Mulheres no vestiário
O momento é de tensão. Concentradas, a atenção volta-se para os detalhes do uniforme, o calçar dos meiões e o amarrar dos cadarços. Focamos nossa atenção na tentativa de distrair a ansiedade que antecede a partida. Estamos no vestiário, arrumando-nos para competir e, ao mesmo tempo, brincamos com as companheiras de equipe. Somos mulheres e jogamos futebol.1
Hoje, faço uma analogia entre o início dos jogos com o início deste texto, numa tentativa de demarcar, política e academicamente, o local de onde falo: ex-atleta de futebol feminino, cujos percursos no esporte foram marcados pelos estigmas do preconceito. Apesar disso e, talvez, justamente por isso, opto novamente por entrar naqueles vestiários.
Entretanto, faço isso com outros olhos, uma vez que os percursos acadêmicos, guiados pelos estudos de Gênero, “educaram” minhas sensibilidades e meus modos de ver. Apesar da “apreensão” gerada pela responsabilidade, política e acadêmica,2 de investigar temáticas como esta, sinto-me motivada e ansiosa para entrar logo em campo.
Ser mulher e jogar futebol significa, simultaneamente, praticar um esporte concebido como fenômeno social e estar à margem daquilo considerado “central” para o sexo feminino (Guacira LOURO, 2012). Não raras vezes, mulheres atletas são chamadas a prestar contas sobre suas identidades de gênero e orientações sexuais, que são postas sob suspeita, na medida em que um corpo feminino robusto, forjado no e pelo esporte, manifesta atributos como força, agressividade e habilidade técnica - elementos culturalmente entendidos como tipicamente masculinos.
Assim, barreiras discriminatórias que envolvem as mulheres atletas, em especial aquelas que jogam futsal e futebol, ainda são comuns. Em 2007, apesar da Seleção Brasileira de Futebol Feminino ter conquistado o título de campeã dos Jogos Pan-Americanos do Rio de Janeiro, a mídia esportiva destinou tímidos espaços para comentar a vitória das atletas. Além disso, o vice-campeonato na Copa do Mundo de 2007, o vice-campeonato nos Jogos Olímpicos de Pequim em 2008, o título máximo de campeãs sul-americanas em 2014, com vaga garantida para a Copa do Mundo de Futebol Feminino no Canadá em 2015, sugerem que a pouca visibilidade feminina nos meios de comunicação não é decorrente da falta de habilidade das mulheres; o fato é que a desigualdade das relações de gênero atribui menos evidência à desenvoltura de atletas como Marta.3
Historicamente, a dicotomia homem forte e mulher frágil tem funcionado como uma representação que ensina modos de ser e se portar, criando expectativas sobre as condutas femininas em todos os segmentos sociais. As diferenças anatômicas e biológicas têm sido significadas como base explicativa para desigualdades sociais, cujas respostas, entretanto, advêm de uma construção histórico-cultural manifestada em crenças religiosas, tabus sociais e aversão à diferença (Antônio SIMÕES, Jorge KNIJNIK e Líbia MACEDO, 2005). A exemplo disso, em 1941, o General Newton Cavalcanti apresentou, ao Conselho Nacional de Desportos, argumentos para oficializar a interdição das mulheres a modalidades como lutas, salto com vara, salto triplo e pentatlo (Silvana GOELLNER, 2005a; Ludmila MOURÃO, 2011; Gabriela SOUZA, et all, 2015). Em 1965, novamente, o Conselho Nacional de Desportos reafirma a proibição da prática de lutas de qualquer natureza, além do Futebol, Futebol de Salão, Polo Aquático, Rugby, Halterofilismo e Baseball.4
Apesar de um histórico de interdição e reiteradas representações femininas que tendem a afastar as mulheres do universo de alguns esportes, dentre eles, o Futebol, o sexo feminino tem se feito presente nos estádios, assistindo aos campeonatos, treinando, arbitrando, competindo, etc (GOELNNER, 2005a). Certamente, algumas dessas mulheres violam o que convencionalmente se designou como sendo próprio de seu corpo e de seu comportamento, questionando a hegemonia esportiva masculina histórica e culturalmente construída. Em consequência, vários preconceitos incidem sobre as mulheres nessa modalidade, tais como a associação de sua imagem à homossexualidade ou os perigos da competição e treinamento para sua beleza e saúde reprodutiva (GOELNNER, 2005b).
Na busca por legitimidade, não basta a excelência técnica exigida aos homens. Para as mulheres, é demandada uma espécie de feminilidade credível, que leva boa parte das atletas a se pronunciarem sobre temáticas como maternidade, casamento, assim como, práticas de embelezamento, argumentos capazes de afastar possíveis suspeitas sobre a “autenticidade” de seus corpos e sua “natureza” feminina (Mirian ADELMAN, 2003; Angelina JAEGER e Silvana GOELLNER, 2011). Por vezes, a concessão para o esporte está atrelada ao apelo à beleza das jogadoras e à erotização de seus corpos, cujos argumentos incidem no potencial das formas femininas que, quando belas, atraem público aos espetáculos e, com isso, patrocinadores (GOELNNER, 2005a).
