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Associação de glyphosate e imidazolinonas no controle de arroz-vermelho em arroz Clearfield®

Association of glyphosate and imidazolinones on red rice control in Clearfield™ rice

Resumos

O objetivo do presente trabalho foi o de avaliar os efeitos da utilização de glyphosate e herbicidas imidazolinonas, em aplicações isoladas ou associadas, sobre o controle de arroz-vermelho (Oryza sativa) e produtividade de grãos de arroz Clearfield®. O experimento foi conduzido a campo na safra 2007/08, em Cachoeirinha, RS, Brasil, com delineamento em blocos ao acaso e tratamentos dispostos em arranjo fatorial (2x6), usando-se quatro repetições. O fator A constou de dois níveis do herbicida glyphosate, aplicados no subperíodo semeadura-emergência da cultura por ocasião do início da emissão do coleóptilo do arroz (ponto de agulha); o fator B constou de seis tratamentos com imazethapyr+imazapic, aplicados em associação ao glyphosate ou quando a cultura atingiu o estádio de três folhas expandidas. As três variáveis explicativas analisadas foram a população de plantas de arroz e arroz-vermelho, a eficácia do controle de arroz-vermelho e a produtividade de grãos da cultura. O uso de glyphosate no ponto de agulha reduziu em 75% a população do arroz-vermelho e aumentou em 40% a produtividade de grãos de arroz, em relação à testemunha. O uso isolado de herbicidas imidazolinonas e sua associação com o dessecante proporcionou controle eficaz do arroz-vermelho e incrementou a produtividade de grãos, em comparação à situação sem controle da infestante, independente da dose e do sistema de aplicação.

Oryza sativa; coleóptilo; ponto de agulha; imazethapyr; manejo integrado


The objective of this research was to evaluate the effects of the utilization of glyphosate and imidazolinones herbicides, in isolated or associated applications, on the effectiveness of red rice (Oryza sativa) control and grain yield of Clearfield-rice. The experiment was conducted under field conditions in 2007/08, in Cachoeirinha, RS, Brazil, using a randomized block design in a two-factorial design 2x6, with four replicates. The factor A was composed by two levels of glyphosate, applied during the subperiod between sowing and crop emergence at the early coleoptile stage of the rice plants; and the factor B consisted of six treatments with imazethapyr+imazapic, applied in association with glyphosate or when the rice crop plants had three expanded leaves. The crop and weed populations, red rice control and grain yield of crop were evaluated. The results show that the glyphosate application at the early coleoptile stage of the crop reduced 75% the red rice population and increased 40% the grain yield, in relation to the situation without weed control. The use of imidazolinones and their association with glyphosate provided effective control of red rice and increased the grain yield, independent of rates and application system.

Oryza sativa; coleoptile; needle point; imazethapyr; integrated management


ARTIGOS CIENTÍFICOS

FITOTECNIA

Associação de glyphosate e imidazolinonas no controle de arroz-vermelho em arroz Clearfield®

Association of glyphosate and imidazolinones on red rice control in Clearfield™ rice

Valmir Gaedke MenezesI,1 1 Autor para correspondência. ; Carlos Henrique Paim MariotII; Augusto KalsingIII; Thais Fernanda Stella de FreitasIII; Daniel Santos GrohsIV; Felipe de Oliveira MatzenbacherIII

IOryza Consultoria, 91330-281, Porto Alegre, RS, Brasil. E-mail: vmgaedke@yahoo.com.br IIDow Agrosciences, Cachoeirinha, RS, Brasil

IIIFundação de Apoio e Desenvolvimento de Tecnologia ao Instituto Rio Grandense do Arroz (Fundação IRGA), Cachoeirinha, RS, Brasil

IVEmpresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA- CNPUV), Bento Gonçalves, RS, Brasil

RESUMO

O objetivo do presente trabalho foi o de avaliar os efeitos da utilização de glyphosate e herbicidas imidazolinonas, em aplicações isoladas ou associadas, sobre o controle de arroz-vermelho (Oryza sativa) e produtividade de grãos de arroz Clearfield®. O experimento foi conduzido a campo na safra 2007/08, em Cachoeirinha, RS, Brasil, com delineamento em blocos ao acaso e tratamentos dispostos em arranjo fatorial (2x6), usando-se quatro repetições. O fator A constou de dois níveis do herbicida glyphosate, aplicados no subperíodo semeadura-emergência da cultura por ocasião do início da emissão do coleóptilo do arroz (ponto de agulha); o fator B constou de seis tratamentos com imazethapyr+imazapic, aplicados em associação ao glyphosate ou quando a cultura atingiu o estádio de três folhas expandidas. As três variáveis explicativas analisadas foram a população de plantas de arroz e arroz-vermelho, a eficácia do controle de arroz-vermelho e a produtividade de grãos da cultura. O uso de glyphosate no ponto de agulha reduziu em 75% a população do arroz-vermelho e aumentou em 40% a produtividade de grãos de arroz, em relação à testemunha. O uso isolado de herbicidas imidazolinonas e sua associação com o dessecante proporcionou controle eficaz do arroz-vermelho e incrementou a produtividade de grãos, em comparação à situação sem controle da infestante, independente da dose e do sistema de aplicação.

