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Carbono e nitrogênio em solo de uma cronossequência de floresta tropical - pastagem de Paragominas

Soil carbon and nitrogen in a forest - pasture chronosequence from Paragominas

Resumos

Amostras de terra de áreas desmatadas há 4, 10 e 15 anos e utilizadas como pastagem e uma floresta nativa na região de Paragominas-PA, foram analisadas quanto à constituição isotópica e teor de carbono (C) e nitrogênio (N) com o objetivo de quantificar os estoques de C e N e as alterações devidas a mudanças do uso da terra. O conteúdo de C e N aumentaram ao longo do tempo de uso do solo como pastagem. Após 4 e 15 anos de cultivo o conteúdo de C aumentou 0,28 e 0,86 kg.m-2 na camada superficial 0-30 cm do solo; a pastagem de 10 anos ficou estável (diminuição de 0,02 kg.m-2) em relação à mata natural para a camada 0-30 cm, mas diminuiu de 0,15 na camada 0-10 cm. Na camada superficial 0-30 cm, a matéria orgânica da área sob mata natural é composta por 2,6 kg.m-2 de C estável e 2,1 kg.m-2 de C biodegradável, sendo que após 10 e 15 anos de pastagem o C biodegradável representou 1,3 e 1,0 kg.m-2, correspondendo a 27,7% e 21,3% do C original da floresta e o carbono estável representou 2,6 kg.m-2. Pode-se supor que os processos biológicos do solo ficam quase exclusivamente na dependência do C introduzido pela pastagem, uma vez que metade do estoque do C está na forma estável e que o C biodegradável remanescente da floresta mineraliza rapidamente.

matéria orgânica; pastagem; floresta Amazônica; <FONT FACE=Symbol>d</font>13C; carbono; nitrogênio


Soil samples from sites 4, 10 and 15 year-old pastures and one reference native forest, from Paragominas-Pará (Brazil), were used to determine the carbon (C) and nitrogen (N) contents and the natural abundance of ¹³C isotope, with the objective of quantifying the C and N budgets during replacement of the forest by pastures. With pasture establishment, C and N contents were increased. After 4 and 15 years of pasture, the C content increased to 0.28 kg.m-2 and 0.86 kg.m-2 respectively in the 0-30 cm soil layer. The 10 year pasture remained stable (0.02 kg.m-2 decreased) in relation to the natural forest, but decreased by 0.15 kg.m-2 in the 0-10 cm layer. In the 0-30 cm layer, organic matter in the natural forest site was 2.6 kg.m-2 stable C and 2.1 kg.m-2 biodegradable C. After 10 and 15 years under pasture, biodegradable C represented 1.3 kg.m-2 and 1.0 kg.m-2, corresponding to 27.7% and 21.3% of the original forest C, while the stable C represented 2.6 kg.m-2.

organic matter; pastures; Amazon forest; <FONT FACE=Symbol>d</font>13C; carbon; nitrogen


Martial Bernoux1,2*; Brigitte Josefine Feigl2; Carlos Clemente Cerri2; Ana Paula de Arauda Geraldes2; Silvana Aparecida Pavan Fernandes2

1Institut de Recherche pour le Développement (IRD, Ex-ORSTOM) - Paris, França

2Laboratório de Biogeoquímica do Solo - CENA/USP, C.P. 96 - CEP: 13400-970 - Piracicaba, SP.

*e-mail: mbernoux@cena.usp.br

RESUMO: Amostras de terra de áreas desmatadas há 4, 10 e 15 anos e utilizadas como pastagem e uma floresta nativa na região de Paragominas-PA, foram analisadas quanto à constituição isotópica e teor de carbono (C) e nitrogênio (N) com o objetivo de quantificar os estoques de C e N e as alterações devidas a mudanças do uso da terra. O conteúdo de C e N aumentaram ao longo do tempo de uso do solo como pastagem. Após 4 e 15 anos de cultivo o conteúdo de C aumentou 0,28 e 0,86 kg.m-2 na camada superficial 0-30 cm do solo; a pastagem de 10 anos ficou estável (diminuição de 0,02 kg.m-2) em relação à mata natural para a camada 0-30 cm, mas diminuiu de 0,15 na camada 0-10 cm. Na camada superficial 0-30 cm, a matéria orgânica da área sob mata natural é composta por 2,6 kg.m-2 de C estável e 2,1 kg.m-2 de C biodegradável, sendo que após 10 e 15 anos de pastagem o C biodegradável representou 1,3 e 1,0 kg.m-2, correspondendo a 27,7% e 21,3% do C original da floresta e o carbono estável representou 2,6 kg.m-2. Pode-se supor que os processos biológicos do solo ficam quase exclusivamente na dependência do C introduzido pela pastagem, uma vez que metade do estoque do C está na forma estável e que o C biodegradável remanescente da floresta mineraliza rapidamente.

