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Os wannabees e suas tribos: adolescência e distinção na Internet

The wannabees and their tribes: adolescence and distinction in Internet

Resumos

Observando uma rede virtual de relacionamento, o Orkut, é possível identificar um sistema de classificação determinado pela forma com que os usuários interagem dentro das comunidades. O wannabe é um dos tipos que fazem parte desse universo. Os principais objetivos deste artigo são analisar de que forma a adolescência constrói sua identidade a partir de processos de distinção e controle social na Internet, tomando os aspectos relacionados ao gênero e ao corpo como centrais para a discussão, e refletir sobre os significados atribuídos, nessa fase da vida, a conceitos como "estilo de vida" e "estado de espírito" dentro de dois tipos de comunidades virtuais: a dos "góticos", tribo urbana detentora de uma dada feminilidade, e a das "pró-anas", estritamente virtual, que defende as práticas da anorexia como um estilo de vida.

adolescência; gênero; corpo; cibercultura


Orkut is a virtual relationship network through which it is possible to identify a system of classification determined by the way users interact inside of the communities. The wannabee is one of the types that are part of this universe. The main goals of this article are to analyze how adolescence constructs its identity from distinction and social control processes in the Internet, taking the aspects related to gender and body as central issues for discussion, and to reflect on the meanings attributed, in this phase of life, to concepts as "life style" and "mood", inside two types of virtual communities: the "gothics", urban tribe representative of one given femininity, and the "pro-anas", strictly virtual, that defends anorexic practices as a life style.

Adolescence; Gender; Body; Cyberculture


ARTIGOS

Os wannabees e suas tribos: adolescência e distinção na Internet

The wannabees and their tribes: adolescence and distinction in Internet

Cláudia da Silva Pereira

Universidade Federal do Rio de Janeiro

RESUMO

Observando uma rede virtual de relacionamento, o Orkut, é possível identificar um sistema de classificação determinado pela forma com que os usuários interagem dentro das comunidades. O wannabe é um dos tipos que fazem parte desse universo. Os principais objetivos deste artigo são analisar de que forma a adolescência constrói sua identidade a partir de processos de distinção e controle social na Internet, tomando os aspectos relacionados ao gênero e ao corpo como centrais para a discussão, e refletir sobre os significados atribuídos, nessa fase da vida, a conceitos como "estilo de vida" e "estado de espírito" dentro de dois tipos de comunidades virtuais: a dos "góticos", tribo urbana detentora de uma dada feminilidade, e a das "pró-anas", estritamente virtual, que defende as práticas da anorexia como um estilo de vida.

Palavras-chave: adolescência; gênero; corpo; cibercultura.

ABSTRACT

Orkut is a virtual relationship network through which it is possible to identify a system of classification determined by the way users interact inside of the communities. The wannabee is one of the types that are part of this universe. The main goals of this article are to analyze how adolescence constructs its identity from distinction and social control processes in the Internet, taking the aspects related to gender and body as central issues for discussion, and to reflect on the meanings attributed, in this phase of life, to concepts as "life style" and "mood", inside two types of virtual communities: the "gothics", urban tribe representative of one given femininity, and the "pro-anas", strictly virtual, that defends anorexic practices as a life style.

Key words: Adolescence; Gender; Body; Cyberculture.

Come as you are, as you were, as I want you to be.

Nirvana

Rock, punk, funk, chorinho, reggae, hip hop: a música, sempre presente na cultura jovem, dá o ritmo da pluralidade que a identifica. Em torno dela, forma-se um conjunto de práticas, crenças e valores que materializam um dado "estado de espírito" adolescente, que pode variar da rebeldia ao conformismo, da vitalidade à morbidade, do arco-íris ao luto. Foi-se o tempo em que garotos e garotas de 15 anos poderiam ser resumidos às suas explosões hormonais. Cada vez mais dissociada de seu aspecto biológico, a adolescência tornou-se um fenômeno social, "estilo de vida" valorizado e introjetado pelo mundo adulto, contribuindo para a construção das diferenças de gênero, da corporalidade moderna e, principalmente, da moda.

Hoje, no cenário urbano brasileiro, não cessam de surgir novas tribos adolescentes que marcam fronteiras simbólicas de distinção e prestígio, enfatizando a urgência de se tornar único e, ao mesmo tempo, par. Reflexo da sociedade moderna individualista, por certo, mas, sobretudo, um processo de construção de representações, os "estilos de vida" adolescentes ocupam todos os espaços sociais. E é sobre um desses espaços, o "virtual", que se busca lançar uma luz sobre a emergência de uma identidade que essencializa um aspecto típico – mas não exclusivo – da adolescência: o wannabe.

Antes de proceder às reflexões propostas neste artigo, é importante compreender o que é "adolescência". Para tanto, inicio com uma definição simples, retirada de um dicionário de sociologia:1 1 Allan G. JOHNSON, 1995.

Adolescência é o estágio no curso da vida que separa a infância da vida adulta. [...] Mais do que considerar a adolescência como inerente ao processo de envelhecimento, os sociólogos a vêem como um produto da organização social.

Nesse mesmo dicionário, encontrei ainda o verbete "faixa etária", que seria

um espaço de tempo culturalmente definido tais como os períodos da infância e adolescência , considerado como uma situação social que afeta a maneira como pessoas são vistas e tratadas e o que delas se espera.

A adolescência seria, portanto, uma construção social de um período da vida biológica. Esse conceito precisa, ainda, ser contextualizado, pois nem todas as sociedades têm a mesma delimitação de faixa etária para a adolescência. A Organização Internacional da Juventude, por exemplo, define a juventude dos 15 a 24 anos, o que, segundo Minayo, é contestado por muitos cientistas sociais, que consideram a juventude um "processo e não apenas como uma categoria etária. Para se entenderem os processos sociais em que os jovens se envolvem, é necessário recorrer à forma como expressam seus comportamentos, gostos, opções de vida, esperanças e desesperanças".2 2 Maria Cecília MINAYO et al., 1999, p. 12. A juventude seria, então, "uma categoria sociológica, que constitui um processo sociocultural demarcado pela preparação dos indivíduos para assumirem o papel de adulto na sociedade".3 3 MINAYO et al., 1999, p. 13. A Organização Mundial de Saúde (OMS), por sua vez, considera a pré-adolescência a faixa etária que vai dos 10 aos 14 anos e a adolescência, dos 15 aos 19 anos.4 4 A definição das categorias "adolescência" e "juventude" pode variar e obedecer a mais de um critério estabelecido por instituições oficiais. Muitas vezes, a essas duas categorias é atribuída a mesma faixa etária, tornando uma sinônimo da outra. A Organização das Nações Unidas (ONU) considera a juventude a faixa etária que vai dos 15 aos 24 anos. O Estatuto da Criança e do Adolescente considera adolescente a pessoa que tem entre 12 e 18 anos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana de Saúde (OPS) distinguem a pré-adolescência (de 10 a 14 anos) da adolescência (dos 15 aos 19 anos), que seriam determinadas, segundo essas instituições, por aspectos da vida biológica. O conceito de juventude é mais utilizado pelo campo sociológico, considerando aspectos socioculturais de liminaridade. O critério escolhido para o desenvolvimento deste trabalho é o determinado pela OMS, que define a adolescência como a fase que vai dos 15 aos 19 anos de idade, relacionando-a à noção sociológica do termo "juventude", da qual ela faz parte.

Na visão de Bourdieu,5 5 Pierre BOURDIEU, 1983. a noção de adolescência, assim como de juventude e velhice, é uma construção social que tem como função estabelecer uma divisão do poder. A separação entre jovens e velhos seria, como afirma o autor, uma forma de "impor limites e produzir uma ordem onde cada um deve se manter". Aos adolescentes, é atribuída uma espécie de "irresponsabilidade provisória", ou seja, eles são "adultos para algumas coisas, são crianças para outras". De acordo com Bourdieu, "Parece que um dos efeitos mais poderosos da situação de adolescente decorre desta espécie de existência separada que os coloca socialmente fora do jogo".6 6 BOURDIEU, 1983, p. 114.

Para delimitar melhor os parâmetros utilizados neste trabalho, é importante demarcar a linha tênue que difere a adolescência da juventude, de acordo com essas definições. Tanto a adolescência quanto a juventude são construídas socialmente. A primeira caracterizando um período da vida biológica; a segunda, um processo da vida social. Assim, optarei por utilizar o conceito de adolescência, já que ele considera o corpo como um agente social, um fator natural que interfere na forma como a sociedade identificará o indivíduo enquanto ele estiver na faixa etária de 15 aos 19 anos. No entanto, isso não significa que as mudanças biológicas que ocorrem nessa fase serão por mim naturalizadas.

Os principais objetivos deste artigo, portanto, são analisar de que forma a adolescência constrói sua identidade a partir de processos de distinção e controle social na Internet, tomando os aspectos relacionados ao gênero e ao corpo como centrais para a discussão, e refletir sobre os significados atribuídos, nesta fase da vida, a conceitos como "estilo de vida" e "estado de espírito" dentro das comunidades virtuais.

