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CAPACIDADE DE DISPERSÃO DE Trichogramma pretiosum Riley, 1879 PARA O CONTROLE DE Anticarsia gemmatalis Hübner, 1818 EM SOJA

Resumos

Avaliou-se a capacidade de dispersão de Trichogramma pretiosum, Riley 1879, em relação a ovos de Anticarsia gemmatalis, Hübner 1818, na cultura da soja, em Piracicaba, São Paulo. Após 24 horas da liberação dos parasitóides, determinou-se a distância média e a área de dispersão para T. pretiosum, atingindo 8 m e 77 m2, respectivamente. Desta forma, a liberação do parasitóide deve ser feita em 130 pontos/ha, para que toda a àrea seja atingida pelo parasitóide.

Trichogramma pretiosum; soja; Anticarsia gemmatalis; controle biológico; Glycine max; lagarta-da-soja


The dispersion capacity of Trichogramma pretiosum, Riley 1879 in relation to eggs of Anticarsia gemmatalis, Hübner 1818, was studied in soybean, in Piracicaba, State of São Paulo, Brazil. The dispersion capacity of T. pretiosum 24 hours after release, was 8m and 77 m2. The results obtained indicate that the release for controling A. gemmatalis should be performed at 130 points/ha.

Trichogramma pretiosum; soybean; Anticarsia gemmatalis; biological control; Glycine max


CAPACIDADE DE DISPERSÃO DE Trichogramma pretiosum Riley, 1879 PARA O CONTROLE DE Anticarsia gemmatalis Hübner, 1818 EM SOJA11 Parte do trabalho de tese do primeiro autor apresentado à ESALQ-USP, para obtenção do título de Doutor em Ciencias. Parte do trabalho de tese do primeiro autor apresentado à ESALQ-USP, para obtenção do título de Doutor em Ciencias.

B. ZACHRISSON2,4; J.R.P. PARRA3

2Instituto de Investigación Agropecuaria de Panamá, Ap.P. 6-4391 - El Dorado, Panamá, República de Panamá.

3Depto. de Entomologia-ESALQ/USP, C.P. 9, CEP: 13418-900 - Piracicaba, SP.

4Bolsista da CAPES PEC-PG.

RESUMO: Avaliou-se a capacidade de dispersão de Trichogramma pretiosum, Riley 1879, em relação a ovos de Anticarsia gemmatalis, Hübner 1818, na cultura da soja, em Piracicaba, São Paulo. Após 24 horas da liberação dos parasitóides, determinou-se a distância média e a área de dispersão para T. pretiosum, atingindo 8 m e 77 m2, respectivamente. Desta forma, a liberação do parasitóide deve ser feita em 130 pontos/ha, para que toda a àrea seja atingida pelo parasitóide.

Descritores:Trichogramma pretiosum, soja, Anticarsia gemmatalis, controle biológico, Glycine max, lagarta-da-soja

DISPERSION CAPACITY OF Trichogramma pretiosum Riley, 1879 FOR THE CONTROL OF Anticarsia gemmatalis Hübner, 1818 IN SOYBEAN

ABSTRACT: The dispersion capacity of Trichogramma pretiosum, Riley 1879 in relation to eggs of Anticarsia gemmatalis, Hübner 1818, was studied in soybean, in Piracicaba, State of São Paulo, Brazil. The dispersion capacity of T. pretiosum 24 hours after release, was 8m and 77 m2. The results obtained indicate that the release for controling A. gemmatalis should be performed at 130 points/ha.

Key Words: Trichogramma pretiosum, soybean, Anticarsia gemmatalis, biological control, Glycine max

INTRODUÇÃO

A maior ou menor eficiência de controle de um parasitóide, em liberações inundativas, depende do conhecimento da sua capacidade de dispersão, pois a partir deste valor será possível definir o número de pontos de liberação por unidade de área. Esta capacidade de dispersão, varia em função das características das espécies e/ou linhagens de Trichogramma, e da cultura na qual serão realizadas as liberações do parasitóide (Stinner et al., 1974; Lopes, 1988 e Sá et al., 1993). As características intrínsecas de cada cultura, em função da condição microclimática criada pela mesma, podem afetar a capacidade de "busca" do parasitóide, pela variação da temperatura em cada condição (Biever, 1972).

