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Paixões desnaturadas? Notas para uma ecologia queer

Unnatural passions: notes for a queer Ecology

Resumos

O presente artigo se propõe a pensar uma perspectiva queer para a ecologia política. Percebendo o heterossexismo como parte da rede opressiva de relações de poder, por meio da qual as relações humanas com a natureza são organizadas, Sandilands preocupase em propor um outro modo de vermos as relações entre natureza, seres humanos e sexualidade. O artigo trata dos primórdios dos movimentos ambientais na América do Norte e das diferentes ideologias que ligam, heteronormativamente, espaços naturais à heterossexualidade e homossexualidade a uma degeneração urbana. Para confrontar essa oposição entre natureza e homossexualidade, vai buscar na literatura e na história do movimento LGBTT (Lésbicas, Gays, Bisexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) na América do Norte inspiração para propor uma ecologia queer; com esse propósito, nos apresenta Zita Grover com sua conexão metafórica entre a "AIDS e outros desmatamentos" como uma das grandes inspirações para essa tarefa. Sua perspectiva ambiental, fundada na experiência dolorosa partilhada por uma comunidade que se encontrou de repente fortemente afetada pela AIDS, possibilita a ela um olhar ecologicamente sensível.

ecologia política queer; ecofeminismo; sexualidade; LGBTT; política sexual


This paper advocates for a queer perspective in political ecology. Understanding heterossexism as part of the oppressive network of relations that organizes the human-nature connections, Sandilands proposes another way to view nature-human-sexuality relations. She tells us about the beginning of the environmental movement in North America and the different heteronormative ideologies that connect natural spaces to heterossexuality while seeing homosexuality as related to an urban degenerescence. She seeks inspiration in LGBT literature and history to confront this opposition of nature and homossexuality to propose a queer ecology. The most inspirational words come from Zita Grover, whose perspective in ecology marked by the painful experience of being affected by AIDS is very sensitive, being able to draw metaphorical connections between AIDS and other ecological concepts.

Queer Political Ecology; Ecofeminism; Sexuality; LGBT; Sexual Politics


SEÇÃO TEMÁTICA ECOFEMINISMO E ECOLOGIAS QUEER

Paixões desnaturadas? Notas para uma ecologia queer1 1 Este texto foi originalmente apresentado no dia 19 de fevereiro de 2004, na Marquette University, por ocasião da Starshak Lecture.

Unnatural passions: notes for a queer Ecology

Catriona Mortimer-Sandilands

York University, Canada

RESUMO

O presente artigo se propõe a pensar uma perspectiva queer para a ecologia política. Percebendo o heterossexismo como parte da rede opressiva de relações de poder, por meio da qual as relações humanas com a natureza são organizadas, Sandilands preocupase em propor um outro modo de vermos as relações entre natureza, seres humanos e sexualidade. O artigo trata dos primórdios dos movimentos ambientais na América do Norte e das diferentes ideologias que ligam, heteronormativamente, espaços naturais à heterossexualidade e homossexualidade a uma degeneração urbana. Para confrontar essa oposição entre natureza e homossexualidade, vai buscar na literatura e na história do movimento LGBTT (Lésbicas, Gays, Bisexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros) na América do Norte inspiração para propor uma ecologia queer; com esse propósito, nos apresenta Zita Grover com sua conexão metafórica entre a "AIDS e outros desmatamentos" como uma das grandes inspirações para essa tarefa. Sua perspectiva ambiental, fundada na experiência dolorosa partilhada por uma comunidade que se encontrou de repente fortemente afetada pela AIDS, possibilita a ela um olhar ecologicamente sensível.

Palavras-chave: ecologia política queer; ecofeminismo; sexualidade; LGBTT; política sexual.

ABSTRACT

This paper advocates for a queer perspective in political ecology. Understanding heterossexism as part of the oppressive network of relations that organizes the human-nature connections, Sandilands proposes another way to view nature-human-sexuality relations. She tells us about the beginning of the environmental movement in North America and the different heteronormative ideologies that connect natural spaces to heterossexuality while seeing homosexuality as related to an urban degenerescence. She seeks inspiration in LGBT literature and history to confront this opposition of nature and homossexuality to propose a queer ecology. The most inspirational words come from Zita Grover, whose perspective in ecology marked by the painful experience of being affected by AIDS is very sensitive, being able to draw metaphorical connections between AIDS and other ecological concepts.

Key words: Queer Political Ecology; Ecofeminism; Sexuality; LGBT; Sexual Politics.

Introduzindo a ecologia queer: da perspectiva ao poder

Na abertura de North Enough, sua memória de 1997, Jan Zita Grover descreve sua mudança de São Francisco para as florestas do norte de Minnesota: "eu não me mudei para Minnesota por causa da floresta", escreve, "Eu só tinha apenas uma ideia vaga do que esse termo significava, quando vi pela primeira vez, no começo da primavera, a bétula, o choupo e o lariço despidos de seus espinhos e folhas. Pensei que elas pareciam doentes".2 2 GROVER, 1997, p. 3. Sendo uma trabalhadora da linha de frente do combate à AIDS, na década de 1980, em uma cidade dizimada pela doença, não é de se surpreender que Grover visse doença por todos os lados. "Eu me mudei pra cá," relata, "para tentar deixar para trás – ou ao menos a uma distância remota – a praga que consumiu minha vida pelos últimos seis anos".3 3 GROVER, 1997, p. 3. Evidentemente, Grover não pode deixar sua praga para trás; ela ainda estava "pesada com o luto e carregada de tristeza".4 4 GROVER, 1997, p. 5. Embora ela tenha se mudado para as florestas do norte com a esperança de achar algum tipo de cura na paisagem natural, uma "cura geográfica" como descreve, logo percebeu que isso não era possível.

A ideia de que uma pessoa pudesse achar inteireza natural nessa paisagem dura, boreal, foi estilhaçada tão logo avistou a vastidão desmatada e a estreita faixa5 5 Nota da tradutora: na América do Norte, essa faixa pequena de árvores, que é normalmente mantida próxima às rodovias, chama-se " idiot strips". de árvores, mantida ao longo da via expressa numa tentativa tola de apagar as cicatrizes da paisagem causadas pela indústria de papel. A história pós-contato com as florestas do norte revela uma região repetidamente marcada por erros e ganância humanos: o cultivo beirava o impossível no solo fino e ácido, e as tentativas, nos anos 20, de drenar o terreno pantanoso resultaram apenas numa dívida incapacitante. A única opção comercial deixada para a região, a extração de madeira, procedia praticamente sem restrição: não havia aqui um paraíso encontrado. Como descreve Grover, "a porção setentrional do meio-oeste [dos Estados Unidos] é um mosaico de uma série de desastres locais, nos quais os sistemas vivos, um dia intactos, foram pilhados pela ignorância, ganância e esperança ilimitada".6 6 GROVER, 1997, p. 142.

Entretanto, foi exatamente em seu definhamento ecológico que essas paisagens machucadas acabaram por ensiná-la. "Em vez de soluções já prontas", Grover escreve que as florestas do norte

me ofereceram um desafio que não esperava, uma disciplina espiritual: para apreciá-las eu devia aprender como ver suas cicatrizes, mutilação e artificialidade, e então aprender a ver além delas, suas forças – sua historicidade, as belezas difíceis que subjazem a suas deformidades.7 7 GROVER, 1997, p. 6.

