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Abordagem bioecológica e narrativas orais: um estudo com crianças vitimizadas

Ecological approach and fairy-tales: study with infant victims

Abordaje bioecológica y narrativas orales: un estudio con niños victimizados

Resumos

A partir de uma análise multifatorial do fenômeno da violência e respaldando-se em teorias que consideram a importância dos contos de fadas no desenvolvimento emocional infantil, realizou-se esta pesquisa com um grupo composto por três crianças vítimas de violência doméstica. Os objetivos do estudo foram: descrever o impacto das narrativas dos contos de fadas na emergência de conteúdos emocionais latentes, através das verbalizações das participantes durante as ações lúdicas, e traçar considerações a respeito do contexto em que a criança se desenvolve. Realizaram-se entrevistas semi-estruturadas com os cuidadores das crianças e intervenções junto ao grupo, a partir de sessões de contação de histórias e atividades simbólicas. Os resultados demonstram aspectos do microssistema, exossistema, mesossistema e macrossistema enquanto fatores de risco para a instalação da violência. Sugere-se ainda que as narrativas orais possam servir como suporte, reunindo em si um repertório de elementos que, ocasionalmente, despertam na criança conteúdos relacionados às vivências pessoais.

Violência doméstica; Contos de fadas; Desenvolvimento infantil


This study was carried out with a group of children, victims of domestic violence, based on the ecological perspective of multi-factorial analysis of the domestic violence phenomenon and theories that consider the importance of Fairy Tales in children's emotional development. The objectives were to describe the impact of Fairy Tales in the emergence of latent emotional content from playful actions; set considerations on the context in which the child is raised from an ecological perspective regarding the phenomenon. Semi-structured interviews were carried out with the children's parents and interventions with the group, sessions of storytelling and symbolic activities, were developed. The research results appoint to the familiar micro-system, exosystem, mesosystem and macro-system as risk factors for domestic violence. The compiled data suggest that oral narratives can work as a support, gathering a repertory of elements that awakes in children content related to their personal experiences.

Domestic violence; Fairy tales; Child development


Partiendo de un análisis multifactorial del fenómeno de la violencia y respaldándose en teorías que consideran la importancia de los cuentos de hadas en el desarrollo infantil, esta investigación se realizó con un grupo de niños víctimas de violencia. Los objetivos fueron: describir el impacto de las narraciones de los cuentos de hadas en la emergencia de contenidos emocionales latentes a partir de las verbalizaciones durante las acciones lúdicas y trazar consideraciones al respecto del contexto en que el niño se desarrolla. Se realizaron entrevistas semi-estructuradas con los apoderados de los niños e intervenciones junto al grupo a partir de sesiones de narrativa orales y actividades simbólicas. Los resultados apuntan aspectos del microsistema, exosistema, mesosistema y macrosistema, factores de riesgo para la instalación de la violencia. Se sugiere que las narrativas orales pueden servir como soporte, reuniendo en si un repertorio de elementos que, ocasionalmente, despiertan en el niño contenidos relacionados a las vivencias persones.

Violencia doméstica; Cuento de hadas; Desarrollo infantil


PESQUISAS EMPÍRICAS

Abordagem bioecológica e narrativas orais: um estudo com crianças vitimizadas

Ecological approach and fairy-tales: study with infant victims

Abordaje bioecológica y narrativas orales: un estudio con niños victimizados

Heliana Castro AlvesI; Maria Luisa Guillaumon EmmelII

IUniversidade Federal do Triângulo Mineiro, Uberaba-MG, Brasil

IIUniversidade Federal de São Carlos, São Carlos-SP, Brasil

Endereço para correspondencia Endereço para correspondência: Heliana Castro Alves Rua Paulo Kauhí, 33 Mercês CEP: 38060-650. Uberaba-MG, Brasil E-mail: helianasol@gmail.com

RESUMO

A partir de uma análise multifatorial do fenômeno da violência e respaldando-se em teorias que consideram a importância dos contos de fadas no desenvolvimento emocional infantil, realizou-se esta pesquisa com um grupo composto por três crianças vítimas de violência doméstica. Os objetivos do estudo foram: descrever o impacto das narrativas dos contos de fadas na emergência de conteúdos emocionais latentes, através das verbalizações das participantes durante as ações lúdicas, e traçar considerações a respeito do contexto em que a criança se desenvolve. Realizaram-se entrevistas semi-estruturadas com os cuidadores das crianças e intervenções junto ao grupo, a partir de sessões de contação de histórias e atividades simbólicas. Os resultados demonstram aspectos do microssistema, exossistema, mesossistema e macrossistema enquanto fatores de risco para a instalação da violência. Sugere-se ainda que as narrativas orais possam servir como suporte, reunindo em si um repertório de elementos que, ocasionalmente, despertam na criança conteúdos relacionados às vivências pessoais.

Palavras-chave: Violência doméstica. Contos de fadas. Desenvolvimento infantil.

ABSTRACT

This study was carried out with a group of children, victims of domestic violence, based on the ecological perspective of multi-factorial analysis of the domestic violence phenomenon and theories that consider the importance of Fairy Tales in children's emotional development. The objectives were to describe the impact of Fairy Tales in the emergence of latent emotional content from playful actions; set considerations on the context in which the child is raised from an ecological perspective regarding the phenomenon. Semi-structured interviews were carried out with the children's parents and interventions with the group, sessions of storytelling and symbolic activities, were developed. The research results appoint to the familiar micro-system, exosystem, mesosystem and macro-system as risk factors for domestic violence. The compiled data suggest that oral narratives can work as a support, gathering a repertory of elements that awakes in children content related to their personal experiences.

Keywords: Domestic violence. Fairy tales. Child development.

RESUMEN

Partiendo de un análisis multifactorial del fenómeno de la violencia y respaldándose en teorías que consideran la importancia de los cuentos de hadas en el desarrollo infantil, esta investigación se realizó con un grupo de niños víctimas de violencia. Los objetivos fueron: describir el impacto de las narraciones de los cuentos de hadas en la emergencia de contenidos emocionales latentes a partir de las verbalizaciones durante las acciones lúdicas y trazar consideraciones al respecto del contexto en que el niño se desarrolla. Se realizaron entrevistas semi-estructuradas con los apoderados de los niños e intervenciones junto al grupo a partir de sesiones de narrativa orales y actividades simbólicas. Los resultados apuntan aspectos del microsistema, exosistema, mesosistema y macrosistema, factores de riesgo para la instalación de la violencia. Se sugiere que las narrativas orales pueden servir como soporte, reuniendo en si un repertorio de elementos que, ocasionalmente, despiertan en el niño contenidos relacionados a las vivencias persones.

Palabras clave: Violencia doméstica. Cuento de hadas. Desarrollo infantil.

Introdução

Infância violentada, infância perdida, infância condenada: contempla-se em noticiários, jornais e periódicos, muitas facetas e aspectos desta condição. A violência contra a criança e o adolescente é definida por Guerra (1998, p. 32) como:

Todo ato ou omissão praticado por pais, parentes ou responsáveis contra crianças e/ou adolescentes que, sendo capaz de causar dano físico, sexual e/ou psicológico à vítima, implica, de um lado, numa transgressão do poder/dever de proteção do adulto e, de outro, numa coisificação da infância, isto é, numa negação do direito que crianças e adolescentes têm de ser tratados como sujeitos em condição peculiar de desenvolvimento.

