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Editorial

O campo dos estudos feministas e das relações de gênero está atravessando um momento de especial significado no Brasil. Desde a década de oitenta, e até o presente, multiplicaram-se as iniciativas de investigação, com a instalação de vários núcleos disseminados pelas diferentes regiões do país, ao mesmo tempo que foram realizados inúmeros eventos que congregaram pesquisadoras/es da área. Uma curiosidade crescente sobre o tema impulsionou a produção científica, favorecendo a consolidação e a expansão das publicações: livros, artigos e revistas passaram a ser encontrados nas livrarias brasileiras numa escala nunca antes vista. Um significativo contingente de mulheres passou a ter acesso a uma série de informações e a multiplicar instâncias de deliberação coletiva, ampliando espaços, reconstruindo identidades, ajustando contas com o passado e apostando nas potencialidades do presente para estabelecer as flexíveis coordenadas de um futuro ainda incerto em vários aspectos mas, de modo geral, instigante.

A Revista Estudos Feministas constitui parte desse processo. Originada no início dos anos noventa, a revista tem tentado contribuir para o aprofundamento do debate epistemológico e político, balizando a reflexão sobre a constituição de feminilidades e masculinidades na nossa sociedade, as desigualdades de gênero, a sexualidade e uma infinidade de outros temas.

No momento apresentamos às/aos leitoras/es o número 2 do volume 9 da Revista Estudos Feministas. Este número reúne na seção Artigos cinco contribuições que abordam diferentes temas, iniciando-se com uma discussão de Joan Scott sobre o movimento pela paridade na França e continuando com outros artigos que abordam questões com sérios impactos sobre a estruturação da sociedade em geral: direitos e herança de propriedades, novas tecnologias reprodutivas, novos modelos familiares, a construção da masculinidade, a homofobia e a dominação da mulher. Na seção Ensaio encontra-se uma síntese histórica do movimento feminista. A seção Ponto de Vista busca estimular o debate sobre as relações entre feminismo e bioética. O Dossiê resgata a temática da educação, priorizando a crítica à educação formal, discutindo os mecanismos de avaliação, o papel da orientação sexual nos currículos, a interferência da mídia na construção do feminino, propondo, entre outros aspectos, uma política pós-identitária para a educação.

A seção Resenhas mais uma vez colabora para divulgar vários estudos que têm sido realizados no país e no exterior sobre temas relevantes na área. Para facilitar uma visualização melhor dos livros resenhados, o sumário das resenhas foi modificado e apresenta primeiro o nome da/o autora/or do livro, seguido pelo título e por último o nome da/o autora/or da resenha.

O conjunto das contribuições contidas neste exemplar reforça a consciência de que os significados das relações de gênero são reinventados (ao invés de repetidos) na práxis diária, território no qual se estabelecem as lutas e as negociações possíveis entre os diferentes sujeitos, ao mesmo tempo que estes são engendrados. Levando-se em conta os acontecimentos ocorridos após os atentados de 11 de setembro, este conjunto de contribuições foi enriquecido, numa seção à parte, pelas inspiradas análises de Neferti Tadiar sobre as relações entre raça, gênero e guerra e ainda pelo debate sobre as possibilidades de construção de uma prática feminista transnacional a favor da paz que transparece no texto de Paola Bacchetta, Tina Campt, Inderpal Grewal, Caren Kaplan, Minoo Moallem e Jennifer Terry.

Finalmente no item Agenda, testemunhando a expansão do campo, podem ser encontradas várias informações sobre eventos que envolvem entidades representativas, a se realizarem entre o segundo semestre de 2001 e o ano de 2002.

Desde junho do corrente a editoria da Revista Estudos Feministas passou por algumas mudanças em sua composição editorial, incorporando a Dra. Luzinete Simões Minella, docente e pesquisadora do Departamento de Sociologia e Ciência Política e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia Política da Universidade Federal de Santa Catarina, e que também foi membro do Comitê Executivo desde 1999, ano em que a revista instalou-se na UFSC. Um segundo esclarecimento é que a partir deste número a seção Resenhas conta com uma editora própria, Cristina Scheibe-Wolff, docente e pesquisadora do Departamento de História e do Programa de Pós-Graduação em História Social da UFSC. Manifestamos os nossos agradecimentos a Albertina de Oliveira Costa por ter colaborado nesta seção.

Como qualquer publicação resulta de um esforço coletivo, agradecemos a todas/os as/os pareceristas ad hoc por terem contribuído com suas críticas e sugestões para o aprimoramento das idéias discutidas neste exemplar. Ao mesmo tempo agradecemos a nossa dedicada equipe e a todas/os as/os organizadores de vários eventos que se realizaram no país e no exterior por terem acolhido a Revista Estudos Feministas, facilitando as condições para sua venda e divulgação. Agradecemos também a artista plástica Vera Cíntia Alvarez, que graciosamente cedeu-nos a imagem para a capa.

Aproveitamos a oportunidade para parabenizar as organizadoras dos inúmeros eventos sobre os estudos de gênero ocorridos no segundo semestre de 2000: Encontro Nacional Mulher & Literatura (UFMG/Belo Horizonte); I Seminário sobre Mulher e Filosofia (UNISINOS/São Leopoldo); III Encontro da REDEFEM (UFF/Niterói); Seminário Internacional Mulher e Representação (Londrina); II Encontro de Estudos de Gênero da UFPR (Curitiba) e Encontro da REDOR (UFBA/Salvador). Da mesma forma destacamos a organização de grupos de trabalho por colegas do campo de estudos de gênero nos seguintes congressos: Encontro Nacional da ANPUH (UFF/Niterói); Reunião da ANPED (Caxambu); I Fórum Mundial de Educação (Porto Alegre); IV Reunião de Antropologia do Mercosul (UFPR/Curitiba).

Lembramos também que a Revista Estudos Feministas esteve à frente da organização de mesas-redondas e grupos de trabalho no Congresso da Latin American Studies Association/LASA, realizado em setembro em Washington, e na XXV Reunião Anual da ANPOCS, que ocorreu em outubro em Caxambu.

Para finalizar, observamos que a Revista Estudos Feministas continua considerando necessária a articulação dos avanços realizados na área até o presente momento com o contexto mais amplo da complexa transição entre modernidade e pós-modernidade. Uma transição inacabada, caracterizada, entre outros fatores, por uma séria contradição entre o avanço das tecnologias e da comunicação e o recrudescimento das lutas étnicas. E ainda pelas instabilidades que atingem tanto o cotidiano das pessoas quanto a própria produção do conhecimento científico.

Por isso mesmo comunicamos que no seu primeiro número de 2002 ¾ tendo em vista a recente realização da Conferência Mundial da ONU contra o Racismo, a Xenofobia e Formas Correlatas de Discriminação, e diante da exacerbação tanto do processo de colonização do Estado pelo mercado quanto da desigualdade social e política entre povos, etnias e nações após os atentados de 11 de setembro e dos desdobramentos posteriores que impulsionaram a deflagração de um polêmico fenômeno denominado "guerra ao terrorismo" ¾ a Revista Estudos Feministas abordará o tema da discriminação. Um tema candente que por certo possibilitará uma reflexão crítica sobre o nosso tempo e sobre as possibilidades de libertação de todas e quaisquer formas de opressão.

Claudia de Lima Costa

Luzinete Simões Minella

Miriam Pillar Grossi

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Maio 2002
  • Data do Fascículo
    2001
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