Como trabalho de campo, foram tomados como objeto de estudo dois tipos de comunidades da Internet: o primeiro é o das "pró-anas", formado, em sua maioria, por adolescentes do sexo feminino que defendem as práticas da anorexia como um "estilo de vida"; o segundo é o dos "góticos", tribo urbana7 7 Sobre o conceito de "tribo", ver Michel MAFFESOLI, 1998. que vem se tornando referência simbólica para outros internautas, graças a peculiares aspectos culturais relacionados à música, à literatura e à moda. As observações foram feitas pela Internet, durante um ano, nos meses de junho de 2005 a junho de 2006, em blogs (diários virtuais), páginas pessoais e comunidades da rede de relacionamentos conhecida como Orkut.8 8 O Orkut é uma rede de relacionamentos virtual onde só pode ser membro quem for "convidado" a dela fizer parte.

Antes de apresentar os resultados dessas observações, é importante que se faça uma breve descrição9 9 Para maiores detalhes sobre netnografia, ver: PEREIRA, 2004. sobre a metodologia utilizada na Internet, cunhada por Kozinets como "netnografia".10 10 Robert KOZINETS, 1998.

Segundo definições de Kozinets, a netnografia é uma adaptação dos métodos qualitativos utilizados em pesquisa de consumo, antropologia cultural e estudos culturais com o objetivo de proporcionar um estudo contextualizado do comportamento do consumidor dentro de comunidades virtuais e de produtos da cibercultura.11 11 Segundo KOZINETS, 1998, p. 4, "cibercultura é mais amplamente conceituada como padrões de comportamento compartilhados e suas associações de significado simbólico expressos primariamente através de comunicações mediadas por computador". Ele a define, ainda, como "um novo e importante locus de atividade cultural humana". É, de acordo com este autor,

uma descrição escrita resultante do trabalho de campo que estuda as culturas e comunidades on-line emergentes, mediadas por computador, ou comunicações baseadas na Internet, onde tanto o trabalho de campo como a descrição textual são metodologicamente conduzidas pelas tradições e técnicas da antropologia cultural.12 12 KOZINETS, 1998, p. 4. Trecho citado a partir de texto original em inglês, com tradução minha.

Kozinets13 13 KOZINETS, 1998. afirma que, embora as comunidades virtuais ou comunidades on-line, como também gosta de chamá-las, condicionem a sua existência ao ambiente da Internet, estão longe de serem inexistentes no mundo real. Segundo ele, as comunidades virtuais têm uma existência "real" para seus participantes e, conseqüentemente, há reflexos em vários aspectos do seu comportamento.

O método netnográfico, segundo Kozinets,14 14 KOZINETS, 1998. é interpretativo. Nesse ponto, faz referências diretas a Geertz,15 15 Clifford GEERTZ, 1989. chamando a atenção para a necessidade de uma total imersão do pesquisador no campo, ao ponto de ele ser reconhecido como um membro da cultura estudada. Para isso, é necessária uma "descrição densa", assim como a compreensão da linguagem e dos símbolos dessa cultura, que deverão ser traduzidos através de uma interpretação com grande participação da subjetividade do pesquisador. Por esse motivo, lembra Kozinets,16 16 KOZINETS, 1998. é tão importante a reflexividade na função de observador, além de um savoir faire interpretativo, que condiciona a qualidade de todo o trabalho de pesquisa. Para o autor, o rigor científico depende de cinco passos:

1. Ingresso17 17 O autor utiliza a expressão "entrée", que traduzi como "ingresso" para melhor compreensão. Em KOZINETS, 1998, é utilizado, também, o termo "lurking". cultural: o pesquisador deve investigar diariamente, durante alguns meses, as ciberculturas e comunidades virtuais, visitando foruns, sites e outras formas de intercâmbio entre os "internautas".18 18 KOZINETS, 1998, visitou WWWs, Usenets, Portais, IRC e MUDs.

2. Coleta de dados e análise: é preciso fazer um levantamento exploratório dos sites mais relevantes para a pesquisa.

3. Construir sua própria home page: a partir dessa página pessoal, que apresenta a pesquisa que está sendo realizada.

4. Realizar "cyber interview": as perguntas ficam na página virtual e suas respostas são encaminhadas ao pesquisador por correio eletrônico.

5. Usenets: só após ter cumprido essa longa e elaborada fase exploratória, o pesquisador estará preparado para entrar como membro do grupo a ser estudado, participando de "listas" e outras formas de debate na Internet.19 19 KOZINETS, 1998, p. 368.

A netnografia apresentada neste artigo faz parte de uma pesquisa mais ampla que seguiu, rigorosamente, os cinco passos descritos acima. Desde janeiro de 2005, foram observadas comunidades que se autodenominam "Pró-Ana", onde foi possível observar os códigos muito particulares utilizados por seus membros e compreender práticas específicas do grupo observado. Em paralelo, coletaram-se depoimentos de alguns membros dessas comunidades. Em julho, criou-se a comunidade "Anorexia, quem é você?", no Orkut, apresentando os objetivos da pesquisa e convidando internautas a participarem como informantes. Em agosto de 2006 existiam 245 membros participando das discussões nessa página.20 20 Número referente a agosto de 2006. Na atual fase da pesquisa, está-se participando de listas de discussão. As entrevistas online ("cyber-interviews") foram feitas através do programa Messenger (msn).

Para encerrar este aparte metodológico, é fundamental salientar que a análise interpretativa é de base textual, ou seja, é feita a partir do que escrevem as pessoas entrevistadas em suas respostas pela Internet. Aqui, não há narrativa histórica. Há uma descrição densa de "atos comunicacionais", dado o caráter instantâneo e efêmero da virtualidade. Assim, são mais levados em consideração a forma e o significado do que o contexto das respostas.

Identificando um wannabe: subjetividade na Internet

Derivada da língua inglesa, a expressão wannabe ("want to be", que significa "querer ser") já se tornou vocábulo comum no ambiente virtual, somando mais um verbete nos dicionários online dedicados a explicar o "Internetês", código particular da Internet.21 21 Na versão em inglês da Wikipedia, enciclopédia livre virtual escrita por "voluntários" que atribuem significado a diversas expressões próprias da Internet ou da cultura como um todo, wannabe é assim definido: "Um wannabe (às vezes soletrado wannabee) é a pessoa que deseja ser (ou imitar) alguma coisa, um 'poderia ser'. O termo é uma contração de 'want to be'. [...] Com freqüência, o termo é associado a ambições e admiração em excesso". Fonte: www.Wikipedia.com, em 6 fev. 2006. Tradução minha. De acordo com a Wikipedia, a expressão tornou-se popular quando, em 1984, a imprensa referiu-se aos fãs da cantora norte-americana Madonna como "Madonna wannabe", por imitarem sua forma de se vestir, sua maneira de falar e seu comportamento. Também muito associada ao ambiente especializado da tecnologia, a palavra wannabe, segundo a Wikipedia, entrou no espaço virtual a partir dos hackers (profissionais capazes de criar e modificar programas de computador), que usam seu significado para se distanciarem dos iniciantes ou dos leigos, que acreditam ser possível, com pouca experiência e aprendizado, atingir o seu renomado alto nível de conhecimento na informática.

Embora, atualmente no Brasil, wannabe já tenha se tornado uma gíria comum,22 22 No sentido mais ameno da palavra, significando "principiante", como por exemplo "escritor wannabe". mas não popular, é pelo usuário da Internet que ela se revela tão rica em significado, pelo menos para esta discussão. Justifica-se essa exclusividade pela natureza mesma do ambiente onde é observada: na Internet, a imagem é "virtual", ela não é "material". No entanto, não se pode isentar essa virtualidade de uma realidade de fato, já que, por trás de seus códigos especializados e de todo o aparato tecnológico que a sustenta, pulsa uma intensa, frenética e incomparável vida – uma vida social.

Pode-se dizer que a Internet é feita, essencialmente, de wannabees: indivíduos que praticam a sociabilidade "para serem" algo diferente daquilo que efetivamente são em suas vidas do mundo real. Ao "teclar" com seus pares, nem sempre se revela o nome, que é substituído por um nickname,23 23 Codinome utilizado para se identificar na Internet. a classe social, a idade, a aparência física e, até mesmo, o sexo verdadeiro. Na tela do receptor da mensagem, o que se vê é uma identidade (ou múltiplas identidades) construída a partir de representações. Nesse sentido, o wannabe encontra um espaço social único, onde é possível ser, ou fingir ser, sem aparecer, mas nunca livre de eventuais sanções sociais.