Já Adorno (conforme citado por Guerra, 1998) define a violência como uma forma de relação social que está atada ao modo pela qual os homens produzem e reproduzem suas condições sociais de existência. A violência doméstica é inerente às relações interpessoais no contexto familiar, pressupondo-se uma hierarquização voltada para o poder social do adulto sobre a criança. Compreende-se, ainda, que as crianças de alto risco social são vitimadas pelo sistema sócio-econômico capitalista, que impõe um tipo de violência estrutural característica de sociedades marcadas pela desigualdade da distribuição de renda e pela dominação de classes. Estas crianças apresentam maior probabilidade de sofrer violação dos direitos humanos mais elementares. Minayo (2002) afirma que este tipo de violência é fruto de decisões histórico-econômicas e sociais que incidem sobre as condições de vida das crianças, tornando vulnerável seu crescimento.

Esta pesquisa compreende o fenômeno da violência numa perspectiva bioecológica levando-se em consideração a vulnerabilidade da criança em termos de condições de desenvolvimento e o sistema social envolvido. São enumerados vários fatores que podem atuar como estressores ou facilitadores para o desencadeamento da violência contra a criança, não sendo possível observar a presença apenas de um fator isolado, mas sim uma gama de fatores sociais, situacionais e psicológicos que atuam como facilitadores do abuso (D´Affonseca & Williams, 2003).

Perspectiva bioecológica nos estudos sobre violência doméstica

Muitos autores consideram a Abordagem Bioecológica do Desenvolvimento Humano de Bronfenbrenner apropriada ao se considerar o fenômeno da vitimização infantil (Belsky, 1980; Martins, 2005; Ceconello, 2003; Azevedo & Guerra, 1997). A Abordagem Bioecológica de Bronfenbrenner (1996/2002) estabelece quatro núcleos básicos que interagem entre si: pessoa, que se refere às características próprias e particulares de cada pessoa, suas crenças e a forma como ela responde aos estímulos ambientais; processo, que, basicamente, diz respeito aos aspectos psicológicos da pessoa em desenvolvimento relacionados à maneira como ela interpreta seu momento de vida; contexto, que compreende quatro subsistemas de análise, a saber o microssistema (ambiente imediato como a casa, a escola, etc), o mesossistema (relações entre os ambientes imediatos, como a relação entre a casa e a escola, a casa e o trabalho, etc.); o exossistema (interconexão entre sistemas não imediatos a pessoa em desenvolvimento não interage diretamente com o contexto em questão, mas recebe influência deste ambiente externo. Por exemplo: fatos no trabalho dos pais podem afetar o filho em casa) e o macrossistema (dimensões relativas às visões cultural, econômica, política, etc). Por último, o núcleo tempo engloba tanto os acontecimentos históricos quanto os pequenos episódios da vida cotidiana (Martinez, 2002). Todos os núcleos e sistemas possuem conexões e são interdependentes, devendo ser vistos em sua totalidade na percepção de cada indivíduo.

Belsky (1980) afirma que os maus-tratos infantis resultam da determinação múltipla de forças que atuam na família, no indivíduo, na comunidade e na cultura em que esse indivíduo e a família estão implicados. Azevedo e Guerra (1997) também aludem ao modelo bioecológico do desenvolvimento humano, afirmando que a vitimização infantil pode ser percebida a partir de dois modelos. O primeiro seria o modelo unidimensional, ancorado no pressuposto determinista da causalidade linear em que o componente desencadeador da violência ou abuso infantil seria o desvio (ou doença) de natureza individual (modelo psicopatológico) e social. Em contrapartida, o segundo modelo, descrito pelas autoras, seria o interativo que pretende "superar o simplismo do pressuposto unicausal, substituindo-o pelo da multicausalidade decorrente da interação de fatores macro (sistemas socio-econômico-político) e micro (história de vida dos pais versus estrutura e funcionamento familiar)" (p. 43). Cecconello (2003) ao realizar estudos qualitativos utilizando a Abordagem Bioecológica do Desenvolvimento Humano, concluiu que a pobreza e a violência existentes na comunidade tendem a potencializar os efeitos negativos associados com fatores de risco internos à família, como a violência doméstica, o alcoolismo e a depressão materna.

Ao estudar violência doméstica, parte-se do pressuposto de que determinadas práticas parentais podem ser consideradas risco para a instalação de abuso físico (Cecconello; De Antoni & Koller, 2003). Sabe-se que a punição física é ainda muito justificada no contexto familiar como uma prática educativa. As estratégias de socialização utilizadas pelos pais são denominadas por alguns autores de práticas educativas parentais (Gomide, 2003), sendo a prática autoritária a que oferece riscos para a instalação de abuso físico ou psicológico.

Assim, as condições oferecidas por determinadas práticas parentais desfavorecem as relações afetivas, importantes para a ocorrência dos processos desenvolvimentais, baseadas em reciprocidade, equilíbrio de poder e relação afetiva (Bronfenbrenner, 1996). Segundo Cecconello, De Antoni e Koller (2003), as relações de poder dentro da família influenciam amplamente os estilos parentais e as práticas educativas utilizadas. A falta extrema de afeto ou a rejeição gera conseqüências negativas para o desenvolvimento (Cecconello, De Antoni & Koller, 2003).

Ao se referir ao microssistema familiar e suas interconexões com outros sistemas no impacto para o desenvolvimento infantil, Bronfenbrenner (1996) afirma que a possibilidade de os pais apresentarem um desempenho efetivo na educação dos seus filhos depende das exigências dos papéis, dos estresses e dos apoios oriundos de outros ambientes. Assim, as avaliações dos pais de sua própria capacidade de funcionar estão relacionadas a fatores externos como flexibilidade dos horários de trabalho, presença de amigos e parentes apoiadores, qualidade de serviço social, dentre outros (Bronfenbrenner, 1996/2002).

A perspectiva bioecológica, portanto, oferece subsídios para uma compreensão sobre a pessoa em desenvolvimento no contexto em que ela está inserida e se faz particularmente pertinente quando nos referimos às crianças em situação de risco pessoal e social. Diante da complexidade do fenômeno da violência, esse deve ser compreendido ecologicamente, através da perspectiva social, familiar e pessoal (Garbarino & Eckenrode, 1997). Os fatores que contribuem para sua incidência são múltiplos, incluindo desde o nível microssistêmico na esfera pessoal e familiar até os fatores que operam o nível meso, exo, e macrossistêmico.

Cecconello e cols. (2003) descrevem as práticas coercitivas e crenças nos valores autoritários como fatores de risco para desencadear o abuso físico. Da mesma forma, o desemprego, a pobreza e a violência que operam no nível do macrossistema, contribuem para que as famílias não tenham acesso a recursos básicos como saúde, educação e trabalho, o que limita as possibilidades de estabelecimento de redes de apoio no mesossistema. Estes fatores podem levar ao isolamento da família e, conseqüentemente, ao abuso familiar (Cecconello e cols., 2003). Portanto, na perspectiva social, o risco de abuso físico está relacionado ao isolamento social e afetivo e a eventos de vida estressantes, além de ausência de uma rede de apoio. A riqueza dos mesossistemas, o conjunto de microssistemas pela qual a criança transita, mensurada a partir da quantidade e qualidade das conexões, auxilia na criação de uma rede de apoio social. Neste caso, a criança transita de papéis por vários ambientes favorecendo seu desenvolvimento. Segundo Garbarino e Eckenrode (1997), se existe escassez de ambientes e falta de conexão entre eles, o mesossistema não se configurará como uma rede, produzindo um fator de risco. Para Koller (1999), os fatores de risco presentes no nível macrossistêmico são: aceitação cultural da violência, visão cultural de posse da criança, ausência de comprometimento com os direitos da criança e da mulher e violência na mídia.