Nessa paisagem, ela entendeu que seu desafio não era deixar a AIDS para trás, mas reconhecer e aceitar o impacto que ela teve em sua vida; de fato, as ressonâncias duradouras da AIDS lhe permitiram dar resposta ao desafio de amar as florestas do norte, não apesar de, mas por causa de suas feridas. "Ao aprender como amar as florestas do norte, não do jeito que são fantasiadas, mas como realmente são, eu descobri as lições que a AIDS me ensinou e me senti grata por elas".8 8 GROVER, 1997, p. 6.

A conexão metafórica de Grover entre a "AIDS e outros desmatamentos" é, ao mesmo tempo, bonita e dolorosa. Ela descreve, por exemplo, o ato de trocar as ataduras do ferimento da perna, macerada pelo Sarcoma de Kaposi, de uma amiga moribunda: "Aquilo não se parecia com uma perna. Parecia com um solo recém-revolvido, negro e cindido".9 9 GROVER, 1997, p. 23. Mas Grover encontra, no improvável espaço horrífico de sua amiga moribunda, uma apreciação real à plenitude de viver. Ela podia ver, numa ferida purulenta, a beleza aterradora da carne tornando-se solo, e podia também ver, num desmatamento, tanto as devastações da extração capitalista quanto a vivacidade dos pinheiros e choupos

Em seu reconhecimento das formas com que a AIDS influ-enciava sua habilidade de apreciar o ambiente natural ao seu redor, Grover demonstra o que eu chamarei de uma sensibilidade 'ecológica queer'. Por esse nome, quero dizer que ela focaliza dimensões de sua experiência, nascidas na história específica de uma comunidade queer, e usa as ressonâncias emocionais e as ligações conceituais resultantes para viver em natureza, de uma forma que reflete essa experiência queer. Posto de maneira simples: Grover vê a natureza através de olhos queer, e o que ela vê é importante e único. Não estou sugerindo que a AIDS seja uma doença unicamente gay, e nem que a experiência de cuidar de uma pessoa com AIDS automaticamente daria vazão a uma ecologia queer. Mas é evidente que a comunidade queer de São Francisco foi afetada de maneiras particulares pela AIDS, e que esse conjunto de experiências cultivou tipos bastante particulares de percepções sobre vida, morte, corpo e natureza.

Com Grover como minha guia, argumento que realmente existe algo como uma ecologia queer. Essa afirmação não deve parecer uma surpresa para leitoras familiarizadas10 10 Nota da tradutora: faço opção pelo plural no feminino, quebrando a norma do masculino universal, com o intuito de causar um desconforto com o gênero linguístico que possa refletir num questionamento a respeito da manutenção do gênero social. com ecofeminismo ou justiça ambiental. As ecofeministas têm argumentado, por trinta anos, que gênero é um fator significante na moldagem de nossas percepções dos ambientes naturais. Por exemplo, em algumas situações, divisões generadas11 11 Nota da tradutora: para lembrarmos que o que o gênero é construído, opto por traduzir o termo "gendered" por "generadas", seguindo a intuição de que o gênero é um verbo. Sua proximidade ao verbo usual em português 'degenerar', que significa, entre outras coisas, perder as qualidades essenciais ou naturais, mas também possui um uso bastante conectado a uma moral sexual, imprime outra camada de significação ao termo. de trabalho organizam o trabalho de mulheres e homens de forma bastante diferente. Numa comunidade dependente da floresta, na qual companhias madeireiras empregam homens, em sua maioria, para dirigir os pesados equipamentos típicos da extração industrial de madeira, e na qual as mulheres podem trabalhar em indústrias de serviço ou em casa, é bem provável que exista uma diferença entre homens e mulheres em termos de suas percepções cotidianas da floresta. De maneira similar, o movimento de justiça ambiental chamou atenção para o fato de que as ideias sobre a natureza são fortemente racializadas. Por exemplo, numa paisagem segregada, afrodescendentes têm um acesso a 'naturezas' muito diferentes do que têm pessoas brancas, e essa experiência influencia evidentemente os valores ambientais de uma comunidade.

Para as ecofeministas e as ativistas de justiça ambiental, questões de epistemologia estão ligadas inerentemente a questões de poder. Elas argumentam que o sexismo e o racismo são formas sistêmicas de opressão que influenciam negativamente as relações de seres humanos com o mundo natural, e também que ideias e instituições de natureza são locais importantes nos quais o racismo e o sexismo são organizados. Para exemplificar: o movimento nacional de parques, iniciados no final do século XIX, defendia a proteção de áreas de vegetação nativa 'primitiva' contra os avanços dos assentamentos e da extração de recursos. De fato, nós constantemente vemos ativistas dos parques, como John Muir, fundador do Clube Sierra, como progenitores heroicos do movimento ambiental moderno. Porém, temos que notar que parques como o Yelowstone e o Banff são entendidos como o destino de viajantes em recreação, lugares onde a elite pode participar de atividades saudáveis e que levantam o moral, como trilhas e escalad4as. Nessa ligação da preservação com a recreação da elite, nós vemos uma visão de natureza muito específica de classe, raça e gênero sendo imposta à paisagem. Também é importante apontar para o fato de que tanto o Yellowstone quanto o Baff eram 'habitados' quando foram criados: para tornarem-se suficientemente primitivos para viajantes em busca de uma paisagem selvagem e pitoresca, eles foram esvaziados física e legislativamente de suas populações aborígenes.

É sabido que as primeiras pessoas a trabalharem a terra não faziam parte da ideia de natureza que informava o movimento nacional dos parques, e que a instituição do ideal branco de natureza foi uma instância importante da opressão racial. O próprio desejo de parques selvagens, como expressados por Muir, era também racista. O argumento de Muir era de que as cidades do leste, que se industrializavam rapidamente, estavam literalmente poluídas pela presença crescente de imigrantes não europeus, o que criava uma necessidade crescente de espaços 'limpos' para pessoas brancas. No final do século XIX, essas cidades eram também lugares onde o gênero estava transformando-se rapidamente, à medida que mulheres entravam na força de trabalho industrial. Mulheres da classe média começavam a fazer incursões em educação superior e em algumas profissões. Assim, como percebe o historiador Peter Boag, quando Theodore Roosevelt foi eleito, havia uma percepção entre homens brancos norte-americanos de que sua masculinidade estava em risco nas cidades. "Em resposta aos ideais de gênero inconstantes em decorrência das alterações na ordem econômica, homens da classe média e alta encontraram novas formas [...] para definir sua masculinidade".12 12 BOAG, 2003, p. 50. Com Muir e Roosevelt ao leme, tais homens voltaram-se para recreações agressivas na natureza – caça por esporte, montanhismo – como modo de afirmar sua virilidade; assim, os parques acabaram por encorporar13 13 Traduzo o termo embodied pelo neologismo encorporado seguindo Eduardo Viveiros de Castro, visto que nem encarnar nem mesmo incorporar parecem termos adequados. um ideal especificamente masculino de natureza, um que excluía mulheres, a classe operária urbana e não europeias/não europeus. Para citar novamente Boag, "A masculinidade e até mesmo a própria 'raça humana', do jeito que entendiam Roosevelt e outros americanos de classe média e alta de sua era, dependiam de condições ambientais opostas àquelas que a cidade oferecia".14 14 BOAG, 2003, p. 50-51. Dessa forma, os parques eram lugares importantes para ver as operações entrelaçadas de raça, gênero, classe e natureza, e também estavam implicados nas relações sociais de sexualidade. Os parques nasceram 'de' uma visão generada 'na' natureza. Por sua vez, os parques davam suporte e entendiam ideais de masculinidade que eram classe e racialmente situados e apagaram literalmente as populações aborígenes da paisagem, com resultados realmente desastrosos para todas as coisas envolvidas, incluindo a própria natureza.

