Ocorrência do vírus "vein enation (woody gall)" em limão verdadeiro (Citrus limon burm. cv siciliano) em Santa Catarina

Occurrence of the "vein enetion (woody gall)" virus in lemon (Citrus limon) Burm. cv siciliano in the Santa Catarina state

NOTA

OCORRÊNCIA DO VÍRUS "VEIN ENATION (WOODY GALL)" EM LIMÃO VERDADEIRO (Citrus Limon Burm. CV SICILIANO) EM SANTA CATARINA

O.L. KOLLER^1,2

¹Estação Experimental de Itajaí-EPAGRI, C.P. 277, CEP: 88301-970 - Itajaí, SC.

²Bolsista do CNPq.

RESUMO: Relata-se a ocorrência do vírus causador da doença "vein enation", também conhecida por "woody gall", em plantas de limão verdadeiro, em Santa Catarina, introduzido em pomar comercial através de mudas adquiridas em São Paulo. Limão 'Volkameriano' enxertado com material contaminado desenvolveu os sintomas característicos de "woody gall", com grande intensidade no Alto Vale do Itajaí, e com menor intensidade no Litoral Norte de Santa Catarina. Constatou-se redução no desenvolvimento das plantas e na produção de frutos. Todo material sabidamente contaminado foi erradicado. Sugere-se às instituições oficiais de pesquisa a realização de testes de indexação para esta virose em seus bancos de germoplasma, uma vez que grande parte das variedades cítricas não desenvolve os sintomas da doença.

Descritores: limão Siciliano, limão Volkameriano, indexação, vírus "vein enation"

OCCURRENCE OF THE "VEIN ENETION (WOODY GALL)" VIRUS IN LEMON (Citrus limon) Burm. CV SICILIANO IN THE SANTA CATARINA STATE

ABSTRACT: The presence of the vein enation virus, also known as woody gall virus, in Citrus limon, in Santa Catarina State, is reported. The virus was introduced through contamined nursery plants acquired in the São Paulo State. 'Volkamer' lemon budded with contamined buds has developed typical woody gall symptoms, more frequently in Alto Vale do Itajaí (High Itajaí River Valley), and less frequently in Santa Catarina's Northern Coast. A significant decrease in plant development and fruit yield was been observed. All known contaminated material was erradicated. It is suggested that official research institutions carry out indexing tests for this virosis at their germplasm banks, since part of the citrus varieties fail to develop symptoms of this disease.

Key Words: Siciliano lemon, Volkamer lemon, indexing, vein enation virus

INTRODUÇÃO

São muitas as viroses conhecidas dos citros. Algumas, devido aos grandes danos que causam à produção, são consideradas de grande importância econômica, como a tristeza, a leprose e a exocorte. A virose "vein enation", causadora de sintomas típicos nas folhas, no entanto, é considerada de menor importância econômica. A doença causadora de galhas lenhosas no tronco e raízes, descrita e então denominada "woody gall", constatou-se mais tarde ter por agente causal o mesmo vírus da "vein enation" já observada e descrita anteriormente, razão pela qual este nome tem preferência, embora "woody gall" seja mais representativo.

Wallace (1968 e 1978) descreve detalhadamente os sintomas da doença, que tem sido observada na Califórnia, Austrália, África do Sul, Peru e Japão. A transmissão ocorre por borbulhas contaminadas ou através dos afídeos Myzus persicae, Toxoptera citricidus e Aphis gossypii. Não tem sido observada transmissão através de ferramentas de poda (Garnsey, 1989).

Segundo Wallace (1968 e 1978) os sintomas não se manifestam em todas espécies ou variedades cítricas. Algumas desenvolvem apenas o sintoma "vein enation", que são pequenas saliências ou alongamentos, com formato de espinhos, que partem das nervuras, localizando-se na página inferior das folhas, as quais apresentam pequenos afundamentos correspondentes na página superior. O vírus pode estar presente em diversas espécies, como tangerina 'Satsuma', laranja 'Bahia', limão 'Eureca', entre outras. Os sintomas do tipo galhas se manifestam em limão 'Rugoso' (fortes), limão 'Volkameriano' (fortes), limas ácidas (às vezes, até fortes), 'Rangpur' (às vezes, fracos) e laranja 'Azeda' (raramente).

