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Características de produção e valor nutritivo do capim Pensacola (Paspalum notatum Fluegge var. saurae Parodi) em função da idade de corte

Production characteristics and nutritive value of pensacola bahiagrass (Paspalum notatum Fluegge var. saurae Parodi) in response to cutting age

Resumos

Este experimento teve como objetivo avaliar a produção de matéria seca, a digestibilidade in vitro e a variação na composição químico-bromatológica e mineral do capim-pensacola (Paspalum notatum Fluegge var. saurae Parodi) em função da idade de corte. O delineamento estatístico adotado foi inteiramente casualizado, com seis tratamentos e cinco repetições. Os tratamentos constaram de seis idades de corte, com intervalo de 15 dias entre cada corte, sendo o primeiro corte realizado 20 dias após o rebaixamento. A produção de matéria seca aumentou de forma quadrática (P < 0,05) com o avanço da idade de crescimento. A digestibilidade in vitro da matéria seca e o teor de proteína bruta decresceram quadraticamente (P < 0,05) com o aumento da idade. Inversamente, o teor de fibra em detergente neutro aumentou de forma quadrática (P < 0,05), enquanto a fibra em detergente ácido variou de forma cúbica (P < 0,05). Os teores de fósforo, cálcio, magnésio e enxofre sofreram decréscimos quadráticos (P < 0,05), enquanto a concentração de potássio variou de forma cúbica (P < 0,05) com o avanço da idade. As concentrações de Cu e Zn diminuíram de forma quadrática (P < 0,05) com o avanço da idade, enquanto o teor de Mn aumentou de forma quadrática. Os resultados obtidos no presente trabalho indicam que o manejo do capim do capim-pensacola, visando uma boa digestibilidade, adequado teor protéico e de minerais, deve ser feito à intervalos máximos de 30 dias entre cortes.

Paspalum notatum; composição química; idade de corte; pastagem


The objective of this experiment was to evaluate dry matter production, in vitro dry matter digestibility, variation in chemical composition and in macro and micro mineral contents in Pensacola bahiagrass (Paspalum notatum Fluegge var. saurae Parodi) as related to cutting age. The experimental design was completely randomized with six treatments, replicated five times. Treatments consisted of six cutting ages spaced 15 days apart, with the first cut made 20 days after staging. Dry matter production increased quadratically (P < 0.05) with increased age. In vitro dry matter digestibility and crude protein concentration decreased quadratically (P < 0.05) with increased age. Conversely, neutral detergent fiber increased quadratically (P < 0.05), whereas acid detergent fiber concentrations varied cubically (P < 0.05). Concentrations of the phosphorus, calcium, magnesium and sulfur decreased quadratically (P < 0.05), whereas potassium concentration varied cubically (P < 0.05) with increased age. Concentrations of copper and zinc decreased quadratically (P < 0.05), whereas that of manganese increased quadratically (P < 0.05). Results showed that the recommended cuttings should be performed in day 30 intervals, in order to garantee, if one seeks a good digestibility, adequate protein and mineral contents.

Paspalum notatum; chemical composition; cutting age; pasture


NOTA

Características de produção e valor nutritivo do capim Pensacola (Paspalum notatum Fluegge var. saurae Parodi) em função da idade de corte

Cláudio Maluf Haddad1*; José Luiz Domingues2; Flávio Geraldo Ferreira Castro2; Luis Fernando Monteiro Tamassia2,3

1Depto. de Produção Animal - ESALQ/USP, C.P. 09 - CEP: 13418-900 - Piracicaba, SP.

2Pós-Graduando do Depto. de Produção Animal - ESALQ/USP.

3Bolsista do CAPES.