Voltando abruptamente para o ponto central deste ensaio, o ecofeminismo e a justiça ambiental abrem nossos olhos para o fato de que a natureza organiza e é organizada por relações de poder complexas. O que a ecologia queer adiciona a isso é o fato de que essas relações de poder incluem a sexualidade. Mas o que revela uma análise de questões ambientais baseada numa perspectiva queer? O que significa pensar sobre a natureza como o lugar no qual as relações sociais de sexualidade são colocadas em jogo, e vice-versa? Eu me aproximarei dessas questões de três maneiras diferentes, mas relacionadas. Primeiramente, explorarei algumas conexões históricas que se desenvolveram entre as instituições da sexualidade e as instituições da natureza. Podemos ver – talvez mais obviamente na classificação de corpos gays, lésbicas, bissexuais, transgênero e queer como, de alguma forma, não naturais – que os entendimentos modernos da sexualidade são profundamente influenciados por ideias de natureza historicamente específica. Ligada a essa história conceitual, está a segunda linha de exploração: podemos ver que muitas das formações modernas do espaço natural – incluindo parques e outros espaços naturais designados – estão organizadas por pressuposições prevalecentes sobre sexualidade e, especialmente, por um movimento de institucionalizar a heterossexualidade ao ligá-la a uma prática ambiental particular. Finalmente, eu discutirei como o projeto ecológico queer pode proceder desafiando essas ligações problemáticas entre as relações de poder de sexualidade e natureza. Queers têm, de formas variadas, desafiado o emparelhamento destrutivo de sexualidade e natureza: desenvolvendo um 'discurso reverso' orientado para o desafio dos entendimentos dominantes de nossas 'paixões desnaturadas'; tomando emprestado o pensamento ecológico para desenvolver uma política gay e lésbica radicalmente transformativa; e, como Grover, pegando elementos da experiência queer para construir uma perspectiva ambiental alternativa.

Histórias de sexualidade e ecologia: des/ naturalizando o queer

Talvez o ponto de partida mais importante para esta análise é o fato de que as categorias, por meio das quais nós atualmente entendemos a sexualidade e a identidade sexual, não são 'naturais'. Com isso, eu quero dizer que as categorias gay, lésbica, bissexual, transgênero e queer não estão dadas 'na natureza'. No entanto, como o biólogo Bruce Bagemihl demonstrou, a atividade homoerótica floresce, e sempre floresceu, numa grande variedade de espécies; a forma que predominantemente entendemos a sexualidade, na virada do século XXI, é um artefato localizado em ideias e instituições bastante específicas.15 15 Bruce BAGEMIL, 1999. Em particular, a noção de sexualidade, como parte da identidade de uma pessoa e como a parte da identidade dessa pessoa que pode se assentar em algum fato da biologia, é um desenvolvimento muito recente. Como apontou Michel Foucault, entender "homossexual" como uma categoria distinta de pessoas é um produto único da sociedade vitoriana; anteriormente ao século XIX, havia uma vasta gama de formas de atividades sexuais, mas esses atos sexuais eram – ao menos entre homens – entendidos como ocorrendo potencialmente em qualquer lugar e entre quaisquer pessoas.16 16 FOUCAULT, 1978. Assim, por exemplo, a Marinha britânica tinha uma regra segundo a qual a sodomia era perfeitamente legítima, desde que os marinheiros estivessem no mar por no mínimo seis meses; aqui a sodomia não era algo que acontecia porque um marinheiro "era gay", mas simplesmente uma atividade sexual particular – mesmo que não totalmente respeitável.

O motivo de agora entendermos comumente a sexualidade como uma questão de identidade natural tem muito a ver com a confluência do pensamento biomédico com a regulação social que se desenvolveu durante a última metade do século XIX. Ao mesmo tempo em que a ciência biológica criava um entendimento das categorias de espécie baseadas na posse de certos traços, a ciência médica estava desenvolvendo uma categorização de traços sexuais com o intuito de explicar o comportamento sexual como parte da vida biológica da espécie humana. O nascer do pensamento evolucionário definiu uma narrativa biológica que teve uma influência grande nas pesquisas médicas sobre sexualidade; eram particularmente importantes as ideias de seleção sexual e aptidão reprodutiva, nas quais a sobrevivência da espécie era entendida como dependente do encontro entre reprodutores mais fortes e melhores. Nessa narrativa, a heterossexualidade foi entendida, pela primeira vez na história, como uma categoria distinta da prática sexual, a naturalidade solidificada por sua oposição às identidades chamadas de desviantes, aquelas que não se encaixavam numa narrativa evolucionária. Para Darwin, somente a corte e o acasalamento heterossexual poderia ser 'natural' porque era a reprodução que permitia à espécie continuar; apesar de evidências esmagadoras sugerirem que o homoerotismo estava por todo lugar na natureza, o pensamento evolucionário acabou por defini-lo como aberrante.

Na medicina, a homossexualidade era classificada como uma 'doença' (oposta ao pecado), como uma patologia que se focava no indivíduo sexualizado e não no ato sexual. Como nota Foucault, a medicina moderna nos levou das regulações dos atos sexuais para a organização e o 'tratamento' das identidades sexuais; onde poderia ter havido mulheres que faziam sexo com mulheres (apesar de as/os vitorianas/os não reconhecerem isso), agora havia portadores formais de categorias sexuais – 'invertidas', 'tribades' e 'lésbicas' – cujas atividades sexuais com outras mulheres poderiam ser ligadas a alguma falha biológica básica. Em resumo, no final do século XIX, a sexualidade tornou-se naturalizada; os desejos sexuais de um indivíduo eram recodificados como expressões de uma condição inerentemente sexual, e essa condição era entendida em termos fortemente biológicos. Mas existe um paradoxo interessante aqui: a homossexualidade era simultaneamente naturalizada e considerada 'desnaturada', desviante de uma sexualidade primária e normativa.

Existem muitas coisas importantes a serem ditas sobre esse processo. Em primeiro lugar, não apenas as ideias de natureza eram instrumentais na regulação social da sexualidade, mas a heterossexualidade passou a ser o paradigma sexual para ideias de evolução e ecologia. A reprodução sexual era a única forma de atividade sexual que levava diretamente a continuação da espécie de uma geração a outra; assim, logicamente, outras atividades sexuais devem ser ou aberrantes, ou, no máximo, indiretamente parte do processo reprodutivo heterossexual. Rituais de dança17 17 Nota da tradutora: a autora fala de ' preening ritual' que, ao pé da letra, é uma atividade de higiene, de limpar as penas com o bico. Mas, devido à complementação, acredito que ela esteja referindose ao ritual conhecido como ' lek', que são os círculos de dança em que machos de algumas espécies de pássaros, dentre eles os galosda-serra, se engajam. O ' lek' é vulgarmente definido como uma arena ou dança para o acasalamento, mas a autora sugere que isso seja uma projeção heterossexista do olhar da biologia. entre os galos-da-serra eram lidos apenas como uma competição pela atração feminina e não 'como' uma atividade homoerótica entre dois machos. Mesmo hoje, algumas/alguns psicólogas/os evolucionárias/os se amarram em nós tentando explicar a significação reprodutiva da atividade sexual prolífica entre indivíduos do mesmo sexo18 18 Nota da tradutora: aqui ela usa ' same-gender'. que ocorre regulamente entre bonobos fêmeas.19 19 Paul VASEY, 2000, p. 35-36.