É no universo adolescente da Internet, onde predomina uma lógica normativa, classificatória e hierarquizante, que se atribui um outro valor (negativo) à expressão wannabe. Tal afirmação baseia-se, principalmente, na observação de "comunidades virtuais", onde os laços sociais se dão a partir de histórias, práticas, estilos de vida, crenças e valores comuns. Caracterizando essas comunidades, podem-se identificar dois tipos diferentes de configuração: o primeiro consiste nas que se formam no "mundo real" e são transportadas para o ambiente virtual, como as comunidades de ex-alunos de escolas e universidades, de clubes esportivos, de fãs de bandas musicais, para citar alguns exemplos. Nelas, as possibilidades de simulação das identidades são mais restritas, já que sua existência só é possível a partir de referências dadas, sejam elas históricas, sociais ou culturais–em outras palavras, só faz parte dessas comunidades quem detém o conhecimento e quem não deixará de "existir", como parte delas, ao se desconectar da Internet. É o caso dos "góticos".

Um segundo tipo, no entanto, interessa mais especialmente para esta discussão: as comunidades estritamente virtuais, ou seja, que não têm uma preexistência, coexistência ou pós-existência no mundo real. Elas são formadas por indivíduos que compartilham de idéias, crenças e valores comuns que giram em torno de um tema. As comunidades "pró-ana" são um exemplo.

Os membros desses dois tipos de comunidades podem com elas se relacionar de várias formas. Para fins de uma melhor descrição, neste estudo os participantes serão caracterizados como: mediadores, colaboradores, observadores, curiosos ou, no nível que mais nos interessa aqui, "pretendentes" – ou wannabees. Na comunidade dos "góticos", utilizada aqui como modelo dessa classificação, é bem clara a hierarquia que dela decorre, embora não seja explicitada.

Em geral, os mediadores (ou administradores) são aqueles que criaram as comunidades e suas regras. Legitimamente, eles podem aprovar ou desaprovar a entrada ou a permanência de um membro dentro de seu espaço virtual:

– Comunidade criada para discutir as opiniões e dúvidas de cada um a respeito do que é ser gótico e de como deve ser o "Ser gótico".

– Nesta comunidade não serão bem vindos preconceitos de qualquer tipo, este é um espaço puramente informativo, onde vamos conceituar, e não pré-conceituar.

– NÃO é permitido: Propagandas de outras comunidades, jogos e agressões verbais.

– Deletarei qualquer tópico/post que contenha isso, se voltar a acontecer, pode correr o risco de ser banido da comunidade.

– Por favor, escrevam em portugüês, ninguem é obrigado a conhecer, linguagens de Internet.

– Achismos não são tolerados. Alguem cria um tópico com uma pergunta, pense bem antes de responde-lo, só responda com o que você SABE e não com o que você ACHA. Posts que começarem com "eu acho" serão descartados. Estamos aqui para ajudar e não para confundir.

– Não tem opnião propria, e só vai postar "concordando?", não poste (Descrição da comunidade "Entendendo o que é o Gótico" por seu "mediador" Orkut 11 nov. 2005).

Os colaboradores são os participantes. De alguma forma, conquistam a simpatia e confiança dos mediadores e contribuem com suas idéias para a sociabilidade dentro das comunidades, seja através de discussões, seja de informações:

corrigindo: Não existe movimento gótico. Isso é uma sub-cultura ou tribo urbana (Um "colaborador" da comunidade "Entendendo o que é o Gótico" – 22 jan. 2006).

Os observadores podem fazer parte da comunidade, mas, se o desejarem, nunca participar ativamente, mantendo, no entanto, alguma identificação com o tema da comunidade:

Bem, estou nessa comunidade faz uns 4 meses ja e nunca postei24 24 "Postar": incluir um post (opinião, comentário ou informação) nos fóruns de discussão. nada sobre algo gótico na mesma pelo motivo de que todo esse tempo tentei com os comentários de todos aqui aprender sobre a cultura gótica (Um "observador" da comunidade "Entendendo o que é o Gótico" – 15 mar. 2006).

Os curiosos não fazem parte das comunidades e, por isso, não lhes é permitido participar das discussões. Eles "navegam" pela página, sem nenhum outro compromisso.

Os wannabees, por sua vez, são aceitos na comunidade, até que se revelem wannabees. De forma diferente dos observadores, eles se identificam com o tema e, mais ainda, procuram participar ativamente das discussões. Na categoria de iniciantes, podem, a princípio, ganhar a simpatia dos participantes, mas, a partir do momento que demonstram superficialidade em suas intenções na comunidade, passam a ser rotulados,25 25 Embora a gíria wannabe seja corrente na Internet, ela nem sempre é usada como expressão desse sistema de acusação, especificamente nas comunidades observadas para os fins deste artigo. Seu uso, aqui, é conceitual. tornando-se, portanto, passíveis de desaprovação ou de exclusão da comunidade:

Querida... gótico não está em "alma" alguma. Gótico é apenas uma tribo urbana. Uma sub-cultura. Composta de estética e música. E só. Não existe "alma gótica", nem "melancolia", ou "depressão" e similares. Apenas gente normal que gosta de determinado tipo de música... E você, pelo jeito, não curte a música e não segue a estética, portanto, não é gótica. Simples assim (Resposta dada a um membro da comunidade "Entendendo o que é o Gótico" – 20 jan. 2006).

Os wannabees são as maiores vítimas das sanções sociais, que podem ir de simples repreensões à expulsão, impostas pelos mediadores, sob a pressão, ou não, dos demais participantes:

Já existem referências negativas explícitas aos wannabees. Uma delas é uma comunidade no Orkut, a "ODEIO WANNABE'S", que é dirigida a quem "tem aversao a qualquer tipo de pessoas que TENTAM ser, porque realmente não conseguem" (Comunidade "Odeio Wannabe's" – Orkut – 3 jun. 2006).

Portanto, na escala hierárquica de prestígio das comunidades virtuais, o wannabe ocupa o seu lugar no nível inferior, no pólo oposto ao do mediador. Além disso, na disputa pelo poder, citando Pierre Bourdieu,26 26 BOURDIEU, 1989. sua condição de dominado é fundamental para a legitimação dos dominantes, eixo central para a própria existência da comunidade e para sua permanência na Internet. Reconhecer um wannabe representa delatar, rotular e excluir o que não é autêntico, enfatizando, conseqüentemente, a autoridade do conhecimento, do saber.

Na adolescência, a construção das identidades se dá dentro de uma dinâmica de disputa pelo poder, de legitimidade, de acusação e, por fim, de inclusão e exclusão. É dessa dinâmica do sistema de classificação que se formam as bases das tribos, sejam elas urbanas ou virtuais.

As comunidades "pró-ana", porém, são de uma outra natureza. Estritamente virtuais, elas foram criadas para só existirem na Internet. Como um grupo solidariamente constituído, não possui, porém, uma "cultura" implícita, pois não há uma forma de vestir ou um estilo musical que as distinga; em sua trajetória, não há uma história e nem autores– o que se encontra é o anonimato. Fluidas, no entanto, elas existem e, mais do que isso, são capazes de mobilizar a atenção do mundo inteiro, que se encontra alarmado por aquilo que pregam – a anorexia. E, como comunidades virtuais, estruturam suas bases da mesma forma que outras da Internet, o que inclui a presença de wannabees. A questão é: por que as adolescentes "querem ser" anoréxicas? Como a fome pode se tornar, voluntariamente, um "estilo de vida"? Qual é o "estado de espírito" dessa adolescência que beira a morte?

Amigas da Ana

Anorexy is not a disease, is a lifestyle.27 27 Tradução: "Anorexia não é uma doença, é um estilo de vida". Autor desconhecido. É comum, ao entrar em centenas de diários virtuais da Internet, ou blogs, esta frase que passou a ser símbolo de um movimento tipicamente feminino.28 28 No serviço de busca Google, entre páginas brasileiras, foram encontradas 329 citações referentes a blogs pro-ana (13 dez. 2005). Classificando a anorexia como um estilo de vida, as adolescentes que se autodenominam "pró-anas" estampam em suas páginas pessoais o sofrimento de suas "vidas anoréxicas", ao mesmo tempo em que exaltam, em fotografias, a beleza de corpos feitos de ossos e pele. Essa contradição, na verdade, parece fazer parte da própria natureza do movimento "Pró-Ana":29 29 Há, também, um movimento denominado "Pró-Mia", onde a bulimia ganha seus adeptos.

Essa comunidade é pra vc que também sonha em ser magro(a), que gosta desse estilo de vida, e que luta por este ideal... Se vc tem essas piras de ficar sem comer, de ficar se matando na academia, de vomitar depois de comer, sinta-se em casa (Apresentação da comunidade "Pro-Anas" – 13 jun. 2004).

Se, por um lado, a anorexia é representada como uma amiga – a "Ana" – que está sempre disponível para ajudá-las na conquista do autocontrole corporal, ela é também uma perigosa companhia como aquela que pode levá-las para o "mau caminho" das drogas, da autodestruição e do risco de morte. Por ser tão persuasiva e atraente para suas admiradoras, a "Ana" é a personificação de um exemplo a ser seguido, um Outro com um estilo de vida a ser imitado:

Acho que é sim possível se tornar Ana por querer, e acho que as pró-anas devem ser levadas a sério porque se elas não têm TA [Transtornos Alimentares] e conseguem desenvolver, devem passar por muitas dificuldades, o que é ruim são as que querem virar Ana pra perder uns quilinhos, pra mim, Ana é pra vida toda, não consigo me imaginar sem (Aline, membro da comunidade "Pro-Ana" – 12 jan. 2005).

