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Sutilezas e “escadas da moralidade” nas saunas de Campo Grande - MS

Subtleties and “Stairs of Moralities” in the Bathhouses of Campo Grande - MS

Resumo:

O artigo é resultado de uma reflexão a partir de uma pesquisa sobre prostituição masculina em Campo Grande - MS em intersecção com algumas categorias de diferenciação, tais como gênero, sexualidade, raça, classe e geração. Na primeira parte, escavamos a constituição da sauna como um lócus privilegiado para o exercício da prostituição masculina. Destacamos categorias como segurança, higiene, discrição e corpo. Na segunda parte, a partir do trabalho de campo em duas saunas da cidade, analisamos novas configurações da prostituição masculina a partir das problematizações de poder e moral em Michel Foucault. Essas outras configurações da prostituição masculina em saunas passam pela sutileza da relação entre todos os envolvidos no negócio do desejo frente a condutas aceitáveis e não aceitáveis que acabam por constituir um sujeito moral hegemônico nos limites daqueles espaços.

Palavras-chave:
sauna; prostituição masculina; poder; moral; Campo Grande

Abstract:

This article is a reflection based on a research on male prostitution in Campo Grande-MS, Brazil, in intersection with some categories of differentiation, such as gender, sexuality, race, class and generation. In the first part, we excavate the constitution of the bathhouse as a privileged locus to the exercise of male prostitution. Highlighting categories such as security, hygiene, discretion and body. In the second part, based on fieldwork in two bathhouses of the city, we analyse new configurations of male prostitution through Michel Foucault’s problematizations of power and moral. These other configurations of male prostitution in bathhouses are mediated by the subtlety of the relation between all the involved in the business of desire facing acceptable and unacceptable conducts that constitute a hegemonic moral subject in the limits of those spaces.

Keywords:
Bathhouses; Male prostitution; Power; Moral; Campo Grande

Introdução

Ao chegar à sauna, no início de uma tarde de domingo e após pagar a entrada, a porta faz sua função de anunciar a presença de mais um cliente, devido ao alto ruído produzido pela mesma. No local de retirada de toalhas e chinelos, mais uma vez, a presença é anunciada, agora pela campainha, que serve de alerta ao atendente do bar, dizendo que alguém está esperando por ele. O atendente fica atrás de uma janela pela qual se consegue ver os clientes que subiram a escada e ficam escorados, vigiando quem chega, quem sobe, quem desce, quem faz sexo, com quem faz sexo, quem parece ser interessante, quem não parece ser interessante. Aproximadamente às 19h30, o momento plus, tão esperado, acontece: dois boys sobem as escadas e alguns clientes os seguem. O que irão fazer? (Cadernos de campo, junho de 2017).

Esse artigo é parte de uma pesquisa realizada na cidade de Campo Grande-MS, a partir de 2016, tendo a prostituição masculina como temática, bem como de uma revisão da literatura sobre o tema no Brasil. As questões que envolvem gênero e sexualidade podem ser problematizadas a partir de vários olhares. Os olhares que privilegiam a prostituição, o uso tarifado do corpo para fins sexuais e o chamado mercado do sexo (Adriana PISCITELLI, 2011PISCITELLI, Adriana. “Programas e ajuda: intercâmbios econômicos, sexuais e afetivos nos mercados globais do sexo”. In: PISCITELLI, Adriana et al. (Orgs.). Circulações transnacionais: gênero, sexo, afetos e dinheiro: mobilidades transnacionais envolvendo o Brasil. Campinas: Pagu/Unicamp, 2011.; José Miguel OLIVAR, 2013OLIVAR, José Miguel Nieto. Devir Puta: políticas da prostituição de rua na experiência de quatro mulheres militantes. Rio de Janeiro: EDUERJ, 2013.; Fernando POCAHY, 2012POCAHY, Fernando Altair. “‘Vem meu menino, deixa eu causar inveja’: ressignificações de si nas transas do sexo tarifado”.Sexualidad, Salud y Sociedad, n. 11, p. 122-154, 2012.; Laura AGUSTÍN, 2005AGUSTÍN, Laura. Trabajar en la industria del sexo - Y otros tópicos migratorios. Donosti: Tercera Prensai, 2005.) têm sido amplamente contemplados por diferentes campos do saber e, em especial, pelas Ciências Sociais, com destaque para a Antropologia.

Há um longo caminho que leva os estudos sobre prostituição masculina para as saunas e outros espaços privados. As saunas não foram, inicialmente, os lugares mais habituais para o estabelecimento dessa forma de aproximação erótica e sexual entre homens no Brasil: esse lugar era a rua. A produção de sentido das saunas no âmbito dos estudos de gênero e sexualidade e, especialmente, no campo da prostituição masculina, se concretizará na medida em que for possível avançar nos debates, ainda escassos, sobre os homens nas economias sexuais (PISCITELLI, 2013PISCITELLI, Adriana. Trânsitos: brasileiras nos mercados transnacionais do sexo. Rio de Janeiro: EDUERJ/Clam, 2013.), sobretudo, como michês. Muito tem sido produzido sobre mulheres e travestis. Pouco sabemos sobre os homens que se prostituem. Além disso, torna-se frutífero entender os processos que permitem, ainda que em um lugar (a prostituição) tido como degradado e quase abjeto (Judith BUTLER, 2003BUTLER, Judith. Problemas de gênero: feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.), a possibilidade de escolha pela prostituição e pelas possibilidades dela advindas. Nesse sentido, isso já permitiria entender esse lugar como dotado de elementos de resistência (Michel FOUCAULT, 2014FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 2014.) e agência (Sherry ORTNER, 2006ORTNER, Sherry. “Poder e projetos: reflexões sobre a agência”. In: GROSSI, Miriam Pillar; ECKERT, Cornelia; FRY, Peter Henry (Orgs.). Conferências e diálogos: saberes e práticas antropológicas. Goiânia: Nova Letra, 2006.).

Ao esmiuçar a produção brasileira sobre o tema, ainda que exista um aporte teórico nacional em diferentes regiões do país, desde os anos de 1980, as investigações ainda são tímidas e estão longe de serem consolidadas. Temos, por exemplo, como o trabalho base e paradigmático ao campo, a dissertação de mestrado de Néstor Perlongher (1987PERLONGHER, Néstor. O negócio do michê. A prostituição viril. São Paulo: Brasiliense, 1987.), transformada no livro O negócio do michê. A prostituição viril em São Paulo. Este livro baseia quase todas as pesquisas sobre prostituição masculina no Brasil. O trabalho de Perlongher é basilar e inovador no momento de sua realização. Sua investigação com os michês que se prostituíam no centro da cidade de São Paulo, região conhecida como Boca do Lixo, entre a Praça da República e o Largo do Arouche, é maior do que os limites de um trabalho sobre prostituição masculina, embora seja primoroso neste aspecto.

A etnografia de Perlongher abre possibilidade para discutir gênero, sexualidade e outras categorias de diferenciação nomeadas por ele como tensores libidinais, isto é, foi possível pensar gênero e sexualidade em intersecção com raça/etnia, classe, escolarização, região, território, entre outros. Tais abordagens foram possíveis a partir de um contato frequente com os michês, entendendo assim aqueles sujeitos para além das performances desenvolvidas na rua e, principalmente, tentando compreender os meandros do negócio empreendido entre michês e clientes.

