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Estudos sobre cinema LGBTQIA+ no Brasil e países latino-americanos

Studies on LGBTQIA+ Cinema in Brazil and Latin American Countries

Resumo:

Neste artigo, apresentamos e analisamos a produção acadêmica sobre o cinema LGBTQIA+ no Brasil e em países latino-americanos. O material analisado consiste em artigos indexados que constam nos portais SciELO e CAPES até o ano de 2021. Foram encontradas 44 pesquisas sobre o tema, as quais foram analisadas à luz de seus discursos e de sua vinculação aos países nos quais tal cinema foi exibido e/ou produzido. Foram organizados, a partir de artigos analisados neste estudo, os principais delineamentos teóricos, temáticos e metodológicos apresentados pelas pesquisas encontradas e indexadas nos portais citados.

Palavras-chave:
revisão sistemática; cinema LGBTQIA+; gênero e sexualidades

Abstract:

This article presents and analyzes the academic production on the LGBTQIA+ cinema in Brazil and in Latin American countries. The corpus consists of indexed articles found in SciELO and CAPES portals until 2021. We have found 44 research works in which the LGBTQIA+ cinema is studied and observed in the light of both its discourses and its connection to the countries in which the films on the theme have been screened and/or produced. Thus, considering the articles examined, the main theoretical, thematic and methodological outlines presented by such research works were organized.

Keywords:
Systematic review; LGBTQIA+ cinema; Gender and sexuality

Introdução

Na última década, os movimentos sociais que representam as diferentes minorias discriminadas (negros, indígenas, mulheres e LGBTQIA+1 1 Lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros, queers, intersexuais, assexuais e demais categorias identitárias não normativas. ) tomaram fôlego no Brasil e vêm, por meio da internet e das mídias em geral, reivindicando direitos, visibilidade, representatividade política e um maior espaço de respeito e legitimidade em face de suas pautas diferenciadas. No bojo dessas lutas, a arte e as pesquisas acadêmicas têm exercido um papel cada vez mais relevante ao suscitar reflexões diversas e necessárias, bem como denunciar processos históricos, sociopolíticos e culturais que reforçam a manutenção dos preconceitos e, consequentemente, das muitas formas de violências perpetradas contra esses grupos.

O cinema, apesar de ter reproduzido estereótipos e reforçado inúmeros estigmas sociais acerca dos grupos identitários citados, vem, nos últimos anos, apresentando olhares mais progressistas sobre a questão. Intenciona não só desconstruir preconceitos, incompreensões e a discriminação vigentes, mas também propor novas formas de percepção, respeitosas, sobre tais sujeitos.

No caso da produção cinematográfica LGBTQIA+ exibida no Brasil a partir dos anos 1980, esta foi mediada primeiramente pelo cinema, depois pelos sistemas de vídeo caseiro VHS, TV (aberta e a cabo), sistema de vídeo digital DVD, BLU-RAY e, mais recentemente, pelo YouTube e Netflix, dentre outros canais atuais de exibição pela internet. Quer seja pela própria internet, que democratizou e viabilizou o acesso a muitos destes filmes que não chegam às salas de exibição, ou através da presença de alguns deles em cerimônias de premiação do cinema de abrangência mundial, como o Oscar, os festivais de Berlim e Cannes, por exemplo, o cinema LGBTQIA+ vive hoje dias melhores do que os vividos até e, inclusive, o início dos anos 80 do século XX (Daniel OLIVEIRA, 2018OLIVEIRA, Daniel. “Acesso ao mainstream afirma a diversidade do cinema queer”. O Tempo, 14/01/2018. Disponível em Disponível em https://www.otempo.com.br/divers%C3%A3o/magazine/acesso-ao-mainstream-afirma-a-diversidade-do-cinema-queer-1.1562401 . Acesso em 20/06/2018.
https://www.otempo.com.br/divers%C3%A3o/...
).

Oliveira (2018), em reportagem publicada em jornal de Belo Horizonte sobre a diversidade do cinema queer, destaca as palavras de Marcelo Caetano, diretor do filme nacional Corpo Elétrico (2017) e de outras produções com temática LGBTQIA+, quando este afirma que “mesmo com a aclamação e premiação de filmes, e a chegada de vários deles ao circuito de salas, a distribuição e a exibição ainda constituem um grande desafio para produções queer no Brasil”.

A partir do livro Cine arco-íris - 100 anos de cinema LGBT nas telas brasileiras (Stevan LEKITSCH, 2011LEKITSCH, Stevan. Cine Arco-Íris: 100 anos de cinema LGBT nas telas brasileiras. São Paulo: Gls, 2011.), vê-se que, na década de 1980, houve um pequeno crescimento no número de filmes exibidos no Brasil, 48 ao todo, se comparado aos 39 exibidos nos anos 1970. Nas décadas seguintes, no entanto, este número cresceu, atingindo a expressiva soma de 491 filmes até o final de 2010. Sobre a década de 80 há, no livro de Lekitsch, o registro de um quantitativo de 13 filmes sobre lesbianidades exibidos no Brasil, 26 sobre homossexualidades masculinas, apenas um sobre bissexualidades, dois sobre transexualidades, dois sobre dragqueens e quatro sobre transformismos, nos quais os/as personagens não são necessariamente gays, lésbicas ou pessoas transexuais, travestis ou transgêneras, mas se vestem e se apresentam socialmente como se fossem de um gênero diferente do seu, os/as croosdress.

Nos anos 1990, o número de filmes exibidos por aqui cresceu um pouco, mas apenas no segmento de filmes gays, que sempre se mostrou majoritário em relação às outras representações identitárias vinculadas aos âmbitos da sexualidade e do gênero. São 10 filmes sobre lésbicas, 36 sobre gays, um sobre bissexualidades, dois sobre transexuais, dois sobre dragqueens e quatro sobre transformismos.

Já de 2000 a 2009, final do recorte histórico-temporal da pesquisa realizada por Lekitsch (2011), o quantitativo de filmes LGBTQIA+ exibidos no Brasil (ou veiculados em VHS e DVD) cresceu de forma significativa, embora o número dos filmes gays continuasse a ser o mais expressivo. No entanto, surgem filmes sobre travestilidades e pessoas intersexo que, de acordo com o início do recorte temporal da pesquisa citada, são identidades sociais que pouco haviam sido representadas até então pelo cinema exibido nas salas brasileiras. São 17 filmes sobre lésbicas, 78 sobre gays, três sobre bissexualidades, dois sobre transexualidades, sete sobre travestilidades, um sobre dragqueens e um sobre intersexualidades. Como se pode perceber, há um crescimento significativo de filmes exibidos no Brasil a partir dos anos 2000. O número total é de 99 filmes, quase o dobro dos 55 filmes da década anterior.

Quanto ao último decênio e o primeiro ano deste decênio, este número se amplia ainda mais. Em uma contagem dos filmes e séries LGBTQIA+ produzidos até o momento e que aparecem divulgados no site http://filmesgays.net/, há um total de 678 filmes e séries realizados entre 2010 e maio de 2021. Um número quase sete vezes maior do que o que foi exibido no Brasil na primeira década dos anos 2000.

Tal produção cinematográfica vem sendo realizada por diferentes artistas e produtores que contribuem para a construção de um panorama discursivo diverso, que se relaciona a identidades de gênero e sexuais até pouco tempo invisibilizadas e ainda hoje discriminadas. A receptividade pelo grande público, por sua vez, tem aguçado o interesse comercial da indústria de cinema mainstream, em especial a estadunidense, que viu nas questões LGBTQIA+ um novo filão de lucratividade, questão visibilizada na crítica publicada no Jornal Correio Braziliense (2018JORNAL CORREIO BRAZILIENSE. “Descoberta da orientação sexual ganha o cinema mainstream em ‘Com amor, Simon’”. Brasília, 05/04/2018. Disponível em Disponível em https://www.uai.com.br/app/noticia/cinema/2018/04/05/noticias-cinema,224989/descoberta-da-orientacao-sexual-ganha-o-mainstream-em-com-amor-simon.shtml . Acesso em 20/04/2018.
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) ao filme Com amor, Simon.

Além do viés industrial e comercial, a produção de cinema LGBTQIA+ vem também, desde os anos 1970 e 1980, sendo realizada por alguns/mas cineastas “autorais” que se propuseram a criar obras mais livres, conceitual e esteticamente, e mais arrojadas na abordagem dos múltiplos matizes que compõem o “arco-íris” da diversidade sexual e identidade de gênero humanas. Estes artistas independentes enfrentaram e enfrentam hoje, ainda, o embate pela preservação de suas ideias e “visões” criativas em face das impositivas concessões a serem realizadas pelos interesses comerciais. Tais concessões reproduzem e reforçam o caráter tradicionalista que, em geral, sempre regeu o mercado produtor e consumidor de cinema.

Graeme Turner (1997TURNER, Graeme. Cinema como prática social. São Paulo: Summus, 1997., p. 146) afirma que a ideologia de um filme não é expressa por meio de alusões diretas sobre a cultura, mas que está presente na “estrutura narrativa e nos discursos usados - imagens, mitos, convenções e estilos visuais”. Segundo o autor, os interesses políticos das instituições cinematográficas determinam a escolha dos filmes que serão produzidos e, em última instância, os que poderão ou não ser vistos.