As galhas normalmente se formam próximas a espinhos, na base de ramos pequenos ou em associação com ferimentos, são muito duras e atingem desde a região medular do tronco, ramo ou raiz, até a parte externa, onde se manifestam salientes, com formato que lembra uma verruga ou uma couve-flor. O corte longitudinal do tronco na região de uma galha mostra ter a mesma a forma de um cone, com o vértice no centro do tronco, sendo a base do cone formada pela parte externa visível.

Como plantas indicadoras são apontadas o limão 'Galego' e a laranja 'Azeda'. Em plântulas destas cultivares realizam-se enxertos com borbulhas da planta a ser testada. O sintoma "vein enation" aparece 4 a 5 semanas após a inoculação nas folhas da planta indicadora, caso as borbulhas estiverem contaminados (van Vuuren, 1992 e Wallace, 1968). Como medida de controle recomenda-se evitar a propagação de material contaminado (Garnsey, 1989).

MATERIAL E MÉTODOS

Em 1979 foram instalados dois experimentos de altura de enxertia com limão verdadeiro sobre os porta-enxertos laranja 'Azeda', laranja 'Caipira', limão 'Cravo', limão 'Volkameriano' e tangerina 'Cleópatra', cujos resultados de desenvolvimento e produção já foram relatados anteriormente por Koller (1988). As mudas para estes experimentos foram produzidas na Estação Experimental de Itajaí, em 1977/79, tendo as sementes dos porta-enxertos sido fornecidas pela Estação Experimental de Taquari - RS, enquanto as borbulhas foram retiradas de uma planta muito vigorosa de limão verdadeiro, que se supunha ser um clone novo de limão `Siciliano', localizada num pomar comercial do município de Barra Velha - SC, pertencente à empresa Duas Rodas Industrial Ltda. As mudas deste pomar haviam sido adquiridas em viveiro no Estado de São Paulo no início da década de setenta.

Um dos experimentos foi instalado no município de Barra Velha, no Litoral Norte de Santa Catarina, 30 m acima do nível do mar, e outro, em Rio do Oeste, no Alto Vale do Rio Itajaí, 350m acima do nível do mar, onde as temperaturas, particularmente no inverno, são bem mais baixas, chegando a causar danos às brotações dos limoeiros.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Em 1982, a partir do terceiro ano de instalação dos experimentos, iniciou a chamar atenção o surgimento e o desenvolvimento de galhas lenhosas, observadas apenas no porta-enxerto `Volkameriano', sem, no entanto, se desenvolverem na copa formada pelo limão verdadeiro. Inicialmente não se tinha conhecimento de qual seria a causa do surgimento destas galhas. Na época tampouco foi analisada a ocorrência ou não do sintoma "vein enation".

As galhas eram mais numerosas e desenvolveram-se mais no experimento em Rio do Oeste, no Alto Vale do Rio Itajaí, onde praticamente todas as plantas de 'Volkameriano' do experimento apresentavam o sintoma. Em Barra Velha, onde a temperatura durante o inverno não era tão baixa quanto em Rio do Oeste, as galhas sobre 'Volkameriano' eram menores, em menor número, e algumas plantas não as apresentavam. A Figura 1 mostra detalhes de galhas observadas em Rio do Oeste.

Figura 1
- Tronco de limão verdadeiro enxertado sobre limão `Volkameriano' a 40cm do nível do solo, observando-se galhas típicas causadas pelo vírus "vein enation" (ou "woody gall"), com uma maior concentração de lesões na região do enxerto, sem incidência de galhas na copa de limão, a qual é tolerante ao vírus, tendo porém a copa sido atacada por Phytophthora, vendo-se uma grande lesão com morte da casca, Rio do Oeste/SC, 1985.