Ao partir para o nível microssistêmico, observa-se em famílias que apresentam risco para a instalação de abuso físico um desequilíbrio de poder justificado pela prática disciplinar, além de falta de reciprocidade/ afeto entre seus membros e, em alguns casos, alto nível de conflito conjugal. A maternidade solteira (famílias uniparentais), maternidade na adolescência e ausência do pai também configuram no nível microssistêmico condições favoráveis para a ocorrência de abuso intrafamiliar, além de fatores pessoais como personalidade hostil, doença mental ou transtorno de humor por parte dos abusadores (Cecconello e cols., 2003). A experiência dos pais na sua família de origem também pode representar um risco para a adoção de práticas parentais coercitivas. Pais que receberam educação severa e/ ou foram vítimas de maus tratos na infância apresentam maior risco de repetir a experiência com seus próprios filhos (Belsky, 1980). É a chamada transmissão inter-geracional da violência.

Em consonância à teoria elucidada por Bronfenbrenner, é importante a referência do núcleo pessoa características próprias e respostas frente aos estímulos ambientais neste caso, o contexto da violência intrafamiliar. Assim, acredita-se que o comportamento lúdico da criança, podendo ser subsidiado pelo recurso dos contos, reflete este núcleo. Dentro deste universo, aborda-se a importância das narrativas orais no desenvolvimento infantil, uma vez que este foi o instrumental utilizado para a compreensão e detecção da realidade e contexto em que as crianças se desenvolvem. Os dois estudos são articulados a partir do questionamento sobre o potencial do recurso das narrativas orais para a expressão e elaboração da vulnerabilidade vivida, em termos de condições de desenvolvimento.

Atividades simbólicas e contos de fadas: relevância para o desenvolvimento infantil

A atividade lúdica, de forma geral, abrangendo desde a utilização de jogos, brincadeiras e brinquedos, é entendida como a principal manifestação da criança pequena, assumindo papel importante para o desenvolvimento de aspectos sensório-motores, sócio-emocionais e cognitivos, além de representar a inserção da criança na cultura em que está inserida (Alves, 2007).

Os jogos simbólicos fazem com que a criança conheça e expresse sua cultura, por meio de brincadeiras que retratam seu cotidiano, possuindo uma função socializadora. Neste tipo de ação lúdica, ao se inserir nos jogos de faz-de-conta, a criança se utiliza de esquemas simbólicos, organizando as idéias e penetrando no mundo da cultura, no qual os acontecimentos/ações do brincante possuem significações (Vanícola, 2000).

A brincadeira, portanto, constitui um espaço de aprendizagem onde a criança age além do seu comportamento cotidiano e faz com que experimente diferentes papéis sociais generalizados a partir da observação do mundo dos adultos. Além disso, ultrapassando o fato da atividade lúdica se constituir em um espaço de conhecimento sobre o mundo externo, é no brincar que a criança pode conviver com os diferentes sentimentos que fazem parte de sua realidade interior. Em relação aos primeiros seis anos de vida, Oliveira (2002) chama atenção para o fato de que o brincar do ser humano desta faixa etária tem uma significação especial, uma vez que é condição de todo o processo evolutivo neuropsi-cológico saudável e também por ser veículo da manifestação da forma como a criança está organizando sua realidade e lidando com seus conflitos. Além disso, o brincar introduz a criança de forma gradativa, prazerosa e eficiente no universo sócio-histórico-cultural e embasa o processo de ensino/aprendizagem favorecendo a construção da reflexão, da autonomia e criatividade (Oliveira, 2002).

Considerando ainda que no período pré-operacional surgem atividades recreativas de faz-de-conta, intensificando-se a recreação simbólica principalmente entre quatro a seis anos, os contos nesta fase podem mostrar à criança, em uma linguagem acessível, questões humanas, que ela vivencia, mas não tem condições de compreender. Estas narrativas dão forma aos seus desejos e emprestam-se como um cenário de seus sonhos, aguçando sua imaginação e favorecendo seu processo de simbolização, tão necessário à sua inserção em mundo civilizado e cultural (Radino, 2003).

A utilização de técnicas de contação de histórias auxilia no desenvolvimento da capacidade da imaginação, ou seja, na representação de imagens. (Fazio, 2000). O método de contação de histórias ainda pode favorecer o desenvolvimento emocional da criança uma vez que é possível negociar e renegociar os significados por meio da mediação das técnicas narrativas. Assim, o ato de contar histórias pode ser útil para elucidar a interpretação da criança sobre um possível evento que seja perturbador para ela e também para dividir o significado que a criança reserva para tais eventos. Para a autora, a capacidade da criança usar a representação ou a fantasia, como habilidade de lidar com o mundo, pode ser encorajada por terapias que envolvam o ato de contar histórias (Fazio, 2000).

Neste sentido, Castelo Branco (2001) investigou o que acontece com a inserção de livros de histórias infantis na relação terapêutica da ludoterapia sob a Abordagem Centrada na Pessoa, discorrendo sobre a viabilidade deste recurso na facilitação das sessões terapêuticas da criança. Concluiu que a história infantil é um recurso facilitador do estabelecimento do "rapport" na relação terapêutica e que através da relação terapeuta-história-criança houve a identificação da criança com conteúdos da história, o que facilitou a expressão de sentimentos importantes e de conteúdos problemáticos.

Gutfreind (2003) realizou um estudo a partir de um ateliê de contos com crianças carentes afetivas, em situação de abrigo, separadas de seus pais na França e constatou efeitos terapêuticos sobre sua vida imaginária, a partir de registros em forma de relatórios e alguns instrumentos avaliativos como o CAT, Escala de Perfil Sócio-Afetivo e desenhos.1 1 Gutfreind (2003) realizou as mesmas sessões com dois grupos: um grupo controle e um grupo experimental. As crianças primeiramente ouviam a história (tradicional ou contemporânea) para depois desenharem, brincarem com massinha e/ ou dramatizarem. Na conclusão do estudo, Gutfreind (2003) demonstrou a comparação dos resultados dos testes psicológicos aplicados antes e depois do ateliê de contos. O CAT revelou, entre outros itens, melhora no nível dos discursos; presença de uma atividade de fantasia mais rica; mais verbalizações de afetos. A seqüência das sessões realizada no estudo de Gutfreind (2003) revelou, de forma geral, a utilidade dos contos na expressão dos sentimentos, uma vez que são verbalizados pelas crianças por meio de comentários, através de projeções e identificações com os personagens. Reconhece-se que o potencial metafórico do conto permite, com um distanciamento seguro para que os sentimentos sejam ditos e elaborados. Gutfreind (2003) também relatou o caso de uma criança vitimizada que desenhou João e Maria recebendo sevícias físicas.

