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VIABILIDADE DO PÓLEN EM VARIEDADES DE LARANJA DOCE

POLLEN VIABILITY IN SWEET ORANGE VARIETIES

Resumos

Uma vez que a polinização é um dos pontos decisivos para o crescimento e desenvolvimento do fruto, contribuindo com os gametas masculinos para a fecundação e determinando, na maioria das vezes, a fixação dos frutos em citros, torna-se necessário conhecer o grau de esterilidade masculina nas diferentes variedades de laranja doce para sua possível utilização em programas de melhoramento. A esterilidade é limitante para programas que envolvam a hibridação sexual, por outro lado possui sua importância econômica em citros induzindo menor número de sementes por fruto em certas variedades. Com a finalidade de caracterizar 44 variedades de laranja doce (Citrus sinensis [L.] osbeck) quanto à viabilidade do pólen, foram coletadas anteras das variedades enxertadas sobre tangerineira Cleópatra. As variedades estudadas pertencem aos principais grupos de laranja doce: com acidez (como a laranja 'Pêra'), de baixa acidez (como a laranja 'Lima'), com umbigo (como a laranja 'Bahia') e sangüíneas (como a laranja 'Rubi Blood'). O percentual de pólen viável foi avaliado por meio da coloração com carmim acético a 25% e contagem sob microscópio ótico. Foram observados valores que variaram desde 12,0% para a 'Pêra Sem Sementes' até 88,8% para a variedade 'Hamlin Reserva'. Os clones de laranja 'Hamlin' mostraram maior percentual de pólen viável. Não foi observada presença de pólen para as variedades produtoras de laranjas de umbigo, originadas da variedade Bahia. As variedades 'Pêra', 'Valência' e 'Natal', as quais são as principais cultivares da citricultura paulista e nacional, apresentaram baixos percentuais de pólen viável.

Citrus sinensis; melhoramento genético; polinização cruzada; fertilidade


Pollination is one of the most critical points in fruit growth and development, contributing with male gametes for fertilization and determine, greatly, fruit setting in citrus. It is necessary to evaluate male sterility in sweet orange varieties for their possible use in breeding programs. The sterility limits sexual hybridization, but on the other hand, it has economic importance in leading to fewer seeds per fruit in some citrus varieties. In order to characterize 44 sweet orange varieties (Citrus sinensis [L.] osbeck) for pollen viability, anthers were collected from the varieties grafted on Cleopatra mandarin. The varieties investigated represented the major sweet orange groups: acidic oranges (as 'Pera' orange), low acidic oranges (as 'Lima' orange), navel oranges (as 'Bahia' orange) and bloody oranges (as 'Rubi Blood' orange). The percent of viable pollen was evaluated using acetic carmine stain under optic microscopy. The values ranged from 12.0% for 'Pera Sem Sementes' orange to 88.8% for 'Hamlin Reserva' orange. The 'Hamlin' clones showed the largest percent of viable pollen. Absence of pollen in navel oranges, originated from 'Bahia' variety was observed. The varieties 'Pera', 'Valência' and 'Natal', which are the main sweet orange cultivars in São Paulo State and Brazil, presented low percent of viable pollen.

Citrus sinensis; plant breeding; cross-pollination; fertility


VIABILIDADE DO PÓLEN EM VARIEDADES DE LARANJA DOCE1 1 Parte da Tese de Doutorado do primeiro autor apresentada à ESALQ/USP - Piracicaba, SP.

Edson Tobias Domingues2,4,*; Augusto Tulmann Neto3; Joaquim Teófilo Sobrinho2

2Centro de Citricultura Sylvio Moreira-IAC, C.P. 4 - CEP: 13.490-970 - Cordeirópolis, SP.

3Laboratório de Melhoramento de Plantas - CENA/USP, C.P. 96 - CEP:13.400-970 - Piracicaba, SP.

4Bolsista do CNPq.