Entretanto, a despeito do que aponta boa parte da literatura sobre mulheres e esporte, algumas pesquisadoras dentre as quais, Thaís Almeida (2008), Márcia Figueira (2008), Souza et all, (2015), Figueira e Goellner (2013), evidenciam que grupos de mulheres atletas têm construído, a partir de uma rede de estratégias, espaço de visibilidade, acesso e manutenção em esportes historicamente associados ao universo das “masculinidades hegemônicas” (Michael KIMMEL, 1998). Tais argumentos mostram-se bastante profícuos, uma vez que este texto versa sobre os percursos de um grupo de mulheres atletas de Futsal, cuja excelência na performance colocou-as, ao longo dos anos 2000, entre as melhores equipes de futsal feminino do Brasil. Nesse sentido, este trabalho analisa o protagonismo dessas mulheres na construção de mecanismos de permanência na prática e de condições de possibilidade que permitiram a elas destaque nacional.
Trata-se, portanto, da equipe de Futsal Feminino da Sociedade Esportiva Recreativa e Cultural Chimarrão (SER Chimarrão),5 localizada na zona urbana de Estância Velha, uma cidade do interior do Rio Grande do Sul,6 que possui aproximadamente 39 mil habitantes. A sede de treinos do Chimarrão7 é um clube esportivo de origem alemã, fundado em 1976, onde, desde 1995, o futsal feminino tem se feito presente.
Com suporte técnico, que contava com uma diretora específica para o departamento Feminino, preparador físico, preparador de goleiras, técnico e auxiliar, a equipe, apesar de fazer uso de uma estrutura física simples, possuía uma série de equipamentos e materiais novos e de boa qualidade para os treinos e jogos. Em uma das visitas aos treinos, foi possível perceber um grande número de bolas oficiais da modalidade, em muito bom estado de conservação, cones diversos, coletes para os treinos, arcos, cintos de tração, etc. Ao adentrar o vestiário, os uniformes completos estavam sobre os bancos: camisetas, calções, meiões e tênis, rigorosamente organizados para serem vestidos. Ali, entravam mulheres e saíam atletas.
Chegando a possuir três patrocinadores oficiais, as meninas recebiam alguns incentivos para jogar, dentre os quais: ajuda de custo, bolsa de estudos, moradia, alimentação diária, transporte, tênis e uniformes.
A fim de dar suporte à prática esportiva e com vistas às conquistas de títulos, construiu-se, ao redor dessa equipe de futsal feminino, uma estrutura pouco comum para o esporte amador e ainda menos frequente para equipes femininas de futsal; elementos que permitem questionar as condições de possibilidade que propiciaram a essas mulheres conquistar apoio, visibilidade e condição de permanência como atletas em um esporte culturalmente associado ao universo masculino.
Guiado por essas problematizações, este texto apoia-se no entendimento de gênero como um processo relacional produzido na história e na cultura, um projeto ou, ainda, uma tecnologia que produz sujeitos a partir de mecanismos de regulação (Tânia SWAN, 2001; Paula IADEVITO, 2014). Desse modo, descarta-se as “teses essencialistas” que vinculavam/vinculam as feminilidades e masculinidades à biologia dos corpos (Jay GOULD, 2003; Thomas LAQUEUR, 2001), para então conceber gênero como uma categoria forjada nas relações de poder, construídas nas especificidades de cada grupo social e de cada momento histórico (Ana VEIGA e Joana PEDRO 2015; LOURO, 1997; Joan SCOTT, 1995).
Nos agenciamentos das representações8 de gênero, cujos mecanismos linguísticos constroem, através de práticas de significação, lugares e hierarquizações distintas a homens e mulheres, são construídas expectativas que, ao mesmo tempo, incentivam e constrangem modos de ser e se portar, produzindo, com isso, identidades desejáveis e, por conseguinte, outras tantas sujeitadas (Luiza ANJOS, 2015; Dagmar MEYER, 2004). Cabe destacar, entretanto, que os projetos e as representações de subjetividades de gênero são diversos e, uma vez constituídos e constituintes de relações de poder, sofrem resistência e são rearranjados nas experiências dos sujeitos, produzindo, portanto, outros projetos e outras representações (Michel FOUCAULT, 2013).
Na tentativa de compreender a trajetória do Chimarrão como possibilidade de resistência e rearranjo das relações entre mulheres e esporte, optou-se por privilegiar os dados decorrentes de observações e registro em diário de campo,9 os acervos pessoais10 das atletas e comissão técnica do Chimarrão e entrevistas fundamentadas nos pressupostos da História Oral.