Palavras-chave:Oryza sativa, coleóptilo, ponto de agulha, imazethapyr, manejo integrado.

ABSTRACT

The objective of this research was to evaluate the effects of the utilization of glyphosate and imidazolinones herbicides, in isolated or associated applications, on the effectiveness of red rice (Oryza sativa) control and grain yield of Clearfield-rice. The experiment was conducted under field conditions in 2007/08, in Cachoeirinha, RS, Brazil, using a randomized block design in a two-factorial design 2x6, with four replicates. The factor A was composed by two levels of glyphosate, applied during the subperiod between sowing and crop emergence at the early coleoptile stage of the rice plants; and the factor B consisted of six treatments with imazethapyr+imazapic, applied in association with glyphosate or when the rice crop plants had three expanded leaves. The crop and weed populations, red rice control and grain yield of crop were evaluated. The results show that the glyphosate application at the early coleoptile stage of the crop reduced 75% the red rice population and increased 40% the grain yield, in relation to the situation without weed control. The use of imidazolinones and their association with glyphosate provided effective control of red rice and increased the grain yield, independent of rates and application system.

Key words:Oryza sativa, coleoptile, needle point, imazethapyr, integrated management.

INTRODUÇÃO

O arroz-vermelho (Oryza sativa L.) é a planta daninha que mais causa prejuízos econômicos à cadeia agroindustrial do arroz irrigado na maioria das regiões orizículas do Rio Grande do Sul (RS). Nas lavouras, interfere de forma direta e acentuada sobre a produtividade e lucratividade da cultura, além de aumentar os custos de produção e depreciar o produto (FLECK et al., 2008). Nas indústrias, contribui para a diminuição da qualidade física do arroz, à medida que reduz o rendimento de grãos inteiros e a renda do benefício (MENEZES et al., 1997). Por essas razões, é necessário desenvolver estratégias eficazes de manejo de arroz-vermelho para se reduzir os prejuízos financeiros que ocorrem nos diferentes segmentos da produção do cereal.

Ao longo dos anos, o orizicultor gaúcho tem adotado práticas agrícolas para minimizar os danos do arroz-vermelho, como o sistema cultivo mínimo, que atualmente é utilizado em mais de 70% das áreas (IRGA, 2012). Nesse sistema, reduz-se a infestação da planta daninha aliando o preparo do solo antecipado, dessecação em pré-semeadura e baixa mobilização de solo durante a entressafra (SOSBAI, 2012). Em muitos casos, a dessecação é repetida durante o subperíodo da semeadura-emergência, usando-se herbicida de ação total, como aqueles a base de glyphosate (CRUSCIOL et al., 2002), e tendo-se como limite a data em que se inicia o estádio fenológico S3 (COUNCE et al., 2000) (emissão do coleóptilo da planta de arroz), popularmente chamado de 'ponto de agulha'. Essa estratégia permite eliminar da lavoura todas as plantas de arroz-vermelho até então emergidas, sendo mais eficiente à medida que acontece mais próxima do ponto de agulha.

O cultivo de genótipos de arroz resistentes às imidazolinonas é outra prática muito utilizada pelos orizicultores no RS, por viabilizar o uso do método químico para o manejo do arroz-vermelho (tecnologia Clearfield®). Nesse Estado, cerca de 50% das lavouras comerciais de produção de arroz tiveram cultivares Clearfield® na safra 2012/13, o que constitui uma das maiores áreas do mundo com o uso da tecnologia. Mas, problemas graves têm surgido com o cultivo contínuo e errôneo desses genótipos, como a resistência às imidazolinonas em biótipos de arroz-vermelho (MENEZES et al., 2009). Esse problema gera preocupação em toda a cadeia agroindustrial do arroz irrigado e demonstra ser necessário integrar distintas práticas agrícolas para o manejo sustentável da infestante.