Palavras-chave: matéria orgânica, pastagem, floresta Amazônica, d13C, carbono, nitrogênio

Soil carbon and nitrogen in a forest - pasture chronosequence from Paragominas

ABSTRACT: Soil samples from sites 4, 10 and 15 year-old pastures and one reference native forest, from Paragominas-Pará (Brazil), were used to determine the carbon (C) and nitrogen (N) contents and the natural abundance of ¹³C isotope, with the objective of quantifying the C and N budgets during replacement of the forest by pastures. With pasture establishment, C and N contents were increased. After 4 and 15 years of pasture, the C content increased to 0.28 kg.m-2 and 0.86 kg.m-2 respectively in the 0-30 cm soil layer. The 10 year pasture remained stable (0.02 kg.m-2 decreased) in relation to the natural forest, but decreased by 0.15 kg.m-2 in the 0-10 cm layer. In the 0-30 cm layer, organic matter in the natural forest site was 2.6 kg.m-2 stable C and 2.1 kg.m-2 biodegradable C. After 10 and 15 years under pasture, biodegradable C represented 1.3 kg.m-2 and 1.0 kg.m-2, corresponding to 27.7% and 21.3% of the original forest C, while the stable C represented 2.6 kg.m-2.

Key words: organic matter, pastures, Amazon forest, d13C, carbon, nitrogen

INTRODUÇÃO

A região de Paragominas-PA, representa uma das áreas mais antigas e expressivas de utilização de pastagens da Amazônia (Falesi, 1976; Uhl & Vieira, 1989). A conversão das florestas tropicais em áreas de uso agrícola provoca mudanças bruscas na quantidade e qualidade da biomassa aérea, e altera significativamente as propriedades do solo; por isso, o desmatamento tem sido uma das atividades mais discutidas e pesquisadas (Buschbacher et al., 1987; Serrão & Toledo, 1990; Martinelli et al., 1993) em termos de risco potencial para o ecossistema natural da Amazônia e suas implicações no efeito estufa do planeta.

Com a introdução de pastagem, a quantidade de matéria orgânica do solo normalmente decresce nos primeiros anos de sua implantação, aumentando a seguir até atingir níveis muito próximos aos previamente existentes na mata natural (Chonè et al., 1991; Cerri & Andreux, 1990).

Nos ecossistemas naturais a fonte de carbono orgânico do solo tem uma única origem, ou seja, os resíduos vegetais da vegetação nativa, enquanto nos agrossistemas, a maior parte do carbono do solo apresenta no mínimo duas fontes: a remanescente da vegetação nativa e a produzida pela decomposição dos resíduos vegetais de uma ou mais culturas introduzidas.

A quantificação destas duas fontes de matéria orgânica nos solos cultivados tornou-se possível com o emprego de técnicas isotópicas baseadas na abundância natural em carbono-13 (Cerri et al., 1985). A maioria das plantas das florestas tropicais possui um ciclo fotossintético do tipo C3 e como a matéria orgânica do solo é derivada da cobertura vegetal, o seu d¹³C é aproximadamente igual ao da vegetação que a originou. As gramíneas de regiões tropicais possuem um ciclo fotossintético do tipo C4, e assim, quando a floresta é desmatada e a terra utilizada como pastagem, os resíduos da cultura são incorporados ao solo e modificam a relação isotópica inicial. Esta diferença é utilizada para quantificar as perdas de matéria orgânica nativa e os ganhos devido à implantação da pastagem. Considerando que a matéria orgânica do solo sob floresta pode ser separada em dois compartimentos (Jenkinson & Rayner, 1977; Van Veen & Paul, 1981) um biodegradável e outro estável, torna-se possível estimar a quantidade de carbono biodegradável e estável da floresta, nas diferentes situações de uso, para fins agrícolas do solo (Cerri et al., 1985).

O objetivo deste trabalho foi quantificar os estoques de carbono e nitrogênio e suas origens em uma cronossequência de pastagens sobre um mesmo solo, instalada a partir do desmatamento da floresta tropical Amazônica localizada no município de Paragominas, Estado do Pará.

