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Densidade de plantas e produção de amendoim

Plant density and peanut yield

Resumos

Para estudar o efeito da densidade de plantas sobre a produção de vagens e seus componentes na cultura do amendoim cv. Tatu, em solos com diferentes fertilidades, foram realizados três experimentos, em condições de campo, no município de Pontal, SP, em um Latossolo Roxo, em anos agrícolas distintos, no cultivo das águas. As densidades estudadas foram 5, 8, 11, 14, 17, 20, 23 e 26 plantas por metro, em espaçamento de 0,60 m entre linhas. O componente de produção responsável pela variação da produção de vagens por planta foi o número de vagens, tendo diminuído com o aumento da densidade de plantas. Nas maiores densidades de plantas, as produções por planta foram menores, todavia devido à maior população de plantas, foram obtidas nestas as maiores produtividades de vagens. Produtividades de vagens, sem perdas significativas em relação às maiores densidades, foram obtidas nas densidades de 14 plantas por metro em solo de alta fertilidade e de 11 plantas por metro em solos de média/baixa fertilidades, que originaram, respectivamente, 12,92, 10,67 e 10,93 plantas por metro à colheita.

Arachis hypogaea; vagem; fertilidade; solo


The effect of plant density on peanut (Arachis hypogaea L.) yield, cv. ‘Tatu’, was studied in soils of various fertility levels. Three experiments were carried out under field conditions, on a soil classified as Oxisol, at Pontal, SP, Brazil, during the wet seasons of 1987-88, 1988-89 and 1989-90. The densities studied were 5, 8, 11, 14, 17, 20, 23 and 26 plants per meter of row, with a row spacing of 0.60 m. The yield component responsible for the variation of pod production per plant was number of pods per plant, which decreased with increasing plant density. However, the low pod production per plant under high plant densities was compensated by the high population of plants, with high yield. Thus, good pod yield, without significant losses in relation to the highest densities, were obtained at the density of 14 plants per meter for the high fertility soil, and 11 plants per meter for the middle and low fertility soils, resulting, respectively, in 12.92, 10.67 and 10.93 plants per meter at harvest time.

Arachis hypogaea; pod; fertility; soil


Densidade de plantas e produção de amendoim

João Nakagawa1,6*; Dalmo de Campos Lasca2; Gessy de Souza Neves3; João Paulo de Souza Neves3; Maurício Nunes da Silva2; Sérgio Veraguas Sanches3; Valmir Barbosa4; Cláudia A. V. Rossetto5

1Depto. de Agricultura e Melhoramento Vegetal - FCA/UNESP, C.P. 237 - CEP: 18603-970 - Botucatu, SP.

2CPTV-DEXTRU/CATI/SAA-SP - Campinas, SP.

3DIRA de Ribeirão Preto/CATI/SAA-SP - Ribeirão Preto, SP.

4Usina Santa Elisa - Ribeirão Preto, SP.

5Depto. de Fitotecnia, Instituto de Agronomia - UFRRJ - CEP: 23851-960 - Seropédica, RJ.

6Bolsista CNPq.

*Autor correspondente secdamv@fca.unesp.br

RESUMO: Para estudar o efeito da densidade de plantas sobre a produção de vagens e seus componentes na cultura do amendoim cv. Tatu, em solos com diferentes fertilidades, foram realizados três experimentos, em condições de campo, no município de Pontal, SP, em um Latossolo Roxo, em anos agrícolas distintos, no cultivo das águas. As densidades estudadas foram 5, 8, 11, 14, 17, 20, 23 e 26 plantas por metro, em espaçamento de 0,60 m entre linhas. O componente de produção responsável pela variação da produção de vagens por planta foi o número de vagens, tendo diminuído com o aumento da densidade de plantas. Nas maiores densidades de plantas, as produções por planta foram menores, todavia devido à maior população de plantas, foram obtidas nestas as maiores produtividades de vagens. Produtividades de vagens, sem perdas significativas em relação às maiores densidades, foram obtidas nas densidades de 14 plantas por metro em solo de alta fertilidade e de 11 plantas por metro em solos de média/baixa fertilidades, que originaram, respectivamente, 12,92, 10,67 e 10,93 plantas por metro à colheita.