* e-mail: centrocsm@usa.net

RESUMO: Uma vez que a polinização é um dos pontos decisivos para o crescimento e desenvolvimento do fruto, contribuindo com os gametas masculinos para a fecundação e determinando, na maioria das vezes, a fixação dos frutos em citros, torna-se necessário conhecer o grau de esterilidade masculina nas diferentes variedades de laranja doce para sua possível utilização em programas de melhoramento. A esterilidade é limitante para programas que envolvam a hibridação sexual, por outro lado possui sua importância econômica em citros induzindo menor número de sementes por fruto em certas variedades. Com a finalidade de caracterizar 44 variedades de laranja doce (Citrus sinensis [L.] osbeck) quanto à viabilidade do pólen, foram coletadas anteras das variedades enxertadas sobre tangerineira Cleópatra. As variedades estudadas pertencem aos principais grupos de laranja doce: com acidez (como a laranja 'Pêra'), de baixa acidez (como a laranja 'Lima'), com umbigo (como a laranja 'Bahia') e sangüíneas (como a laranja 'Rubi Blood'). O percentual de pólen viável foi avaliado por meio da coloração com carmim acético a 25% e contagem sob microscópio ótico. Foram observados valores que variaram desde 12,0% para a 'Pêra Sem Sementes' até 88,8% para a variedade 'Hamlin Reserva'. Os clones de laranja 'Hamlin' mostraram maior percentual de pólen viável. Não foi observada presença de pólen para as variedades produtoras de laranjas de umbigo, originadas da variedade Bahia. As variedades 'Pêra', 'Valência' e 'Natal', as quais são as principais cultivares da citricultura paulista e nacional, apresentaram baixos percentuais de pólen viável.

Palavras-chave: Citrus sinensis, melhoramento genético, polinização cruzada, fertilidade

POLLEN VIABILITY IN SWEET ORANGE VARIETIES

ABSTRACT: Pollination is one of the most critical points in fruit growth and development, contributing with male gametes for fertilization and determine, greatly, fruit setting in citrus. It is necessary to evaluate male sterility in sweet orange varieties for their possible use in breeding programs. The sterility limits sexual hybridization, but on the other hand, it has economic importance in leading to fewer seeds per fruit in some citrus varieties. In order to characterize 44 sweet orange varieties (Citrus sinensis [L.] osbeck) for pollen viability, anthers were collected from the varieties grafted on Cleopatra mandarin. The varieties investigated represented the major sweet orange groups: acidic oranges (as 'Pera' orange), low acidic oranges (as 'Lima' orange), navel oranges (as 'Bahia' orange) and bloody oranges (as 'Rubi Blood' orange). The percent of viable pollen was evaluated using acetic carmine stain under optic microscopy. The values ranged from 12.0% for 'Pera Sem Sementes' orange to 88.8% for 'Hamlin Reserva' orange. The 'Hamlin' clones showed the largest percent of viable pollen. Absence of pollen in navel oranges, originated from 'Bahia' variety was observed. The varieties 'Pera', 'Valência' and 'Natal', which are the main sweet orange cultivars in São Paulo State and Brazil, presented low percent of viable pollen.

Key words: Citrus sinensis, plant breeding, cross-pollination, fertility

INTRODUÇÃO

O Brasil é o maior produtor mundial de citros, com 17 milhões de toneladas de laranjas na safra de 1995/96, produzindo aproximadamente 27% do total mundial desta fruta. O Estado de São Paulo é responsável por 80% do total produzido no país, com 13,8 milhões de toneladas. Neste Estado, as principais variedades exploradas comercialmente são a 'Pêra' (53%), a 'Natal' (26%), a 'Valência' (11%) e a 'Hamlin' (4%), sendo que as demais variedades perfazem os 6% restantes (FAO, 1996). Com relação ao processamento de frutos o Brasil processa aproximadamente 10,4 milhões de toneladas de cítricos, dos quais 10,3 milhões de toneladas são de laranjas (50,6% do total mundial de laranja processada). Com relação ao suco concentrado congelado o Brasil exporta em torno de 1,2 milhões de toneladas (57,2% do total mundial) (FAO, 1994).

O Brasil ainda não possui expressão mundial quanto à exportação de frutos cítricos in natura, mas sua participação mundial na produção e exportação de suco de laranja é incontestável. No Estado de São Paulo as variedades destinadas ao processamento são, principalmente, 'Pêra', 'Natal' e 'Valência', já para o mercado interno de frutas frescas, destacam-se as variedades Pêra, Lima e Bahia. A variedade Pêra é a de maior destaque, responsável por 85% do total comercializado em dezembro e em torno de 64% em junho-julho, meses em que a variedade Lima atinge 23,18% e a var. Bahia atinge 14,34% do total consumido (Gonçalves & Souza, 1994).

