITH FUNGICIDES RELATED TO THE CONTROL OF PATHOGENS AND CORN YIELD

Wilmar Cório da Luz¹ Luiz Ricardo Pereira²

RESUMO

Os experimentos de milho foram realizados em la boratório; em casa de vegetação e a campo, em Passo Fundo, Rio Grande do Sul, sob presença natural de patógenos, nos anos de 1994 e 1995. Os híbridos usados foram: Braskaib XL 561 em 1994 e Braskaib XL 330 em 1995. Os tratamentos com diferentes concentrações de ingrediente ativo, formulações e doses para 100kg de sementes foram: testemunha; thiram 60 P + iprodione 20 P (150 + 50g); thiram 35 PM + carboxin 35 PM + metalaxyl 35 PM (150 + 700 + 100g), em 1994, e (thiram + carboxin) 20 SC (200ml) + metalaxyl 35 PM (100g) em 1995; thiram 35 PM + carboxin 35 PM (100 + 100g), em 1994 e (thiram + carboxin) 20 SC (200ml) em 1995; thiram 70 P (150g); imawlil 5 L (150ml); captem 75 P + thiabendawle 10 P (150 + 100g): triadimenol 25 P (160g); captan 75 PM (150g) e metalaxyl 35 PM (100g), em 1994 e (50g), em 1995. Os fungicidas foram aplicados misturando-se cada produto com 250g de sementes dentro de um saco de plástico e agitando-o manualmente por cinco minutos. Todos os tratamentos químicos apresentaram eficiência no controle de Fusarium moniliforme, entretanto metalaxyl e captan em geral foram menos eficientes. Com exceção de metalaxyl, todos os produtos químicos controlaram Cephalosporium acremonium spp. Captan foi menos eficiente que os tratamentos que apresentaram controle em 1994 e apresentou eficiência semelhante a triadime nol e captan + thiabendawle para este fungo, em 1995. Todos os tratamentos, exceto o metalaxyl e o captan (em 1995, no campo) aumentaram a emergência das plantas. Thiran e suas misturas também promoveram melhor controle de Penicillium spp. e de Aspergilius spp. e proporcionaram aumentos de rendimento de 13,5% a 14,8% em 1994 e 9,8% a 13,5% em 1995.

Palavras-chave: tratamento de sementes, fungicidas, milho, Zea mays.

SUMMARY

Experiments were conducted in laboratory, green house and in the field in Passo Fundo, State of Rio Grande do Sul, Braül, under natural presence of pathogens. Com hybrids used were: Braskaib XL 561, and Braskaib XL 330 in 1994 and 1995 growing season, respectively. Treatments, with their concentrations of active ingredients, formulations and doses for 100kg of seeds were: untreated contrai; thiram 60 P + iprodione 20 P (150 + 50g): thiram 35 PM + carboxin 35 PM + metalaxyl 35 PM (150 + 700 + 100g), in 1994 and (thiram + carboxin) 20 SC + metalaxyl 35 PM (50g) in 1995; thiram 35 PM + carboxin 35 PM (100 + 100g), in 1994 and (thiram + carboxin) 20 SC (200ml) in 1995; thiram 70 P (150g); imawlil 5 L (150ml); captan 75 P + thiabendawle 10 P (150 + 100g); triadimenol 25 P (160g); captan 75 PM (150g) and metalaxyl 35 PM (100g) 1994 (50g) 1995. Fungicides were appiied by manually shaking 250 g of seed with the appropriate amount of each fungicide in a plastic bag. All chemical treatments showed efficiency in control ling Fusarium moniliforme. However, metalaxyl and captan were less efficient. Except for metalaxyl ali chemical treatments controiled Cephalosporium acremonium spp. Captan was less efficient than the other treatments in 1994 and showed efficiency to thisfungus similar to triadimenol and captan + thiabendawl in 1995. Ali treatments, except for metalaxyl and captan (in 1995, in the field), significantiy improved emergence. Thiram and its mixtures aiso provided the best contral of Penicillium spp and Aspergilius spp., and provided yield increasefrom 13,5% to 14,8% in 1994 andfrom 9,8% to 13.5% in 1995.

Key words: seed treatment, fungicides, com, Zea mays.

INTRODUÇÃO

As sementes de milho (Zea mays L.) estão sujeitas ao ataque de inúmeros fungos associados a elas (LUZ, 1996b), sendo que, aproximadamente, 26 géneros são encontrados com maior frequência (LUZ, 1995).

