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Efeito de doses de calcário e de gesso na cultura do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) cv. carioca-80

Effects of lime and gypsum rates on the dry bean crop (Phaseolus vulgaris, L) cv. carioca - 80

Resumos

Instalou-se em um latossolo vermelho-escuro, textura média, de Jaboticabal, S.P. um experimento cujo objetivo foi avaliar a influência de doses de gesso e de calcário sobre as características químicas do solo, agronômicas e tecnológicas da cultura do feijoeiro. Utilizou-se o delineamento em blocos casualizados em um esquema fatorial 3 x 4, representado por três doses de calcário (0; 1,4 e 2,8 t/ha) e quatro doses de gesso (0, 130, 260 e 390 kg/ha) com três repetições. Verificou-se que: o uso do calcário provocou aumento nos teores do Mg trocável do solo, nos valores de pH e de V% e diminuição dos valores de H + Al; o fornecimento de gesso ocasionou a lixiviação do K trocável da camada superficial para a camada 20-40cm do solo; os teores foliares de Mg+2 aumentaram e os de Mn+2 diminuiram com a aplicação de calcário; a calagem e/ou a gessagem não influenciaram nos componentes de rendimento e na produção de grãos, provocando aumento no tempo de cozimento dos grãos.

feijão; calcário; gesso


The experiment was carried out on a dark-red latosol of Jaboticabal - SP, Brazil, in order to evaluate the effects of different rates of lime and gypsum on the chemical characteristics of the soil and of the agronomic and technological characteristics of dry beans. The research was conducted as a factorial experiment in a randomized complete block, with three rates of lime (0; 1.4 and 2.4 t/ha) and four rates of gypsum (0, 130, 260 and 390 kg/ha) with three replications, totallizing 36 experimental plots. The lime rates caused an increase of soil exchangeable Mg, of pH values and of V%, and a sensible decrease of the H+Al values. The gypsum rates promoted higher values of soil exchangeable K in the 20-40 cm layer; leaf contents of Mg increased and Mn contents decreased as the lime rates increased. The lime and gypsum rates led to longer cooking time of the dry beans.

dry bean; lime; gypsum


EFEITO DE DOSES DE CALCÁRIO E DE GESSO NA CULTURA DO FEIJOEIRO (Phaseolus vulgaris L.) cv. CARIOCA-80

J.F.L. MORAES1; P.A. BELLINGIERI2; D. FORNASIERI FILHO2; J.A. GALON2

1Centro de Solos/IAC, C.P. 28, 13001-970 - Campinas, SP.

2Depto. de Tecnologia-FCAV/UNESP, C.P. 354, CEP: 14870-000 - Jaboticabal, SP.

RESUMO: Instalou-se em um latossolo vermelho-escuro, textura média, de Jaboticabal, S.P. um experimento cujo objetivo foi avaliar a influência de doses de gesso e de calcário sobre as características químicas do solo, agronômicas e tecnológicas da cultura do feijoeiro. Utilizou-se o delineamento em blocos casualizados em um esquema fatorial 3 x 4, representado por três doses de calcário (0; 1,4 e 2,8 t/ha) e quatro doses de gesso (0, 130, 260 e 390 kg/ha) com três repetições. Verificou-se que: o uso do calcário provocou aumento nos teores do Mg trocável do solo, nos valores de pH e de V% e diminuição dos valores de H + Al; o fornecimento de gesso ocasionou a lixiviação do K trocável da camada superficial para a camada 20-40cm do solo; os teores foliares de Mg+2 aumentaram e os de Mn+2 diminuiram com a aplicação de calcário; a calagem e/ou a gessagem não influenciaram nos componentes de rendimento e na produção de grãos, provocando aumento no tempo de cozimento dos grãos.