A ciência da ecologia foi fortemente influenciada por essa narrativa evolucionária. A lógica é a seguinte: se a habilidade de uma espécie de sobreviver em seu ambiente é ligada a sua aptidão reprodutiva, então os ambientes 'saudáveis' são aqueles nos quais tal atividade heterossexual floresce. Obviamente, essa linha de pensamento não era consenso total, guiada mais por pressupostos heterossexistas do que por um entendimento complexo das relações sociais diversas que ocorrem em várias espécies animais. Mas teve consequências infelizes. Em um caso, ecologistas bem-intencionadas/os, convencidas/os da patologia evolucionária do erotismo de mesmo sexo, argumentaram que a presença generalizada de atividade aparente lésbica entre gaivotas num local particular deve ser evidência de uma grande catástrofe ambiental.20 20 Martin SILVERSTONE, 2000, p. 6. Com certeza não era o caso: o mundo está cheio de gaivotas lésbicas. Esse tipo de posição ambiental repro-cêntrica permanece dominante; de fato, também foi usada para argumentar que a prevalência contemporânea de indivíduos transgêneros (humanos ou outros) deve ter por trás um evento ou processo contaminante. A pressuposição de que a heterossexualidade é a única forma natural de sexualidade evidentemente não é uma referência apropriada para a pesquisa ecológica, não importa o quanto se queira levantar indicadores de poluição baseados no comportamento animal ou outra mudança ambiental. Ainda, mesmo em argumentos ambientais sobre a destruição causada pelo crescimento populacional humano, o paradigma da heterossexualidade 'natural' sobrepõe o fato óbvio de que existem várias opções sexuais não reprodutivas por aí.

Em primeiro lugar, temos uma situação na qual a sexualidade é biologizada em categorias normativas naturalizadas; e o pensamento evolucionário e ecológico em desenvolvimento está influenciado por um paradigma fortemente heterossexista. Em segundo lugar, não foi apenas a evolução que se codificou heterossexualmente durante esse período. Enquanto o final do século XIX viu o surgimento tanto dos entendimentos modernos de sexualidade quanto das ideias evolucionárias da saúde da espécie, incluindo a saúde humana, ele também viu os primórdios do ambientalismo moderno e, em especial, as políticas de preservação da natureza e enverdecimento urbano.

Ambientes queer: a política sexual de espaços naturais

Aqui eu gostaria de voltar nossa atenção para longe da ecologia como ciência, em direção ao ambientalismo como uma política do espaço natural, na qual a sexualidade também teve influências interessantes. De fato, os valores sexuais representados em lutas sobre espaço tiveram uma influência tão forte sobre o ambientalismo quanto aquelas profundamente envolvidas na ciência da ecologia. Apesar de haver muitas histórias que eu possa contar, o que eu gostaria de falar, brevemente, é sobre o fato que mencionei em minha discussão dos parques nacionais no início deste texto. Reiterando: nessa primeira encarnação, o ambientalismo norte-americano emergiu como uma resposta ao surgimento de cidades industriais. Como argumentei, ambientes selvagens e rurais passaram a ser valorizados como lugares a serem preservados 'longe' das influências corruptas da modernidade urbana industrial. Além disso, o cultivo de espaços 'naturais' dentro das cidades, incluindo parques urbanos como o Central Park em Nova Iorque, foi concebido como uma forma de trazer saúde e moralidade para as/os habitantes da cidade. A natureza era, aqui, um espaço de intensiva regulação moral; dada a associação crescente da sexualidade com imagens de natureza, o sexo tornou-se um elemento-chave na organização da natureza como espaço regulador.

O Movimento de Parques, como eu mencionei, nasceu parcialmente do desejo de facilitar práticas recreativas que restaurassem as virtudes masculinas que se encontravam ameaçadas. Óbvio que esse desejo também foi implantado na pressuposição de que as cidades eram lugares de uma degenerescência moral particular, associada à homossexualidade. Pensadores médicos do final do século XIX chegaram a acreditar que as condições ambientais de grandes centros urbanos realmente cultivavam a homossexualidade, particularmente devido a uma ideia de que a homossexualidade era um tipo de doença. Várias explicações eram oferecidas para essa suposta degeneração moral urbana: o pensamento de que o trabalho que os homens faziam nas cidades não mais os trazia para um contato próximo e honrado com a natureza; a crença racista de que a homossexualidade estava associada a populações 'imigrantes'; e a crescente noção de que a homossexualidade pudesse ter causas ambientais. Para citar Boag, na mente de algumas/alguns médicas/os vitorianas/os "a poluição, alimentos contaminados e até mesmo a natureza rápida da vida urbana induziam" à homossexualidade.21 21 BOAG, 2003, p. 49. Em resposta, a criação de remotos espaços selvagens recreativos e a demarcação de espaços verdes 'saudáveis' dentro da cidade eram entendidas parcialmente como um antídoto terapêutico para as devastações sociais da homossexualidade afeminada.

A construção conjunta de sexo e natureza é bastante complexa; apesar de não entrar nisso aqui, está fortemente atada a ideias modernas de nacionalismo, tanto nos Estados Unidos quanto no Canadá. Mas existem dois conjuntos de ideias que eu gostaria de abandonar. Primeiro, existe a pressuposição de que a homossexualidade é um produto urbano, e que os espaços rurais e selvagens são, de certa forma, 'livres' da 'mácula' da atividade homoerótica. De fato, nada poderia estar mais longe da verdade. Ao final do século XIX, entrando no século XX, os desertos selvagens do oeste eram um espaço fortemente dominado por comunidades de homens. Estes homens – garimpeiros, vaqueiros, rancheiros – como os marinheiros britânicos no mar por mais de seis meses, frequentemente envolviam-se em atividades homossexuais. De fato, se a pesquisa do sexólogo Alfred Kinsey estiver correta, havia, no século XIX, 'mais' atividade sexual de mesmo-sexo na remota natureza selvagem do que nas cidades.

Como sugeri anteriormente, tais homens não eram entendidos como 'homossexuais'. Para citar Kinsey, "eram homens que enfrentavam os rigores da natureza num ambiente selvagem […] tal pano de fundo alimenta a atitude de que sexo é sexo, independente da natureza da/o parceira/o com quem se tem a relação".22 22 Citado em BOAG, 2003, p. 52. Foi apenas a partir do momento em que a homossexualidade passou a ser entendida como uma identidade inerente e baseada na biologia que passou a ser entendida como uma doença e localizada na 'artificialidade' das cidades. Certamenteas cidades tornaram mais fácil o contato homoerótico anônimo entre homens interessados. Além disso, cidades de porte como Nova Iorque e São Francisco tornaram-se, eventualmente, lugares muito importantes para homens homossexuais criarem espaço para suas inexperientes comunidades sexuais. Mas eram a crescente 'visibilidade' dessas comunidades e a crescente associação da homossexualidade com a artificialidade que ligavam o homossexual ao urbano, e não uma presença homoerótica maior. Simplificando, foi apenas quando o homossexual tornou-se urbano que ele tornou-se 'desnaturado'; as crescentes críticas ambientais da artificialidade das cidades foram instrumentais na moldagem das ideias a respeito da artificialidade de queers.