A utilização da atividade de contar histórias e o faz-de-conta se evidencia pelas possibilidades de representação simbólica contribuindo para o desenvolvimento integral da criança nos aspectos sócio-emocionais e cognitivos, devendo ser explorada em pesquisas que se fundamentem teoricamente nas contribuições para a clínica e ações territoriais junto às crianças que sofrem riscos pessoais e sociais e suas famílias.

Este estudo teve por principal objetivo traçar considerações a respeito do contexto em que a criança vítima de violência se desenvolve, a partir de uma visão bioecológica sobre o desenvolvimento. A partir destes dados, verifica-se se os conteúdos trazidos pelas crianças em sessões de narração de histórias e atividades simbólicas, refletem sua realidade de vida e vivências pessoais nas ações lúdicas desenvolvidas.

Método

Participantes

Participaram deste grupo três crianças do sexo feminino e seus cuidadores, com idades que variavam entre cinco e sete anos. As três participantes foram encaminhadas através do Conselho Tutelar de Francisco Morato. C1 (sete anos) sofreu violência sexual de um tutor, sendo abrigada em decorrência da violência sofrida. C2 (cinco anos) e C3 (seis anos) sofreram violência física da mãe, sendo que ambas continuam sob a tutela materna. As crianças C1 e C3 realizaram exame de corpo delito, constatando-se o grau da violência sofrida.

Os genitores entrevistados tinham entre 29 e 35 anos de idade, tendo como escolaridade máxima, a 8ª série do ensino fundamental. Quanto ao estado civil, duas das mães estavam separadas do genitor por ocasião da ocorrência (C1 e C3) e uma era solteira (C2). Em consonância com a teoria de Bronfenbrenner, elegeram-se os temas: história regressa familiar; rede social de suporte; ambiente familiar (configurações familiares e fatores de estresse); influências externas (trabalho materno, vizinhança, apoio familiar, crenças sobre educação).

Procedimentos

A coleta de dados se dividiu em duas fases. Na primeira fase foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com os pais ou cuidadores das crianças, revelando-se aspectos da história de vida da criança em seu contexto familiar e social. Os dados das entrevistas ofereceram suporte para o entendimento da criança no seu contexto de desenvolvimento, o que possibilitou maior compreensão dos conteúdos verbalizados e ações por ela desenvolvidas durante as sessões lúdicas.

A segunda fase de coleta de dados consistiu na realização de 14 sessões de narrativas orais de contos-de-fada e atividades simbólicas, que tiveram duração média de 60 minutos, sendo filmadas e transcritas na íntegra, descrevendo-se as ações lúdicas e os conteúdos verbalizados das participantes da pesquisa. Os contos trabalhados foram: "Carmelo, o caramujo"; "Bruxa Salomé"; "João e Maria"; "Cinderela", "Noiva de Verdade"; "Bicho Peludo"; "Branca de Neve"; "Irmão e Irmã". Neste artigo serão relatados apenas o impacto de alguns destes contos.

Análise de dados

Para análise e tratamento de dados utilizou-se o sistema de análise de conteúdo e análise temática (Bardin, 1977), sendo que os textos e imagens foram desmembrados em unidades de registro. Como referencial teórico, utilizou-se a Abordagem Bioecológica do Desenvolvimento Humano de Urie Bronfenbrenner e pressupostos teóricos da psicanálise que validam a importância e pertinência das atividades simbólicas e narrativas orais para o desenvolvimento infantil.

Resultados e Discussão

Entrevistas com familiares

As três mães entrevistadas revelaram na entrevista que sofreram violência física (C2, C3 e C1) e sexual (C1) na infância. As mães de C2 e C3 relataram práticas parentais baseadas em punição física freqüente perpetrada por suas genitoras, sendo que a mãe de C2 fugiu de casa aos 12 anos de idade e a mãe de C3 foi expulsa aos 11 anos. A mãe de C1 relatou que aos três anos foi abandonada em um orfanato por sua mãe, que dali a retirou, quando contava com oito anos. Inicialmente morava com o avô, passando a morar mais tarde com os pais. Nesta época sofreu violência sexual do pai, além de freqüentes e intensas punições físicas por parte da mãe e pai (com vara, cinto e galho com espinhos).

As análises das entrevistas corroboram, portanto, com dados da literatura que aludem à transmissão intergeracional da violência, ou seja, a repetição de um ciclo de violência nas gerações futuras, no caso de C2 e C3. É comum que pais vitimizados, vitimizem seus filhos, constituindo um fator de risco para a violência doméstica (Guerra, 1998; Salomon, 2002). Patterson e Cappaldi (1991) confirmam que as práticas educativas ineficazes contribuem para o desenvolvimento de um traço de personalidade anti-social que, futuramente, compromete a habilidade paterna e materna para educar de forma efetiva os filhos.

No entanto, no caso da família de C1 (que sofreu violência sexual por parte de tutor não consangüíneo), os pais das crianças citam práticas parentais adequadas de disciplinamento (diálogo indutivo), adotando um discurso de aversão à forma violenta como foram educados na infância, não desejando repetir a experiência com seus filhos.

aí um dia eu falei...o dia que eu tiver minhas filha eu não vou criar desta mesma forma não...só batendo... vou dar uma reviravolta... as minhas filhas eu pego e falo assim: não pode (...) eu sento com elas e converso: olha, vocês não pode mexer ali porque mamãe e papai briga... agora, quando não dá eu dou uns grito: "pára com isso"... (mãe de C1).

Cecconello e cols. (2003) apontam que a não repetição da violência entre as gerações futuras pode indicar a existência de processos de resiliência, tendo como um dos fatores para o seu favorecimento, a manutenção de um relacionamento positivo durante a infância. Neste sentido, a mãe de C1 revela na entrevista que teve na figura do avô materno um importante apoio emocional durante sua infância, sentindo-se amparada e segura.

Em relação à rede social de suporte, como pode ser observado a seguir, as três famílias percebem falta de suporte da família, da vizinhança e da comunidade. Ao serem questionadas sobre possibilidades de ajuda, respondem que não são ajudadas por ninguém ou que contam com poucas pessoas no dia-a-dia.

A percepção da falta de apoio de uma rede social e o isolamento social também são indicados por alguns estudos como fatores que podem predispor à violência doméstica. Belsky (1984) afirma a importância das redes de apoio social nas comunidades, já que essas contribuem diretamente para a resiliência familiar. O apoio social, ao contribuir para o bem-estar emocional dos pais, influencia o relacionamento entre esses e filhos e, consequentemente, as práticas educativas utilizadas. Segundo Cecconello (2003), a ausência de uma rede de apoio contribui para o isolamento social das famílias, aumentando o risco para a instalação da violência doméstica.

A falta de uma rede social de suporte foi constatada nas três famílias, principalmente a falta de apoio familiar e da comunidade. A fragilidade de apoio social e o isolamento social podem ser constatados no trecho da entrevista a seguir:

(...) ninguém, não conto meus problemas para ninguém, não conto minha vida para ninguém, só para Deus confio pra contar meus problemas... porque aqui é um lugar que ninguém dá atenção... aqui eles não têm nada pra oferecer pra gente (...) não confio, não confio, não confio... só confio em Deus (mãe de C2).

