ÁCIDO GIBERÉLICO E O DESENVOLVIMENTO DE PLÂNTULAS DE TANGERINA 'CLEÓPATRA' (Citrus reshni hort. ex. Tanaka)

GIBBERELLIC ACID AND THE DEVELOPMENT OF MANDARIN (Citrus reshni hort. ex. Tanaka ) SEEDLINGS

ÁCIDO GIBERÉLICO E O DESENVOLVIMENTO DE PLÂNTULAS DE TANGERINA 'CLEÓPATRA' (Citrus reshni hort. ex. Tanaka)¹

Júnior Cesar Modesto^2*;João Domingos Rodrigues³; Sheila Zambello de Pinho⁴

² ESAPP - C.P. 88 - CEP:19700-000 - Paraguaçu Paulista, SP.

UNIMAR - C.P. 554 - CEP:17505-902 - Marília, SP.

³ Depto. de Botânica - Instituto de Biociências - UNESP - Botucatu, SP.

⁴ Depto. de Bioestatística - UNESP, Botucatu, SP.

*e-mail: [e-mail]

RESUMO: Plântulas de tangerina 'Cleópatra'(Citrus reshni hort. ex. Tanaka), foram utilizadas em delineamento inteiramente casualizado, com três repetições no esquema de parcelas sub-divididas, onde os tratamentos principais foram 5 concentrações de ácido giberélico: T1 = 0, T2 = 25, T3 = 50, T4 = 100 e T5 = 150 mg.L^-1, parceladas em quatro pulverizações. As coletas de material foram realizadas dos 70 aos 210 dias, em intervalos de 14 dias. Pelos resultados obtidos, o fitorregulador promoveu efeito favorável com relação ao incremento do comprimento do caule, sendo que aplicações de 100 e 150 mg.L^-1 foram superiores as demais. O diâmetro do caule não foi influenciado pela aplicação de ácido giberélico.

Palavras-chave: porta-enxerto, reguladores vegetais, caule, crescimento

GIBBERELLIC ACID AND THE DEVELOPMENT OF MANDARIN (Citrus reshni hort. ex. Tanaka ) SEEDLINGS

ABSTRACT: 'Cleópatra' mandarin (Citrus reshni hort. ex. Tanaka) seedlings used in an entirely randomized trial, with three replicates in a split plot format, were submitted to five gibberellic acid treatments of concentrations 0; 25; 50; 100; 150 mg.L^-1, split into four sprayings. Data was collected, from the 70th up to the 120th day, in 14- day intervals. The results showed that the plant regulator enhanced the growth of the seedlings increasing the length of their stems. The sprays of concentration 100 and 150 mg.L^-1 gave the best results. The gibberellic acid spraying had no effect on stem diameter.

Key words: rootstocks, growth regulator, stem

INTRODUÇÃO

As plantas cítricas ocupam posição de destaque no cenário econômico mundial, constituindo campo de grande importância de exploração agrícola, onde o Brasil com tradição no mercado mundial, ocupa a primeira posição como país produtor e exportador de suco concentrado.

Entre todos os fatores da produção citrícola, a muda é um dos itens mais importantes, principalmente devido à sua complexidade de relação entre enxerto e porta-enxerto, sendo que o sucesso de um pomar esta relacionado com a qualidade da muda.

Entre os porta-enxertos que são utilizados na citricultura brasileira, a tangerina 'Cleópatra' tem grande destaque. Sua propagação por ser realizada através de sementes, é considerada demorada, tendo um tempo longo para formação da muda cítrica.

No entanto, com a utilização de certos reguladores vegetais, pode-se acelerar o desenvolvimento das plantas, sendo desta maneira, uma técnica alternativa na produção de mudas cítricas.

O uso de reguladores vegetais é uma prática muito comum em vários países, com utilização em diversas espécies. No Brasil, especialmente em citricultura, sua utilização tem certa abrangência, sendo que a mesma pode ser utilizada em várias etapas do processo produtivo, desde a fase vegetativa até a reprodutiva, auxiliando desta maneira um melhor manejo da cultura.

Deste modo, objetivou-se no presente estudo, avaliar o efeito de diferentes concentrações de ácido giberélico, no desenvolvimento de porta-enxertos de tangerina 'Cleópatra'.

