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Protocolo de micropropagação da goiabeira serrana (Acca sellowiana (Berg) Burret)

Feijoa (Acca sellowiana (Berg) Burret) micropropagation protocol

Resumos

Visando ao desenvolvimento de um novo protocolo para a micropropagação da goiabeira serrana (Acca sellowiana (Berg) Burret) foram estabelecidos experimentos com segmentos nodais e microestacas. As citocininas 6-Benzilaminopurina (BAP), Cinetina (Kin) e 2-Isopenteniladenina (2-iP) foram adicionadas ao meio de cultura Woody Plant Midium-WPM, visando à proliferação de brotações múltiplas dos genótipos 53B-7, 101, 529 e 152-12 x 458. As microestacas obtidas in vitro foram submetidas a diferentes períodos de indução, em 20 miM de ácido indolbutírico (AIB) e, posteriormente, transferidas para meio de cultura isento desse fitorregulador para a indução de raízes ou, alternativamente, submetidas a diferentes concentrações e tempos de exposição em AIB e transferidas para substrato. As citocininas empregadas não promoveram aumento na taxa de proliferação de brotos em relação à testemunha. O meio de cultura basal WPM, adicionado de Kin (5 miM), proporcionou maior altura média dos brotos. Segmentos nodais do acesso 101 cultivados em meio de cultura WPM, isento de fitorreguladores, apresentaram maiores taxas médias de proliferação. Pulsos de seis dias com AIB (20 miM) induziram uma maior taxa de enraizamento (68,9%), um maior número médio de raízes (1,3 raízes) e raízes com maior comprimento médio (5,6miM). Microestacas enraizadas ex vitro, pela imersão em AIB (100 miM) por 60 minutos, resultaram em maior altura das plantas (45,3mm), número de raízes secundárias (11,3 raízes), massa fresca (1069mg) e seca das raízes (282mg).

cultura de tecidos; organogênese; taxa de regeneração; enraizamento in vitro e ex vitro


The objective of this study was to establish a micropropagation protocol for Acca sellowiana (Berg) Burret. Nodal segments of in vitro cultivated plantlets of the genotypes 53B-7, 101, 529 and 152-12 x 458 were inoculated in test tubes containing 15ml of Woody Plant Medium-WPM solid medium supplemented with the cytokinins BAP, Kin, and 2-iP. For rooting purpose the microcuttings were submitted to different inductive periods of time with indolilbutiric acid-IBA (20 muM), then transferred to a basal solid medium free of growth regulators, or alternatively to ex vitro substrate in a phytotron. The three cytokinins did not improve the multiple shoot regeneration rates when compared with the control. The highest shoot height was observed in the WPM medium supplemented with Kin (5 muM). Nodal segments of the genotype 101, cultivated in WPM medium free of growth regulators showed higher regeneration rates than the other treatments. Six days pulses of IBA (20 muM) induced 68.9%, of microcutting rooting as well the highest values for root (5.6mm) and length number (1.3 roots). ex vitro rooting treatment of micropropagated microcuttings with IBA (100 muM) for 60min resulted in the highest values for plantlet height (45.3mm), secondary root number (11.3 roots), fresh (1069mg) and dry weight (282mg).of roots.

tissue culture; organogenesis; regeneration rate; in vitro and ex vitro rooting


FITOTECNIA / CROP PRODUCTION

Protocolo de micropropagação da goiabeira serrana (Acca sellowiana (Berg) Burret)

Feijoa (Acca sellowiana (Berg) Burret) micropropagation protocol

Ana Carla Oltramari11Acadêmica do curso de Agronomia, Bolsista de IC/CNPq, CCA, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Lirio Luiz Dal Vesco21Acadêmica do curso de Agronomia, Bolsista de IC/CNPq, CCA, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Enio Luiz Pedrotti31Acadêmica do curso de Agronomia, Bolsista de IC/CNPq, CCA, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Jean-Pierre Henri Joseph Ducroquet41Acadêmica do curso de Agronomia, Bolsista de IC/CNPq, CCA, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Rubens Onofre Nodari51Acadêmica do curso de Agronomia, Bolsista de IC/CNPq, CCA, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Miguel Pedro Guerra61Acadêmica do curso de Agronomia, Bolsista de IC/CNPq, CCA, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