Nos acervos pessoais, foram encontrados recortes de jornais, fotografias, bilhetes e folhetos publicitários. Organizados por algumas integrantes da equipe,11 o acesso a esses documentos necessitou de um suporte teórico/metodológico específico, a partir do qual foi possível problematizar o convite sedutor daqueles acervos, que sugestionavam uma pretensa “imersão na experiência vivida” daquelas mulheres, permitindo, ainda, questionar a materialidade daquelas memórias, enquanto um repositório seguro dos registros das jogadoras (Ângela GOMES,2004; Luciana HEYMANN, 1997).12
Apoiadas nos pressupostos teórico-metodológicos da História Oral, foram realizadas entrevistas,13 em grupo e individuais, com a diretora do departamento de futsal feminino, Sílvia; o treinador da equipe, que esteve presente nos principais títulos, Carlos; uma ex atleta formada pela escolinha de futsal, Arizona, a capitã do time, Cristina; e a fixa,14 Patrícia, ambas atletas de destaque do Chimarrão. Entendida como uma técnica, um método e uma fonte de pesquisa, a História Oral permite narrar histórias e reconstruir memórias, seja de cada um dos depoentes, seja do grupo que partilhou das mesmas experiências (Verona ALBERTI, 1989; Henry ROUSSO, 1996). Cabe ressaltar, entretanto, que os relatos das colaboradoras e colaborador da pesquisa foram concebidos como memórias, cujas narrativas são permeadas por lembranças adjacentes, por esquecimentos e pela forte “presença do passado no presente imediato das pessoas” (José MEIHY, 1998, p.13). Assim, a manifestação da materialidade das memórias, na transcrição das entrevistas, constituem possíveis versões que permitem tecer uma dentre as muitas possibilidades para a história que se segue (JENKINS, 2004).
“Bem-vindos à capital do futsal feminino”
“Ninguém segura o Chimarrão: pela sexta vez o clube de Estância Velha é campeão gaúcho [...]” e com isso, uma pequena cidade do interior do Rio Grande do Sul, tornou-se “A Capital Gaúcha do Futsal Feminino” (Diego ROSA, 2002, p. 46). Em decorrência de mais uma conquista, a equipe do Chimarrão recebeu, do então prefeito Elivir Desiam, uma placa comemorativa, que seria afixada na entrada principal da cidade, com os dizeres: “Bem-Vindo à Capital Gaúcha do Futsal Feminino”.
Em 2003, a equipe foi homenageada pela Câmara de Vereadores de Estância Velha e, em Porto Alegre, recebeu medalhas de Mérito Rio-Grandense das mãos do então governador Germano Rigotto, no Palácio Piratini. Em um ano de conquistas e reconhecimento, o Jornal Suplemento, de Estância Velha, em grandes proporções destaca o SER Chimarrão sob os seguintes dizeres: “O Melhor do Brasil” (O MELHOR..., 2003, s. p.). Naquele ano, a equipe foi heptacampeã Gaúcha, venceu a Liga Canoense, os Jogos Abertos do Rio Grande do Sul, a Taça JAL Internacional (Intercâmbio entre Brasil e Japão) e o principal campeonato nacional de Futsal Feminino, a Taça Brasil. Seis meses após a inauguração da primeira placa de homenagem ao Chimarrão, em um momento de grandes conquistas, outro decreto foi oficializado: Estância Velha não seria mais a Capital Gaúcha, mas “A Capital Gaúcha e Brasileira do Futsal Feminino”. Tais honras renderam ao Chimarrão um monumento na entrada da cidade pela RS 239, substituindo a placa anterior. Construído sobre uma base de pedra, o monumento em tons de verde e branco, mesmas cores da bandeira da cidade, trazia no centro a foto oficial das atletas de Futsal. O time reconhecido, inicialmente, apenas no Rio Grande do Sul, passou a ser referência para o Brasil inteiro.
Em 2004, o Chimarrão tornou-se octacampeão do "Gauchão", Bicampeão da Taça Brasil e Bicampeão da Taça JAL Internacional, conquistando os mesmos e principais torneios disputados em 2003. Em seis de junho de 2004, o Jornal Dinâmico anuncia mais uma conquista do clube: “Nada pode ser maior, o Chimarrão é Bicampeão da Taça Brasil” (NADA..., 2004).
Realizada em Londrina (PR), a Liga Nacional de Futsal Feminino, organizada pela Confederação Brasileira de Futsal (CBFS) recebeu, para a competição de 2005, os considerados dez melhores times do Brasil. O clube da casa Unopar/Londrina/Sercomtel era visto como o favorito pela experiência e por ser a equipe com maior número de participações em competições nacionais, promovidas pela Confederação em todas as categorias.15 Entretanto, apesar do favoritismo, a boa fase do grupo do Chimarrão favoreceu a conquista de mais um título, o de campeão da I Liga Nacional de Futsal Feminino.
