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Prevalência de anticorpos anti-Babesia equi em eqüinos no Planalto Catarinense

Prevalence of Babesia equi antibodies in horses in the Santa Catarina Plateau, Brazil

Resumos

Para avaliar a prevalência de anticorpos anti- Babesia equi, através da técnica de imunofluorescência indireta (IFI), foram examinados 397 amostras de soro. As amostras de sangue, para obtenção dos soros, foram coletadas de eqüinos de diferentes idades, raças, sexos, nascidos e criados no Planalto Catarinense, dos municípios de Lages, São Joaquim, Bom Jardim da Serra, Campos Novos, Anita Garibaldi, Curitibanos e Correia Pinto. Os resultados obtidos indicaram a existência de 50,38% de animais sorologicamente reativos para B. equi, na diluição de 1:40. Entre os municípios, os percentuais de animais soropositivos variaram de 18,51% a 64,70%.

prevalência; Babesia equi


Serum samples from 397 horses were examined by the indirect immunofluorescence technique. The blood samples were taken from horses of various ages, breeds and both sexes, bred and born in the Santa Catarina State, Brazil, in the counties of Lages, São Joaquim, Bom Jardim da Serra, Campos Novos, Anita Garibaldi, Curitibanos e Correia Pinto. The results indicated a prevalence of 50.38% of positive animals for B. equi at the 1:40 serum dilution. In different counties studied, the prevalence positive animals varied from 18.51% to 64.70%.

prevalence; Babesia equi


MICROBIOLOGIA / MICROBIOLOGY

Prevalência de anticorpos anti-Babesia equi em eqüinos no Planalto Catarinense

Prevalence of Babesia equi antibodies in horses in the Santa Catarina Plateau, Brazil

Antonio Pereira de Souza1 1 Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Tecnologia, Centro de Ciências Agroveterinárias (CAV), UDESC. Av. Luiz de Camões 2090 CP 281, 88520-000 – Lages, SC. E-mail: a2aps@cav.udesc.br. Autor para correspondência. Valdomiro Bellato1 1 Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Tecnologia, Centro de Ciências Agroveterinárias (CAV), UDESC. Av. Luiz de Camões 2090 CP 281, 88520-000 – Lages, SC. E-mail: a2aps@cav.udesc.br. Autor para correspondência. Amélia Aparecida Sartor1 1 Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Tecnologia, Centro de Ciências Agroveterinárias (CAV), UDESC. Av. Luiz de Camões 2090 CP 281, 88520-000 – Lages, SC. E-mail: a2aps@cav.udesc.br. Autor para correspondência. Ana Beatriz Silva2 1 Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Tecnologia, Centro de Ciências Agroveterinárias (CAV), UDESC. Av. Luiz de Camões 2090 CP 281, 88520-000 – Lages, SC. E-mail: a2aps@cav.udesc.br. Autor para correspondência.

RESUMO

Para avaliar a prevalência de anticorpos anti- Babesia equi, através da técnica de imunofluorescência indireta (IFI), foram examinados 397 amostras de soro. As amostras de sangue, para obtenção dos soros, foram coletadas de eqüinos de diferentes idades, raças, sexos, nascidos e criados no Planalto Catarinense, dos municípios de Lages, São Joaquim, Bom Jardim da Serra, Campos Novos, Anita Garibaldi, Curitibanos e Correia Pinto. Os resultados obtidos indicaram a existência de 50,38% de animais sorologicamente reativos para B. equi, na diluição de 1:40. Entre os municípios, os percentuais de animais soropositivos variaram de 18,51% a 64,70%.

Palavras-chave: prevalência, Babesia equi.

SUMMARY

Serum samples from 397 horses were examined by the indirect immunofluorescence technique. The blood samples were taken from horses of various ages, breeds and both sexes, bred and born in the Santa Catarina State, Brazil, in the counties of Lages, São Joaquim, Bom Jardim da Serra, Campos Novos, Anita Garibaldi, Curitibanos e Correia Pinto. The results indicated a prevalence of 50.38% of positive animals for B. equi at the 1:40 serum dilution. In different counties studied, the prevalence positive animals varied from 18.51% to 64.70%.