Vários estudos teóricos sobre o cinema LGBTQIA+ discutem essas questões. Turner, ao afirmar que o cinema não é uma linguagem, mas que produz seus significados por meio de “sistemas (cinematografia, edição de som e assim por diante) que funcionam como linguagens” (1997, p. 51), apresenta-nos uma metodologia de análise do cinema de cunho interdisciplinar que pretende avaliar o seu potencial não só como arte, mas como prática social. Armand Mattelart e Érik Neveu (2004) afirmam que nessas pesquisas interdisciplinares, alinhadas aos estudos culturais, o caráter epistemológico predominante é o hibridismo teórico e que por isso se autodenominam por seus defensores mais radicais de “antidisciplina” (MATTELART; NEVEU, 2004MATTELART, Armand; NEVEU, Érik. Introdução aos estudos culturais. São Paulo: Parábola Editorial, 2004., p. 15). Para esses estudos, o cinema e a televisão são considerados como veículos de comunicação de massa que participam da construção de valores individuais e sociais em face dos contextos diversos que constituem as sociedades contemporâneas.

Mattelart e Neveu (2004, p. 13-14) afirmam ainda que os estudos culturais, no momento em que emergiram na Europa pós-segunda Guerra Mundial, vão ser qualificados como paradigmáticos. A Escola de Birmingham, na Grã-Bretanha dos anos 1970, vai explorar, inicialmente, as culturas jovens e operárias e seus conteúdos, bem como a recepção da mídia. Posteriormente, a partir dos anos 1980, os estudos culturais incluem em seu escopo de análise trabalhos relacionados às categorias de gênero, identidades sexuais e étnico-raciais, extrapolando a categoria central de análise que tinha inicialmente a classe social como principal fator explicativo para as discussões apresentadas. Neste novo momento, há uma “revalorização do sujeito, reabilitação dos prazeres ligados ao consumo da mídia, ascensão de visões neoliberais [e] aceleração da circulação mundial de bens culturais” (2004, p. 15).

Assim, foi com base tanto na percepção da mudança significativa de enfoque relacionada às novas formas de produção, veiculação e recepção citadas acerca do cinema LGBTQIA+ quanto dos desdobramentos teóricos vinculados a esse cinema, nascidos com base nos estudos culturais, que nos propusemos a desenvolver este estudo. O objetivo foi averiguar as mudanças e atuais perspectivas conceituais acerca desse cinema, assim como os desdobramentos metodológicos utilizados pelos/as pesquisadores/as brasileiros/as e latino-americanos/as em suas produções.

Método

Nesta pesquisa, de caráter bibliográfico, apresentamos a revisão sistemática (Ana Paula ZOLTOWSKI; Angelo Brandelli COSTA; Marco Antônio TEIXEIRA; Silvia Helena KOLLER, 2014ZOLTOWSKI, Ana Paula; COSTA, Angelo Brandelli; TEIXEIRA, Marco Antônio; KOLLER, Silvia Helena. “Qualidade metodológica das revisões sistemáticas em periódicos de psicologia brasileiros”. Revista Psicologia: Teoria e Pesquisa, Brasília, v. 30, n. 1, p. 97-104, jan./mar. 2014. Disponível em Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010237722014000100012&script=sci_abstract&tlng=pt . Acesso em 14/02/2018.
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) da produção científica brasileira, bem como de alguns países da América Latina, relacionada ao cinema LGBTQIA+. A revisão sistemática é uma modalidade de pesquisa que tem o propósito de levantar informações sobre estudos acadêmicos já realizados acerca de um determinado tema e local e, com estas, conhecer de forma abrangente o universo conceitual e teórico-metodológico relacionado ao tema pesquisado.

Realizamos um levantamento por meio da base de dados SciELO (Scientific Electronic Library Online - https://ww.scielo.org) e do portal de periódicos e de teses e dissertações da CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - www.capes.gov.br). Não delimitamos recorte temporal para a busca dos materiais. Tanto na SciELO quanto no portal da CAPES utilizamos os mesmos descritores, a saber: “cinema LGBTQIA+”; “cinema LGBTQIA+, Brasil”; “cinema gay e de temática lésbica”; “cinema gay”; “cinema queer”; “cinema, diversidade sexual, gênero”; “cinema, sexualidade”; “cinema, identidade de gênero”; “gênero e cinema”; “cinema e transexualidade”; “cinema e lesbianidades”; “cinema e transgêneros”; “cinema e homossexualidade” e “cinema e bissexualidade”.

Por meio destes descritores, conseguimos encontrar no portal da SciELO 30 trabalhos produzidos e publicados até o ano de 2021 em revistas brasileiras e latino-americanas. Desses 30 trabalhos publicados, 17 se aproximaram da temática deste estudo. No portal de periódicos da CAPES foram encontrados 35 artigos publicados em revistas eletrônicas (nacionais e latino-americanas) e, dentre estes, 27 foram os que se aproximaram do nosso objeto de estudo.

A exclusão de trabalhos foi feita pelos seguintes motivos: 1) por não tratarem do cinema LGBTQIA+ especificamente; 2) por tratarem de temas que remetem ao cinema de gênero e/ou sexualidades, porém vinculados aos estudos sobre mulheres, feminismos e masculinidades nos quais a heterossexualidade é o “pano de fundo” central das pesquisas; 3) trabalhos em forma de resumo de dissertação, entrevistas e resenhas de livros também foram excluídos do levantamento. Mantivemos apenas uma resenha, por se tratar de um livro específico e raro sobre o cinema LGBTQIA+ no Brasil; 4) trabalhos enfocando questões LGBTQIA+ em outras expressões artísticas como o teatro e a literatura, por exemplo; 5) trabalhos publicados em revistas europeias e estadunidenses, pois mesmo relacionados ao tema citado, estes não se coadunavam com o recorte de localização considerado para a busca dos materiais a serem analisados. Somente um artigo de autor e autora estadunidenses traduzido por uma pesquisadora brasileira e publicado em uma revista nacional foi incluído na análise do material levantado. Justificamos a inclusão desta pesquisa porque acreditamos que a escolha e a intenção da pesquisadora pela tradução e publicação de um determinado artigo estrangeiro em uma revista brasileira pressupõem a observação do mesmo e a análise de sua relevância para os estudos sobre o tema no Brasil.

Observamos e consideramos, principalmente, no âmbito geral dos artigos levantados pelos portais SciELO e CAPES, os resumos dos trabalhos, os objetos e objetivos dos estudos, os filmes analisados, os métodos de pesquisa, as áreas de atuação dos/as pesquisadores/as, os locais e instituições em que os trabalhos foram produzidos, o ano de publicação dos mesmos e as revistas em que os artigos foram publicados.

A maior parte dos artigos analisados teve sua publicação em revistas brasileiras e latino-americanas das áreas da Comunicação (11 artigos), História (seis artigos), Antropologia (seis artigos), Ciências Sociais (cinco artigos), Educação (cinco artigos), História do Cinema (três artigos) e Letras (três artigos), dentre outras áreas. A Revista Estudos Feministas foi o periódico que mais publicou trabalhos relacionados ao Cinema LGBTQIA+. Quanto à produção da América Latina, a RELACult, Revista Latino-Americana de Estudos em Cultura e Sociedade foi a que teve mais trabalhos publicados. Os demais artigos foram publicados em diversas revistas eletrônicas que abrangem áreas distintas da pesquisa acadêmica. Além disso, a maior parte da produção encontrada é de 2013 em diante, o que indica que os estudos voltados para o cinema LGBTQIA+ são recentes.

A análise qualitativa das produções acadêmicas sobre o cinema LGBTQIA+ identificadas no levantamento realizado será apresentada a seguir, a partir de três eixos de discussão específicos: 1) Principais delineamentos teóricos e temáticos dos artigos; 2) Artigos sobre o cinema LGBTQIA+ brasileiro: alguns destaques e 3) Os principais aspectos teóricos e metodológicos das pesquisas.