A ligação de homossexualidade e cidades era aqui um produto evidente da ideologia, mas essa ideologia teve um impacto material enorme tanto em queers quanto nos espaços naturais. A pressuposição prevalecente de que as comunidades queer são essencialmente urbanas teve o efeito de apagar a presença atual de gays e lésbicas rurais, cujas vidas podem não parecer tanto com as de Christopher Street.23 23 Christopher Street é uma rua no West Village, em Manhattan, onde fica o Stonewall Inn, palco da Revolta de Stonewall, em 1970 – grande marco na história do movimento por direitos civis LGBTT nos EUA. Esse apagamento contribuiu para a fuga de queers rurais de suas casas para encontrar 'verdadeiras' comunidades nas cidades, para a formação de guetos da cultura queer e para a pressuposição bem difundida de que espaços rurais são inerentemente hostis a pessoas queer. Apesar de não podermos esquecer Brandon Teena e Mathew Shepard,24 24 Mathew Sheppard e Brandon Teena foram duas pessoas vitimadas pela violência homo e transfóbica no interior dos EUA. A história de Brandon Teena foi narrada em alguns filmes, inclusive o holywoodiano "'Garotos não Choram". é evidente que os espaços urbanos são muito mais perigosos para nós que espaços rurais. Além disso, esses processos espaciais também afetaram nossos espaços de 'natureza'. Em um dos extremos do espectro, vemos a concentração física de gays e lésbicas em vizinhanças urbanas particulares; seus padrões distintos e diversos de comunidade 'organizam' a natureza urbana de jeitos particulares. Menos conhecido, no entanto, é o fato de que o heterossexismo, em paisagens rurais, fisicamente moldou a aparência da natureza rural.

As naturezas recreativa e rural são materiais marcados pelo heterossexismo. Na primeira categoria, espaços como os parques nacionais claramente portam as marcas desenvolvimentistas de ideias específicas da natureza generada e sexualizada. Para um pequeno exemplo, pense em locais públicos para acampamento. Principalmente depois dos anos 1950, muitos locais de acampamento foram desenhados intencionalmente para parecerem cul-de-sac suburbanos, cada acampamento evidentemente desenhado para uma família nuclear e todo acampamento ocorrendo em lugares 'privados' designados, longe das atividades recreativas 'públicas' como nadar, fazer trilha e subir montanha. As árvores eram cortadas num padrão que escondia as/os campistas umas/uns das/os outras/os, mas não tiravam a visão da pista ou da trilha, para que os patrulheiros ou guardiães ainda pudessem vigiar e se assegurar de que nada ilegal (como a sodomia) estava acontecendo.

Para outro exemplo mais antigo, considere o assentamento de boa parte do estado do Oregon. Em meados do século XIX, o Ato de Doação de Terras (DLA) encorajava um padrão de colonização heterossexual devido à forma que a terra era parcelada e distribuída às/aos colonas/os. "Um homem branco na faixa dos 21 ou mais velho [...] recebia uma parcela de 160 acres e um adicional de 160 acres para sua mulher."25 25 John D'EMILIO e Estelle FREEDMAN, 1988, p. 122. Mulheres solteiras não eram candidatas ao loteamento, e isso estava evidente na vantagem que os homens apresentavam de poder receber as duas parcelas; então "garotas muito jovens de repente se tornavam casáveis, e logo se tornavam esposas".26 26 KATZ, 1983, p. 43. Por causa do tamanho maior desses loteamentos, comparativamente, e da popularidade do programa, não apenas a DLA encorajou o casamento heterossexual ao longo do assentamento do oeste, mas impôs na terra uma cultura monolítica de lotes simples do tamanho de uma família heterossexual, com efeitos significativos na história econômica e ambiental da região, desde padrões de cultivo da terra baseado no modelo de família nucleares, a inibição do desenvolvimento urbano até o aumento da florestação.

Como resultado da associação de queers degenerados com as paisagens urbanas, e da vida familiar heterossexual com as paisagens rurais e selvagens, desenvolveuse, no século XIX, a ideia de que a natureza é um lugar privilegiado para desenvolver-se uma aptidão física e moral. Com o uso hetero-masculino do ambiente selvagem na virada do século – que, incidentalmente, também viu o surgimento de organizações como os Escoteiros – podemos ver os antecedentes de como a natureza era usada, durante a Grande Depressão e na II Guerra Mundial, como um lugar para cultivo de um ideal 'disciplinar' rígido do macho-hetero. Nos Estados Unidos, por exemplo, organizações como a Civilian Conservation Corps ofereciam a jovens rapazes desempregados trabalhos físico e moralmente saudáveis em ambientes selvagens. Aparentemente sob risco de degenerescência nas cidades, tais jovens eram locados em campos distantes de centros urbanos e, entre 1933 e 1942, de maneira extenuante, "instalaram 89.000 milhas de linha telefônica, construíram 126.000 milhas de estradas e trilhos, construíram milhões de barragens para controle de erosão, plantaram 1,3 bilhão de árvores, erigiram 3.470 torres de água e gastaram mais de 6 milhões de horas apagando incêndios florestais".27 27 Bryant SIMON, 2003, p. 80-81. Todos esses desenvolvimentos, apesar de serem necessidades infraestruturais de paisagens particulares, eram marcas de um desejo nacional por um tipo particular de homem.

Dentro das cidades, também, a ideia de natureza como um espaço para o cultivo disciplinado da virtude teve um componente sexual importante. Para seus criadores, todos de certa forma em débito com Frederick Law Olmsted – o arquiteto do Central Park –, os parques urbanos eram desenvolvidos dentro das cidades não apenas para dar aos habitantes urbanos um espaço público verde para recreação e reunião, mas também alguns tipos de atividade eram explicitamente 'designadas para' essas paisagens. Dado o apego da aptidão moral à física, demonstrado por organizações como a CCC e os Escoteiros, instalações desportivas, como campos de jogar bola, eram importantes no desenvolvimento de parques urbanos. Além disso, havia um sentido evidente no projeto de Olmsted de que os parques eram lugares para ver e ser visto; eles eram lugares para espetáculo público de um tipo particular, incluindo a notável manifestação de respeitabilidade e riqueza da classe média. Os parques eram lugares de cultivo público de cidadãos honestos; eles eram então reivindicados como lugares de contato sexual regulado, nos quais os casais heterossexuais em corte podiam 'se encontrar' num espaço aberto, que era tanto moralmente orientado e, dada sua visibilidade, altamente disciplinado. Como escreve o geógrafo Gordon Brent Ingram,

muitos dos parques centrais de cidades na América do Norte e Europa foram inicialmente estabelecidos ou redesenhados no final do século XIX com a ênfase no passeio público, no olhar masculino, na supressão do contato sexual público, nos esportes grupais como meios de elevar a moralidade da classe operária. Tais parques públicos foram originalmente programados para ocasionais demonstrações visíveis do desejo, corte e conquista heterossexuais.28 28 INGRAM, 1997b, p. 102.

