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ADUBAÇÃO NPK E PRODUÇÃO DE BORRACHA SECA PELA SERINGUEIRA (Hevea brasiliensis)

NPK FERTILIZATION AND DRY RUBBER PRODUCTION BY Hevea brasiliensis TREES

Resumos

Instalou-se um experimento, na região de Garça, SP, em um solo Latossolo Vermelho escuro, A moderado, textura arenosa, com o objetivo de se avaliar a influência da adubação NPK sobre a produtividade de borracha seca da seringueira (Hevea brasiliensis) clone "PB 235", com 13 anos de idade. O experimento foi instalado em blocos ao acaso, em esquema fatorial fracionário (1/4)43, totalizando 16 tratamentos e 4 repetições, onde se utilizaram 4 níveis de N (0, 80, 160, 320 kg ha-1), 4 de K2O (0, 80, 160, 320 kg ha-1) e 4 de P2O5 (0, 40, 80, 160 kg ha-1). A produção foi avaliada entre os mêses de outubro de 1995 a junho de 1996. Conclui-se que a adubação potássica aumentou a produtividade de borracha seca, o mesmo não ocorrendo com a adubação nitrogenada e fosfatada.

seringueira; adubação; NPK


An experiment was carried out to study the effects of nitrogen, phosphorus and potassium fertilizations on dry rubber yield of Hevea brasiliensis Muell Arg., clone PB 235 growing on a Dark Red-Yellow Latosol, in Garça-SP, Brazil. The experiment consisted of a (1/4)43 fractional factorial of randomized block design, with 16 treatments and 4 replicates, utilizing 4 levels of N (0, 80, 160 and 320 kg ha-1), 4 of P2O5 (0, 40, 80 and 160 kg ha-1) and 4 of K (0, 80, 160 and 320 kg ha-1). The rubber yield was evaluated monthly from October 1995 to June 1996. Results showed that potassium fertilization increased dry rubber yield, which was not affected by nitrogen and phosphate fertilizations.

rubber tree; NPK; fertilization


ADUBAÇÃO NPK E PRODUÇÃO DE BORRACHA SECA PELA SERINGUEIRA (Hevea brasiliensis)

Marcos Roberto Murbach1; Antonio Enedi Boaretto2,*; Takashi Muraoka2; Ronaldo Ivan Silveira3; Rodrigo Marcel Boaretto4

1Aluno de Pós-Graduação no Curso de Produção Vegetal da FCAVJ/UNESP.

2Centro de Energia Nuclear na Agricultura/USP, C.P. 96, CEP13400-970, Piracicaba, SP.

3Departamento de Ciência do Solo-ESALQ/USP, C.P. 9, CEP13418-900, Piracicaba, SP.

4Estagiário bolsista CNPq.

*e-mail: aeboaret@cena.usp.br

RESUMO: Instalou-se um experimento, na região de Garça, SP, em um solo Latossolo Vermelho escuro, A moderado, textura arenosa, com o objetivo de se avaliar a influência da adubação NPK sobre a produtividade de borracha seca da seringueira (Hevea brasiliensis) clone "PB 235", com 13 anos de idade. O experimento foi instalado em blocos ao acaso, em esquema fatorial fracionário (1/4)43, totalizando 16 tratamentos e 4 repetições, onde se utilizaram 4 níveis de N (0, 80, 160, 320 kg ha-1), 4 de K2O (0, 80, 160, 320 kg ha-1) e 4 de P2O5 (0, 40, 80, 160 kg ha-1). A produção foi avaliada entre os mêses de outubro de 1995 a junho de 1996. Conclui-se que a adubação potássica aumentou a produtividade de borracha seca, o mesmo não ocorrendo com a adubação nitrogenada e fosfatada.

Palavras-chave: seringueira, adubação, NPK

NPK FERTILIZATION AND DRY RUBBER PRODUCTION BY Hevea brasiliensis TREES

ABSTRACT: An experiment was carried out to study the effects of nitrogen, phosphorus and potassium fertilizations on dry rubber yield of Hevea brasiliensis Muell Arg., clone PB 235 growing on a Dark Red-Yellow Latosol, in Garça-SP, Brazil. The experiment consisted of a (1/4)43 fractional factorial of randomized block design, with 16 treatments and 4 replicates, utilizing 4 levels of N (0, 80, 160 and 320 kg ha-1), 4 of P2O5 (0, 40, 80 and 160 kg ha-1) and 4 of K (0, 80, 160 and 320 kg ha-1). The rubber yield was evaluated monthly from October 1995 to June 1996. Results showed that potassium fertilization increased dry rubber yield, which was not affected by nitrogen and phosphate fertilizations.