Silvia, ex-atleta e diretora do departamento feminino do SER Chimarrão até fins da década de 2000,16 ao rememorar o percurso da equipe afirma que, apesar das dificuldades, tudo valeu a pena. Mulher de destacada importância, foi a pioneira da equipe quando, em 1995, juntamente com um grupo de amigas, começou a alugar a quadra no ginásio do Chimarrão para jogarem.17 Ao tomar conhecimento das mulheres atletas e, sobretudo, da competência técnica das jogadoras, o ecônomo do clube sugeriu que conversassem com o presidente para compor uma parceria. Inicialmente, pretendiam apenas a cedência da quadra para treinarem, mas como a equipe já possuía certa história que atestava o potencial das atletas, passaram a negociar outros benefícios, por exemplo, uniformes para os jogos. A possibilidade de se constituir um time feminino de futsal, apesar do estranhamento inicial, teria agradado aos diretores e boa parte da comunidade vinculada ao clube, o que teria favorecido a negociação entre dirigentes e atletas, sobre as melhorias das estruturas e investimento em materiais. O grupo de mulheres que se reuniam para jogar deu início ao time que, anos mais tarde, conquistaria todos os títulos possíveis para uma equipe de Futsal Feminino no Brasil.
Segundo os depoimentos, no início, as atletas passaram por dificuldades, arcando com todos os custos do treinamento, uniformes e competições. Não raras vezes, as atletas ouviam insultos provenientes da arquibancada, tais como comentários misóginos e homofóbicos.18 Segundo Cristina, naquele período “tinha muito disso de se escutar no ginásio [...] o pessoal falando... ‘vai pra cozinha!!!!’” Além disso, eram mal vistas, principalmente, pelas esposas dos membros da diretoria, que, nos meados da década de 1990, era composta somente por homens.19 Segundo a Diretora do Departamento Feminino, a primeira tarefa do grupo foi convencer essas esposas que elas realmente só queriam jogar e, a segunda, atrair o público para assistir aos jogos de Futsal Feminino. Para isso, a dedicação das atletas que aspiravam por uma representação clubísticas, foi fundamental. Segundo Silvia:
Apesar da gente não ser profissional na época […] encarava como profissionalismo a coisa. Então a gente não faltava aos treinos, fazíamos nosso horário certinho, […] não entrava na quadra cada uma com uma meia diferente. A gente comprava uniformes de treino e ficava todo mundo muito igualzinho... […]. E claro né, a gente teve que ... [...] eu já percebia aquele preconceito velado né... mulher jogar futebol e homossexualismo. Então a gente teve que fazer o que... primeiro convencer eles que a gente só queria jogar futebol, que a gente não queria roubar os maridos delas, […] não queria bagunçar com nada e que a gente respeitava o ambiente do clube. Então a gente demonstrou isso no dia a dia. […] Apostaram na gente e a gente retribuiu direitinho como [...] combinado. E a gente passou essa primeira fase assim, conquistando primeiro as pessoas e depois os resultados.
Cientes de estarem adentrando um espaço historicamente associado ao universo masculino, sabedoras de que o futsal tem sido representado em meio à força, agilidade e aos músculos sobressaltados, características culturalmente desvinculadas do corpo feminino (GOELLNER, 2005a ), as atletas do Chimarrão sabiam que o respeito e a confiança da comunidade de Estância Velha teriam que ser conquistados e elas estariam sob constante suspeita. Por conseguinte, segundo os depoentes, a estima pelo esporte e o receio de serem prejulgadas conduziram as atletas a uma postura de seriedade e compromisso com o clube, com a equipe e com os treinamentos.
Ao disponibilizar o ginásio para os jogos, ao vestir as atletas com uniformes do Clube, ao acolher aquele grupo como um de seus representantes, o Chimarrão e as integrantes de sua nova equipe firmaram muito mais do que condições para a prática, investiram em um processo de subjetivação e de vigília sobre os corpos e comportamentos daquelas atletas. Vinculadas a uma das mais importantes instituições esportivas de Estancia Velha, um dos símbolos identitários daquela população, as jogadoras de Futsal ao mesmo tempo são capturadas e deixam-se capturar por um conjunto de práticas de significação que nomeiam, descrevem e classificam as mulheres (MEYER, 2004). Habilmente, as pioneiras do futsal feminino, ao mesmo tempo em que ousam tensionar representações de gênero no esporte, operam um cuidadoso mecanismo de controle sobre seus modos de ser e se portar, posicionando-se taticamente numa relação de poder que envolve negociação, resistência e ganhos para as mulheres no cenário esportivo.