*e-mail: cmhaddad@carpa.ciagri.usp.br

RESUMO: Este experimento teve como objetivo avaliar a produção de matéria seca, a digestibilidade in vitro e a variação na composição químico-bromatológica e mineral do capim-pensacola (Paspalum notatum Fluegge var. saurae Parodi) em função da idade de corte. O delineamento estatístico adotado foi inteiramente casualizado, com seis tratamentos e cinco repetições. Os tratamentos constaram de seis idades de corte, com intervalo de 15 dias entre cada corte, sendo o primeiro corte realizado 20 dias após o rebaixamento. A produção de matéria seca aumentou de forma quadrática (P < 0,05) com o avanço da idade de crescimento. A digestibilidade in vitro da matéria seca e o teor de proteína bruta decresceram quadraticamente (P < 0,05) com o aumento da idade. Inversamente, o teor de fibra em detergente neutro aumentou de forma quadrática (P < 0,05), enquanto a fibra em detergente ácido variou de forma cúbica (P < 0,05). Os teores de fósforo, cálcio, magnésio e enxofre sofreram decréscimos quadráticos (P < 0,05), enquanto a concentração de potássio variou de forma cúbica (P < 0,05) com o avanço da idade. As concentrações de Cu e Zn diminuíram de forma quadrática (P < 0,05) com o avanço da idade, enquanto o teor de Mn aumentou de forma quadrática. Os resultados obtidos no presente trabalho indicam que o manejo do capim do capim-pensacola, visando uma boa digestibilidade, adequado teor protéico e de minerais, deve ser feito à intervalos máximos de 30 dias entre cortes.

Palavras-chave:Paspalum notatum, composição química, idade de corte, pastagem

Production characteristics and nutritive value of Pensacola Bahiagrass (Paspalum notatum Fluegge var. saurae Parodi) in response to cutting age

ABSTRACT: The objective of this experiment was to evaluate dry matter production, in vitro dry matter digestibility, variation in chemical composition and in macro and micro mineral contents in Pensacola bahiagrass (Paspalum notatum Fluegge var. saurae Parodi) as related to cutting age. The experimental design was completely randomized with six treatments, replicated five times. Treatments consisted of six cutting ages spaced 15 days apart, with the first cut made 20 days after staging. Dry matter production increased quadratically (P < 0.05) with increased age. In vitro dry matter digestibility and crude protein concentration decreased quadratically (P < 0.05) with increased age. Conversely, neutral detergent fiber increased quadratically (P < 0.05), whereas acid detergent fiber concentrations varied cubically (P < 0.05). Concentrations of the phosphorus, calcium, magnesium and sulfur decreased quadratically (P < 0.05), whereas potassium concentration varied cubically (P < 0.05) with increased age. Concentrations of copper and zinc decreased quadratically (P < 0.05), whereas that of manganese increased quadratically (P < 0.05). Results showed that the recommended cuttings should be performed in day 30 intervals, in order to garantee, if one seeks a good digestibility, adequate protein and mineral contents.

Key words:Paspalum notatum, chemical composition, cutting age, pasture

INTRODUÇÃO

O capim-pensacola (Paspalum notatum Fluegge var. saurae Parodi) é uma forrageira de origem Sul-Americana, que foi introduzida casualmente por volta de 1935 na Flórida, onde foi inicialmente estudada.

A utilização das espécies do gênero Paspalum nos sistemas agropecuários subtropicais foi ressaltada por Monteiro (1986). O capim-pensacola é de estação quente, bem adaptado às condições da região sudeste dos Estados Unidos onde é utilizado na criação de bovinos de corte e eqüinos (Burton & Mullinix, 1998), sendo uma das espécies mais difundidas dentre as de interesse econômico e apresentando estimativa de um milhão de hectares cultivados na Flórida.

Segundo Mislevy (1985) o capim-pensacola é uma espécie perene, de estação quente, que apresenta maior produção de forragem a temperaturas médias superiores a 15ºC. Seu hábito de crescimento é rasteiro com rizomas curtos e firmemente presos à superfície do solo formando uma cobertura densa. É a gramínea dominante nas aéreas de pastagens da Flórida, onde a precipitação média anual é de 1300 mm, com períodos de 276 dias livres de frio e solos de baixa fertilidade.

As informações técnicas sobre as espécies ou variedades desse gênero no Brasil, particularmente do capim-pensacola, são praticamente restritas à região Sul do país, onde espécies desse gênero são a base da exploração à campo de rebanhos ovinos e bovinos. Na região de cerrados, sua utilização e difusão vem aumentando principalmente nas criações de eqüinos, onde por suas características tornou-se uma alternativa interessante para o pastejo desses animais. Entre essas características destacam-se: tolerância a intenso e freqüente pisoteio, baixa altura da planta, ausência de estruturas vegetais contundentes e princípios anti-nutricionais não relatados.

Fatores como idade, época de corte, adubação, temperatura, solo, umidade e luz, bem como a interação destes fatores, estão diretamente associados à variações na sua composição. O valor nutritivo de uma forragem é determinado por sua composição, estando associado diretamente à sua maturidade (Van Soest, 1994) e a qualidade dos alimentos é geralmente medida através de seu valor alimentar, o qual segundo Raymond (1969), divide-se em digestibilidade, consumo de matéria seca e eficiência de utilização da energia. Van Soest (1994), observou que eficiência energética e consumo apresentam maior variação entre animais e que o estabelecimento de valores alimentares para esses componentes é mais difícil que para digestibilidade. Dessa forma, a digestibilidade é comumente medida e utilizada como parâmetro de qualidade.

