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Ovariosalpingohisterectomia vídeo-assistida ou convencional em cadelas com o uso de Ligasure atlas™

Laparoscopic-assisted or open ovariohysterectomy using Ligasure atlas™ in dogs

Resumos

Procurou-se comparar duas técnicas de ovariosalpingohisterectomia (OSH): vídeo-assistida com dois portais e convencional em cadelas, ambas com o uso de equipamento Ligasure atlas®. Para tanto, foram utilizados 18 animais separados em dois grupos, sendo no primeiro grupo realizada a OSH por celiotomia e no segundo pelo acesso vídeo-assistido. Os procedimentos videocirúrgicos foram realizados por meio de dois trocartes dispostos nas regiões umbilical e pré-púbica, com os cães posicionados em decúbito dorsal. Em ambos os grupos, o único método de hemostasia empregado foi o Ligasure atlas®. Não houve diferença significativa acerca do tempo operatório, das complicações trans e pós-operatórias e das perdas sanguíneas. Conclui-se que a OSH vídeo-assistida com o uso de dois portais e Ligasure atlas® e a técnica convencional com o emprego do mesmo equipamento são rápidas, seguras e efetivas em cadelas.

energia bipolar; cirurgia auxiliada por laparoscopia; caninos


In this study the authors compared two different procedures of ovariosalpingohysterectomy (OSH) in dogs. For that, 18 dogs were randomly assigned into 2 different groups: group I (GI) in which the OSH was performed by celiotomy and group II (GII) in which it was a video-assisted procedure using two portals positioned in the umbilical and pre pubic regions, under dorsal recumbence position. In both groups the method of hemostasis was the Ligasure atlas®. The authors did not observe significant differences between both methods for the surgical time or complications during and after the surgical procedure and blood loss. It was concluded that OSH using video-assisted surgery with two portals and the conventional technique, both using Ligasure atlas® are safe, fast and effective to be used in dogs.

bipolar energy; laparoscopic assisted surgery; canine


ARTIGOS CIENTÍFICOS

CLÍNICA E CIRURGIA

Ovariosalpingohisterectomia vídeo-assistida ou convencional em cadelas com o uso de Ligasure atlas™

Laparoscopic-assisted or open ovariohysterectomy using Ligasure atlas™ in dogs

Michelli Westphal de AtaideI,1 1 Autor para correspondência. ; Maurício Veloso BrunII; Leonardo José Gil BarcellosIII; Marinês BortoluzziIV; João Pedro Scussel FerantiV; Fabiane Reginatto dos SantosV; Fernando TomazzoniV; Gustavo BrambattiV; Pietro Paolo ZílioV; Gabriela OroV; Luana Walendorff SartoriIII; Ariane Roani MonteiroV; Ricardo ZanellaVI

IPrograma de Pós-graduação em Ciências Veterinárias, Faculdade de Veterinária, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Av. Bento Gonçalves, 9090, 91540-000, Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: michelliangel@hotmail.com

IIFaculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAMV), Universidade de Passo fundo (UPF), Passo fundo, RS, Brasil. Universidade de Franca (UNIFRAN), Franca, SP, Brasil

IIIFAMV, UPF, Passo fundo, RS, Brasil

IVMédica-veterinária autônoma, Passo Fundo, RS, Brasil

VCurso de Medicina Veterinária, FAMV, UPF, Passo fundo, RS, Brasil

VIWashington State University (WSU), Pullman, Washington, USA

RESUMO

Procurou-se comparar duas técnicas de ovariosalpingohisterectomia (OSH): vídeo-assistida com dois portais e convencional em cadelas, ambas com o uso de equipamento Ligasure atlas®. Para tanto, foram utilizados 18 animais separados em dois grupos, sendo no primeiro grupo realizada a OSH por celiotomia e no segundo pelo acesso vídeo-assistido. Os procedimentos videocirúrgicos foram realizados por meio de dois trocartes dispostos nas regiões umbilical e pré-púbica, com os cães posicionados em decúbito dorsal. Em ambos os grupos, o único método de hemostasia empregado foi o Ligasure atlas®. Não houve diferença significativa acerca do tempo operatório, das complicações trans e pós-operatórias e das perdas sanguíneas. Conclui-se que a OSH vídeo-assistida com o uso de dois portais e Ligasure atlas® e a técnica convencional com o emprego do mesmo equipamento são rápidas, seguras e efetivas em cadelas.

Palavras-chave: energia bipolar, cirurgia auxiliada por laparoscopia, caninos.