Key words: prevalence, Babesia equi.

INTRODUÇÃO

A babesiose dos eqüinos ocupa lugar de destaque, entre as hemoparasitoses, pelos danos causados à saúde animal. Tem como agentes etiológicos a Babesia caballi e a Babesia equi, cujas transmissões têm sido atribuídas, principalmente aos carrapatos dos gêneros Dermacentor, Hyalomma e Rhipicephalus. Para ROBY & ANTHONY (1963), o Anocentor nitens é um dos vetores da B. equi, todavia, SOULSBY (1987) afirmou que nos Estados Unidos o Dermacentor nitens (= A. nitens) não se infecta por B. equi. RISTIC (1988) citou como transmissores da B. equi, D. reticulatus, D. marginatus, H. anatolicum H. detritum, R. evertsi, R. bursa, R. turanicus. Citou ainda que na América Latina a doença é endêmica e que o vetor é desconhecido. BROOKS et al. (1996), em uma revisão bibliográfica sobre babesiose eqüina, citam que em um trabalho preliminar, desenvolvido em laboratório, de oito carrapatos potenciais transmissores de B. equi, somente B. microplus e D. variabilis foram capazes de transmitir o parasita.

No Brasil o A. nitens e o Amblyomma cajennense são as principais espécies de carrapatos que parasitam os equídeos mas, experimentalmente foram incapazes de transmitir a B. equi para esses animais (STILLER & COAN, 1995). BARBOSA et al. (1995) não encontraram B. equi ao examinarem 102 glândulas salivares de A. nitens e 411 de A. cajennense. GUIMARÃES et al. (1997a) verificaram que a B. equi é capaz de se multiplicar em glândulas salivares de fêmeas adultas de Boophilus microplus, formando esporozoítas com organelas características de forma invasiva e sugerem que este ixodídeo pode funcionar como vetor natural de B. equi em áreas endêmicas, onde não existe outro provável transmissor, ou este carrapato constituia a única espécie encontrada em eqüinos. Em outro experimento, GUIMARÃES et al. (1997b) demostraram a transmissão transestadial de ninfas para adultos e a posterior infecção experimental em potros esplenectomizados.

No Planalto Catarinense, entre os ixodídeos, somente o B. microplus foi detectado parasitando eqüinos.

Pela dificuldade de detectar a presença do parasita em esfregaços sangüíneos de animais desenvolvendo uma fase crônica da babesiose, ou em animais portadores, tem sido utilizada a demonstração da presença de anticorpos por técnicas de imunodiagnóstico, principalmente para demonstrar a prevalência da infecção.

No Brasil, TENTER & FRIEDHOFF (1986), no estado do Rio de Janeiro, encontraram 72% de animais positivos para anticorpos anti- Babesia equi, e BARBOSA et al. (1995) verificaram a prevalência de 90,6% a 100% em eqüinos com idade superior a seis meses. No estado de Minas Gerais, RIBEIRO & LIMA (1989) detectaram 80,1% de animais positivos para anticorpos anti- Babesia equi em eqüinos. CUNHA (1993), no Rio Grande do Sul, obteve, trabalhando com sorologia para Babesia equi, um percentual de 57,89% de eqüinos positivos.

Com o objetivo de verificar a taxa de infecção por Babesia equi, em eqüinos, no Planalto Catarinense, foi realizado o presente trabalho.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram coletadas amostras de sangue da veia jugular, em tubos de ensaio sem anticoagulante, de 397 eqüinos de diferentes raças e cruzamentos, idades, sexos, nascidos e criados em propriedades rurais situadas no Planalto Catarinense. O material foi transportado para o laboratório de Parasitologia e Doenças Parasitárias do Centro de Ciências Agroveterinárias, para processamento e análise. Os soros obtidos após a coagulação do sangue foram separados, centrifugados a 200rpm por dez minutos, acondicionados em frascos de vidro e mantidos a menos 20°C em freezer até o momento de serem submetidos à técnica de imunofluorescência indireta (IFI).