RESUMO

Visando ao desenvolvimento de um novo protocolo para a micropropagação da goiabeira serrana (Acca sellowiana (Berg) Burret) foram estabelecidos experimentos com segmentos nodais e microestacas. As citocininas 6-Benzilaminopurina (BAP), Cinetina (Kin) e 2-Isopenteniladenina (2-iP) foram adicionadas ao meio de cultura Woody Plant Midium-WPM, visando à proliferação de brotações múltiplas dos genótipos 53B-7, 101, 529 e 152-12 x 458. As microestacas obtidas in vitro foram submetidas a diferentes períodos de indução, em 20 mM de ácido indolbutírico (AIB) e, posteriormente, transferidas para meio de cultura isento desse fitorregulador para a indução de raízes ou, alternativamente, submetidas a diferentes concentrações e tempos de exposição em AIB e transferidas para substrato. As citocininas empregadas não promoveram aumento na taxa de proliferação de brotos em relação à testemunha. O meio de cultura basal WPM, adicionado de Kin (5 mM), proporcionou maior altura média dos brotos. Segmentos nodais do acesso 101 cultivados em meio de cultura WPM, isento de fitorreguladores, apresentaram maiores taxas médias de proliferação. Pulsos de seis dias com AIB (20 mM) induziram uma maior taxa de enraizamento (68,9%), um maior número médio de raízes (1,3 raízes) e raízes com maior comprimento médio (5,6mM). Microestacas enraizadas ex vitro, pela imersão em AIB (100 mM) por 60 minutos, resultaram em maior altura das plantas (45,3mm), número de raízes secundárias (11,3 raízes), massa fresca (1069mg) e seca das raízes (282mg).

Palavras-chave: cultura de tecidos, organogênese, taxa de regeneração, enraizamento in vitro e ex vitro.

SUMMARY

The objective of this study was to establish a micropropagation protocol for Acca sellowiana (Berg) Burret. Nodal segments of in vitro cultivated plantlets of the genotypes 53B-7, 101, 529 and 152-12 x 458 were inoculated in test tubes containing 15ml of Woody Plant Medium-WPM solid medium supplemented with the cytokinins BAP, Kin, and 2-iP. For rooting purpose the microcuttings were submitted to different inductive periods of time with indolilbutiric acid-IBA (20 mM), then transferred to a basal solid medium free of growth regulators, or alternatively to ex vitro substrate in a phytotron. The three cytokinins did not improve the multiple shoot regeneration rates when compared with the control. The highest shoot height was observed in the WPM medium supplemented with Kin (5 mM). Nodal segments of the genotype 101, cultivated in WPM medium free of growth regulators showed higher regeneration rates than the other treatments. Six days pulses of IBA (20 mM) induced 68.9%, of microcutting rooting as well the highest values for root (5.6mm) and length number (1.3 roots). ex vitro rooting treatment of micropropagated microcuttings with IBA (100 mM) for 60min resulted in the highest values for plantlet height (45.3mm), secondary root number (11.3 roots), fresh (1069mg) and dry weight (282mg).of roots.

Key words: tissue culture, organogenesis, regeneration rate, in vitro and ex vitro rooting.

INTRODUÇÃO

A goiabeira serrana (Acca sellowiana (Berg) Burret), pertencente à família Myrtaceae, é uma espécie frutífera que se encontra nativa no sul do Brasil e no Uruguai. Em Santa Catarina, essa espécie ocorre espontaneamente em áreas com altitudes superiores a 1000 metros, mas ainda não é cultivada comercialmente, ao contrário do que ocorre em outras partes do mundo, especialmente na Nova Zelândia, Estados Unidos e Colômbia (DUCROQUET & HICKEL,1997).