ABSTRACT

In this study the authors compared two different procedures of ovariosalpingohysterectomy (OSH) in dogs. For that, 18 dogs were randomly assigned into 2 different groups: group I (GI) in which the OSH was performed by celiotomy and group II (GII) in which it was a video-assisted procedure using two portals positioned in the umbilical and pre pubic regions, under dorsal recumbence position. In both groups the method of hemostasis was the Ligasure atlas®. The authors did not observe significant differences between both methods for the surgical time or complications during and after the surgical procedure and blood loss. It was concluded that OSH using video-assisted surgery with two portals and the conventional technique, both using Ligasure atlas® are safe, fast and effective to be used in dogs.

Key words: bipolar energy, laparoscopic assisted surgery, canine.

INTRODUÇÃO

A ovariosalpingohisterectomia (OSH) é um procedimento cirúrgico de elevada frequência em pequenos animais, sendo empregada no controle populacional ou para a prevenção e terapêutica de doenças do sistema reprodutor (HEDLUND, 2005; MALM et al., 2004; GARGALLO et al., 2009). Entre as principais complicações decorrentes da OSH, indiferentemente do acesso cirúrgico, destacam-se: hemorragia, estro recorrente, piometra de coto uterino, ligadura acidental de ureter, entre outras (SCHIOCHET et al., 2008; GUIMARÃES et al., 2008). Ocasionalmente, hemorragias trans e pós-operatórias comprometem a condição hemodinâmica do paciente e podem até mesmo ocasionar o óbito (PEARSON, 1973).

BRUN & BECK (1999) descreveram que as técnicas comumente utilizadas para oclusão dos vasos ovarianos em videocirurgia incluem a ligadura com fio de sutura, as aplicações de grampos ou o emprego de eletrocirurgia mono ou bipolar nos pedículos vasculares. Segundo SCHIOCHET et al. (2007), essas últimas alternativas acabam reduzindo o tempo cirúrgico e garantindo uma boa segurança hemostática. Atualmente, há uma nova modalidade de energia bipolar que permite melhor controle da hemostasia sem maiores danos colaterais: o selador de vasos com energia eletrotérmica (DING et al., 2001; KIRDAK et al., 2005).

LÓPEZ et al. (2007) descreveram o uso dessa tecnologia no controle hemostático em cirurgias nas quais tradicionalmente são empregadas suturas na ligadura de vasos e tecidos, com o limite de boa segurança em vasos de até 7mm de diâmetro. O sistema selador de vasos (tal como o Ligasure®) consiste em um eletrodo bipolar que desnatura o colágeno, provocando selagem vascular que suporta até três vezes a pressão sistólica. A energia eletrotérmica liberada pelos eletrodos é de 50 a 100°C. Com isso, acaba ocorrendo a fusão do colágeno corporal com a elastina tecidual, criando uma "zona de selo".

O equipamento possui um mecanismo de controle por retroalimentação, o que assegura que o tecido não se carbonize desnecessariamente, e uma lâmina para a secção tecidual (HANCOCK, 2005). Devido à baixa temperatura, há uma diminuição nos efeitos colaterais teciduais presentes na área adjacente em comparação com o cautério monopolar e o bipolar (estes podem aquecer o tecido em 150 a 400°C). Essa tecnologia está sendo empregada em técnicas como a tiroidectomia, a hepatectomia e a ressecção pulmonar em pacientes humanos e pode ser utilizada tanto na cirurgia convencional, quanto na laparoscópica. (CARDOSO, 2004; KIRDAK et al., 2005).

DING et al. (2001) relataram que o uso do Ligasure® na histerectomia abdominal de humanos diminui o tempo cirúrgico, permitindo otimizar o procedimento em relação ao uso de ligaduras convencionais, e minimiza o risco de hemorragia, possibilitando um maior aproveitamento da cirurgia, menor consumo de hemoderivados e potencialmente menor custo para a instituição e para o paciente.

Tendo em vista que, na cirurgia de pequenos animais, existem poucos relatos referentes à comparação entre os dois acessos envolvendo o uso do Ligasure®, os objetivos deste trabalho foram empregar essa tecnologia na realização de ovariohisterectomia auxiliada por laparoscopia em cadelas e comparar seus resultados com os obtidos por meio da celiotomia.

