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Maria Cristina Aranha Bruschini: uma trajetória brilhante

IN MEMORIAM

Maria Cristina Aranha Bruschini: uma trajetória brilhante

Luzinete Simões Minella

O campo dos estudos sociológicos feministas e de gênero, lamentavelmente, iniciou o ano de 2012 sob o impacto da perda de Cristina Bruschini, pesquisadora sênior da Fundação Carlos Chagas (FCC), cuja obra sobre as desigualdades de gênero e trabalho se tornou referência na área das Ciências Sociais, em particular para diferentes gerações de feministas. Cristina partiu no dia 26 de janeiro, após enfrentar uma longa, brava e dolorosa luta contra um câncer. A lacuna deixada pela sua perda soma-se àquela representada pelo falecimento das sociólogas Maria Isabel Baltar da Rocha, em 2008, e de Heleieth Saffioti, em 2010, da psicóloga Karin Ellen Von Smigay e da historiadora Maria Lúcia Mott, em 2011, também homenageadas pela REF.1 1 Maria Isabel Baltar da Rocha foi homenageada pela Revista em 2008 (v. 16, n. 3, p. 1135-1137), Heleieth Saffioti em 2011 (v. 19, n. 1, p. 141-165), Karin Ellen Von Smigay em 2011 (v. 19, n. 1, p. 124) e Maria Lúcia Mott em 2011 (v. 19, n. 2, p. 650-652).

Cristina graduou-se em Sociologia na Escola de Sociologia e Política de São Paulo, em 1969. Seu interesse pela situação das trabalhadoras remonta à década de 1970, quando realizou o mestrado em Ciências Sociais na Universidade de São Paulo, defendendo a dissertação intitulada Mulher e trabalho: estudo de algumas profissões de nível superior, em 1977. Nessa oportunidade, revelava sua vocação para refletir sobre as especificidades da inserção das mulheres no mercado de trabalho, investigando o perfil de professoras, enfermeiras e engenheiras.2 2 Esta tese foi publicada em 1990 pela editora Vértice sob o título Mulher, casa e família: cotidiano nas camadas populares.

Dez anos depois, doutorou-se pela mesma Universidade, sustentando a tese denomina-da Estrutura familiar e vida cotidiana na cidade de São Paulo, na qual reforçou seu compromisso com o tema, articulando, de modo mais aprofundado, a divisão sexual do trabalho aos estilos de vida e ao cotidiano das famílias urbanas. Além das intensas atividades como pesquisadora, participou como consultora de várias instituições de pesquisa e como membro de vários comitês editoriais, incluindo a Revista Estudos Feministas. Atuou, de modo significativo, na constituição do campo dos estudos feministas e de gênero, tendo sido coordenadora do Programa Relações de Gênero na Sociedade Brasileira e dos concursos de pesquisa sobre Mulheres e Relações de Gênero da Fundação Carlos Chagas, ambos apoiados pela Fundação Ford; membro do Conselho Editorial do jornal bimestral Mulherio, de 1982 a 1983; integrante da equipe que planejou a série Textos FCC, de 1989 a 1994; e editora executiva dos Cadernos de Pesquisa da mesma Instituição, de 1993 a 1999.

Foi ainda coordenadora do I Programa de Dotações para Mestrado em Direitos Humanos no Brasil, do Projeto Banco de Dados sobre o Trabalho das Mulheres no site da FCC e do GT Família e Sociedade na Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS), entre os anos de 1988 a 1992.

Capaz de fundamentar suas refinadas análises em pesquisas que aliaram, de modo criativo, procedimentos qualitativos e quantitativos, Cristina elaborou inúmeros artigos disponíveis em periódicos científicos, capítulos de livros, e organizou várias coletâneas que constituem referência obrigatória na área, tendo compartilhado a autoria tanto com parceiras de geração quanto com novas gerações de pesquisadoras.

Entre as coletâneas publicadas na última década, destacam-se Mercado de trabalho e gênero: comparações internacionais, coorganizada por Albertina Costa, Bila Sorj e Helena Hirata e editada pela Fundação Getúlio Vargas em 2008; Gênero, democracia e sociedade brasileira, coorganizada por Sandra Unbehaum e publicada pela Editora 34 em 2002; e Tempos e lugares de gênero, coorganizada por Céli Pinto e publicada pela mesma Editora em 2001.

Em homenagem à memória de Cristina Bruschini, a Revista Estudos Feministas encerra a seção Artigos divulgando os resultados da pesquisa que realizou juntamente com Arlene Martinez Ricoldi, também pesquisadora da Fundação Carlos Chagas, intitulado "Revendo estereótipos: o papel dos homens no trabalho doméstico", um dos seus últimos trabalhos. Nele, assim como nos demais, colegas de geração e novas levas de pesquisadores/as certamente encontrarão inspiração para refletir e formular novos questionamentos, mantendo acesa a chama das inquietações que a acompanharam durante a sua brilhante trajetória.

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    Maria Isabel Baltar da Rocha foi homenageada pela Revista em 2008 (v. 16, n. 3, p. 1135-1137), Heleieth Saffioti em 2011 (v. 19, n. 1, p. 141-165), Karin Ellen Von Smigay em 2011 (v. 19, n. 1, p. 124) e Maria Lúcia Mott em 2011 (v. 19, n. 2, p. 650-652).
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    Esta tese foi publicada em 1990 pela editora Vértice sob o título
    Mulher, casa e família: cotidiano nas camadas populares.
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      25 Abr 2012
    • Data do Fascículo
      Abr 2012
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