Além dos blogs, existem, na Internet, comunidades "pró-ana" presentes, principalmente, no Orkut.30 30 Em 13 dez. 2005, no serviço de busca do Orkut, com as palavras-chave "pró ana" e "anorexia", foram encontradas 42 comunidades brasileiras. Observando três delas, "Pró-Anas", "Pró-Ana e Mia" e "Starvation", foi possível compreender um pouco mais sobre o estilo de vida anoréxico, na visão de seus membros.

Antony Giddens31 31 GIDDENS, 2002. atribui à globalização e à disseminação da mídia eletrônica, entre outros elementos, o acesso do indivíduo a um grande número de "escolhas". Entre elas, o autor destaca a imperativa escolha por um "estilo de vida".

De acordo com Giddens, a noção de estilo de vida deve extrapolar a "trivial" definição do senso comum, que a associa ao "consumismo superficial". Para este autor,

estilo de vida pode ser definido como um conjunto mais ou menos integrado de práticas que um indivíduo abraça, não só porque essas práticas preenchem necessidades utilitárias, mas porque dão forma material a uma narrativa particular de auto-identidade.32

Para este autor, o estilo de vida é "adotado" e segue um padrão, o que é importante para "uma sensação de continuidade da segurança ontológica" do indivíduo dentro da sociedade. O comprometimento com um estilo de vida que, como quer Giddens,33 33 GIDDENS, 2002. pode ser "setorizado" de acordo com o "ambiente de ação" em que está inserido naquele momento determina um controle, tanto por parte do indivíduo como de seus pares. Esse controle aponta o que é "adequado" ou "inadequado" no comportamento do outro, dentro dos padrões do estilo de vida adotado por ele.

No "estilo de vida" das "pró-anas", a primeira e mais importante constatação é a de que suas comunidades constituem-se em um espaço de sociabilidade antes inimaginável. Seus membros, na grande maioria do sexo feminino, trocam dicas de como vencer os desafios da anorexia: são receitas, informações sobre medicamentos, descrições de possíveis sintomas, truques para não sentir fome e para enganar os pais sobre os severos regimes a que se submetem. O apoio nos momentos de depressão, recaídas e dúvidas é buscado nas mensagens deixadas nos fóruns dessas comunidades:

Com vocês eu aprendi que se a gente tem a opção de ser magra, então porque não ser magra? (Débora, membro da comunidade "s-Ana").

Como resposta, os membros dão palavras de incentivo, de repreensão e de alerta para quem precisa. Além disso, selam compromissos mútuos no sentido de permanecer sem comer e, juntas, fixam uma data de início e um período de tempo para praticar o "no food"(ou NF) – que envolve a abstenção de alimentos sólidos por dias ou semanas:

Hoje fiz NF. Tô adorando. Vou comer só pra não morrer. Tô com você. Se quiser conversar entra no meu scrap que eu te passo meu msn. Eu e mais 4 meninas estamos nos reunindo praticamente todos os dias pra nos darmos força. Te espero e a quem mais quiser participar também. (Marcela, membro da comunidade "Starvation" – 11 jul. 2005).34 34 "Scrap": página de recados no Orkut. "msn": endereço no Messenger, canal de comunicação para troca de e-mails e conversas instantâneas online.

A partir dos relatos encontrados nessas comunidades, a anorexia passou de prática solitária a prática solidária com a Internet:

Acho maravilhoso essas comunidades e sites, porque as anas e mias da vida se sentem muito sozinhas. Tipo, eu até tenho amigos maravilhosos, mas eu não posso contar com eles pra isso, eles falam que eu sou muito magra e o que eu faço é loucura, então eu me sinto a vontade nessas comunidades, eu me sinto 100% aceita, entende? (Lívia, membro da comunidade "Anorexia, quem é você?" – 23 ago. 2005).

Outro ponto que chama a atenção é a utilização de um código próprio – o "Internetês" – quase indecifrável para quem não está familiarizado há mais tempo com a Internet. Esse código, desenvolvido espontaneamente pelos usuários para simplificar e agilizar a troca de mensagens online, torna difícil a leitura para um leigo, em um primeiro momento. Aos aki (aqui), beijaum (beijão), bijins (beijinhos), blz (beleza), kd (cadê), kirida (querida), tc (teclar) e outros termos que enchem o glossário dos internautas, juntam-se neologismos muito comuns entre as adeptas do movimento "Pró-Ana". Alguns deles são nf (variação de no food), anar (não comer), miar (vomitar), rulez (legal) e comu (comunidade). O primeiro desafio ao realizar as entrevistas pessoais foi, portanto, compartilhar desse código e aplicá-lo nas conversas pelo msn (Messenger):35 35 Com exceção do depoimento transcrito a seguir, todos os outros foram "traduzidos" para o português coloquial.

ah eu nunca flei q tenho ou num! sabe?! as sei lah axo q precisa de um medico pa fla q eu soh msm, e msm assim eu num ia acredita, afim eh uma doença..rs...e eu num toh doente! e axo q qm tem ana eh super forte sabe?! e na boa eu soh um fraca, pelo fato de ter as malditas compulsão! (Priscila, entrevistada pelo Messenger – 24 ago. 2005).

Dentro das três comunidades "pró-ana" e na "Anorexia, quem é você", criada para fins específicos de observação para esta pesquisa, há, como já foi dito, a disputa pelo poder, os "dominantes" e os "dominados",36 36 BOURDIEU, 1989. os "estabelecidos" e os "outsiders".37 37 Norbert ELIAS e John SCOTSON, 2000. Nesse contexto, as wannabees são as adolescentes que desejam ter anorexia, mas nem sequer buscam informações concretas sobre suas conseqüências. Nas comunidades "pró-anas", elas são facilmente identificadas e consideradas "outsiders" e, por esse motivo, são excluídas do grupo ou, simplesmente, ignoradas:

Essas menininhas que assistiram ao fantástico devem estar achando que já são Anas, só porque querem perder uns quilinhos, devem até achar bonito isso ... ou sei lá ... só sei que esta virando modinha mesmo vejo gente que só porque se acham um pouco gordas já se auto consideram anas ... mas elas não tem idéia pelo tanto que a gente sofre com isso ... e pensam que isso é só brincadeira ... por favor né ... (Carla, membro da comunidade "Pró-Anas" – 27 abr. 2005).

As "observadoras" são aquelas que conhecem as causas e conseqüências da anorexia e se sentem atraídas por ela, motivadas, principalmente, pela mídia. No entanto, ainda não compartilham de suas práticas. Exercem o papel de "dominadas",38 38 BOURDIEU, 1989. mas ganham seu espaço, recebendo dicas de como ingressar na "vida anoréxica":

Bom, eu acho que pra ser Ana, você tem que gostar da estética anoréxica. Quem quer fazer NF pra ficar gostosinha (padrão gostosa), não é ana. Penso que ser Ana não é só para de comer, ter a carta39 39 Carta atribuída à "Ana", personagem criado para representar a anorexia, muito difundida na Internet e cujo texto ilustra os blogs das "pró-anas". pendurada na porta do armário e água o dia todo! Eu não sou e ainda não sei se quero ser. Me encanta muito o estilo mas não sei ... Tenho medo, não sei de quê. E também não sei se conseguiria adotar uma vida Ana (Rafaela, membro da comunidade "Starvation" – 20 jan. 2005).

Por último, há as "anoréxicas autênticas", ou as "mediadoras", que não apenas detêm o controle das informações sobre anorexia, como também afirmam sofrer de suas conseqüências. Estas são as "dominantes"40 40 BOURDIEU, 1989. e as "estabelecidas".41 41 ELIAS e SCOTSON, 2000. São respeitadas em seu grupo e imitadas por seus pares:

A anorexia, para nós (que além de Ana somos Pró-Ana), deixa de ter aquela cara de distúrbio, transtorno, doença e problema porque a usamos com disciplina, responsabilidade, devoção, sabedoria. Nos entregamos aos nossos objetivos com força, há um esforço muito bonito aí. Não somos loucas suicidas (bem ... nem todas! hehehe) como as matérias tipo Folha Teen pregam. Isso são essas Ana-da-moda, essas garotas sou-anoréxica-só-para-ficar-magrinha-mas-depois-eu-paro. De certa forma, devemos gratidão à Ana, de certa forma, isso DEVE ser uma viagem sem volta. Uma vez ana, para sempre ana! (Cris, membro da comunidade "Starvation" – 19 fev. 2005).