MATERIAL E MÉTODOS

Área de estudo - A área selecionada esta localizada na fazenda Bosque, no município de Paragominas-PA (3o05' S e 47o24' O). A vegetação natural que cobre a área é a floresta tropical úmida que foi classificada pela FAO como floresta sempre verde, cujas principais características são possuir copas bem separadas e as camadas de arbustos e plantas herbáceas relativamente separadas (Falesi, 1976). A temperatura média anual é de 27,9oC e a umidade relativa média do ar é de 76% ao ano, com variação de 71% no mês de novembro a 80% nos meses de fevereiro a abril.

O tipo de solo predominante na região é o Latossolo Vermelho Amarelo distrófico muito argiloso (LVAd) (Projeto RADAMBRASIL, 1973). Selecionaram-se quatro áreas contíguas, constituindo uma cronossequência, as quais foram denominadas mata natural e pastagens de 4, 10 e 15 anos, todas sobre este tipo de solo. O desmatamento mais antigo, ora chamado de "pastagem de 15 anos", foi feito mecanicamente, queimado em 1975, e a pastagem implantada em 1976. Esta área foi adubada com fosfato entre 1980-1981 e cultivada durante 1 ano com milho (1981-1982), sendo então novamente adubada e semeada com Colonião (Panicum maximum) e Quicuio (Brachiaria humidicola). A floresta da área denominada "pastagem de 10 anos" foi derrubada em 1980, queimada e o solo cultivado com milho durante 2 anos consecutivos (1981-1983). Após este período adubou-se, manualmente, com fosfato (300 kg/ha de hiperfosfato) e plantou-se capim Colonião. A área sob "pastagem de 4 anos" foi desmatada manualmente em 1986, queimada e plantada com capim Colonião e Braquiarão (Brachiaria brizantha).

Coleta e preparo das amostras - As amostras foram coletadas em junho de 1991. Em cada área de pastagem e na floresta fez-se uma trincheira de 100 x 150 cm de superfície e 150 cm de profundidade, distante cerca de 200 m umas das outras, na qual foi feita a determinação da densidade do solo pelo método do anel volumétrico de Blake & Hartge (1986), considerando camadas sucessivas de 10 cm. As amostras para as análises físicas e químicas foram coletadas nas profundidades de 0-10, 10-20 e 20-30 cm com o auxílio de um cilindro de aço de 16 cm de diâmetro (2010 cm3), introduzido no solo por percussão. O processo foi repetido por três vezes num raio de 50 m em torno da trincheira. Este sistema permitiu a coleta de amostras e complementa a determinação da densidade das camadas do solo. As amostras de terra foram secas ao ar, peneiradas por aberturas de malha de 2 mm e parte delas foi moída e passada em peneiras com aberturas de malhas de 0,148 mm (100 "mesh").

Carbono, nitrogênio e d13C do solo - O teor de carbono orgânico foi determinado por combustão a seco no equipamento Wösthof "Carmhograph-12A", e o nitrogênio total pelo método micro-Kjeldahl (Bremner & Shaw, 1958). Os conteúdos de carbono e nitrogênio de cada camada do solo foram calculados multiplicando a porcentagem de cada elemento pela massa (densidade x volume) de terra da respectiva camada. Nas pastagens, fez-se a correção da massa das camadas em função daquelas correspondentes da mata natural com o objetivo de evitar erros decorrentes da alteração da densidade quando a amostragem se baseia somente na espessura (Veldkamp, 1994).

A abundância natural do 13C foi obtida a partir da liberação do CO2 devido à combustão a 550oC de amostras de terra, em tubos pirex selados, na presença de CuO, e análise realizada por espectrometria de massas, de acordo com os procedimentos utilizados na Seção de Isótopos Estáveis do Centro de Energia Nuclear na Agricultura (CENA). A abundância natural de cada amostra foi expressa em d13C em partes por mil (‰), usando como referência o padrão internacional PDB (Pee Dee Belemnita), de acordo com a seguinte equação:

d13C‰ = [ (13C/12C )amostra - ( 13C/12C )PDB] x 103 / ( 13C/12C )PDB (1)

O carbono remanescente da floresta (Cf) e o introduzido pela pastagem (Cp), foram calculados de acordo com Cerri et al. (1985), considerando as seguintes equações:

Cp (%) = (d - do) x 103 / (d1 - do) (2)

Cf (%) = 100 - Cp (3)

onde: d representa os valores de d13C das amostras de solo sob pastagem; d1 as médias dos valores de d13C de folhas e raízes das gramíneas (d1 = -14,3 ‰) e do os valores de d13C das amostras de solo sob floresta.