A qualidade das forragens pode ser influenciada por uma série de fatores; com a maturidade as plantas têm seu valor nutritivo diminuído, face ao aumento na lignificação e diminuição na proporção folha/haste (Van Soest, 1994), além do aumento na proporção de parede celular (Wilkins, 1969).

De acordo com Van Soest (1994), a não ser que recebam suplementação alimentar, animais em pastejo retiram os nutrientes da forragem consumida; dessa maneira, as necessidades minerais das gramíneas são relevantes para seu próprio crescimento e para o suprimento dos requerimentos animais.

Van Soest (1994), postulou que importantes minerais, paralelamente à digestibilidade, declinam com o conteúdo celular e com a diminuição do tecido metabólico, em função da maturidade da planta. Essa tendência geral de queda nos teores de minerais com o aumento na idade das plantas foi sumarizada por Haag (1984), para gramíneas tropicais.

Martin & Matocha (1973), afirmaram que a composição química de qualquer planta é o resultado da interação do suprimento de minerais e do crescimento da planta, sendo que todo fator que limite o crescimento, seja ele luz, umidade, temperatura ou algum nutriente, pode levar ao acúmulo de outros nutrientes na planta.

Para explorar todo o potencial desta gramínea, visando elevados índices de produtividade animal, é preciso que se adotem as técnicas de manejo adequadas à espécie e para isto torna-se necessário o conhecimento do potencial de produção e das variações em sua composição químico-bromatológica durante o seu ciclo de crescimento. A obtenção destes dados em nossas próprias condições é fundamental, pois a simples extrapolação de resultados obtidos em uma localidade para outras é um exercício perigoso que pode ter sérias conseqüências, sob o ponto de vista técnico e econômico.

O presente trabalho teve como objetivo avaliar a produção de matéria seca e os teores de proteína bruta (PB), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA) e da digestibilidade in vitro da matéria seca (DIVMS), assim como também, estudar a variação da composição de macro e micronutrientes pelo capim-pensacola, em função da idade de corte.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido em uma área de pastagem de capim-pensacola, no Haras Catuaí, no município de São Sebastião do Paraíso, Estado de Minas Gerais, localizado nas coordenadas geográficas 20° 55' 09"S e 46° 59' 35"W, em altitude aproximada de 750 metros.

O clima segundo a classificação de Koppen é Cwa, caracterizado por precipitação média anual de 1750 mm, com média de 120 dias de chuva por ano, sendo os meses de dezembro/janeiro e fevereiro os mais chuvosos. A evapotranspiração potencial média anual é de 1000 mm, gerando excedente hídrico anual maior que 500 mm. A temperatura média anual é de 20°C, sendo as médias das máximas e mínimas 26° e 13°C respectivamente, com máxima e mínima absolutas de 36° e 0°C. Há ocorrência de geadas na região. (Brasil. Ministério da Agricultura, 1982).

O solo do local do experimento foi classificado como um Vermelho-Amarelo (PVA) distrófico, sendo previamente amostrado para análise química no perfil de 0-20 cm. A análise realizada apresentou os seguintes resultados: pH = 5,3; matéria orgânica = 10 g dm-3; P = 4,7 mg dm-3; K+ = 3,3 mmolc dm-3; Ca2+ = 28 mmolc dm-3; Mg2+ = 22 mmolc dm-3; CTC = 140,1 mmolc dm-3; V = 37,7 %.

Foi adotada como campo experimental uma área de pastagem de 950 m2 de capim-pensacola (Paspalum notatum Fluegge var. saurae) Parodi já formada, isenta de outras espécies vegetais, vedada ao pastejo de animais, apresentado cobertura vegetal contínua e homogênea e declividade uniforme de 5%.

O período experimental teve início em dezembro de 1987, quando foi realizado um corte de rebaixamento a uma média de um cm do nível do solo e terminou em março do ano seguinte. Imediatamente após o corte de rebaixamento foi realizada a remoção do material cortado e procedeu-se uma adubação à lanço em área total, de acordo com os resultados da análise de solo e as recomendações de Andrade et al. (1986). Foram aplicadas doses equivalentes a 200 kg de N na forma de sulfato de amônia, 250 kg de K2O na forma cloreto de potássio e 300 kg de P2O5 na forma de superfosfato simples, por hectare.