O uso associado de glyphosate e herbicidas imidazolinonas durante o subperíodo semeadura-emergência da cultura beneficiaria em, pelos menos, três aspectos, o manejo do arroz-vermelho na tecnologia Clearfield®. Primeiro, o uso de herbicida dessecante e residual reduziria a infestação de arroz-vermelho na área e estenderia a eficácia do seu controle durante período de tempo mais prolongado. Segundo, o controle prévio da infestante facilitaria as ações de controle em pós-emergência da cultura, uma vez que ocasiona a padronização da estatura das plantas de arroz-vermelho. Terceiro, essa estratégia de manejo retardaria o surgimento de populações de arroz-vermelho resistentes às imidazolinonas, por combinar dois mecanismos de ação (ROSO et al., 2010).

O objetivo do trabalho foi o de comparar os efeitos do uso isolado e associado de glyphosate e herbicidas imidazolinonas sobre a eficácia do controle de arroz-vermelho e produtividade de grãos do arroz com tecnologia Clearfield®.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido a campo na Estação Experimental Agronômica do Instituto Rio Grandense do Arroz (IRGA), em Cachoeirinha, RS, Brasil, durante a estação de crescimento 2007/08. O clima da região é do tipo subtropical úmido, conforme classificação de Köppen, com temperatura média de 9,8 e 31,6 C, nos meses mais frios e mais quentes, respectivamente. O solo da área experimental é classificado como Gleissolo Háplico Distrófico típico (STRECK et al., 2008), contendo aproximadamente 15% de argila e 1,5% de matéria orgânica. A área foi sistematizada há oito anos para aumentar a eficiência do processo de irrigação por inundação e, desde então, vem sendo cultivada com arroz irrigado na estação estival.

O experimento foi implantado no sistema de cultivo mínimo do solo e o manejo da lavoura foi realizado com base nas recomendações da pesquisa para a cultura do arroz irrigado (SOSBAI, 2012). Desse modo, a semeadura do arroz ocorreu na época considerada preferencial (09/11/07), com 100kg ha-1 de sementes, o que resultou na população inicial de 200 plantas m-2. A cultivar utilizada foi a 'Puitá INTA CL', resistente a herbicidas imidazolinonas. A adubação do solo foi realizada pela distribuição nas linhas de semeadura de 400kg ha-1 da fórmula 05-20-30, o que aportou ao solo cerca de 20kg ha-1 N, 80kg ha-1 P2O5 e 120kg ha-1 K2O. Além disso, aplicaram-se em cobertura duas doses de adubo nitrogenado, a seguir: 80 e 40kg ha-1 N, respectivamente, nos estádios fenológicos V4 e V8 (COUNCE et al., 2000). A irrigação da lavoura ocorreu um dia após a aplicação dos herbicidas em pós-emergência, mantendo-se lâmina de água constante de cinco centímetros sobre a superfície do solo.

O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, com tratamentos dispostos em arranjo fatorial (2x6), com quatro repetições por tratamento. O fator A constou de dois níveis de glyphosate (Glifosato, 480g e.a. L-1), aplicado por ocasião do ponto de agulha das plantas de arroz cultivado: 0 e 1.200g e.a. ha-1; o fator B constou de seis tratamentos com imazethapyr+imazapic (Only®, 75+25g i.a. L-1), aplicados no ponto de agulha (pré) e/ou na condição de pós-emergência (pós) da cultura, a saber (pré + pós): 0 + 0; 0 + 80; 0 + 100; 50 + 50; 50 + 75; 75 + 75g i.a. ha-1. Na testemunha não tratada, foi aplicado o herbicida cyhalofop (Clincher®, 180 g i.a. L-1), na dose de 360g i.a. ha-1, com o intuito de controlar espécies daninhas gramíneas de forma seletiva para o arroz cultivado e o arroz-vermelho.

A aplicação no ponto de agulha foi feita quando cerca de 50% das plantas de arroz haviam emitido o coleóptilo, enquanto as aplicações feitas em pós-emergência ocorreram por ocasião da terceira folha do arroz, o que equivale, respectivamente, aos estádios fenológicos S3 e V3 (COUNCE et al., 2000). Para realizar as aplicações dos herbicidas, utilizou-se um pulverizador costal de precisão, com pontas do tipo leque e modelo XR110.03, calibrado para volume de calda de 120L ha-1. Nas duas datas, essa operação foi realizada em momentos com temperatura (19 a 23°C) e umidade do ar (68 a 84%) adequados para a atividade herbicida dos produtos avaliados. As unidades experimentais corresponderam a parcelas com dimensões de 7,0x1,7m, espaçadas por 0,3m das parcelas adjacentes, a fim de evitar a contaminação entre os tratamentos.

