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Anúncios de mulheres negras escravizadas e as dinâmicas urbanas femininas em Desterro

Anuncios de mujeres negras esclavizadas y la dinámica urbana femenina en Desterro

Resumo:

A história das cidades, muitas vezes, é contada tendo como base apenas sua materialidade, negligenciando contribuições imateriais, as quais são fruto da relação entre os indivíduos e o espaço. Além disso, a participação feminina nessa produção permanece ainda relativamente inacessível, devido à carência de fontes que a particularize. Esses mesmos atributos fazem com que, perante tal representatividade feminina, as mulheres negras escravizadas restem ainda mais invisibilizadas. No presente trabalho, então, resgatamos as contribuições dessas mulheres à produção do espaço urbano em Desterro/Florianópolis, enquanto dinâmica imaterial, por meio dos seus anúncios de compra, venda e aluguel veiculados na imprensa local. Por fim, discutimos a maneira por meio da qual seus cotidianos, possivelmente, tenham subsidiado a significação quanto aos espaços públicos e privados, relativos à dinâmica urbana da época.

Palavras-chave:
espaço urbano; representatividade; mulheres negras; escravas

Resumen:

La historia de las ciudades, muchas veces, es contada con base a su materialidad, descuidando las contribuciones cotidianas de las personas que las experimentaron. Ante esto, la colaboración femenina en esta producción sigue siendo inaccesible, debido a la carencia de fuentes que las particularicen y a la parcialidad de los informes restantes. Estos mismos atributos hacen que las mujeres negras esclavizadas sean aún más invisibles ante tal representatividad femenina. El presente trabajo, entonces, rescata los aportes de estas mujeres a la producción del espacio urbano en Desterro/Florianópolis, en cuanto a la dinámica inmaterial, a través de sus anuncios de compra, venta y alquiler presentes en la prensa local. Finalmente, discutimos la forma por el cual su vida cotidiana posiblemente contribuyó a la significación de los espacios públicos y privados, relacionados a la dinámica urbana de la época.

Palabras Clave:
espacio; representatividade; mujeres negras; esclavas

Abstract:

The history of cities is often told based solely on their materiality, neglecting intangible contributions that result from the relations between individuals and space. Moreover, female participation in this production remains relatively inaccessible, due to a lack of sources that specify them. For these reasons, enslaved Black women remain even more invisible. In this study we bring attention to some of the contributions of these women to the production of urban space in Desterro/Florianópolis as intangible dynamics by analyzing advertising found in the local press for the purchase, sale, and rent of these women. Finally, we discuss how their daily lives may have contributed to signification of public and private spaces, in relation to the urban dynamics of the time.

Keywords:
space; representation; omen; slaves

Introdução

A produção do espaço urbano é, frequentemente, reduzida às iniciativas que atuam de maneira direta sobre a materialidade das cidades. É baseando-se nesse pressuposto que Paola Jacques (2014JACQUES, Paola Berenstein. Elogio aos errantes. Salvador: Editora da Universidade Federal da Bahia, 2014., p. 298) argumenta que a história de nossas cidades se concentrou, basicamente, em uma “história das pedras”. Tal configuração, então, torna difícil o resgate do cotidiano de diferentes indivíduos que a experimentavam, assim como a significavam, de um modo particular. Se já é custosa a procura por manifestações, sobretudo imateriais, de diferentes indivíduos no cotidiano de nossas cidades, é ainda mais difícil a procura quanto à particularização de uma produção feminina do espaço, resultante da interação entre as mulheres e o ambiente urbano (Dolores HAYDEN, 1995HAYDEN, Dolores. The Power of Place: Urban Landscape as Public History. [s.l.]: MIT Press, 1995.; Doreen MASSEY, 1994MASSEY, Doreen. Space, Place and Gender. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1994.). Isso acontece porque, para estudos relativos à história urbana, assegurava-se a existência de um indivíduo universal, comumente referenciado no masculino, capaz de corporificar em um sujeito neutro e único toda essa diversidade (Elizabeth GROSZ, 1992GROSZ, Elizabeth. “Bodies-Cities”. In: COLOMINA, Beatriz. Sexuality and Space. New York: Princeton Architectural, 1992. p. 241-253.). Ou ainda, como argumenta Antônio Risério (2015RISÉRIO, Antônio. Mulher, casa e cidade. São Paulo: Editora 34, 2015., p. 267), as mulheres “não definiam alicerces, não estabeleciam paredes, nem desenhavam fachadas”. Por esses motivos, sua representatividade resta adulterada e parcial quando da conformação da memória urbana, bem como sua perenização no imaginário social.

Essa parcialidade do testemunho remanescente resulta também de uma tentativa de se homogeneizar as experiências no ambiente urbano, consequência de uma estratégia midiática de apaziguamento e pasteurização do capital simbólico de nossas cidades (JACQUES, 2014JACQUES, Paola Berenstein. Elogio aos errantes. Salvador: Editora da Universidade Federal da Bahia, 2014.). Por sua vez, essa prioridade narrativa resulta, conforme Hayden (1995HAYDEN, Dolores. The Power of Place: Urban Landscape as Public History. [s.l.]: MIT Press, 1995., p. 8), em políticas de definição de tombamento e preservação do patrimônio histórico, as quais, por muito tempo, ignoraram e negligenciaram a presença das minorias no ambiente urbano. Nesse sentido, a autora inicia sua discussão questionando “por que tão poucos momentos da história das mulheres são relembrados como parte constitutiva do patrimônio e da memória?”.

