INFLUÊNCIA DO CULTIVO CONSORCIADO DE AVEIA PRETA (AVENA STRIGOSA SCHIEB.) E ERVILHACA COMUM (VICIA SATIVA L.) NA PRODUÇÃO DE FITOMASSA E NO APORTE DE NITROGÊNIO

INFLUENCE OF INTERCROPPED COMMON VETCH (VICIA SATIVA L.) AND NAKED OAT (AVENA STRIGOSA) ON BIOMASS PRODUCTION AND NITROGEN ADDITION

INFLUÊNCIA DO CULTIVO CONSORCIADO DE AVEIA PRETA (AVENA STRIGOSA SCHIEB.) E ERVILHACA COMUM (VICIA SATIVA L.) NA PRODUÇÃO DE FITOMASSA E NO APORTE DE NITROGÊNIO¹

R. Heinrichs²; A.L. Fancelli^3,*

²Seção Nutrição Mineral de Plantas-CENA/USP, C.P. 96, CEP: 13400-970 - Piracicaba, SP.

³Depto. de Agricultura-ESALQ/USP, C.P. 9, CEP: 13418-900 - Piracicaba, SP.

*e-mail: [e-mail]

RESUMO: Em um Podzólico Vermelho Amarelo e sob preparo convencional, foi avaliada a influência de proporções de sementes de ervilhaca (Vicia sativa L.) e de aveia preta (Avena strigosa Schieb.) cultivadas em consórcio, na produção de fitomassa e no aporte de nitrogênio no sistema. O experimento foi implantado em solo podzolico vermelho amarelo, de Santa Maria, RS. Os tratamentos foram casualizados em quatro blocos, constituindo-se de: 1- 100% Ervilhaca comum (E); 2- 90% E + 10% Aveia preta (A); 3- 75% E + 25% A; 4- 50% E + 50% A; 5- 25% E + 75% A; 6- 100% A; 7- pousio de inverno. A amostragem da fitomassa das coberturas verdes foi efetuada na ocasião do pleno florescimento em área de 0,8m² por parcela. Os resultados evidenciaram que a aveia preta e a ervilhaca comum podem ser consorciadas, beneficiando assim, a produção de fitomassa e acúmulo de nitrogênio.

Palavras-chave: consorciação; espécies de inverno; adubação verde; nitrogênio

INFLUENCE OF INTERCROPPED COMMON VETCH (VICIA SATIVA L.) AND NAKED OAT (AVENA STRIGOSA) ON BIOMASS PRODUCTION AND NITROGEN ADDITION

ABSTRACT: The effect of intercropping common vetch (Vicia sativa L.) with naked oat (Avena strigosa Schieb.) at different seed proportions was evaluated. The trial was set up on a Red Yellow Podzolic soil of Santa Maria, RS, Brazil. The treatments were the following: 1- 100% E (common vetch); 2- 90% E + 10% A (naked oat); 3- 75% E + 25% A; 4- 50% E + 50% A; 5- 25% E + 75% A; 6- 100% A; 7- fall tillage organized in four randomized blocks. Biomass production was evaluated at the flowering stage in an area of 0.8 m² per plot. Data show that both species can be intercropped which is beneficial to biomass production and nitrogen accumulation.

Key words: intercropping, winter species, green manure, nitrogen

INTRODUÇÃO

A perda de solo resultando na redução da fertilidade, principalmente nas regiões tropicais e subtropicais, ocorre principalmente devido a falta de cobertura e proteção do solo.

Neste contexto, a adubação verde pode contribuir para a proteção da superfície do solo.

A produção de culturas em consórcio é um sistema antigo na agricultura e, um dos mais avançados métodos para diversificação no sistema de produção (Trenbath, 1974).

No cultivo consorciado entre leguminosas e gramíneas, geralmente, a gramínea apresenta maior produção de fitomassa.