Key words: rubber tree, NPK, fertilization

INTRODUÇÃO

Originária da região Amazônica, a seringueira (Hevea brasiliensis Muell Arg.) desperta grande interesse para o cultivo nas zonas tropicais, onde pode-se obter alta produção de borracha quando empregados clones melhorados e tratos culturais adequados. Os seringais implantados no planalto Ocidental do Estado de São Paulo vêm apresentando bons resultados de crescimento e producão. No entanto, algumas limitações exigem esforços concentrados de pesquisa para superá-las, destacando-se neste contexto os trabalhos nas áreas de adubação e nutrição da cultura, no sentido de tornar mínimos e/ou anular os efeitos negativos dos fatores edáficos que podem limitar o crescimento e a produção da seringueira.

A literatura, ainda limitada, sobre a adubação da seringueira mostra muitas vezes que sua resposta à aplicação de fertilizantes é inconsistente, particularmente para alguns nutrientes como nitrogênio e potássio. Há entretanto, resultados experimentais que evidenciam o efeito benéfico da aplicação de fertilizantes, não somente na fase de desenvolvimento como também na fase produtiva.

Bataglia et al.(1987) em um estudo da situação nutricional e desenvolvimento dos seringais em São Paulo com média de 11 anos de idade, verificaram que quando os mesmos eram cultivados em solos de maior fertilidade como Latossolo Roxo do Planalto Paulista, se desenvolveram mais, com 95% das plantas aptas para entrar em sangria, em comparação aos solos do Litoral, como PodzólicoVermelho Amarelo-orto e Latossolo Vermelho amarelo- fase rasa, com somente 40% das plantas aptas à sangria. Neste mesmo trabalho, compararam seringais com diferentes níveis de produtividade e verificaram através da análise foliar que os seringais com produtividade abaixo de 1000kg ha-1ano de borracha seca apresentaram níveis foliares de N e K significativamente mais baixos que seringais com produção superior.

Domingues (1994), fazendo um levantamento nutricional de alguns seringais de São Paulo, constatou que todos os solos sob seringais estudados apresentaram elevada acidez, baixos teores dos nutrientes P, K, Ca, Mg e baixa saturação por bases, indicando pouca preocupação dos produtores quanto a um manejo adequado da cultura. Verificou também que os seringais situados em solos com saturação por bases superior a 50%, apresentaram um maior incremento anual no perímetro do tronco.

Reis et al. (1984) estudaram a influência da calagem e da adubação N, P e K sobre a produção da seringueira no sul da Bahia. Observaram que, embora os tratamentos com a adubação e calagem e a combinação de ambos não tenham apresentado efeitos estatisticamente significativos na produção, os níveis alcançados foram bastantes elevados em relação à produção média anual da região.

Reis & Cabala-Rosand (1988) em um estudo da influência do fósforo na produção de borracha e recuperação da casca em seringal no sul da Bahia, verificaram que não houve aumento na produção de borracha devido à adubação fosfatada, mas houve efeito da adubação fosfatada na renovação da casca.

Atenção especial deve ser dada aos seringais que estão em produção, pois possuem duas fontes de drenagem dos nutrientes, uma para suprir o desenvolvimento da planta e a outra a produção de látex. Pushparajah (1977) mostrou que uma adubação inadequada faz com que haja um desequilíbrio nutricional das árvores, quando estas são submetidas a sistemas intensivos de explotação.

O presente trabalho teve por objetivo avaliar a influência da adubação nitrogenada, potássica e fosfatada, na produtividade de borracha seca da seringueira cultivada no planalto ocidental de São Paulo.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no município de Garça, São Paulo, em uma região onde há grandes áreas em cultivo com seringueira. O solo é um Latossolo Vermelho escuro A moderado textura arenosa. O estudo foi instalado em um seringal com 3,5 anos de idade, do clone PB 235 em 1988. Até o ano de 1994 avaliou-se o desenvolvimento das árvores e alguns parâmetros fisiológicos do látex, onde se verificou que a adubação potássica proporcionou efeito positivo no desenvolvimento do tronco e na espessura da casca e através da diagnose do látex verificou que os teores de P inorgânico estavam elevados em alguns tratamentos, o que poderia ser um sinal de super explotação. (Falcão, 1996) .