Então, como reação à presunção de um “ambiente produzido pelos homens”, conforme Matrix (1984), surge o exercício de “inclusão” do feminino enquanto categoria de análise (Margareth RAGO, 1998RAGO, Margareth. “Epistemologia Feminista, Gênero e História”. In: PEDRO, Joana; GROSSI, Miriam (Orgs.). Masculino, feminino, plural: gênero na interdisciplinaridade. Florianópolis: Mulheres, 1998. p. 25-37.), iniciativa capaz de alargar “as noções tradicionais do que é historicamente importante” (Joan SCOTT, 2017SCOTT, Joan. “Gênero: Uma categoria útil de análise histórica”. Educação & Realidade, v. 20, n. 2, 2017. Disponível em Disponível em https://seer.ufrgs.br/educacaoerealidade/article/view/71721/40667 . Acesso em 22/10/2018.
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, p. 4). No entanto, tal exercício, reivindicado também em outros campos do conhecimento, estaria sujeito a particularidades analíticas, posto que a cidade é comumente tratada como espaço da masculinidade, enquanto a casa é vista como o espaço relativo ao feminino (Zaida MARTÍNEZ, 2018MARTÍNEZ, Zaida Maxí. Mujeres, casas y ciudades: Más allá del umbral. Barcelona: DPR, 2018.). Portanto, tal imaginário pressupõe, ao menos discursivamente, a existência de um “retraimento feminino em relação ao mundo exterior” (Richard SENNETT, 2014SENNETT, Richard. O Declínio do Homem Público: as tiranias da intimidade. Rio de Janeiro: Record, 2014., p. 431), impondo uma dificuldade ainda maior à procura por fontes que as relacionem ao ambiente urbano.

No entanto, a prerrogativa da constrição feminina nas cidades ao longo da história não alcança profundidade dentro da categoria “mulheres”, visto que “a experiência feminina varia de acordo com a raça, a classe, a personalidade e a orientação sexual” (MATRIX, 1984MATRIX. Making Space: women and the manmade environment. London: [s.n.], 1984., p. 12). Com isso, sugerimos que tal prerrogativa seria pertinente apenas às mulheres brancas pertencentes à elite, posto que mulheres empobrecidas sempre se lançaram à urbanidade, em função de sua necessidade de sobrevivência (Heleieth SAFFIOTI, 2013SAFFIOTI, Heleieth. A Mulher na Sociedade de Classes: mito e realidade. São Paulo: Expressão Popular, 2013.), “seja para buscarem água das fontes, ir às lavanderias ou aos mercados” (Michelle PERROT, 1998PERROT, Michelle. Mulheres Públicas. São Paulo: Editora da Universidade Estadual Paulista, 1998., p. 47).

Para as cidades brasileiras, ao longo da história, poucos são os vestígios remanescentes acerca dessas mulheres (Rachel SOIHET, 2017SOIHET, Rachel. “Mulheres Pobres e Violência no Brasil Urbano”. In: PRIORE, Mary Del. História das Mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2017. p. 362-400.), dentre as quais restam ainda mais invisibilizadas aquelas subjugadas à escravidão. Para elas, fica evidente o desinteresse por suas rotinas, visto que muitos relatos, quando muito, faziam referência a “imagens de vultos escuros envoltos em panos negros e quase nada mais acrescentam às suas condições de vida” (Antônio MORGA, 1996MORGA, Antônio Emílio. “Olhares Masculinos e Modos Femininos: a mulher sedutora nos relatos dos viajantes”. Revista Textos e Debates, Boa Vista, n. 3, p. 16-36, 1996., p. 22), ou estavam carregados de parcialidade e hostilidade (Maria Odila DIAS, 1983DIAS, Maria Odila Leite da Silva. “Mulheres sem História”. Revista de História, São Paulo, n. 114, p. 31-45, jun. 1983. Disponível em Disponível em https://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/62058 . Acesso em 18/08/2018.
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). Ainda sobre isso, Sonia Giacomini (1988GIACOMINI, Sonia Maria. Mulher e escrava: Uma introdução histórica ao estudo da mulher negra no Brasil. Petrópolis: Vozes, 1988., p. 20) comenta o desafio de se falar sobre a mulher negra, posto que “as fontes disponíveis são extremamente pobres”, em face de sua “dispersão e pouca consistência”, devido à parcialidade com que esses documentos primários eram redigidos. Se considerarmos que essas mulheres eram as mais presentes nas ruas de nossas cidades, tal ausência de alusões, presentes em documentos históricos do Século XIX, mostra-se contraditória.

Apesar disso, esforços de resgate e reação a essa invisibilidade têm revelado, apesar da carência das fontes, o quão representativas eram as influências dessas mulheres no cotidiano urbano, a exemplo dos trabalhos de Dias (1995DIAS, Maria Odila Leite da Silva. Quotidiano e Poder em São Paulo no século XIX. São Paulo: Brasiliense, 1995.), em são Paulo, assim como Sandra Graham (1992GRAHAM, Sandra Lauderdale. House and Street: the Domestic World of Servants and Masters in Nineteenth-Century Rio de Janeiro. Austin: University of Texas, 1992.) e Juliana Farias (2012FARIAS, Juliana Barreto. “De escrava a dona: A trajetória da africana nina Emília Soares do Patrocínio no Rio de Janeiro do século XIX”. Locus: Revista de História, Juiz de Fora, v. 18, n. 2, p. 13-40, 2012. Disponível em Disponível em https://periodicos.ufjf.br/index.php/locus/article/view/20607 . Acesso em 20/11/2021.
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), no Rio de Janeiro.

Nosso objetivo no presente artigo, então, é discutir as contribuições de mulheres negras escravizadas quanto às dinâmicas urbanas em Desterro/Florianópolis, materializando-as no espaço urbano à época - tendo como base o conteúdo representacional a elas relativo presente na imprensa local, posto que os jornais funcionavam como uma ferramenta à instituição de normativas comportamentais. Em específico, trabalharemos os anúncios comerciais envolvendo mulheres escravizadas, posto que, além de intermediar trocas mercantes, esses anúncios repercutiam os destinos e cotidianos das mulheres envolvidas. Isso porque, segundo Graham (1992GRAHAM, Sandra Lauderdale. House and Street: the Domestic World of Servants and Masters in Nineteenth-Century Rio de Janeiro. Austin: University of Texas, 1992.), tal comercialização podia representar uma forma de punição, pelo potencial de desfazer os laços construídos por essas mulheres, exigindo-lhes a renegociação de suas territorialidades.