Essa espécie apresenta porte reduzido, raramente ultrapassando 4m de altura em condições de cultivo. A goiabeira serrana é uma espécie predominantemente alógama, de floração tardia que floresce nos meses de outubro–novembro quando não há mais riscos de geada e cuja polinização é assegurada em boa parte por pássaros frutívoros (DUCROQUET & HICKEL, 1997). Em conseqüência, indivíduos com alta variabilidade genética são esperados na progênie, dificultando a fixação de características de interesse agronômico.

A propagação vegetativa convencional dessa espécie por estaquia apresenta baixa eficiência (DUARTE et al., 1992; FACHINELLO et al., 1992). A enxertia, processo atualmente utilizado para a implantação de ensaios de multiplicação, apresenta resultados aleatórios (FACHINELLO et al., 1992). Uma das causas é a contaminação por fungos, cujo desenvolvimento é favorecido pelo ambiente quente e úmido da casa de vegetação (ANDRADE & DUCROQUET, 1992).

Tendo em vista essas limitações, técnicas de cultura de tecidos vegetais constituem-se em ferramentas que podem ser aplicadas para a micropropagação clonal massal de genótipos superiores e para a domesticação dessa espécie. Nesse sentido, a micropropagação por indução à embriogênese somática foi empregada com sucesso por GUERRA et al. (1997) para dois genótipos de F. sellowiana.

Estudos preliminares de micropropagação da F. sellowiana, baseados na organogênese, foram desenvolvidos a partir de explantes de meristemas e folhas jovens (BHOJWANI et al. 1987), além de meristemas caulinares e microestacas (DAL VESCO & GUERRA, 1999). Os resultados obtidos por esses autores demonstraram baixas taxas de neoformação de gemas e altos índices de contaminação e oxidação, com ambas as fontes de explantes. Esses fatores indicam o grau de dificuldade e a baixa eficiência deste protocolo, embora suas aplicações práticas sejam mais imediatas, por permitir a propagação de genótipos já selecionados. Quando foram utilizadas plântulas germinadas in vitro para a obtenção de explantes, os resultados obtidos demostraram que o meio de cultura, contendo BAP e caseína hidrolizada, induziram a regeneração de brotações múltiplas a partir de segmentos nodais (BHOJWANI et al., 1987). BASSI & COSSIO (1993) testaram diferentes formulações salinas para a micropropagação de F. sellowiana e constataram a superioridade nos resultados, quando foi utilizado meio básico WPM (LLOYD & McCOWN, 1980), isento de fitorreguladores.

Este trabalho foi desenvolvido em três etapas: fase de indução, fase de multiplicação com diferentes tipos de citocininas e seleção de acessos com maior potencial morfogenético in vitro e fase de indução ao enraizamento, in vitro e ex vitro, das microestacas cultivadas in vitro. O presente trabalho teve como objetivo estabelecer um protocolo de micropropagação baseado na organogênese direta, utilizando material vegetal de plântulas germinadas in vitro.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente trabalho foi realizado nos anos de 1996 e 1997, no Laboratório de Fisiologia do Desenvolvimento e Genética Vegetal da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC. Para a iniciação das culturas, utilizaram-se segmentos nodais de plântulas germinadas in vitro a partir de sementes dos acessos 53B-7, 101, 529 e 152-12 x 458 provenientes da EPAGRI - Estação Experimental de Videira, SC. As sementes foram inoculadas em frascos com capacidade de 300ml, contendo 30ml de meio de cultura, composto pela formulação salina WPM (LLOYD & McCOWN, 1980), com a adição de carvão ativado (1,5g/l). O meio de cultura basal foi acrescido de vitaminas de Morel (MOREL & WETMORE, 1951), sacarose (30g/l) e geleificado com agar-agar (6,5g/l). O pH foi ajustado com NaOH (0,5N) para 5,8 antes da autoclavagem. As culturas foram mantidas em câmara de crescimento, com temperatura (25 + 2°C), intensidade luminosa (35,7mmol m-2 s-1), umidade relativa (60 + 5%) e fotoperíodo (16h) controlados.