Principais delineamentos teóricos e temáticos dos artigos

Os artigos analisados revelaram perfis de pesquisa diversificados. Além disso, vê-se que distintas áreas disciplinares, em diálogo interdisciplinar, vêm estudando e refletindo teoricamente sobre o cinema LGBTQIA+. Foi possível identificar os seguintes e principais delineamentos teóricos: 1) a problematização das relações entre os diferentes aspectos que envolvem o âmbito cinematográfico (olhar da câmera, direção, roteiro, recepção etc.) e a construção de “verdades sobre os corpos” (Luciene GALVÃO-VIANA; Isalena CARVALHO, 2014GALVÃO-VIANA, Luciene; CARVALHO, Isalena Santos. “Gêneros inteligíveis em cena: o cinema e a produção de verdades sobre os corpos”. Athenea Digital, v. 14, 2014. Disponível em Disponível em https://www.researchgate.net/publication/287450310_Generos_inteligibles_en_la_escena_el_cine_y_la_produccion_de_verdades_sobre_los_cuerpos . Acesso em 15/03/2018.
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, p. 171), dentre outros termos utilizados; 2) a teorização acerca da função do cinema LGBTQIA+ enquanto propiciador de “mundos possíveis” (Marco Aurélio SILVA, 2013SILVA, Marco Aurélio. “A cidade de São Paulo e os territórios do desejo: uma etnografia do festival Mix Brasil de Cinema e Vídeo da Diversidade Sexual”. EcoPós, Rio de Janeiro, v. 16, n. 3, 2013. Disponível em Disponível em https://revistas.ufrj.br/index.php/eco_pos/article/view/830 . Acesso em 16/03/2018.
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), ou “novos mundos” (Karl SCHOONOVER; Rosalind GALT, 2015SCHOONOVER, Karl; GALT, Rosalind. “Os mundos do cinema queer: da estética ao ativismo”. Art Cultura, Uberlândia, v. 17, n. 30, 2015. Disponível em Disponível em http://www.artcultura.inhis.ufu.br/PDF30/11_Os_mundos_do_cinema_queer.pdf . Acesso em 13/03/2018.
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), nos quais se observa a vivência de uma coexistência respeitosa e pacífica entre as diferenças individuais e distintas experiências de vida; 3) a crítica, com base em alguns filmes e presente em quase todos os trabalhos, ao modelo binário de orientação sexual e identidade de gênero hegemônica. Consequentemente, 4) parte do cinema LGBTQIA+ estaria favorecendo a desconstrução, nas diferentes sociedades, dos regimes de verdade constituídos social e culturalmente pelas racionalidades modernas e contemporâneas. Esses regimes, conforme os/as autores/as, ao reiterarem e legitimarem a relação entre a suposta noção de “normalidade” biológica e os padrões cisgênero e heteronormativos, excluem outras expressões da sexualidade e da identidade de gênero consideradas “anormais” e/ou abjetas.

Em um caminho de análise semelhante, observamos também 5) a crítica dos/as pesquisadores/as às reivindicações que o cinema de temática gay e lésbica vem fazendo à legitimação destas identidades coletivas consideradas fixas. Como consequência, os/as autores/as observam o favorecimento da manutenção da exclusão social de outras noções identitárias menos fixas relacionadas aos âmbitos da sexualidade e da expressão de gênero. Além disso, observamos críticas e análises nesses trabalhos 6) aos estereótipos que o cinema mainstream LGBTQIA+, desde os anos 1970 (Markus V. LASCH; Renato B. PEREIRA, 2021LASCH, Markus V.; PEREIRA, Renato B. “À luz de uma revolta. A festa e o after de The Boys in the Band”. Ilha do Desterro, Florianópolis, v. 74, n. 1, 2021. Disponível em Disponível em https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S2175-80262021000100675&script=sci_arttext . Acesso em 15/04/2021.
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), e mais proximamente a partir dos anos 2000 (Érica SARMET; Mariana BALTAR, 2016SARMET, Érica; BALTAR, Mariana. “Pedagogias do desejo no cinema queer contemporâneo”. Textura, Canoas, v. 18, n. 38, 2016. Disponível em Disponível em http://www.periodicos.ulbra.br/index.php/txra/article/view/2227 . Acesso em 15/03/2018.
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), vem produzindo e/ou reafirmando nos diferentes âmbitos sociopolíticos e culturais. Estas críticas e análises apontam a) para a incongruência entre o olhar cada vez mais crítico e militante do/a espectador/a do cinema LGBTQIA+ a partir do início do movimento de gays e lésbicas nos EUA e a produção de narrativas fílmicas LGBTQIA+ estadunidenses desvinculadas da militância e, consequentemente, do momento histórico no qual foram produzidas; b) para o reforço (indireto) que o cinema LGBTQIA+ vem fazendo à já proeminente e maciça presença dos padrões cis e heterocentrados nas sociedades e, por fim, c) para a denúncia, mais recentemente, à predominância, nos filmes, de personagens de gays e lésbicas como pessoas normalmente brancas, neoliberais e de classe média. Alguns trabalhos descrevem, por meio do olhar sobre o cinema LGBTQIA+, onde, quando e como se deu a construção destes modelos normativos dissonantes e/ou consonantes com o status quo e com o momento histórico no qual as narrativas foram produzidas. Nesse caminho, observamos também, em alguns artigos, a crítica sobre o papel hegemônico de algumas políticas identitárias, em particular as concebidas nos EUA, e a influência global das mesmas, por meio do discurso fílmico, a fim da legitimação de modelos dissidentes identificados agora como normativos (Santiago PEIDRO, 2013PEIDRO, Santiago. “Reflexiones Acerca de la caída del padre y las minorías sexuales”. Affectio Societatis, v. 10, n. 19, 2013. Disponível em Disponível em http://aprendeenlinea.udea.edu.co/revistas/index.php/affectiosocietatis/article/view/18001 . Acesso em 25/03/2018.
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).

Foi possível observar também estudos sobre 7) o cinema LGBTQIA+ (ou cinema queer) mais independente, atual e que vem sendo exibido principalmente em festivais ao redor do mundo (Karla BESSA, 2007BESSA, Karla. “Os festivais GLBT de cinema e as mudanças estético-políticas na constituição da subjetividade”. Cadernos Pagu, Campinas, n. 28, 2007, p. 257-283. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-83332007000100012&script=sci_abstract&tlng=pt. Acesso em 15/03/2018.) ou mesmo em circuitos de exibição convencionais. Nestes estudos, vê-se o olhar dos/as pesquisadores/as voltado para o cinema LGBTQIA+ latino-americano e brasileiro contemporâneos e o que esses cinemas têm propiciado no sentido da (des)construção e/ou reafirmação de “novos modos” de existência mais plurais e fluidos identitariamente (PEIDRO, 2013PEIDRO, Santiago. “Dos casos de intersexualidad en el cine argentino”. Sexualidad, Salud y Sociedad - Revista Latinoamericana, Buenos Aires, n. 14, 2013b. Disponível em Disponível em https://www.scielo.br/j/sess/a/cHVs39bzHLjK8BvzxgVpdKz/?lang=es . Acesso em 10/04/2021.
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b; 2018PEIDRO, Santiago. “Una hermeneutica de sexualidades anti-identitarias en el cine argentino contemporâneo”. Sexualidad, Salud y Sociedad - Revista Latinoamericana, Buenos Aires, n. 28, abr. 2018. Disponível em Disponível em https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1984-64872018000100178&lng=pt&nrm=iso&tlng=es . Acesso em 10/04/2021.
https://www.scielo.br/scielo.php?script=...
; Ertz C. M. dos SANTOS, 2018). Pode-se perceber que neste cinema queer atual não só as categorias de gênero e sexualidades estão sendo privilegiadas, mas que há, em relação a estas, outras problematizações interseccionais envolvendo questões de raça/etnia (Glauco FERREIRA, 2015FERREIRA, Glauco. “Margeando artivismos globalizados: nas bordas do Mujeres Al Borde”. Revista Estudos Feministas, v. 23, n. 1, 2015. Disponível em Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104026X2015000100207&script=sci_abstract&tlng=es . Acesso em 13/03/2018.
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), classe, geração (Flavi LISBOA FILHO; Alisson MACHADO; Marlon DIAS, 2013LISBOA FILHO, Flavi Ferreira; MACHADO, Alisson; DIAS, Marlon Santa Maria. “Velhos amores: a representação dos homossexuais idosos em curtas contemporâneos”. Mediação, Belo Horizonte, v. 15, 2013. Disponível em Disponível em http://www.fumec.br/revistas/mediacao/article/view/1463 . Acesso em 20/02/2018.
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), entre outros marcadores de diferenças discutidos nos filmes e nos artigos.

Outro aspecto importante observado, em particular nos trabalhos realizados por pesquisadores/as de países latino-americanos escritos em língua espanhola, foi 8) o questionamento sobre a validade do uso do termo queer para denominar as perspectivas teóricas e/ou fílmicas relacionadas às dissidências sexuais e de gênero destes países. Há também a crítica, pelos movimentos sociais latino-americanos, sobre a adoção do termo para a designação atual das identidades sexuais e de gênero dissidentes. A justificativa para o questionamento da validade do uso dessa denominação em contextos de estudo e militância não hegemônicos é que ele é um léxico de origem anglo-saxã e que carrega, por este motivo, significados particulares e relacionados aos âmbitos sociopolíticos, culturais e linguísticos nos/dos quais se desenvolveu e originou.