Palavras-chave:Arachis hypogaea, vagem, fertilidade, solo

Plant density and peanut yield

ABSTRACT: The effect of plant density on peanut (Arachis hypogaea L.) yield, cv. ‘Tatu’, was studied in soils of various fertility levels. Three experiments were carried out under field conditions, on a soil classified as Oxisol, at Pontal, SP, Brazil, during the wet seasons of 1987-88, 1988-89 and 1989-90. The densities studied were 5, 8, 11, 14, 17, 20, 23 and 26 plants per meter of row, with a row spacing of 0.60 m. The yield component responsible for the variation of pod production per plant was number of pods per plant, which decreased with increasing plant density. However, the low pod production per plant under high plant densities was compensated by the high population of plants, with high yield. Thus, good pod yield, without significant losses in relation to the highest densities, were obtained at the density of 14 plants per meter for the high fertility soil, and 11 plants per meter for the middle and low fertility soils, resulting, respectively, in 12.92, 10.67 and 10.93 plants per meter at harvest time.

Key words:Arachis hypogaea, pod, fertility, soil

INTRODUÇÃO

A produtividade de uma cultura é o resultado do efeito de vários fatores, dentre estes destaca-se a população de plantas por influir diretamente nos componentes da produção. Em amendoim, aumentando-se a população de plantas, consegue-se aumentos na produtividade (Sturkie & Williamson, 1951; Mazzani, 1961; Choy et al., 1982; Mozingo & Wright, 1994), entretanto tais ganhos ocorrem até um certo limite de número de plantas por unidade área (Nakagawa et al., 1983, 1994), obtendo-se resultados diferenciados em função da cultivar e das condições do meio (Gerakis & Tsangarakis, 1969; Cahaner & Ashri, 1974; Gopalaswamy et al., 1979; Mozingo & Wright, 1994). O número de vagens por planta é o componente da produção mais afetado pela população de plantas, e mostra ter uma relação inversa com a densidade de plantas (Laurence, 1974; Nakagawa et al., 1983, 1994). Em alguns trabalhos, tem se constatado que a densidade de plantas ocasiona também mudanças na porcentagem de casca (Nakagawa et al., 1994), no número de sementes por vagens (Nakagawa et al., 1994), e no peso de 100 sementes (Gopalaswamy et al., 1979).

A população de plantas é definida pelo espaçamento entre linhas e pelo espaçamento entre plantas na linha. No Estado de São Paulo, para o cultivo tradicional de amendoim, recomenda-se o espaçamento de 0,60 m entre linhas e de 15 a 20 sementes por metro linear (Godoy et al., 1986; Lasca, 1986). Algumas variações no espaçamento entre linhas foram estudadas (Nakagawa et al., 1966a, 1966b, 1977; Faleiros et al., 1988), porém não se mostraram vantajosas, enquanto outras visaram facilitar a colheita mecanizada (Savy Filho & Canecchio Filho, 1975).

Com relação ao espaçamento entre plantas na linha, Tella et al. (1971), em estudos realizados em diferentes regiões produtoras de amendoim do Estado de São Paulo, constataram que a produção média de vagens de seis experimentos aumentou com a diminuição da distância entre plantas de 10,0 para 5,0 ou 2,5cm. No estudo conjunto de quatro experimentos Nakagawa et al. (1983) verificaram que a densidade de 20 sementes (12 a 15 plantas por metro à colheita) foi superior em produtividade à de 10 sementes (6 a 7 plantas por metro à colheita), porém ambos semelhantes à de 15 sementes por metro linear (10 a 12 plantas por metro à colheita). Em outro trabalho, Nakagawa et al. (1994) obtiveram maiores produções de vagens (kg/ha) nas densidades de 10, 13 ou 16 sementes por metro (respectivamente 9,28, 11,36 e 12,72 plantas por metro à colheita) em função dos experimentos, que foram realizados em mesmo tipo de solo mas em anos distintos. Entretanto, Arf et al. (1991) não observaram diferenças na produtividade de vagens entre as densidades de 10, 15 e 20 plantas por metro.