Descritores: feijão, calcário, gesso

EFFECTS OF LIME AND GYPSUM RATES ON THE DRY BEAN CROP (Phaseolus vulgaris, L) cv. CARIOCA - 80

ABSTRACT: The experiment was carried out on a dark-red latosol of Jaboticabal - SP, Brazil, in order to evaluate the effects of different rates of lime and gypsum on the chemical characteristics of the soil and of the agronomic and technological characteristics of dry beans. The research was conducted as a factorial experiment in a randomized complete block, with three rates of lime (0; 1.4 and 2.4 t/ha) and four rates of gypsum (0, 130, 260 and 390 kg/ha) with three replications, totallizing 36 experimental plots. The lime rates caused an increase of soil exchangeable Mg, of pH values and of V%, and a sensible decrease of the H+Al values. The gypsum rates promoted higher values of soil exchangeable K in the 20-40 cm layer; leaf contents of Mg increased and Mn contents decreased as the lime rates increased. The lime and gypsum rates led to longer cooking time of the dry beans.

Key Words: dry bean, lime, gypsum

INTRODUÇÃO

Considerado como uma planta de grande importância para a alimentação da população brasileira, o feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.) é praticamente cultivado em todo o país. Esta cultura tem mostrado grandes flutuações quanto à produção, de ano para ano, pois seu cultivo na grande maioria é conduzido em caráter secundário ou de subsistência.

Sabe-se que a acidez do solo tem grande importância na produtividade agrícola e nas práticas de manejo do solo, podendo de certa maneira, afetar diretamente o desenvolvimento e a constituição nutricional das plantas pela diminuição ou aumento da solubilidade de certos nutrientes, tornando-se necessário a sua correção através do uso de calcário. A calagem é uma prática agrícola capaz de alterar várias características químicas e biológicas do solo. O aumento do valor pH do solo torna mais disponíveis certos nutrientes e enquanto outros como Al e Mn têm suas disponibilidades diminuídas.

Além da prática da calagem, a suplementação de nutrientes ao solo, é uma prática indispensável ao desenvolvimento da planta e a obtenção de elevadas produtividades. Dentro deste contexto, o enxofre por ser um elemento essencial às plantas, pode se tornar, sob certas condições, o nutriente limitante da produção. Para o fornecimento de enxofre às plantas, pode-se utilizar o gesso que contém 15% de S a um baixo custo, fator que torna indicativa sua utilização. Além de fornecer S às plantas o gesso complexa o Al3+ sub-superficial eliminando esta acidez, possibilitando um maior desenvolvimento radicular e consequentemente maior tolerância aos veranicos.

O objetivo deste experimento foi avaliar a influência de doses de gesso e de calcário sobre as características químicas do solo, agronômicas e tecnológicas da cultura do feijoeiro.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi instalado em latossolo vermelho-escuro textura média, localizado em área pertencente à Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias "Câmpus" de Jaboticabal (595 m de altitude, 21º15'22"S latitude e 48º18'18"de longitude).

A análise química do solo foi realizada de acordo com Raij & Quaggio (1983) e está apresentada na TABELA 1.

Utilizou-se o delineamento em blocos casualizados em esquema fatorial 3 x 4 com três repetições, correspondendo a três doses de calcário e quatro doses de gesso. Cada parcela foi constituída por seis linhas de 4 m de comprimento, espaçadas de 0,5 m. A área útil da parcela, correspondia à formada pelas 4 linhas centrais, sendo as duas externas consideradas como bordaduras.

Os tratamentos constaram da combinação de três doses de calcário calcítico (46% CaO; 16% MgO e PRNT = 66) 0, 1,4 e 2,8 t/ha, para elevar a saturação por bases à 50%, 65% e 80%, respectivamente e quatro doses de gesso (26% Cao e 15% S) correspondentes a 0, 130, 260 e 390 kg/ha. Esses materiais foram aplicados manualmente e incorporados a 20 cm de profundidade mediante uma gradagem pesada seguida por aração com arado de disco e posterior gradagem niveladora aos 45 dias antes da semeadura. Foi semeado a cultivar IAC Carioca-80 numa densidade de 17 sementes/m., sendo aplicados, no sulco de semeadura, 60 kg/ha de P2O5 e 20 kg/ha de K2O, respectivamente, na forma de superfosfato triplo e cloreto de potássio. As sementes foram inoculadas previamente com Rhizobium phaseoli na dosagem de 200 g/60 kg de sementes e peletizadas com CaCO3 p.a.. A adubação de cobertura foi parcelada em duas vezes, aplicando-se 20 kg/ha e 15 kg/ha de N, respectivamente aos 15 e 30 dias após a emergência das plântulas, ambas na forma de nitrato de amônio. Foram realizados os tratos culturais recomendados ao bom desenvolvimento da cultura.