Segundo Baier et al. (1988), a aveia é uma espécie que pode ser cultivada em consórcio com leguminosas, dentre as quais se destacam a ervilhaca e o trevo vermelho, chegando a produzir de 3569 a 5381 kg ha^-1 de matéria seca no somatório de 3 cortes.

Para o adequado estabelecimento de espécies consorciadas segundo Fontaneli & Giraldi (1988), é necessário que a densidade de semeadura seja apropriada, de forma a não prejudicar uma dada espécie.

Fontaneli et al. (1991) avaliaram o efeito da consorciação entre gramíneas e leguminosas de inverno e observaram, no primeiro corte, que a aveia se destacou entre as gramíneas e a ervilhaca obteve o melhor rendimento de fitomassa entre as leguminosas estudadas.

Cabarello et al. (1995) relataram que a melhor produção relativa na consorciação entre ervilhaca comum e ervilha com aveia, foi obtida quando a proporção na densidade de semeadura foi de 90% e 10% ou 80% e 20%, respectivamente. No mesmo trabalho, a produção de matéria seca total não foi afetada pela proporção utilizada na semeadura. Assim, infere-se que o efeito da aveia no consórcio sobre a produção de ervilhaca comum aumenta em função da sua participação na densidade de semeadura. Sugerem os autores, que a proporção de sementes de aveia a ser utilizada, para assegurar melhor produção de ervilhaca, esteja em torno de 10%.

Helenius & Jokinen (1994) estudaram a produção relativa de matéria seca descrita por Mead & Willey (1980) e verificaram que a produção de fitomassa na consorciação variou de 0,85 à 1,05. Com isso pode-se obter uma referência para escolha de qual a proporção que melhor se adapta num determinado sistema de produção. Da mesma forma, Francis (1989) afirma que a produção relativa é recomendada para a avaliação de experimentos que envolvam sistemas consorciados de produção.

O objetivo deste trabalho foi o de avaliar o efeito do cultivo consorciado de aveia preta (Avena strigosa Schieb.) e ervilhaca comum (Vicia sativa L.) na produção de fitomassa e no aporte de nitrogênio no sistema.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido em um Podzólico Vermelho Amarelo, textura média, relevo ondulado, na área experimental pertencente ao Departamento de Solos da Universidade Federal de Santa Maria, - Estado do Rio Grande do Sul. As coordenadas geográficas de referência são 29º 42º latitude sul, 53º 48º longitude oeste. O clima de acordo com a classificação de Köepen é do tipo cfa - subtropical úmido. Os resultados de análise química do solo na profundidade de 0 - 20 cm antes da implantação do experimento são: pH H₂O (1:1) = 5,3; Ind SMP = 6,3; M.O. = 17 g dm^-3; P = 7,9 mg dm^-3 (Mehlich 1); K = 2,2 mmol_c dm^-3; H+Al = 31 mmol_c dm^-3; Al³⁺ = 4 mmol_c dm^-3; Ca + Mg = 42 mmol_c dm^-3 e V = 57%.

As espécies de adubo verde utilizadas no consórcio foram: Aveia preta (Avena strigosa Schieb.) e Ervilhaca comum (Vícia sativa L.), cujas variações nas proporções de densidade de semeadura, constituiram 7 tratamentos, conforme na TABELA 1.

O delineamento experimental usado foi o de blocos ao acaso, com quatro repetições, sendo que cada parcela foi constituída por 20 m² de área total e uma área útil correspondente a 15,75 m².

O preparo do solo consistiu de uma aração atingindo a profundidade de 20 cm e seguinda de uma gradagem niveladora. A semeadura das coberturas verdes de inverno foi à lanço, sem aplicação de fertilizante e a leguminosa recebeu inóculo de Rhizobium específico.