Para definir o tipo e a concentração dos fitorreguladores, adicionados ao meio de cultura basal e à escolha do acesso de maior potencial de proliferação de brotos, foram realizados dois ensaios.

Ensaio 1 - Plântulas do acesso 53B-7 tiveram seus eixos caulinares separados em câmara de fluxo laminar para a obtenção de segmentos nodais, que foram inoculados em tubos de ensaio (dois explante por tubo) contendo 15ml de meio de cultura basal WPM suplementado com diferentes fontes de citocininas. As parcelas foram arranjadas segundo um delineamento fatorial 3 x 4, com 13 tratamentos: três fitorreguladores (BAP, Kin e 2-iP) em quatro concentrações (0,05; 0,5; 5 e 50mM) e o meio de cultura basal livre de fitorreguladores, com três repetições, usando-se 10 segmentos nodais por unidade experimental (5 tubos de ensaio). Os dados de número de nós por plântula, número e altura de brotos (mm) foram coletados aos trinta dias após a inoculação. Quando necessário, os dados foram transformados e posteriormente submetidos à análise da variância e ao teste de separação de médias SNK (5%). Os dados de número de nós por plântula e altura de brotos foram submetidos à análise de regressão (STEEL & TORRIE, 1980), para avaliar a capacidade regenerativa de brotos em função da concentração das três citocininas testadas.

Ensaio 2 - Segmentos nodais dos acessos 53B-7, 101, 529 e 152-12 x 458 foram inoculados em tubos de ensaio, contendo 15ml de meio de cultura basal WPM adicionado de Kin (0 e 5 mM). O delineamento experimental foi arranjado em um fatorial 5 x 2, onde foram testados cinco acessos e dois níveis de Kin, totalizando 10 combinações. Cada unidade experimental foi constituída de 10 segmentos nodais e arranjada em forma de blocos completamente casualizados, com quatro repetições. Os dados de número de nós por plântula e números de brotos por explante foram coletados aos trinta dias após a inoculação. Quando necessário, esses dados foram transformados e submetidos à análise da variância e ao teste de separação de médias (SNK a 5%).

Microestacas originadas da proliferação de brotos do acesso 101 foram submetidas a dois ensaios, para promover a indução do sistema radicular:

Enraizamento in vitro - Microestacas contendo dois segmentos nodais (+ 2,5cm de altura) foram submetidas a diferentes períodos de indução (0, 3, 6, 9 e 12 dias), em meio de cultura WPM líquido adicionado de AIB (20mM). Após a indução, os explantes foram transferidos para meio de cultura basal WPM geleificado isento de auxina. Cada unidade experimental foi composta de cinco microestacas, arranjadas de forma completamente casualisada, com cinco tratamentos (cinco períodos de indução) e três repetições. Dados de percentagem de enraizamento, número e comprimento de raízes (mm) foram coletados aos trinta dias de cultivo. Em seguida, esses dados foram submetidos à análise da variância, teste de separação de médias (SNK a 5%) e à análise de regressão em função do tempo de exposição ao AIB.

Enraizamento ex vitro - Microestacas, contendo dois segmentos nodais (+ 2,5cm de altura), provenientes do cultivo in vitro, foram transferidas para as condições ex vitro. Para promover a indução do sistema radicular, as bases das microestacas foram expostas em diferentes níveis de AIB (0, 10 e 100mM) e diferentes períodos de indução (0 e 60 minutos). Após a indução, essas microestacas foram transplantadas em bandejas alveoladas, contendo como substrato uma mistura de vermiculita e casca de arroz carbonizada, na proporção de 1:1 (v:v) e transferidas para sala de aclimatização em condições de alta umidade relativa do ar, temperatura (28°C) e intensidade luminosa (40mmol m-2 s-1) controladas, visando a evitar a desidratação das plântulas. Cada unidade experimental foi constituída de oito microestacas, arranjadas de forma completamente casualizada, com quatro repetições. Os dados de número de raízes primárias, raízes secundárias, massa fresca (mg), massa seca (mg) e altura das plântulas (mm) foram coletados aos trinta dias após a transferência. Quando necessário, esses dados foram transformados e submetidos à análise de variância e ao teste de separação de médias (SNK a 5%).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Efeito de diferentes citocininas na proliferação de brotações.