Embora a citricultura nacional e paulista ocupem lugar de destaque na agricultura, pode-se observar que o número de variedades exploradas é bastante restrito, se comparado com o potencial existente em recursos genéticos para a espécie (Domingues et al., 1995a). A maioria das cultivares de laranjas tem surgido por alterações somáticas em variedades pré-existentes, as quais por sua vez, foram perpetuadas pela enxertia, devido às qualidades apresentadas; o que torna bastante estreita a base genética da cultura (Domingues et al. 1995b). Desta maneira, existem diversos trabalhos buscando a obtenção de novas cultivares para ampliar a base genética e se evitar possíveis colapsos da citricultura. Os principais problemas a serem solucionados pelo melhoramento de variedades copa e porta-enxerto, são as doenças e pragas (Domingues, 1997a). Elevação da produtividade, melhoria da qualidade dos frutos e redução do número de sementes por fruto e do período de entre-safra são outros aspectos visados, além de variedades copa de menor porte, as quais facilitariam os tratos culturais e a colheita, permitindo o plantio mais adensado.

Muito pouco tem sido estudado dos aspectos genéticos básicos para o melhoramento desta espécie e, a maioria dos problemas citados certamente encontrará solução eficaz por meio do cultivo adequado das atuais cultivares somadas a novas a serem obtidas por cruzamentos orientados. E uma vez que a análise da fertilidade do pólen é condição preliminar indispensável ao melhoramento genético clássico, o presente trabalho visou quantificar o percentual de pólen viável. A estimativa da esterilidade pré-zigótica foi realizada pela quantificação de pólen viável e defeituoso de 44 variedades de laranja doce, pertencentes ao Banco Ativo de Germoplasma de Citros (BAG-Citros) do Centro de Citricultura Sylvio Moreira do Instituto Agronômico (CCSM/IAC). Este é um importante passo no estudo da citada auto-incompatibilidade presente na espécie Citrus sinensis [L] Osbeck, de laranja doce (Soost & Cameron, 1975), bem como dos fatores que levam à esterilidade do pólen. Objetivou-se ainda apontar as variedades com melhor viabilidade de pólen que possam ser utilizadas como parentais masculinos em programas futuros de melhoramento genético, e averiguar possíveis correlações entre o percentual de pólen viável com o número de sementes, peso de sementes, número de embriões por semente e percentual de poliembrionia, usando dados apresentados e discutidos por Domingues et al. (1996b e 1997b).

MATERIAL E MÉTODOS

Para estudo da viabilidade de pólen foram coletadas flores de 44 variedades pertencentes ao BAG-Citros do CCSM/IAC, localizado em Cordeirópolis, SP. As quais foram: Lima; Lima Tardia, Lima Verde, Lima Lisa, Baianinha Piracicaba, Washington Navel, Baiana Retiro, Baianinha 23-4-60, Lanceta Barão, do Céu-1, Diva, Cametá, Seleta Branca, Seleta Vermelha, Imperial, Hamlin Reserva, Hamlin, Hamlin Variegada, Rubi Blood, Blood Oval, Sangüínea de Mombuca, Cipó, Sangüínea de Piracicaba, Non Pareil, Westin, Caipira DAC, Caipira Comum, Pele de Moça, Lamb's Summer, Pêra de Abril, Pêra Sem Sementes, Perão, Pêra Coroada, Pêra Comprida, Pêra Mel, Pêra Rio, Pêra-CV, Pêra Ovo, Pêra Caire, Pêra Ipigüá, Valência Late, Valência Variegada, Natal e Natal Bebedouro. Estas, com 3 repetições cada, estavam com 10 anos de idade e enxertadas sobre tangerineira Cleópatra (Citrus reshni Hort. ex. Tanaka). O solo da área onde se encontra esta coleção é um Latossolo vermelho escuro distrófico, e o clima da região é do tipo Cwa. A manutenção das plantas é feita sem irrigação.