Para o contexto a que se propõe o presente artigo, constatamos que se impõem ainda outras dificuldades, baseando-nos em Karla Rascke (2014RASCKE, Karla Leandro. “Agremiações afrodescendentes em Florianópolis na primeira metade do Século XX”. In: SEMINÁRIO INTERNACIONAL HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE, II, 2014, Florianópolis, UDESC. Anais ... Florianópolis: Memória, diferenças e desigualdades, 2014. p. 1-16.), posto que em Desterro/Florianópolis, segundo a autora, vigoraria o silenciamento desses povos e o consequente menosprezo à sua contribuição para a construção da sociedade local. Tal condicionante fica claro na passagem de Virgílio Várzea (1984VÁRZEA, Virgílio. Santa Catarina: a Ilha. Florianópolis: IOESC, 1984., p. 22): “é raro encontrar o traço fisiológico do negro [...] de sorte que o povo catarinense é essencialmente ariano [...] cujas populações hão de ser [...] um novo tipo brasileiro interessante, superior e perfeito”. Então, ao investigar a aproximação entre essas mulheres e a cidade pretendemos, além de revelar suas possíveis territorialidades, aproximarmo-nos também de suas subjetividades, visto que “corpo e cidade se configuram mutuamente, pois os corpos ficam inscritos na cidade ao mesmo tempo que a cidade fica inscrita nos corpos” (JACQUES, 2014JACQUES, Paola Berenstein. Elogio aos errantes. Salvador: Editora da Universidade Federal da Bahia, 2014., p. 114).

Procedimentos de Pesquisa

A estratégia, articulada de modo a acessar passagens que revelassem o vínculo dessas mulheres a territorialidades específicas, foi a consulta ao acervo da Hemeroteca Digital Catarinense (HDC),1 1 Dos jornais consultados na HDC, aqueles que apresentaram resultados, e por isso compõem os dados do presente artigo, foram: O Argos, O Cacique, O Catharinense, Correio Catharinense, Despertador, Estrella, O Mercantil, O Progressista, A Regeneração, República, O Mensageiro, O Novo Íris, O Conservador e O Dia. o qual contempla publicações periódicas, aquelas remanescentes,2 2 As edições dos jornais que estão disponíveis não representam a totalidade das publicações, mas somente aqueles que se mantiveram em condições de preservação. de jornais que circularam em Desterro/Florianópolis, a partir do início do século XIX. Uma primeira avaliação das narrativas presentes nesses jornais objetivou a exclusão daqueles com pouco potencial à temática. Como resultado dessa seleção, foram consultados 20959 jornais, distribuídos de forma relativamente homogênea frente à temporalidade proposta ao estudo. A consulta a esses periódicos ocorreu tanto por meio da busca por palavras-chave3 3 Dentre as variações, estariam as expressões crioula, creoula, preta e escrava. quanto pela leitura dos jornais, sendo que essa correspondia a uma avaliação preliminar da estrutura de cada exemplar e a posterior leitura de seções4 4 São exemplos desses títulos potenciais “diz-se por ahi”, “dizia-se baixinho” e “fatos e boatos”. de maior potencial. Para o desenvolvimento do mapa sobre o qual trabalharemos a distribuição dos dados coletados, o qual chamaremos de Mapa-Base, compilamos tanto a evolução do (i) arruamento quanto das (ii) edificações,5 5 Relativos, respectivamente, ao anos de 1760-1770, 1876 e 1921 e de 1754-1764, de 1876 e de 1916. tendo como base mapas históricos remanescentes, construídos por Eliane Veiga (2010VEIGA, Eliane Veras. Florianópolis: Memória Urbana. Florianópolis: Fundação Franklin Cascaes, 2010.).

As passagens coletadas nos jornais vinham acompanhadas, em sua maioria, do nome da rua e do número da residência. No entanto, quando da transposição dessas localidades para o Mapa-Base, foi possível apenas a identificação das vias às quais se referiam as informações, restando inacessível o número da edificação, posto que a numeração contemporânea diverge daquela utilizada no período de estudo. Por esse motivo, em função da imprecisão da localização exata dos endereços citados, os símbolos relativos às passagens recolhidas dos jornais foram distribuídos de forma homogênea ao longo da extensão das vias, o que possibilita a comparação entre diferentes ruas, e não necessariamente as concentrações ao longo destas.

Caracterização de Desterro/Florianópolis

Antes de problematizarmos tais anúncios frente ao território de Desterro/Florianópolis, convém uma apresentação das principais condicionantes da evolução do seu traçado urbano. A região da Ilha de Florianópolis escolhida para o primeiro assentamento, que ocorreu na metade do Século XVII, foi sua porção voltada para o continente. O território, conforme Figura 1, estava acomodado pelo Morro da Cruz (“a”), em sua porção leste, e pelas Baías Norte e Sul (“b” e “c”), sendo em frente a esta última onde estavam a praça principal, a Praça XV de Novembro (“d”), e suas primeiras construções (Lisabete CORADINI, 1995CORADINI, Lisabete. Praça XV: Espaço e Sociabilidade. Florianópolis: Fundação Franklin Cascaes, 1995.). A área urbanizada se restringiu a esse primeiro adensamento até a metade do Século XIX, momento a partir do qual passou a se expandir, de forma lenta, em direção à Baía Norte (Oswaldo CABRAL, 1979CABRAL, Oswaldo Rodrigues. Nossa Senhora do Desterro. Florianópolis: Lunardelli, 1979.). Apesar disso, as porções norte e sul do território, indicadas na Figura 1, preservaram conformações espaciais distintas, pois, na primeira, predominaram as casas de descanso e lazer das elites, e, na segunda, moradias e comércios (VEIGA, 2010VEIGA, Eliane Veras. Florianópolis: Memória Urbana. Florianópolis: Fundação Franklin Cascaes, 2010.).

