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Apresentação

ARTIGOS TEMÁTICOS

CORPO, SEXUALIDADE E SAÚDE: POLÍTICAS, DISCURSOS E PRÁTICAS

Apresentação

Luzinete Simões Minella

Universidade Federal de Santa Catarina

Os artigos que integram esta seção abordam distintos aspectos das relações entre corpo, sexualidade e saúde, atualizando o debate através da realização de pesquisas recentes - documentais ou empíricas - realizadas na Argentina, no Brasil e no Chile, merecendo por isso mesmo serem reunidos numa seção à parte. Seus resultados certamente contribuirão tanto para o avanço das discussões teóricas quanto para a elaboração das políticas, na medida em que problematizam os estereótipos que circulam sobre o lesbianismo, a natalidade, a sedução e o erotismo e a educação em saúde.

Inicialmente, Karina Ramacciotti e Adriana Valobra analisam os discursos da literatura médica argentina sobre o lesbianismo, entre 1936 e 1955, destacando a influência de algunas contribuições sobre o tema elaboradas por médicos europeus. Através de uma vasta revisão da literatura que toma como ponto de partida os enfoques de Michel Foucault, Giles Deleuze, Jacques Derrida, Joan Scott e Judith Butler sobre corpo e relações de poder, as autoras examinam a emergência do homosexualismo, bem como as articulações entre masculinidade, feminilidade e homoerotismo, concluindo, dentre outros aspectos, que a homossexualidade feminina foi menos abordada do que a masculina. Além disso, mostram que as reapropriações das teorias médicas européias foram ecléticas, normativas e moralizantes.

Refletindo também sobre o contexto argentino e destacando um período mais recente, Karina Alejandra Felitti discute, em seguida, as medidas que restringiram o planejamento familiar durante o terceiro governo peronista (1973-1976), problematizando os vínculos entre natalidade, soberania e desenvolvimento. Através de análise documental, abrangendo as medidas demográficas adotadas durante o período analisado, a autora reflete sobre o contexto da sua elaboração, assinalando o caráter pró-natalista e protecionista e as preocupações com a defesa da soberania nacional que as nortearam. As repercussões dessas políticas na imprensa e as resistências desencadeadas pelas organizações feministas emergentes constituem aspectos também abordados pela autora.

A análise conclui que o governo analisado, diante do declínio da natalidade, tentou estimulá-la de modo coercitivo, proibindo a venda de contraceptivos e inibindo as informações sobre o tema, destacando a família como a célula básica da sociedade.

No terceiro artigo, Jimena Silva Segovia e Jaime Barrientos Delgado analisam os resultados de uma pesquisa empírica com homens e mulheres adultos sobre a sedução, o erotismo e os roteiros dos encontros sexuais em duas comunidades tradicionais situadas ao Norte do Chile. Fundamentada principalmente na teoria dos scripts - de John Gagnon e William Simon - e inspirada nos achados de Michel Foucault e Herbert Marcuse sobre a regulação das relações amorosas e sobre o corpo, a análise revela a persistência dos modelos desiguais e hierarquizados de relações entre homens e mulheres dos segmentos socioeconômicos mais baixos e aponta para a existência das lentas mudanças observáveis através da adoção de padrões mais flexíveis de relacionamento nos segmentos de maior poder econômico.

O artigo posterior também recorre à pesquisa empírica para analisar os impactos das políticas de educação em saúde voltadas para o corpo feminino. Através de um enfoque que estabelece conexões entre a perspectiva de gênero, os Estudos Culturais e os achados de Michel Foucault sobre a biopolítica de população, as autoras - Fabiane Ferreira da Silva e Paula Regina Costa Ribeiro - tentam compreender esses impactos mediante a análise das narrativas de catadoras de lixo que integram uma determinada associação solidária.

Utilizando a técnica de grupo focal, o estudo explora o modo como esses discursos interferem nos corpos, transmitindo costumes, valores, crenças, maneiras de ser e de agir como mulheres com relação aos seus corpos. As conclusões destacam a dimensão reguladora das políticas e a dificuldade de incorporação da multiplicidade de comportamentos.

Finalizando esta seção, o artigo de Suely Teresinha Schmidt Passos de Amorim aborda um tema de algum modo afinado com a educação em saúde, na medida em que analisa os discursos sobre o aleitamento materno que foram veiculados pelas revistas femininas no Brasil, entre 1960 e 1988, destacando dentre elas Cláudia, Pais e Filhos e O Cruzeiro. A análise histórica empreendida pela autora evidencia as especificidades dos diferentes contextos sociopolíticos, ressalta "as mudanças nos discursos dos profissionais de saúde e das instituições oficiais e não-governamentais sobre a alimentação infantil no primeiro ano de vida, especialmente quanto à orientação sobre o tipo de aleitamento a ser ministrado à criança", e chama a atenção para os impactos (não previstos) sobre o cotidiano das mulheres.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    13 Fev 2009
  • Data do Fascículo
    Ago 2008
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