Foram coletados 12 botões florais em máximo desenvolvimento, antes da antese, de três árvores por variedade. Os botões foram mantidos em placas de Petri até a abertura floral, o que levou aproximadamente 24 h. Após a abertura dos botões, as anteras foram coletadas, com o auxílio de pinças e armazenadas em placas de Petri até a deiscência e liberação do pólen, o qual foi acondicionado em tubos "eppendorf" e coberto com solução 3:1 de álcool absoluto e ácido acético. Após 24 horas estes "eppendorf" foram mantidos em geladeira a aproximadamente 4oC.

Os estudos sobre a viabilidade do pólen foram feitos no Laboratório de Melhoramento de Plantas do CENA/USP, pela coloração dos grãos de pólen com carmim acético a 25% e da contagem dos grãos de pólen viáveis e não viáveis, sob microscópio ótico, seguindo metodologia apresentada por Moreira & Gurgel (1940, 1941). As lâminas foram levemente aquecidas sobre chama para melhoria da coloração antes da contagem. Avaliou-se 6 lâminas preparadas para cada uma das 44 variedades e foram feitas três leituras para cada lamínula, em cada leitura obteve-se um número de grãos de pólen viáveis e outro de grãos de pólen inviáveis, sendo realizadas fotos ilustrativas. Seguindo metodologia adotada por Moreira & Gurgel (1940, 1941), foram calculados os percentuais de pólen viável e de pólen inviável para cada leitura, considerando-se a somatória destes valores igual a 100% e, através destes dados realizou-se a análise de variância e as médias foram contrastadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade.

O número de grãos de pólen não foi utilizado diretamente para a análise estatística pois a metodologia usada não visou determinar diferenças na quantidade total de pólen produzida em cada variedade. Foram estudadas as possíveis correlações (produto-momento de Pearson, para p < 0,05) entre o percentual de pólen viável com o número de sementes, peso de sementes, número de embriões por semente e percentual de poliembrionia, segundo dados de Domingues et al. (1996b e 1997b). Estes autores realizaram a contagem direta de embriões com cotilédones visíveis na semente após a retirada da testa e do tegmen, sob lupa, de 16 sementes de cada uma das 44 variedades aqui estudadas. O número médio de embriões observados por semente foi calculado pela relação do total dos embriões observados pelo total de sementes analisadas. A taxa de poliembrionia foi calculada pela relação entre o número de sementes com mais de um embrião observado, pelo número total de sementes avaliadas. Foram realizadas as análises de variância para o número de sementes observadas por fruto, número de embriões por semente e percentual de poliembrionia observado nas sementes. As médias foram contrastadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade. Avaliou-se ainda o peso simples de 30 sementes secas ao ar e, devido ao baixo número de sementes em algumas variedades, não foram realizadas repetições.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Alguns dos resultados, aqui discutidos em detalhe, foram apresentados resumidamente por Domingues et al. (1996a). Foram observados, para os diferentes genótipos estudados, grãos de pólen: a) bem coloridos e uniformes, considerados viáveis; b) parcialmente coloridos que deixavam dúvida quanto à viabilidade; c) de tamanho normal mas vazios e d) grãos de pólen pequenos, aparentemente inviáveis e degenerados. Moreira & Gurgel (1941) também observaram esses tipos de pólen e após testes de germinação chegaram à conclusão de que apenas os grãos de pólen bem coloridos e circulares apresentavam-se viáveis. Deste modo, foram separados os grãos de pólen avaliados em duas categorias, a dos viáveis (a) e a dos não viáveis (b, c e d). De um modo geral os grãos de pólen viáveis apresentaram-se melhor desenvolvidos, mais circulares e coraram-se melhor na presença do carmin acético. Já os inviáveis, apresentaram-se mal formados, normalmente elípticos e pouco corados pelo carmin. Moreira & Gurgel (1941) utilizaram carmin acético a 40% para coloração. No presente trabalho, esta concentração foi de aproximadamente 25%. Foi observado que mesmo concentrações mais baixas permitem boas análises da viabilidade do pólen e que as concentrações maiores do corante permitem a obtenção de fotos mais nítidas.