Estudos realizados em diversas culturas como cana-de-açúcar, algodoeiro e em pomares, demonstraram que a dispersão de Trichogramma, pode ser passiva, neste caso, com a direção e a distância sendo controladas pelo vento (Hinds & Osterberger, 1932; Hendricks, 1967 e Yu et al., 1984). No entanto, o parasitóide pode apresentar dispersão ativa (Schread, 1932), estimulada pela temperatura e inibida pela densidade de ovos do hospedeiro. Assim, Forsse & Smith (1991) determinaram que a temperatura é um dos fatores que afetam sensivelmente o comportamento de vôo de Trichogramma minutum, Riley, 1879, observando-se que temperaturas próximas a 20ºC favorecem esta atividade. Pesquisas realizadas por Chiu & Chen (1986), mostraram que a velocidade do vento inferior a 3,6m/seg, não influenciaram na dispersão das fêmeas, verificando-se a influência maior da temperatura sobre este parâmetro.

Em geral, a dispersão de T. pretiosum Riley, 1879 e T. galloi Zucchi, 1988, nas culturas de milho e cana-de-açúcar, respectivamente, esteve em torno de 10 m (Lopes, 1988 e Sá et al., 1993). A partir desta distância, o parasitismo decresceu, tendência observada também para T. nubilale Ertle & Davis, 1975 e T. maidis Pintureau & Vogelé, 1980, por Kanour Junior & Burbutis (1984) e Bigler et al. (1988), respectivamente.

O número de pontos de liberação de Trichogramma por hectare, foi determinado como sendo entre entre 80 e 100, em pesquisas realizadas na Alemanha e no Brasil, respectivamente (Neuffer, 1982 e Sá et al., 1993). A variação deste parâmetro, na mesma cultura, em locais diferentes, confirma a necessidade de se conhecer este tipo de informação, em programas de Controle Biológico Aplicado. Assim, o objetivo da presente pesquisa foi determinar a capacidade de dispersão de T. pretiosum em relação a ovos de Anticarsia gemmatalis Hübner, 1818, na cultura da soja, já que este parasitóide tem grande potencial para ser incorporado em programas de Manejo das Pragas desta cultura.

MATERIAL E MÉTODOS

Para se determinar o raio efetivo de ação da linhagem Paraná (L.Pr.) de Trichogramma pretiosum Riley, 1879 coletada em ovos de Anticarsia gemmatalis Hübner, 1818, instalou-se um experimento na Fazenda "Areão", pertencente à Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", em Piracicaba, São Paulo. Assim, foram demarcados três círculos concêntricos com raios de 5, 10 e 15 m, em parcelas com a variedade de soja `Embrapa-48'. As plantas foram infestadas com ovos de A. gemmatalis provenientes da criação estoque do Laboratório de Biologia do Departamento de Entomologia da ESALQ-USP, mantida em dieta artificial à base de feijão, germe de trigo, caseína, levedura e proteína de soja (Greene et al., 1976), conforme as técnicas propostas por Parra (1996). A separação dos ovos aderidos ao substrato de postura (papel sulfite), foi realizada manualmente, após o papel ser imerso em recipientes com água destilada, durante 10 minutos. A seguir, folíolos mantidos em tubos de vidro com fundo chato (8,5 cm de altura x 2,5 cm de diâmetro) contendo água, receberam os ovos da praga, sendo então presos às plantas, através de um clipe. Em cada planta, foram colocados 60 ovos, sendo infestadas 8 plantas de soja no primeiro círculo (5 m), e 24 e 40 plantas nos dois subseqüen-tes (10 e 15 m) (Sá et al., 1993). A uma distância de 300 m das parcelas experimentais, foi delimitada uma área de 900 m2, onde não houve infestação artificial de ovos de A. gemmatalis, permitindo detectar-se o parasitismo natural. Tal procedimento permitiu corrigir o parasitismo natural em relação às áreas de liberação, através de Abbot (1925).

Os parasitóides foram liberados no ponto central dos círculos, mantendo-se a proporção ideal de 5,33 adultos do parasitóide por ovo (Zachrisson, não publicado). Tal liberação foi realizada quando a soja estava na fase de enchimento de vagem (R5) (Fehr et al., 1971), sendo o parasitismo permitido por 24 horas. Após este período, os folíolos, contendo os ovos, foram recolhidos e levados para o laboratório, onde avaliou-se o parasitismo e a predação.

A porcentagem de predação foi calculada pela fórmula:

Onde:

I - Total de ovos infestados artificialmente.

F - Total de ovos recolhidos após a liberação dos parasitóides.

P - Predação.

O delineamento experimental foi o de blocos ao acaso, considerando-se três repetições por tratamento. Os dados foram submetidos à analise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade. A transformação dos dados foi feita através de .

Foi estabelecido a relação matemática entre o raio de dispersão e o parasitismo, através da análise de regressão linear.

