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EFEITO DA TEMPERATURA NO PARASITISMO DE Trichogramma pretiosum Riley, 1879 SOBRE OVOS DE Sitotroga cerealella (Olivier, 1819)

Resumos

Avaliou-se o efeito da temperatura no parasitismo de Trichogramma pretiosum Riley, 1879 sobre ovos de Sitotroga cerealella (Olivier, 1819), para sua utilização em criações massais e/ou para o controle biológico desta traça de grãos armazenados. Os parasitóides foram mantidos sob as temperaturas de 18, 20, 22, 25, 30 e 32°C, durante 48 horas, com umidade relativa de 60±10% e fotofase de 14 horas, em todas as condições. O parasitismo foi avaliado pela contagem do número de ovos pretos (característica do parasitismo) e pelo número de parasitóides emergidos. As altas temperaturas foram favoráveis ao desempenho de T. pretiosum que, a 30°C teve 97,6% das fêmeas parasitando, com uma média de 18,8 ovos parasitados em 48 horas e com uma viabilidade de 88,5%.

controle biológico; grãos armazenados; Sitotroga; Trichogramma


The effect of temperature was evaluated on egg parasitization of the angoumois grain moth, Sitotroga cerealella (Olivier, 1819), by Trichogramma pretiosum Riley, 1879 as a basis for mass production of T. pretiosum or biological control of S. cerealella in stored corn T. pretiosum parasitization was studied under six constant temperatures (18, 20, 22, 25, 30, and 32°C) and was evaluated through the counting number of darkened eggs (parasitization characteristic) and the number of emerged parasitoids. The highest temperatures were the best for T. pretiosum parasitization. At 30°C, 97.6% of the females were effective on parasitization with an average of 18.8 S. cerealella eggs per female during the first 48 h period and a high parasitoid emergence (88.5%).

biological control; stored grain; Sitotroga; Trichogramma


EFEITO DA TEMPERATURA NO PARASITISMO DE Trichogramma pretiosum Riley, 1879 SOBRE OVOS DE Sitotroga cerealella (Olivier, 1819)1 1 Parte da dissertação de Mestrado do primeiro autor, apresentada à ESALQ/USP.

M.S.R. INOUE2; J.R.P. PARRA2

2Depto. de Entomologia-ESALQ/USP, C.P. 9, CEP: 13418-900 - Piracicaba, SP.

RESUMO: Avaliou-se o efeito da temperatura no parasitismo de Trichogramma pretiosum Riley, 1879 sobre ovos de Sitotroga cerealella (Olivier, 1819), para sua utilização em criações massais e/ou para o controle biológico desta traça de grãos armazenados. Os parasitóides foram mantidos sob as temperaturas de 18, 20, 22, 25, 30 e 32°C, durante 48 horas, com umidade relativa de 60±10% e fotofase de 14 horas, em todas as condições. O parasitismo foi avaliado pela contagem do número de ovos pretos (característica do parasitismo) e pelo número de parasitóides emergidos. As altas temperaturas foram favoráveis ao desempenho de T. pretiosum que, a 30°C teve 97,6% das fêmeas parasitando, com uma média de 18,8 ovos parasitados em 48 horas e com uma viabilidade de 88,5%.

Descritores: controle biológico, grãos armazenados, Sitotroga, Trichogramma

EFFECT OF TEMPERATURE ON PARASITIZATION BY Trichogramma pretiosum Riley, 1879 on eggs of Sitotroga cerealella (Olivier, 1819)

SUMMARY: The effect of temperature was evaluated on egg parasitization of the angoumois grain moth, Sitotroga cerealella (Olivier, 1819), by Trichogramma pretiosum Riley, 1879 as a basis for mass production of T. pretiosum or biological control of S. cerealella in stored corn T. pretiosum parasitization was studied under six constant temperatures (18, 20, 22, 25, 30, and 32°C) and was evaluated through the counting number of darkened eggs (parasitization characteristic) and the number of emerged parasitoids. The highest temperatures were the best for T. pretiosum parasitization. At 30°C, 97.6% of the females were effective on parasitization with an average of 18.8 S. cerealella eggs per female during the first 48 h period and a high parasitoid emergence (88.5%).