A adição de citocininas ao meio de cultura basal WPM não proporcionou aumento na taxa de proliferação em relação à testemunha, seja em número de brotos ou em número de nós (tabela 1). No entanto, as taxas médias mais altas de proliferação (3,0 nós/plântula) resultaram da adição de Kin (5mM) ao meio de cultura basal WPM e do tratamento isento de fitorreguladores (testemunha), aos 30 dias após a inoculação. Altas concentrações (50mM) de Kin e BAP revelaram os menores valores e diferem segundo o teste SNK (5%), nesses parâmetros de proliferação, sugerindo um possível efeito fitotóxico dessas citocininas. Por outro lado, o 2-iP (50mM), usado na mesma concentração do BAP e Kin, por ser uma citocinina com menor estabilidade (GEORGE, 1993), permitiu o desenvolvimento de brotos de forma semelhante ao tratamento Kin (5mM) e testemunha.

Quanto ao parâmetro altura de brotos, o meio de cultura WPM adicionado com Kin (5mM) resultou em brotos, com um maior alongamento caulinar (19,7mm) (tabela 1).

A evolução das taxas de proliferação de brotos, em número de nós e altura, foi submetida à adequação dos modelos quadráticos (análise de regressão), para os dois parâmetros e fontes de citocininas (figura 1). Os altos valores dos coeficientes de determinação (r2) para os dois parâmetros testados e níveis de fitorreguladores expressam confiabilidade nas trajetórias, pois para esses sistemas consideram- se altos aqueles valores de r2, que ocorrem entre 0,5 e 0,9 (COMPTON, 1994). O cálculo da derivada dessas curvas sugere a existência de um nível ótimo de Kin, estimado em 22,8mM, para a obtenção dos valores mais elevados no parâmetro número de nós por plântula e um nível de 23,7mM para a variável altura dos brotos, inferindo-se para esta concentração uma taxa média de proliferação de 4,4 nós por plântula e 34,3mm de altura dos brotos (figura 1a e 1b). No entanto, como estes níveis de reguladores de crescimento não foram testados, a confirmação desses resultados necessita ser comprovada experimentalmente, testando-se várias concentrações entre 5mM e 50mM dessa citocinina.


Outros trabalhos também revelaram a necessidade de níveis mais elevados de Kin, em relação ao BAP, para a proliferação de brotos in vitro de Brassica juncea (SHARMA et al., 1990). Em Citrus aurantifolia e C. reticulata, maior proliferação de brotos foram obtidos como resposta à adição de 33,3mM de BAP ao meio de cultura basal (PÉRESMOLPHE- BALCH & OCHOA-ALEJO, 1997). Porém, neste trabalho, observou-se que concentrações elevadas de BAP causaram declínio no alongamento do caule e a morte dos explantes (figura 1b). Resultados semelhantes foram obtidos por FIGUEIRA et al. (1991) quando utilizaram elevadas concentrações de BAP na multiplicação in vitro de Theobroma cacao.

Efeito dos genótipos na proliferação de brotos

A análise de variância revelou diferenças significativas (P<0,01) entre os diferentes acessos testados, para os parâmetros número de nós e de brotos, 30 dias após a inoculação. As maiores taxas médias de proliferação de brotos (2,0 nós/plântulas) e número de brotos (1,0 broto/explante) foram obtidas com o acesso 101 (tabela 2). Esses valores diferiram estatisticamente, segundo o teste SNK (5%), daqueles obtidos com os acessos 53B-7 e 152-12 x 458. GUERRA et al. (1997) também observaram, na indução à embriogênese somática do acesso 101 de F. sellowiana, valores médios superiores nas taxas de indução, quando comparados com aqueles obtidos com o acesso 452. No presente trabalho, o meio de cultura WPM isento de fitorreguladores resultou em valores médios superiores e diferiu pelo teste SNK (5%) dos valores resultantes da adição de Kin (5mM), para o número de brotos por explante e não diferiu para o número de nós por broto, confirmando os resultados obtidos no primeiro ensaio.