A relação entre a população de plantas e a fertilidade do solo na produtividade de vagens tem sido também a preocupação de alguns trabalhos nos quais foram estudados espaçamentos e adubação (Tella et al., 1971; Nakagawa et al., 1983), todavia verificou-se diferenças de resposta a estes fatores em função de localidade (Tella et al., 1971).

Em termos de fertilidade do solo, recomenda-se para dar preferência àqueles corrigidos por adubações de culturas anteriores (Lasca, 1986), pois o amendoim aproveita bem o efeito residual, sendo excelente para rotações, notadamente com a cana-de-açúcar (Quaggio & Godoy, 1996).

Considerando estas variações observadas nos resultados de produtividade para espaçamento entre plantas na linha, provavelmente em função das diferenças das condições ambientais, procurou-se neste trabalho estudar o efeito do número de plantas por metro (densidade de plantas) nos componentes de produção e na produtividade de vagens, mantendo-se constante o espaçamento entre linhas, em área de reforma de canavial, com diferentes níveis de fertilidade do solo.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi realizado em condições de campo, em solo classificado como Latossolo Roxo (Brasil, 1960), situado na Fazenda Vassoural, município de Pontal, Estado de São Paulo. Constaram de três experimentos, conduzidos nos anos agrícolas de 87/88 (Experimento I), 88/89 (Experimento II) e 89/90 (Experimento III), em cultivo das águas, em área de reforma de cana-de-açúcar com aproveitamento da calagem e adubação residual. Os resultados das análises químicas dos solos cujas amostras foram retiradas antes da instalação dos experimentos encontram-se na TABELA 1.

O delineamento experimental empregado foi em blocos casualizados, com quatro repetições. Os tratamentos constaram de oito densidades de plantas: 5, 8, 11, 14, 17, 20, 23 e 26 plantas por metro. A cultivar empregada foi a Tatu-53 (Vermelho), utilizando-se sementes certificadas da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado São Paulo.

As parcelas constaram de cinco linhas de 6,0 m de comprimento, com espaçamentos de 0,60 m entre si. Na colheita foram desprezadas as linhas externas, bem como 0,5 m das extremidades das três linhas centrais como bordaduras, tendo-se parcela útil de 9,00 m2.

As semeaduras foram realizadas manualmente, em 10/11/87, 22/11/88 e 14/11/89, respectivamente, nos Experimentos I, II e III. Uma semana após a total emergência das plântulas, realizou-se desbaste manual para obter-se a densidade de plantas pré-estabelecida para cada tratamento.

Os tratos culturais, capinas e controle fitossanitário, foram realizados em função da necessidade e de acordo com os recomendados para a cultura.

As colheitas foram realizadas manualmente, em 19/02/88, 03/03/89 e 15/02/90, para os Experimentos I, II e III. Nesta ocasião, foram realizadas as contagens das plantas existentes na parcela útil, para obtenção dos dados da densidade de plantas/m na colheita. Com os dados de produção de vagens obtidas por parcela, calculou-se a produtividade em kg/ha; a produção de vagens por planta foi obtida dividindo-se a produção de vagens por parcela pelo número de plantas destas.

Foram tomadas, ao acaso, amostras de 200 a 300 vagens por parcela, para a determinação do peso de 100 vagens. Estas amostras foram descascadas manualmente, e determinada a percentagem de cascas, em peso. Foi contado o número de sementes da amostra, e calculado o número de sementes por vagem, e a seguir avaliado o peso de 100 sementes.