Figura 1
Caracterização de Desterro/Florianópolis

Territorialidades de mulheres negras escravizadas

A busca por espacialidades relativas a mulheres negras escravizadas nos jornais demonstrou que as expectativas em relação ao comportamento feminino no espaço público - apesar de todas estarem sujeitas a constantes vigias - variava segundo raça e classe. Segundo Soihet (2017SOIHET, Rachel. “Mulheres Pobres e Violência no Brasil Urbano”. In: PRIORE, Mary Del. História das Mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2017. p. 362-400., p. 365), as mulheres ricas eram estimuladas a frequentar o espaço público, mas deveriam estar acompanhadas e satisfazendo as normas burguesas de comportamento. Tal prescrição era inconsistente com as rotinas de mulheres empobrecidas, posto que “toda a sua maneira de sobreviver implicava a liberdade de circulação pela cidade”. Nesse sentido, sobre as mulheres negras incidiam um maior constrangimento e coerção, podendo ser constantemente incomodadas pela polícia. Isso ficou claro na medida em que, apesar das diferentes temáticas e narrativas que faziam referência a essas mulheres na imprensa local, notamos a repetição de um padrão que objetivava sua desqualificação, num esforço discursivo que as associava a aspectos negativos inerentes à dinâmica urbana. Então, na tentativa de normatizar seus comportamentos, relatos encontrados nos jornais reivindicavam “a atenção de quem competir para uma preta que conduz tigres ferozes6 6 “Tigres ferozes” faz referência ao odor das barricas e tonéis de madeira carregados de dejetos. pelas ruas mais frequentadas desta capital, obrigando os transeuntes a correrem tapando o nariz”.7 7 O Binóculo, de 11/05/1902 Ou, ainda, as condenavam, mesmo indiretamente, como na acusação de um indivíduo que “é tão sem vergonha que em pleno dia, e mesmo na praça, se põe a fallar com a crioula”.8 8 Em O Livro Negro, de 16/10/1861. Tais perseguições frente ao espaço urbano culminavam constantemente na prisão dessas mulheres, como em “foi recolhida a cadeia [...] a parda Silvana Maria de Mello, por embriaguez”.9 9 O Mercantil - Edição 00392, de 1864.

Anúncios

Apesar das temáticas citadas anteriormente, identificamos que a principal oportunidade por meio da qual mulheres escravizadas marcaram presença nos jornais, se procuradas suas dinâmicas espaciais, reside nos anúncios de compra, venda, aluguel e, mesmo, doação dessas mulheres, veiculados na imprensa. Adotando um discurso que, de maneira explícita, as reduzia enquanto mercadoria, tais anúncios descreviam tanto suas qualidades físicas - como em “uma escrava crioula mui robusta e sadia”10 10 O Mercantil - Edição 00265, de 1863. - quanto comportamentais - como em “he de bôa índole, humilde e sem achaque algum”.11 11 O Argos - Edição 00103, de 1857. Portanto, esse enaltecimento das mulheres escravizadas era articulado apenas com o intuito de valorizá-las enquanto propriedade, e em muito contrastava com as demais narrativas articuladas nos jornais que buscavam diminuir sua integridade, assim como restringir suas liberdades e tolher suas identidades. Ainda, observamos que tais passagens associavam essas mulheres a localidades específicas, posto que, em sua maioria, traziam o endereço no qual possivelmente se realizaria a transação - como em “aluga-se uma escrava à Rua do Vigario, 19”12 12 O Novo Íris, de 1850. - o que representou uma potencialidade quanto à associação dessas mulheres à cidade.

Quantitativo e distribuição de frequências

A Tabela 1 demonstra o quantitativo dos anúncios encontrados, bem como a distribuição desses em frequências, seguindo o recorte temporal do estudo. As datas de início e término correspondem, respectivamente, às datas do primeiro e do último anúncio encontrado, definindo o período de 1849 a 1886. Como é possível perceber, houve uma redução dos anúncios com o passar do tempo, devido, possivelmente, à diminuição proporcional da categoria como força de trabalho - coerente com a desagregação da ordem escravocrata percebida por Fernando Henrique Cardoso e Octávio Ianni (1960CARDOSO, Fernando Henrique; IANNI, Octávio. Côr e Mobilidade Social em Florianópolis: aspectos das relações entre negros e brancos numa comunidade do Brasil Meridional. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1960., p. 88) - ou um possível constrangimento das pessoas em vincular seus nomes à escravidão, devido às campanhas abolicionistas existentes à época.

Tabela 1
Anúncios de compra, venda e aluguel de mulheres negras escravizadas

Territorialização dos anúncios

A Figura 2 apresenta a espacialização desses anúncios no ambiente urbano de Desterro/Florianópolis. De uma maneira geral, é possível afirmar que a maior incidência de anúncios de compra, venda e aluguel de mulheres negras escravizadas se concentrou na área de urbanização inicial da cidade, com exceção da Rua Esteves Junior, indicada em “1”. Apesar do expressivo decréscimo de ocorrências no último período considerado, podemos afirmar que, em relação à porção central, correspondente à área mais adensada, a distribuição ocorre seguindo uma relativa homogeneidade. Por esse motivo, optamos por discutir as territorialidades dessas mulheres baseando-nos em um mapa único, bem como baseando-nos na distinção entre áreas de “baixa densidade” e áreas de “alta densidade” (apresentadas na Figura 1), assim como na diferenciação entre “espaço público” e “espaço privado”.