A história do SER Chimarrão nos aponta ainda que apesar da existência do futebol de campo masculino ser anterior à criação do futsal feminino, nas quadras daquele clube as mulheres são pioneiras. Ademais, as vitórias da equipe feminina teriam inspirado o investimento na formação de equipes masculinas de futsal, circunstância bastante distinta daquelas apontadas pela história e pela sociologia do esporte, que nos sugerem, de modo geral, que a inserção de mulheres, sobretudo nas práticas consideradas mais “violentas” e “viris”, tem acontecido posteriormente à inserção e consolidação masculina (Marco STIGGER, 2005; Raquel SILVEIRA, 2008; Arlei DAMO, 2002; GOLLNER, 2005a, 2005b; Kátia RUBIO e Antônio SIMÕES, 1999).
Pioneiras nas quadras de Futsal do Chimarrão, e habilidosas, do ponto de vista técnico e das relações de poder, entre 2001 e 2009, as atletas do futsal feminino foram o grande representante do/a SERC e um dos expoentes da cidade de Estância Velha. Os jogos femininos eram aqueles que atraiam o maior número de torcedores, chegando a contabilizar cerca de mil pessoas assistindo a uma partida. No início, entretanto, muitas pessoas foram assistir às competições pelo fato de serem mulheres jogando, um misto de curiosidade e descrença na possibilidade de corpos femininos serem capazes de dominar um esporte “naturalizado” como masculino. De elemento exótico, as atletas passaram a “encantar” as pessoas pela excelência técnica e pelas muitas vitórias conquistadas.
O Técnico da equipe lembra que, no início de sua atuação com aquele grupo, quase desistiu da função na primeira competição. Em 2001, iniciou o torneio da Taça Brasil perdendo o primeiro jogo por três a zero e, segundo suas próprias palavras, “logo surgiu a ideia de pegar um ônibus e abandonar tudo”. Após esse resultado, foi convocada uma reunião com as atletas, traçando metas bem definidas e os caminhos a percorrer se quisessem continuar na disputa pelo título. A partir de então, o grupo motivado pelo objetivo comum, seguiu no torneio e, jogo após jogo, chegou pela primeira vez à grande final do campeonato, perdendo para a Sabesp (SP)20, resultado que veio a se repetir em 2002.
Sem considerar novamente a possibilidade de abandonar o grupo, o técnico seguiu acompanhando as meninas que, novamente, em 2003, disputariam a Taça Brasil, cuja 12ª edição ocorreu em Belém do Pará. Naquela ocasião, o Chimarrão passou a ser o principal representante do Futsal Feminino do País. As jogadoras foram para a competição com a experiência de duas edições do torneio como vice-campeãs, e disputaram a final contra a equipe que, por duas vezes, lhes tirara o título da Taça Brasil, a Sabesp. A Diretora do Departamento Feminino lembra que o calor humano dos moradores da cidade era impressionante. Metade do ginásio conclamava o “Chimarrão”, que, logo no início da partida, sofreu 5 gols. Sensibilizada pela fragilidade do time em desvantagem, a outra parte dos expectadores presentes no ginásio começou a apoiar as atletas, relatam os depoentes. A equipe do Chimarrão, impulsionada pela torcida, teria virado o placar para 7 a 5, conquistando seu primeiro título brasileiro e levando, segundo os depoentes, os torcedores ao delírio.
[...] o ginásio quase que veio abaixo. Nosso voo era logo depois da final, tinha uma ou duas horas para retornar para o hotel e pegar as coisas. Nós tivemos que sair escoltadas do ginásio. Puxavam as meninas, arrancavam camiseta, meiões, tênis, brincos [...]. Daí fomos para o hotel, e os carros da torcida vinham atrás da gente, colocavam o braço pra fora e abanavam. Ao chegarmos no hotel, tinha dezenas de pessoas lá, entraram nos quartos, roubaram calcinha das gurias, estávamos descendo com as coisas e a torcida entrava. Demorou a cair a ficha que éramos as melhores do Brasil, e ainda mais com o calor humano que tivemos em Belém, foi um momento muito emocionante.
Em oito anos, o Chimarrão conseguiu chegar ao ápice e se manteve com grande volume de vitórias até 2005. Após grandes títulos, perdeu jogadoras de referência, porém conseguiu preservar outras atletas que continuaram no clube por mais alguns anos, apesar de propostas de outros times do Brasil e do exterior. A base do Chimarrão foi a mesma por aproximadamente sete anos, o que lhes favoreceu o entrosamento, contudo, isto também causou certos prejuízos, pois as adversárias passaram a conhecer a forma de jogar e as principais características das jogadoras. Há de se pensar ainda que, ao longo dos anos 2000, outras equipes se estruturaram com treinamentos regulares e sistemáticos, com auxílio de preparação física, nutricionista, fisioterapeuta, etc. Isso possibilitou o avanço técnico e físico do futsal feminino, deixando mais concorridos os jogos.