O desenho dos parques urbanos estava explicitamente organizado em volta da intenção de desencorajar outras expressões de sexualidade, que não aquelas normalmente sancionadas na visão pública; moral e psiquicamente sancionada, a corte heterossexual era, por sua vez, construída na paisagem com a localização estratégica de tais instalações visíveis e apropriadas para pares, como coretos e bancos para estimular os passeios e encontros românticos.

Queerizando uma política ecológica

A seção final deste artigo dirige nossa atenção para longe das formas segundo as quais a sexualidade e a ecologia têm sido ligadas como relações de poder com influência negativa (mesmo que ainda produtiva) tanto para queers quanto para a natureza, e em direção às formas nas quais uma perspectiva queer nos oferece um ponto de vista único para 'resistir' a essas relações destrutivas. Tendo dito isso, se eu fosse julgar apenas a partir de shows de televisão como Will and Grace, Queer as Folk e Queer Eye for the Straight Guy, dificilmente identificaria queers como os melhores fiscais da natureza que existem no mundo. Muito pelo contrário. A cultura gay no mainstream – que em todos esses shows aparece representada por homens brancos urbanos e influentes – é extraordinariamente ligada a um estilo de vida de consumismo. Como escreve Andil Gosine, "de acordo com a história, gays compram. Gays urbanos vivem em apartamentos de condomínio chiques, compram muitos produtos para o cabelo e para o cuidado do corpo, [e] têm ótimo gosto para carros, roupas e design de interiores".29 29 GOSINE, 2001, p. 35. Apesar de podermos nos sentir tentados/as a celebrar uma crescente aceitação de queers nesses shows, penso que é apenas uma faixa bem estreita da queeridade – aquela porção ligada à troca fetichista de mercadorias estéticas – que acaba sendo 'aceitável'. Queers são 'ok' não porque são queer, mas porque são consumidores exemplares numa sociedade que julga a todos por sua habilidade de consumir. Note-se que pessoas queer da classe operária, lésbicas de baixa renda ou antiestéticas, e gays mais velhos, mais doentes ou até mesmo HIV positivo, não são os sujeitos ideais de Will and Grace.

Não apenas essa faixa de aceitação norte-americana da cultura queer é muito estreita, mas também o processo político mainstream no qual queers lutam para serem 'aceitos' na sociedade de consumo limita o escopo total de potencial político nas comunidades queers. Por exemplo, nossa busca como queers por uma forma familiar "igual ao casamento heterossexual" parece, para mim, enfraquecer o potencial crítico inerente no fato de queers desenvolverem formas alternativas de família que não necessariamente replicam todos os problemas da heterossexualidade legal e nuclear, apesar de que estaria mentindo se não dissesse que fiquei tocada pela legalização canadense do casamento entre pessoas de mesmo sexo. Para citar Tony Kushner, "é inteiramente concebível que nós iremos, um dia, viver miseravelmente em um mundo completamente devastado no qual lésbicas e gays possam casar-se e servir abertamente no exército".30 30 Citado em GOSINE, 2001, p. 35. Meu argumento é, então, de que devemos reorientar nossas políticas e começar a lidar com o que estou chamando de uma perspectiva ecológica queer, para trabalhar em direção a possibilidades mais sensivelmente críticas aos tipos de relações complexas de poder que venho delineando. Aqui, defendo uma posição não apenas de queerizar a ecologia, mas de enverdecer as políticas queer.

Apesar de ser verdade que o pareamento hegemônico da heterossexualidade e da ecologia teve um impacto tanto em queers quanto na natureza, o fato é que queers também usaram ideias de natureza e de espaço natural como lugares de resistência. Talvez mais proeminentemente, muitos escritores queer apontaram para o fato de que existe uma longa tradição, desde a Grécia Antiga, de uma ligação positiva entre o erotismo de mesmo sexo e ambientes rurais ou selvagens. Fazendo amplamente parte de uma tradição literária 'pastoral', que data de Teócrito e Virgílio, e continua através de escritores como Walt Whitman e Henry David Thoreau, escritores gays contemporâneos enfatizam que cenários naturais têm sido importantes locais para a exploração da homossexualidade masculina 'como' uma prática natural. Espaços rurais, em particular, têm servido a uma vasta gama de literaturas, como espaço de liberdade para encontros homoeróticos masculinos. Além disso, por causa da associação da natureza a ideias de inocência e autenticidade, escritores gays puderam usar as convenções literárias pastorais de forma a argumentar pela autenticidade da homossexualidade. Esse 'pastoralismo homófilo', como enfatiza o crítico literário David Shuttleton, não foi apenas usado por escritores como Andre Gide para fazer afirmações políticas para igualdade gay com base na naturalidade da homossexualidade, mas foi também utilizado para desafiar a própria ideia da naturalidade da heterossexualidade.31 31 SHUTTLETON, 2000.

Brevemente, em sua obra Corydon: quatro diálogos socráticos, Gide nos conta uma história baseada no poema do terceiro século a.C., escrito por Teócrito, Os idílios, no qual os pastores não apenas se envolvem num amor de mesmo sexo, mas refletiam juntos sobre mistérios de fazer amor com garotas. O jovem pastor é uma figura pastoral típica; ele está próximo à natureza em seu trabalho cotidiano e está quase que completamente na companhia de outros homens jovens, com quem se envolve não apenas nos prazeres imediatos da carne, mas também no diálogo reflexivo que está associado a passagens desses jovens rapazes de um estado de inocência natural e juvenil para a masculinidade socializada. A questão-chave aqui é que a paixão de mesmo sexo está associada a essa inocência natural, e o erotismo de sexo oposto é a coisa que precisa ser 'aprendida' para entrar na ordem social adulta. O que temos é um 'discurso reverso' que emparelha natureza com o homoerótico e artificialidade com o heteroerótico; contra uma suposição da heterossexualidade natural, Gide efetivamente coloca a heterossexualidade como a prática normativa 'dentro' da qual os jovens pastores devem ser disciplinados. Como escreve Shuttleton, "Gide lança um argumento transgressivamente contraintuitivo de que é esta heterossexualidade compulsória que é construída e inautêntica, uma vez que precisa ser ensinada e mantida culturalmente".32 32 SHUTTLETON, 2000, p. 134.

Com base numa tradição similar, os gays nas cidades modernas, frequentemente, têm feito uso de espaços verdes urbanos como lugares tanto de contato sexual individual quanto de ativismo orientado para comunidade. Ironicamente, foi exatamente naqueles parques, usualmente desenhados para desencorajar atividade homossexual, que os gays acharam e criaram um tipo de comunidade sexual que novamente emparelha natureza e homoerotismo de maneira positiva. Aqui há pelo menos dois elementos importantes a considerar. Em primeiro lugar, o que é significativo com respeito ao sexo público em parques é que é ele 'público', significando que ele abertamente desafia os entendimentos heteronormativos do que é um comportamento 'apropriado' para espaços públicos, naturais. Devemos lembrar que parques públicos são espaços disciplinares, nos quais uma estreita faixa de atividades é sancionada, praticada e experimentada; apenas alguns tipos de experiências com a natureza são permitidos oficialmente. Nesse contexto, pode-se considerar sexo gay público como um tipo de democratização do espaço natural, na qual diferentes comunidades podem experimentar o parque em seus próprios modos, e na qual uma vasta gama de experiências naturais passa a ser possível. De acordo com relato de um encontro sexual no Parque Queen (sem intenção de fazer piada) por um frequentador de parques públicos em Toronto,

Eu ficava ali porque eu amo tempestades, amo ver a natureza em sua violência... nós nos curtimos muito, e óbvio que a chuva varreu tudo e estávamos todos molhados tendo só aquelas roupas encharcadas para vestir. Mas foi gostoso... eu amo momentos espontâneos, selvagens como esse... a gente fica doido e é animal!33 33 John GRUBE, 1997.