Na interação desses três tipos ideais, quais sejam, as wannabees, as "observadoras" e as "mediadoras", o que se aplica é a rotulação42 42 Howard BECKER, 1963. daquelas que não pertencem à comunidade, levando a um sistema de acusação43 43 Gilberto VELHO, 1999. que mantém vivas as discussões e os debates na rede. Para as "mediadoras", a anorexia deve ser respeitada como uma prática que envolve dedicação, respeito e superação e que, portanto, não pode ser apreendida como simplesmente um "estilo de vida" que pode ser adotado por qualquer pessoa, a qualquer tempo. Qualquer intenção de querer se tornar uma anoréxica por parte das wannabees ou das "observadoras" é alvo de reações.

O interesse atual demonstrado pela mídia com relação à anorexia, através da publicação de matérias jornalísticas, documentários e, até mesmo, da criação de personagens de novelas, não é bem-vindo entre as "mediadoras". Além de considerarem que essa divulgação se mantém na superficialidade dos fatos, elas acreditam que a anorexia virou uma "modinha", atraindo adolescentes desavisadas que desconhecem suas reais conseqüências. Interpretando suas reações, o que se pode depreender é que a banalização da anorexia retira o que há nela de mais distintivo: a exclusividade de sua experiência um "estado de espírito", ponto que será mais bem desenvolvido na última seção deste artigo. Quanto mais adolescentes se declararem anoréxicas, menor é o mérito da superação, do autocontrole e do autodomínio:

Ontem eu entrei aqui e tinha umas 900 pessoas. Hoje já tá passando de 1000. Tudo isso por causa do FANTÁSTICO! Agora nossa comunidade nem todos são proanas, já tô começando a desconfiar que metade dela é de curioso que viu a matéria... nosso círculo está se abrindo cada vez mais e nosso mundinho sendo invadido. [...] Eis uma sugestão: selecionar e peneirar todos os integrantes daqui da comunidade, tipo como fizeram num grupo proana do MSN, tinha que responder um questionário e alegar que era proana mesmo (Beatriz, membro da comunidade "Pró-Anas" – 26 abr. 2005).

Durante a pesquisa, foram entrevistadas cinco adolescentes, de 15 a 19 anos, encontradas em comunidades "pró-anas". Em todos os relatos, a mídia foi apontada como uma das grandes incentivadoras da anorexia. Para as entrevistadas, a imagem de beleza feminina – sempre magra – personificada, principalmente, pelas modelos profissionais de moda as torna mais suscetíveis à adesão às práticas anoréxicas:

Liga TV, assista um filme, abra uma revista ... qualquer coisa, qualquer lugar vai mostrar pessoas maravilhosas, perfeitas, o ideal. As modelos, 'thing inspiration', cada uma tem a sua ... yasmim brunet, gisele, angeline jolie, várias ... (Fátima, entrevistada, – 17 anos 28 jul. 2005).

Das cinco pesquisadas, apenas uma parece ser uma "anoréxica autêntica": Luíza, de 15 anos. As demais demonstraram ser wannabees, através de relatos pautados mais em impressões do que, de fato, em experiências pessoais:

Comecei meio que brincando porque daquela menina do big brother que miava aí eu tentei e deu certo aí eu fazia de vez em quando (Patrícia, entrevistada, 15 anos – 2 ago. 2005).

Também entre as entrevistadas a rotulação de wannabees pesa sobre suas identidades na Internet:

Vi essa comunidade no Fantástico e achei que as meninas no pró-Ana poderiam me ajudar a voltar a ser uma. Fiquei meio chateada quando li mas vi que elas querem exclusividade como se fosse algo delas. Foi o que senti. [...] Pensei que me ajudariam a voltar a ser uma, mas não tive a atenção delas e você acaba se sentindo uma baleia (Andréia, entrevistada, 19 anos, expulsa da comunidade "Pró-Anas" 12 ago. 2005).

Diante dessas observações na Internet, o que se faz revelar é que a anorexia ganhou status de "estilo de vida" através do exercício da sociabilidade, levando a uma troca de informações e a um sistema de classificação que permite a construção de uma identidade própria, antes vedada e proibida. Se muitas dessas adolescentes mantêm profiles (perfis) e codinomes múltiplos na rede de relacionamentos Orkut é para preservar seu direito de anonimato diante de seus pais, amigos e familiares. No entanto, nas comunidades, elas se expõem sem medo ou culpa, alimentando laços sociais que se fortalecem, exatamente, pela virtualidade de sua natureza:

eu tive que criar um outro profile aqui no orkut, para poder conversar com pessoas que pensam como eu ... porque ... no meu verdadeiro profile .. todo mundo me conhece ... fica pegando mesmo no meu pé ... e dá medo, né, de contar pra minha mãe ... (Virgínia, membro da comunidade "Anorexia, quem é você?" 1 dez. 2005).

A conquista de uma aparência magra é, sem dúvida, o objetivo de muitas dessas adolescentes. Mas o desafio do autocontrole do corpo é o que se ergue por trás das dicas, truques e receitas para emagrecer:

Gente no food é controle, é o que pro-anas fazem, se você não faz, não se considere uma! Desculpe se estou sendo grossa ou algo do tipo, mas pra mim ser pro-ana é mais do que isso, se emagrecer é a conseqüência da anorexia, a gente já vai direto no 'emagrecer' sim... mas além disso existe o controle do corpo / mente! (Hanna, membro da comunidade "Pró-Anas" 2 jul. 2005).

A legitimidade da anorexia, entre as "pró-anas", está, justamente, na reafirmação de suas fraquezas: o "no food", a fome, as compulsões alimentares, o medo de engordar e, sobretudo, o desejo latente de voltar a ser "normal" são percalços que devem ser superados, a cada dia. Lem-brando, umas às outras, que a fragilidade existe, elas se tornam fortes para retomar o controle de suas ações sobre o corpo. E, com isso, constroem suas identidades e protegem-se sob os laços de solidariedade que estão sob os auspiciosos cuidados de um personagem chamado "Ana".

No entanto, entre as "pró-anas", a distância que separa as wannabees das "mediadoras" pode ser tão frágil quanto a silhueta que cultuam.

Coletando informações pessoais disponibilizadas nos blogs e em uma comunidade "pró-ana", como altura e peso das adolescentes, o que se descobriu é que o seu "estilo de vida" anoréxico, se, de fato, está sendo incorporado, ainda se encontra pesado demais para os seus objetivos.

De acordo com a tabela da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade (ABESO), que adota o padrão internacional para o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC),44 44 IMC é uma medida, de padrão internacional, utilizada pela medicina para avaliar o grau de obesidade no corpo humano. É considerado "normal" o IMC dentro da faixa de 18,5 a 25. Sua fórmula é: peso (Kg) dividido pela altura ao quadrado (m 2). Fonte: ABESO. a maior parte das adolescentes pesquisadas se encontra em boa saúde.

De 20 blogs brasileiros visitados onde as "mediadoras" se declaram "pró-ana", 12 (60%) têm IMC na faixa "normal" de 18,5 a 24,9, enquanto apenas três (15%) estão na faixa de "subnutrição", abaixo de 18,5. Dessas adolescentes, que têm, em média, 18 anos, quatro (20%) estão na faixa de "sobrepeso" (entre 25 e 29,9 de IMC). Apenas uma (5%) pode ser considerada obesa.

A mesma contagem foi feita na comunidade Starvation, do Orkut. Das cem adolescentes pesquisadas, a relação peso versus altura aponta para um nível "normal" de IMC junto a 67% das adolescentes. Outras 26% podem ser consideradas na faixa de "subnutrição", enquanto 7% apresentaram índices de "sobrepeso" ou "obesidade".

Comparando os dois resultados, é curioso constatar que, entre as "mediadoras" dos blogs, o percentual de subnutrição é 11% menor do que aquele declarado pelas "colaboradoras" da comunidade do Orkut.

Evidentemente, é possível considerar que algumas adolescentes mentiram sobre seus pesos e idades na Internet, mas, diante do que é por elas valorizado, pode-se supor que as medidas, sendo fraudadas, deveriam sempre favorecê-las, empurrando o IMC para abaixo do que realmente é.

O que se faz revelar, pelo menos diante desses números, é que, como "estilo de vida" e da forma como é representada na Internet, a anorexia serve mais a uma prática de sociabilidade do que àquilo que as "pró-anas" se propõem. Porque a maioria das "pró-anas", sejam elas "mediadoras" ou wannabees, ainda não conhecem, de fato, a anorexia. Talvez sejam iniciantes, talvez sejam pretendentes, mas, de qualquer forma, na Internet são wannabees. Ou, em outros momentos, "góticas". Na verdade, na adolescência, o quê ser não importa muito, pois o fundamental é ser.