A distância média de dispersão (DM) e a área de dispersão (s2) do parasitóide, na cultura de soja, foram determinadas pelo modelo proposto por Dobzhansky & Wright (1943).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O parasitismo de ovos de Anticarsia gemmatalis Hübner, 1818 por Trichogramma pretiosum Riley, 1879 decresceu a partir de 10 m do ponto de liberação (TABELA 1), observando-se que para as distâncias de 5 e 10 m, as taxas de parasitismo não diferiram estatisticamente entre si; houve correlação negativa entre o raio de dispersão e o (Figura 1 e TABELA 2). Lopes (1988) e Sá et al. (1993) obtiveram resultados semelhantes, para T. galloi Zucchi, 1988 e T. pretiosum, nas culturas de cana-de-açúcar e milho, respectivamente. A mesma tendência também foi observada para T. nubilale Ertle & Davis, 1975 e T. maidis Pintureau & Vogelé, 1980 (Kanour Junior & Burbutis, 1984 e Bigler et al., 1988). No entanto, variações podem ocorrer devido às características do parasitóide e da cultura. Biever (1972) observou que variações térmicas, decorrentes de características próprias da cultura podem afetar a capacidade de "busca" do parasitóide. Assim, alterações na massa foliar da planta, em diferentes estágios fenológicos, durante o ciclo da cultura, estão relacionados diretamente com tal capacidade de "busca". Era de se supor que a idade fenológica em que se encontrava a soja (R5), propiciasse um microclima favorável à capacidade de "busca" do parasitóide. Entretanto, as taxas de parasitismo reduzidas, em torno de 16%, podem estar relacionadas ao fato de que tal microclima tenha favorecido também os predadores, pois foi registrada uma alta predação no período de estudo (TABELA 1). Desta forma, muitos ovos predados poderiam estar parasitados, o que foi detectado na presente pesquisa. Um outro fator, de grande importância, que também pode ter afetado tal parasitismo é a forma como os ovos foram retirados do papel para infestação, ou seja, lavando-os, ocorrendo como conseqüência, uma provável eliminação de cairomônios, importantes componentes químicos para que Trichogramma localize o hospedeiro (Lewis et al., 1972).

Figura 1 -
Relação matemática entre o raio de dispersão da linhagem L.Pr. de Trichogramma pretiosum e o número de ovos parasitados de Anticarsia gemmatalis, na cultivar `Embrapa-48' de soja. Piracicaba, SP.

Baseando-se no modelo de Dobzhanski & Wright (1943), o raio de ação médio e a àrea de dispersão do parasitóide na cultura da soja, em relação à ovos de A. gemmatalis foram de 8,04 m e 77 m2, respectivamente (TABELA 2). O elevado coeficiente de determinação (R2) atesta a confiabilidade dos resultados. Estes parâmetros foram muito semelhantes àqueles obtidos por Sá et al. (1993), para T. pretiosum, na cultura de milho. De maneira geral, a dispersão das espécies de Trichogramma fica em torno de 10 m (Kanour Junior & Burbutis, 1984; Bigler et al., 1988; Lopes, 1988; Sá et al., 1993).

O número de pontos de liberação do parasitóide, na cultura de soja, determinado através do raio efetivo de dispersão (TABELA, 2), deve ser de 130 pontos por ha, para que haja uma distribuição homogênea na área tratada. Resultados diferentes destes obtidos na presente pesquisa podem ocorrer dependendo da localidade e da temperatura (Forsse & Smith, 1991), e da direção e velocidade do vento (Hinds & Osterberger, 1932; Schread, 1932; Hendricks, 1967 e Yu et al.,1984).

CONCLUSÕES

- A capacidade de dispersão de Trichogramma pretiosum Riley, 1879 com relação a ovos de Anticarsia gemmatalis Hübner, 1818, após 24 horas da liberação do parasitóide, corresponde a um raio de ação de 8 m, o que equivale a uma àrea de 77 m2.

- A liberação de T. pretiosum, visando ao controle de A. gemmatalis, deve ser feita em 130 pontos/ha.

Recebido para publicação em 01.10.97

Aceito para publicação em 22.12.97

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  • 1 Parte do trabalho de tese do primeiro autor apresentado à ESALQ-USP, para obtenção do título de Doutor em Ciencias.
    Parte do trabalho de tese do primeiro autor apresentado à ESALQ-USP, para obtenção do título de Doutor em Ciencias.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      12 Nov 1998
    • Data do Fascículo
      Jan 1998

    Histórico

    • Recebido
      01 Out 1997
    • Aceito
      22 Dez 1997
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