O efeito de diferentes genótipos na multiplicação in vitro tem sido relatado por diversos autores. BHAGWAT et al. (1996) observaram diferenças significativas na taxa de proliferação de brotos, a partir de segmentos nodais, em oito diferentes genótipos de Manihot esculenta. Na micropropagação de cultivares de macieira, SRISKANDARAJAH et al. (1990) observaram diferentes taxas de proliferação de brotos adventícios. A utilização de diferentes genótipos para o estabelecimento de protocolos de cultivo in vitro possibilita obter resultados positivos para uso no melhoramento genético (BHAGWAT et al., 1996).

Indução ao enraizamento das microestacas

Enraizamento in vitro - Observa-se na figura 2 que pulsos de três dias na presença de AIB (20mM), em meio de cultura basal, foram suficientes para induzir o enraizamento de 52,6% das microestacas (figura 2a). Essas microestacas apresentaram um número médio de 1,1 raízes/ plântula (figura 2b) e um comprimento médio de 4,3mm/raiz (figura 2c). Entretanto, o ponto máximo obtido pelas derivações das respectivas equações demonstrou que pulsos em torno de seis dias resultaram em taxas médias de enraizamento de 68,9% (figura 2a), 1,5 raízes/plântula (figura 2b) e raízes com comprimento de 5,6mm (figura 2c). Pulsos de AIB superiores a seis dias resultaram em sintomas de fitotoxidade às microestacas e diminuição da percentagem de enraizamento, do número e comprimento das raízes. A indução do enraizamento de brotos in vitro, com elevadas concentrações de auxina e a posterior transferência para meio de cultura isento de fitorregulador, possibilita obter os melhores resultados na formação de raízes (GEORGE, 1993).






Resultados semelhantes ao presente trabalho no enraizamento in vitro de A. sellowiana foram obtidos por BASSI & COSSIO (1993). Esses autores verificaram que tratamentos de AIB (4,65mM) e ANA (5,38mM), por um período de 30 dias em meio de cultura basal, resultaram em 77% dos brotos enraizados. O procedimento de pulsos com altas concentrações de AIB (200mg/l) foi também utilizado para o enraizamento in vitro de Senna macranthera (SANTARÉM et al., 1996). Pulsos de cinco minutos em solução de AIB (1%) demonstraram eficiência no enraizamento das microestacas de Purshia tridentata (EDSON et al., 1997).

Enraizamento ex vitro – Todas as microestacas transferidas diretamente para substratos formaram raízes e o índice de sobrevivência após a aclimatização foi de 92% (figura 3a, b, c). Esses valores podem ser considerados excelentes para essa espécie quando comparados com os resultados observados por DUARTE et al. (1992), no enraizamento ex vitro de estacas semilenhosas da mesma espécie. Esses autores obtiveram uma taxa máxima de 31,6% das estacas enraizadas, quando utilizaram o AIB (5.000ppm) pelo método de imersão rápida. A maior taxa de enraizamento ex vitro de Purshia tridentata (72%) foi obtida quando microestacas com 1,5 a 2,0cm de comprimento foram submetidas a um tratamento de 0,1% de AIB em talco (EDSON et al., 1997). Microestacas de Pyrus calleryana revelaram 100% de enraizamento quando foram expostas por 24 horas ao AIB (30 e 50mg/l) e imediatamente transferidas para substratos (PASQUAL & LOPES, 1991).