Futsal feminino, atraindo olhares
Apesar do Brasil ser um dos maiores expoentes mundiais21 do Futsal, este esporte, diferentemente do Futebol, luta por maior visibilidade, incentivos e condições para a prática. Longe do glamour e dos holofotes, que rendem contratos milionários e honrarias para os praticantes homens desse esporte, o Futsal caminha num sentido mais modesto, por meio do qual tenta, inclusive, ocupar alguns espaços, como o de esporte olímpico.22 Tendo seu primeiro campeonato mundial datado de 1982 e sua organização incorporada à FIFA (International Federation of Association Football) apenas em 1990, o Futsal apresenta uma história recente e de embates políticos por visibilidade e reconhecimento (Cláudia KESSLER, 2010).
Se para os homens ainda há caminhos a percorrer, para a maioria das mulheres atletas, a prática do Futsal tem sido contingente e precária. De acordo com Kessler (2010), a organização do Futsal feminino data de fins dos anos 1990 e início dos anos 2000. Em 2002, foi realizado o primeiro campeonato Brasileiro de Seleções (Estaduais), e a primeira seleção brasileira feminina de Futsal foi constituída nos anos 2000. Cabe ressaltar que os atletas homens já disputavam competições internacionais há mais de trinta anos e seleções brasileiras masculinas já eram uma realidade desde 1969.
No Estado do Rio Grande do Sul, no início da década de 1980, houve alguns investimentos na organização de equipes femininas, como a do Sport Club Internacional, em 1984 e, anos depois, a do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense. Em 1993 e 1994, foram constituídas seleções gaúchas de futsal feminino, mas, apesar das iniciativas de importantes entidades esportivas, os departamentos femininos de Futsal do Grêmio e do Internacional fecharam entre fins dos anos 1990 e início dos anos 2000 (KESSLER, 2010).
O primeiro Torneio Mundial de Futsal Feminino de equipes filiadas à FIFA data de 2010 e até 2014; houve cinco edições, das quais a seleção brasileira venceu todas. Mesmo sendo a equipe de maior número de campeonatos conquistados, em 2014, a Confederação Brasileira de Futsal anunciou a não participação das mulheres atletas no mundial, alegando falta de verba. Por iniciativa das próprias jogadoras, algumas estratégias foram constituídas a fim de angariar recurso e divulgar a falta de incentivo do esporte feminino, movimento que permitiu visibilidade à seleção brasileira e, por conseguinte, a conquista de um importante patrocínio. Realizado em dezembro de 2014, a quinta edição do mundial feminino, como dito, foi conquistada pelas brasileiras.23
O futsal feminino no Brasil ainda não apresenta uma estruturação que garanta a realização sistemática de grande número de competições nacionais e regionais, interesse de patrocinadores e premiações capazes de assegurar uma carreira esportiva sólida (KESSLER, 2010). Desse modo, não raras vezes, são os investimentos das próprias atletas que as possibilitam permanecer na prática esportiva (FIGUEIRA¸ 2008). Se atualmente essa é a condição das mulheres praticantes de Futsal, em meados da década de 1990, segundo os depoimentos das atletas envolvidas com o Chimarrão, como mencionado, não era muito diferente.
Em que pese esses percalços, o grupo que se tornaria representante do SERC construiu para si estratégias a fim de lhe garantir condições de permanência no Futsal. Depois de firmada a parceria com o clube, em 1996, as atletas estabeleceram, no ano seguinte, vínculo com seu primeiro e duradouro patrocinador, uma rede de lojas tradicionalmente conhecida em Estância Velha. Segundo os depoimentos, por volta de 2002, em decorrência de um problema técnico/ambiental causado por uma empresa de beneficiamento de couro, surge a possibilidade de mais uma parceria. Devido ao impacto ambiental no bairro Lyra, endereço do SER Chimarrão, a empresa resolveria investir naquela localidade, patrocinando, então, a equipe de Futsal. No início de 2003, o Departamento Feminino tentou, sem sucesso, um formato de parceria individual, em que o patrocinador poderia adotar o número de atletas que lhe interessasse. Porém, no terceiro trimestre daquele ano, com os expressivos títulos conquistados, o decreto de “Capital Gaúcha e Brasileira do Futsal Feminino” e retornos positivos da parceria já estabelecida, a mesma empresa que teria acolhido o Chimarrão por uma contrapartida aos problemas técnicos causados no bairro Lyra, resolveu aderir ao formato de patrocínio individual, fortalecendo ainda mais as relações com a equipe. O investimento foi feito na atleta Cátia Merlini, que se destacava como uma das melhores jogadoras da equipe e do Estado do Rio Grande do Sul. Cátia, naquela ocasião, já teria sido considerada melhor atleta e goleadora do Campeonato Gaúcho e, em 2004 e 2005, seria convocada para a seleção brasileira de Futebol (campo).24 Com carisma, desembaraço e uma postura “bem comportada”, a atleta teria sua imagem vinculada à empresa e passaria a representá-la em eventos sociais, midiáticos e estratégias de marketing. Esta parceria permaneceu pelos anos subsequentes, recebendo, inclusive, incentivo da Prefeitura Municipal de Estância Velha.