Evidentemente, sexo selvagem em um parque público debaixo de tempestade está bem distante dos rituais de corte expressados nos passeios formais de Olmsted. Apesar de ser importante apontar que o sexo no parque é em si mesmo controverso, parece que a reapropriação por parte de gays desses espaços naturais de fato abre uma percepção alternativa e crítica da natureza urbana. Tal percepção instigou as comunidades queer a fazer ações ambientais; para dar um exemplo, logo depois das revoltas de Stonewall, em Nova Yorque, 1969, Kew Gardens, uma área de passagem popular no Queens, foi bastante destruída pelo corte extensivo de árvores. "Em uma semana... aconteceram ações públicas e o primeiro grupo gay ambiental, Trees for Queens,34 34 Nota da tradutora: Árvores para Queens – o nome do grupo joga com duas referências para a palavra " Queens": o próprio nome do bairro onde se localiza o par-que, e uma palavra para se referir a homossexuais masculinos. foi formado para restaurar o parque".35 35 INGRAM, 1997a.

Podem-se ver padrões diferentes, mas relacionados, de resistência ao pareamento entre heterossexualidade e natureza quando nos voltamos para a comunidade lésbica. Como sua contraparte masculina, mas com uma política de gênero bastante diferente, as autoras lésbicas também usaram as tradições literárias pastorais para desenvolver um 'discurso reverso' que propõe a naturalidade das relações amorosas de mesmo sexo. Essas literaturas pastorais lesbianas têm uma história que se estende para lá do século XIX, por exemplo, nos escritos de autoras como Sarah Orne Jewett e Willa Carther. No começo do século XX, Radclyffe Hall fez largo uso das convenções pastorais em The Well of Loneliness para pintar um retrato de sua protagonista de gênero invertido, Stepehen Gordon, no qual a identidade de Stephen era bastante natural e moralmente positiva. O problema para Stephen não era sua 'natureza'; era o heterossexismo artificial e a intolerância social que lhe cercavam enquanto ela entrava na vida adulta.

Mais recentemente, autoras lésbicas conscientemente tomaram a ideia de que mulheres em relações lesbianas podem experimentar a natureza de forma diferente, e possivelmente mais positivamente do que é o caso dentro do cerco da heterossexualidade compulsória. Mais obviamente, feministas lesbianas conectaram conscientemente uma política feminista radical com uma política ecológica radical. Nos anos 1970 e 1980, por exemplo, escritoras de utopias e ficção científica, como Sally Miller Gearhart, abertamente ligavam a destruição da natureza a instituições patriarcais e heterossexistas. Em seu romance de 1979, The Wanderground, Gearhart imaginou um mundo em que mulheres, livres da influência opressiva dos homens, podiam viver juntas em relações sexuais políginas num mundo rural ativamente e intencionalmente separado das cidades destrutivas dominadas por homens. Nesse mundo centrado nas mulheres, elas eram mais capazes de encontrar relações eróticas e sociais mais ricas entre si, e relações eróticas e sociais mais ricas com seu ambiente natural: tudo aquilo que era ativamente impedido na sociedade heterossexual e patriarcal. Desse modo, tais novelas criticavam ativamente a heteronormatividade, argumentando não apenas que a heterossexualidade não é natural, mas que é destrutiva tanto para mulheres quanto para a natureza; aqui temos uma narrativa que reverte a ideia da homossexualidade como uma doença urbana e, em vez disso, afirma que o heterossexismo é a enfermidade urbana à qual lésbicas devem responder. Em um ambiente mais saudável, organizado de acordo com normas homossociais e homoeróticas, mulheres poderiam criar uma conexão mais profunda entre si e com a natureza. Apesar do que quer que possa ser dito sobre o essencialismo de tais entendimentos de uma conexão 'natural' entre mulher/natureza, é óbvio que o pareamento transgressivo entre as políticas ecológicas e lesbo-feministas coloca um desafio significante à pressuposição global de que a hete-rossexualidade não só é natural, mas também boa para a natureza.

Influenciadas por essas correntes literárias, algumas mulheres começaram, nos anos 1970, a desenvolver comunidades baseadas na combinação de políticas ecológicas e de separatismo lesbiano. Comunidades como o Womanshare Collective no sul do Oregon foram fundadas de acordo com a ideia de que a natureza rural era um conjunto privilegiado de espaços no qual mulheres podiam achar "na beleza curadora da natureza [...] um espaço seguro para viver, trabalhar, para ajudar a criar a cultura das mulheres que [elas] sonharam".36 36 SANDILANDS, 2002. Essas "terras de mulheres" tinham objetivos ecológicos complexos, variando desde o objetivo de abrir as paisagens rurais para mulheres ao transformar as relações heterossexuais de propriedade, passando pelo objetivo de retirar a terra da produção e reprodução patriarcalcapitalista, até o de reinscrever simbolicamente a terra com a presença erótica lesbiana. Se muitas dessas comunidades desapareceram, algumas ainda estão aí, como exemplos vivos de como é viver intencionalmente a vida como uma ecologista lesbiana. Para citar uma moradora: "A terra das mulheres, terra lésbica... [é] a terra que as mulheres compraram e estão vivendo nela [como lésbicas]. Destina-se a servir às lésbicas, não apenas àquelas que vivem aqui, destina-se a ser cada vez mais a terra das lésbicas [...] mudar-se para o interior amplia o que é ser lésbica."37 37 SANDILANDS, 2002, p. 142.

Tenho que apontar para uma deliciosa ironia: o Estado do Oregon contém uma concentração particularmente alta de terras separatistas de mulheres. Como descrevi anteriormente, este Estado, no século XIX, era organizado de maneira particularmente heterossexual por causa do privilégio que a DLA dava a famílias heterossexuais em suas práticas de loteamento. E porque essa estratégia de loteamento teve, entre outras cosias, o efeito em longo prazo de desencorajar o desenvolvimento de cidades, no final do século XX, vemos, mesmo no corredor interestadual, assentamentos muito esparsos e um preço relativamente baixo da terra. Ambos os fatores ajudaram a criar um ambiente ideal para as comunidades lesbianas. Dessa forma, é especialmente necessário dizer que as separatistas lesbianas do Oregon retiraram suas terras de formas heterossexuais de habitação, e criaram nelas um espaço que pode ser libertador tanto para límbicas quanto para outras espécies.