Durante muitos anos, o trabalho de Perlongher foi a referência mais visível sobre os estudos no campo da prostituição masculina brasileira. Ao longo dos anos de 1990, certamente, o foi. Apenas nos anos de 2000 começaram a ser divulgados outros trabalhos, geralmente dissertações, teses e artigos sobre prostituição masculina em diferentes regiões do Brasil. A rua ainda era o locus privilegiado de análise e muito do que se fazia ali era repetir algumas das observações do antropólogo argentino. No entanto, os anos de 2000 trouxeram uma novidade sobre os espaços ocupados pela prostituição masculina: uma migração para locais privados, especialmente, as saunas. A prostituição de rua sofre um refluxo e, no âmbito privado/comercial, há um aumento de oferta desse negócio nas saunas, sobretudo nos grandes centros urbanos do sudeste e do nordeste do Brasil.

No centro-oeste, especificamente em Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul, temos duas saunas direcionadas a interações eróticas e sexuais entre homens. Para os limites desse trabalho, nomearemos essas saunas como Sauna Bem-Estar e Sauna Pegação. Elas estão localizadas no centro da cidade, em uma área residencial, de classe média alta, com grande fluxo de pessoas durante o dia. Em termos de preço, os custos com a entrada giram em torno dos R$30,00.

Ainda é preciso dizer que, do ponto de vista da mobilidade urbana, as saunas são de fácil acesso, seja para veículo próprio, para transporte urbano, ou mesmo a pé. Estes facilitadores, bem como a proximidade entre elas, 200 metros de distância, podem funcionar como disparadores dos tensores libidinais aliados às fachadas que privilegiam a discrição ao não remeter diretamente a ambientes do homoerótico.

Na parte exterior da Sauna Bem-Estar, já podemos perceber que se trata de um espaço ampliado dedicado aos homens, pois, além da sauna, há uma barbearia que compõe o estabelecimento, empreendimento dos mesmos donos e que destina seus serviços, principalmente, a homens autoidentificados como homossexuais e, em grande medida, frequentadores da sauna. Tanto na sauna como na barbearia se pratica massagem.

A Sauna Bem-Estar se localiza em uma rua pouco movimentada, “mais discreta”; isso pode ser facilmente identificado em sua fachada, que não traz a palavra sauna em seu anúncio, mas sim Espaço Bem-Estar. A Sauna Bem-Estar é composta por recepção, sala de televisão, bar, sauna seca, sauna a vapor, duchas, pias para lavar mão, escada, um sofá em frente à escada. Esta escada liga o piso inferior ao superior, local onde ficam a sala de vídeos eróticos (que aos domingos vira dark room), um pequeno corredor que liga a três cabines à direita e outras três à esquerda. Ao lado do sofá, há uma sala de massagem à direita e à esquerda um banheiro. Na área externa ficam a piscina, um banheiro, algumas mesas, cadeiras e churrasqueira. Ao lado do bar, no térreo, tem uma sala de depilação e, próximo à área dos armários (onde os clientes guardam seus pertences), tem outra sala de massagem, porém essa destinada à massagem tântrica. Percebemos um direcionamento ao bem-estar global (sauna, barbearia, depilação, bar, piscina com rede para biribol, massagens e sexo).

Na área externa da Sauna Pegação, por sua vez, podemos ler na parede que fica ao lado de um estacionamento de supermercado os seguintes dizeres: Sauna Pegação. As letras são garrafais, em formato de outdoor. Sua localização fica em uma rua mais movimentada, ou seja, menos “discreta” que a Sauna Bem-Estar. Ao longo da pesquisa, ainda que “menos discreta” aos nossos olhos, ela consegue abarcar um maior número de clientes em relação à outra sauna.

A Sauna Pegação é composta por recepção, bar, sauna seca, sauna a vapor, duchas, pias para lavar mão, banheiro, área dos armários (onde os clientes guardam seus pertences) e uma escada com corrimão. Essa escada liga o piso inferior com o superior, local onde ficam a sala de vídeos eróticos (que aos domingos, com os boys, vira dark room), pequeno corredor que liga a duas cabines à direita, sala de massagem (todos os tipos) e um dark room. Há ainda dois banheiros. Ao lado esquerdo existe uma sala de televisão e outro pequeno corredor com oito cabines (local usado, principalmente, para sexo). Na área externa fica um pequeno jardim com cadeiras. Ele é usado, principalmente, como fumódromo. Antes desse pequeno jardim, há um ambiente para conversas (com estofados). Percebemos um maior direcionamento ao sexo, não só pelo maior número de cabines, mas pelos próprios serviços oferecidos, o que, de certa maneira, faz com que essa sauna seja mais frequentada, em termos quantitativos, do que a outra.

Dito isto, é preciso explicar que, do ponto de vista metodológico, a pesquisa nas saunas de Campo Grande foi desenvolvida entre os meses de agosto de 2017 e abril de 2018. Foram realizadas visitas semanais, em diferentes dias da semana e em diferentes horários. Houve uma série de negativas de muitos frequentadores em colaborar com a pesquisa de maneira mais formal, como concedendo entrevistas ou conversas fora do espaço das saunas. Tal dificuldade também foi enfrentada por Camilo Braz (2012BRAZ, Camilo. À meia-luz...: uma etnografia em clubes de sexo masculinos. Goiânia: EDUFG, 2012.) em sua etnografia em clubes de sexo de São Paulo. Na mesma direção de Braz, fizemos a opção pela observação participante (William WHYTE, 2005WHYTE, William Foote. Sociedade de Esquina. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.; Clifford GEERTZ, 1978GEERTZ, Clifford. “Uma descrição densa: por uma teoria interpretativa da cultura”. In: GEERTZ, Clifford. A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: Zahar, 1978.), atentando para as diferentes situações que puderam ser capturadas naqueles espaços, tais como: interações entre os frequentadores e conversas informais com alguns frequentadores e atendentes. A pesquisa se ateve a ouvir as conversas e, eventualmente, responder a questões que eram direcionadas a um dos pesquisadores, que esteve presente de forma mais ostensiva na realização do trabalho de campo.

No presente artigo, em um primeiro momento, exploraremos como a sauna vai se constituindo em um espaço privilegiado para o exercício da prostituição masculina, bem como destacaremos alguns elementos que se sobressaem nas pesquisas pioneiras sobre o tema no país, tais como segurança, higiene, discrição e corpo. Atentaremos para os cruzamentos de algumas categorias de diferenciação, especialmente, gênero, raça, classe e geração. Em um segundo momento, refletiremos sobre as intersecções possíveis a partir das performances de michês e clientes nas saunas, considerando as discussões sobre poder em Michel Foucault (1995FOUCAULT, Michel. “O sujeito e o poder”. In: RABINOW, Paul; DREYFUS, Hubert. Foucault: uma trajetória filosófica. Para além do estruturalismo e da hermenêutica. Rio de Janeiro: Forense, 1995.).

Para Foucault (1995FOUCAULT, Michel. “O sujeito e o poder”. In: RABINOW, Paul; DREYFUS, Hubert. Foucault: uma trajetória filosófica. Para além do estruturalismo e da hermenêutica. Rio de Janeiro: Forense, 1995.), as relações entre a racionalização e o poder devem ser compreendidas de forma específica, ou seja, as relações de poder e suas práticas não devem ser generalizadas para todas as realidades, nem mesmo em se tratando de uma mesma temática e espaço social, como, em nosso caso, a prostituição masculina em saunas. Assim, cada sauna tem seus jogos de verdade e as relações de poder. Desta forma, serão sempre contextualizadas, ou melhor, exercidas a partir de micropoderes. Destacaremos, na esteira do autor, que as relações de poder devem ser compreendidas desde as formas de resistências.