REVISÃO DE LITERATURA

De acordo com Coelho et al. (1983), o tempo para formação de uma muda cítrica é considerado longo, sendo interessante o emprego de técnica para promover sua diminuição. Para Gama (1983) seria importante a redução do período para ser realizada a enxertia, que ao invés de 12 meses fossem conseguida em até 6 meses.

Sabe-se que o ácido giberélico pode funcionar como regulador da divisão e alongamento das células (Takahashi et al., 1988), estimulando o crescimento do vegetal pelo aumento da extensibilidade da parede celular (Raven et al., 1992), participando deste modo no crescimento do caule das plantas, possuindo a capacidade de reverter o nanismo de algumas plantas, visto ser este resultado da deficiência na síntese de giberelina endógena (Awad & Castro, 1983).

Stant (1961) estudou várias espécies vegetais, concluindo que o ácido giberélico teve efeito significativo no aumento das células, isto mais evidenciado nos primeiros estádios de desenvolvimento das plantas.

Para Metivier (1986) os efeitos mais espetaculares das giberelinas aparecem no crescimento, especialmente no alongamento do caule, podendo o crescimento foliar ser aumentado em muitas espécies. Diferenciação da zona cambial e do xilema, também podem ser induzidas por giberelinas. Estas e outras observações foram realizadas também por Modesto (1994) e Modesto et al. (1994) em plântulas de citros.

Ben-Gad et al. (1978) estudaram os efeitos do ácido giberélico a 200 mg.L^-1, aplicado via solo, em plântulas de lima (Citrus limettiodes Tanaka) concluindo que o regulador aumentou o alongamento do caule, resultando em plântulas maiores.

Utilizando laranja 'Azeda' (Citrus aurantium L.), com oito meses, Sidahmed (1978) pulverizou-as com ácido giberélico nas seguintes concentrações: 0, 25, 50, 100 e 200 mg.L^-1, parcelados em quatro pulverizações. Obteve incremento no tamanho das plantas da ordem de: 13,95; 18,68; 25,90; 32,80 e 38,80%, para cada tratamento empregado, respectivamente. O aumento no diâmetro do caule não foi influenciado por nenhum tratamento.

Muller & Young (1982) estudaram a influência da aplicação de pasta de lanolina com ácido giberélico (500 mg.L^-1) em plantas de laranja 'Azeda' (Citrus aurantium L.), com sete anos, cultivadas em casa de vegetação. Os resultados obtidos demonstraram que para as condições do experimento, o ácido giberélico influenciou positivamente no aumento da altura das plantas, comprimento dos entrenós e diâmetro do caule. Para Ramos (1980), o aumento no diâmetro das plantas é conseqüência da multiplicação da camada de células que constitui o câmbio.

Trabalhando em Cruz das Almas, Coelho et al. (1983) utilizaram ácido giberélico nas concentrações: 0, 50, 100, 150 e 200 mg.L^-1, parcelados em quatro aplicações, em plântulas híbridas de 'Cleópatra' x Poncirus trifoliata Raf., com quatro meses, objetivando aumentar a taxa de crescimento, bem como reduzir o tempo para produção de mudas. A concentração de 100 mg.L^-1 incrementou o crescimento em 37%. Já as concentrações de 150 e 200 mg.L^-1, promoveram aumentos da ordem de 63 e 59%, respectivamente, porém provocando superalongamento nas plântulas o que, segundo os autores, favoreceu a incidência de fungos patogênicos. Nenhuma das concentrações utilizadas promoveu aumento no diâmetro do caule.

Segundo Casper & Taylor (1989) a pulverização de ácido giberélico na concentração de 50 mg.L^-1, em plantas de pêssego (Prunus persica (L.) Batsch.), proporcionou aumento no diâmetro dos ramos, bem como elevação no número de ramos laterais.

Taylor (1972) verificou que em plântulas de pecan, cultivadas em casa de vegetação, a aplicação de ácido giberélico com pasta de lanolina no tronco, estimulou o crescimento do câmbio, produzindo significativo aumento no diâmetro do mesmo. O autor relata que a realização da enxertia, poderia ser antecipada com a utilização desta técnica.