Figura 2
Espacialização dos anúncios frente ao território de Desterro/Florianópolis

Áreas de Alta Densidade

Dentre as ruas com resultados mais expressivos, destacamos a Rua Conselheiro Mafra, indicada em “2”, para a localidade da Figueira, e a Rua João Pinto, indicada em “3”, para a localidade da Pedreira, ambas paralelas ao alinhamento do mar. Essa representatividade se dá, também, ao compararmos a performance dessas duas ruas frente à evolução das temporalidades, de 1849 a 1876. Isso porque, mesmo com o decréscimo das ocorrências, podemos perceber que ambas as ruas mantêm sua preponderância frente às demais. Segundo Glaucia Müller (2002MÜLLER, Glaucia Regina Ramos. A Influência do Urbanismo Sanitarista na Transformação do Espaço Urbano em Florianópolis. 2002. Mestrado (Programa de Pós-Graduação em Geografia) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.), as duas ruas possuíam um caráter majoritariamente comercial e de serviços, característica que pode ter contribuído para essas concentrações, tanto por uma maior dinamicidade das transações quanto por uma maior dependência em relação aos serviços prestados por essas mulheres. Além disso, é possível que essas localidades fossem apenas pontos de intermediação, uma vez que as famílias residentes em áreas mais afastadas, por possuírem seus negócios na área central, talvez preferissem nelas realizar tais negociações, o que sugere que parte dessas mulheres não tinha, necessariamente, seu cotidiano associado às áreas centrais da cidade.

Outras ruas saltaram à análise quanto à representatividade das ocorrências sem, no entanto, compartilharem as mesmas características daquelas citadas anteriormente. São elas as ruas Fernando Machado, indicada em “4”, do Menino Deus, indicada em “5”, e dos Ilhéus, indicada em “6”, que, além de estarem mais distantes do centro eram, segundo Veiga (2010VEIGA, Eliane Veras. Florianópolis: Memória Urbana. Florianópolis: Fundação Franklin Cascaes, 2010.), de caráter residencial, bem como abrigavam uma parte menos privilegiada da população.

Áreas de Baixa Densidade

Sabemos que nas ruas situadas em áreas menos adensadas estavam localizadas, em sua maioria, as grandes e confortáveis residências da elite local. Nesse sentido, pressupomos que tais áreas poderiam ter uma maior dependência quanto aos serviços executados por mulheres negras escravizadas e, consequentemente, demonstrariam uma maior concentração de anúncios. No entanto, essas áreas obtiveram um resultado tímido em relação a essas buscas, salvo a Rua Esteves Junior, que revelou uma quantidade significativa de ocorrências, podendo ser comparada, em representatividade, aos números obtidos em ruas localizadas na porção central da cidade. Tal circunstância reforça a argumentação, construída anteriormente, de que, apesar de essas mulheres atuarem em áreas menos adensadas, suas transações ocorriam nas porções mais centrais da cidade.

Divisão pública e privada do espaço urbano

A próxima categoria de análise das implicações urbanas dos serviços prestados pelas mulheres negras escravizadas é a da divisão do espaço em público e privado, suporte analítico que diferencia exterior e interior em arquitetura e urbanismo, tanto teórica quanto empiricamente (MARTÍNEZ, 2018MARTÍNEZ, Zaida Maxí. Mujeres, casas y ciudades: Más allá del umbral. Barcelona: DPR, 2018.; MASSEY, 2008MASSEY, Doreen. Pelo Espaço. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2008.). Essa diferenciação muito contribuiu para a reiteração desses papéis femininos normativos - ou expectativas comportamentais (Roberto DAMATTA, 1987DAMATTA, Roberto. A casa & a rua. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987.) - perante a sociedade, limitando a experiência feminina e dando oportunidades distintas entre homens e mulheres na experimentação de nossas cidades (Nadja MONNET, 2013MONNET, Nadja. “Flanâncias Femininas e Etnografia”. Revista Redobra, Salvador, n. 11, p. 218-235, 2013.). Isso porque, de uma maneira geral, às mulheres comumente se associa o espaço privado, enquanto aos homens se associa o espaço público, pressupondo que as mulheres deveriam ocupar os espaços invisibilizados da vida privada, de modo a dar suporte ao discurso do homem público (MARTÍNEZ, 2018, p. 25).

No entanto, tal argumentação se baseia em uma experimentação feminina branca e de elite, posto que a experimentação urbana de mulheres negras se sugeria bastante diversa de tal afirmação. Exemplificamos o argumento com uma passagem retirada dos próprios jornais de Desterro/Florianópolis, segundo a qual “entrega-se uma crioulinha de 6 anos para servir em casa e levar meninas à escola”.13 13 O Mercantil - Edição 675, de 1867. A necessidade de desenvoltura frente ao espaço imposta à criança revela a ausência de um retraimento dessas mulheres em relação à cidade, se comparadas às meninas brancas da elite.

Ainda, foi necessário relativizar que a diferenciação entre público e privado nem sempre possuiu a mesma conformação com a qual a depreendemos hoje, posto que se caracterizou por uma alternância entre fases de alargamento e retraimento entre uma e outra (SENNETT, 2014SENNETT, Richard. O Declínio do Homem Público: as tiranias da intimidade. Rio de Janeiro: Record, 2014.). Para o presente artigo, então, presumimos que os ofícios executados por essas mulheres tenham representado um dos possíveis artifícios capazes de contribuir com as respectivas significações quanto a essa divisão em Desterro/Florianópolis, como discutiremos adiante.