A mãe de C2 revela ainda a presença de hostilidade e violência na vizinhança, o que contribui negativamente no desenvolvimento da criança. Relata que os vizinhos jogam pedras e as agridem verbalmente e fisicamente, chegando a tentar matar a mãe em uma ocasião. Uma comunidade hostil e violenta gera sentimentos negativos nas famílias, enquanto uma comunidade benevolente e apoiadora encoraja as famílias a funcionarem efetivamente, sofrendo menos com as adversidades do ambiente. A violência existente na comunidade impede que as famílias estabeleçam um vínculo positivo entre si, não se beneficiando de redes de apoio social. Este fator, quando adicionado a outros fatores de risco como a pobreza, tende a potencializar os efeitos negativos associados a fatores de risco internos à família, como a violência doméstica, alcoolismo e a depressão materna (Cecconello, 2003).

As entrevistas também constataram que a cultura na qual os pais foram educados, os valores e as crenças transmitidas por suas famílias de origem, bem como a sociedade atual onde se vive, interferem na maneira como educam seus filhos. Este é um fator presente que revela a influência do macrossistema, composto pelo padrão global de ideologias, crenças, valores, religiões, formas de governo e subculturas que influenciam o contexto vivenciado na atmosfera familiar e, consequentemente, no desenvolvimento humano (Bronfenbrenner, 1996/2002). A mãe de C2 citou a Bíblia, dizendo que essa "ensina a dar varadas na criança" com o propósito de educá-la.

(...) quando vê, você já deu uma cintada, um tapa... uma varada (...) tem hora que precisa levar uma varada (...) cê sabe disso, ou não sabe? Que umas boas varadas... a Bíblia mesmo nos ensina: nas pernas e no bumbum resolve. (mãe de C2).

É possível constatar através das entrevistas, outros fatores relacionados tanto ao microssistema familiar quanto ao exossistema, que contribuem negativamente nas práticas parentais adotadas pelos pais. A mãe de C3 estava na ocasião separada do segundo marido recentemente, relatando situações de stress em relação a este relacionamento. Na ocasião do espancamento denunciado, a genitora relata que naquele dia estava muito irritada porque tinha discutido com seu ex-marido. Este fato parece denotar a questão da falta de apoio conjugal nas relações entre os pais como um importante fator de risco para as práticas educativas inadequadas perpetradas pelo principal cuidador.

Bronfenbrenner (1996/2002) afirma que a separação pode perturbar a relação entre pais e filhos, prejudicando a capacidade daqueles no desempenho de funções socializadoras, com a competência devida, junto a esses. Bronfenbrenner descreve três condições básicas para avaliar os efeitos do divórcio sobre o desenvolvimento das crianças: a relação afetiva, a reciprocidade e o equilíbrio de poder. A situação de separação e divórcio gera um clima emocional negativo, sendo que a conseqüente diminuição no nível de reciprocidade na relação torna mais difícil o equilíbrio de poder, configurando a situação de desobediência dos filhos.

Evidencia-se que eventos de vida estressantes, como por exemplo, os desafios associados ao divórcio e ao recasamento, aumentam o stress parental, produzindo, ocasionalmente, depressão, ansiedade, irritabilidade e, principalmente, uma interferência na capacidade dos pais para o desempenho de suas funções parentais, ocasionando problemas de comportamento nos filhos. Após o divórcio os pais tendem a ser menos consistentes com relação às práticas educativas: um pai ou uma mãe estressada podem ter dificuldade no atendimento às demandas de uma criança carente (Hetherington & cols., 1998 citado por Cecoccelo, 2003).

Na Abordagem Bioecológica do Desenvolvimento Humano de Urie Bronfenbrenner, preconiza-se que o exossistema (ambientes que a pessoa não freqüenta como participante ativo) pode desempenhar uma influência sobre seu desenvolvimento (Bronfenbrenner, 1996/2002). Em sua teoria, este autor destaca três exossistemas que influenciam os processos familiares e conseqüentemente, o desenvolvimento da criança: o trabalho dos pais, a sua rede de apoio social e a comunidade em que está inserida.

Alguns fatores do exossistema influenciam negativamente o desenvolvimento de uma criança como pode ser percebido na família de C2. A restrita rede de apoio social, a comunidade violenta e hostil e o trabalho como vendedora ambulante podem ser contemplados na análise intrafamiliar. Quanto ao trabalho materno, é possível observar três configurações: negligência (deixando-a sozinha em casa), exigência além das possibilidades físicas e biológicas de uma criança de cinco anos (levando-a à pé para lugares possivelmente distantes por tempo prolongado), ou apoio inconstante por parte de uma vizinha que manifesta negação de cuidados frente aos problemas de comportamento de C1 . A família de C1 também manifesta que na ocasião do atentado violento ao pudor sofrido por sua filha, não tinha uma rede social de suporte confiável.

Por outro lado, nas configurações do contexto vivenciado por C3 encontramos uma situação diferente: após a denúncia ao Conselho Tutelar e o início do processo junto ao fórum, a mãe foi orientada pelo conselho a receber tratamento psicológico vinculado à rede, além de voltar a trabalhar (na época da denúncia vivia exclusivamente da pensão dos filhos). O trabalho teve um reflexo positivo, segundo o relato da mãe:

(...) uma hora resolvi trabalhar por conselho do Conselho Tutelar, para arranjar alguma coisa para fazer, para não ficar só ali junto deles... é bom trabalhar... a gente está um pouco distante e quando está perto é só parte boa que a gente vê, a gente não fica olhando aqueles defeitinhos, a baguncinha por toda casa o dia inteiro (...) (mãe de C3).

Para a criança, o trabalho materno constitui o exossistema e exerce influência significativa, mesmo que indireta, no seu desenvolvimento. Ao abordar este aspecto, alguns autores apontam para o trabalho materno como fator de proteção para a incidência de um estilo autoritário na educação dos filhos. Estudos afirmam que as mães empregadas são significativamente menos autoritárias, menos permissivas e mais autoritativas que mães desempregadas; que mães empregadas são significativamente menos deprimidas que as desempregadas; e que quanto maior a depressão, maior o autoritarismo e a permissividade (Bolsoni-Silva, 2003). Estes estudos corroboram com os dados desta pesquisa uma vez que o trabalho é percebido, pela mãe de C2 como uma importante fonte de apoio social e bem-estar, melhorando seu relacionamento com os filhos ao afastar-se do estresse do dia-a-dia.

Eu acho que eles me dão mais carinho. Apesar de pouco tempo, é pouco tempo, só de carinho. Aí eu chego em casa, daí a C3 procura deixar os brinquedinhos assim arrumadinhos... porque a coisa que eu mais brigo com ela é em relação a espalhamento de brinquedos...então ela já deixa tudo arrumadinho... ela tem prazer de me mostrar. (mãe de C3).

A descrição desta cena familiar após a intervenção do Conselho Tutelar e o início de uma nova rotina que se estabeleceu em função do trabalho materno, revela um esforço, por parte da mãe e da criança, em reconstituir a relação familiar a partir de negociações de comportamentos (arrumar brinquedos), e, principalmente, baseando-se na emissão de afeto (carinho). Estes comportamentos (da mãe e da criança) constituem-se em fatores favoráveis para o desenvolvimento de C3, a partir da possibilidade de uma nova configuração da vivência familiar.