Key Words: biological control, stored grain, Sitotroga, Trichogramma

INTRODUÇÃO

As espécies de Trichogramma constituem um importante grupo de parasitóides que atacam principalmente ovos de lepidópteros. Estes vêm sendo utilizados em liberações inundativas em muitos países, inclusive na América do Sul, controlando pragas em florestas, algodoeiro, hortaliças, mandioca, cana-de-açúcar, frutíferas, trigo e milho (Stein & Parra, 1987). Segundo Smith (1996), para que se tenha sucesso nestas liberações, devem ser obedecidas as seguintes etapas: seleção da população adequada para a liberação, desenvolvimento de um sistema de produção massal e distribuição do parasitóide produzido, além de estratégias para a liberação em campo.

Desta forma, estudos biológicos básicos são importantes para o sucesso destas liberações. Assim Marston & Ertle (1973) concluíram que as fêmeas do parasitóide estão aptas a parasitarem tão logo emerjam. Foi observado também que, o parasitismo em ovos de S. cerealella resulta na emergência de um indivíduo por ovo, sendo que o tamanho desse parasitóide varia de acordo com o tamanho do ovo do hospedeiro e também com o número de adultos emergidos em cada ovo (Bai et al., 1992).

Para fêmeas alimentadas, o parasitismo pode se estender por mais dias, sendo que Inoue (1997), para 25°C, registrou parasitismo até o 13° dia, atingindo 80% deste parasitismo por volta do 7° dia. Marston & Ertle (1973) observaram que, após o 2° dia, o parasitismo declinou gradualmente, com muito poucos ovos sendo parasitados depois do 10° dia. Estudando T. pretiosum sobre ovos de Ephestia kuehniella (Zeller, 1879), Sá & Parra (1994) observaram que, para as diferentes linhagens estudadas, o parasitismo foi maior nos primeiros 4 dias de vida da fêmea.

Como o parasitismo de T. pretiosum se concentra nos primeiros dias, foi estudada a influência de 6 temperaturas nas primeiras 48 horas de vida do parasitóide, para insetos alimentados, visando fornecer informações para criações massais, bem como para programas de controle biológico da traça, S. cerealella, em grãos armazenados.

MATERIAL E MÉTODOS

Sitotroga cerealella (Olivier, 1819) foi criada em grãos de trigo, segundo metodologia proposta por Bleicher et al. (1987). Trichogramma pretiosum Riley, 1879 foi criado em cartões azuis celestes, conforme metodologia de Bleicher & Parra (1989). Um cartão azul celeste, de 2x3 cm, contendo ovos de S. cerealella parasitados por T. pretiosum da linhagem número 1 (L1), do Laboratório de Biologia do Departamento de Entomologia da Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", da Universidade de São Paulo - ESALQ/USP- Piracicaba, foi mantido a 25°C até a emergência de adultos. As fêmeas recém-emergidas foram individualizadas em tubos de vidro de 2 x 8 cm, tampados com filme plástico (RolopacÒ), e alimentadas com uma gota de mel puro, aderido à parede interna do tubo. Os cartões foram oferecidos obedecendo-se a proporção de 1T. pretiosum:10 ovos de S. cerealella, trocados a cada 24 horas, durante 2 dias. No experimento utilizaram-se câmaras climatizadas reguladas a 18, 20, 22, 25, 30 e 32°C, num total de 20 fêmeas para cada temperatura, utilizando-se a metodologia de Bleicher & Parra (1989).

Após o parasitismo, os cartões eram mantidos em placas de Petri, na temperatura de 25°C, durante 12 dias, para posterior contagem do número de ovos parasitados, porcentagem de fêmeas que parasitou e porcentagem de emergência (viabilidade) nas 6 temperaturas e nos dois dias de parasitismo. Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O parasitismo de T. pretiosum foi afetado pela temperatura, no 1° dia, sendo maior em altas temperaturas; para o 2° dia de parasitismo não foi verificado efeito das diferentes condições térmicas (TABELA 1, Figura 1). Houve efeito do dia de parasitismo sobre as temperaturas, sendo que em altas temperaturas, o parasitismo do 1° dia apresentou-se maior em relação ao 2° dia. No geral, o parasitismo total nas 48 horas foi maior para as temperaturas de 30 e 32°C (Figura 1). Este comportamento está obviamente associado à menor longevidade nas temperaturas mais altas, forçando o parasitóide a parasitar num menor período de tempo (Inoue, 1997).


* Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si, pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade.

Figura 1* - Número de ovos parasitados por Trichogramma pretiosum (L1) em ovos de Sitotroga cerealella, no 1° e 2° dias de parasitismo e parasitismo total nas 48 horas, em 6 temperaturas. UR: 60+10% e fotofase: 14 horas.

Para o primeiro dia de parasitismo, Kfir (1981) obteve resultados mais altos, a 24°C, com 17,2 ovos parasitados por fêmea, mantendo uma densidade de 2 fêmeas para 150 ovos, do dia, do hospedeiro.

A emergência de T. pretiosum, em ovos de S. cerealella, foi uniforme a partir de 20°C, não ocorrendo efeito do dia de parasitismo entre as temperaturas; assim, ovos parasitados no primeiro dia, apresentaram viabilidade semelhante aos parasitados no segundo dia (TABELA 2). A 25°C, os resultados confirmaram as pesquisas de Bigler et al. (1987) e Gomes (1997), que obtiveram emergências de 92,7%, 98,71%, respectivamente.

A viabilidade de T. pretiosum obtida por Kfir (1981) para a temperatura de 24°C, foi de 88,4 %, quando foram oferecidos 150 ovos de S. cerealella para 2 adultos de T. pretiosum. Morrison (1985), trabalhando com temperatura de 27 +1 °C e UR de 75+5 %, obteve uma viabilidade de 93,9 %. Como pode ser observado, os resultados destes autores estão próximos aos obtidos na faixa de 22 a 32 °C (TABELA 2).

Para Trichogramma maidis Pintureau et Voegelé, Bigler et al. (1987) obtiveram um parasitismo de 73 % em ovos de S. cerealella, com viabilidade de 93 %. Estes autores constataram emergência de um adulto por ovo, relação sexual de 1,4 fêmeas para cada macho e progênie média por fêmea de 67 indivíduos.

Na presente pesquisa, T. pretiosum produziu um maior número de descendentes por fêmea em proporção direta com a elevação térmica, até a temperatura de 32°C, quando apresentou uma progênie de 17,82 indivíduos por fêmea (Figura 2).


*Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si, pelo teste de Tukey, ao nível de 5% de probabilidade.

Figura 2 - Progênie produzida por T. pretiosum (L1), parasitando ovos de S. cerealella, em 6 temperaturas. U.R.: 60±10% e fotoperíodo: 14 horas.

A porcentagem de fêmeas que parasitou foi afetada pela temperatura, aumentando a partir de 25°C, com maior parasitismo a 30 e 32°C (TABELA 3). Não foi verificada influência do dia de parasitismo sobre as temperaturas, que se comportaram de maneira semelhante para o 1° e 2° dias. O percentual de fêmeas que parasitou foi menor entre 18 e 22°C, mostrando a maior adequação deste parasitóide às maiores temperaturas, resultado semelhante ao obtido por Schöller et al. (1996), para T. evanescens. Os resultados obtidos a 20°C coincidem com os de Reznik & Umarova (1991), que obtiveram 64,71% de fêmeas parasitando ovos de S. cerealella, sem alimento, e com fotofase de 17 horas.

Em geral, houve uma melhor performance de T. pretiosum em temperaturas mais elevadas. Como, em temperaturas elevadas, S. cerealella apresenta desenvolvimento mais rápido (Inoue, 1997), a utilização do parasitóide no controle desta traça de grãos armazenados poderá ter mais chances de êxito, pois, nessa situação de maior crescimento da população da praga, o parasitóide também se apresentou mais agressivo. Da mesma forma, para criações massais, devem ser selecionadas temperaturas mais elevadas para a produção de T. pretiosum, pois esta condição permite que o parasitóide tenha maior capacidade de parasitismo.

Recebido para publicação em 20.11.97

Aceito para publicação em 16.03.98

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  • 1
    Parte da dissertação de Mestrado do primeiro autor, apresentada à ESALQ/USP.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      04 Fev 1999
    • Data do Fascículo
      Maio 1998

    Histórico

    • Aceito
      16 Mar 1998
    • Recebido
      20 Nov 1997
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