A partir desse momento, avaliaremos as territorialidades femininas tendo como pressuposto a ideia de que as mulheres negras escravizadas possuíam comportamentos distintos para o espaço público e privado em Desterro/Florianópolis. A viabilidade dessa abordagem foi possível, pois os anúncios coletados vinham acompanhados da especificação do trabalho a ser executado pelas mulheres. Posto que a atuação delas ia desde o quarto da senhora até a comercialização de produtos nas ruas (Daniela SBRAVATI, 2008SBRAVATI, Daniela. Senhoras de incerta condição: proprietárias de escravos em Desterro. 2008. Mestrado (Programa de Pós-Graduação em História) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.), esses ofícios estavam divididos entre aqueles ligados à intimidade e aqueles que se lançavam em direção à cidade, correspondendo, respectivamente, à divisão privada e pública do espaço urbano.

Tal divisão repercutia sobremaneira nas expectativas comportamentais relativas aos ofícios específicos a cada uma das esferas, uma vez que, sobre eles, incidiam diferentes hierarquizações quanto ao seu controle. Como exemplo, as mulheres que assumiam tarefas ligadas à intimidade - amas de leite e mucamas - eram vigiadas com mais rigor, devido à sua maior incursão na privacidade da família. Ao contrário, aquelas que executavam serviços no espaço público experimentavam uma maior liberdade, posto que a vigia sobre elas se enfraquecia perante o cotidiano da cidade, apesar da tentativa coletiva de disciplinar seus hábitos (MÜLLER, 2002MÜLLER, Glaucia Regina Ramos. A Influência do Urbanismo Sanitarista na Transformação do Espaço Urbano em Florianópolis. 2002. Mestrado (Programa de Pós-Graduação em Geografia) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.). Apesar da proposta de distinção entre “escravas de casa” e “escravas de rua”, chamamos a atenção para o fato de que, muito possivelmente, essas escravas não pertenciam de maneira rígida a cada uma dessas categorias. Conforme Joana Maria Pedro (1992PEDRO, Joana Maria. Mulheres Honestas e Mulheres Faladas: uma questão de classe, papéis sociais femininos na sociedade de Desterro/Florianópolis 1880-1920. 1992. Doutorado (Programa de Pós-Graduação em História) - Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.), a necessidade de sustento exigia dessas mulheres a execução de diferentes classes de ofícios, como sugerido em “é própria para qualquer serviço, principalmente o da roça”.14 14 O Mercantil - Edição 00265, de 1863.

Os serviços ditos “de portas a dentro15 15 O Argos - Edição 00829, de 1861, e O Despertador - Edição 00562, de 1867. incutiam nos proprietários e proprietárias de escravos o receio em relação à exposição excessiva da intimidade das famílias, como sugere um anúncio que busca alugar uma mulher escravizada “sob a condição porém de não sair à rua”,16 16 O Mercantil - Edição 675, de 1867. sugerindo que a ela fosse imposta a permanência no ambiente doméstico. Nesse sentido, tanto para mucamas quanto para amas de leite se exigiam bons atributos tanto comportamentais, como em “preta morigerada na Rua do Senado”,17 17 O Argos - 05/02/1856. quanto físicos, como em “uma pardinha de doze anos de idade, própria para mucama de qualquer família, por ser bonita figura”.18 18 O Argos - Edição 00844, de 1861.

Apesar de a casa corresponder ao lugar seguro e a rua ao local inseguro, a vivência desta última por parte dessas mulheres proporcionava um ambiente mais igualitário de troca e interação social, diferente daquela hierarquizada no ambiente doméstico. Durante os percursos, era possível interagir com outras mulheres nas janelas das casas e nas esquinas, mapeando os espaços segundo as experiências dessas mulheres. Porém, esta apropriação poderia assumir uma ambiguidade frente ao espaço, posto que essas mulheres também estavam sujeitas a violência e julgamentos, tal como na sugestão de que “se uma escrava ia à rua presumia-se que não era virgem” (GRAHAM, 1992GRAHAM, Sandra Lauderdale. House and Street: the Domestic World of Servants and Masters in Nineteenth-Century Rio de Janeiro. Austin: University of Texas, 1992., p. 54). No entanto, ainda assim é possível afirmar que essas mulheres possuíam “um repertório mais rico de relações sociais do que as senhoras dos sobrados” (RISÉRIO, 2015RISÉRIO, Antônio. Mulher, casa e cidade. São Paulo: Editora 34, 2015., p. 220) porque, ao exercerem seu ofício, essas mulheres se apropriavam do espaço público para buscar sobrevivência (CORADINI, 1995CORADINI, Lisabete. Praça XV: Espaço e Sociabilidade. Florianópolis: Fundação Franklin Cascaes, 1995.). Nesse sentido, Karla Rascke (2013RASCKE, Karla Leandro. “Uma cidade, múltiplas experiências: africanos/as e afrodescendentes em Florianópolis (1888-1940)”. Revista de História, Salvador, v. 5, n. 1 e 2, p. 178-204, jun. 2013. Disponível em Disponível em https://periodicos.ufba.br/index.php/rhufba/article/view/28223 . Acesso em 22/12/2018.
https://periodicos.ufba.br/index.php/rhu...
) discute a existência de territórios negros em Desterro/Florianópolis, e como muitos deles se materializavam em ruas e praças, inclusive nas escadarias da catedral.

Os anúncios podiam até mesmo ser explícitos quanto às performances dessas mulheres em relação ao espaço, como em “boa cozinheira, sabendo lavar e engomar, não servindo porém para sair à rua”.19 19 O Despertador - Edição 00259, de 1865. A análise da passagem sugere mais do que a falta de habilidade da mulher frente ao espaço público, mas, e talvez principalmente, que esta fosse “demasiadamente desenvolta” em relação à socialização experimentada nas ruas da cidade, o que dificultaria o seu controle, chegando ao ponto de desvalorizá-la enquanto mercadoria, como também sugerido em “aluga-se uma escrava para todo serviço, menos o de quitanda”.20 20 O Argos - Edição 00039, de 1856.