A fitomassa produzida pelas coberturas verdes de inverno foi avaliada no estádio de pleno florescimento, amostrando-se uma área de 0,8 m² em cada parcela. As amostras coletadas foram acondicionadas em estufa com temperatura de 70ºC e após a obtenção do peso constante foi determinado o peso seco do material vegetal. A seguir, procedeu-se a moagem para análise do teor de nitrogênio, pelo método Kjeldhal decrito por Tedesco et al. (1985). A produção relativa de fitomassa e nitrogênio foi determinada pela metodologia descrita por Mead & Willey (1980).

Os resultados foram submetidos à análise estatística com auxílio do programa computacional SAS ("Statistical Analises System") através da análise da variância e comparação de médias pelo Teste Tukey a 5% de probabilidade (SAS Institute, 1988).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Produção de fitomassa pelos adubos verdes: Os tratamentos 2, 3, 4, 5 e 6 atingiram a mesma produção de fitomassa e foram significativamente superiores aos tratamentos 1 e 7, constituiam-se de ervilhaca isolada e pousio de inverno, respectivamente.

Nas condições de pousio de inverno, a produção de matéria seca da parte aérea das plantas espontâneas foi de 1400 kg ha^-1 (TABELA 2), proporcionando baixa produção de fitomassa e consequentemente, menor proteção do solo.

Nos tratamentos com adubação verde de inverno, a menor produção foi obtida no tratamento 1 somente com ervilhaca comum (2730 kg ha^-1), de acordo com os resultados de Heinrichs et al. (1993). Por outro lado, a maior produção foi relacionada ao tratamento 5 (5192 kg ha^-1) apesar de não ter diferido estatisticamente dos demais tratamentos que continham aveia na consorciação, evidenciando a grande importância da aveia na produção de massa seca total no consórcio. No tratamento 5, a produção total de MS foi 5% e 47% maior do que aquela correspondente a aveia e ervilhaca em cultivo exclusivo, respectivamente.

Constatou-se ainda que a produção de matéria seca das espécies foi diretamente proporcional a sua densidade de semeadura nos tratamentos. Pode-se verificar que no tratamento 2 (90%E + 10%A) houve maior equilíbrio, entre as espécies, na produção de fitomassa, ratificando os resultados obtidos por Caballero et al. (1995).

A produção de matéria seca relativa entre as duas espécies estão representadas na TABELA 2. Pode-se constatar que a mesma foi afetada positivamente pelo consórcio. A variação na produção relativa de matéria seca foi de 1,13 a 1,16 nos tratamentos 2, 3, 4 e 5. Resultados semelhantes foram obtidos por Caballero et al. (1995), em consórcio de aveia com ervilhaca, mostrando que na relação de semeadura de 9: 1, a favor da leguminosa, a produção relativa de MS foi igual a 1,19.

Assim, quando o objetivo for relacionado à produção de MS, a prática da consorciação é um fator positivo, porque o coeficiente é maior que 1. No entanto, a ervilhaca é muito mais afetada por esse sistema, porque a associação em 10% com a aveia, reduziu a sua participação na produção de MS no consórcio para 68% do seu potencial máximo. O mesmo não ocorreu com a aveia, cuja associação em 10% e 75% na semeadura, chega a produzir 47% e 94%, respectivamente, da sua capacidade máxima de produção de fitomassa, podendo ser atribuído ao grande perfilhamento e maior rusticidade da cultura. Caballero et al. (1995), quando estudaram esse comportamento com a ervilhaca e aveia concluíram que a participação da gramínea foi menor na produção relativa e obtiveram um efeito negativo quando se usou a proporção de 70:30 e 60:40 de ervilhaca e aveia na associação, respectivamente.

Nas condições do experimento, cabe salientar que as duas espécies se adaptaram satisfatoriamente ao cultivo consorciado, configurando alternativa para o cultivo de inverno, protejendo o solo dos efeitos climáticos, principalmente em regiões com alta precipitação pluvial durante esse período.