Os fungos que causam podridões de sementes, morte de plântulas e tombamento são considerados patógenos altamente destrutivos na cultura de milho no sul do Brasil. Os principais fungos patogênicos encontrados em sementes de milho são Fusarium moniliforme, F. graminearum e Diplodia maydis (LUZ, 1996b), sendo F. moniliforme o microrganismo de maior ocorrência (BEDENDO & CARDOSO, 1987; LUZ, 1996b). A importância dos patógenos de sementes para a cultura do milho foi descrita por LUZ (1997c). Os fungos são responsáveis pela má germinação e baixo vigor, redução de rendimento devido a estandes desuniformes e diminuição da qualidade de grão (LUZ, 1997c). Além disso, a semente é um meio importante de disseminação de patógenos (LUZ, 1997c), e o tratamento de sementes com fungicidas é uma tática que pode ser usada com sucesso para o controle desses agentes.

Alguns trabalhos sobre tratamento de sementes com fungicidas têm sido realizados no Brasil (VIEGAS, 1945; BYRD, 1967; LUZ, 1997a,b,c; MACHADO, 1982; PEREIRA, 1986; PINTO, 1992; MORAES et al., 1993), entretanto, com exceção de VIEGAS (1945), BYRD (1987) e LUZ (1997a,b), nenhum desses trabalhos avaliou a influência do tratamento de sementes no rendimento de grãos. Os objetivos deste estudo foram: determinar a ação de alguns fungicidas contra os patógenos presentes nas sementes e verificar os seus efeitos na emergência de plântulas e no rendimento de grãos.

MATERIAIS E MÉTODOS

Experimentos de tratamento de sementes de milho com fungicidas em laboratório

Os fungicidas e as misturas usadas nestes experimentos foram selecionados previamente, de acordo com a amplitude de ação contra os principais patógenos de sementes de milho. Os experimentos foram realizados nos anos de 1994 e 1995.

As sementes não tratadas dos híbridos de milho XL 561 (usadas em 1994) e XL 330 (usadas em 1995) foram obtidas da Braskalb. Os tratamentos com suas concentrações de ingrediente ativo, formulações e doses para 100kg de sementes foram: testemunha; miram 60 P + iprodione 20 P (150 + 50g); thiram 35 PM + carboxin 35 PM + metalaxyl 35 PM (150 + 100 + 100g), em 1994 e (thiram + carboxin) 20 SC (200ml) + metalaxyl 35 PM (50g) em 1995; thiram 35 PM + carboxin 35 PM (100 + 100g) em 1994 e (thiram + carboxin) 20 SC (200ml) em 1995; thiran 70 P (150g), imazalil 5 L (150ml); captan 75 P + thiabendazole 10 P (150 + 100g); triadimenol 25 P (160g); captan 75 PM (150g); me talaxyl 35 PM (100g) (1994) e 50g (1995). Os fungicidas foram aplicados misturando-se cada produto com 250g de sementes dentro de um saco plástico e agitando-o manualmente por cinco minutos. As sementes não tratadas (testemunhas) também foram colocadas dentro de um saco plástico e agitadas por 5 minutos.

Para avaliar o efeito dos tratamentos foi verificada a presença dos fungos nas sementes in vitro em meio BDA. Quatro repetições de 25 grãos (cinco grãos por placa de Petri por tratamento) foram submetidas a fotoperiodo de 12 horas a 23 ± 2 C. As colónias dos microrganismos presentes nas sementes foram observadas após cinco dias. O delineamento experimental foi inteiramente casualizado. A análise estatística constou da análise de variância dos dados transformados em raiz quadrada, e as diferenças entre as médias foram realizadas pelo teste de Duncan.

Experimentos de tratamento de sementes de milho com fungicidas em casa-de-vegetação

Foram empregados os mesmos híbridos de milho e tratamentos descritos no experimento de laboratório. Os tratamentos foram avaliados segundo o delineamento blocos ao acaso com quatro repetições. A unidade experimental foi constituída por uma bandeja com mistura de solo e areia (1:2), na qual foram semeadas 25 sementes. Os resultados das porcentagens de germinação foram transformados em arco seno e, depois, submetidos à análise de variância e as diferenças entre as médias foram comparadas pelo teste de Duncan.