A verificação da representatividade de cada um desses ofícios junto aos anúncios resultou na classificação destes em quatro categorias, balizadas segundo suas relações com o espaço público e privado. A primeira e a segunda dessas categorias representam diretamente o (i) Serviço Interno - quando o serviço se dava exclusivamente no espaço privado - e o (ii) Serviço Externo - quando o serviço se dava exclusivamente no espaço público. A terceira categoria pressupõe a conjunção entre ambos os ofícios, compilados em (iii) Serviço Interno e Externo, quando os serviços ocorriam tanto no espaço público quanto no espaço privado, como em “precisa-se de uma criada para servir no interior de casa e na rua”.21 21 O Despertador - Edição 01088, de 1873. A quarta categoria (iv), Não Especificado, agrupa aqueles anúncios que não identificavam o serviço prestado, como em “vende-se uma escrava humilde no Largo do Palácio”.22 22 O Novo Íris - Edição 00100, de 1851. A Tabela 2 apresenta a representatividade de cada uma dessas categorias, apontando que a maior parte dos anúncios fazia referência a escravas que podiam fazer tanto o serviço externo quanto o serviço interno de uma casa. Identificamos poucas ocorrências exclusivas ao ofício de “escrava de rua”, sobretudo se comparado também à representatividade das “escravas de casa”. Outra parte significativa faz referência aos anúncios que não deixavam claro o ofício prestado.

Tabela 2
Especificação dos serviços prestados

Sobre a categoria NÃO ESPECIFICADO, por insinuarem uma despreocupação quanto à especificação de suas implicações espaciais, sugerimos que essas mulheres transitariam em ambos os espaços e, com isso, potencializariam a representatividade da categoria SERVIÇO EXTERNO E INTERNO. Desse modo, sugerimos que a maior parte dos anúncios indica que essas escravas cumpriam ambas as funções, demonstrando que transitavam entre os espaços público e privado. Tendo como base, então, essa classificação dos anúncios, partimos para a distribuição desses frente à malha urbana da cidade, conforme apresentado na Figura 3.

Figura 3
Caráter dos serviços executados por escravas no território

Sobre o mapa, chamamos atenção para o fato de que as Ruas Esteves Junior e Conselheiro Mafra, assim como a porção oeste da Praça XV de Novembro, apresentam uma concentração ligeiramente maior de escravas que realizavam serviços essencialmente domésticos. Como possíveis justificativas a essa concentração, sugerimos o fato de que, para a Rua Conselheiro Mafra, uma maior complexidade de atividades - entre comércios e residências, assim como concentração de capital - proporcionava uma especialização dos ofícios, exigindo o aperfeiçoamento dessas mulheres enquanto força de trabalho. Já para a Rua Esteves Junior, o caráter de abrigar as edificações das residências da elite local exigia uma maior sofisticação dos serviços prestados pelas mulheres escravizadas. Nesse sentido, é possível que tais locais tivessem como característica, em paralelo a outras significações espaciais femininas, o fato de que essas mulheres tinham seus cotidianos vinculados de maneira mais enfática ao espaço privado, visto que o acesso dessas ao espaço público era desestimulado, sugerindo, por conseguinte, a significação de uma maior diferenciação entre espaço público e privado.

Apesar disso, atentamos para o fato de que, dentre as mulheres que exerciam seus ofícios contidas no espaço privado, a referência às amas de leite superou a de mucamas.23 23 Amas de leite corresponderam à aproximadamente 61% das escravas que cumpriam Serviços Internos. Nesse sentido, sugerimos que tal ofício não necessariamente garantia a preservação da intimidade, contrapondo o sugerido anteriormente, uma vez que o ofício de ama de leite poderia ser requisitado durante o período da primeira infância, podendo implicar uma rotatividade dessas mulheres, ou apenas sua presença durante curtos períodos. Tal efervescência poderia contribuir para a diluição da privacidade da família, tanto pela brevidade dos vínculos quanto pelo fato de que essas mulheres acabavam por acessar a intimidade de diferentes famílias, ou ainda pelos ressentimentos e tensões que envolviam as partes (Bárbara MARTINS, 2012MARTINS, Bárbara. “Reconstruindo a memória de um ofício: as amas-de-leite no mercado de trabalho urbano do Rio de Janeiro (1820-1880)”. Revista de História Comparada, Rio de Janeiro, v. 6, n. 2, p. 138-167, 2012. Disponível em Disponível em https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=4116773 . Acesso em 20/11/2021.
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; Lorena TELLES, 2018TELLES, Lorena. Teresa Benguela e Felipa Crioula estavam grávidas: maternidade e escravidão no Rio de Janeiro (século XIX). 2018. Doutorado (Programa de Pós-Graduação em História) - Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.).

Considerando as poucas ocorrências relativas às “escravas de rua”, e sua consequente carência de informações frente ao mapa, notamos que mesmo esses poucos anúncios estavam associados às áreas centrais da cidade e, consequentemente, estavam dissociados das famílias de maior poder aquisitivo. É possível que a justificativa para isso seja que o ofício de quituteiras, o mais representativo dentre as “escravas de rua”, fosse requisitado por proprietários e proprietárias de escravos menos enriquecidos, os quais tinham no trabalho executado por essas mulheres, muitas vezes, sua única fonte de renda, somo sugere Farias (2012FARIAS, Juliana Barreto. “De escrava a dona: A trajetória da africana nina Emília Soares do Patrocínio no Rio de Janeiro do século XIX”. Locus: Revista de História, Juiz de Fora, v. 18, n. 2, p. 13-40, 2012. Disponível em Disponível em https://periodicos.ufjf.br/index.php/locus/article/view/20607 . Acesso em 20/11/2021.
https://periodicos.ufjf.br/index.php/loc...
).