Foram avaliados os teores foliares de P, K, Ca, Mg, S, Cu, Fe, Mn e Zn no estádio de florescimento pleno. As análises químicas foram feitas de acordo com a metodologia proposta por Bataglia et al.; (1983), o teor de Ntotal foi determina-do pela metodologia da Official Methods of Analysis of the Association of Analytical Chemists (1970).

Foram amostradas dez plantas na área útil da parcela para avaliação do número de grãos por vagens e do número de vagens por planta. Determinou-se também a massa de 100 grãos e a produção de grãos em kg/ha, a 13% b.m., após a colheita manual de todas as plantas da área útil de cada parcela experimental e posterior trilha mecânica, com determinação do teor de água correspondente. As características de hidratação e cozimento foram avaliadas de acordo com Durigan (1979).

Imediatamente após a colheita de grãos, coletou-se de cada parcela 12 sub-amostras de solo que resultaram numa composta, as quais após a secagem ao ar e passagem em peneira (2 mm), foram analisados quimicamente segundo a metodologia de Raij & Quaggio (1983) para as profundidades 0-20 e 20-40 cm.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Das características químicas do solo analisadas, verifica-se que o fornecimento de doses crescentes de calcário elevou os teores de Mg; os valores pH e V% e reduziu os de H+Al, na profundidade 0-20 cm, enquanto que as doses de gesso afetaram os teores de K nas profundidades 0-20 e 20-40 cm.

A reação benéfica do calcário no solo, alternando a na composição química do mesmo, já é sobejamente reconhecida, não só devido sua própria composição química, possibilitando elevar os teores de Mg+2 (Figura 1), como também por sua ação neutralizadora à acidez do solo. O calcário ao reagir com a água do solo, libera hidroxilas (OH-) e íons bicarbonatos (HCO-3), os quais reagem com os componentes da acidez potencial (H + Al), diminuindo seus valores no solo, ocasionando aumento do valor pH (Figuras 2 e 3).

Figura 1
- Regressão linear entre níveis de calcário aplicados no solo e teores de Mg à profundidade de 0-20cm.
Figura 2
- Regressão linear entre níveis de calcário aplicados no solo e valores de H+Al à profundidade de 0-20 cm.
Figura 3
- Regressão linear entre níveis de calcário aplicados no solo e valores de pH à profundidade de 0-20 cm.

O aumento observado na saturação por bases (Figura 4), está relacionado, principalmente, com a elevação dos teores de Mg, proporcionado pelo uso do calcário.

Figura 4
- Regressão linear entre níveis de calcário aplicados no solo e valores de saturação por bases na profundidade de 0-20 cm.

Com relação aos teores de K+ no solo nas profundidades 0-20 e 20-40cm, verifica-se que a calagem não exerce influência sobre o mesmo. Entretanto, com o uso de gesso a aplicação de doses crescentes provocou redução no seu teor a profundidade 0-20 cm (Figura 5) com aumentos crescentes à profundidade de 20-40cm (Figura 6), ocorrendo a lixiviação do nutriente das camadas superiores do solo para as inferiores (20-40cm). Segundo Pavan et al. (1982), o uso do gesso provoca lixiviação dos íons K+ devido a formação de um par iônico com os íons SO42- provenientes da dissociação do gesso na solução do solo.

Figura 5
- Regressão quadrática entre níveis de gesso aplicados no solo e teores de K à profundidade de 0-20 cm.
Figura 6
- Regressão linear entre níveis de gesso aplicados no solo e teores de K à profundidade de 20-40 cm.