Foi observado para as variedades de laranjas de baixa acidez, um percentual variável de pólen viável, tendo sido encontrado os menores valores para a variedade Lima (21,9%) e Lima Tardia (36,5%) e os maiores valores para a Lima Verde (74,8%) e Lima Lisa (74,1%). Para as variedades de laranjas de umbigo (Baianinha Piracicaba, Washington Navel, Baiana Retiro, Baianinha 23-4-60) notou-se a ausência de pólen e as anteras apresentavam a coloração creme clara, enquanto que para as outras variedades essa cor variou do amarelo pálido a amarelo gema devido a presença de pólen. Para a variedade Lanceta Barão a viabilidade foi de 26,9%, para a Cametá foi 50,0%, Do Céu-1 (82,1%), Diva (25,9%) e Imperial (85,7%). Para as Seletas este valor foi de 86,1% para a Branca e 70,1% para a Vermelha. A variedade Hamlin apresentou elevada fertilidade de pólen (78,6%) bem como seus clones Reserva (88,8%) e Variegada (85,3%). As variedades de laranjas sangüíneas, apresentaram um percentual variável de pólen viável, tendo sido encontrado o menor valor para a variedade Blood Oval (16,3%) e os maiores para a Rubi Blood (68,7%), Sangüínea de Mombuca (77,7%) e Sangüínea de Piracicaba (62,4%) (TABELA 1).

A laranjeira Cipó apresentou 67,2% de viabilidade do pólen, enquanto que a Non Pareil apresentou 40,6% e a Westin, 32,8%. As 'Caipiras' apresentaram de 23,7% para a DAC a 72,8% para a Comum. A variedade Pele de Moça apresentou 19,8% de pólen viável, enquanto que a Lamb's Summer 31,0%. Para as laranjeiras Pêra o percentual observado foi de baixo a médio: os menores valores foram para a 'Sem Semente', 12,0% e para a 'Perão', 13,2%, seguidos pela 'Pêra Rio', com 20,5%; as 'Pêras' que apresentaram maiores valores foram a 'Pêra de Abril', com 49,6%, e a Pêra Mel, com 53,3%, as demais apresentaram valores variando de 34,8 a 42,9%. A variedade Valência apresentou valores baixos, 20,9% para a Valência Late e 28,7% para a Variegada, a mesma tendência foi observada para a variedade Natal que apresentou 21,3% de pólen viável, sendo que este valor foi de 30,5% para o clone Natal Bebedouro (TABELA 1).

Moreira & Gurgel (1940, 1941) trabalharam com diferentes variedades aqui estudadas e para a maioria delas os resultados foram próximos. No presente trabalho a variedade Caipira Comum apresentou 72,8% de pólen viável, enquanto que Moreira & Gurgel (1940, 1941) encontraram o valor de 79%, a laranja Cipó apresentou 67,2% de pólen viável nesse e 64% naquele, a Hamlin apresentou 78,6% neste e 71% naquele, a Pêra Sem Sementes 12,0% e 9,3% e a variedade Perão 13,2% e 10%, respectivamente. De uma maneira geral observa-se que, apesar de não exatamente iguais, os valores observados em muitas dessas variedades em 1940 e no ano de 1995 são bastante próximos, o que indica uma relativa estabilidade na expressão desse caracter nessas variedades. Não pode deixar de ser enfatizada a grande amplitude de variação dentro da espécie de laranjas doces, a qual variou desde a ausência total de pólen nas variedades de laranjas de "umbigo", a valores variando de 12,0% para a Pêra Sem Sementes a 88,8% para a Hamlin Reserva.

Moreira & Gurgel (1941) observaram que embora existam diferenças de viabilidade de pólen para diferentes ramos da mesma planta, diferentes plantas da mesma variedade, plantas de diferentes origens, sobre diferentes porta-enxertos e em diferentes épocas, estas diferenças de um modo geral são pequenas. Estes autores notaram que entre genótipos é que são encontradas as maiores diferenças. Trabalharam com diferentes espécies de citros e encontraram grande variabilidade de resposta entre variedades, observaram por exemplo o nível de 10% de fertilidade para a variedade Perão e 96% para uma variedade de Cidra, encontraram nesse mesmo trabalho grande diferença de resposta entre variedades de laranja doce. No presente trabalho notou-se que embora a diferença de viabilidade de pólen tenha sido perceptível mesmo entre clones de uma mesma variedade, as maiores amplitudes de variação realmente foram encontradas comparando-se diferentes variedades.