As variáveis explicativas dos efeitos das combinações dos tratamentos foram a população de arroz e arroz-vermelho (n m-2), eficácia do controle (%) de arroz-vermelho e a produtividade de grãos (kg ha-1), que ocorreram, respectivamente, nos estádios fenológicos V2, R8 e R9 (COUNCE et al., 2000). A eficácia de controle foi avaliada de acordo com o método descrito em CAMPER (1986). Para a produtividade de grãos, foram colhidas mecanicamente as dez linhas da cultura do arroz em cada parcela, ou 11,9m2, sendo os dados expressos na umidade padrão de 13%. Os dados foram submetidos à análise de variância pelo teste F, e as médias foram comparadas pelo teste de Duncan, usando-se o nível de 5% de probabilidade do erro experimental.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

As populações de arroz cultivado e arroz-vermelho variaram somente em função do efeito do fator 'níveis de glyphosate', na avaliação realizada quando a cultura atingiu o estádio de duas folhas (Figura 1). A aplicação desse herbicida dessecante por ocasião do ponto de agulha reduziu em 75% a população de arroz-vermelho, em comparação à situação sem aplicação desse tratamento. Verifica-se que o uso de glyphosate também diminuiu a população de arroz cultivado em 28%, uma vez que algumas plantas haviam emitido folhas antes da aspersão do dessecante. Contudo, a redução observada na magnitude da variável população de plantas de arroz não interferiu negativamente sobre o desempenho agronômico da cultura (Figura 2).



Os resultados obtidos neste estudo coincidem com os descritos na literatura por FOLONI et al. (1997), MARCHEZAN et al. (1998) e CRUSCIOL et al. (2002), entre outros, que também verificaram redução da infestação de arroz-vermelho em arroz irrigado através do uso prévio do herbicida glyphosate. No primeiro estudo, por exemplo, foi observado controle de, no mínimo, 92%, aplicando-se esse dessecante quando as plantas dessa espécie infestante atingiram a estatura de 20cm. Vale destacar que nestas pesquisas a aplicação desse herbicida dessecante foi realizada na condição de pré-plantio da cultura do arroz, de forma distinta do método do presente estudo. Não se encontrou na literatura científica nenhum trabalho com a utilização de herbicidas para o controle de arroz-vermelho por ocasião da ocorrência do ponto de agulha da cultura do arroz.

No ponto de agulha, o profilo das plântulas de espécies gramíneas encontra-se protegido do atrito e pressão do solo, devido a uma bainha cilíndrica e rígida denominada coleóptilo (CARPITA et al., 2001). Após emergir no solo, as células dessa bainha senescem em função do estresse oxidativo causado pela luz, perdendo a capacidade de translocar solutos para o profilo (INADA et al., 2002). Isso permite que herbicidas de ação total sejam aplicados nas áreas de arroz irrigado até o início do ponto de agulha, uma vez que as folhas estão provisoriamente protegidas pelo coleóptilo. O estádio ocorre, em geral, em período de 10 a 15 dias nas épocas mais frias e, em período de 5 a 10 dias, nas mais quentes, sendo muito influenciado pela temperatura do ar e do solo.

Com a introdução da tecnologia Clearfield®, foi possibilitada a aplicação do glyphosate antes do ponto de agulha do arroz, devido à possibilidade de associá-lo aos herbicidas do grupo das imidazolinonas. O uso associado de herbicida dessecante e residual permite controlar o arroz-vermelho e, também, reduzir o seu estabelecimento durante o período de efeito residual das imidazolinonas. Nesse caso, sugere-se que, em áreas extensas, a aplicação de herbicidas seja realiza de quatro a cinco dias após a semeadura, em especial nas épocas mais quentes no RS (15/Out-5/Nov). Essa estratégia minimiza as chances de que ocorra morte das plantas de arroz cultivado e garante o controle do arroz-vermelho, considerando-se as condições climáticas instáveis do RS.

A eficácia do controle de arroz-vermelho variou em função da interação dos fatores 'níveis de glyphosate' e 'tratamentos com imazethapyr+imazapic', e teve valores elevados na maioria dos casos (Tabela 1). Observa-se que o controle dessa infestante, obtido apenas com o glyphosate no ponto de agulha, foi 73% superior em relação à testemunha, quando não se associou o outro herbicida. Em ambos os níveis de glyphosate, o controle foi sempre satisfatório, quando se tratou a área com imazethapyr+imazapic, independente das doses ou sistemas de aplicação (pré+pós). Salienta-se que essa variável foi avaliada no momento da pré-colheita da lavoura, o que indica que os resultados obtidos persistiram durante todo o ciclo da cultura do arroz.