As abordagens pós-colonial e decolonial relacionadas às questões LGBTQIA+ e/ou queer no cinema contemporâneo foram observadas, como citado, mais frequentemente nos trabalhos escritos em língua espanhola. Entretanto, nos artigos mais recentes (SANTOS, 2018SANTOS, Ertz C. M. dos. “Fluidez e possibilidades: reflexões múltiplas e decoloniais em torno do filme ‘Corpo Elétrico’, de Marcelo Caetano”. Revista Espaço Acadêmico, v. 19, n. 216, maio/jun. 2019. Disponível em Disponível em https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/EspacoAcademico/article/view/48154 . Acesso em 10/04/2021.
https://periodicos.uem.br/ojs/index.php/...
), observamos que alguns estudos em português do Brasil, embora em sua maior parte ainda críticos ao cinema LGBTQIA+ mainstream estadunidense, também passaram a utilizar o conceito (e a teoria) queer, em diálogo com outras conceituações afins de pesquisadores/as decoloniais brasileiros/as e latino-americanos/as, no intuito de analisar comportamentos e formas de relacionamento interpessoal dissidentes dos/as personagens das narrativas fílmicas contemporâneas do cinema nacional e latino-americano (Sulivan C. BARROS, 2015BARROS, Sulivan C. “Cinema Queer Latinoamericano: diálogos e entrelaçamentos em gênero e (homo)sexualidades por meio dos filmes ‘Plata Quemada’ e ‘Morango e Chocolate’”. Revista de Estudos & Pesquisas sobre as Américas, Brasília, v. 9, n. 2, 2015. Disponível em Disponível em https://periodicos.unb.br/index.php/repam/article/view/16043 . Acesso em 13/03/2018.
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; PEIDRO, 2018).

É importante salientar também que algumas leituras teóricas a partir de filmes ficcionais de países da América Latina, ou obras audiovisuais produzidas por coletivos militantes destes países (FERREIRA, 2015), apontam para o questionamento de noções consideradas hegemônicas e oriundas dos países do Norte, mais especificamente dos Estados Unidos, por sua posição hegemônica na produção cinematográfica. Estas análises visam desconstruir binarismos diversos e objetivismos dicotômicos erigidos pelo pensamento dominante e relacionados à sexualidade e à expressão de gênero. Ao problematizarem tais noções, criam novos sentidos para os conceitos “importados”, resgatando, com isso, aspectos talvez perdidos, ou esquecidos, e vinculados aos contextos socioculturais de onde tais filmes se originaram. As noções acerca do significado do termo queer, dentre outras como “tradicional”, “comunitário” e “sacro” (Dorian BERTRÁN, 2014BERTRÁN, Dorian. “Fortunas y adversidades del revisionismo: cine queer y contracorrente”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 22, n. 2, 2014. Disponível em http://www.redalyc.org/html/381/38131661018/. Acesso em 14/03/2018., p. 667, tradução nossa), por exemplo, são revisitadas e revisadas. Bertrán afirma que

quando se discute o tema do revisionismo na produção cultural poucas vezes se faz referência ao cinema queer. Usualmente, estudam-se gêneros audiovisuais, como os cinemas de western, de guerra ou de período, entre outros, mas o cinema queer brilha por sua ausência. É como se se presumisse que todo revisionismo é, em si mesmo, um acerto de contas com o passado, ajuste de contas que passa por uma peneira crítica. Posicionar a existência de um cinema revisionista queer seria um pleonasmo, porque o cinema queer, por definição, revisa os gêneros - ou, se preferir, os degenera - todos os gêneros heteronormativos (BERTRÁN, 2014, p. 668, tradução nossa).

Desta forma, efetuar um revisionismo conceitual vinculado a questões de gênero e sexualidades por meio da análise do cinema LGBTQIA+ (ou queer) latino-americano é não somente caminhar rumo à desconstrução dos modelos heteronormativos, mas, também, dos modelos socioculturais estrangeiros que, em função de um processo imposto de dominação cultural, fizeram-nos crer que eram nossos.

Outro aspecto importante observado em boa parte dos trabalhos é o foco de estudo dos artigos analisados, o qual se diferencia de forma significativa dos primeiros trabalhos sobre sexualidades produzidos a partir dos anos 1970 e nos anos subsequentes. Nestes primeiros trabalhos, conhecidos como de “gays e lésbicas” ou lesbian and gay studies, os temas eram voltados para problematizações identitárias relacionadas às questões de gays e lésbicas, em contraposição às categorias dominantes heteronormativas. Embora vinculados a categorias não normativas ou consideradas dissidentes, esses trabalhos têm sido criticados atualmente por serem percebidos como essencialistas ao defenderem certa fixidez identitária, biologizada, dos indivíduos homossexuais, em contraponto à também essencializada e fixa identidade heterossexual. Por isso alguns destes estudos foram considerados por estudiosos/as das teorias queer, paralelamente às críticas que fazem à “heteronormatividade”, como produtores de “homonormatividades”. Tais estudos acompanharam, num primeiro momento, as políticas identitárias do início do movimento homossexual nos EUA, que requeriam, mais fortemente naquela ocasião, o coming out ou, como foi traduzido para o português do Brasil, “o sair do armário”. Esta noção significava e significa hoje ainda o “assumir-se”, a publicização para o social das identidades “gay” e “lésbica” que estavam “escondidas” e, metaforicamente, “fechadas no armário”, sendo convocadas politicamente a serem reveladas, assumidas e afirmadas em âmbito sociocultural. Sobre isso, a pesquisadora norte-americana Eve Kosofsky Sedgwick (2007SEDGWICK, Eve Kosofsky. “A epistemologia do armário”. Tradução de Plínio Dentzien. Cadernos Pagu, Campinas, n. 28, p. 19-54, jan./jun. 2007. Disponível em Disponível em http://www.scielo.br/pdf/cpa/n28/03.pdf . Acesso em 19/03/2018.
http://www.scielo.br/pdf/cpa/n28/03.pdf...
) afirmou que:

O armário é a estrutura definidora da opressão gay no século XX. [...] A imagem do assumir-se confronta regularmente a imagem do armário, e sua posição pública sem ambivalência pode ser contraposta como uma certeza epistemológica salvadora contra a privacidade equívoca oferecida pelo armário (p. 26-27).

No entanto, nos trabalhos sobre questões LGBTQIA+ mais recentes e em particular nos artigos analisados neste estudo, pesquisadores/as têm confrontado e desestabilizado tais noções consideradas essencialistas e normativas. Em suas discussões, a problematização das identidades nas “margens” (FERREIRA, 2015) ou “fronteiriças” (Adriana BONATTO, 2017BONATTO, Adriana. “Entre lo propio y lo ajeno: modulaciones identitarias fronterizas en Pedro Almodóvar, Eduardo Mendicutti y Luis Antonio de Villena”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 25, n. 3, 2017. Disponível em Disponível em https://periodicos.ufsc.br/index.php/ref/article/view/44845 . Acesso em 25/03/2018.
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), dentre outros termos, coloca-se como eixo central das teorizações relacionadas ao cinema queer. Nestas, discute-se de diferentes modos “a plasticidade do corpo e a fluidez do gênero, demonstrando seu caráter construtivo ao se desvincular de categorizações fixas essencialistas” (Débora BREDER; Paloma COELHO, 2017BREDER, Débora; COELHO, Paloma. “Desvelando imagens: o visível e o indizível na pele que habitamos”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 25, n. 3, 2017. Disponível em Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104026X2017000301489&script=sci_abstract&tlng=pt . Acesso em 15/03/2018.
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, p. 1489).

Dos 44 artigos analisados, 17 traziam personagens transexuais, intersexuais e transgêneros, ou a crítica, por exemplo, ao conceito coming out, considerado binário ao não possibilitar qualquer outra interpretação que não seja o “sair” ou o “ficar” no armário. A pessoa homossexual ou assume e revela socialmente a sua identidade sexual, ou a esconde. Não há um terceiro elemento, um “caminho do meio”, como concebem os orientais, um espaço entre “o dentro e o fora do armário” no processo que envolve a compreensão subjetiva e a exposição objetiva da orientação sexual individual. Daí o binarismo, o objetivismo do conceito e sua consequente limitação, fora o fato de desconsiderar diferentes momentos e atuações do sujeito, que em algumas circunstâncias se expõe, em outras não pode fazê-lo, como lembra a própria Sedgwick (2007).

É por isso que, nos trabalhos analisados, as problematizações acerca da identidade de gênero e da orientação sexual fundamentam-se nas teorias queer as quais criticam os binarismos. No entanto, como citado, estas teorias também têm sido criticadas por estarem se tornando hegemônicas. Sua generalização e status de universalidade vêm sendo questionadas pelo caráter homogeneizante de seus pressupostos conceituais culturais e geopolíticos fundantes. Em um dos artigos analisados, Bertrán (2014) diz que o que se requer sobre o tema é observar sua complexidade. Que a questão ou o conceito de “liberação” sexual, por exemplo, não é o mesmo em qualquer lugar e em qualquer idioma. “Sem dizer que, segundo as investigações já clássicas [de Foucault], a ‘liberdade’, e entre elas a sexual, é outro discurso que teve muita interposição do poder/saber moderno” (BERTRÁN, 2014, p. 671, tradução nossa).