Soost & Cameron (1975) relataram que o percentual de pólen funcional ou viável varia grandemente entre espécies e que alguns dos cultivares mais amplamente utilizados apresentam pouco pólen viável. Deste modo, das variedades aqui estudadas, a 'Pêra Rio', a 'Valência' e a 'Natal' são as mais cultivadas comercialmente na citricultura paulista e nacional e as três apresentaram baixo percentual de pólen viável.

A poliembrionia é uma característica marcante em Citrus. É o desenvolvimento de dois ou mais embriões na semente. Em um número limitado de casos, os embriões extras são produzidos pela fissão do zigoto, tais embriões originam gêmeos idênticos e não reproduzem a planta mãe, sendo designados de embriões sexuais ou zigóticos. Na maioria dos casos, entretanto, a maioria dos embriões extras são desenvolvidos assexuadamente pela divisão mitótica do nucelo, tais embriões são chamados de nucelares ou apomíticos. A reprodução pela embrionia nucelar, condicionada pela presença de um gene dominante preserva qualquer heterozigosidade originada por hibridação ou mutação, o que é, portanto de interesse para o melhoramento de Citrus, por outro lado a poliembrionia dificulta o reconhecimento dos híbridos obtidos de cruzamentos. Embora existam exceções a polinização é necessária para a formação dos embriões nucelares, não se sabe, no entanto, o quanto a fecundação é importante para isto (Cameron & Frost, 1968). Moreira & Gurgel (1941) citam que, de um modo geral, variedades com elevado percentual de poliembrionia, apresentavam também elevado percentual de pólen viável. Encontraram, ainda, correlação significativa (+0,5) entre o número de sementes e o percentual de pólen viável.

No presente trabalho, buscou-se estudar as correlações entre o percentual de pólen viável com o número médio de sementes por fruto, peso de sementes, número de embriões por semente e percentual de poliembrionia, obtido pela contagem dos embriões nas sementes (utilizando dados obtidos e já discutidos por Domingues et al., 1996b e 1997b) para os mesmos genótipos aqui estudados (TABELA 2). As correlações encontradas entre o percentual de pólen viável e o número de embriões por semente e percentual de poliembrionia foram pequenas, mas significativas (+0,37 e +0,30, respectivamente). O peso de sementes não apresentou correlação significativa com os outros caracteres estudados. Já a correlação encontrada entre o percentual de pólen viável e o número de sementes por fruto foi significativa e maior (+0,65). Desta forma estes dados confirmam as tendências observadas por aqueles autores, na década de 40. E, uma vez que estas variedades encontram-se em uma coleção de germoplasma onde existem muitos parentais polinizadores, este resultado é um importante indicativo da existência de correlação positiva entre o nível de fertilidade masculina com a fertilidade feminina.

As características morfológicas do pólen são genéticamente estáveis e portanto úteis ao estudo da taxonomia de plantas. Yin-Min et al. (1981) estudaram a taxonomia de 20 diferentes genótipos pertencentes a diferentes gêneros de citros e a diferentes espécies de Citrus utilizando o estudo da morfologia do pólen sob microscópio eletrônico. Esta técnica também tem sido utilizada para estudos mais detalhados da biologia floral destas espécies.

Crescimmano et al. (1988a e 1988b) estudaram, com este intuito, diferentes genótipos de tangerinas e limões. No presente trabalho foram observadas algumas diferenças de formato para os grãos de pólen viáveis dos diferentes genótipos, no entanto, estas diferenças não puderam ser quantificadas sob microscopia ótica. No entanto, os resultados aqui apresentados contribuem para a caracterização de germoplasma dos citros como enfatizado nos descritores dos citros do International Board for Plant Genetic Resources (1988) e por Giacometti (1991).