A partir de outubro de 1995 iniciou-se a avaliação da produção e o sistema de sangria utilizado foi em meia espiral, a cada quatro dias com seis dias de sangria por semana, sem balanceamento anual de painel, estimulação com Ethrel 2,5%, aplicação de 1g/planta em faixa de 1cm sobre o painel de sangria e em 2 aplicações anuais (1/2S d/4 6d/7 ET 2,5% Pa 1/1 2/y). A avaliação da produção foi mensal e os coágulos eram colhidos e pendurados em arames presos às árvores. A pesagem dos coágulos foi realizada em balança digital e os resultados de cada mês foram expressos em g de borracha seca por planta e g de borracha seca por sangria.. A cada pesagem era coletada uma amostra representativa de coágulos e seca em estufa a 60ºC para se estimar o conteúdo de borracha seca.

O experimento foi composto por 16 tratamentos distribuídos em 4 blocos, adotando-se o esquema fatorial fracionário (1/4)43 (Box et al., 1973; Gomes, 1978). Os níveis de nutrientes foram: N (0, 80, 160 e 320 kg ha-1), na forma de uréia (45% de N); de P2O5 (0, 40, 80 e 160 kg ha-1), na forma de superfosfato simples (18% P2O5) e K2O (0, 80, 160 e 320 kg ha-1), na forma de cloreto de potássio (60% K2O). Cada parcela continha 20 plantas e a produtividade de borracha foi avaliada nas 6 plantas centrais da parcela. Os tratamentos de adubação foram: N0P0K0, N1P1K0, N1P0K1, N0P1K1, N1P1K1, N2P1K1, N3P1K1, N1P2K1, N1P3K1, N1P1K2, N1P1K3, N2P1K2, N3P1K2, N2P1K3, N2P2K2, N3P3K3.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A Figura 1 ilustra a flutuação mensal da produtividade de borracha seca no período estudado. Nas primeiras sangrias (outubro e novembro), que são feitas após o repouso para enfolhamento das plantas, observaram-se as menores produções de borracha seca, em razão do "deficit" hídrico e pela drenagem de fotossintetizados para desenvolvimento das folhas e ramos que é muito intensa nesta época do ano. A produção do látex se elevou de outubro a fevereiro, e de fevereiro a abril permaneceu constante e nos meses de maio e junho a produção foi é decrescente e se encerrou no final do mês de junho, devido à queda prematura das folhas, fato este que ocorreu devido à alta incidência de ácaros na cultura.

Figura 1
- Produção média de borracha seca, por sangria, no ano agrícola de 95/96.

Na Tabela 1 são apresentados os valores do teste F das regressões, média mensal e o coeficiente de variação, obtidos na análise da variância das produções mensais de borracha seca, verificando-se que a adubação potássica promoveu um efeito na produção de borracha seca nos meses de março, abril, maio e junho, com resposta quadrática para este parâmetro.

A Figura 2 ilustra o efeito da adubação potássica sobre a produtividade de borracha seca nos meses de abril e junho. Ambas as figuras 2A e 2B mostram que há resposta à adubação até a dose de aproximadamente 160 kg ha-1 de K2O, e que após este nível há um decréscimo acentuado na produtividade de borracha seca.

Figura 2
- Efeito do K na produtividade de borracha seca nos meses (A) abril e (B) junho.

A Figura 3 mostra a influência da adubação potássica na produção anual de borracha seca. Pode-se verificar uma tendência de resposta à aplicação de potássio até a dose de 155 kg ha-1. O valor de R2 igual a 0,9643 é significativo ao nível de 10% de probabilidade.

Figura 3
- Influência da adubação potássica na produção anual de borracha seca.