Ainda em relação às abordagens mais recorrentes observadas nos artigos analisados, destacamos o olhar voltado para o cinema LGBTQIA+ com o objetivo de teorizá-lo como potente “detonador” de discussões e práticas educacionais capazes de deslocar os regimes cisheteronormativo e homonormativo. Através destas práticas, pretende-se o descentramento dos lugares constituídos socialmente acerca do masculino e do feminino (Saraí SCHMIDT; Pamela STOCKER, 2013SCHMIDT, Saraí; STOCKER, Pamela. “Comunicação, juventude e diversidade”. Eptic, Porto Alegre, v. 15, n. 3, p. 177-189, set.-dez. 2013. Disponível em Disponível em https://seer.ufs.br/index.php/eptic/article/view/1364 . Acesso em 13/03/2018.
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), buscando ressignificar o âmbito das experiências escolares que, em geral, é LGBTQIA+ fóbico e excludente, segundo as autoras. Embora em menor número, três artigos (Suélen de S. ANDRES; Angelita A . JAEGER, 2016ANDRES, Suélen de Souza; JAEGER, Angelita Alice. “O cinema e suas interfaces com gênero, sexualidade e educação física”. Holos, Porto Alegre, ano 32, v. 1, 2016. Disponível em Disponível em http://www2.ifrn.edu.br/ojs/index.php/HOLOS/article/view/3686/1379 . Acesso em 15/03/2018.
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; Jamil SIERRA; Maria R. CÉSAR, 2016SIERRA, Jamil; CÉSAR, Maria Rita de Assis. “A criança queer no cinema e as subversões das normas de gênero e sexualidade na escola”. Reflexão e Ação, Santa Cruz do Sul, v. 24, n. 1, p. 47-60, jan./abr. 2016. Disponível em Disponível em https://online.unisc.br/seer/index.php/reflex/article/view/7036 . Acesso em 18/03/2018.
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; Valmor RHODEN; Jéssica D. SILVA; Valeska M. F. OLIVEIRA, 2019RHODEN, Valmor; SILVA, Jéssica D.; OLIVEIRA, Valeska M. F. “O documentário como instrumento na educação para combater o preconceito de gênero: o caso Maria Luisa”. Holos, v. 1, 2019. Disponível em Disponível em http://www2.ifrn.edu.br/ojs/index.php/HOLOS/article/view/7789 . Acesso em 10/04/2021.
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) deram ênfase ao potencial da utilização da linguagem cinematográfica (ficcional e documental) como estratégia pedagógica no intuito de desconstruir enunciados dominantes no cinema e, assim, realizar uma revisão conceitual acerca dos condicionantes socioculturais vigentes relacionados ao gênero e à sexualidade. Nestes, o propósito era o de favorecer a construção, pelos/as estudantes, de uma visão crítica acerca do status quo e sua reflexão sobre os próprios preconceitos, em geral pouco questionados e/ou reavaliados, através das dinâmicas socioeducativas nacionais.

Por fim, outros cinco artigos analisados (Sônia MALUF, 2002MALUF, Sônia Weidner. “Corporalidade e desejo: ‘Tudo sobre minha mãe’ e o gênero na margem”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 10, n. 1, 2002. Disponível em Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ref/v10n1/11633 . Acesso em 15/03/2018.
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; BREDER; COELHO, 2017; Natanael D. de AZEVEDO; Maria I. B. MENEZES; Djaneide J. A. SILVA, 2018AZEVEDO, Natanael D.; MENEZES, Maria I. B.; SILVA, Djaneide J. A. “Desconstruindo Gênero em ‘Todo Sobre Mi Madre’”. Revista Latino-Americana de Estudos em Cultura e Sociedade, Foz do Iguaçu, v. 04, n. 03, set.-dez. 2018. Disponível em Disponível em https://periodicos.claec.org/index.php/relacult/article/view/1045 . Acesso em 10/04/2021.
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; COELHO, 2018COELHO, Paloma. “O gênero do desejo: sexualidade e universo moral no cinema de Pedro Almodóvar”. Iberoamericana, v. 18, n. 67, 2018. Disponível em Disponível em https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=6378415 . Acesso em 10/04/2021.
https://dialnet.unirioja.es/servlet/arti...
; Clarissa GONZALEZ; Luiz P. da M. LOPES, 2018GONZALEZ, Clarissa; LOPES, Luiz P. da M. “Reflexividade metapragmática sobre o cinema de Almodóvar numa interação online: indexicalidade, escalas e entextualização”. Trabalhos em Linguística Aplicada, Campinas, v. 57, n. 2, maio/ago. 2018. Disponível em Disponível em https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0103-18132018000201102&lng=pt&nrm=iso . Acesso em 10/04/2021.
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) estudam relações teóricas entre as questões de identidade de gênero e sexualidades no cinema e o pensamento e a obra de Pedro Almodóvar. O artista espanhol é o mais pesquisado entre os cineastas que trabalham com tais temáticas no cinema.

Maluf (2002), dialogando com o cinema de Almodóvar e as teorias do corpo da etnologia, busca interligar alguns elementos distintos para realizar uma reflexão coerente sobre a importância de se avaliar as experiências do gênero na “margem”. O trabalho de Maluf, na esteira dos mais atuais, não somente utiliza o termo “margem” para designar e visibilizar conceitualmente as identidades de gênero mais fluidas, como também apresenta argumentos pertinentes ao contexto ameríndio nacional no intuito de propor uma “renovação teórica no campo dos estudos feministas e de gênero” (MALUF, 2002, p. 143). Salvo engano, pelo levantamento e análises dos artigos realizados até o momento, o trabalho de Maluf parece ser precursor tanto das discussões sobre identidade de gênero no Brasil quanto das relações deste tema com a linguagem cinematográfica.

Artigos sobre o cinema LGBTQIA+ brasileiro: alguns destaques

Quanto aos objetos de estudo (Tabela 1), 13 dos trabalhos analisados se vinculam especificamente ao cinema brasileiro LGBTQIA+ ou a contextos de experiência LGBTQIA+ nacionais ligados ao hoje chamado cinema queer. Dois trabalhos eram etnográficos e de um mesmo autor, com foco em análises de filmes apresentados no Festival Mix Brasil de Cinema da Diversidade Sexual, realizado em São Paulo desde 1993. No artigo mais antigo, Silva (2013, p. 19) “busca perceber como as relações entre cinema e cidade podem ser percebidas nas corporalidades LGBTs nas urbanidades paulistanas”. Já seu estudo posterior indaga como se pode “pensar o cinema, independente se ficção ou documentário, enquanto a constituição de uma realidade possível” (SILVA, 2015SILVA, Marco Aurélio. “Cinema, Antropologia e a construção de mundos possíveis: o caso dos festivais de cinema da diversidade sexual”. Aceno, Cuiabá, v. 2, n. 3, 2015. Disponível em Disponível em http://periodicoscientificos.ufmt.br/ojs/index.php/aceno/article/view/2538 . Acesso em 13/03/2018.
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, p. 17). Neste último trabalho, os sujeitos frequentadores dos festivais de cinema de gênero e da diversidade sexual são entrevistados, problematizando-se suas performances acerca de “um mundo desejável [no qual se aponta], enfim, para as possibilidades de uma antropologia do cinema e sua etnografia das multissensorialidades” (SILVA, 2015, p. 17).

Nos trabalhos que realizaram análises teóricas de longas-metragens brasileiros, nove artigos tratam de oito filmes de ficção e um documentário. Os filmes de ficção analisados são: A casa assassinada, de Paulo Cesar Saraceni, de 1972; Marcados para viver, de Maria do Rosário Nascimento e Silva (1949-2010), de 1976; Como esquecer, de Malu De Martino, de 2010; A febre do rato, de Claudio Assis, de 2011; Tatuagem, de Hilton Lacerda, de 2013; Hoje eu quero voltar sozinho, de Daniel Ribeiro, de 2014; Praia do Futuro, de Karim Aïnouz, de 2014; e Corpo Elétrico, de Marcelo Caetano, de 2017. Já o documentário Olhe pra mim de novo, de 2010, contou com a direção de Claudia Priscilla e Kiko Goifman.

No estudo sobre o filme A casa assassinada, Bessa (2017BESSA, Karla. “‘Como cheguei a ser o que sou?’ Uma estética da torção em filmes das décadas de 60 e 70”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 25, 2017. Disponível em Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ref/v25n1/pt_1806-9584-ref-25-01-00291.pdf . Acesso em 15/03/2018.
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) “analisa as potencialidades políticas e teóricas da linguagem cinematográfica com enfoque nos modos como expressa e recria a relação entre sexualidade e diferenças de gênero” (p. 291). Segundo a autora, um/a personagem do filme, Timóteo, foi construído com características de uma pessoa transgênera, sendo que a “grande questão do filme é a da opressão da feminilidade” (2017, p. 302), na qual o/a personagem de Timóteo é também mais uma vítima. Bessa (2017) observa ainda que pretende apontar não apenas para um problema de gênero, mas, particularmente, para um problema social relacionado a um contexto opressivo da época no qual o filme, de 1972, foi produzido.