A sauna como um espaço possível para a prostituição masculina

Segundo Miguel Ângelo Ribeiro (2015RIBEIRO, Miguel. “Dinâmica, Espacialidade e Relações Homocomerciais: o exemplo das saunas de boys na urbe carioca”. Revista Latino-americana de Geografia e Gênero, Ponta Grossa, v. 6, n. 2, p. 213-234, 2015.), até os anos de 1980, a prostituição masculina se dava, quase que exclusivamente, nas ruas. Ainda vigorava uma lógica de que o encontro erótico e sexual entre dois homens precisava ser marcado por alteridades radicais, segundo uma série de categorias de diferenciação em que classe, geração e performances de gênero poderiam ser as mais destacadas. Além disso, esse ramo do, ainda precário, mercado sexual, deveria ser caracterizado por um encontro rápido, anônimo, secreto e, quase sempre, desprovido de qualquer tipo de afeto. Para tanto, os únicos espaços propícios a estes encontros eram, de fato, as ruas escuras, as praças, os becos e ruelas. Havia uma aproximação muito sintomática entre prazer e perigo. Quando a violência de michês, de clientes e do aparato policial se transforma na tônica do processo é que surgem as primeiras saunas, no final dos anos de 1980. A ideia de segurança e anonimato parece ser predominante nesse processo de mudança (RIBEIRO, 2015RIBEIRO, Miguel. “Dinâmica, Espacialidade e Relações Homocomerciais: o exemplo das saunas de boys na urbe carioca”. Revista Latino-americana de Geografia e Gênero, Ponta Grossa, v. 6, n. 2, p. 213-234, 2015.).

O trabalho de Alexandre Eustáquio Teixeira (2003TEIXEIRA, Alexandre Eustáquio. Territórios homoeróticos em Belo Horizonte: um estudo sobre as interações sociais nos espaços urbanos. 2003. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil.) é um exemplo dessa nova abordagem da prostituição masculina no âmbito da produção brasileira sobre o tema. Sua investigação discute a pegação em saunas gays de Belo Horizonte e aponta para alguns aspectos que aproximam michês e clientes. Teixeira problematiza a sauna em relação à rua e qualifica a primeira, a partir do que dizem seus contatos de campo, michês e clientes, como mais segura e limpa. O trabalho de Teixeira (2003) põe em relevo alguns elementos que serão lugar comum nas produções subsequentes: segurança e limpeza como elementos caracterizadores das saunas em comparação direta e imediata com a rua: perigosa, violenta e suja.

Isso também aparecerá nos trabalhos de Daniel Kerry dos Santos (2016SANTOS, Daniel Kerry dos. Homens no mercado do sexo: fluxos, territórios e subjetivações. 2016. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.). Em sua tese, a sauna permite um acesso facilitado, seguro e a prostituição é mais frequente. A seu turno, a pesquisa de Vinício Brígido Santiago Abreu (2014ABREU, Vinício Brígido Santiago. Entre o marginal e o laboral: o trabalho de garotos de programa da cidade de Fortaleza. 2014. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, CE, Brasil.) mostra como as saunas em que há prostituição masculina compreendem uma série de regras. Em sua investigação nos estabelecimentos de Fortaleza, ele percebeu dias específicos para o atendimento de clientes, bem como espaços exclusivos, nas saunas, para a realização dos programas e que não poderiam ser utilizados por outras pessoas.

O mesmo Teixeira (2011TEIXEIRA, Alexandre Eustáquio. “Representação sobre a atividade de garotos de programa em Belo Horizonte (MG): emprego, trabalho ou profissão?”. In: CONGRESSO LUSO-AFRO-BRASILEIRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS, 11, 2011, Salvador, Anais ... Universidade Federal da Bahia. CONLAB: Salvador, 2011, p. 1-18.), em outro trabalho, alguns anos mais tarde, segue apontando como segurança e limpeza promovem esse verdadeiro trânsito dos encontros eróticos e sexuais de homens que vendem sexo e prazer remunerado (Geraldo SILVA JÚNIOR, 2012SILVA JÚNIOR, Geraldo Pereira da. O negócio do “prazer remunerado” nos discursos de garotos que fazem programa. 2012. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Saúde Pública, Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.) para outros homens. Eles saem dos parques e das ruas, então os espaços privilegiados para esses encontros em Belo Horizonte, para as saunas, percebidas como lugares mais higienizados e onde era possível ter mais segurança, em vista de não serem acessíveis a qualquer um.

Há, portanto, nas saunas, um recorte de classe quase que imediato, pois se não há condições de pagar o valor do ingresso, não há como frequentá-la. Isso inibe alguns sujeitos que eram protagonistas desses encontros nas ruas, mas, de forma alguma, encobre as diferenças de classe que existem entre michês e clientes. Elas permanecem na sauna e a sua permanência é que garante os negócios. No entanto, alguns sujeitos vistos como perigosos e/ou sujos não conseguem penetrar nesse outro espaço em vista das novas tecnologias de vigilância e controle estabelecidas pelo mercado para disciplinar, de alguma forma, o prazer outrora compreendido como nefando e marginal. Perde-se, no entanto, boa parte do elemento do anonimato e do risco, que poderia agenciar também o prazer, mas se ganharia em segurança e cuidado, que a partir das novas tecnologias, também passariam a ser elementos erotizáveis.

No entanto, como aponta Normando José Queiroz Viana (2010VIANA, Normando José Queiroz. “É tudo psicológico! dinheiro... pruuu! fica logo duro”: desejo, excitação e prazer entre boys de programa com práticas homossexuais em Recife. 2010. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PB, Brasil.), há tentativas de manter algum anonimato nas saunas. Sua pesquisa, que teve lugar na cidade de Recife, confirma o recorte de classe, já presente em outras pesquisas. Porém, se aprofunda na análise do lugar. Viana mostra como o espaço da sauna é propício ao anonimato. Segundo ele, no Recife, as saunas, ainda que estejam em lugares centrais da cidade, são pouco sinalizadas e não há qualquer elemento que ligue a construção a um espaço de sexo entre homens. São lugares discretos para pessoas discretas. Eder da Silva Deodato (2015DEODATO, Eder da Silva. Performance e identidade de gênero na prostituição masculina em saunas gays. 2015. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Antropologia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE, Brasil.) também pesquisou saunas da cidade de Recife. Nas pesquisas de Deodato, outra vez, o elemento discrição aparece com frequência digna de nota.

Na pesquisa de Viana (2010VIANA, Normando José Queiroz. “É tudo psicológico! dinheiro... pruuu! fica logo duro”: desejo, excitação e prazer entre boys de programa com práticas homossexuais em Recife. 2010. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PB, Brasil.), mesmo quando o autor diferencia uma sauna mais popular de outra mais elitizada, os elementos de discrição e anonimato seguem como categorias relevantes no seu campo. Os espaços são vistos como de maior salubridade em relação à rua, além de mais seguros. Esses ingredientes agregariam um acréscimo de valor ao programa em relação àquele realizado em espaços públicos. É mais caro, segundo os clientes da pesquisa de Viana (2010), fazer sexo na sauna. Todavia, isso não é visto como problema se houver a garantia de mais segurança, um espaço mais higienizado e homens mais bonitos, isto é, que se preocupem mais com a aparência, que exibam corpos mais malhados e que não explorem os clientes.