Experimentos de tratamento de sementes de milho com fungicidas em campo

O experimento de campo foi conduzido em Passo Fundo na presença natural de patógenos de sementes e dos que sobrevivem no solo. As sementes foram semeadas à mão, em parcelas compostas de seis fileiras, de três metros de comprimento. O espaço entre as fileiras foi de um metro e a quantidade de sementes foi de cinco sementes por metro linear.

Os tratamentos (híbridos e fungicidas) foram os mesmos dos experimentos anteriores. O delineamento experimental foi o de blocos casualizados com quatro repetições. O estande foi determinado nas quatro fileiras centrais, 30 dias após a semeadura. Para a determinação do rendimento de grãos, foram colhidas manualmente as duas fileiras centrais e seu peso, em gramas, foi transformado em kg/ha.

As análises de variância foram realizadas com os dados de rendimento de grãos e os dados de contagem de plantas, transformados em raiz quadrada. As diferenças entre as médias foram comparadas pelo teste de Duncan.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados dos experimentos realizados nos dois anos de estudo são apresentados nas Tabelas 1, 2 e 3. Todos os tratamentos químicos apresentaram controle de Fusarium moniliforme nos experimentos de laboratório, entretantio metalaxyl e captan, foram menos eficientes. Com exceção de metalaxyl todos os produtos químicos controlaram Cephalosporium acremonium spp. Captan foi menos eficiente que os outros tratamentos, que controlaram o fungo em 1994 e apresentou eficiência semelhante a triadimenol e captan + thiagendazole para este fungo em 1995. Todos os tratamentos de sementes, com exceção de metalaxyl e de captan (em 1995, no campo), aumentaram significativamente o número de plantas emergidas em casa de vegetação e em campo (Tabela 2). Os produtos thiram e suas mistu ras, além de controlar F. moniliforme e C. acremonium, promoveram também o melhor controle de Penicillium spp. e de Aspergilius spp. Na Tabela 3, é mostrado o efeito dos tratamentos no rendimento do milho. Nos experimentos realizados, as parcelas tratadas com thiran e suas mistturas eram claramente diferenciadas das parcelas não tratadas, desde o estádio de plântulas, o que foram traduzidos em melhores rendimentos. Proporcionaram aumentos significativos no rendimento, elevando o rendimento de grãos entre 13,5% e 14,8% em 1994 e entre 9,8% e 13,5% em 1995, em relação à testemunha (Tabela 3).

Os dados apresentados mostram que os fungos patogênicos das sementes de milho podem determinar perdas significantes no rendimento, o que podem ser consideradas comuns na região do planalto médio do Rio Grande do Sul. Portanto, o uso destes fungicidas pode minimizar consideravelmente aquelas perdas.

No passado, no Brasil, considerava-se que o tratamento de sementes de milho com fungicidas não produzia aumentos significantes na emergência e no rendimento (VIEGAS, 1945). BYRD (1967) conduziu experimentos com sementes novas de híbrido duplo, e as diferenças não foram significativas estatisticamente quando as sementes foram testadas com fungicidas. Por outro lado, houve aumentos significativos quando as sementes de híbridos simples de um ano e meio de idade foram tratadas quimicamente (BYRD, 1967). Tanto VIEGAS (1945) quanto BYRD usaram produtos mercuriais e não mercuriais, mas não determinaram a ação específica destes produtos contra os fungos das sementes do milho.

Além de controlar Diplodia (PINTO, 1992, LUZ, 1996a, 1997c), no presente trabalho, o produto thiram apresentou-se eficiente contra outros fungos da semente de milho e sua mistura com carboxin e carboxin + metalaxyl aumentou ainda mais a ação fungicida e o espectro de ação. Trabalhos de BYRD (1967), LUZ (1997a,b) e o presente trabalho mostraram aumentos significativos no rendimento de milho.

CONCLUSÕES

l. O produto thiram controla os fungos patogênicos e suas misturas com iprodione, carboxin e carboxin + metalaxyl aumentam a ação fungicida e o espectro de ação.

2. O tratamento de sementes com fungicidas aumentam a germinação e o rendimento da cultura do milho.

² Engenheiro Agrônomo, Doutor, Pesquisador da Embrapa Trigo.

Recebido para publicação em 24.09.97. Aprovado em 15.04.98

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• VIEGAS, G.P. Tratamento de sementes de milho. Bragantia, São Paulo, SP, v. 5, p. 145-151, 1945.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  10 Out 2007
• Data do Fascículo
  Dez 1998

Histórico

• Recebido
  24 Set 1997
• Aceito
  15 Abr 1998