MATERIAL E MÉTODOS

Foram utilizadas 18 cadelas, sem raça definida, com massa corporal média de 15,2±4,97kg, provenientes do Clube Amigo Protetores dos Animais (CAPA) e do Amigo Bixo, sendo ambas instituições albergues de animais errantes da cidade de Passo Fundo, Rio Grande do Sul (RS). Todas as cirurgias foram realizadas após consentimento, por escrito, dos responsáveis, e todos os caninos foram devolvidos aos centros de proteção animal para a adoção após os procedimentos pós-operatórios.

Posteriormente às avaliações clínicas (coloração de mucosas, TPC, frequências cardíaca e respiratória e avaliação da hidratação) e hematológicas (hemograma, dosagem de albumina, alanina aminotransferase e creatinina séricas), os pacientes (todos de ASA 1) foram alojados em canis individuais, onde receberam ração comercial e água ad libitum.

Os cães foram separados em dois grupos de forma aleatória, com nove caninos cada, sendo o primeiro grupo (GI) submetido à OSH por celiotomia, e o segundo (GII), à OSH por cirurgia vídeo-assistida, com dois portais. Em ambos os casos, a hemostasia foi obtida com o uso do Ligasure atlas® e realizada pelo mesmo cirurgião.

Trinta minutos antes do procedimento, foi realizada antibioticoprofilaxia com ampicilina sódica (22mg kg-1, IV). Os animais receberam como pré-medicação anestésica maleato de acepromazina (0,05mg kg-1, IM) e sulfato de morfina (0,5mg kg-1, IM). Por meio de cateter venoso, foi realizada a venopunção da cefálica de um dos membros torácicos, para a administração de cloreto de sódio 0,9% (10ml kg-1 h-1) durante todo o procedimento operatório. Foi realizada a indução anestésica com propofol (6mg kg-1, IV), enquanto a manutenção foi obtida com isofluorano vaporizado em oxigênio a 100%, em circuito semifechado com respiração assistida.

Com os animais do GI, em decúbito dorsal, realizou-se incisão na linha média ventral pós-umbilical, abrangendo a pele e o tecido subcutâneo, de aproximadamente 4cm. A cavidade foi acessada pela linha alba após a apreensão dos folhetos externos do músculo reto abdominal com duas pinças do tipo Allis. Os cornos uterinos foram mobilizados manualmente e, após a ruptura do ligamento suspensor, foi realizado o isolamento do mesovário para o uso do Ligasure atlas® nos vasos ovarianos. O mesmo método de hemostasia foi empregado na secção do corpo e nos vasos uterinos. Para a celiorrafia, empregou-se sutura em padrão Sultan abrangendo o folheto externo com fio de poligalactina 910 2-0. Na sequência, realizou-se sutura do tecido subcutâneo com mesmo fio e padrão contínuo simples. Já a pele foi suturada com náilon monofilamentar 4-0 em padrão interrompido simples.

No GII, realizou-se incisão na cicatriz umbilical de aproximadamente 0,6cm, abrangendo a pele e o tecido subcutâneo. Com o auxílio de pinças hemostáticas, foi introduzido o trocarte de 5mm pela técnica aberta, permitindo a passagem do endoscópio rígido de 5mm e zero grau acoplado à fonte de luz de xenônio e microcâmera.

O pneumoperitônio com CO2 medicinal foi obtido no volume de 1,6L kg-1 até a cavidade alcançar a pressão de 12mmHg. Foi realizada outra incisão na linha média ventral, caudalmente ao trocarte anterior (a aproximadamente 10cm deste), que serviu para introdução do trocarte de 10mm, pelo qual foram passados os instrumentos cirúrgicos. Após a apreensão dos cornos uterinos com o auxílio de uma pinça de Kelly e a ruptura do ligamento suspensor, realizou-se sutura temporária transparietal abrangendo o corno uterino para melhor expor o plexo artério-venoso ovariano, facilitando a escolha do local de aplicação do Ligasure atlas®. Mesmo procedimento foi realizado no mesovário contralateral, assim como no corpo e nos vasos uterinos. A hemostasia e a retirada do órgão foram realizadas após exposição do útero e dos ovários, através da ferida do segundo trocarte (Figura 1).


Posteriormente, a cavidade peritoneal foi parcialmente desinflada até alcançar a pressão de 4mmHg, a fim de ser verificada a ausência de hemorragia. Após a drenagem do pneumoperitônio, os trocartes foram removidos, e as feridas de acesso suturadas em uma ou duas camadas, de acordo com suas extensões. Na musculatura, aplicou-se padrão de Sultan com o fio de poligalactina 910 2-0 e, na pelesutura interrompida simples, com náilon monofilamentar 4-0. A perda sanguínea de ambos os procedimentos foi mensurada a partir da diferença entre o peso das gazes cirúrgicas antes e após o seu uso.