Marcado pela seriedade e pelo comprometimento, típicos daquele grupo de atletas, o investimento financeiro de empresas naquela equipe de futsal foi possível dada à visibilidade daquelas mulheres no cenário esportivo. Elemento de grande importância para o estabelecimento do esporte de competição de modo geral, a visibilidade, em grande medida, favorece a consolidação dos campeonatos, dos patrocínios, dos investimentos públicos, além da adesão de novos participantes, premiações e salários dos envolvidos com o esporte (FIGUEIRA, 2008).
O grupo de jogadoras do Chimarrão alcançou uma valorização que se difere da realidade de muitos jogadores do Futsal masculino do interior do Rio Grande do Sul. No início dos anos 2000, as atletas recebiam uma ajuda de custo que variava entre R$ 300,00, para iniciantes, e R$ 1.200,00 para as mais experientes, além de bolsa de estudo25 e possibilidade de moradia.26 Recebiam ainda alimentação diária, transporte, uniformes completos para jogos e treinos, agasalhos personalizados e tênis.
Segundo a Diretora do Departamento Feminino, se o Chimarrão não tivesse conquistado esses benefícios, não conseguiria manter a equipe. Afinal, muitas atletas eram referências nacionais, algumas despontavam também no cenário internacional, representando a Seleção Brasileira de Futsal.27 Na convocação de 2008, três atletas foram selecionadas, Cátia, Pulga e Neguinha. Aliado a isso, a evidência destas e outras jogadoras gerou uma preocupação a cada início de temporada: fazer a manutenção das atletas, afinal, eram frequentes as propostas para representarem outros clubes no Brasil e no exterior. De acordo com o depoimento de Sílvia, responsável pela gestão dos recursos provenientes dos patrocinadores, a manutenção das atletas se dava, em grande medida, pelas relações afetivas.
Eu não segurava elas com dinheiro, porque dinheiro elas iam ganhar o dobro em outro lugar. Eu segurava elas porque nós tínhamos um grupo muito fechado. As meninas eram muito amigas, se gostavam muito, curtiam as mesmas coisas. Tratávamos elas como família [...] a gente tratava elas assim, como mãe.”
No intuito de projetar luz sobre o futsal feminino e sobre si mesmas, as atletas construíram outros espaços de atuação para além dos jogos e treinos. Em 2003, deram início ao projeto “Centro de Iniciação de Futsal Feminino” para meninas de 6 a 16 anos, cujo objetivo era oportunizar às crianças e adolescentes vivências na prática do Futsal. Após ampla divulgação nas escolas de Estância Velha, o projeto atingiu aproximadamente 200 meninas, em um espaço de formação de base.
Se por um lado é plausível pensarmos nessas escolinhas como possível celeiro de atletas, devemos considerá-las ainda como possíveis mecanismos de divulgação do futsal feminino e reafirmação da imagem do Chimarrão como equipe de referência. As escolinhas permitiriam que meninas vivenciassem o esporte e difundissem nas escolas e comunidade em geral uma cultura do Futsal para mulheres. Numa tentativa de modificar as tradicionais representações de feminilidade e, com isso, se manter numa prática esportiva culturalmente concebida como masculina, as jogadoras do Chimarrão intencionavam ainda atrair para si benefícios como atletas.
Além de se fazerem presentes nos ginásios, participavam de diversas atividades na cidade, desde eventos tradicionais, como Kerbs28 e rodeios, onde, na maioria das vezes, entregavam as premiações aos campeões. Segundo as ex atletas Cristina e Patrícia, a equipe do Chimarrão participava de atividades sociais, como visitas aos lares de idosos, doação de brinquedos às crianças do orfanato municipal, participação em festas das comunidades carentes, organização de campanhas de solidariedade, arrecadando alimentos, roupas, brinquedos, materiais escolares, etc. Assim, diferentes ações em prol da sociedade estanciense transformaram o Chimarrão no “xodó da cidade de Estância Velha" (PARCERIA, 2004, p.07).
Dentre os diversos locais de presença pública das atletas como representantes do futsal feminino do Chimarrão, destacam-se algumas empresas e lojas que contratavam as jogadoras para divulgar a sua marca diretamente no estabelecimento comercial. Cristina conta que, por diversas vezes, passaram os sábados inteiros fazendo “embaixadinhas” em frente às lojas, na própria calçada, e recebiam para isso. Como o grupo teria conquistado fama em meio à população de Estância Velha, “não tinha quem não parasse para assistir ao espetáculo”.