Wilton Garcia (2015GARCIA, Wilton. “Do cinema brasileiro contemporâneo à diversidade cultural/sexual no país”. Comunicação Midiática, v. 10, n. 1, jan./abr. 2015. Disponível em Disponível em https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=5157170 . Acesso em 10/02/2018.
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), ao analisar o filme A febre do rato, relaciona as categorias de corpo, gênero, identidade e performance com o papel do cinema nacional contemporâneo. Em artigo de 2016, sobre o documentário Olhe pra mim de novo (2010), o autor problematiza as mesmas categorias, em um “… road movie documental a respeito do transexual Syllvio Luccio” (GARCIA, 2016GARCIA, Wilton. “Olhe pra mim de novo: um road movie documental sobre diversidade cultural/sexual”. Doc On-line, n. 19, 2016. Disponível em Disponível em http://doc.ubi.pt/19/artigos_6.pdf . Acesso em 10/02/2018.
http://doc.ubi.pt/19/artigos_6.pdf...
, p. 187). Já em ensaio de 2018 sobre o filme Praia do futuro (2014), Garcia justifica o estudo por considerar consistente a história de amor vivida no filme entre dois homens, pela consequente discussão acerca da diversidade cultural/sexual presente na narrativa e pela importância da questão levantada no cinema brasileiro contemporâneo. No artigo, o autor pergunta: “como propor uma política do afeto no cinema contemporâneo que acompanhe a diversidade cultural/sexual no país e no mundo?” (GARCIA, 2018GARCIA, Wilton. “Embatimentos poéticos no filme ‘Praia do Futuro’”. Revista Famecos, Porto Alegre, v. 25, n. 3, set.-out.-nov.-dez 2018b. Disponível em Disponível em https://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/revistafamecos/article/view/30183 . Acesso em 10/04/2021.
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b, p. 2). O autor leva este questionamento ao/à leitor/a no intuito de problematizar o posicionamento político do cinema contemporâneo brasileiro e a necessária constatação, segundo ele, de ser desenvolvida uma política afirmativa de visibilidade das minorias sexuais. Ao analisar o filme Como esquecer, de 2010 (GARCIA, 2018GARCIA, Wilton. “Afeto, imagem e memória no filme ‘Como esquecer’: estudos contemporâneos”. Intercom - RBCC, São Paulo, v. 41, n. 2, maio/ago. 2018a. Disponível em Disponível em http://portcom.intercom.org.br/revistas/index.php/revistaintercom/article/view/2346 . Acesso em 10/04/2021.
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a), o autor propôs um olhar analítico sobre um relacionamento afetivo entre duas mulheres e o imbricamento deste com aspectos que envolvem o olhar sociocultural sobre o feminino e, ao mesmo tempo, sobre o sistema hegemônico (mainstream). Raro entre os estudos encontrados sobre o cinema LGBTQIA+, o olhar fílmico construído sobre a experiência lésbica no cinema nacional aponta, segundo o autor, para além do drama, atualizando questões relativas a mulher, gênero e feminino.

Outro estudo de temática afim, voltado para a discussão do chamado “cinema de mulheres”, é o artigo de Alcilene C. de Oliveira (2020OLIVEIRA, Alcilene C. de. “A rebeldia do cinema de mulheres no Brasil: os desafios de Maria do Rosário Nascimento e Silva, em anos de ditadura civil-militar”. Cadernos Pagu, Campinas, n. 60, 2020. Disponível em Disponível em https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/cadpagu/article/view/8664557 . Acesso em 10/04/2021.
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, p. 1). A autora analisa o longa-metragem Marcados para viver (1976), da cineasta brasileira Maria do Rosário Nascimento e Silva, “o primeiro filme ficcional brasileiro, realizado por uma mulher, a levar para as telas uma personagem lésbica, destacando sua recepção na imprensa brasileira e na censura à época do lançamento”. O filme tem seu enredo situado em 1976 e revela o dia a dia, no bairro de Copacabana, no Rio de Janeiro, da relação afetiva entre três personagens consideradas marginais: um/a pivete lésbica sem identidade de gênero fixa, uma prostituta e um bandido-michê. A autora aponta que o filme foi criticado porque, em certo sentido, cede ao final da narrativa à heteronormatividade, pois ao não nomear a lesbianidade da personagem de Jojô, manteve, de certa forma, a invisibilidade da experiência lésbica. Entretanto, Oliveira (2020, p. 31) diz que Maria do Rosário não só foi além “da barreira de gênero que impunha dificuldades para as mulheres realizarem seus filmes, como levou para as telas uma personagem, cujas identidades de gênero e de sexualidade irrompiam com o padrão heteronormativo”.

Com relação ao estudo de Silva (2017) sobre o filme Tatuagem (2013), o autor diz que este filme resgata “[...] antigas possibilidades do estar junto para os ‘modos de vida’, como a amizade, num tempo como o atual em que os moldes da família e do casamento tradicional passaram a compor os mais caros ideais coletivos LGBTs” (SILVA, 2017SILVA, Marco Aurélio. “Tatuagem, deboche e carnaval? Algumas reflexões sobre a política LGBT contemporânea a partir de uma antropologia do cinema e de uma festa que não existe mais”. Teoria e cultura, v. 12, n. 2, 2017. Disponível em Disponível em https://periodicos.ufjf.br/index.php/TeoriaeCultura/article/view/12310 . Acesso em 15/02/2018.
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, p. 53). Pode-se perceber, embora de modo distinto, a crítica irônica que o autor faz às homonormatividades e a intenção de, por meio do filme, apontar para modos de relacionamento interpessoal distintos dos padrões de sexo/gênero normativos. Outros revisionismos conceituais relacionados aos “modos de vida” LGBTQIA+, em contraponto aos de certa forma mais normatizados, são discutidos no artigo de Silva (2017) e de Ertz Clarck Melindre dos Santos (2019). O estudo de Silva (2017) tem como mote um contexto contracultural do nordeste brasileiro dos anos 1970 e uma festa que acontecia no carnaval em Florianópolis entre os anos 1970 e 2008. A festa era considerada um carnaval LGBTQIA+ ao reunir “moradores e turistas que performavam e carnavalizavam nesse território suas identidades” (SILVA, 2017, p. 53). Silva afirma que o “humor camp” (José AMICOLA, 2000AMICOLA, José. Camp y posvanguardia: Manifestaciones culturales de un siglo fenecido. Buenos Aires: Paidós, 2000.)2 2 De acordo com este autor, “O camp foi definido pelos críticos norte-americanos como ‘uma forma representativa teatral sobrecarregada de gestualidade’, como ‘um questionamento genérico’, como uma sensibilidade gay particular própria do século XX” (p. 50). presente no filme e nas festas de carnaval expressa, em forma de deboche, a contestação política das dissidências de gênero e sexualidade. Para o autor, no entanto, tais dissidências ainda ocupam um espaço pequeno e às margens em termos políticos. Silva (2017) conclui dizendo que o filme Tatuagem, em grande parte, fundamenta-se “nas desestabilizações e deslocamentos que pressionam os campos de gênero e sexualidade estabelecidos” a se modificar. Já o artigo de Santos (2019) sobre o filme Corpo elétrico (2017) também caminha na esteira do de Silva, ao problematizar as identidades de gênero, a sexualidade e a afetividade não normativas expressas pelos/as personagens ao longo da narrativa. Segundo Santos, o personagem de “Elias traz a ética anal da obra Pelo cu, pois não se enquadra nem como o penetrado e muito menos como o que penetra: ele traz ao espectador a flexibilidade da dúvida” (SANTOS, 2019, p. 24) e questiona, por meio de sua sexualidade dissidente, o par binário ativo e passivo vinculado ao padrão sexual heteronormativo. Santos segue em sua análise de outros/as personagens dissidentes de Corpo elétrico, por meio dos/as quais aponta para a fluidez e a potência de suas escolhas relacionais como formas de resistência aos padrões normativos vigentes.

O artigo de Francisco A. de L. Neto e Natália L. C. L. Acioly (2020NETO, Francisco A. de L.; ACIOLY, Natália Luiza C. L. “O filme ‘Hoje eu quero voltar sozinho’ e o desafio artístico em presença da pluralidade e sensibilidade homossexual no uso das provocações da pós-modernidade”. Cinema & Território, n. 5, 2020. Disponível em Disponível em https://digituma.uma.pt/handle/10400.13/3033 . Acesso em 10/04/2021.
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) discute o longa-metragem Hoje eu quero voltar sozinho (2014) e reflete sobre a temática das homossexualidades entre adolescentes, bullying na escola e a questão da inclusão de pessoas com deficiência na educação formal tradicional. Outras questões, como a descoberta da afetividade na adolescência e o medo dos pais e mães em face dos desejos dissidentes de seus filhos/as, são também abordadas no artigo.