De Lord Byron a Gisele Bündchen – quando góticos e "pró-anas" se encontram

Uma das causas sociais atribuídas à anorexia é o padrão de beleza estabelecido pela indústria da moda. Afirma-se que as medidas corporais das modelos servem de meta para as adolescentes conquistarem o "corpo ideal". Considerando o IMC das modelos mais famosas, e que servem de thinspiration45 45 Thinspiration expressão usada para designar fotografias de pessoas magras, com um "corpo ideal", em geral, modelos e atrizes. Os blogs e páginas pessoais exibem muitas dessas imagens, além de outras com corpos exageradamente magros, muito possivelmente de pessoas com anorexia. para as "pró-anas", conclui-se que, de fato, o resultado está muito próximo daquele atribuído, pela medicina, ao da anorexia. Um exemplo é Gisele Bündchen: seu IMC é 16, considerado na faixa da "subnutrição".46 46 O CORPO que eles desejam... não é o que elas querem ter. Revista Época, n. 227, 23 set. 2002.

No entanto, recorrendo a estudos sobre os hábitos alimentares das jovens dos séculos passados, o que se encontra são fatores sociais outros, ligados às restrições alimentares como forma de construção de uma feminilidade.

O diagnóstico da clorose entre adolescentes do século XIX é um exemplo. Essa "doença efêmera", que, segundo Táki Cordás e Cybelle Weinberg,47 47 CORDÁS e WEINBERG, 2002, p. 204. desapareceu da história médica desde a terceira década do século passado, era identificada, exclusivamente, como uma patologia feminina e efêmera, que só tinha lugar na adolescência. Alguns estudos contemporâneos da literatura psicanalítica relacionam a clorose à anorexia.

De fato, alguns médicos vitorianos acreditavam que um toque de clorose estaria presente em todas as meninas adolescentes (mas não nos meninos) e que se tratava de uma doença urbana, sendo raríssima entre as jovens camponesas.48 48 CORDÁS e WEINBERG, 2002, p. 205.

Segundo os autores, os sintomas da clorose ou "doença verde" eram "palidez, fraqueza, cansaço, irritabilidade, constipação e irregularidade menstrual ou amenorréia" e, por atingir exclusivamente adolescentes do sexo feminino, contribuiu para vincular a imagem da fragilidade e da magreza à feminilidade.

As "cloróticas" eram descritas como meninas lânguidas e em permanente estado de abandono, desvanecendo-se por qualquer coisa e chorando por motivos insignificantes.

Psicopatologia ou a mera expressão de um modismo, um gênero de beleza derivado do Romantismo, do romance gótico do século XVIII, do mal du siècle, dos poemas de Lord Byron?

Os médicos lamentavam as conseqüências do byronismo sobre os hábitos alimentares das meninas, que perseguiam essa 'languidez elegante', essa magreza e palidez que traduziam fragilidade, desencanto e melancolia, mas adquiridas principalmente pela ingestão de doses de vinagre. Definhar, sem dúvida, estava na moda.49 49 CORDÁS e WEINBERG, 2002, p. 204.

Mais tarde, ainda segundo os autores, a medicina descobriu que tal estado de saúde era o resultado de a uma deficiência nutritiva, decorrente de tabus alimentares: não era aconselhável, naquela época, oferecer carne ou alimentos condimentados para as jovens, pois se acreditava que eles estimulavam a libido.

Esses verdadeiros tabus alimentares levavam as mulheres a se sentirem desconfortáveis com relação à comida e a mal tocarem no prato, quando sentadas à mesa de refeições. Uma mulher delicada não deveria manifestar grande apetite e, se possível, jamais ser vista comendo.50 50 CORDÁS e WEINBERG, 2002, p. 206.

Para fins de análise, tomarei de empréstimo esta expressão médica para introduzir o conceito de "clorose distintiva", aqui definida como um conjunto de práticas e valores que resultam em uma dada identidade que distingue algumas culturas e subculturas jovens ou tribos. Essencialmente adolescente e exclusivamente feminina, ela é expressa, entre outros aspectos, no padrão de beleza feminino frágil e magro, tão valorizado em nossa sociedade, não somente nas passarelas da moda.

Lord Byron, poeta inglês do século XIX, é uma espécie de inspiração para a "clorose distintiva" dos góticos, descendentes do movimento punk dos anos 70 e sucessores dos darks dos anos 80. Na subcultura gótica (ou goth),51 51 No dicionário Wikipedia (link http://en.Wikipedia.org/wiki/Goth), é possível encontrar a seguinte descrição para a cultura gótica: "Goth é uma subcultura moderna que primeiro ficou popular durante o início dos anos 80 dentro da cena do gothic-rock, um subgênero do pós-punk. Está associada, caracteristicamente, com gostos 'góticos' em música e vestuário. Os estilos de vestir passam por death rock, punk, era vitoriana, androginia, algumas roupas de estilo renascentista, uma combinação de tudo isto e/ou muitos trajes pretos e maquiagem" (Acesso em 1 fev. 2006). Tradução minha. a depressão, a melancolia, a morbidade e a personalidade suicida, embora relativizadas pelos "mediadores" das comunidades virtuais, são algumas das características que constroem o comportamento de seus seguidores, tanto entre homens como mulheres. Tipicamente, sua aparência física é identificada com o uso de vestuário e acessórios pretos que, associados a cabelos escuros, à pele muito branca, a rostos maquiados em preto e branco, além de corpos magros e frágeis, tornam as diferenças entre os gêneros muito sutis. Em páginas da Internet dedicadas à cultura gótica, encontram-se descrições dos goths como pessoas mais "sensíveis", já que gostam de poesia e literatura erudita, entre outras preferências.

Creio ter reunido evidências suficientes para concluir que os góticos (tanto os clássicos quanto os neogóticos) constituem a tribo mais culta de todo o universo underground (Escreveu Peterson Leal, acadêmico de Ciências Sociais na UFMT, sobre o gótico. Trecho coletado no link www.puc-campinas.edu.br, em 1 fev. 2006).

Pra mim, gótico tem absurdamente significado com sentimentos fortes e profundos (muito passionais e melancólicos)... um estado de espírito (Membro da comunidade "Entendendo o que é o Gótico", do Orkut – 3 fev. 2006).

Essa aproximação entre os sexos denota duas características importantes para esta análise. A primeiro delas diz respeito à preponderância da feminilidade nessa tribo. Apesar do peculiar ethos de seus membros, que abrange desde a leitura de poesias até um estilo musical eclético, mas fundamentalmente agressivo, com inspirações no punk rock, o lado masculino dos góticos é, como disse, "sensível" e sofisticado em seus gostos, em que, por exemplo, a figura ambígua dos vampiros é apreciada e idolatrada.

Acompanhando no Orkut uma discussão sobre a questão da feminilidade, extraí o seguinte trecho da comunidade "Entendendo o que é o Gótico", datado de 21 de agosto de 2005:

Androginia

Bom,gostaria de uma explicação do porque a androginia ser tão comum na sub-cultura gótica...eu nem ia perguntar isso, mas ontem quando eu sai com a minha namorada pro Habibs, a gente chegou e o garçom olhou pra nós e disse, já vão pedir moças?!?! ¬¬ ..sim,,eu fique puto e quebrei o pau..embora já esteja acostumado (Participante 1).

Quem tem cara de homem é troglodita...

Porque teoricamente um cara que parece com uma mulher é mais sensível assim como uma também mas não deixa de ser homem.

Sem contar que muitas pessoas gostam de outras que possuem uma aparência mais "frágil". É como se quisesse cuidar dele.

O fato do bisexualismo ser uma coisa presente na subcultura influencia isso (Participante 2).

A Androginia no Gótico tem principalmente um caráter simbólico, expresso em vários elementos estéticos. Isto quer dizer que alguém pode ser psicologicamente andrógino, usar um visual andrógino (ou não, pois não é obrigatório ). E não ser homosexual (Participante 3).

Este é um dos motivos por que identifico, entre os goths, o conceito de "clorose distintiva" que compõe, juntamente com outras, as possíveis representações sobre a adolescência feminina. A própria construção social dessa fase da vida remete a sentimentos de vazio, depressão, melancolia e a comportamentos de risco, para citar David Le Breton,52 52 E BRETON, 2003. entre os quais não se pode excluir o suicídio, cujo simbolismo é valorizado entre os goths. Para Le Breton,53 53 LE BRETON, 2003. os distúrbios alimentares, e mais especificamente a anorexia, são formas de "condutas de risco", ao lado dos esportes radicais, da adicção ao álcool e às drogas, entre outras. Os adolescentes encontram nessas condutas uma maneira de testar o verdadeiro "valor da vida", colocando-se à prova e fazendo um apelo a quem os cerca. Le Breton escreve que a intenção não é a morte, mas sim a de "testar uma determinação pessoal". É, para ele, "um rito íntimo de fabricação do sentido".54 54 LE BRETON, 2003, p. 29. Tradução livre do original em francês.

Visitando blogs de adolescentes que fazem parte ou que simpatizam com o movimento "Pró-Ana", é recorrente encontrar referências à estética e à cultura gótica: a cor é o preto, as fotografias são mórbidas, entre as bandas preferidas há as que se identificam com os goths (ver Quadro 1). Nessas páginas pessoais, a anorexia e a estética gótica se encontram e não se pode desprezar tal correlação.