As plantas do experimento de Rio do Oeste, devido às melhores condições de solo e de manejo, se desenvolveram mais, e mais rapidamente, que as do experimento de Barra Velha. Devido às condições climáticas de alta umidade, associadas ao maior vigor das plantas, também houve uma maior ocorrência de Phytophthora no experimento de Rio do Oeste. Por outro lado, fendas ou rachaduras da casca junto às galhas também viabilizaram um maior ataque de Phytophthora no porta-enxerto 'Volkameriano'. Na TABELA 1 pode-se verificar que 'Volkameriano' desenvolveu menor área de projeção de copa e teve menor produção de frutos do que o limão 'Cravo' em Rio do Oeste, o que não se repetiu em Barra Velha. Isto poderia ser atribuído ao maior dano causado pelo vírus em Rio do Oeste, uma vez que as galhas foram mais numerosas e mais desenvolvidas neste local. Esta hipótese é reforçada pelos resultados obtidos por Salibe & Mischan (1981), que não observaram grandes diferenças entre 'Volkameriano' e 'Cravo' enxertados com limão 'Feminello Santa Teresa'. Da mesma forma, em dois experimentos de porta-enxertos para limão 'Siciliano' instalados nas mesmas regiões dos experimentos do presente trabalho, utilizando-se outro clone de limão verdadeiro como copa, os porta-enxertos 'Volkameriano' e 'Cravo' também não induziram diferenças significativas de produção, embora o vigor das plantas sobre 'Volkameriano', aqui sem sintomas da virose, fosse ligeiramente superior às plantas sobre limão 'Cravo' (Koller, 1987).

Embora não se tenha realizado inoculações para confirmar a presença de um agente virótico, pode-se afirmar, com boa margem de segurança, serem os sintomas observados realmente devidos à presença de "vein enation", pois coincidem perfeitamente com aqueles descritos e documentados fotograficamente por Garnsey (1989) e Wallace (1968 e 1978).

Pelos resultados observados, o vírus "vein enation", causador das galhas, devia estar presente na planta fornecedora de borbulhas para os experimentos, planta esta introduzida de São Paulo, juntamente com outras, como sendo de clone novo livre de vírus. Como os porta-enxertos 'Volkameriano' e limão 'Rugoso', que desenvolvem galhas quando contaminados, são pouco empregados nas regiões Sul e Sudeste, e como o vírus é transmitido pelo pulgão preto dos citros, o qual se encontra disseminado em todo país, pode-se levantar a hipótese de que outros materiais poderiam eventualmente estar contaminados, sem que se saiba.

Sugere-se às instituições oficiais e aos pesquisadores que procurem observar a presença do sintoma "vein enation" em seus bancos de germoplasma e que realizem testes de indexação, para possibilitar a identificação e a "limpeza" dos materiais eventualmente contaminados, pois a presença do vírus, mesmo em variedades consideradas tolerantes, embora possivelmente pequeno, deve causar algum prejuízo à produção das plantas, além do risco de, por desconhecimento de sua presença, virem a ser enxertadas sobre porta-enxertos intolerantes.

As plantas contaminadas do pomar comercial de Barra Velha e dos dois experimentos foram erradicadas no final de 1987 e em anos anteriores, desconhecendo-se atualmente se o vírus ainda se encontra presente em alguma planta cítrica em Santa Catarina.

CONCLUSÕES

O vírus causador da doença "vein enation" teve sua presença constatada, com base nos sintomas característicos, em experimentos com limão verdadeiro em Santa Catarina, tendo sua introdução ocorrido através de mudas adquiridas em viveiro do Estado de São Paulo no início da década de 70.

Plantas contaminadas, enxertadas sobre limão 'Volkameriano', quando desenvolvem galhas, têm menor desenvolvimento e menor produção de frutos.

AGRADECIMENTOS

O autor agradece à Duas Rodas Industrial Ltda. de Jaraguá do Sul e ao saudoso Sr. Nereu Masson de Rio do Oeste, por haverem cedido a área e colaborado na instalação e condução dos experimentos de altura de enxertia, ao técnico agrícola Alécio Borinelli, pela colaboração nos trabalhos a campo e ao colega Luiz Alberto Lichtemberg, pela assessoria técnica.

Recebido para publicação em 25.04.97

Aceito para publicação em 04.08.97

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  14 Maio 1999
• Data do Fascículo
  1998

Histórico

• Aceito
  04 Ago 1997
• Recebido
  25 Abr 1997