No pós-operatório, os caninos de ambos os grupos receberam cetoprofeno (2mg kg-1, SC, SID, por três dias) e tiveram suas feridas operatórias higienizadas diariamente com solução de cloreto de sódio 0,9%, sendo as suturas cutâneas removidas aos sete dias da cirurgia (Figura 2). As avaliações pré-operatórias dos parâmetros fisiológicos foram repetidas no pós-operatório, a cada seis horas, durante 48 horas, sendo utilizadas na comparação entre os grupos.


Nas comparações entre as técnicas, foram considerados os tempos cirúrgicos, as complicações transoperatórias e a ocorrência de sangramentos durante o procedimento. O tempo cirúrgico e o sangramento foram analisados a partir do teste T de Student, sendo as diferenças consideradas significativas quando P≤0,05.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O protocolo anestésico utilizado no experimento foi adequado, assim como a analgesia proposta para o pós-operatório. Os animais apresentaram-se bem dispostos, sem alterações dos parâmetros fisiológicos durante todo o período de avaliação, como sugerido por BAILEY & PABLO (1998). Já HANCOCK (2005) afirmou que, em OSH convencional, há um desconforto álgico maior em relação à videocirurgia, com elevação, inclusive do cortisol plasmático. Segundo esse último autor, poderia haver implicações quanto à cicatrização da ferida cirúrgica em consequência à elevação do cortisol. Considera-se que, no presente trabalho, a OSH pelo acesso aberto (GI) foi realizada por um acesso abdominal de extensão mínima e com pouca manipulação tecidual durante as etapas de secção e hemostasia devido ao uso de Ligasure atlas®, condição em que não foram constatados sinais de desconforto pós-operatório.

Foi possível realizar a ovariosalpingohisterectomia em todos os animais em tempo médio de 26,22±5,62min e 28,00±6,74min, respectivamente, para GI e GII, e a ressecção de útero e dos ovários propriamente dita foi obtida em 6,51±0,34min (GI) e 12,06±3,13min (GII). Em ambos os casos, não houve diferença significativa entre os grupos (P=0,63 e P=0,24, respectivamente). Apesar de o tempo não ser significativamente diferente, a etapa extirpativa foi mais longa na videocirurgia devido à dificuldade relacionada à restrição dos movimentos, em contrapartida ao menor tempo de oclusão das diminutas feridas operatórias quando comparada ao outro grupo (FILMAR et al., 1987; BREE et al., 1996; FREEMAN & HENDRICKSON, 1998) (Figura 2). Todos os procedimentos por laparoscopia e celiotomia foram realizados sem complicações transoperatórias.

O número de trocartes, as disposições destes e os instrumentais cirúrgicos utilizados se mostraram apropriados para a realização da técnica auxiliada por laparoscopia, corroborando as observações de BRUN et al., (2008). A opção pela técnica vídeo-assistida se deve à busca de menor lesão tecidual de acesso quando comparada às técnicas de OSH laparoscópica, com três portais (AUSTIN et al., 2003), sendo o acesso com dois portais uma alternativa rápida, segura e efetiva, pois as etapas de hemostasia e secção do mesovário e vasos ovarianos são facilmente alcançadas. De outra forma, a hemostasia e secção do corpo do útero e dos vasos uterinos mostraram-se de fácil execução, independentemente do número de portais, graças à ampla exposição obtida com a exteriorização completa do útero e dos ovários. Em três casos houve a necessidade da ampliação em aproximadamente 2 mm para a completa exposição uterina no local do segundo trocarte. Porém, a OSH vídeo-assistida com dois portais necessita de alteração do posicionamento do paciente durante o transoperatório, sendo rotacionados o tórax e o flanco, conforme previamente descrito por SILVA (2008). Essa manobra permite a exposição do ovário, a qual se torna ainda maior ao romper o ligamento suspensor e aplicar a sutura transparietal.

Outro cuidado com o intuito de minimizar a lesão de acesso no GII foi o emprego de portal de menor diâmetro na punção cranial, pois essa ferida serviu exclusivamente para a passagem do endoscópio, enquanto que a ferida caudal de maior diâmetro foi utilizada para facilitar a exposição dos ovários e úteros, já que a OSH era completada externamente à cavidade abdominal.