Castro et al. (1991) trabalharam com nogueira macadâmia, aplicando ácido giberélico nas concentrações de 50, 100, 250 e 500 mg.L^-1. As aplicações do regulador foram realizadas aos 120 e 181 dias após a semeadura, sendo as avaliações realizadas até 211 dias. Os autores concluíram que o GA₃ favoreceu o desenvolvimento do caule, passados 15 dias após a pulverização. Na dose de 500 mg.L^-1, houve aumento precoce no diâmetro do caule, sendo que as plântulas estavam aptas à receber a enxertia um mês antes do controle (testemunha).

Trabalhando com plantas de limão 'Cravo', de oito meses, Leonel & Rodrigues (1995) pulverizaram 50, 100 e 250 mg.L^-1 de GA₃, concluindo que houve efeito benéfico no aumento do crescimento e desenvolvimento das plantas, acarretando em diminuição do período de tempo necessário para ser atingido o ponto de enxertia.

Modesto et al. (1994), utilizaram plântulas de limão 'Cravo' (Citrus limonia Osbeck), transplantadas de sementeira para vaso, onde foi utilizada pulverização com ácido giberélico (GA₃), estabelecidas com base nas diferentes concentrações: 0, 25, 50, 100 e 150 mg.L^-1 de GA₃, parceladas em quatro pulverizações em intervalos quinzenais. O ácido giberélico, na avaliação final do experimento, influenciou no comprimento e diâmetro do caule das plântulas, onde com a elevação na concentração utilizada, houve aumento concomitante das variáveis avaliados.

Utilizando as mesmas concentrações de ácido giberélico, em limão 'Cravo' sob condições de viveiro, parceladas em quatro pulverizações, Modesto et al. (1996) encontraram que o fitorregulador promoveu efeito favorável com relação ao incremento do comprimento do caule, sendo o tratamento de 150 mg.L^-1superior aos demais. O diâmetro do caule atingiu maiores dimensões com aplicação de ácido giberélico a 50 e 25 mg.L^-1.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi instalado em condições de campo, na Fazenda Experimental de São Manuel, pertencente à Faculdade de Ciências Agronômicas, do Campus de Botucatu - UNESP, situada no município de São Manuel (SP), nas coordenadas geográficas: altitude 750 m, latitude 22^o44' S e longitude 48^o34' W Gr. O clima da região é tipo mesotérmico Cfa.

Foram utilizadas plântulas de tangerina 'Cleópatra' (Citrus reshni hort. ex. Tanaka) com quatro meses e meio, transplantadas da sementeira para o viveiro, localizado em Latossolo Vermelho Amarelo. O plantio foi realizado no espaçamento de 1,0m x 0,4 m.

O delineamento experimental foi o inteiramente casualizado, com três repetições em um esquema de parcelas sub-divididas, com 20 plântulas cada parcela, sendo os tratamentos principais as doses do regulador vegetal (GA₃) e os tratamentos secundários, as coletas.

Os tratamentos foram estabelecidos com base em cinco concentrações de ácido giberélico (GA₃): T1 = 0, T2 = 25, T3 = 50, T4 = 100 e T5 = 150 mg.L^-1, estas parceladas em quatro pulverizações, realizadas aos 73, 98, 122 e 146 dias após o transplante. As avaliações foram realizadas dos 70 aos 210 dias após o transplante, sendo que o período entre as coletas foi de 14 dias.

Os tratos culturais realizados nos viveiros seguiram as recomendações de Teófilo Sobrinho (1991).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Comprimento do caule das plântulas (cm)

Através da análise de variância dos resultados, obtidos nas diferentes avaliações efetuadas, evidenciou-se que a interação tratamentos x coletas foi significativo a 5% de probabilidade (F=1,60*); sendo assim, foi realizado o desdobramento da interação para cada tratamento, em regressão linear, quadrática e cúbica, onde seus resultados encontram-se na Figura 1. Os tratamentos 1 e 5 foram significativos para regressão cúbica (F=4,38* e F = 4,56*, respectivamente). E os tratamentos 2 e 3 para regressão linear (F = 231,56* e F = 319,59* respectivamente). O tratamento 4 foi significativo para o desvio da regressão evidenciando significância para equação matemática de maior grau. Deste modo, foi realizado ajuste matemático com inúmeras equações, sendo que o melhor foi a equação exponencial quadrática (na Figura 1 encontram-se as respectivas equações matemáticas e seus coeficientes de determinação).

Figura 1
- Efeito do ácido giberélico, no comprimento do caule das plântulas da tangerina "Cleopatra".