A transmissão intergeracional foi constatada nas famílias de C2 e C3, não constando, por outro lado, nas práticas educativas da família de C1, que sofreu atentado ao pudor por parte de um tutor. Fatores estressantes como a maternidade solteira e o divórcio foram revelados nas famílias de C2 e C3, como possíveis fatores que influenciam o relacionamento entre mãe e filhos. Já o trabalho materno foi citado na família de C1 e C2 como um fator de risco para a criança, configurando situação de negligência, e mencionado, no entanto, como um fator de proteção pela mãe de C3, possibilitando um contato mais positivo entre mãe e filhos.

A identificação de alguns aspectos das condições de vida e desenvolvimento das participantes ofereceu indícios de como cada criança que brinca se percebe no seu ambiente, demonstrando a visão que tem de si própria. Essa relação fica aparente a partir dos conteúdos que foram despertados pelos contos narrados durante as intervenções realizadas. Assim, o estudo do contexto de desenvolvimento a partir das entrevistas, possibilitou compreender a criança durante a atividade lúdica. O conteúdo por ela narrado em forma de brincadeira ou nas conversas após o conto, apresentou em alguns momentos, como será destacado a seguir, semelhanças com o enredo da sua própria história.

Impacto das narrativas orais nos conteúdos expressos durante o faz-de-conta

Entre as contribuições das narrativas da tradição oral para a formação da criança, Bettelheim (1980) enfatiza a importância dos contos de fada para o desenvolvimento emocional da criança. Os contos de fadas têm como função alimentar os recursos internos de que a criança necessita para lidar com seus problemas interiores.

O impacto das narrativas sobre os conteúdos verbalizados durante as sessões pôde ser observado de diferentes formas em cada participante. As análises das sessões de contação de histórias mostraram como as participantes se expressaram a partir da narração dos contos-de-fada durante as atividades simbólicas.

C1 não apresentou no faz-de-conta cenas diretamente relacionadas à violência sexual. No entanto, após a narrativa de Bicho Peludo2 2 Neste conto a rainha morre no início e diz ao rei que ele só poderia voltar a casar-se com alguém mais bela do que ela. A princesa cresce e supera a beleza da mãe, despertando os desejos libidinosos do rei que passa a desejar desposá-la. A moça foge do palácio. , a participante revelou desejo de ouvir a história várias vezes. Após ouvir a história, C1 organizou os objetos utilizados pela pesquisadora para narrar o conto. Isto parece se relacionar com uma necessidade de organizar os elementos e reestruturar sequencialmente a narrativa para que suas significações se tornem presentes. Após este movimento, C1 solicitou que a pesquisadora contasse novamente a história, principalmente a parte em que a princesa foge do castelo e é resgatada por uma carruagem real no meio da floresta. A significação desta parte do enredo é sugerida fortemente pela expectativa já sinalizada anteriormente e também por sua interrupção no momento exato em que a princesa é encontrada. Ao chegar no trecho da história em que a princesa foge e é encontrada pelos caçadores, a participante repete as palavras da heroína ("Por favor, não quero mal em mim"), ou seja, empresta sua voz para a protagonista, demonstrando as bases de identificação que constrói a partir do conto narrado. Ao ser questionada pela pesquisadora de que mal falava, a participante respondeu : "Mal que acontecia com ela (...) ela sofria (...) porque ela era filha, mas o pai dela fazia tudo com ela" (sessão 9). Azevedo e Guerra (1988) discutem a semelhança deste conto com aspectos da vida de crianças que sofrem este tipo de violência: desde a reação de pavor da heroína diante da proposta criminosa que implica na erotização das relações pai-filhas, até os sentimentos contraditórios que acompanham a proposta e a fuga do destino trágico por parte da princesa.

A brincadeira de faz-de-conta não representou a violência de abuso sexual sofrida por C1, contrariando alguns estudos (Mello, 1999) que revelam que a criança vítima de violência sexual poderia apresentar um conjunto rígido de comportamentos de brincar, representando o trauma vivido de modo repetido e inconsciente. A não-expressão direta da violência pode ser compreendida, de um lado, se avaliarmos os seguintes fatores: primeiro que a violência se passou no ano anterior ao início da coleta de dados (aproximadamente 12 meses antes), e a duração do abuso foi relativamente curta (quatro ou cinco meses), diminuindo sua gravidade. Segundo D´Affonseca e Williams (2003), variáveis descritas por pesquisadores como amenizantes do impacto do abuso sexual infantil são avaliadas: um agressor ou múltiplo agressores, freqüência e duração do abuso, o relacionamento com o agressor, a intensidade da violência empregada, o grau de apoio da família, entre outros.

Por outro lado, Bettelheim (1980) afirma que apesar dos objetos serem usados para incorporar vários aspectos complexos, inaceitáveis e contraditórios da personalidade da criança, algumas pressões inconscientes, justamente pelo nível de contradição, periculosidade e desaprovação social, não se prestam a isso, não sendo possível serem colocados na própria brincadeira. Acredita-se que o aspecto vitimizado da personalidade da criança também contenha em si um alto nível de conflito e de sentimentos contraditórios com as quais muitas vezes ela não consegue lidar. Neste sentido, ouvir um conto e falar sobre ele pode, por si só, representar uma via de expressão importante para a criança.

O tema de fuga é recorrente nas diferentes formas de expressão lúdica da participante C2. Na sessão em que foi narrada a história da Bruxa Salomé, C2 escolheu o castelinho de madeira e os tecidos utilizados em outra sessão. Começou a relatar, espontaneamente, um dos seus episódios de fuga. Relata que foi encontrada, levada para um abrigo e resgatada pela mãe dias depois. O conteúdo narrado por C2, relacionado à sua experiência de fuga tem algumas semelhanças com o conto. No conto existe uma mãe que sai e deixa os filhos sozinhos em casa, como ocorre, ocasionalmente com ela e sua irmã. Na situação relatada, C2 e a irmã fugiram e foram parar em um abrigo em São Paulo, assim como as crianças do conto que foram para outra casa, a casa da bruxa. A participante e sua irmã foram resgatadas pela mãe algum tempo depois, aspecto este que também se assemelha aos elementos presentes no conto, quando a mãe vai buscar os filhos na casa da bruxa. Além disso, o conteúdo verbalizado por C2 parece intimamente relacionado com a forma como ela brinca: fechando e abrindo o castelinho, colocando e retirando objetos de dentro dele. O conto narrado não precisa necessariamente ter relação com a vida concreta da criança (Bettelheim, 1980), sendo possível uma utilização simbólica por parte dela. Neste caso, porém, a evidência da relação entre conto e o relato de fuga, leva a considerar as possibilidades que o conto oferece para enquadrar, mesmo inconscientemente, as experiências vivenciadas pela criança.

Bettelheim (1980) afirma que os contos oferecem um sentido a situações em que as crianças têm ou tiveram ocasião de viver, caracterizando assim o aspecto terapêutico. Em concordância com este autor, Gutfreind (2003) completa esta afirmação ao dizer que este recurso auxilia a transformação do conteúdo inconsciente em fantasias representáveis.