O antígeno e os soros controles (positivo e negativo) foram fornecidos pela Escola de Veterinária da Universidade Federal de Minas Gerais.

Foram considerados positivos os soros que apresentaram fluorescência na diluição de 1:40. As observações foram realizadas em microscópio de imunofluorescência, em aumento de 400 vezes, tendo como fonte luminosa, lâmpada de mercúrio de alta pressão.

Os resultados foram transformados em percentagens e analisados dois a dois através do teste Z a 5% de significância.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados dos exames sorológicos realizados em 397 amostras encontram-se na tabela 1.

A análise estatística revelou não haver diferença (P> 0,05) entre os percentuais de animais reagentes, para B. equi, pela prova de imunofluorescência indireta, quando comparados por sexos e pelas faixas etárias estabelecidas.

O percentual de 50,38% de animais que apresentaram anticorpos antiBabesia equi foi semelhante ao encontrado por CUNHA (1993) no Rio Grande do Sul, região onde também não foi registrado o A. nitens parasitando eqüinos. No Rio de Janeiro, TENTER & FRIEDDHOFF (1986) encontraram 72% e BARBOSA et al. (1995) verificaram a prevalência de 90,6% a 100% em eqüinos com idade superior a seis meses. RIBEIRO & LIMA (1989), em Minas Gerais, constataram 80,1% de soropositivos. Esses percentuais, bem maiores que o do presente experimento, talvez, devam-se ao fato da ocorrência de A. nitens ou do maior grau de parasitismo por B. microplus nos animais, nesses estados. Essa afirmação está de acordo com a citação de ROBY & ANTHONY (1963) que afirmaram ser o A. nitens vetor da B. equi, embora isso não tenha sido confirmado experimentalmente, no Brasil, por STILLER & COAN (1995).

A presença e manutenção de eqüinos portadores de B. equi, no Planalto Catarinense, podem estar associadas à possibilidade de transmissão pelo B. microplus, de acordo com o que sugerem BROOKS et al. (1996) e GUIMARÃES et al. (1997a, b).

Na tabela 2, verifica-se o percentual de animais portadores de anticorpos anti-B. equi, por município do Planalto Catarinense.

As variações dos percentuais de animais portadores de anticorpos antiB. equi podem estar relacionadas com o grau de parasitismo por B. microplus. Esta hipótese tem como base a análise dos percentuais encontrados em São Joaquim (18,51%), Lages (52,25%), Campos Novos (64,70%), os índices de favorabilidade para o desenvolvimento do B. microplus estabelecidos por HONER et al. (1993) nesses municípios (6, 28 e 34 respectivamente) e os trabalhos de GUIMARÃES et al. (1997a,b) que detectaram a B. equi neste carrapato e demonstraram a possibilidade da transmissão experimental.

AGRADECIMENTOS

A Professora Lygia Maria Passos, da UFMG, pelo apoio e incentivo.

2Acadêmico de Medicina Veterinária, Bolsista de Iniciação Científica PBOBIC/UDESC.

Recebido para publicação em 16.12.98. Aprovado em 28.04.99

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  • GUIMARÃES, LIMA, D.J., RIBEIRO, M.F.B., et al. Ultra estrutura da esporogonia de Babesia equi em glândulas salivares de fêmeas adultas de Boophilus microplus Rev Bras Parasitol Vet, v. 6, n. 2, suplemento 1, p. 307, 1997a.
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  • 1
    Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Tecnologia, Centro de Ciências Agroveterinárias (CAV), UDESC. Av. Luiz de Camões 2090 CP 281, 88520-000 – Lages, SC. E-mail:
    a2aps@cav.udesc.br. Autor para correspondência.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      08 Dez 2006
    • Data do Fascículo
      Mar 2000

    Histórico

    • Aceito
      28 Abr 1999
    • Recebido
      16 Dez 1998
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