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ESTUDO COMPARATIVO DA EVOLUÇÃO DO NÍVEL DE TRIPTOFANO EM RAMOS DE AMEIXEIRA (Prunus salicina Lindl.)

Resumos

Foram coletados ramos das cultivares de ameixa, "Sangall", "All producer", "Ace", "Beauty" e "Roxo Itaquera", em pomar da Fazenda Palma da UFPel, Pelotas, RS, para um estudo comparativo vizando a propagação por estaquia. As coletas foram realizadas em intervalos de 15 dias de julho à dezembro de 1994. Através da determinação dos níveis de triptofano nas estacas concluiu-se que a melhor época para retirada de ramos para estaquia é de 14 à 28 de setembro.

ameixeira; propagação; estaquia; triptofano; época


Plum cuttings from the cultivars "Sangall", "All producer", "Ace", "Beauty" and "Roxo Itaquera" were collected from an orchard at Palma Farm, Pelotas, Brazil, in 15-day intervals, from July to December, 1994 for a comparative study of the evolution of tryptophan in branches. The level of tryptophan in the cuttings indicated that the best period for harvest of cuttings is between September 14th and 28th.

plums; propagation; cuttings; tryptophan; season


ESTUDO COMPARATIVO DA EVOLUÇÃO DO NÍVEL DE TRIPTOFANO EM RAMOS DE AMEIXEIRA (Prunus salicina Lindl.)

ROSSAL, P.A.L.1; KERSTEN, E.2; CONTER, P.F.3

1Pesquisador visitante-FAEM/UFPel.

2Depto. de Fitotecnia-FAEM/UFPel, C.P. 354, CEP: 96010-900 - Pelotas, RS.

3Depto. de Bioquímica-FAEM/UFPel, C.P. 354, CEP: 96010-900 - Pelotas, RS.

RESUMO: Foram coletados ramos das cultivares de ameixa, "Sangall", "All producer", "Ace", "Beauty" e "Roxo Itaquera", em pomar da Fazenda Palma da UFPel, Pelotas, RS, para um estudo comparativo vizando a propagação por estaquia. As coletas foram realizadas em intervalos de 15 dias de julho à dezembro de 1994. Através da determinação dos níveis de triptofano nas estacas concluiu-se que a melhor época para retirada de ramos para estaquia é de 14 à 28 de setembro.

Descritores: ameixeira, propagação, estaquia, triptofano, época

COMPARATIVE STUDY OF TRYPTOPHAN LEVEL EVOLUTION IN PLUM (Prunus salicina Lindl.) BRANCHES

ABSTRACT: Plum cuttings from the cultivars "Sangall", "All producer", "Ace", "Beauty" and "Roxo Itaquera" were collected from an orchard at Palma Farm, Pelotas, Brazil, in 15-day intervals, from July to December, 1994 for a comparative study of the evolution of tryptophan in branches. The level of tryptophan in the cuttings indicated that the best period for harvest of cuttings is between September 14th and 28th.

Key Words: plums,propagation,cuttings,tryptophan,season

INTRODUÇÃO

A ameixeira (Prunus salicina Lindl.) é uma planta propagada comercialmente no Brasil sobre porta-enxerto de pessegueiro. Desta forma há uma vinculação da vida útil da copa a esta espécie, que é de 14 à 15 anos. Porém, se a ameixeira for propagada por estaquia, o período produtivo se estende até trinta anos. As cultivares de ameixeira possuem diferenças quanto ao vigor e época de mudança de estádios fenológicos, podendo apresentar diferentes períodos de acumulação de reservas nos ramos. Estas diferenças são importantes especialmente em relação à cofatores do enraizamento como o triptofano.

O aminoácido é comum em plantas como constituínte de proteínas, e precursor intermediário da biossíntese de várias substâncias indólicas e ácido indolacético (Haggquist et al., 1988). Ele tem origem na rota do ácido shiquímico (Fregoni, 1985), e forma auxinas endógenas via ácido indolpirúvico, triptamina, indolacetoaldoxima (Coll et al., 1990). A conversão via ácido indolpirúvico é feita por transaminação (Truelsen, 1973). Sendo citado também, que há possibilidade de transformação de L-triptofano em ácido indolacético via indolacetoaldoxima (Ludwig-Müller & Hilgenberg, 1988). Tanto as formas "L" e "D" triptofano podem ser precursoras de ácido indolacético. Porém o grande efeito da forma D-triptofano induz a suposição de que este é o precursor mais direto.

Segundo Widholm (1971), o nível de triptofano dentro das células das plantas é controlado pela própria concentração do aminoácido. Sendo que o autor observou que a concentração de 50 microMolar inibiu completamente a atividade da enzima antranilato sintetase, e a concentração de 1 microMolar inibiu a atividade da triptofano sintetase em 10 a 20%, estando estas duas enzimas ligadas à biossíntese do mesmo. Estes dados indicam que existe uma concentração normal do aminoácido nas células das plantas que será provavelmente transformado em auxinas.

Existe uma correlação positiva entre o nível de auxinas endógenas livres e a percentagem de enraizamento, sendo que quando o nível de auxinas é elevado, há maior percentagem de enraizamento (Gaspar& Hofinger, 1988).