T 1 = - 87.73 + 2.41X - 0.016X² + 0.000041X³ R² = 0.89

T 2 = -9.35 + 0.43X R² = 0.89

T 3 = -16.78 - 0.51X R² = 0.92

T 4 = 6.66 *EXP(0.022X - 0.000043X² ) R² = 0.87

T 5 = 58.06 - 1.52X + 0.017X² - 0.000042X³) R² = 0.88

Podemos observar na Figura 1, o efeito do ácido giberélico nas diferentes concentrações utilizadas sobre o crescimento das plântulas. As concentrações de 100 e 150 mg.L^-1 (T4 e T5), foram as que promoveram maior aumento no parâmetro avaliado, fato que foi evidenciado a partir dos 110 dias após os transplantes. Os tratamentos 2 e 3 , somente no período de 130 a 180 dias para T2 e 120 a 200 dias para T3, foram superiores à testemunha, evidenciando que concentrações de 25 e 50 mg.L^-1 foram insuficiente para promover diferenças em relação à testemunha até o final das avaliações; isto mostra o período de ação do regulador para a espécie empregada.

A ação no crescimento acredita-se ser devido à regulação na divisão e alongamento celular (Stant, 1961; Takahashi et al.,1988), e extensividade da parede (Raven et al. 1992; Mettvier, 1986). A influência do regulador no tamanho de várias espécies é confirmada por Ben-Gad et al. (1978) em Citrus limettioides; Sidahmed (1978) e Muller & Young (1982) com Citrus aurantium; Coelho et al. (1983) com plântulas híbridas de Cleópatra x Poncirus trifoliata e Modesto et al. (1994) Modesto et al. (1996) e Leonel & Rodrigues (1995) com plântulas de limão 'Cravo'.

Diâmetro do caule (cm)

A análise de variância dos resultados obtidos para a variável, evidencia que os diferentes tratamentos, bem como a interação tratamentos x coletas não foram significativos a 5% de probabilidade, havendo somente aumento entre as coletas, que é explicado devido ao crescimento das plantas ao longo do tempo. A Figura 2 mostra o melhor ajuste dos dados de diâmetro do caule ao longo do tempo. O fato do regulador nas concentrações utilizadas não apresentar efeito significativo, encontra concordância com outros estudos, onde concentrações de até 200 mg.L^-1em Citrus aurantium (Sidahamed, 1978) e plântulas híbridas de 'Cleópatra' X Poncirus trifoliata (Coelho et al., 1983), também não mostrou efeito positivo. Acreditamos que tais resultados devam-se ao crescimento lento característico da espécie, pois para limão 'Cravo' na mesma região Modesto (1994), Modesto et al. (1994) e Modesto et al. (1996) encontraram efeitos significativos. O fator nutricional também pode ter influenciado, pois a tangerina 'Cleópatra' é caracterizada como porta-enxerto exigente em minerais e o experimento foi desenvolvido em Latossolo Vermelho Amarelo, que mesmo tendo correção e adubação pode não ter sido ideal para espécie. Deste modo, a espécie não apresentou aumento na atividade cambial influenciado pelas concentrações de ácido giberélico, discordando de Metivier (1986), não tendo aumento no diâmetro do caule como Muller & Young (1982), Gaspar & Taylor (1989), Taylor (1972) e Castro et al. (1991).

Figura 2
- Diametro do caule, em plântulas de tangerina "Cleópatra".

D. Caule = -0.88 + 0.026X R² = 0.94

CONCLUSÕES

Pelos resultados obtidos, nas condições em que foi conduzido o experimento, pode-se concluir que:

• O comprimento do caule de plântulas de tangerina 'Cleópatra' foi influenciado pela aplicação de ácido giberélico, sendo que o maior aumento foi obtido pela aplicação de 150 mg.L^-1;

• Nenhuma das concentrações utilizadas do regulador levaram à incremento no diâmetro do caule das plântulas.

Recebido para publicação em 18.02.97

Aceito para publicação em 08.02.99

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¹

Parte da Dissertação de Mestrado do primeiro autor, apresentada à UNESP - Botucatu, SP.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  08 Jul 1999
• Data do Fascículo
  1999

Histórico

• Aceito
  08 Fev 1999
• Recebido
  18 Fev 1997