O delineamento estatístico adotado foi inteiramente casualizado, constando de seis tratamentos e cinco repetições, totalizando trinta parcelas amostradas. Os tratamentos consistiram de seis períodos de crescimento determinados através de cortes efetuados aos 20, 35, 50, 65, 80 e 95 dias após o corte de uniformização.

Para efetuar amostragem do material a ser analisado foi utilizado um quadrado com área interna de um m2, o qual foi arremessado aleatoriamente. O material contido no interior do quadrado foi cortado rente ao solo (um cm), com o auxílio de uma tesoura inox. As áreas amostradas foram delimitadas com estacas de madeira e barbante, de modo a não serem amostradas novamente.

Em seguida ao corte, o material amostrado foi acondicionado em sacos plásticos vedados e mantido refrigerado (8-10°C) até seu transporte para o laboratório onde foi pesado para determinação da produção de matéria verde. Foi então, colocado em estufa de circulação forçada a 65°C por um período de 48 horas, ao fim do qual foi novamente pesado para determinação da matéria seca. Após a secagem, o material foi moído em moinho tipo "Willey" com peneira 20 "mesh" e finalmente acondicionado em pequenos sacos plásticos.

A determinação da porcentagem de proteína bruta foi obtida multiplicando-se o teor de N por 6,25. Para a análise da digestibilidade in vitro da matéria seca foi utilizado o método de Tilley & Terry (1963). A fibra em detergente neutro e a fibra em detergente ácido foram analisadas segundo o método de Goering & Van Soest (1970).

A determinação dos teores dos minerais fósforo (P), cálcio (Ca), magnésio (Mg), ferro (Fe), zinco (Zn) e manganês (Mn), foi feita por espectrometria de emissão atômica em plasma induzido em argônio, descrita por Fassel (1979). Já as determinações de potássio (K) e cobre (Cu) foram feitas por espectrometria de absorção atômica, descrita por Zagatto et al. (1981). A determinação do enxofre (S) foi feita por turbidimetria com injeção em fluxo contínuo, segundo a metodologia descrita por Krug et al. (1977). O nitrogênio (N) foi determinado por colorimetria, segundo Jorgensen (1977).

A análise de variância foi executada através do programa SAS. A comparação entre as médias dos tratamentos foi feita usando-se o Teste de Tukey, ao nível de 5%. Os graus de liberdade para cortes, para todas variáveis estudadas, foram desdobrados em uma análise de regressão para obtenção da curva descritiva dos resultados, a partir do procedimento de análise de regressão do mesmo programa, descrito no manual SAS Institute (1988).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os dados de produção de matéria seca (MS) e composição químico-bromatológica do capim-pensacola, encontram-se na TABELA 1.

A produção de matéria seca do capim-pensacola apresentou aumentos significativos (P < 0,05) com o aumento da idade até 65 dias de corte. Esses aumentos se deram de forma quadrática, segundo análise de regressão (Figura 1). Esses resultados estão de acordo com os apresentados por Monteiro (1986) e Mitchell & Blue (1989), com médias anuais variando entre 8 e 15 Mg ha-1.

Figura 1
- Produção de matéria seca da parte aérea do capim-pensacola em função da idade de corte (

O comportamento do acúmulo de matéria seca durante o período estudado, confere com o proposto por Rodrigues & Rodrigues (1987), que descreveram a curva padrão das plantas forrageiras, com fases distintas entre as diferentes taxas de crescimento.

A inflexão da curva, aos 50 dias, pode ser explicada pelo início da produção dos perfilhos reprodutivos e sua propagação crescente em relação aos perfilhos vegetativos. Esse fato confirma o descrito por Booysen et al. (1963), em revisão sobre elevação de meristemas.

Nas últimas idades avaliadas, as menores taxas de acúmulo deveram-se à maior presença de material em senescência ou morto, coletado nas amostragens, como discutido por Hodgson et al. (1981). Segundo aqueles autores, a taxa de acúmulo de matéria seca nas folhas quando protegidas de desfoliação, foi representada pelo balanço entre a taxa de crescimento dos tecidos novos e a taxa de perda do material já maduro por decomposição. No capim-pensacola o período de viabilidade das folhas varia entre 55 e 65 dias após sua emergência (Sampaio et al., 1976).