Entre espécies e cultivares há diferenças na capacidade de enraizamento de estacas (Hartmann & Kester, 1990; Ojima et al., 1973), sendo atribuída esta diferença a um baixo nível de auxinas e também, a falta de outros cofatores de enraizamento (Wang & Andersen, 1989).

Em algumas cultivares de ameixeira foi verificado que não há necessidade de aplicação de reguladores de crescimento externamente, para serem propagadas (Tomer & Kumar, 1989). Já para outras, o efeito do ácido indolbutírico vai depender da época do ano em que as estacas foram coletadas (Wang & Andersen, 1989).

Vários autores observaram que a época de coleta das estacas tem grande influência na capacidade de enraizamento (Fachinello et al., 1994; Kersten et al., 1994; Sharma & Aier 1989). A influência da época do ano pode ocorrer também devido a formação e acúmulo de inibidores do enraizamento (Munõz & Valenzuela, 1978).

Aroeira (1957), cita que as estacas herbáceas podem ser colhidas em qualquer época pois acumulam reservas o ano todo. Porém deve-se dar preferência para a colheita na primavera. Quando as estacas são coletadas em um período de intenso crescimento vegetativo mostram maior capacidade de enraizar, principalmente em espécies de difícil enraizamento. Já estacas coletadas no inverno possuem maior grau de lignificação, há tendência de enraizar menos (Fachinello et al., 1994).

Uma maior porcentagem de enraizamento em estacas de ameixeiras no verão foi observado por vários autores (Kersten, 1993; Sharma & Aier, 1989; Chauhan & Reddy, 1974). Porém Howard & Nahlawi (1969), observaram redução na porcentagem de enraizamento em novembro, dezembro e janeiro.

Este trabalho teve como objetivo determinar o período de maior acumulação nos ramos do cofator de enraizamento e precursor de auxinas, triptofano, para coleta de material para propagação vegetativa.

MATERIAL E MÉTODOS

O presente trabalho foi desenvolvido no laboratório do Departamento de Bioquímica da Faculdade de Química da Universidade Federal de Pelotas, UFPel,RS. Os ramos das cultivares "All Producer", "Sangall", "Beauty", "Ace" e "Roxo Itaquera" foram coletados no pomar didático da fazenda Palma, FAEM, UFPel. As estacas de 10 cm de comprimento sem folhas, foram retiradas de plantas com idade de 7 anos em intervalos de 15 dias em 11 épocas, de julho à dezembro de 1994. O delineamento utilizado para coleta foi de três repetições de três plantas para cada cultivar, retirando-se três ramos por planta. Os ramos foram secados em estufa a 60oC, moídos, sendo utilizada a metodologia para determinação do triptofano de Undenfried & Peterson (1957). A metodologia é baseada na formação de cor proveniente da reação do triptofano com Dimetilaminobenzoaldeído (DMAB) e Fenolftaleína, analisados em espectofotômetro. A concentração nas amostras de tecido é calculada através de uma curva padrão construída a partir de triptofano puro. A coleta de dados agroclimáticos do ano de 1994, foi realizada na estação agroclimatológica da Universidade Federal de Pelotas. Sendo coletados dados sobre temperaturas máximas e mínimas (oC), insolação total (horas décimos), radiação solar (Cal/cm2/dia), evaporação total (mm, tanque classe "A"), pluviometria (mm) e umidade relativa (%).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

De acordo com os dados (Figura 1), observou-se que as cultivares apresentaram comportamento semelhante quanto ao nível de triptofano acumulado no tecido, durante o período experimental que foi de agosto a dezembro. Sendo que o intervalo de máxima concentração do aminoácido foi de 14 a 28 de setembro.

Figura 1
- Nível de triptofano em ramos de cinco cultivares de ameixeira avaliado de julho a dezembro de 1994.

O comportamento semelhante das cultivares quanto ao nível do aminoácido no tecido, indica que outros componentes, exceto o triptofano, cofatores do enraizamento apresentam-se diferenciados entre as mesmas, e entre cultivares e época do ano (Hartmann & Kester, 1990; Wang & Andersen, 1989; Ojima et al., 1973).

De acordo com os dados da TABELA 1, observa-se que ocorreu baixa pluviometria nos meses de agosto e setembro, o que corresponde ao período anterior e de máxima acumulação do aminoácido, o que indica a possibilidade de acumulação de aminoácidos nas cultivares influenciado pelas condições de estresse hídrico. Os dados coletados são insuficientes para uma correlação. Porém são confirmados por Andersen (1995) em trabalho com ameixeiras,Vance & Zaerr (1990) em Pinus ponderosa , Chandel & Chauhan (1993) em porta-enxertos de macieira. Sendo que em citros Lovatt et al. (1992) citam que a formação de flores é precedida pela seca seguida da restauração das condições normais.

CONCLUSÃO

Para as condições agroclimáticas do ano de 1994, de acordo com o nível do cofator de enraizamento e precursor de auxinas triptofano, a época mais provável para retirada de ramos para estaquia foi de 14 a 28 de setembro.

BIBLIOGRAFIA

Recebido para publicação em 22.10.96

Aceito para publicação em 22.06.97

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    03 Fev 1999
  • Data do Fascículo
    Set 1997

Histórico

  • Aceito
    22 Jun 1997
  • Recebido
    22 Out 1996
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