As saunas são mais um equipamento do mercado que atende ao público LGBT e aos demais interessados. Esse ramo do mercado aumenta de forma significativa a ponto de, como destaca Victor Hugo de Souza Barreto (2012BARRETO, Victor Hugo de Souza. “Vamos fazer uma sacanagem gostosa?”: Uma etnografia do desejo e das práticas da prostituição masculina carioca. 2012. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Antropologia, Universidade Federal Fluminense, Niterói, RJ, Brasil.), existirem saunas específicas de michês. Isto é, são espaços em que os encontros eróticos e sexuais se darão entre um michê e um cliente, diferente do que ocorre nas saunas ditas mistas. Barreto mostra que, nas saunas exclusivas, os chamados boys se sentem mais valorizados, menos expostos a riscos e se percebem em um ambiente mais confortável para os programas, bem como para a exposição de seus corpos, geralmente malhados. Assim, eles estariam mais à vontade para os jogos de sedução (BARRETO, 2011BARRETO, Victor Hugo de Souza. “‘Às vezes eu me sinto uma puta da zona!’: A atividade da prostituição vista por garotos de programa”. In: CONGRESSO LUSO-AFRO-BRASILEIRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS, 11, 2011, Salvador, Anais ... Universidade Federal da Bahia, CONLAB: Salvador, 2011, p. 1-16.) com os clientes.

Há algumas saunas, como é o caso das trabalhadas por Daniel Rogers de Souza Ferreira (2011FERREIRA, Daniel Rogers de Souza. Prazer com segurança? As relações entre michês e polícia num ponto de prostituição do centro de Fortaleza. 2011. Dissertação (Mestrado em Políticas Públicas) - CESA, Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, CE, Brasil.) em Fortaleza, que são mistas, mas contam com alguns michês fixos do local. Em outras saunas, o número de michês é flutuante, pois eles pagam o ingresso na sauna e lá fazem programas. Os michês fixos não pagam ingresso, são contratados pela sauna e dividem os lucros da forma que for combinada com o estabelecimento. O trabalho de Ferreira destaca a relação entre prostituição masculina e turismo em Fortaleza. Além disso, o programa realizado pelos michês é chamado de massagem, talvez, uma tentativa de higienizar o serviço sexual oferecido. Nas saunas com os boys fixos, o que eles fazem não é programa, é massagem.

Para Santos (2016SANTOS, Daniel Kerry dos. Homens no mercado do sexo: fluxos, territórios e subjetivações. 2016. Tese (Doutorado) - Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.), que pesquisou prostituição masculina em saunas de Porto Alegre, Florianópolis, Curitiba e São Paulo, o elemento disparador do contato entre michês e clientes é o olhar. De um lado, o olhar que se insinua; de outro lado, o olhar que deseja. Assim, o olhar seria a primeira etapa dos jogos de sedução presentes na sauna. Esses jogos de sedução, caracterizados por gestos lascivos, como toques em determinadas partes do corpo, sobretudo o pênis, carícias lentas nos braços e abdômen, passagem de óleo pelo corpo, banhos demorados se exibindo para uma assistência de clientes, também são acompanhados de conversas, em muitos momentos, picantes sobre desempenho e fantasias sexuais.

Esse ponto é importante e se repete em algumas pesquisas sobre prostituição masculina em saunas. Há um discurso que faz coro a duas máximas: a primeira é que os michês estão nas saunas, e, por conseguinte, na prostituição, por dinheiro (Reginaldo GUIRALDELLI; Marisa SOUZA, 2013GUIRALDELLI, Reginaldo; SOUZA, Marisa F. “Prostituição masculina em Belo Horizonte: Evidências da questão social”. Oikos: Revista Brasileira de Economia Doméstica, Viçosa, v. 24, n. 2, p. 133-162, 2013.) e por falta de outras oportunidades que garantissem o ganho que conseguem com essa atividade (João Diógenes SANTOS, 2013SANTOS, João Diógenes Ferreira dos. “Desvelando o mercado do sexo: trajetória de vida dos ‘garotos de programa’ da cidade de Salvador”. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL FAZENDO GÊNERO 10: DESAFIOS ATUAIS DOS FEMINISMOS, 10, 2013, Anais ... Florianópolis. Disponível em Disponível em http://www.fg2013.wwc2017.eventos.dype.com.br/resources/anais/20/1373286043_ARQUIVO_DESVELANDOOMERCADODOSEXO-artigofazendogenero2013.pdf . Acesso em 28/01/2018.
http://www.fg2013.wwc2017.eventos.dype.c...
). Aliás, essa é a justificativa mais comum, quase sempre, dada para o ingresso na prostituição de maneira geral. A prostituição, a partir desta perspectiva, funcionaria quase como um destino manifesto para um grupo de sujeitos alheios a quaisquer outras possibilidades de vencer na vida de forma digna. Esse imaginário, portanto, qualifica a prostituição como o último recurso, além de ser entendida, mesmo por alguns sujeitos nela envolvidos, como uma forma de trabalho indigna. Em grande medida, a construção desse imaginário é fruto de uma série de investidas socioculturais que ainda desqualificam os usos do corpo e do sexo para outros fins que não os procriativos. O uso recreativo ou comercial do corpo, para boa parte de nossa sociedade, ainda é uma prática desabonadora.

A segunda máxima, poderíamos dizer assim, corresponde à representação da macheza dos michês. Com relação a este ponto, é possível refletir um pouco sobre as dinâmicas que estão presentes em ambas as saunas investigadas. Aos domingos, ocorrem festas, sendo que a atração principal é a performance sexual dos chamados boys interativos, que são contratados por promotores de festas e pagos pelos respectivos donos das saunas. Na página do Facebook da Sauna Bem-Estar são publicados todos os convites para as festas. A cada semana um nome diferente: Summer Boys, Domingo da Ressaca, Boys de Verão, Cock, Sunday Lover, Ousados!, Blackout com Pegadas Fortes!, Bala Blue Sex Party. O que podemos perceber, levando em consideração apenas os nomes das festas, é a valorização da língua inglesa,1 1 Sobre a valorização da Língua Inglesa em detrimento da Língua Portuguesa, sugerimos a leitura da tese de CARVALHO, Elizandra Roberta Neves de. Desestrangeirização: reflexões de uma professora de língua inglesa em processo de descolonização. 2013. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP. talvez sugerindo distinção de classe e estilo de vida contemporâneo. Chama atenção também o uso de bebida2 2 Sobre o uso de bebidas em locais LGBT, indicamos a leitura do artigo de REIS, Ramon Pereira dos. “Encontros e desencontros”. Ponto Urbe, n. 10, p. 1-19, 2012. Disponível em https://journals.openedition.org/pontourbe/218Epub 01/07/2012. Acesso em 20/06/2018. ISSN: 1981-3341. como um elemento de propaganda das festas, além, é claro, da imagem de homens com corpos musculosos e a indicação da presença dos “boys interativos”, como podemos perceber na figura abaixo:

Imagem 1
Divulgação de Festa na Sauna Bem-Estar

No material de divulgação das festas das saunas, fica evidente um padrão corporal capaz de materializar um tipo de masculinidade hegemônica e despertar o fetiche do que se pode ou não pode mostrar, no caso, o pênis. O conceito de masculinidade hegemônica foi trabalhado por Raewyn Connell (1987CONNELL, Raewyn. Gender & Power. Cambridge: Polity Press, 1987.) e Michael Kimmel (1998KIMMEL, Michael. “A produção simultânea de masculinidades hegemônicas e subalternas”. Horizontes Antropológicos, Porto Alegre, v. 4, n. 9, p. 103-117, out. 1998.). Trata-se de um ideal de masculinidade baseado na força, violência, virilidade, distanciamento do feminino e da homossexualidade para sua constituição como tal. A mesma autora, juntamente com James Messerschmidt (CONNELL; MESSERSCHMIDT, 2013CONNELL, Robert; MESSERSCHMIDT, James. “Masculinidade hegemônica: repensando o conceito”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 21, n. 1, p. 241-282, 2013.), refletiu criticamente sobre o conceito, sua cristalização, sua universalização e as diversas formas de ser homem.

Na imagem 1, é informado que às 19h30 haverá um plus. Do que se trata esse plus? Adiante é possível perceber que esse plus diz respeito justamente aos boys interativos. Em relação à página de Facebook da Sauna Pegação, a configuração das festas segue os mesmos padrões da Sauna Bem-Estar, tanto em relação aos nomes das festas, como nas informações contidas nas fotos, como veremos nas figuras abaixo:

Imagem 2
Divulgação de Festa na Sauna Pegação

Imagem 3
Divulgação de Festa na Sauna Pegação

Analisando as singularidades das fotos, nas imagens da Sauna Pegação não encontramos a palavra plus, mas sim a ideia direta de que se trata de um show, ou melhor, um sex-show. Além disso, é nítida a prevalência de marcadores de raça e geração (pessoas jovens).4 4 Nos últimos anos, os estudos de gênero e sexualidade têm se preocupado, cada vez mais, em pensar estas categorias em intersecção com outras, a fim de se promover uma leitura mais completa diante da complexidade das práticas sociais às quais são constituídas as relações de gênero e sexualidade. Para aprofundar esse debate, ver PISCITELLI, Adriana. “Interseccionalidades, categorias de articulação e experiências de migrantes brasileiras”. Sociedade e Cultura, Goiânia, v. 11, n. 2, p. 263-274, 2008. Os materiais de divulgação das duas saunas de Campo Grande fazem eco ao que ocorre em outros lugares do Brasil. No universo das saunas em que existe a prostituição masculina, há uma exigência, quase tácita, de que os michês sejam machos, viris e, sobretudo, ativos nos atos sexuais. Percebam, esse é o imaginário, é o discurso que precisa ser tornado inteligível para os clientes. Trata-se de alguns elementos que acionam os tensores libidinais, para usarmos uma terminologia de Perlongher.

Assim, algumas categorias de diferenciação se articulam para colocar em ação o michê ideal e o cliente em potencial. Do michê se espera que seja um homem, jovem, masculino, viril, musculoso e ativo e, não obrigatoriamente, branco. Aliás, michês pretos ou pardos são altamente valorizados no mercado da prostituição nas saunas (Pedro PEREIRA; Élcio SANTOS, 2016PEREIRA, Pedro Paulo Gomes; SANTOS, Élcio Nogueira dos. “Amores e vapores: sauna, raça e prostituição viril em São Paulo”. Revista Estudos Feministas, v. 24, n. 1, 2016. Disponível em Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-026X2016000100133&script=sci_abstract&tlng=pt . Acesso em 20/06/2018. ISSN 1806-9584.
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). O cliente é um homem, quase nunca tão jovem quanto o michê, não obrigatoriamente masculino, quase nunca musculoso, quase sempre branco ou pardo, dificilmente será negro e, em regra, precisa sinalizar para o conjunto da sauna que é passivo. O que temos aqui? A reprodução, no interior das saunas, pelo menos a partir do discurso de alguns michês, do modelo hierárquico de classificação da sexualidade no Brasil proposto por Peter Fry (1982FRY, Peter. Para inglês ver: identidade e política na cultura brasileira. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.).

Segundo relatos de michês entrevistados nas pesquisas de Guiraldelli e Souza (2013GUIRALDELLI, Reginaldo; SOUZA, Marisa F. “Prostituição masculina em Belo Horizonte: Evidências da questão social”. Oikos: Revista Brasileira de Economia Doméstica, Viçosa, v. 24, n. 2, p. 133-162, 2013.), Pereira e Santos (2016PEREIRA, Pedro Paulo Gomes; SANTOS, Élcio Nogueira dos. “Amores e vapores: sauna, raça e prostituição viril em São Paulo”. Revista Estudos Feministas, v. 24, n. 1, 2016. Disponível em Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-026X2016000100133&script=sci_abstract&tlng=pt . Acesso em 20/06/2018. ISSN 1806-9584.
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), Eder Deodato (2015DEODATO, Eder da Silva. Performance e identidade de gênero na prostituição masculina em saunas gays. 2015. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Antropologia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PE, Brasil.), Santos (2013), entre outros, esses elementos hierárquicos estão presentes. É importante frisar que não se trata de fronteiras rígidas no que diz respeito aos encontros eróticos e sexuais entre michês e clientes. Muito mais, trata-se de um discurso, que pode ser retórico, de uma propaganda de si, de um investimento na reafirmação de um imaginário sobre si para os outros. Como estas mesmas pesquisas mostram, há muita negociação recorrente entre michês e clientes para a efetivação do programa.

Controle, vigilância e disciplina do desejo

As pesquisas sobre prostituição masculina em saunas do Brasil nos mostram que há muita performance em jogo. Há, inclusive, uma variação nos preços para diferentes orifícios, como nos contam Pereira e Santos (2016PEREIRA, Pedro Paulo Gomes; SANTOS, Élcio Nogueira dos. “Amores e vapores: sauna, raça e prostituição viril em São Paulo”. Revista Estudos Feministas, v. 24, n. 1, 2016. Disponível em Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-026X2016000100133&script=sci_abstract&tlng=pt . Acesso em 20/06/2018. ISSN 1806-9584.
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). Depois de acertados, ainda assim, os termos do contrato podem ser revistos e pode ter início uma nova rodada de negociação. No entanto, os termos aditivos do contrato, agora, teriam lugar em uma dimensão mais privada a fim de que aquele imaginário socialmente reforçado na sauna associado a uns (michês ativos), pode ser ocupado por outros (clientes ativos com os michês), desde que, publicamente, não se deslegitime a hierarquia já naturalizada. Em outras palavras, o michê 100% ativo pode, por um acréscimo de valor ao programa, ser passivo para o seu cliente, desde que essa negociação não seja tornada pública e sua fama de comedor não reste abalada.

Nas saunas de Campo Grande, o processo não é exatamente igual, pois há uma negociação indireta. Os “boys interativos” não negociam com os clientes, mas com os proprietários das saunas. Como dito antes, às 19h30, em ambas as saunas, ocorre o clímax dos domingos, o momento mais esperado pelo público ali presente, em que os “boys interativos” iniciam as apresentações de performances sexuais e dançantes, geralmente vestindo um figurino que representa o médico, o militar ou o bombeiro.