Dos dados de digestibilidade in vitro da matéria seca, destaca-se a significativa queda nesses valores até a idade de 65 dias (P < 0,05), estabilizando em seguida (TABELA 1). Esse parâmetro decresceu de forma quadrática, conforme descrito na Figura 2.

Figura 2
- Composição químico-bromatológica (DIVMS, FDA, FDN e PB) da parte aérea do capim-pensacola em função da idade de corte (

Segundo estudos de Sampaio (1973), as folhas do capim-pensacola morrem entre 55 e 65 dias após sua emergência, sendo assim responsáveis por esse decréscimo acentuado naquela idade. O aumento da proporção de hastes, caracterizado pela produção de perfilhos reprodutivos, também contribuiu para essa queda na digestibilidade.

O valor obtido para digestibilidade aos 28 dias do presente ensaio (625,8 g kg-1), foi superior ao apresentado por Prates (1974), com intervalo de 454 a 551 g kg-1, mas semelhantes aos de Utley et al. (1978) com 599,8 g kg-1.

A adoção de intervalos entre cortes de 42 dias para produção de forragem de adequado valor nutritivo, como indicado por Prates (1970) não foi confirmada no presente trabalho, pois nessa idade a DIVMS seria de apenas 510 g kg-1. Considerando-se os valores obtidos, apenas forragens com idades máximas entre 25 e 30 dias apresentariam valores adequados e superiores à faixa entre 610 e 650 g kg-1 (Moore & Mott, 1973).

A proteína bruta sofreu decréscimos significativos (P < 0,05) durante todo o período estudado (TABELA 1). Essa variável diminuiu quadraticamente com o aumento da idade (Figura 2).

A queda nos valores de proteína bruta pode ter como explicações, além das causas fisiológicas como exportação de nutrientes para locais de maior atividade na planta (Sampaio, 1973), também a possível fixação do nitrogênio nas estruturas da parede celular (Van Soest, 1994) ou a presença maior de folhas mortas ou senescentes (Stanley et al., 1977). Além do efeito de sua diluição na matéria seca produzida e acumulada (Gomide, 1976).

Esses valores de proteína bruta apresentam-se dentro da mesma faixa de variação apresentada por outros autores (Prates, 1974; Utley et al., 1978).

Teores de PB entre 60 e 80 g kg-1 constituem a faixa de variação abaixo da qual o consumo de forragem por ruminantes diminui pela deficiência de nitrogênio na dieta (Raymond, 1969). Esses no presente trabalho mantiveram-se acima de 70 g kg-1 até a idade de 72 dias.

Os valores de FDN do capim-pensacola apresentaram aumentos significativos (P< 0,05) até a idade de 35 dias (TABELA 1). A partir dessa idade e até 65 dias, apresentam aumentos discretos e não significativos. Após a idade de 80 dias houve ligeira tendência de diminuição, com taxas mais elevadas de decréscimo próximo à idade de 90 dias. Esse parâmetro sofreu acréscimos de forma quadrática, como está ilustrado na Figura 2.

Já para FDA, apenas até a idade de 35 dias foram obtidos aumentos significativos (P < 0,05), sendo que após essa idade não houve diferenças entre os valores obtidos (TABELA 1). Esse parâmetro variou de forma cúbica, como está descrito na Figura 2.

O aumento da fração fibra com o aumento da idade de planta e posterior estabilização dos valores, também foi obtido por Gomide et al. (1969), em estudos com gramíneas tropicais.

Os decréscimos nos valores de FDN e FDA nas últimas épocas, podem estar relacionados à perdas por senescência, como foi observado por Hodgson et al. (1981).

Trabalhando com Pensacola, Prates (1974) relatou teores médios de FDN e FDA mais elevados para a idade de 28 dias (705,3 e 376,1 g kg-1) respectivamente, do que aqueles obtidos na mesma idade do presente ensaio (618,3 e 313,2 g kg-1), respectivamente.

É possível explicar os aumentos ocorridos nos teores de FDN e FDA no Pensacola, neste trabalho, pois estes parâmetros, de acordo com Van Soest (1994), estão intimamente relacionados com a parede celular a qual, segundo Wilkins (1969), aumenta progressivamente com a maturidade da planta, passando a constituir uma maior porção dos constituintes celulares. Além disso, há aumento no conteúdo de lignina (Van Soest, 1994), que se associa à celulose e hemicelulose, restringindo o ataque das enzimas digestivas e, consequentemente, diminuindo a digestibilidade da fibra (Norton, 1982).