Verifica-se que os efeitos da adubação potássica aparecem mais claramente nos meses de maior produção (fevereiro a maio). Este fato talvez seja explicado porque nos outros meses a produção de látex estaria sendo limitada por outros fatores como: alto índice de tamponamento, utilização de reservas e de fotoassimilados para o crescimento de ramos e folhas. Para Tonnelier & Gener (1979), um período de descanso anual não implica em perda de produtividade, pois mostraram que dois meses de descanso durante o período de desfolhamento e enfolhamento, ou outro período, tal como durante a época de chuvas intensas, quando a sangria é normalmente interrompida, há um efeito positivo a longo prazo, na produtividade e no estado geral das plantas.

Não se observou influência da adubação fosfatada na produção de borracha seca e a adubação nitrogenada apresentou efeito linear negativo na produção do mês de março.

Na Tabela 2 são apresentadas as produções médias anuais de borracha seca em kg ha-1 e em g árvore-1 referente ao ano agrícola de 1995/96, mostrando que não há diferenças estatísticas pelo teste de Tukey ao nível de 5%. É importante notar que nos tratamento em que se aplicou as maiores doses de fertilizante se obtiveram as menores produções, embora não significativamente diferentes mostrando então que o seu uso indiscriminado na cultura da seringueira em fase de produção poderá apresentar efeito negativo.

A importância do equilíbrio dos nutrientes contidos nos fertilizantes aplicados à seringueira foi observado por Pushparajah (1969). O autor verificou que um excesso de nitrogênio sobre potássio na fórmula recomendada, induziu uma depressão na produção. Pelos dados apresentados, verifica-se que a adubação potássica pode influenciar positivamente a produção e que há outros fatores fisiológicos afetando a produção da seringueira nos meses após o reinício da sangria.

CONCLUSÕES

A adubação potássica promoveu um efeito positivo na produção de borracha seca, onde na dose de 155kg.ha-1 de K2O obteve-se a máxima produtividade.

Não se observou efeito da adubação fosfatada e nitrogenada na produtividade de borracha seca.

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à FAPESP pelo auxilio financeiro, e ao CNPq pelas bolsas de mestrado e de iniciação científica, ao IBAMA e ao grupo Sasazaki pelo apoio financeiro e logístico.

Recebido para publicação em 25.06.97

Aceito para publicação em 07.07.98

  • BATAGLIA, O.C.; CARDOSO, M.; IGUE, T. ; RAIJ, B.V. Desenvolvimento da seringueira em solos do Estado de São Paulo. Pesquisa Agropecuária Brasileira, v.22, n.4, p.419-424, 1987.
  • BOX, G.E.P.; HUNTER, W.G. JR.; HUNTER, J.S. Statistics for experimenters: an introdution to design, data analysis and model building. New York: Wiley, 1973. 653p.
  • DOMINGUES, F.A. Nutrição mineral e crescimento de seringais em início de explotação no estado de São Paulo Piracicaba, 1994. 59p. Dissertação (Mestrado) - Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo.
  • FALCÃO, N.P.S. Adubação NPK afetando o desenvolvimento do caule da seringueira e parâmetros fisiológicos do latex. Piracicaba, 1996. 134p. Tese (Doutorado) - Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de São Paulo.
  • GOMES, F.P. Curso de estatística experimental 8.ed. São Paulo: Nobel, 1978. 430p.
  • PUSHPARAJAH, E. Response in growth and yield of Hevea brasiliensis to fertilizer application on Regan series soil. Journal of Rubber Research Institute of Malaysia, v.21, n.2, p.165 - 177, 1969.
  • PUSHPARAJAH, E. Nutritional status and fertilizer requirements of Malaysia on soil for Hevea brasiliensis. Chent State, 1977. 275p. Thesis (D.S.) - University Ghent Belgium.
  • REIS, E.L.; SANTANA, C.J.; CABALA-ROSAND, P. Influência da calagem e adubação na produção da seringueira no sul da Bahia. Revista Theobroma, v.14, n.1, p.33-44, 1984.
  • REIS, E.L.; CABALA-ROSAND, P. Eficiência dos fertilizantes aplicados nas fases pré e pós sangria da seringueira. Revista Theobroma, v.18, n.3, p.189-200, 1988.
  • TONNELIER, M.; GENER, P. Interest et choix d'une periode d'arret de saignée de l'Hevea Cauotchoucs et plastiques, n.590, p.83-88,1979.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    18 Jun 1999
  • Data do Fascículo
    1999

Histórico

  • Aceito
    07 Jul 1998
  • Recebido
    25 Jun 1997
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