Preferência alimentar de percevejos por frutos e botões florais de genótipos de maracujazeiro

Feeding preference of bedbugs for fruits and floral buds of passion fruit genotypes

Arlindo Leal Boiça Jr.^1,3*; Edson Luiz Lopes Baldin^1,4; João Carlos de Oliveira²

¹Depto. de Entomologia e Nematologia - FCAV/UNESP, Rodovia Carlos Tonani, km 5, CEP: 14.870-000 - Jaboticabal, SP.

²Depto. de Fitotecnia - FCAV/UNESP.

³Bolsista do CNPq.

⁴Bolsista da FAPESP.

*e-mail: [e-mail]

RESUMO: Visando estudar a preferência alimentar de Holhymenia histrio (Fabr.) (Hemiptera: Coreidae), por frutos e botões florais de diferentes genótipos de Passiflora spp., foram conduzidos ensaios de atratividade e consumo, sob condições de laboratório. Em teste com chance de escolha, frutos de P. giberti foram menos preferidos que os de P. edulis f. flavicarpa e P. alata; em testes sem chance de escolha, os percevejos preferiram igualmente os frutos dos genótipos testados. Nos testes com chance de escolha, utilizando-se botões florais, P. giberti e P. coccinea foram menos preferidos que P. edulis f. flavicarpa e P. alata.

Palavras-chave: Holhymenia histrio, Passiflora spp., insecta, resistência de plantas, atratividade

Feeding preference of bedbugs for fruits and floral buds of passion fruit genotypes

ABSTRACT: Attraction and consumption tests were conducted to evaluate the feeding preference of the bedbug Holhymenia histrio (Fabr.) (Hemiptera: Coreidae), for fruits and floral buds of different genotypes of Passiflora spp., under laboratory conditions. In a free choice test, utilizing fruits, the genotype P. giberti was the least favorite, while P. edulis f. flavicarpa and P. alata revealed to be susceptible. In tests without choice, utilizing fruits, the insects preferred equally the fruits of all tested genotypes. In free choice tests utilizing floral buds, the genotypes P. giberti and P. coccinea were the least favorite, while P. edulis f. flavicarpa and P. alata were susceptible.

Key words: Holhymenia histrio, Passiflora spp., insecta, host plant resistance, attraction

INTRODUÇÃO

O maracujazeiro Passiflora spp. tem grande importância pelo valor decorativo de suas flores, pelas qualidades gustativas de seus frutos e pelas propriedades farmacodinâmicas e alimentares de seu suco, cascas e sementes (Manica, 1981). Segundo Sato et al. (1992), os principais países produtores de maracujá são, por ordem de importância: Brasil, Peru, Sri Lanka, Equador, Austrália, Quênia, Havaí e África do Sul.

Durante a condução da cultura geralmente ocorrem alguns problemas e, dentre estes, encontram-se os danos ocasionados pelos insetos, onde os percevejos merecem destaque, principalmente na frutificação da cultura (São José, 1993). Tanto os adultos quanto as formas jovens, picam o caule, os frutos e as folhas para sugarem a seiva. O ataque da praga aos frutos provoca seu murchamento e queda, com grande perda de produção (Carvalho,1975; Ruggiero et al.,1996).

Os percevejos do gênero Holhymenia possuem aspecto vespiforme, com os hemiélitros em sua maior parte hialinos e com o segundo e terceiro artículos das antenas negros e dilatados em ambos os lados, o que permite diferenciá-lo dos demais gêneros da tribo Anisoscelidini. H. clavigera Herb. e H. histrio Fabr. são bastante semelhantes, mas podem ser diferenciadas, uma vez que H. histrio, ao contrário das outras espécies do gênero, apresenta tilo e um triângulo interocelar de cor amarela; seu pronoto tem três manchas medianas amarelas alinhadas e o escutelo é amarelo com uma mancha basal trapezoidal de coloração parda (Brailovsky & Sánches, 1982).

Diversos métodos de controle são utilizados, destacando-se, entre eles, o biológico e o químico. No entanto, por ser o maracujá uma planta auto-estéril, de polinização cruzada, e cujos insetos polinizadores devem ser preservados, só devem ser indicados produtos específicos, de baixo poder residual e de menor toxidade possível (Sampaio, 1980; Manica, 1981; Gravena, 1987). Com relação ao uso de variedades resistentes, quase nada é encontrado na literatura, mas segundo Rossetto et al. (1981) e Lara (1991), este controle é o mais desejável pois não é poluente, não causa desequilíbrio biológico, é persistente, não onera a produção e dispensa a necessidade de conhecimentos específicos do agricultor.

Em função dos danos apresentados, com significativa perda de produção e da necessidade do desenvolvimento de métodos de controle alternativos para estas pragas, realizou-se este trabalho, com objetivo de selecionar genótipos de maracujazeiro com frutos e botões florais menos preferidos para alimentação do percevejo H. histrio.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi realizado sob condições ambientais controladas no Departamento de Entomologia e Nematologia da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, UNESP, Campus de Jaboticabal durante os anos de 1996 e 1997, realizando-se testes de atratividade e consumo, com e sem chance de escolha, utilizando-se frutos e botões florais de maracujazeiro. Os dados obtidos em todos os testes foram submetidos à análise de variância, sendo as médias comparadas pelo teste de Tukey (P£0,05).