Os dados obtidos foram analisados estatisticamente, com base em recomendações encontradas em Gomes (1966).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Pelos resultados da análise química dos solos antes da instalação dos experimentos, pode-se observar diferenças marcantes, nas características químicas destes (TABELA 1), destacando o solo do Experimento I (87/88) pela sua alta fertilidade. Entre os nutrientes, o fósforo foi o que apresentou a maior diferença de teor entre os solos, possibilitando classificá-los com teores baixo (Experimento III), médio (Experimento (II) e alto de P (Experimento I) de acordo com a interpretação encontrada em Raij et al. (1996). Esta caracterização é importante por ser o fósforo o nutriente que tem ocasionado maiores respostas à adubação (Lasca, 1986).

Em função das diferenças nas condições ambientais durante o transcorrer dos experimentos, observou-se que o número de plantas por metro linear por ocasião da colheita foi diferente para os mesmos tratamentos (TABELAS 2, 3 e 4), apesar de ter-se iniciado com uma mesma densidade de plantas através do desbaste. Tal fato, aliado à diferença de fertilidade dos solos (TABELA 1), fez com que a discussão dos experimentos fosse feita separadamente. Este procedimento foi reforçado ao se realizar a análise conjunta dos experimentos, pois esta acusou interação significativa entre tratamentos e experimentos para todas as características que apresentaram diferenças entre densidade de plantas, com exceção à produtividade de vagens.

Experimento I

A população de plantas na colheita, apesar de não apresentar exatamente a proporção de plantas por metro definida pelo desbaste (TABELA 2), mostrou diferenças estatísticas entre tratamentos, com exceção de algumas densidades, em função de desigualdades observadas na sobrevivência de plantas. As condições do meio não foram favoráveis à sobrevivência de todas as plantas até a colheita, apesar de terem sido realizados os tratos culturais recomendados para a cultura. Tal situação foi também relatada em outros trabalhos (Nakagawa et al. 1983, 1994). De acordo com Mozingo & Steele (1989), em densidade maior, as plantas mais fracas teriam menor condição de competir durante o crescimento e morreriam antes da colheita; enquanto em densidade menor, elas sobreviveriam. Esta inferência vem explicar a maior diferença do número de plantas nas maiores densidades entre a população inicial e a da colheita.

O número de vagens por planta (TABELA 2) foi afetado pela densidade de plantas, tendo-se obtido maior valor para a menor densidade, cinco plantas/m (4,34 plantas/m à colheita). Com o aumento da densidade houve uma diminuição do número de vagens por planta, sendo esta significativa até a densidade de 17 plantas/m (14,95 plantas/m à colheita). Estes resultados são concordantes com os de outros trabalhos (Laurence, 1974; Nakagawa et al. 1983, 1994), nos quais foi verificado que, dentre os componentes de produção, o número de vagens por planta era o mais afetado pela população de plantas, observando-se uma relação inversa entre eles. A formação do menor número de vagens nas populações maiores é resultado da concorrência entre plantas (Coolbear, 1994).

O peso de 100 vagens (média geral=124,74g) e o número de sementes por fruto (média geral=2,67) não foram influenciados significativamente pela população de plantas, apesar da porcentagem de casca e o peso de 100 sementes terem sido (TABELA 2). Constata-se que, com o aumento da densidade de plantas, houve diminuição na porcentagem de casca e aumento do peso de 100 sementes. Gopalaswamy et al. (1979) verificaram que com a diminuição da população de plantas houve aumento no peso de 100 sementes, o contrário portanto do ocorrido neste experimento. Deve-se considerar, todavia, que aqueles autores trabalharam com densidades de semeadura menores e com outra cultivar. No presente experimento na menor densidade de plantas, observou-se a formação de um maior número de vagens (TABELA 2), porém estas apresentaram maior proporção de casca e as sementes formadas tinham menor peso (TABELA 3), como resultado da concorrência entre as vagens por fotossintetizados na fase final de desenvolvimento das sementes (Coolbear, 1994).