Os goths são a exaltação da crise adolescente, como é representada em nossa sociedade moderna, sintetizando sentimentos que a ela são atribuídos, mas, como fator distintivo, sofisticando-os a um alto nível. Para fugir do padrão mediano da adolescência, eles procuram ler clássicos da literatura, principalmente os autores "malditos", ganhar conhecimento de forma erudita. Mas, em minhas observações na Internet, identifiquei elementos simbólicos que aproximam as "pró-anas" da tribo gótica: os estéticos, predominando a cor preta com imagens de mulheres enigmáticas e sombrias, e os psicológicos, como os relatos de depressão, de tendência suicida e de melancolia. É no "estado de espírito" gótico que se explica a identificação das "pró-anas":

Detesto essa sensação... é pior que tristeza. Hoje minha cabeça está um poço de confusão. Há dias estou assim e nem sei porque vim postar hoje, acho que pra desabafar... desabafar exatamente o que eu ainda estou tentando descobrir! Estou sentindo tanta coisa diferente e nem consigo identificar a razão pra eu estar assim... (Retirado do blog pró-ana "Ana My Life", no anamylife.zip.net, em 1 fev. 2006).

Talvez não por acaso, uma das bandas citadas em blogs góticos e de adeptas do movimento "Pró-Ana" chama-se "Anorexia Nervosa", que segue o estilo conhecido como "black metal sinfônico". Não foi encontrada nenhuma explicação para o nome dessa banda, mas é fácil associá-lo a um comportamento simbolicamente suicida.55 55 "No último dia 23/9, duas adolescentes fãs de black metal e gothic cometeram suicídio em um subúrbio de Paris, França. [...] As adolescentes eram obcecadas pela morte, só usavam roupas góticas e uma delas tinha um blog em que só falava de sexo e morte. O último registro dela no blog era uma letra do grupo francês de black metal Anorexia Nervosa, chamada Suicide Is Sexy" levando-os a esse tipo de comportamento extremo" (Fonte: Revista Rock Brigade, n. 230, 2005). Esse tipo de música tem, também, associações com a feminilidade:

Bandas no gênero metal sinfônico são lideradas predominantemente por mulheres, tanto nas imagens como no vocal. A vocalista de bandas de metal sinfônico tem constantemente sido mulher, na maioria das vezes usando variações de vocal soprano encontrado na ópera (Fonte: en.Wikipedia.org – verbete "synphonic metal acesso em 2 jan. 2006).

No entanto, não há nenhum registro explícito, nos sites associados a essa tribo que foram observados, a uma valorização da anorexia como um "estilo de vida".56 56 Lord Byron, a título de curiosidade, faleceu em 1824, vítima de um ataque epilético atribuído, em nossos tempos, como possível conseqüência da anorexia. Mas há referências isoladas de adolescentes góticas que vivenciam a anorexia:

Estou me sentindo mal, meio que fraca, por causa da anemia e da anorexia (Trecho retirado do blog "Garden of Éden", no link http://www.estranha_eu.blogger.com.br, em 1 fev. 2006).

O "estado de espírito" gótico exalta o que há de mais subjetivo nas representações sobre a adolescência e é nesse sentido que ele serve aos fins das adeptas do movimento "Pró-Ana". O sofrimento relatado nas comunidades e nas páginas pessoais visitadas ganha mais sofisticação a partir da simbologia gótica. E a feminilidade, relacionada à anorexia, revela-se dentro de uma estética romântica, remetendo a formas delicadas e frágeis de uma época.

Mais recentemente, uma nova tribo adentra o cenário urbano: são os "emos". Segundo matéria publicada na revista Época, seus adeptos têm entre 11 e 18 anos e usam a Internet como o seu maior veículo de comunicação, onde trocam informações e músicas que ainda nem foram comercializadas pelas gravadoras.

O visual "emo" combina referências punks, "góticas" e infantis, cujos personagens "fofinhos" ilustram suas camisetas nas cores, predominantemente, preta e rosa, tanto para eles quanto para elas. De acordo com a matéria, os "emos"

Não escondem os sentimentos, expressam abertamente suas emoções, preconizam e praticam a tolerância sexual.57 57 PUNKS no jardim-de-infância. Revista Época, n. 403, p. 97, 6 fev. 2006.

Nessa tribo, como revela a matéria, e a exemplo dos góticos, a androginia é um outro fator de identidade. Independentemente da sexualidade de um "emo", os "elogios, beijos e abraços em público"58 58 PUNKS..., p. 97. são atitudes comuns entre adolescentes de sexos opostos ou do mesmo sexo. E o hábito de chorar em shows de suas bandas prediletas, que falam de amor em suas canções, também. Os "emos", enfim, ainda segundo a revista, representam uma reação à violência e à sociedade de consumo, propondo uma nova "atitude" contra "o desencanto que vive a juventude".59 59 PUNKS..., p. 98. Seria, portanto, um novo "estado de espírito" adolescente em plena construção.

Sendo assim, proponho relativizar a influência exercida, sobre as adolescentes, pela mídia e, principalmente, pela indústria da moda. Considerando as relações entre a noção de feminilidade e a adolescência, parece ser legítimo atribuir a essa construção social o papel de maior referência para a estética magra hodierna, que influencia, entre outros campos, o da moda. Os mediadores da moda, como os estilistas e os fashionistas em geral, não determinam o padrão de beleza. Eles, na verdade, fazem uso do que se convencionou, historicamente, chamar de feminilidade. Se, nas passarelas, o que se vê são adolescentes magras ao extremo, é porque a moda, como indústria, reproduz, na inerência de seu caráter extremo de expressividade, o que determina a sociedade de consumo. É um processo de marcação simbólica de mão dupla: a sociedade constrói suas representações, que constroem a sociedade. A feminilidade adolescente constrói a moda, que constrói a feminilidade adolescente. O movimento "Pró-Ana" constrói o culto à magreza, que constrói o movimento "Pró-Ana". Não se trata de buscar uma explicação de causa e efeito, mas a continuidade das ações: o que se convencionou chamar de "padrão de beleza feminina" não é estanque e nem detém autonomia; ele é um processo de construções sociais acerca da feminilidade e, oportunamente, serve aos mecanismos que reproduzem a sociedade de consumo, entre eles, a indústria da moda.

Dentro desse processo, o culto à magreza está em curso. A Internet e a mídia colaboram para a sua disseminação, mas não o criam. Apenas o transformam em imagens, que, por sua vez, são objetificadas e sintetizadas no corpo magro e jovem. Se é na adolescência que esse corpo tem, histórica e socialmente, seu lugar, tudo o que diz respeito a essa fase da vida passa a ser, simbioticamente, valorizado e controlado. A adolescência, então, é vivenciada, pelos adolescentes, mais como uma identidade do que como uma idade. Dentro de sua identidade, diversos "estilos de vida" se revezam na convivência pacífica de suas tribos: o "ser adolescente" pode significar "ser alegre, esportivo e saudável" como os surfistas, "ser descolado, urbano e irreverente" como os skatistas, "ser consumista, alienada e comportada" como as patricinhas, "ser deprimido, erudito e sofisticado" como os góticos, ou, ainda, "ser magra, persistente e inconseqüente" como as "pró-anas". Assim como o mar para os surfistas, o urbano para os skatistas, a aparência para as patricinhas e o preto para os góticos, as adolescentes do movimento "Pró-Ana" ressignificam a magreza. A anorexia, nesse contexto, cumpre com um papel social duplo: o de marcar uma fase da vida e o da divisão entre os gêneros. Como tal, é apenas um dos aspectos da "clorose distintiva" que faz parte de um universo composto por inúmeras práticas sociais adolescentes. Considerada isoladamente, é um transtorno psicológico que expõe as mazelas da sociedade. Mas, como um "estilo de vida", vem colaborar para a reprodução e construção continuada da feminilidade.

Considerações finais

O que este artigo buscou demonstrar é que a adolescência é um rico locus para o estudo, na antropologia, da dinâmica das relações sociais da sociedade moderna.

No ambiente virtual, a sociabilidade da adolescência traz à tona uma série de questões sobre distinção, prestígio e poder. Fazendo uso da categoria wannabe, a presente discussão teve por objetivo analisar de que forma se sustenta a solidariedade em um grupo, onde o processo de exclusão reforça a legitimidade dos dominantes.

Além disso, a partir da observação de adolescentes que se autodeclaram "pró-ana", é possível compreender que o "culto à magreza" feminino é uma forma de proteção contra a resistência masculina em diversas esferas sociais e, paradoxalmente, é resultado dela. Na sociedade moderna, adolescência e feminilidade caminham juntas. Mas essa trajetória tem sido construída de forma contínua, histórica e socialmente, o que relativiza o poder da mídia de massa na imposição de um dado padrão de beleza. Transformada e transformadora, a feminilidade adolescente oferece ao "mundo adulto" mais do que um modelo a ser seguido: oferece um espelho partido que, ao mesmo tempo em que é capaz de refletir sua beleza, pode também distorcer sua imagem e revelar o pior ângulo da sociedade moderna.