Testes com chance de escolha utilizando-se frutos - Realizaram-se testes de atratividade e consumo em gaiolas de vidro, com dimensões de 30 x 30cm de base por 40cm de altura e 0,4cm de espessura, utilizando-se os seguintes genótipos: P. alata, P. edulis f. flavicarpa, P. coccinea, P. nitida e P. giberti. Os frutos (1 de cada genótipo) foram acondicionados em recipientes plásticos e distribuídos de forma equidistante no fundo da gaiola. Colocaram-se gravetos de madeira na região central da base da gaiola, oriundos de um mesmo feixe central e ligados a cada um dos frutos. Os percevejos, à razão de 1 por genótipo foram liberados no fundo da gaiola, a qual foi coberta com tecido voil para evitar a fuga dos insetos. Avaliou-se o número de insetos por genótipo a 1, 3, 5, 15, 30, 45, 60, 90, 120 e 180 minutos da liberação. O consumo foi avaliado visualmente, durante 180 minutos, através do número médio de picadas, tempo médio de alimentação e tempo médio de alimentação/picada. Efetuaram-se 30 repetições, utilizando-se o delineamento experimental inteiramente casualizado.

Testes sem chance de escolha utilizando-se frutos - A atratividade e o consumo foram avaliados, utilizando-se os mesmos recipientes e genótipos anteriormente citados, sob as mesmas condições, colocando-se de maneira equidistante, no fundo das gaiolas, 5 frutos de um mesmo genótipo. Liberou-se em seguida, na região central, 1 percevejo adulto por fruto do genótipo, avaliando-se os mesmos parâmetros dos testes com chance utilizando frutos. Efetuaram-se 10 repetições seguindo o mesmo delineamento experimental.

Testes com chance de escolha utilizando-se botões florais - Realizaram-se os mesmos testes descritos anteriormente com os genótipos, com exceção de P. nitida. Um botão floral de cada genótipo foi acondicionado num vidro de penicilina esterilizado, contendo água destilada afim de manter sua turgescência. Os recipientes foram colocados de forma equidistante no fundo da gaiola, um em cada vértice. Quatro gravetos de madeira (cada um ligado a um botão) foram colocados na região central da base da gaiola. Os percevejos (1 por genótipo) foram liberados no centro e na base da gaiola em 10 repetições, avaliando-se os parâmetros já descritos.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Testes com chance de escolha utilizando-se frutos - O número acumulado de adultos de H. histrio foi menor nos frutos para o genótipo P. giberti (p£0,05), sendo, portanto, o menos atrativo. Os genótipos P. nitida, P. coccinea e P. alata apresentaram valores próximos e intermediários; já P. edulis f. flavicarpa revelou-se como o mais atrativo, diferindo significativamente (p£0,05) de todos os materiais testados (Figura 1). O menor consumo foi constatado em P. giberti (p£0,05), sugerindo que este genótipo apresenta poucos estímulos para que o inseto comece a se alimentar ou mantenha este comportamento, configurando-se assim, este material como resistente, possivelmente por não-preferência para alimentação. P. edulis f. flavicarpa e P. alata, mesmo tendo elevado número de picadas, apresentaram também elevados valores para tempo médio de alimentação e tempo médio de alimentação por picada, indicando a presença de estimulantes para alimentação e caracterizando-se como suscetíveis (TABELA 1).

Testes sem chance de escolha utilizando-se frutos - Analisando-se o número acumulado de insetos observados em cada genótipo no período de 1 a 180 minutos, notou-se que não houve diferença significativa (p>0,05), embora os genótipos P. alata e P. coccinea tenham apresentado tendências de serem menos atrativos. Contrariamente, ou seja, com tendências de maior atração, situaram-se P. nitida, P. edulis f. flavicarpa e P. giberti. Pode-se também observar (TABELA 2) que não ocorreu diferença estatística significativa (p>0,05) para o número médio de picadas, tempo médio de alimentação e tempo médio de alimentação por picada, evidenciando a suscetibilidade dos genótipos ao ataque de H. histrio, em teste sem chance de escolha.

Testes com chance de escolha utilizando-se botões florais - Os números acumulados de insetos atraídos para os botões florais em todos os períodos de avaliação não diferiram significativamente (p>0,05), entretanto foi possível notar que os botões florais de P. coccinea e P. giberti apresentaram tendência de serem menos atrativos, enquanto que P.edulis f. flavicarpa e P. alata tenderam a apresentar valores mais elevados de insetos atraídos, sugerindo maior suscetibilidade.

Os botões florais de P. coccinea e P. giberti foram os que receberam menos picadas de H. histrio durante os 180 minutos de ensaio, sugerindo serem os mais resistentes e diferindo significativamente (p£0,05) de P. edulis f. flavicarpa que revelou-se como o mais atacado. P. alata não diferiu estatisticamente (p>0,05) de nenhum dos materiais, revelando comportamento intermediário. Quanto ao tempo médio de alimentação e o tempo médio de alimentação por picada, os dados revelam que não houve diferença estatística (p>0,05) entre os materiais testados, podendo-se observar entretanto, uma tendência de maior tempo de alimentação do inseto nos genótipos P. edulis f. flavicarpa e P. alata (TABELA 3).

CONCLUSÕES

• Em teste com chance de escolha com frutos de maracujazeiro, o genótipo P. giberti comportou-se como menos atrativo e consumido por H. histrio;

• Em teste sem chance de escolha com frutos, todos os genótipos foram suscetíveis, e;

• Em teste com chance de escolha com botões florais, os genótipos P. coccinea e P. giberti comportaram-se como menos atrativos e consumidos por H. histrio.

AGRADECIMENTOS

Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq, pela Bolsa de Pesquisa concedida ao primeiro autor; à FAPESP, pela Bolsa de Mestrado concedida ao segundo autor; e, à Dra. Jocélia Grazia pela identificação da espécie de percevejo estudada.

Recebido para publicação em 13.10.98

Aceito para publicação em 05.07.99

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Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  11 Jan 2000
• Data do Fascículo
  Out 1999

Histórico

• Aceito
  05 Jul 1999
• Recebido
  13 Out 1998