Moreira & Gurgel (1940, 1941) definiram como baixa, uma viabilidade de pólen até 30%, média em torno de 31 a 69% e alta acima de 70%. Seguindo esta definição foi possível classificar as 44 variedades da seguinte maneira: 4 variedades sem pólen, todas produtoras de laranjas com "umbigo" (Baianinha Piracicaba, Washington Navel, Baiana Retiro, Baianinha 23-4-60); 13 variedades com baixa viabilidade de pólen, ou seja, menos de 31% de pólen viável (Lima, Lanceta Barão, Diva, Blood Oval, Caipira DAC, Pele de Moça, Perão, Pêra Sem Sementes, Pêra Rio, Valência Late, Valência Variegada , Natal e Natal Bebedouro); 16 variedades com média viabilidade de pólen (Lima Tardia, Cametá, Rubi Blood, Sangüínea de Piracicaba, Cipó, Non Pareil, Westin, Lamb's Summer, Pêra de Abril, Pêra Coroada, Pêra Comprida, Pêra Mel, Pêra-CV, Pêra Ovo, Pêra Caire e Pêra Ipigüá) e 11 variedades com elevado percentual de pólen viável (Lima Verde, Lima Lisa, Do Céu-1, Imperial, Seletas Branca e Vermelha, Hamlin, Hamlin Reserva e Variegada, Sangüínea de Mombuca e Caipira Comum). As diferenças de intensidade de fertilidade de pólen das 44 variedades foram avaliadas também estatisticamente (TABELA 1), porém para a discussão dos resultados preferiu-se adotar a metodologia usada por Moreira & Gurgel (1940, 1941)

Para utilização como parental masculino em programas de melhoramento a maioria dos genótipos estudados mostrou-se adequada, exceto as variedades que não produziram pólen e as que produziram baixa quantidade de pólen viável (70% de pólen não viável, ou mais). Estas últimas obrigariam, portanto, um número de repetições maior, que as variedades com maior fertilidade de pólen, em programas de cruzamentos controlados. No entanto, existem referências indicando que a intensidade de pólen não funcional nos cultivares é em geral proporcional à intensidade de óvulos não funcionais, que abortam, sugerindo que as variedades com baixa fertilidade de pólen podem não ser bons parentais femininos. Algumas exceções ocorrem, como no caso das laranjas Bahia que, embora pólen-estéreis, produzem óvulos funcionais (Soost & Cameron, 1975). Já a comprovação destes dados e a quantificação da fertilidade feminina dos genótipos estudados no presente trabalho fica prejudicada pela elevada poliembrionia observada nos mesmos, exceto para a Pêra de Abril, avaliada como monoembriônica e com boa fertilidade feminina Domingues et al. (1996b e 1997b).

CONCLUSÕES

• Existe grande variabilidade entre as variedades de laranja doce estudadas quanto à viabilidade do pólen. Das 44 variedades, as laranjas de "umbigo" (tipo Baiana) não apresentaram pólen nas anteras, 13 apresentaram baixa, 16 média e 11 elevada viabilidade de pólen.

• Excetuando-se as laranjas de "umbigo", as demais podem ser utilizadas como doadoras de pólen para programas de melhoramento genético, embora sejam recomendadas as de média a elevada viabilidade de pólen para esta finalidade. Há necessidade de estudo mais profundo quanto à fertilidade gamética e compatibilidade entre possíveis parentais.

• As variedades 'Pêra', 'Natal' e 'Valência', de maior importância econômica no Estado de São Paulo possuem predominantemente baixa viabilidade de pólen.

• Foi observada correlação entre o percentual de pólen viável e o número de sementes por fruto (+0,65). Este resultado é um importante indicativo da existência de correlação positiva entre o nível de fertilidade masculina com a fertilidade feminina.

AGRADECIMENTOS

À Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, ao CNPq pela bolsa de Doutorado. Às estudantes Bruna Gardenal Fina, Viviana Y. Sugahara e Luciane Ap. de Oliveira pelo auxílio nas coletas de campo. Ao Dr. Marcos A. Machado e à colega Janay A. Santos pelas sugestões apresentadas.

Recebido para publicação em 09.09.97

Aceito para publicação em 19.06.98

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  • 1
    Parte da Tese de Doutorado do primeiro autor apresentada à ESALQ/USP - Piracicaba, SP.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      08 Jul 1999
    • Data do Fascículo
      1999

    Histórico

    • Aceito
      19 Jun 1998
    • Recebido
      09 Set 1997
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