A produção de vagens por planta (TABELA 2) foi maior na menor densidade, seguindo-se de uma contínua diminuição à medida que se aumentou a densidade de plantas. Esta produção foi diretamente influenciada pelo número de vagens por planta (TABELA 2).

As maiores produtividades de vagens foram obtidas nas densidades de 17, 23 e 26 plantas/m (14,95, 20,98 e 23,03 plantas/m à colheita), mas não diferiram estatisticamente de 14 e 20 plantas/m (12,92 e 18,76 plantas/m à colheita). Por estes resultados, verificou-se que a produtividade de vagem teve comportamento praticamente inverso ao da produção por planta (TABELA 2), mostrando que neste experimento o componente da produtividade mais importante foi a população de plantas, concordando com os resultados de Nakagawa et al. (1983, 1994).

Experimento II

A população final de plantas apresentou valores próximos à da densidade de plantas prevista nos tratamentos, exceção à maior população, 26 plantas/m, que resultou em 23,66 plantas/m à colheita (TABELA 3). A sobrevivência de plantas neste ano, portanto, foi mais alta, comparada a do ano anterior (TABELA 2), indicando que as condições ambientais foram mais favoráveis para as plantas.

O número de vagens por planta (TABELA 3) foi afetado pela densidade de plantas, observando-se uma relação inversa entre densidade e número de vagens. Os decréscimos de número de vagens foram mais evidentes até a densidade de 14 plantas/m (13,82 plantas/m à colheita). Comparando com os resultados do Experimento I (TABELA 2), verifica-se que, para densidades de plantas similares, o número de vagens por planta foi menor neste experimento. Estes resultados podem ser relacionados às condições químicas do solo (TABELA 1), pois estas foram melhores no Experimento I, particularmente em fósforo. Esta inferência é feita, tendo em vista que a adubação com fósforo tem ocasionado aumento no número de vagens por planta (Marubayashi, 1993).

O peso de 100 vagens (média geral=145,13g) e o número de sementes por vagem (média geral=3,05) não foram influenciados pelas populações de planta à semelhança do observado no Experimento I. A porcentagem de casca e o peso de 100 sementes apresentaram algumas variações entre tratamentos, observando-se que na maior população, 26 plantas/m (23,66 plantas/m à colheita) foi obtida a menor porcentagem de casca e o maior peso de 100 sementes (TABELA 3), embora não diferindo significativamente da maioria dos tratamentos. Não houve neste ano tendência nítida dos efeitos das densidades de plantas sobre estes componentes como observada no Experimento I. Coolbear (1994) comenta que, em geral, com o aumento da densidade de plantas tende a ocorrer aumento do número de sementes de maior tamanho; isto porque a alta competição entre plantas impede o desenvolvimento das vagens formadas posteriormente, enquanto as primeiras tem maior êxito na formação das sementes (Kvien & Bergmark, 1987).

A produção de vagens por planta, à semelhança do Experimento I, foi decrescendo à medida que se aumentou a população de plantas (TABELA 3) sendo este efeito bem acentuado até a densidade de 17 plantas/m (16,83 plantas/m à colheita). Constata-se que estes resultados estão diretamente relacionados ao número de vagens por planta (TABELA 3) e inversamente à população de plantas à colheita. Comparando esta produção por planta (TABELA 3) com a do ano anterior (TABELA 2), observa-se que, para densidades semelhantes, as produções foram menores no Experimento II, à semelhança do comentado para o componente número de vagens por planta, provavelmente em função da diferença de fertilidade do solo (TABELA 1).