Em todos os pacientes não houve sangramentos nos cotos uterinos e ovarianos. Segundo FERNÁNDEZ (2009), a diferença com os métodos térmicos tradicionais que atuam produzindo desidratação tissular com redução da luz vascular e formação de trombo é que o Ligasure® atua provocando desnaturação do colágeno e da elastina que formam as paredes dos vasos, com conseguinte selamento por fusão da luz, bloqueando totalmente o fluxo sanguíneo sem formação de coágulo intravascular. Dessa forma, a área tratada alcança uma resistência similar a um grampo metálico, produzindo um selo que suporta até o triplo da pressão sistólica. FILHO (2007) descreveu que uma ligadura convencional em um vaso de até 7mm poderia suportar apenas duas vezes a pressão sistólica, o que leva a necessidade, segundo o autor, da realização de duas ligaduras em um vaso de grande calibre para garantir uma perfeita hemostasia. Considerando o diminuto calibre dos vasos ovarianos e uterinos de cadelas, já se esperava que a técnica de hemostasia empregada proporcionasse adequado controle do sangramento, sem a necessidade de aplicação conjunta de outros métodos.

Em relação à perda sanguínea, observou-se que, em 88% dos procedimentos do GII, as gazes utilizadas durante o procedimento apresentaram 1g ao serem pesadas, enquanto que, em 11% (um animal), apresentaram 2,1g. Já no GI, 77% apresentaram 1g, e o restante 1,8g, não sendo verificadas diferenças significativas na média de sangramento entre os grupos (P=0,6). Assim, acredita-se que com ambas as técnicas de OSH realizadas, na inexistência de complicações, o sangramento é desconsiderável. Na celiotomia, obteve-se um valor um pouco mais elevado, associado ao sangramento mínimo na parede durante o acesso cirúrgico. Isso está de acordo com FREEMAN & HENDRICKSON (1998), que descreveram o maior sangramento como uma das desvantagens da cirurgia aberta sobre a videolaparoscopia, visto que a hemorragia resulta em estresse fisiológico para o organismo, com consequente elevação do cortisol sérico.

Durante os acompanhamentos pós-operatórios, não foram constatados sinais de complicações cirúrgicas em nenhum dos animais, e a cicatrização das feridas operatórias ocorreu por primeira intenção. Em um representante do GII ocorreu seroma na ferida do segundo portal, o qual foi absorvido em cinco dias. Em outro animal desse mesmo grupo, verificou-se leve dermatite por queimadura térmica devido à dissipação de energia dispensada pelo material, tratada com solução de cloreto de sódio para limpeza e óxido de zinco para hidratar e promover a reepitelização. A principal vantagem teórica do Ligasure® é o controle automático da energia liberada, com mínima lesão térmica por fora das pinças do dispositivo (0,5-2mm) e ausência da necrose tissular (FERNÁNDEZ, 2009), pois o referido equipamento possui sistema gerador bipolar exclusivo para selar vasos com saída de energia de alta frequência e baixa voltagem controlada por um microprocessador (DEMOTT, 2005), o qual mensura a impedância tissular entre as mandíbulas das pinças e administra automaticamente a energia adequada (DING et al., 2001). Dessa forma, o efeito tissular é independente do tipo e da quantidade de tecido apreendido pelo equipamento, cessando a aplicação de energia de forma automática, uma vez que o selo tecidual for alcançado (DING et al., 2001). O que pode ter ocorrido com o paciente em que ocorreu a lesão por queimadura foi uma aplicação inadequada das pinças do equipamento, talvez mantendo-a numa proximidade tecidual menor que 2mm. Contudo, a lesão se mostrou de baixa complexidade e respondeu adequadamente ao tratamento tópico, com resolução completa ao final de sete dias.

CONCLUSÃO

Nas condições do presente estudo, pode-se afirmar que o uso do equipamento Ligasure® na realização de OSH em cadelas por celiotomia ou pelo acesso vídeo-assistido com dois portais possibilitou resultados eficientes e similares entre os grupos, pois, na comparação entre as técnicas, não foram observadas diferenças entre o tempo de procedimento, o sangramento e a recuperação pós-operatória, podendo-se considerar o acesso vídeo-assistido com dois portais como alternativa à OSH por celiotomia.

COMITÊ DE ÉTICA

Este trabalho foi Aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade de Passo Fundo (UPF) sob o registro número 210/2009.

Recebido para publicação 26.10.09

Aprovado em 25.07.10

Devolvido pelo autor 15.09.10

CR-2718

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  • 1
    Autor para correspondência.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      01 Out 2010
    • Data do Fascículo
      Set 2010

    Histórico

    • Aceito
      25 Jul 2010
    • Recebido
      26 Out 2009
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