Protagonistas de sua própria prática, as atletas do Chimarrão se fizeram presentes em eventos públicos como representantes do clube e do Futsal. Muito mais que aparições cênicas, as presenças daquelas mulheres em eventos sociais e comerciais da cidade constituíam-se em ações coletivas, capazes de lhes conceber autonomia como atletas. Ao utilizarem o prestígio social conquistado em meio à população daquela cidade, as jogadoras cultivavam o próprio prestígio e, assim, reafirmavam-se como sujeitos daquela prática, tensionavam as tradicionais representações de gênero, investiam na própria visibilidade, constituindo-se, assim, como autônomas e protagonistas numa relação que envolvia não somente as atletas, mas a comunidade de modo geral (Jorge IULIANELLI, 2003).
Aos vinte e nove minutos do segundo tempo...
Longe de ser uma prática que envolve apenas conhecimento técnico, tático e de suas regras, o esporte constitui um campo de disputas, cujos processos envolvem representações que participam da própria constituição dos significados, conceitos e signos de cada modalidade esportiva. Essa organização compreende um sistema linguístico que envolve a codificação normativa dos modos de ser e se portar, atribuindo limite àquilo que é “aceitável, dizível e compreensível” (SWAIN, 2001). Nessa perspectiva, a mulher atleta de futsal, historicamente tem sido colocada à margem, uma vez que tensiona algumas fronteiras ligadas ao gênero. Longe das representações que envolvem a unidade e a estabilidade constituídas pelas práticas normativas próprias das feminilidades referentes, as atletas de Futsal são constituídas como marginais em seus processos identitários e de status na hierarquia social (LOURO, 2012). Esse conjunto de significados, entretanto, tem sido contestado, uma vez que suas produções são associadas às relações de poder, às lutas e às resistências que são próprias dos mecanismos de produção e atualização deste quadro representacional.
Nessas possibilidades de escape, encontram-se algumas mulheres como aquelas envolvidas com o Chimarrão, cujos posicionamentos têm sido capazes de construir estratégias de resistência. Ao investirem na qualidade técnica e tática da equipe, construírem espaços pedagógicos para a vivência e a difusão da prática do Futsal entre as meninas e estarem presentes em eventos sociais, essas atletas constroem uma rede de relações com a comunidade, além de visibilidade sobre a própria prática. Ao mesmo tempo em que oferecem aos patrocinadores a imagem de destacadas atletas, herdam, nessa relação, a solidez e o prestígio vinculados àquelas empresas, além de benefícios midiáticos decorrentes da parceria.
Fazendo-se ver em diferentes espaços como jornais, sites, torneios, eventos, entre tantos outros, aquelas mulheres estão, de certa forma, utilizando-se destes mecanismos para atraírem novos olhares, praticantes, torcedores e patrocinadores - elementos fundamentais para a constituição e manutenção de uma equipe que se propõe competitiva. Além disso, essas estratégias tendem a incidir sobre o reconhecimento e valorização do Futsal feminino. Os modos pelos quais as atletas se posicionam como protagonistas constituem uma rede que possibilita condições para se sustentarem numa prática tradicionalmente masculina e, como efeito, tensionam representações de gênero. Operando no campo discursivo, as mulheres do Chimarrão conquistam salários, fotos de capa nos jornais locais, medalhas e homenagens públicas, indícios de resistência às normativas de gênero que historicamente tem reiterado a inadequação entre o corpo feminino e a prática do futsal.
Entretanto, simultaneamente ao fato dessas mulheres forjarem condições de permanência no esporte, tensionando representações, as relações estabelecidas com a comunidade de Estância Velha demandaram alguns modos de ser e se portar, capturando essas mesmas mulheres num processo de governança de seus corpos e condutas.
O carisma e desembaraço, os valores éticos e a conduta bem comportada das atletas do Chimarrão tornaram-nas “O Xodó de Estância Velha”, outro tipo de reconhecimento que atualiza o contrato firmado entre as jogadoras e a comunidade. Se a resistência às representações de gênero foi possível, essa luta não foi empreendida em todos os campos. As “normas, regras, paradigmas morais e modelos corpóreos” continuaram delimitando os campos do aceitável, do dizível e do compreensível no que se refere a uma conduta comedida, desenvolta, disciplinada, bem educada e permeada pela crença nos tradicionais “valores éticos do esporte”. Enquanto um grupo de mulheres adeptas a um esporte atravessado por marcadores de masculinidade, as atletas do Chimarrão poderiam ser associadas a uma representação de feminilidade abjeta, que nega a “fragilidade, sensualidade, beleza e um suposto instinto maternal”, causando por consequência o questionamento sobre sua sexualidade e autenticidade de seus corpos. Cientes das suspeitas que tentam sujeitar aquelas que ousam tensionar representações de gênero, as atletas do Chimarrão passam a operar num processo de vigília e regulação constante de suas práticas, com vistas à produção normativa de seus corpos e feminilidades. Se por um lado resistem, por outro, são subjetivadas por normas de conduta, diferentes mecanismos de uma mesma estratégia, que tem por finalidade a atualização e reelaboração acerca das representações das mulheres no Futsal.