No presente trabalho, as melhores respostas de indução ao enraizamento ex vitro das microestacas foram proporcionadas pelo tratamento com AIB (100mM) por um período de exposição de 60 minutos (figura 3b). Esse tratamento resultou em um maior alongamento caulinar, maior número médio de raízes secundárias (11,3), maior massa fresca (1069mg) e massa seca (282mg) das raízes (tabela 3). Esses resultados diferem, para o teste SNK a 5%, das demais combinações de AIB e dos tempos de exposição. As menores taxas de enraizamento foram observadas na testemunha, quando as microestacas foram transferidas diretamente para substrato (tabela 3). Na figura 3, pode-se observar a formação de raízes primárias e secundárias em resposta aos diferentes tratamentos ex vitro (figura 3a, b, c) e o padrão de enraizamento in vitro a partir de segmentos nodais (figura 3d).

Os resultados obtidos neste trabalho permitem estabelecer um protocolo regenerativo baseado na organogênese direta, através da proliferação de brotos, para a micropropagação da A. sellowiana. Esse protocolo pode ser constituído por três fases: indução, multiplicação e enraizamento. A indução e a multiplicação de brotos podem ser realizadas em meio de cultura WPM, adicionado ou não de citocininas. O enraizamento das microestacas, originadas do cultivo in vitro, pode ser obtido por pulsos de AIB. Essas microestacas podem, então, serem transferidas para meio de cultivo isento de auxinas ou diretamente para substratos ex vitro. Nessa fase de enraizamento, quando foi utilizado o método de indução ex vitro em AIB (100mM) por 60 minutos, e a posterior transferência para fase de aclimatização, observou-se um aumento no número de raízes e um melhor estado funcional do sistema radicular. Esses resultados demostram que o enraizamento dos eixos caulinares obtidos in vitro pode ser feito em condições ex vitro, eliminando um dos estágios do protocolo regenerativo e, com isso, reduzindo o tempo e o custo de produção destas mudas. Segundo PREECE & SUTTER (1991), o enraizamento in vitro é responsável por valores de 35 a 75% do custo total de micropropagação, aspecto que poderia tornar inviável a micropropagação da Feijoa sellowiana e de outras espécies.

CONCLUSÃO

O meio de cultura basal WPM isento de fitorreguladores induz as melhores respostas organogenéticas, qualitativos e quantitativos, na cultura de segmentos nodais in vitro de A. sellowiana. O meio de cultura basal WPM suplementado com as citocininas Kin, 2-iP e BAP, em concentrações variando de 0,05 a 50mM, não proporciona uma taxa de proliferação in vitro de brotações superior àquela observada para segmentos nodais cultivados no mesmo meio de cultura basal isento dessas citocininas. O acesso 101 apresenta melhores respostas organogenéticas, revelando comportamento morfogenético genótipodependente. Pulsos de seis dias com AIB (20mM) em meio de cultura basal WPM proporciona as melhores respostas à indução ao enraizamento in vitro. Microestacas tratadas ex vitro com AIB (100mM), por 60 minutos, resultam em valores elevados de altura das plantas, número de raízes, massa fresca e massa seca das raízes.

2Engenheiro Agrônomo, Mestre, CCA, UFSC.

3Engenheiro Agrônomo, Doutor, Professor Adjunto IV do Departamento de Fitotecnia, CCA, UFSC.

4Engenheiro Agrônomo, Doutor, Pesquisador da Estação Experimental de Videira (EPAGRI).

5Engenheiro Agrônomo, Doutor, Professor Titular do Departamento de Fitotecnia, CCA, UFSC.

6Engenheiro Agrônomo, Doutor, Professor Titular do Departamento de Fitotecnia, do Centro de Ciências Agrária (CCA), UFSC, 88034- 001, CP 476, Florianópolis, SC. Email: mpguerra@cca.ufsc.br. Autor para correspondência.

Recebido para publicação em 19.10.98. Aprovado em 17.03.99

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    Acadêmica do curso de Agronomia, Bolsista de IC/CNPq, CCA, Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      13 Dez 2006
    • Data do Fascículo
      Mar 2000

    Histórico

    • Aceito
      17 Mar 1999
    • Recebido
      19 Out 1998
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