A produtividade de vagens foi maior na densidade de 26 plantas/m (23,66 plantas/m à colheita), entretanto não diferiu das densidades de 11 a 23 plantas/m (10,67 a 22,60 plantas/m à colheita). Estes resultados estão diretamente relacionados à população de plantas e inversamente à produção por planta (TABELA 3). No Experimento II a produção por unidade de área, em populações semelhantes, foi menor que a do Experimento I (TABELA 2), em razão da menor produção por planta verificado.

Experimento III

As populações de plantas na colheita deste experimento apresentaram valores bem próximos às densidades definidas por ocasião do desbaste, graças a alta porcentagem de sobrevivência das plantas (TABELA 4).

O número de vagens por planta, como observado nos Experimentos I e II, decresceu com o aumento da população de plantas, tendo sido significativo até a densidade de 20 plantas/m (19,28 plantas/m à colheita) (TABELA 4). O número de vagens por planta deste experimento em populações semelhantes foi menor que dos anos anteriores (TABELAS 2 e 3), mostrando que as condições ambientais não foram favoráveis para a formação de vagens, apesar de terem sido para sobrevivência das plantas. Examinando-se a TABELA 1, constata-se que as condições químicas do solo do Experimento III eram piores do que as dos demais experimentos, notadamente o teor de fósforo, o que deve ter sido determinante para o menor número de vagens por planta, como comentado no Experimento II.

O peso de 100 vagens, (média geral=133,74g), o número de sementes por vagem (média geral=2,93) e o peso de 100 sementes (TABELA 4) não foram afetados pela população de plantas. Nos experimentos anteriores (Experimento I e II), o peso de 100 vagens e o número de sementes por vagem foram também semelhantes para todas as densidades de plantas. Em trabalhos anteriores, não foram encontrados efeitos da densidade de semeadura no peso de 100 vagens, num total de sete experimentos (Nakagawa et al. 1983, 1994) conduzidos em condições ambientais distintas, e no número de sementes por vagem em dois experimentos dos três realizados (Nakagawa et al., 1994). Por estes resultados pode-se inferir que estes componentes de produção para a cv. Tatu são pouco afetados pela população de plantas, mormente o peso de 100 vagens.

A porcentagem de casca foi maior na menor densidade de plantas (TABELA 4), à semelhança do verificado no Experimento I (TABELA 2), diferindo significativamente das densidades maiores. Nos três experimentos, os tratamentos que originaram maior número de vagens por planta foram os com maiores porcentagens de casca, indicando que o desenvolvimento das sementes foi prejudicado nesta menor densidade de plantas.

A produção de vagens por planta foi decrescente com o aumento da densidade de forma significativa até 17 plantas/m (16,32 plantas/m à colheita) (TABELA 4). O número de vagens por planta foi o componente responsável por este comportamento da produção por planta, visto que o peso de 100 vagens não sofreu variação (TABELA 4).

A produção de vagens por planta deste experimento, para populações semelhantes foi a menor dos três experimentos (TABELAS 2, 3, e 4), em razão principalmente do menor número de vagens por planta, ocasionado pelas condições de fertilidade de solo menos favoráveis, discutidas anteriormente.

A produtividade de vagens foi crescente com o aumento da densidade de plantas (TABELA 4), com aumentos significativos até 26 plantas/m (25,28 plantas/m à colheita), todavia esta não diferiu das densidades de 11 a 23 plantas/m (10,93 a 22,20 plantas/m à colheita). Estes resultados mostram que a menor produção por planta foi compensada pela maior população de plantas. Neste experimento, como reflexo da menor produção por planta, já comentada, obteve-se a menor produtividade de vagens dos três anos do trabalho.