O artigo de Bruna Andrade Irineu e Mariana Meriqui Rodrigues (2015) versa sobre a experiência de um projeto de extensão, também coordenado pelas autoras do estudo, realizado na Universidade Federal do Tocantins. O projeto partiu de quatro entrevistas com membros da comunidade LGBTQIA+ de Palmas e teve como objetivo construir um documentário para preservar a memória do patrimônio imaterial, em geral negligenciado, acerca do movimento LGBTQIA+ de Tocantins. As pesquisadoras tinham como proposta o levantamento e a documentação de três situações representativas: “a fundação do primeiro grupo de ativismo LGBT de Palmas, a primeira Parada do Orgulho e a inauguração da primeira boate GLS no estado” (IRINEU; RODRIGUES, 2015IRINEU, Bruna Andrade; RODRIGUES, Mariana Meriqui. “Militância LGBT, Memória e Extensão Universitária: reconstruindo histórias de resistência a partir da produção de um documentário em Palmas/Tocantins”. Feminismos, Salvador, v. 3, n. 1, 2015. Disponível em Disponível em http://www.feminismos.neim.ufba.br/index.php/revista/article/view/177 . Acesso em 15/03/2018.
http://www.feminismos.neim.ufba.br/index...
, p. 108). Estas situações foram entrelaçadas no documentário a um contexto de luta pela transformação da universidade estadual em federal, com a implantação da UFT e o processo de expansão da cidade de Palmas.

O último trabalho analisado relacionado ao cinema nacional foi a resenha de João Bôsco Hora Góis (2002GÓIS, João Bôsco Hora. “Homossexualidades projetadas”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v 10, n. 2 2002. Disponível em Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ref/v10n2/14976.pdf . Acesso em 10/02/2018.
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) sobre o livro A personagem homossexual no cinema brasileiro, de Antônio Moreno (2002). Góis diz que Moreno, através do livro, contribui para os debates sobre as identidades coletivas ao enfatizar como os grupos minoritários são afetados, positiva ou negativamente, em função das imagens veiculadas sobre eles nos diferentes meios de comunicação. Góis entende que as diferentes mídias, como a televisão e o cinema, “detêm uma enorme capacidade de criar verdades sobre coisas e grupos sociais que circulam entre nós” (GÓIS, 2002, p. 515). O autor entende ainda que tais veículos colaboram ou para o favorecimento da estruturação de condições emancipatórias de grupos minoritários ou, de forma deletéria, para a “não-construção de identidades coletivas politicamente fortalecidas” (p. 515).

Na resenha do livro, Góis diz que Moreno enfatiza este olhar crítico sobre os filmes que analisa ao observá-los tanto como “produtores de imagens e verdades quanto como amálgamas de crenças vigentes em nossa sociedade” (GÓIS, 2002, p. 515). Por outro lado, Góis chama atenção para o fato de Moreno criticar, em sua pesquisa, a tipificação dos personagens gays no cinema brasileiro e por afirmar, por meio desta crítica, que se opõe à exposição de tipos “afeminados” e “marginais” no cinema.

A resenha, embora seja um dos dois trabalhos mais antigos dentre todos os selecionados, já aponta para a crítica aos modelos de gays e lésbicas de classe média, enquadrados nos moldes capitalistas e sem ambiguidades no que concerne a identidade, expressão de gênero e/ou orientação sexual. Estes modelos, considerados representativos de uma noção de homossexualidade originária da cultura e sociedade estadunidenses, como já citamos, sugere a incorporação de características semelhantes às dos padrões heterossexuais. Por isso a crítica que Góis faz a Moreno quando este último olha de forma “homonormativa” para os personagens “marginais” e “afeminados” dos filmes brasileiros.

Quanto à obra resenhada, Antônio Moreno (2002) enfatiza que a grande questão observada em seu estudo (de 125 filmes pesquisados entre as décadas de 1920 a 1990, sendo 67 analisados) diz respeito às excessivas representações de estereótipos homossexuais e tipificações que, segundo ele, descaracterizam a humanidade dos/as personagens gays e lésbicas ao apresentá-los/as sem subjetividade. O pesquisador observou esta tipificação e estereotipia de forma recorrente na maior parte dos filmes nacionais analisados, com exceção de alguns poucos longas-metragens. Segundo Moreno, 62,68% dos filmes apresentavam um enfoque pejorativo sobre a homossexualidade e 43,30% tinham um discurso também pejorativo e uma gestualidade estereotipada. Assim, tais filmes contribuiriam para a construção de um personagem-tipo do homossexual (MORENO, 2002MORENO, Antônio. A personagem Homossexual no cinema brasileiro. Rio de Janeiro: EDUFF, 2002.). Moreno observa ainda que há a condenação dos comportamentos homossexuais nos filmes ou a composição dos personagens como “gay clown, um homossexual palhaço, ou [alguém] depravado, doente, criminoso, frequentador dos piores bas-fond” (MORENO, 2002, p. 280-281). O autor entende que o produtor do filme, ao estereotipar o/a personagem,

fica claramente entre dois pólos. Um deles se refere à tendência para exacerbar o gestual da personagem gay/lésbica, o que lhe permite denotar, explicitar mais os códigos reconhecidos pelo público. O outro seria uma dificuldade de metalinguagem: falar do outro, sobre o outro, ou com o outro, que leva os produtores a adotarem uma ótica heterossexual para o comportamento do gay, utilizando para isso o caminho mais fácil: o da caricatura, do estereótipo. Assim sendo, padroniza a percepção (MORENO, 2002, p. 285).

O autor identifica também nos diretores, em geral homens hétero, a tendência a objetificar a mulher nos longas-metragens nacionais com personagens lésbicas. Moreno afirma que o fetiche de observar não apenas uma, mas duas mulheres juntas, na cama, fazendo sexo, é uma forma de amplificação do erotismo masculino e de lembrar ao “espectador heterossexual [de que] ele é o homem que está faltando naquela cena, naquela cama, ou situação” (MORENO, 2002, p. 282). Além de objetificá-las, este modo de filmagem esvazia o olhar do/a espectador/a sobre a especificidade do relacionamento entre lésbicas e tira o foco no aprofundamento do envolvimento amoroso, ou mesmo sexual que tais cenas poderiam propiciar. É uma maneira, diz Moreno, de negar a experiência lésbica, “retirá-la de cena” e torná-la, assim, mais suportável para o público que a compreendia (e ainda a compreende) como um comportamento desviante (MORENO, 2002).

Em um dos artigos analisados neste levantamento, sobre o filme brasileiro A casa assassinada (1972), Bessa (2017) afirma que a leitura que Moreno faz do personagem Timóteo é datada, pelo fato de considerar a construção do/a personagem caricatural e estereotipada. Em um caminho diverso, porém na mesma esteira da resenha de Góis (2002), Bessa diz que Moreno perde a oportunidade, ao confundir sexualidade e gênero, de analisar a construção de Timóteo enquanto uma “verdadeira desconstrução dos estereótipos e uma complexificação tensa da relação entre transgredir as normas de gênero e, ao mesmo tempo, viver uma sexualidade fora da heteronormatividade” (BESSA, 2017, p. 303). Para a autora, o personagem revela aspectos subjetivos de uma identidade de gênero ainda pouco visível no cinema em geral e, particularmente, no cinema brasileiro: “o cruzamento da fronteira de gênero, ou seja, a transgeneridade” (BESSA, 2017, p. 303). Bessa pontua com precisão a pouca visibilidade na cinematografia em geral e, em especial, na brasileira, de características semelhantes às de Timóteo no momento histórico em que o filme foi produzido. Estas características, segundo ela, colocariam o filme como precursor da discussão acerca da transgeneridade no cinema brasileiro. No entanto, diferente do olhar contextualizado com o qual ela analisa o filme, Bessa não relativiza a crítica que faz a Moreno sobre a análise do/a personagem Timóteo. Não considera as condições do momento, diferenciadas das de hoje e nas quais ele realizou a pesquisa, em que a distinção entre identidade de gênero e sexualidade, por exemplo, estava começando a ser mais bem compreendida no Brasil.

Com relação a essa questão das diferentes possibilidades de enunciados discursivos sobre um determinado objeto, no caso o/a personagem homossexual no cinema brasileiro, e a vinculação destes enunciados às condições de momento para sua emergência, lembramo-nos do que Michel Foucault (2008FOUCAULT, Michel. A arqueologia do saber. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2008.) diz sobre discurso, que, para o autor:

Não é uma forma ideal e intemporal que teria, além do mais, uma história; o problema não consiste em saber como e por que ele pôde emergir e tomar corpo num determinado ponto do tempo; é, de parte a parte, histórico - fragmento de história, unidade e descontinuidade na própria história, que coloca o problema de seus próprios limites, de seus cortes, de suas transformações, dos modos específicos de sua temporalidade, e não de seu surgimento abrupto em meio às cumplicidades do tempo (p. 132-133).

Assim, tanto o objeto quanto os enunciados sobre ele estarão sempre limitados pelas condições de existência de certa formação discursiva vigente em um momento histórico específico. E, intrínseco a este, haverá também sempre um saber/poder a nortear a construção das diferentes representações da realidade, bem como as consequentes leituras que se farão sobre estas.