Segundo Pedreira (1995), a composição química e a digestibilidade da forragem são influenciadas marcadamente pela idade da planta e o aumento da fibra em detergente neutro está associado com o decréscimo nos teores de proteína bruta e na digestibilidade. Observações confirmadas no presente estudo demonstram a interdependência existente entre estes parâmetros.

Este declínio no valor nutritivo com o atraso da idade de corte observado no presente estudo, também foi verificado por Mislevy et al. (1991) quando a frequência de colheita foi atrasada de 2 para 7 semanas, especialmente quando realizada com mais de 3 semanas. Cuomo et al. (1996), trabalhando com intervalo de cortes entre 20 e 40 dias de rebrota, também observaram comportamento semelhante, havendo aumento no conteúdo de fibra (FDN, FDA e lignina) e decréscimo no teor de proteína bruta e na digestibilidade.

Os resultados referentes às concentrações de nitrogênio (N), fósforo (P), potássio (K), cálcio (Ca), magnésio (Mg) e enxofre (S) na matéria seca da parte aérea do capim-pensacola, em função da idade, são apresentados na TABELA 2.

Através análise de variância dos valores obtidos para concentração de macronutrientes, observou-se que os mesmos foram influenciados (P > 0,05) pela idades de corte. Os teores de fósforo, cálcio, magnésio e enxofre sofreram decréscimos quadráticos (P < 0,05), enquanto a concentração de potássio variou de forma cúbica (P < 0,05) com o avanço da idade (Figura 3).

Figura 3
- Teores de macronutrientes (P, K, Ca, Mg, S) da parte aérea do capimpensacola em função da idade de corte (

Essa tendência geral de queda nos teores de minerais com o aumento na idade das plantas foi sumarizada por Haag (1984), que concluiu que as espécies forrageiras diferem entre si quanto aos teores dos elementos, que eles decrescem com o aumento da idade, podendo essa queda ser mais ou menos acentuada.

Gomide (1976), observou que com a maturidade das plantas verifica-se, comumente, queda nos teores dos minerais, provavelmente em decorrência do efeito de sua diluição na matéria seca produzida e acumulada. Além disso, com o avanço na idade das plantas, ocorrem alterações na relação haste/folha (Norton, 1982), morte de folhas senescentes (Wilson & Mannetje, 1978), diversidade no padrão de absorção dos elementos durante o ciclo da cultura e sua redistribuição entre os vários órgãos da planta, levando à diminuição da concentração dos minerais na planta.

A TABELA 3 apresenta os resultados referentes às concentrações de cobre (Cu), manganês (Mn) e zinco (Zn) na matéria seca da parte aérea do capim-pensacola, em função da idade.

Através análise de variância dos valores obtidos para concentração de micronutrientes, observou-se que os mesmos decresceram (P < 0,05) em função da idade de crescimento. Pela análise de regressão os teores de Cu, Fe e Zn diminuíram de forma quadrática (P < 0,05) com o avanço da idade, enquanto o teor de Mn aumentou de forma quadrática (Figura 4).

Figura 4
- Teores de micronutrientes (Cu, Fe, Mn, Zn) da parte aérea do capim-pensacola em função da idade de corte (

Da mesma forma que para outros minerais já discutidos, o decréscimo no teor de micronutrientes, com exceção do Mn, observado neste ensaio, deve-se, possivelmente, ao efeito de diluição dos elementos na matéria seca produzida (Gomide, 1976), à morte de folhas velhas devido ao sombreamento pelas folhas mais novas (Wilson & Mannetje, 1978) e ao aumento na relação haste/folha (Norton, 1982).

CONCLUSÕES

Dos resultados obtidos no presente trabalho, talvez o de maior significado zootécnico tenha sido a confirmação de uma expressiva queda nos valores de digestibilidade in vitro da matéria seca após 30 dias. A despeito de outros parâmetros tais como proteína bruta e teor de minerais apresentarem, nessa idade, valores considerados aceitáveis para a nutrição animal, o efeito dessa baixa digestibilidade sobre a produção animal pode ser marcante. Sendo assim, no manejo dessa gramínea forrageira deve-se portanto, condicionar intervalos máximos de 30 dias entre cortes, visando produção de forragem de adequada qualidade.

Recebido para publicação em 13.08.98

Aceito para publicação em 27.01.99

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    17 Set 1999
  • Data do Fascículo
    Jul 1999

Histórico

  • Aceito
    27 Jan 1999
  • Recebido
    13 Ago 1998
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