As formas estável (Cfe) e biodegradável (Cfb) do carbono do solo sob floresta foram calculadas segundo Cerri (1986), usando-se um ajuste pelo método dos mínimos quadrados da equação (4) com os valores de Cf.

Cf(t) = Cfe + Cfb(t=0) [exp (- K.t)] (4)

onde: Cfe é o carbono estável, Cfb(t=0) o carbono biodegradável presente no solo sob floresta, K é a constante de decaimento do carbono da fração biodegradável e t é o tempo.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Conteúdo em carbono total do solo

Sob mata natural estão estocados 2,19 kg.m-2 nos primeiros 10 cm do solo (TABELA 1). O conteúdo em carbono nesta mesma camada do solo com pastagens de 4 e 15 anos apresentam aumentos de 0,16 kg.m-2 e 0,46 kg.m-2 em relação ao conteúdo de carbono do solo sob mata natural. Na área de 10 anos há uma diminuição de 0,15 kg.m-2 em relação a mata natural provavelmente devido ao fato de ter sido cultivado por dois anos consecutivos com milho antes da implantação da pastagem, pois este tipo de cultivo restitui menor quantidade de material vegetal ao solo quando comparado com pastagens (Cerri, 1986; Cerri & Andreux, 1990). Apesar da área de 15 anos também ter sido cultivada com milho por um ano, a entrada do carbono pela pastagem e o tempo decorrido compensaram a baixa restituição ocasionada pelo cultivo do milho.

Nos vinte centímetros superficiais do solo estão estocados 3,46; 3,79; 3,49 e 4,35 kg.m-2 respectivamente nas áreas de mata natural e pastagens de 4, 10 e 15 anos. Estes valores são inferiores aos encontrados por Cerri (1989) e Chonè et al. (1991) em áreas da Amazônia Central. O acréscimo de 0,33 kg.m-2 e 0,89 kg.m-2 nas áreas de pastagens cultivadas por 4 e 15 anos confirmam que a implantação da pastagem conduz, ao longo do tempo, a um aumento no conteúdo de carbono do solo; a quantidade de carbono presente na pastagem de 10 anos praticamente igualou-se a da mata natural. Normalmente a substituição da vegetação nativa por cultivos anuais têm conduzido a uma redução do estoque de carbono e nitrogênio no solo (Feller et al., 1991). Contudo, tem-se observado que a introdução de pastagens bem manejadas favorece a elevação do conteúdo de carbono (Cerri & Andreux, 1990; Choné et al., 1991; Fernandes, 1993).

Conteúdo em nitrogênio total do solo

O estoque de nitrogênio do solo na camada 0-10 cm aumentou em 26,3% e 5,3% após 4 e 15 anos da implantação da pastagem (TABELA 1). A diminuição do conteúdo de nitrogênio em 15,8% em relação à mata, na pastagem com 10 anos foi provavelmente ocasionada devido ao cultivo com milho. Considerando a camada 0-20 cm, esta diminuição passa a ser 3,4%, uma vez que é na camada superficial do solo que se concentra a maior quantidade do nitrogênio estocado. O aumento do nitrogênio nas áreas sob pastagens deve-se provavelmente à fixação biológica, uma vez que não houve incorporação deste nutriente através de adubações. Estes dados estão de acordo com o trabalho de Piccolo et al. (1994) que, utilizando técnicas isotópicas, observaram uma diminuição do valor de d15N em uma cronossequência de pastagens e concluíram que este fato se deve a entrada de N derivado da fixação por bactérias de vida livre associada com as gramíneas. A semelhança do que ocorre com o estoque de carbono, há uma diminuição no conteúdo de nitrogênio em função da profundidade do solo.

Constituição isotópica e origem da matéria orgânica

A medida que as pastagens tornam-se mais antigas o d13C do solo aumenta progressivamente, e este enriquecimento é devido à entrada de material vegetal rico em carbono-13 proveniente da pastagem. Esta variação é muito mais pronunciada na camada superficial (Figura 1). Na camada superior sob mata natural o d13C é -27,7‰ e observa-se um aumento para -26,4‰ na camada 20-30 cm. Variações da mesma ordem de grandeza foram também constatadas por Cerri (1989) em solos da Amazônia brasileira. Os valores de d13C observados nas pastagens de 4, 10 e 15 anos na camada 0-10 cm foram respectivamente de -25,8‰; -23,9‰ e -22,4‰ assemelhando-se aos encontrados por Moraes (1991). Entre 20 e 30 cm de profundidade a diluição isotópica ocasionada pela entrada dos restos vegetais da pastagem é menor. O d13C das pastagens mais jovens é praticamente igual ao da mata, com uma variação de apenas 0,5‰, atingindo 1,9‰ na mais antiga. Estes resultados estão de acordo com o encontrado por Moraes et al. (1996) que apresentou diferenças de apenas 2,4‰ a uma profundidade de 30 cm.