Aspectos teóricos e metodológicos dos artigos

Observamos que a maior parte dos estudos utiliza o método da análise fílmica, com foco na análise das narrativas (Jacques AUMONT; Michel MARIE, 2012AUMONT, Jacques; MARIE, Michel. Dicionário teórico e crítico de cinema. São Paulo: Papirus, 2012.)3 3 A narrativa, segundo o Dicionário teórico e crítico de cinema do/a autor/a (2012, p. 2009), corresponde ao “‘enunciado narrativo que assegura a relação de um acontecimento ou uma série de acontecimentos’. [...] A noção de narrativa adquiriu, nos trabalhos de narratologia fílmica dos últimos 30 anos, um certo número de características que a definem: 1. Uma narrativa é fechada; forma um todo, no sentido aristotélico (“o que tem um começo um meio e um fim”), e sua unidade é primeira [...]. 2. Uma narrativa conta uma história; por conseguinte, ela superpõe, ao tempo imaginário dos acontecimentos contados, o tempo do próprio ato narrativo. 3. Uma narrativa é produzida por alguém (ou por uma instância semiabstrata, tal como a produção de filmes de ficção; por conseguinte, ela se oferece a mim não como realidade, e sim como uma mediação da realidade, que tem traços de não realidade; é um ‘discurso fechado que vem irrealizar uma sequência de acontecimentos’, conforme a fórmula notadamente econômica de Christian Metz [...]. 4. Enfim, a unidade de narrativa é o acontecimento: a narrativa é relativamente indiferente à sua formatação (Bremond), e podem-se considerar amplamente equivalentes narrativas escritas, orais, cinematográficas de uma mesma sequência e acontecimentos”. . Em 27 trabalhos há a utilização da análise dos enredos, de forma mais ou menos detida, há a explicitação de conceitos e sua exemplificação por meio das situações presentes nos filmes e das características dos/as personagens. Nos estudos com base em filmes ficcionais (a maioria dos trabalhos analisados), observamos as análises com foco: 1) nas características dos/as personagens no tocante à identidade de gênero e sexualidades; 2) nos conflitos de relacionamento interpessoal vivenciados por estes/as em virtude do enfrentamento de tais questões; e 3) nas tensões e embates dos/as personagens com os contextos sociopolíticos e culturais opressores e discriminatórios.

Há trabalhos que analisam o filme em foco pelo viés exclusivo do cinema e da importância da linguagem cinematográfica para os estudos das representações de gênero e sexualidades. Outro foco dos estudos é a análise do filme e a relação deste com os processos de subjetivação do/a espectador/a. Nos trabalhos com estes dois vieses, os enfoques ora pendem mais para os estudos sobre o cinema e ora para os de gênero e sexualidades. Há alguns trabalhos que avaliam o cinema LGBTQIA+ como uma alternativa à estética capitalista, pois certos filmes e/ou eventos vinculados a estes criam diferentes narrativas do mundo e alternativas de sociabilidade diversas das hegemônicas. Em um destes trabalhos, vê-se o estudo de movimentos LGBTQIA+ no Brasil, bem como em outros países em desenvolvimento, e as tensões e conflitos que se dão entre estes movimentos e diferentes contextos sociopolíticos e culturais conservadores.

Um exemplo dessas alternativas são os festivais de cinema de “gays e lésbicas”, que posteriormente foram denominados “LGBT” e hoje são conhecidos como “queer”. Estes festivais acontecem atualmente por todo o mundo. O primeiro festival teve seu início marcadamente entre 1976/1977, em São Francisco (BESSA, 2007). Hoje, eles são uma das mais fortes expressões artísticas e culturais das experiências e olhares sobre a comunidade LGBTQIA+ veiculados pela cinematografia mundial. Para as análises dos festivais, as perspectivas etnográficas e historiográficas foram as estratégicas teórico-metodológicas mais utilizadas nos estudos sobre as sociabilidades nestes eventos urbanos. Por meio destas análises, observa-se a influência crescente que a cultura LGBTQIA+ vem alcançando nos âmbitos dominantes das sociedades heterocentradas contemporâneas.

Considerações finais

A pesquisa realizada apontou caminhos de estudo sobre o cinema LGBTQIA+ que ampliam o olhar para investigações futuras. Tais estudos não só saíram do eixo das análises realizadas sobre o cinema produzido no Norte global como também indicam outras perspectivas de reflexão crítica sobre o tema no Sul. O olhar investigativo de autores/as brasileiros/as e latino-americanos/as nos fez ver as especificidades do tema em questão no Brasil e nos países latinos de língua espanhola, e revelou que os estudos pós-coloniais e decoloniais estão abrangendo temas até então dominados pelos autores/as do Norte. Mesmo que muitas das citações nos artigos ainda sejam de autores/as estadunidenses e europeus, pesquisadores/as brasileiros/as e latino-americanos/as também estão presentes nos estudos em diálogo com as referências hegemônicas, ampliando e cotejando o significado de certos conceitos até então “naturalizados” entre nós. Contribuem, assim, para amplificar e qualificar o leque de olhares sobre a criação e a análise do cinema LGBTQIA+ que vem sendo feito no Brasil e na América Latina. Concluímos, com isso, que há avanços recentes e significativos nas pesquisas brasileiras e latino-americanas sobre o tema, apesar de percebermos que tais estudos ainda carecem de mais análises referenciadas em nosso próprio cinema e autores/as, bem como de um maior estímulo para contínuas e crescentes publicações.

Entre os trabalhos analisados, identificamos uma crescente produção acadêmica sobre o cinema LGBTQIA+ brasileiro de ficção a partir de 2018. Concluímos que tais análises vêm crescendo na medida em que também cresce a produção do cinema nacional que aborda personagens dissidentes e situações relacionais envolvendo questões de identidade de gênero e orientação sexual. Tais temáticas nos filmes dialogam com diferentes contextos sociopolíticos, econômicos e culturais nacionais, possibilitando a discussão teórica de aspectos diversos que envolvem os temas em questão e a recente história social brasileira.

Foi interessante observar também como o cinema de Pedro Almodóvar repercute, ao longo do tempo, nas intenções de análise de tais temáticas pelos/as pesquisadores/as. Acreditamos que isso se deve à vasta obra do cineasta, à presença constante de personagens dissidentes e à consequente importância do artista para as representações de gênero e sexualidades no cinema, bem como nas diferentes sociedades nas quais seus filmes foram exibidos.

Por fim, adquirir novos conhecimentos acerca da produção teórica de autores/as latino-americanos/as, seus enfoques revisionistas e críticos aos conceitos do Norte favorece o tensionamento de nosso próprio olhar sobre as teorias decoloniais no cinema LGBTQIA+ com a compreensão de como esse olhar vem sendo colonizado, ao longo do tempo, tanto pelos estudos de gênero e sexualidades dos/as autores/as do Norte quanto pelo próprio cinema produzido fora do Brasil e da América Latina.

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    » http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010237722014000100012&script=sci_abstract&tlng=pt
  • 1
    Lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais, transgêneros, queers, intersexuais, assexuais e demais categorias identitárias não normativas.
  • 2
    De acordo com este autor, “O camp foi definido pelos críticos norte-americanos como ‘uma forma representativa teatral sobrecarregada de gestualidade’, como ‘um questionamento genérico’, como uma sensibilidade gay particular própria do século XX” (p. 50).
  • 3
    A narrativa, segundo o Dicionário teórico e crítico de cinema do/a autor/a (2012, p. 2009), corresponde ao “‘enunciado narrativo que assegura a relação de um acontecimento ou uma série de acontecimentos’. [...] A noção de narrativa adquiriu, nos trabalhos de narratologia fílmica dos últimos 30 anos, um certo número de características que a definem: 1. Uma narrativa é fechada; forma um todo, no sentido aristotélico (“o que tem um começo um meio e um fim”), e sua unidade é primeira [...]. 2. Uma narrativa conta uma história; por conseguinte, ela superpõe, ao tempo imaginário dos acontecimentos contados, o tempo do próprio ato narrativo. 3. Uma narrativa é produzida por alguém (ou por uma instância semiabstrata, tal como a produção de filmes de ficção; por conseguinte, ela se oferece a mim não como realidade, e sim como uma mediação da realidade, que tem traços de não realidade; é um ‘discurso fechado que vem irrealizar uma sequência de acontecimentos’, conforme a fórmula notadamente econômica de Christian Metz [...]. 4. Enfim, a unidade de narrativa é o acontecimento: a narrativa é relativamente indiferente à sua formatação (Bremond), e podem-se considerar amplamente equivalentes narrativas escritas, orais, cinematográficas de uma mesma sequência e acontecimentos”.
  • 4
    Como citar esse artigo de acordo com as normas da revista: PONTES, Carlos Frederico Bustamante; LAGO, Mara Coelho de Souza; ZANELLA, Andréa Vieira. “O ‘estado da arte’ dos estudos sobre o cinema LGBTQ no Brasil e em países latino-americanos”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 29, n. 3, e70658, 2021
  • 5
    Financiamento: Não se aplica
  • 6
    Consentimento de uso de imagem: Não se aplica
  • 7
    Aprovação de comitê de ética em pesquisa: Não se aplica

Anexo

Tabela 1
Artigos publicados nos portais da SciElo e CAPES analisados

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Nov 2021
  • Data do Fascículo
    2021

Histórico

  • Recebido
    15 Dez 2019
  • Revisado
    20 Maio 2021
  • Aceito
    24 Maio 2021
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