O controle de arroz-vermelho nas parcelas que foram tratadas somente com o herbicida glyphosate foi satisfatório, graças às condições experimentais, sobretudo do momento e tecnologia de aplicação. É provável que esses resultados não se reproduzam em situações de lavouras comerciais de arroz irrigado, nas quais as condições de aplicação não podem ser tão controladas pelo orizicultor. A eficácia do controle dessa infestante apenas com o uso de herbicida dessecante no subperíodo semeadura-emergência será maior, à medida que ocorrer mais próxima do ponto de agulha do arroz. Além disso, é preciso proceder com a irrigação definitiva da lavoura de arroz o mais cedo possível, de modo a controlar os novos fluxos de emergência de arroz-vermelho na área.

No presente trabalho, pode-se observar, por ocasião da aplicação em pós-emergência, que o arroz-vermelho era menos desenvolvido nas parcelas tratadas no ponto de agulha, em comparação às parcelas não tratadas, apresentando plantas que tinham em média uma a duas folhas expandidas. Todavia, mesmo nas parcelas sem o tratamento prévio, as plantas dessa infestante tinham de 3 a 5 folhas, facilitando seu controle com quaisquer doses de imazethapyr+imazapic (Tabela 1). Noutros estudos, nos quais se avaliou a eficácia do mesmo herbicida sobre o arroz-vermelho com 2 a 4 folhas, o controle foi sempre superior a 98% (FLECK et al., 2001, VILLA et al., 2006). Os resultados obtidos indicam que o uso de herbicidas no ponto de agulha foi dispensável, provavelmente em decorrência do favorável estádio de controle do arroz-vermelho, umidade do solo e velocidade de irrigação da área para a atividade herbicida das imidazolinonas. Todavia, nas situações de lavouras comerciais, nas quais o manejo não pode ser tão otimizado, o uso de herbicidas no ponto de agulha traz grande flexibilidade e segurança ao orizicultor, uma vez que a lavoura é mantida com menor nível de infestação e com plantas de arroz-vermelho pouco desenvolvidas durante o início do período crítico de interferência da cultura.

A produtividade de grãos de arroz variou em função do efeito simples dos fatores 'doses de glyphosate' ou 'tratamentos com imazethapyr+imazapic', e teve amplitude situando-se entre 4.000 e 12.000 kg ha-1 (Figura 2). Ao se comparar as doses de glyphosate no tratamento sem aplicação de imazethapyr+imazapic, verifica-se que apenas a utilização do dessecante aumentou em mais de 40% a produtividade de grãos. Com exceção da testemunha sem aplicação, não se observaram diferenças significativas entre valores dessa variável explicativa com os diferentes tratamentos com imazethapyr+imazapic. Os resultados dessa variável refletem àqueles obtidos para a eficácia do controle de arroz-vermelho, sendo os maiores valores verificados nas parcelas com ausência da planta daninha.

O controle do arroz-vermelho com a associação de glyphosate e imidazolinonas durante o subperíodo semeadura-emergência pode trazer grande contribuição para a orizicultura no estado do RS. A utilização correta dessa prática permite ao orizicultor reduzir a infestação dessa espécie, facilitar o seu controle em pós-emergência e incrementar a produtividade de grãos. Além disso, há redução da chance de seleção de biótipos resistentes a herbicidas, por haver menor densidade populacional na área e rotação de mecanismos de ação (ROSO et al., 2010). Desse modo, é eficaz incluí-la nos programas de controle do arroz-vermelho que utilizam arroz Clearfield®, de modo a prevenir a ocorrência de biótipos resistentes às imidazolinonas e usufruir dos benefícios da tecnologia por maior período de tempo (GRESSEL & VALVERDE, 2009).

CONCLUSÃO

A aplicação de glyphosate por ocasião do início da emissão do coleóptilo das plantas de arroz cultivado ou 'ponto de agulha' reduziu a população do arroz-vermelho e aumentou a produtividade de grãos. O uso isolado de herbicidas imidazolinonas e sua associação com o dessecante proporcionou controle eficaz do arroz-vermelho e incrementou a produtividade de grãos, em comparação à situação sem controle da infestante, independente da dose e do sistema de aplicação.

Recebido 12.10.12

Aprovado 02.07.13

Devolvido pelo autor 01.10.13

CR-2012-0979.R2

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  • 1
    Autor para correspondência.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      19 Nov 2013
    • Data do Fascículo
      Dez 2013

    Histórico

    • Recebido
      12 Out 2012
    • Aceito
      02 Jul 2013
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