Usando os valores de d13C nas equações (2) e (3), foram calculados as quantidades de carbono remanescente da floresta e a introduzida pelas pastagens. Nos primeiros 20 cm do solo, o carbono remanescente da floresta (Cf) das áreas de pastagens com 4, 10 e 15 anos representam 88,2; 76,8 e 63,6% do carbono total do solo. Estes dados são semelhantes àqueles encontrado por Bonde et al. (1992) em um Latossolo Amarelo da região de Manaus, sendo que o carbono da pastagem correspondeu a 11,4; 21,4 e 34,6% do carbono total. Esses valores indicam que houve uma diminuição de 3,2; 22,6 e 20,0% do conteúdo de carbono remanescente da floresta após 4, 10 e 15 anos de implantação das pastagens e são inferiores aos encontrados por Cerri (1989) que constatou uma diminuição de 38% e 42,5% em pastagens com 2 e 8 anos.

Com o desmatamento e o tempo de uso do solo, há uma diminuição progressiva do carbono remanescente da floresta (Cf), uma vez que não há mais a entrada de matéria orgânica de plantas de ciclo fotossintético C3 enquanto que aumenta o carbono introduzido pela pastagem (Cp) (Figura 2). Em todas as pastagens a proporção relativa do Cp diminuí com a profundidade. Comparações entre as pastagens indicam que as mais antigas são as que apresentam maior proporção de Cp.


O estoque acumulado em carbono remanescente da floresta e o introduzido pelas pastagens, na camada 0-30 cm, está representado na Figura 3. Evidencia-se por esta figura que o estoque de carbono do solo nas pastagens é sempre superior ao da mata natural. As perdas de Cf por mineralização são superadas pela incorporação de Cp, resultando num incremento de 0,86 kg.m-2 ou 18% em relação ao estoque inicial.


Carbono estável (Cfe) e biodegradável (Cfb) remanescentes da floresta

Os valores de carbono estável e biodegradável para as diferentes situações foram calculados usando-se a equação (4) com os seguintes coeficientes: Cfe = 26 ± 33 kg.m-2, Cfb(t=0) = 21 ± 32 kg.m-2 e K = 0.05 ± 0.11 ano-1. Sob mata natural o estoque de carbono estável (Cfe) é de 2,6 kg.m-2 enquanto o carbono biodegradável totaliza 2,1 kg.m-2 na camada de 0-30 cm. Do total de carbono existente no solo nas pastagens de 10 e 15 anos, 54,2% e 47,3% daquele remanescente da floresta está estocado na forma estável (Cfe) e somente 27,1% e 18,2% na forma biodegradável (Cfb). Os resultados também mostram que a medida que o tempo de uso do solo como pastagem aumenta, a fração biodegradável diminui (Figura 4).


CONCLUSÕES

A entrada de material vegetal derivado de plantas com ciclo fotossintético C4, provocou, com o decorrer dos anos, uma variação da constituição isotópica, o que possibilitou o acompanhamento da dinâmica da matéria orgânica do solo. A transformação de áreas sob mata natural em pastagens conduziu, ao longo do tempo de cultivo, a um aumento no estoque de carbono e nitrogênio do solo. Com o desmatamento e a conseqüente introdução das pastagens houve uma diminuição progressiva do carbono remanescente da floresta (Cf) e um aumento do carbono proveniente da pastagem (Cp).

Na área sob mata natural o carbono total é composto por 44,7% sob a forma biodegradável e 55,3% sob a forma estável. Após 15 anos de implantação da pastagem o carbono biodegradável passou a representar 18,2% do carbono total do solo sob floresta, o estável 47,3% e o introduzido pelo pasto 34,5%. Considerando que aproximadamente metade do estoque do carbono do solo está na forma estável remanescente da floresta (Cfe) e que o carbono biodegradável remanescente da floresta (Cfb) se mineraliza rapidamente, pode se supor que os processos biológicos do solo ficam quase exclusivamente na dependência da utilização do carbono introduzido pela decomposição dos resíduos da pastagem (Cp).

Recebido para publicação em 09.06.98

Aceito para publicação em 07.05.99

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    11 Jan 2000
  • Data do Fascículo
    Out 1999

Histórico

  • Aceito
    07 Maio 1999
  • Recebido
    09 Jun 1998
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