Há outros agenciamentos, como podemos perceber pela forma como se desenrola a atividade dos “boys interativos”. Depois do show, no térreo das saunas, eles e parte do público sobem as escadas da moralidade5 5 Adiante explicaremos melhor do que se tratam as “escadas da moralidade”. e se dirigem para um dark room.6 6 As escadas, que chamamos “escadas da moralidade”, são internas em ambas as saunas. Elas ligam os pisos inferiores aos superiores. Não há vigilância nos halls de entrada, pois estes espaços são separados do interior das saunas por portas com vidros vazados, isto é, que impedem a visão de quem está chegando na sauna por parte de quem já está nos estabelecimentos. Ali, os “boys interativos” ficam nus e os clientes podem fazer sexo oral neles. Sexo anal não é permitido naquele momento. Após um período determinado, caracterizado pela felação de clientes nos “boys interativos”, que está coberto pelo cachê dos mesmos, eles podem começar a negociar com os clientes para a realização de programas nas cabines do piso superior das saunas.

Nas conversas realizadas com clientes e atendentes das saunas durante o trabalho de campo, dificilmente eles associaram as práticas de sexo descritas acima como exercício de prostituição. Tal negativa pode ser entendida como uma forma de resistência, ou seja, caso houvesse a afirmação de que tal prática sexual era prostituição, os sujeitos ali presentes estariam se aproximando de comportamentos socialmente reprovados como: incentivo à prostituição por parte dos donos das saunas (o que na Lei brasileira é crime) e/ou assumir que se consome tal serviço.

Nesse sentido, tal situação geraria um tipo de sujeito de certa forma aprisionado em sua própria individualidade. Além disso, tem relação direta com o que Foucault (1995FOUCAULT, Michel. “O sujeito e o poder”. In: RABINOW, Paul; DREYFUS, Hubert. Foucault: uma trajetória filosófica. Para além do estruturalismo e da hermenêutica. Rio de Janeiro: Forense, 1995.) menciona como algo de específico nas relações de poder, a conduta, ligada diretamente ao governo do outro, uma vez que o sujeito só consegue governar o outro quando consegue governar a si mesmo.

Como vimos, a prostituição, em muitas situações, é lida como algo negativo, sujo, a partir de uma leitura higienista de sociedade, o que possibilita, mesmo em um ambiente frequentado exclusivamente por homens e, em sua maioria, homossexuais e bissexuais, que as condutas sejam o tempo inteiro vigiadas, controladas e disciplinadas.

Segundo Kleber Prado Filho et al. (2014PRADO FILHO, Kleber; GERALDINI, Janaina Rodrigues; CARDOSO FILHO, Carlos Antônio. “Trajetórias analíticas em Vigiar e Punir”. Estudos Contemporâneos da Subjetividade, v. 4, n. 1, p. 123-132, 2014.), “[...] além de nos mostrar que relação de poder implica resistência, e que se torna tanto mais difícil resistir quanto mais sutil é o exercício de poder ao qual se está sujeito” (p. 126). Considerando esse entendimento da sutileza nas relações de poder e aproximando desse momento plus/sex interativo encontrado em campo é que identificamos uma outra forma de configuração da prostituição masculina nas saunas de Campo Grande, uma vez que os clientes ali envolvidos são seduzidos pela ideia de que, em razão de a relação sexual não ser paga diretamente por eles, ela não se configuraria como prostituição.

Desde os estudos de Perlongher (1987PERLONGHER, Néstor. O negócio do michê. A prostituição viril. São Paulo: Brasiliense, 1987.), esse negócio é realizado diretamente entre michês e clientes, porém, aqui, em especial, existe tal sutileza nessa relação de poder, o que, de certa forma, confunde as fronteiras da moralidade às quais são expostos os frequentadores de saunas masculinas em Campo Grande. A moralidade ali passa, inclusive, por uma categorização dos próprios michês. Há aqueles michês (que sobem as escadas da moralidade) que fazem sexo oral com os clientes; e há aqueles que realizam o show, mas não sobem tais escadas. A fala do atendente do bar da Sauna Pegação é bastante significativa: “os que sobem são vagabundos mesmo”.

Do ponto de vista arquitetônico, as duas saunas que nós investigamos têm uma estrutura que possibilita a circulação dos frequentadores por diferentes espaços. A disposição dos ambientes permite, por exemplo, que perambular do piso inferior ao piso superior seja um movimento vigiado. A vigilância é de uns sobre os outros e sobre si mesmo. Nas discussões teóricas de Michel Foucault (2014FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 2014.), esse aparato de vigilância dos outros e de si foi chamado por ele de panoptismo.

Baseado na ideia do panóptico, originalmente proposta pelo filósofo iluminista Jeremy Bentham, Foucault (2014FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 2014.) aponta como o panoptismo dispensa ações que necessitam de força e espetacularização, como era tão comum nos suplícios - uma forma de sentença pública muito recorrente nos séculos XVII e XVIII - para se objetivar a sujeição dos sujeitos a um bom comportamento em sociedade. Nesse sentido, Foucault utiliza a ideia de Bentham, como alegoria, para pensar as estratégias utilizadas pela sociedade para disciplinar uma série de sujeitos que, em alguma medida, precisavam passar por um processo de subjetivação (Félix GUATTARI; Suely ROLNIK, 1996GUATTARI, Félix; ROLNIK, Suely. Micropolítica: cartografias do desejo. Petrópolis: Vozes, 1996.). Ele escreve como a sociedade se organizou para lidar com a peste, pois, se com a lepra bastava exilar, na peste era necessário um algo mais, eram necessárias a vigilância, a disciplina planejada que assegurasse a governamentalidade nesses séculos.

O panóptico, tal como pensara Foucault para caracterizar a sociedade disciplinar por meio do exemplo das prisões, pode nos servir, alegoricamente, para refletir sobre alguns movimentos perpetrados pelos frequentadores e “boys interativos” das duas saunas que pesquisamos em Campo Grande. Nesse sentido, o ponto-chave, a nossa torre central do panóptico, são as, aqui chamadas, “escadas da moralidade”. Se quem sobe as escadas nas duas saunas são “os vagabundos mesmo”, como repetem alguns atendentes e outros frequentadores, é porque a escada se faz às vezes de lugar vigiado e vigiável. Vigia-se quem sobe, vigia-se para não ser percebido subindo. As “escadas da moralidade” performam o elemento central de vigilância das práticas sexuais presentes nas saunas de Campo Grande, às quais os corpos, os desejos e as condutas são disciplinados e, portanto, julgados em sua funcionalidade.7 7 Do ponto de vista dos julgamentos, outro elemento moral presente nas perambulações pelas saunas é a fofoca. Ela aparece no contexto das saunas, sobretudo, quando um frequentador percebe que algum conhecido seu sobe as escadas. Isso gera muitos ruídos entre as pessoas que permanecem no piso inferior, negando-se a subir, mas julgando quem sobe. Sobre a fofoca em pesquisas antropológicas, ver FONSECA, Claudia. Família, fofoca e honra: a etnografia de violência e relações de gênero em grupos populares. Porto Alegre: EDUFRGS, 2000 e FERREIRA, Paulo Rogers da Silva. Os afectos mal-ditos: o indizível das sexualidades camponesas. 2006. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Universidade de Brasília, Brasília, DF, Brasil.