A participante C2, em todas as histórias, demonstrava alívio e alegria sempre que a bruxa ou madrasta da história morria. Expressar o desejo da morte da madrasta punitiva e o seu júbilo quando isso ocorre parece ter sido importante para esta participante. Suas pulsões e seu conteúdo inconsciente, como certos sentimentos nocivos, ganharam a vestimenta de um personagem e de um enredo, possibilitando a representação consciente de alguns conflitos. Em praticamente todas as histórias, C2 verbaliza que a melhor parte da narrativa é a morte da madrasta ou da bruxa, expressando alívio e euforia quando isso ocorria durante a contação.

Ao discorrer sobre as bruxas e os personagens cruéis dos contos de fadas, Bettelheim (1980) afirma que a punição cruel de uma pessoa malvada nos contos de fadas oferece segurança à criança, ou seja, "quanto maior a severidade com que se lida com os maus, tanto mais segura se sente a criança." (Bettelheim, 1980, p. 174).

A possibilidade de vivenciar o personagem Bruxa, jubilando-se com sua morte, se deve ao fato de o conto oferecer a possibilidade de um distanciamento através da sua linguagem metafórica, permitindo as identificações e até as representações parentais, sem que haja ameaça direta destas fantasias sobre o mundo da criança (Bettelheim, 1980; Gutfreind, 2003).

Gutfreind (2003) acrescenta que, a partir dos contos, as crianças retomam seu fio narrativo e relacional. "Isso porque os contos falam de tudo sem nada ameaçar e, por metáforas, podem trazer histórias terríveis, mas que, dentro do conto, deixam de ser ameaçadoras." (Gutfreind, 2003, p. 147). Para o autor, os contos populares funcionam como um reservatório de medos: o medo de ser abandonado, o de estar só, o de morrer, o de matar, o de ser preterido a um irmão e, enfim, o medo maior, que é o de não ser amado. (Gutfreind, 2003). Todos os contos pareceram trazer à tona medos reais que a criança C2 vive no seu dia-a-dia, tendo sido expressos em suas brincadeiras recorrentes, cuja temática era ficar só, esperando uma mãe que nunca chega em casa.

Outra forma de manifestar conteúdos relacionados às vivências pessoais foi a utilização, por parte de C2, da mala de madeira. C2 criou uma expressão lúdica que se repetiu nas sessões seguintes, em que se trancava dentro de uma mala e dizia que aquela era a sua casa e que estava sozinha, fazendo serviços domésticos enquanto aguardava a chegada de sua mãe. A repetição desta temática de esperar, dentro da mala, a mãe chegar parece se relacionar aos períodos em que C2 foi deixada sozinha em casa pela mãe quando essa não podia levá-la junto para o seu trabalho nos períodos em que não ia à escola. Durante o ano de 2005, ao ser deixada sozinha em casa, C2 fugiu com a irmã, e, algumas vezes sozinha, sendo sempre encontrada pelo Conselho Tutelar ou pela polícia, dentro do município ou mesmo fora3 3 No conto "Irmão e Irmã", as crianças fogem de casa diante dos maus-tratos da madrasta-bruxa. Durante essa sessão, C2 reforçou a utilização da mala como uma casa (e cama), e a necessidade de ser cuidada. .

Já a participante C3 quase não verbalizou em nenhuma das sessões. Ouviu as histórias atentamente, mas seu faz-de-conta em muitos momentos mostrou-se dependente de C1 para manifestar um conteúdo mais fortemente ligado à atividade de representação simbólica. Nas brincadeiras de casinha, tema que ficou mais intenso a partir da quinta sessão após a história da Cinderela, C3 manteve-se sempre, invariavelmente no papel de filha de C1. Nestes momentos representava uma filha obediente e passiva às ordens maternas, silenciosa, obedecendo prontamente seus mandos. Em muitos episódios de faz-de-conta, C3 estabeleceu com C1 cenas muito harmoniosas, dramatizando cenários familiares, como jantar, almoço e café-da-manhã, trabalho e escola, na representação uma situação calma do dia-a-dia. A pergunta que se fica é se suas ações lúdicas munidas de uma boa representação parental, e antes de tudo, de ótimos comportamentos por parte de uma filha, revelam a representação do seu dia-a-dia ou sua necessidade de resgatar a figura da mãe, reconciliando-se com ela, numa convivência pacífica. É interessante lembrar que na entrevista, a mãe revelou aspectos do cotidiano que têm melhorado, na relação com os filhos, diante as orientações do Conselho Tutelar e o acompanhamento com psicólogo da rede. Assim, a criança que arruma os brinquedos para deixar a mãe feliz quando chega atualmente do trabalho parece ser a mesma que brinca de obedecer às ordens maternas durante as sessões lúdicas.

Considerações finais

Ao realizar uma análise a partir de um referencial teórico que possibilitasse uma visão mais abrangente do contexto de desenvolvimento na infância, este artigo buscou compreender um pouco da realidade de uma amostra de crianças que sofreu algum episódio de violência, estendendo para os diversos núcleos que interferem e que podem estar relacionados com as condições de vida de crianças em situação de risco pessoal.

Ao longo do artigo foi possível observar aspectos micro, meso, exo e macrossistêmicos que podem atuar como fatores de risco ou proteção. Foram analisados fatores microssistêmicos (transmissão intergeracional da violência), fatores do mesossistema (como a relação com a vizinhança hostil), do exossistema, em que o trabalho materno constituiu um fator de risco para duas participantes, ao mesmo tempo em que representou um fator de proteção para o desenvolvimento de uma das participantes e do macrossistema (a cultura em que as famílias se inserem e a crença na punição física como uma prática educativa eficaz).

De modo geral, ao considerar e constatar a influência da cultura enquanto um fator muito determinante na instalação da violência, ressalta-se a importância de ampla conscientização social sobre violência intrafamiliar em campanhas publicitárias, programas de orientações contínuas dentro de equipamentos das Unidades de Saúde da Família, hospitais, entre outros equipamentos sociais que possibilitem uma mudança de valores e idéias que estão, ainda hoje, relacionados às formas de se educar uma criança (Alves, 2007; Ferrari & Vecina citado por Santos & More, 2006). É possível ainda intervenções através de programas preventivos em escolas, igrejas e centros comunitários, já que constituem aparatos institucionais e físicos importantes na constituição do mesossistema, sendo coadjuvantes na promoção do desenvolvimento da criança. Por último, a criança que sofre violência não pode deixar de ser contemplada diretamente, através de acompanhamento em equipamentos sociais e de saúde. Aliado a estes programas, o tratamento psicoterápico dos pais, quando possível, deve ser incentivado no tratamento de famílias que sofrem o problema da violência, possibilitando que estes revejam suas infâncias. Para famílias que não têm acesso a este tipo de serviço, as intervenções do Programa de Saúde da Família com enfoque na prevenção da violência doméstica e acompanhamento das famílias passam a ser um importante aparato a ser contemplado por gestões públicas de saúde.

Ao olhar para as entrevistas, tinha-se por objetivo compreender o contexto em que a criança se desenvolve, os fatores de risco e proteção presentes neste crescimento, e, conseqüentemente, compreender a criança que brinca, que se expressa, que fala através da linguagem própria da infância: o corpo lúdico e brincante. Para tanto elegeram-se os contos de fadas como ponto de partida das ações lúdicas, diante de estudos que apontam para o potencial destes contos de origem popular na representação simbólica de alguns aspectos da vida interior e psíquica de crianças durante seu percurso de desenvolvimento. A violência é sugerida em vários contos: de forma concreta e direta, ou sutil e indiretamente. Ao realizar uma leitura de tais contos, buscando bases teóricas psicanalíticas e antropológicas, questionou-se o que eles poderiam, portanto, oferecer às crianças que sofreram algum episódio de violência.