É interessante considerar que mesmo sob doses elevadas de gesso os teores de K no solo estão acima dos teores críticos citados por Raij (1981).

Quanto aos teores foliares de nutrientes, no estádio de florescimento, verificou-se que o fornecimento de doses crescentes de calcário afetou os teores de Mg, Mn e Cu. Com o incremento da dose de calcário ocorreu aumento linear no teor de Mg nas folhas do feijoeiro (Figura 7), o que seria consequência do aumento nos teores de Mg trocável do solo, ocasionado pelo calcário (Figura 1), possibilitando o aumento de absorção pelo sistema radicular da cultura. Com a omissão do calcário, os teores foliares de Mg encontram-se abaixo do adequado, segundo Malavolta et al. (1989), e tornam-se adequados com a aplicação do corretivo.

Figura 7
- Regressão linear entre níveis de calcário aplicados no solo e teores foliares de Mg (amostragem realizada no florescimento).

A prática da calagem ocasionou decrésci-mo nos teores foliares de Mn (Figura 8), muito embora este efeito não tenha sido observado no solo. Provavelmente a reação do calcário, provocando aumentos nos valores pH, possibilitou a diminuição da forma solúvel (Mn2+) e aumento das formas não absorvidas pela plantas (Mn3+ e Mn4+).

Figura 8
- Regressão linear entre níveis de calcário aplicados no solo e teores foliares de Mn (amostragem realizada no florescimento).

Com relação aos teores foliares de Cu, verificou-se sua redução até a dose de 1,4 t/ha de calcário, ocorrendo aumento em seu teor com o aumento da dose de calcário (Figura 9). A redução provocada pela calagem sobre este nutriente foi também observada por Feitosa (1980).

Figura 9
- Regressão quadrática entre níveis de calcário aplicados no solo e teores de Cu (amostragem realizada no florescimento).

Os valores médios de produção de grãos, massa de 100 grãos, número de grãos por vagem, número de vagens por planta e relação de hidratação estão apresentados na TABELA 2.

Observa-se que não houve efeito dos tratamentos sobre as características analisadas, provavelmente pelo solo utilizado mostrar-se quimicamente balanceado para a cultura do feijoeiro. Também ARF (1990) em solo com características químicas similares, chegou à mesma conclusão. Isto significa que em solos sem problemas de acidez superficial ou subsuperficial a cultura do feijoeiro IAC Carioca não responde à calagem e a gessagem.

Nas Figuras 10 e 11, pode-se observar aumento do tempo de cozimento dos grãos com o incremento de doses de gesso e de calcário, similarmente ao observado por Elias et al. (1986). Provavelmente, o aumento nos teores de Ca nos grãos em função da aplicação de gesso e/ou do calcário seja a causa, por este nutriente, segundo Malavolta (1980), provocar aumentos na rigidez da parede celular.

Figura 10
- Regressão linear entre níveis de gesso aplicados no solo e tempo de cozimento dos grãos.
Figura 11
- Regressão quadrática entre níveis de calcário aplicados no solo e tempo de cozimento dos grãos.

CONCLUSÕES

- O aumento das doses de calcário provocaram aumentos nos teores de Mg trocável do solo, nos valores pH e V%, e diminuição dos valores de H + Al.

- O aumento das doses de gesso proporcionaram a lixiviação do K trocável do solo.

- Os teores foliares de Mg aumentaram e os de Mn diminuiram em função das doses de calcário.

- Os componentes de rendimento e produção de grãos não foram influenciados pela calagem e/ou gessagem.

- O tempo de cozimento do grão aumentou com a elevação das doses de calcário e de gesso.

Recebido para publicação em 05.07.96

Aceito para publicação em 11.03.98

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    14 Maio 1999
  • Data do Fascículo
    1998

Histórico

  • Aceito
    11 Mar 1998
  • Recebido
    05 Jul 1996
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