Essas funcionalidades são múltiplas e expressam uma positividade em sua concretização. No caso das saunas, podemos interpretar isso como sendo, justamente, a possibilidade de escolher o parceiro ideal, não correr o risco de um envolvimento, ainda que furtivo, com sujeitos lidos, pela audiência local, como “promíscuos”. A funcionalidade ainda permite interpretar por gestos, palavras e comportamentos as performances sexuais (ativo, passivo, versátil) dos sujeitos, além de ser um elemento capaz de vigiar os amigos que estão na sauna. Dessa forma, o panoptismo, desde essa leitura alegórica que fazemos, também é capaz de capturar a sauna enquanto um espaço de produção da subjetividade humana, uma vez que ele:

É polivalente em suas aplicações: serve para emendar os prisioneiros, mas também para cuidar dos doentes, instruir os escolares, guardar os loucos, fiscalizar os operários, fazer trabalhar os mendigos e ociosos. É um tipo de implantação dos corpos no espaço, de distribuição dos indivíduos em relação mútua, de organização hierárquica, de disposição dos centros e dos canais de poder, de definição de seus instrumentos e de modos de intervenção, que se podem utilizar nos hospitais, nas oficinas, nas escolas, nas prisões. Cada vez que se tratar de uma multiplicidade de indivíduos a que se deve impor uma tarefa ou um comportamento, o esquema panóptico poderá ser utilizado (FOUCAULT, 2014FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 2014., p. 169).

Portanto, nas saunas de Campo Grande, segundo nossas observações, há a imposição de comportamentos aceitáveis e a constituição de um repertório de comportamentos considerados, nos limites daqueles espaços, percebidos como não tão aceitáveis assim. Dessa forma, a leitura panóptica para esses espaços é possível. Em conversa com um sujeito em campo, ele relatou a um dos pesquisadores, na sauna a vapor, que o que estava fazendo na sauna é o que normalmente ele sempre fazia, isto é: ficava na área externa, bebia cerveja e depois entrava na sauna a vapor. Percebam, é interessante que a tônica da conversa tem um fundo moral. O interlocutor procura marcar a diferença dele em relação a outros frequentadores da sauna. Ele busca evidenciar, por diversas vezes, ao longo da conversa, que não subia as escadas. Subir as escadas não é apenas um movimento mecânico que conduz de um lugar a outro. Subir as escadas é parte de um movimento moral desabonador do sujeito que o pratica. Para esse contato de campo, quem sobe ao piso superior é igual a uma nota de R$ 1,00: todo mundo passa a mão.

Em outro momento, também na sauna a vapor, entrou um grupo de quatro amigos. Eles conversavam de forma descontraída. A tônica da conversa começou a tomar um outro rumo: a ausência de um quinto amigo. Rapidamente, eles começaram a se perguntar pelo amigo que não estava junto ao grupo. Eles especulavam que o quinto amigo tinha subido as escadas e teria feito isso, certamente, à procura de sexo. Os comentários conclusivos sobre o paradeiro do amigo afastado do grupo eram recobertos por piadas, risadas e comentários desabonadores, pois alguns, dentre os quatro ali presentes, não conseguiam acreditar na hipótese de ele ter subido, uma vez que o quinto amigo era muito cauteloso em relação ao piso superior da sauna e às práticas lá desenvolvidas.

As duas situações acima descritas elucidam por que nomeamos as escadas das saunas de Campo Grande como “escadas da moralidade”, pois, como nos alerta Foucault (2014FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Petrópolis: Vozes, 2014.), “o panoptismo é capaz de reformar a moral [...]” (p. 170). Aliás, o tema da moral, para esse autor, remete diretamente aos processos de subjetivação aos quais todos nós, sujeitos, somos constituídos. Essa escada só possui essa conotação moral, pois os sujeitos desses lugares estabelecem, para si e para os outros, regras morais, comportamentos aceitáveis, práticas sexuais que podem ou não serem realizadas e, ao serem realizadas, punidas caso sejam estabelecidas como não aceitáveis.

Em vista disso é que entendemos a sutileza da presença da prostituição nessas saunas. Ela não é diretamente negociada entre clientes e michês. Ela é agenciada pelos proprietários, que contratam os “boys interativos”, apesar de capturar todos os clientes, marcando práticas sociais normais e anormais. A constituição de um sujeito moral nesses espaços é resultado de uma série de movimentos daqueles que sobem as escadas, daqueles que não sobem, daqueles que reprovam quem sobe e daqueles que naturalizam a prostituição. Sobre a constituição de um sujeito moral, Foucault (1988FOUCAULT, Michel. História da sexualidade 2: O uso dos prazeres. 5. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1988.) diz que:

É verdade que toda ação moral comporta uma relação ao real em que se efetua, e uma relação ao código a que se refere; mas ela implica também uma certa relação a si; essa relação não é simplesmente “consciência de si”, mas constituição de si enquanto “sujeito moral”, na qual o indivíduo circunscreve a parte dele mesmo que constitui o objeto dessa prática moral, define sua posição em relação ao preceito que respeita, estabelece para si um certo modo de ser que valerá como realização moral dele mesmo; e, para tal, age sobre si mesmo, procura conhecer-se, controla-se, põe-se à prova, aperfeiçoa-se, transforma-se (p. 28).

Nos limites de nosso texto, as práticas morais aqui descritas se relacionam com a agência dos sujeitos sobre determinadas práticas sexuais em saunas de Campo Grande. No entanto, mais do que fazer sentido para o público das saunas da cidade, essa reflexão pode ser potente para pensar como a constituição da disciplina é um elemento importante socialmente no sentido de efetivar a legitimação de uma moral hegemônica. Como bem nos explicam Prado Filho e Sabrina Trisotto (2008PRADO FILHO, Kleber; TRISOTTO, Sabrina. “O corpo problematizado de uma perspectiva histórico-política”. Psicologia em Estudo, Maringá, v. 13, n. 1, p. 115-121, jan./mar. 2008.):

[...] deve-se lembrar que a modernidade não apenas produz corpos para o capital, mas também os moraliza e produz sua sexualidade conforme normatividades de cunho científico que classificam a normalidade ou anormalidade para muito além dos domínios da sexualidade, marcando sua identidade e definindo o que é socialmente aceitável ou não para determinado grupo, em determinada cultura (p. 118).

Assim, ainda é permanente um olhar desqualificador sobre a prática da prostituição masculina nas ruas. Ela continua sendo associada a uma série de riscos e perigos. A prostituição masculina nas ruas continua sendo sinônimo de violência, de criminalidade, de sujeira, de infecções das mais variadas. Nesse momento, então, a sauna é catapultada a um lugar mais propício a esse tipo de negociação. Todavia, ainda que seja percebida como um espaço, até certo ponto, menos violento e, em certa medida, um pouco mais higiênico, ela não escapa da ação do poder. O poder em uma sociedade disciplinar, de vigilância, usa da sexualidade para esquadrinhar sujeitos, formar valores morais binários (bem e mal, certo e errado, sujo e limpo). Como uma tecnologia anátomo-política, o poder educa os corpos sociais para continuarem sujeitos dissidentes, abjetos e anormais. Na nossa pesquisa, essa compreensão é produzida, inclusive, pelos próprios clientes das saunas, no âmbito daqueles contextos.