Conclusões

Essas histórias certamente não ilustram a vasta gama das políticas ecológicas queer, passadas ou presentes. Não discuti as conversas entre ecologia queer e ecofeminismo que Greta Gaard começou em seu artigo de 1994 "Toward a Queer Ecofeminism";38 38 GAARD, 1997. não discuti o fato de que a liberação, o erotismo e o desejo físico têm desempenhado um forte papel em muitos movimentos ambientais históricos e contemporâneos;39 39 Veja SANDILANDS, 2001. nem mesmo comecei a considerar as formas pelas quais as experiências de indivíduos transgêneros colocam em questão as inter-relações entre sexualidades, naturezas, identidades de gênero e corpos. Posso até ter dado a impressão de que as políticas ecológicas de gays são sobre sexo na natureza, e ecologias lésbicas sobre libertação da natureza, ao apontar para culturas lésbicas de sexo público e para comunidades gays de "radical faerie";

O que espero ter feito é ilustrar que não apenas o heterossexismo é parte da rede opressiva de relações de poder, através da qual as relações humanas com a natureza são organizadas, mas também que queers fizeram manobras ecológicas interessantes para desafiar algumas dessas relações. Nem todas nós estamos contentes em praticar nossa política sexual em círculos estreitos oferecidos a nós pelo consumismo e outras agendas mainstream; algumas de nós gostam de pensar que queers podem ter um conjunto diverso e interessante de experiências a partir do qual se pode desenvolver uma política mais crítica e mais ecológica. Assim, neste fechamento, volto-me a Zita Grover. A obra de Grover está longe de ser uma visão utópica separatista lesbiana, mas é, para mim, uma ecologia queer particularmente inspiradora. Para ela, uma perspectiva ambiental fundada na experiência dolorosa de uma comunidade gay lhe permite ver e achar beleza numa paisagem natural devastada nas visões dos outros, para quem sua beleza é apenas uma questão de extrair recursos. Ela está bastante atenta para as devastações tanto da AIDS quanto do desmatamento; de fato, sua experiência de cuidado com uma pessoa com AIDS lhe permitiu uma visão especialmente íntima da similaridade entre as duas. Mas seu ponto de vista não apenas deu-lhe a habilidade metafórica de ver, na perna doente e na madeira queimada, a mesma possibilidade de vida e beleza a continuarem. Ele também lhe ensinou responsabilidade: na comunidade gay de São Francisco, eram frequentemente lésbicas e outros membros da comunidade 'escolhidos', e não a família biológica, que assumiam a difícil tarefa de cuidar das pessoas à beira da morte. Assim, a ecologia queer de Grover é sobre ver a beleza nas feridas do mundo e também sobre responsabilizar-se por cuidar do mundo como ele está. Deixo a ela as últimas palavras: "Nós assumimos responsabilidade por um lugar quando podemos olhar tanto para trás, para o fardo de sua história, quanto para frente, para nossa responsabilidade e a parte que desempenha em seu futuro que jaz sobre o controle humano."

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[Recebido em agosto de 2010 e aceito para publicação em dezembro de 2010]

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  • VASEY, Paul. "Kama Sutra Primates." Equinox, n. 110, 2000. p. 35-36.
  • 40
    posso assegurar que este não é o caso.
  • 41
    Referências bibliográficas
  • 1
    Este texto foi originalmente apresentado no dia 19 de fevereiro de 2004, na Marquette University, por ocasião da
    Starshak Lecture.
  • 2
    GROVER, 1997, p. 3.
  • 3
    GROVER, 1997, p. 3.
  • 4
    GROVER, 1997, p. 5.
  • 5
    Nota da tradutora: na América do Norte, essa faixa pequena de árvores, que é normalmente mantida próxima às rodovias, chama-se "
    idiot strips".
  • 6
    GROVER, 1997, p. 142.
  • 7
    GROVER, 1997, p. 6.
  • 8
    GROVER, 1997, p. 6.
  • 9
    GROVER, 1997, p. 23.
  • 10
    Nota da tradutora: faço opção pelo plural no feminino, quebrando a norma do masculino universal, com o intuito de causar um desconforto com o gênero linguístico que possa refletir num questionamento a respeito da manutenção do gênero social.
  • 11
    Nota da tradutora: para lembrarmos que o que o gênero é construído, opto por traduzir o termo "gendered" por "generadas", seguindo a intuição de que o gênero é um verbo. Sua proximidade ao verbo usual em português 'degenerar', que significa, entre outras coisas, perder as qualidades essenciais ou naturais, mas também possui um uso bastante conectado a uma moral sexual, imprime outra camada de significação ao termo.
  • 12
    BOAG, 2003, p. 50.
  • 13
    Traduzo o termo
    embodied pelo neologismo
    encorporado seguindo Eduardo Viveiros de Castro, visto que nem encarnar nem mesmo incorporar parecem termos adequados.
  • 14
    BOAG, 2003, p. 50-51.
  • 15
    Bruce BAGEMIL, 1999.
  • 16
    FOUCAULT, 1978.
  • 17
    Nota da tradutora: a autora fala de '
    preening ritual' que, ao pé da letra, é uma atividade de higiene, de limpar as penas com o bico. Mas, devido à complementação, acredito que ela esteja referindose ao ritual conhecido como '
    lek', que são os círculos de dança em que machos de algumas espécies de pássaros, dentre eles os galosda-serra, se engajam. O '
    lek' é vulgarmente definido como uma arena ou dança para o acasalamento, mas a autora sugere que isso seja uma projeção heterossexista do olhar da biologia.
  • 18
    Nota da tradutora: aqui ela usa '
    same-gender'.
  • 19
    Paul VASEY, 2000, p. 35-36.
  • 20
    Martin SILVERSTONE, 2000, p. 6.
  • 21
    BOAG, 2003, p. 49.
  • 22
    Citado em BOAG, 2003, p. 52.
  • 23
    Christopher Street é uma rua no
    West Village, em Manhattan, onde fica o
    Stonewall Inn, palco da Revolta de Stonewall, em 1970 – grande marco na história do movimento por direitos civis LGBTT nos EUA.
  • 24
    Mathew Sheppard e Brandon Teena foram duas pessoas vitimadas pela violência homo e transfóbica no interior dos EUA. A história de Brandon Teena foi narrada em alguns filmes, inclusive o holywoodiano "'Garotos não Choram".
  • 25
    John D'EMILIO e Estelle FREEDMAN, 1988, p. 122.
  • 26
    KATZ, 1983, p. 43.
  • 27
    Bryant SIMON, 2003, p. 80-81.
  • 28
    INGRAM, 1997b, p. 102.
  • 29
    GOSINE, 2001, p. 35.
  • 30
    Citado em GOSINE, 2001, p. 35.
  • 31
    SHUTTLETON, 2000.
  • 32
    SHUTTLETON, 2000, p. 134.
  • 33
    John GRUBE, 1997.
  • 34
    Nota da tradutora: Árvores para Queens – o nome do grupo joga com duas referências para a palavra "
    Queens": o próprio nome do bairro onde se localiza o par-que, e uma palavra para se referir a homossexuais masculinos.
  • 35
    INGRAM, 1997a.
  • 36
    SANDILANDS, 2002.
  • 37
    SANDILANDS, 2002, p. 142.
  • 38
    GAARD, 1997.
  • 39
    Veja SANDILANDS, 2001.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      18 Maio 2011
    • Data do Fascículo
      Abr 2011

    Histórico

    • Recebido
      Ago 2010
    • Aceito
      Dez 2010
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