Acúmulo de nitrogênio na fitomassa dos adubos verdes: Na TABELA 3, é apresentada a contribuição de cada espécie e a quantidade total de nitrogênio acumulada na fitomassa da cobertura de inverno. A maior quantidade acumulada foi aquela referente ao tratamento 3 com 85,1 kg ha^-1, no entanto, diferindo estatísticamente apenas do tratamento referente ao pousio de inverno (23,6 kg ha^-1).

Analisando-se as espécies isoladamente detectou-se diferença estatística no acúmulo de nitrogênio na fitomassa em relação à densidade de semeadura empregada para as espécies estudadas. A ervilhaca, no tratamento 1, acumulou maior quantidade de nitrogênio atingindo 74,8 kg ha^-1, porém não diferiu estatisticamente do tratamento 2. Para a aveia, a maior concentração foi obtida no tratamento 5, acumulando 57,6 kg ha^-1; a qual diferiu estatisticamente somente do tratamento 2 (34,1 kg ha^-1).

Embora a quantidade de nitrogênio acumulado na aveia preta, (tratamento 6), tenha sido inferior a do consórcio e da leguminosa, a mesma não diferiu estatisticamente dos demais tratamentos com adubo verde, sendo maior do que aquela encontrada no tratamento com pousio de inverno. Esse resultado concorda com Ros & Aita (1996) e mostra a importância da cobertura da aveia preta na manutenção do nitrogênio no solo, contribuindo para a redução do potencial de perdas desse nutriente.

A TABELA 4 mostra que o nitrogênio total relativo acumulado na fitomassa variou de 1,22 a 1,32 no tratamentos 4 e 3, respectivamente, ratificando que o favorecimento ao acúmulo de nitrogênio pelo consórcio é evidente. No entanto, é fundamental verificar o teor de carbono na planta, pois estando a gramínea em maior proporção, o nitrogênio acumulado pela planta será utilizado para sua decomposição, causando a imobilização microbiana em função da maior relação C/N (Siqueira & Franco, 1988), podendo causar uma deficiência do nutriente a cultura em sucessão.

Para a ervilhaca, de modo semelhante ao ocorrido com a produção relativa de fitomassa, o acúmulo de nitrogênio foi afetado pelo consórcio. Com apenas 10% de aveia na semeadura, a sua participação no nitrogênio caiu para 67% do acumulado, quando cultivada isoladamente.

A aveia, sendo uma cultura mais rústica e adaptada ao cultivo associado, com 75% na semeadura o conteúdo de nitrogênio foi superior ao acumulado quando cultivada isoladamente. Esse fato pode ser atribuido à decomposição de raizes, bem como à queda e decomposição de folha da leguminosa durante o ciclo do adubo verde.

Na TABELA 4, é possível verificar que a aveia, com participação de 25% na semeadura (tratamento 3) o acúmulo relativo de nitrogênio foi de 74% do seu potencial. Por outro lado, o cultivo da ervilhaca quando da participação de 25% na semeadura (tratamento 5), resultou no acúmulo relativo de nitrogênio na fitomassa de apenas 21% do seu potencial máximo.

CONCLUSÕES

- A consorciação de aveia preta e ervilhaca como adubação verde contribui para maior produção de fitomassa por unidade de área.

- O aporte de nitrogênio na fitomassa produzida pelo sistema consorciado é maior, em comparação ao emprego isolado da leguminosa, apesar do desempenho da ervilhaca ser afetado pela presença da aveia preta .

- A produção relativa de fitomassa e o acúmulo relativo de nitrogênio é influenciado positivamente pelo consórcio de aveia preta e ervilhaca.

Recebido para publicação em 05.09.97

Aceito para publicação em 30.06.98

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¹

Parte da dissertação de mestrado do primeiro autor apresentada à ESALQ/USP.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  18 Jun 1999
• Data do Fascículo
  1999

Histórico

• Aceito
  30 Jun 1998
• Recebido
  05 Set 1997