Comparando-se os resultados de produtividade de vagens dos três experimentos, constata-se que nos Experimentos II e III, conduzidos em solos de fertilidade média a baixa, atingiu-se a maior produtividade somente na maior densidade de plantas, 26 plantas/m (23,66 e 25,28 plantas/m à colheita) (TABELAS 3 e 4), enquanto no Experimento I, em solo de fertilidade alta, esta foi alcançada com 17 plantas/m (14,95 plantas/m à colheita). Isto mostra que em solo de melhor fertilidade, o maior número de vagens produzido por planta, resultando em maior produção de vagens por planta, possibilitou produtividades maiores com uma menor população de plantas.

É interessante, entretanto, observar que produtividades de vagens semelhantes às obtidas nas maiores populações, anteriormente citadas (TABELAS 2, 3, e 4), foram obtidas em densidades menores de plantas nos Experimentos II e III (11 plantas/m, respectivamente 10,67 e 10,93 plantas/m à colheita) do que no Experimento I (14 plantas/m, resultando em 12,92 plantas/m à colheita). Tais resultados mostram que nos solos de fertilidade média a baixa (Experimentos II e III) houve necessidade de grande aumento da população de plantas (de 8 para 26 plantas/m) para se ter ganhos de produtividade devido a baixa produção de vagens por planta, enquanto em solo de melhor fertilidade (Experimento I) uma pequena diferença na densidade de plantas de (de 11 para 17 plantas/m) propiciou aumentos na produtividade, que tenderam a se estabilizar mais rapidamente. Choy et al. (1982) observaram, todavia, que a produtividade aumentava mais rapidamente com o aumento da população do que o decréscimo por este provocado na produção por planta, evidenciando a importância do número de plantas na produtividade.

Análise Conjunta

Pela análise conjunta dos dados de produtividade de vagens dos três experimentos, constatou-se que houve aumento da produtividade com os aumentos da densidade de plantas (TABELA 5), todavia com 14 plantas/m, obteve-se valor estatisticamente semelhante a 26 plantas/m. Por estes resultados verifica-se que o efeito observado no Experimento I (TABELA 2) predominou sobre os dois outros (TABELAS 3 e 4), devido a maior produtividade, sobressaindo-se o tratamento 14 plantas/m. A população final na colheita deste tratamento foi de 12,92 plantas/m no Experimento I e 13,82 e 13,83 nos Experimentos II e III, respectivamente, mostrando que no solo de melhor fertilidade, um menor número de plantas na colheita (Experimento I), possibilitou produtividade semelhante às das maiores densidades, em função da maior produção por planta (TABELA 2).

Entre os Experimentos, observou-se que a maior produtividade foi obtida no Experimento I, seguindo-se os Experimentos II e III (TABELA 5), com a mesma sequência obtida para o nível de fertilidade de solo (TABELA 1), no qual a maior contribuição deve ser atribuída ao fósforo, levando em consideração as informações contidas em Marubayashi (1993) sobre os bons resultados da adubação fosfatada na produção de vagens de amendoim.

CONCLUSÕES

O peso de 100 vagens e o número de sementes por vagem não foram influenciados pela densidade de plantas.

A porcentagem de casca foi maior nas menores densidades de plantas, diminuindo com o aumento da população de plantas.

O peso de 100 sementes, em dois experimentos, aumentou com o aumento da população de plantas.

O número de vagens por planta foi o componente de produção que ocasionou a variação da produção de vagens por planta, tendo diminuído com o aumento da densidade.

Nas maiores densidades, a menor produção de vagens por planta foi compensada pela maior população de plantas, resultando em melhores produtividade de vagens.

Produtividades de vagens, sem perdas significativas em relação às densidades maiores, foram obtidas nas populações de 14 plantas/m (12,92 plantas/m à colheita), em solo de alta fertilidade, de 11 plantas/m (10,97 e 10,93 plantas/m à colheita) em solos de média/baixa fertilidade, e de 14 plantas/m na análise conjunta dos três experimentos.

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Recebido em 22.10.98

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    27 Abr 2000
  • Data do Fascículo
    Mar 2000

Histórico

  • Recebido
    22 Out 1998
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