As participantes expressaram o impacto destas narrativas de diferentes formas durante a atividade simbólica. Foi possível observar durante o faz-de-conta que algumas histórias propiciaram o surgimento de conteúdos relacionados com a vida cotidiana, os conflitos e os riscos do desenvolvimento. Algumas expressões lúdicas se repetiram durante as sessões, sendo alicerçadas pelos elementos contidos nos contos narrados. Por exemplo, a ação de se trancar em uma mala de madeira e dizer que está sozinha esperando pela mãe que demora e não chega, enquanto realiza tarefas domésticas (como as heroínas dos contos de fadas).

O conteúdo verbalizado por uma das crianças sugere que as narrativas orais podem servir como um suporte reunindo em si um repertório de elementos que despertam na criança conteúdos relacionados às suas vivências pessoais. Estes elementos estruturam o faz-de-conta e ações lúdicas, propiciando, ocasionalmente, a expressão da vivência da violência sofrida. Desta forma, o faz-de-conta parece ter se estruturado em torno dos elementos oferecidos pelo conto, ao mesmo tempo em que condensou alguns aspectos da história de vida da criança. Esta conjunção de elementos expressos no discurso do faz-de-conta só foi possível diante da identificação direta da criança com a heroína do conto.

Portanto, esta pesquisa assinala a necessidade infantil de experimentar determinados elementos de um conto através da fabulação do faz-de-conta, expressando, ocasionalmente, sua realidade de vida. Neste ponto o estudo nos leva a refletir, sem concluir, sobre as possibilidades terapêuticas destas narrativas. Quando a criança brinca nos é revelado onde o conto as toca, o que povoa seu imaginário, o que as leva, enfim a recriar estes elementos dramatizando histórias e fabricando novas possibilidades. Questiona-se como a criança traduz os enredos fabulosos dos contos e em que medida expressa sua realidade, aquela, mais profunda, moldada por suas experiências de vida. As respostas podem ser revisitadas a partir de várias leituras, mas estão contidas, invariavelmente na expressão lúdica de cada criança.

A experiência resultada nesta pesquisa parece ir ao encontro dos achados de Gutfreind (2003), quando ele afirma que o ateliê de contos oferece às crianças a possibilidade de recontar, "re-ouvir", reviver suas próprias histórias para, a partir disso, construí-las, contá-las, expressá-las e sobretudo, elaborá-las. Também parece concordar com as afirmações de Bettelheim (1980) sobre a importância dos contos na vida psíquica das crianças, destacando o amadurecimento psíquico na oferta de fontes de identificações por intermédio dos personagens e enredos.

Neste sentido, pôde-se perceber que a narrativa durante as sessões operou como um eco, produzindo ações que expressam uma realidade interna e uma realidade externa (como a punição física). É possível que o conto enquanto uma metáfora tenha oferecido um distanciamento seguro que possibilitou à criança chegar até seus conflitos sem que se sentisse ameaçada, o que sugere seu potencial terapêutico.

O estudo desenvolvido nesta pesquisa buscou ressaltar, através do enfoque ecológico, a importância do atendimento à criança em situação de vulnerabilidade social. Ressalta-se a necessidade de tais intervenções serem conduzidas através de vários aparatos sociais que possam oferecer uma rede de suporte social ampla na proteção à infância. A escola, já citada como um importante componente para o estabelecimento desta rede é destacada como um equipamento que deve oferecer possibilidades em arte-educação, incluindo novas experiências para os alunos inseridos no sistema, como um programa de contação de histórias. Além disso, deve-se levar em consideração que a escola é um lugar onde a violência aparece refletida nas relações interpessoais entre as crianças e na relação da escola com a própria comunidade. A oferta de um espaço fora da rotina escolar e, ao mesmo tempo, inserido no cotidiano institucional, seria, portanto uma alternativa importante para que se abrissem possibilidades de simbolização. O contato com personagens e enredos que falem diretamente a uma experiência pessoal a partir da linguagem metafórica, permite que cada criança signifique a história e ressignifique suas experiências, de acordo com suas necessidades. A escuta de uma pessoa inserida nesta atividade com a preocupação de oferecer às crianças a possibilidade de se expressarem, pode ser importante para o andamento de um programa desta natureza em contextos como o escolar, contribuindo para a resolução de problemas sociais refletidos neste microssitema (Alves, 2007).

Outra possibilidade que parece se abrir diante dos resultados da pesquisa é a inserção do próprio contexto familiar, microssistêmico, em atividades de contação de histórias. Alguns programas sociais desenvolvidos em espaços alternativos que oportunizam o relacionamento entre pais e filhos (ocorrendo em diferentes situações, como eventos em praças ou mesmo em ambulatórios de Unidades Básicas de Saúde-UBS, hospitais e a própria residência) podem constituir oportunidades para atividades de narrativas orais onde os próprios pais ouvem histórias junto com os filhos ou no estímulo aos pais para que contem histórias para suas crianças. Este tipo de intervenção é importante ao considerarmos a questão da transmissão intergeracional da violência. Os pais violentos já foram violentados e, neste sentido, a escuta de histórias e as possibilidades de contato com os próprios filhos em atividades como esta, podem abrir novos caminhos no desenvolvimento emocional de todos os envolvidos na dinâmica familiar.

Artigo recebido em 21/09/2007.

Aceito para publicação em 23/04/2008.

Heliana Castro Alves é mestre em Educação Especial pela Universidade Federal de São Carlos, professora da Universidade Federal do Triângulo Mineiro.

Maria Luísa Guillaumon Emmel é Professor Adjunto da Universidade Federal de São Carlos.

O artigo apresenta parte dos dados da dissertação de mestrado intitulada: "Utilização dos contos de fadas e atividades simbólicas na compreensão de crianças vítimas de violência", defendida pela primeira autora em março de 2007.

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  • Endereço para correspondência:

    Heliana Castro Alves
    Rua Paulo Kauhí, 33
    Mercês
    CEP: 38060-650. Uberaba-MG, Brasil
    E-mail:
  • 1
    Gutfreind (2003) realizou as mesmas sessões com dois grupos: um grupo controle e um grupo experimental. As crianças primeiramente ouviam a história (tradicional ou contemporânea) para depois desenharem, brincarem com massinha e/ ou dramatizarem.
  • 2
    Neste conto a rainha morre no início e diz ao rei que ele só poderia voltar a casar-se com alguém mais bela do que ela. A princesa cresce e supera a beleza da mãe, despertando os desejos libidinosos do rei que passa a desejar desposá-la. A moça foge do palácio.
  • 3
    No conto "Irmão e Irmã", as crianças fogem de casa diante dos maus-tratos da madrasta-bruxa. Durante essa sessão, C2 reforçou a utilização da mala como uma casa (e cama), e a necessidade de ser cuidada.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      14 Out 2008
    • Data do Fascículo
      2008

    Histórico

    • Aceito
      23 Abr 2008
    • Recebido
      21 Set 2007
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