Considerações finais

As experiências envolvendo a prostituição masculina têm sofrido um processo de reconfiguração. Há novas estratégias que perpassam desde os locais onde ela tem sido oferecida com maior proeminência: outrora as ruas; hoje saunas, clubes, aplicativos, sites, jornais. Até a diversidade de serviços oferecidos, segundo as mais variadas demandas dos clientes. Neste artigo, diante dessa miríade de possibilidades para olhar a prostituição masculina em Campo Grande, elegemos as saunas como esse locus mais específico de análise. Fizemo-lo, entre outras razões, em vista da efervescência das experiências ali empreendidas, bem como pelas rupturas e permanências que abarcam o imaginário de michês, clientes e outros envolvidos com esse negócio nesses lugares.

Vista a distância, talvez a prostituição masculina exercida nas saunas possa engendrar uma ideia, equivocada, de homogeneidade. Quando mergulhamos nos trabalhos empreendidos em diferentes lugares do Brasil sobre o tema, percebemos que há recorrências como certa associação à segurança, limpeza e discrição em face às ruas, mais perigosas, mais sujas e mais indiscretas. No entanto, há também uma série de rupturas, de hierarquias, de estratégias, de jogos de sedução, de controles de corpos, de vigilância de gestos, de insinuações lascivas que, de forma molecular, escavam as profundezas do desejo (in)dizível e desnudam seus esquadrinhamentos.

Com o trabalho de campo, compreendemos que há movimentações, muito sutis ainda, que deslocam um pouco a centralidade da exclusividade de um negócio sempre agenciado entre michês e clientes. Esse fenômeno, nas saunas de Campo Grande, está sendo articulado pelos donos dos empreendimentos, pois eles é que são, preferencialmente, os clientes dos “boys interativos”. São eles, os donos, que os contratam para serem o plus nas festas calientes aos domingos. Além disso, são os “boys interativos” que sobem as “escadas da moralidade” - ao subir, ironicamente, descem e se transformam nos vagabundos mesmo - e se entregam ao escrutínio silencioso da felação dos clientes das saunas. Na escuridão, cheia de cumplicidade, de um abafado dark room, ganham protagonismo algumas práticas que, inclusive, ali mesmo, naquele espaço de encontro entre homens para sexo, ainda são compreendidas como dissidentes a partir de uma lógica que forma o sujeito moral hegemônico e socialmente respeitável.

Por fim, compreendemos que há ainda por descortinar uma série de tensões que recobrem o nosso campo. Se há hoje a possibilidade de a prostituição masculina ser agenciada em aplicativos de smartphones, em sites com vídeochamadas e outras dimensões mediadas pelas novas tecnologias, ela ainda está viva e atuante nas praças, nos becos, nas ruas escuras do centro da cidade, bem como nas páginas dos classificados dos jornais impressos. Tudo isso nos mostra que a potência e a pluralidade de discursos que envolvem a construção do desejo são pujantes, enfrentam reveses, muitas vezes, nas relações de poder, mas, ao mesmo tempo, agenciam resistências das formas mais variadas e criativas.

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  • TEIXEIRA, Alexandre Eustáquio. Territórios homoeróticos em Belo Horizonte: um estudo sobre as interações sociais nos espaços urbanos 2003. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, MG, Brasil.
  • TEIXEIRA, Alexandre Eustáquio. “Representação sobre a atividade de garotos de programa em Belo Horizonte (MG): emprego, trabalho ou profissão?”. In: CONGRESSO LUSO-AFRO-BRASILEIRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS, 11, 2011, Salvador, Anais ... Universidade Federal da Bahia. CONLAB: Salvador, 2011, p. 1-18.
  • VIANA, Normando José Queiroz. “É tudo psicológico! dinheiro... pruuu! fica logo duro”: desejo, excitação e prazer entre boys de programa com práticas homossexuais em Recife 2010. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, PB, Brasil.
  • WHYTE, William Foote. Sociedade de Esquina Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
  • 1
    Sobre a valorização da Língua Inglesa em detrimento da Língua Portuguesa, sugerimos a leitura da tese de CARVALHO, Elizandra Roberta Neves de. Desestrangeirização: reflexões de uma professora de língua inglesa em processo de descolonização. 2013. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Educação, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, SP.
  • 2
    Sobre o uso de bebidas em locais LGBT, indicamos a leitura do artigo de REIS, Ramon Pereira dos. “Encontros e desencontros”. Ponto Urbe, n. 10, p. 1-19, 2012. Disponível em https://journals.openedition.org/pontourbe/218Epub 01/07/2012. Acesso em 20/06/2018. ISSN: 1981-3341.
  • 3
    A pessoa que aparece na imagem é Eliad Cohen, produtor, ator, modelo e empreendedor israelense. Cofundador da Gay-ville, um serviço de aluguel de férias gay sediado em Tel Aviv.
  • 4
    Nos últimos anos, os estudos de gênero e sexualidade têm se preocupado, cada vez mais, em pensar estas categorias em intersecção com outras, a fim de se promover uma leitura mais completa diante da complexidade das práticas sociais às quais são constituídas as relações de gênero e sexualidade. Para aprofundar esse debate, ver PISCITELLI, Adriana. “Interseccionalidades, categorias de articulação e experiências de migrantes brasileiras”. Sociedade e Cultura, Goiânia, v. 11, n. 2, p. 263-274, 2008.
  • 5
    Adiante explicaremos melhor do que se tratam as “escadas da moralidade”.
  • 6
    As escadas, que chamamos “escadas da moralidade”, são internas em ambas as saunas. Elas ligam os pisos inferiores aos superiores. Não há vigilância nos halls de entrada, pois estes espaços são separados do interior das saunas por portas com vidros vazados, isto é, que impedem a visão de quem está chegando na sauna por parte de quem já está nos estabelecimentos.
  • 7
    Do ponto de vista dos julgamentos, outro elemento moral presente nas perambulações pelas saunas é a fofoca. Ela aparece no contexto das saunas, sobretudo, quando um frequentador percebe que algum conhecido seu sobe as escadas. Isso gera muitos ruídos entre as pessoas que permanecem no piso inferior, negando-se a subir, mas julgando quem sobe. Sobre a fofoca em pesquisas antropológicas, ver FONSECA, Claudia. Família, fofoca e honra: a etnografia de violência e relações de gênero em grupos populares. Porto Alegre: EDUFRGS, 2000 e FERREIRA, Paulo Rogers da Silva. Os afectos mal-ditos: o indizível das sexualidades camponesas. 2006. Dissertação (Mestrado) - Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, Universidade de Brasília, Brasília, DF, Brasil.
  • Como citar esse artigo de acordo com as normas da revista:

    PASSAMANI, Guilherme Rodrigues; ROSA, Marcelo Victor da; LOPES, Tatiana Bezerra de Oliveira. “Sutilezas e ‘escadas da moralidade’ nas saunas de Campo Grande-MS”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 28, n. 1, e57896, 2020
  • Financiamento:

    O presente trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - Brasil (CAPES) - Código de Financiamento 001.
  • Consentimento de uso de imagem:

    Não se aplica
  • Aprovação de comitê de ética em pesquisa:

    Não se aplica

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    15 Maio 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    26 Jun 2018
  • Revisado
    18 Jun 2019
  • Aceito
    26 Ago 2019
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