Revistas

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Recebido em fevereiro de 2006 e aceito para publicação em novembro de 2006

  • BECKER, Howard S. Outsiders: Studies in the Sociology of Deviance Nova York: Free Press, 1963.
  • BOURDIEU, Pierre. "A 'juventude' é apenas uma palavra". In: ______. Questões de Sociologia Rio de Janeiro: Marco Zero, 1983. p. 113-121.
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  • Entendendo o que é o Gótico www.orkut.com
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  • Vampirismo vampirismo.blogs.sapo.p 2 jan. 2006.
  • Wannabewww.Wikipedia.com 6 fev. 2006.
  • 1
    Allan G. JOHNSON, 1995.
  • 2
    Maria Cecília MINAYO et al., 1999, p. 12.
  • 3
    MINAYO et al., 1999, p. 13.
  • 4
    A definição das categorias "adolescência" e "juventude" pode variar e obedecer a mais de um critério estabelecido por instituições oficiais. Muitas vezes, a essas duas categorias é atribuída a mesma faixa etária, tornando uma sinônimo da outra. A Organização das Nações Unidas (ONU) considera a juventude a faixa etária que vai dos 15 aos 24 anos. O Estatuto da Criança e do Adolescente considera adolescente a pessoa que tem entre 12 e 18 anos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana de Saúde (OPS) distinguem a pré-adolescência (de 10 a 14 anos) da adolescência (dos 15 aos 19 anos), que seriam determinadas, segundo essas instituições, por aspectos da vida biológica. O conceito de juventude é mais utilizado pelo campo sociológico, considerando aspectos socioculturais de liminaridade. O critério escolhido para o desenvolvimento deste trabalho é o determinado pela OMS, que define a adolescência como a fase que vai dos 15 aos 19 anos de idade, relacionando-a à noção sociológica do termo "juventude", da qual ela faz parte.
  • 5
    Pierre BOURDIEU, 1983.
  • 6
    BOURDIEU, 1983, p. 114.
  • 7
    Sobre o conceito de "tribo", ver Michel MAFFESOLI, 1998.
  • 8
    O
    Orkut é uma rede de relacionamentos virtual onde só pode ser membro quem for "convidado" a dela fizer parte.
  • 9
    Para maiores detalhes sobre netnografia, ver: PEREIRA, 2004.
  • 10
    Robert KOZINETS, 1998.
  • 11
    Segundo KOZINETS, 1998, p. 4, "cibercultura é mais amplamente conceituada como padrões de comportamento compartilhados e suas associações de significado simbólico expressos primariamente através de comunicações mediadas por computador". Ele a define, ainda, como "um novo e importante locus de atividade cultural humana".
  • 12
    KOZINETS, 1998, p. 4. Trecho citado a partir de texto original em inglês, com tradução minha.
  • 13
    KOZINETS, 1998.
  • 14
    KOZINETS, 1998.
  • 15
    Clifford GEERTZ, 1989.
  • 16
    KOZINETS, 1998.
  • 17
    O autor utiliza a expressão "entrée", que traduzi como "ingresso" para melhor compreensão. Em KOZINETS, 1998, é utilizado, também, o termo "lurking".
  • 18
    KOZINETS, 1998, visitou WWWs, Usenets, Portais, IRC e MUDs.
  • 19
    KOZINETS, 1998, p. 368.
  • 20
    Número referente a agosto de 2006. Na atual fase da pesquisa, está-se participando de listas de discussão.
  • 21
    Na versão em inglês da
    Wikipedia, enciclopédia livre virtual escrita por "voluntários" que atribuem significado a diversas expressões próprias da
    Internet ou da cultura como um todo,
    wannabe é assim definido: "Um
    wannabe (às vezes soletrado
    wannabee) é a pessoa que deseja ser (ou imitar) alguma coisa, um 'poderia ser'. O termo é uma contração de 'want to be'. [...] Com freqüência, o termo é associado a ambições e admiração em excesso". Fonte:
    www.Wikipedia.com, em 6 fev. 2006. Tradução minha.
  • 22
    No sentido mais ameno da palavra, significando "principiante", como por exemplo "escritor
    wannabe".
  • 23
    Codinome utilizado para se identificar na
    Internet.
  • 24
    "Postar": incluir um
    post (opinião, comentário ou informação) nos fóruns de discussão.
  • 25
    Embora a gíria
    wannabe seja corrente na
    Internet, ela nem sempre é usada como expressão desse sistema de acusação, especificamente nas comunidades observadas para os fins deste artigo. Seu uso, aqui, é conceitual.
  • 26
    BOURDIEU, 1989.
  • 27
    Tradução: "Anorexia não é uma doença, é um estilo de vida". Autor desconhecido.
  • 28
    No serviço de busca
    Google, entre páginas brasileiras, foram encontradas 329 citações referentes a
    blogs pro-ana (13 dez. 2005).
  • 29
    Há, também, um movimento denominado "Pró-Mia", onde a bulimia ganha seus adeptos.
  • 30
    Em 13 dez. 2005, no serviço de busca do
    Orkut, com as palavras-chave "pró ana" e "anorexia", foram encontradas 42 comunidades brasileiras.
  • 31
    GIDDENS, 2002.
  • 33
    GIDDENS, 2002.
  • 34
    "Scrap": página de recados no
    Orkut. "msn": endereço no
    Messenger, canal de comunicação para troca de e-mails e conversas instantâneas
    online.
  • 35
    Com exceção do depoimento transcrito a seguir, todos os outros foram "traduzidos" para o português coloquial.
  • 36
    BOURDIEU, 1989.
  • 37
    Norbert ELIAS e John SCOTSON, 2000.
  • 38
    BOURDIEU, 1989.
  • 39
    Carta atribuída à "Ana", personagem criado para representar a anorexia, muito difundida na
    Internet e cujo texto ilustra os
    blogs das "pró-anas".
  • 40
    BOURDIEU, 1989.
  • 41
    ELIAS e SCOTSON, 2000.
  • 42
    Howard BECKER, 1963.
  • 43
    Gilberto VELHO, 1999.
  • 44
    IMC é uma medida, de padrão internacional, utilizada pela medicina para avaliar o grau de obesidade no corpo humano. É considerado "normal" o IMC dentro da faixa de 18,5 a 25. Sua fórmula é: peso (Kg) dividido pela altura ao quadrado (m
    2). Fonte: ABESO.
  • 45
    Thinspiration expressão usada para designar fotografias de pessoas magras, com um "corpo ideal", em geral, modelos e atrizes. Os
    blogs e páginas pessoais exibem muitas dessas imagens, além de outras com corpos exageradamente magros, muito possivelmente de pessoas com anorexia.
  • 46
    O CORPO que eles desejam... não é o que elas querem ter. Revista
    Época, n. 227, 23 set. 2002.
  • 47
    CORDÁS e WEINBERG, 2002, p. 204.
  • 48
    CORDÁS e WEINBERG, 2002, p. 205.
  • 49
    CORDÁS e WEINBERG, 2002, p. 204.
  • 50
    CORDÁS e WEINBERG, 2002, p. 206.
  • 51
    No dicionário
    Wikipedia (link
    http://en.Wikipedia.org/wiki/Goth), é possível encontrar a seguinte descrição para a cultura gótica: "Goth é uma subcultura moderna que primeiro ficou popular durante o início dos anos 80 dentro da cena do gothic-rock, um subgênero do pós-punk. Está associada, caracteristicamente, com gostos 'góticos' em música e vestuário. Os estilos de vestir passam por death rock, punk, era vitoriana, androginia, algumas roupas de estilo renascentista, uma combinação de tudo isto e/ou muitos trajes pretos e maquiagem" (Acesso em 1 fev. 2006). Tradução minha.
  • 52
    E BRETON, 2003.
  • 53
    LE BRETON, 2003.
  • 54
    LE BRETON, 2003, p. 29. Tradução livre do original em francês.
  • 55
    "No último dia 23/9, duas adolescentes fãs de black metal e gothic cometeram suicídio em um subúrbio de Paris, França. [...] As adolescentes eram obcecadas pela morte, só usavam roupas góticas e uma delas tinha um blog em que só falava de sexo e morte. O último registro dela no blog era uma letra do grupo francês de black metal Anorexia Nervosa, chamada Suicide Is Sexy" levando-os a esse tipo de comportamento extremo" (Fonte: Revista
    Rock Brigade, n. 230, 2005).
  • 56
    Lord Byron, a título de curiosidade, faleceu em 1824, vítima de um ataque epilético atribuído, em nossos tempos, como possível conseqüência da anorexia.
  • 57
    PUNKS no jardim-de-infância. Revista
    Época, n. 403, p. 97, 6 fev. 2006.
  • 58
    PUNKS..., p. 97.
  • 59
    PUNKS..., p. 98.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      26 Nov 2007
    • Data do Fascículo
      Ago 2007

    Histórico

    • Recebido
      Fev 2006
    • Aceito
      Nov 2006
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