Apesar das poucas ocorrências desse tipo de anúncio, entretanto, salientamos a representatividade dessas mulheres à produção do espaço urbano, posto que, conforme Sbravati (2008SBRAVATI, Daniela. Senhoras de incerta condição: proprietárias de escravos em Desterro. 2008. Mestrado (Programa de Pós-Graduação em História) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, SC, Brasil.), eram elas as mais presentes nas ruas de Desterro, além de habilidosas em contornar as constantes perseguições das autoridades à informalidade que envolvia seu ofício. Sobre o alcance de suas territorialidades frente à cidade, há uma aparente concentração nas áreas mais adensadas, percorrendo tais ruas devido à maior concentração de pessoas. No entanto, percebemos também a possibilidade de essas mulheres se fixarem em locais específicos, dentre eles o Mercado Público de Desterro, situado ao sul da Praça XV de Novembro e apresentado na Figura 4.

Figura 4
Antigo Mercado Público de Desterro

Apesar das constantes referências à apropriação feminina desse espaço - como em “comprou de uma quituteira no mercado mandioca em vez de aipim”24 24 Jornal O Artista, de 29/06/1879. -, as imagens remanescentes, que ilustram a dinâmica ao redor do Mercado Público, sugerem que essa espacialidade era majoritariamente masculina. Com isso, presumimos que dessas mulheres era exigida, também, uma maior desenvoltura frente ao espaço urbano, bem como das mulheres encarregadas das compras diárias das residências, das quais também se exigia tais habilidades, como em “uma crioulinha de 10 a 12 annos de idade, para casa de pouca família, e só para compras”.25 25 O Mensageiro - Edição 00222, de 1857.

Como dito anteriormente, os anúncios que não vinham acompanhados dos serviços a serem prestados pelas mulheres negociadas poderiam ser interpretados como relativos àquelas que poderiam cumprir ambas as funções, tanto interna quanto externamente às residências. Percebemos que a distribuição dessas ocorrências frente ao mapa da cidade de Desterro, conforme identificado na cor branca da Figura 3, aproxima-se da argumentação exposta acima, uma vez que a maior parte delas está concentrada na Rua Conselheiro Mafra, a rua de maior efervescência comercial da cidade. Então, essas transações representam, possivelmente, que essas mulheres apenas entravam como parte de negociações, pouco importando qual o serviço a ser prestado por elas.

Dentre os possíveis ofícios que transitavam entre os espaços público e privado, citamos a lavação de roupas, a qual, mesmo relativa ao ambiente doméstico, dependia da estrutura da cidade para ocorrer, devido à ausência de mecanismos no interior das residências.26 26 Em Desterro, as obras de saneamento foram consolidadas apenas no início do Século XX. Apesar de existirem residências com tanque particular de lavação, como sugerido pelos anúncios de “vende-se casa com fonte de beber e lavar” (O Argos, 1859), nem todas as residências da cidade possuíam tanque próprio, o que implicava a necessidade de, possivelmente, essas escravas acessarem os locais públicos para executar o ofício. Para sua execução, então, as mulheres partiam em direção às fontes públicas e aos rios que cortavam a cidade, dentre os quais o Rio da Bulha que, segundo Carlos Humberto Corrêa (2005CORRÊA, Carlos Humberto. História de Florianópolis Ilustrada. Florianópolis: Insular, 2005.), era comumente associado às lavadeiras. De modo a insinuar os possíveis fluxos dessas mulheres que se dedicavam à lavação de roupa, propomos o cruzamento tanto dos (i) anúncios de escravas quanto das (ii) localizações de cursos d’água e fontes públicas, apresentados na Figura 3.

Como se pode perceber, as fontes e cursos d’água principais estão, em sua maioria, nas margens da área urbanizada de maior adensamento. Essa característica sugere que as mulheres escravizadas - cujas ocorrências estão, em sua maioria, difusas no território - tinham de locomover-se no sentido contrário ao fluxo de maior concentração de pessoas para que pudessem acessar os locais de lavação, ou ainda partir em direção à porção leste do território de Desterro, de modo a acessar o Rio da Bulha. Tal dispersão de pontos de origem e destino sugere que sua mobilidade ocorria de maneira difusa no território. Insinuamos também a existência de fluxos que as conduziam por dentro da malha da cidade - mais dispersos do que aqueles que partiam em direção às fontes localizadas nas bordas - devido à necessidade de fazer as entregas de suas encomendas aos clientes, por exemplo.

Por fim, para os ofícios que entrelaçavam espaço público e privado vale o pressuposto de que “não se pode misturar o espaço da rua com o da casa, sem criar alguma forma de grave confusão ou até mesmo conflito” (DAMATTA, 1987DAMATTA, Roberto. A casa & a rua. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987., p. 54). Tendo como base a representatividade dessa categoria ao cotidiano urbano de Desterro/Florianópolis, entendemos que muitas das mulheres negras escravizadas experimentavam a transição entre os espaços público e privado, e era justamente essa zona de instabilidade que permeava seus cotidianos, exigindo-lhes a negociação constante entre a casa e a rua.

Considerações Finais

Para a presente pesquisa, a busca por ocorrências que sugerissem a experimentação espacial de mulheres negras escravizadas em Desterro/Florianópolis, de modo a identificar suas contribuições à construção da paisagem urbana, teve como base uma representação dessas mulheres, mais do que em suas experiências autênticas. Temos a consciência de que a apreensão desse contexto esteve dependente de fontes unilaterais, as quais objetivavam enaltecer as dinâmicas nas quais a opressão a essas mulheres obtinha sucesso, posto que os anúncios de compra e venda, sobre os quais nos baseamos, não as qualificavam enquanto indivíduos, mas sim reduziam-nas à condição de mercadoria. Então, a parcialidade das informações fez com que não fosse possível afirmar o quão difusas eram as suas reais experiências espaciais, restando ainda ocultos marcos espaciais que representassem seus encontros, fossem calçadas, esquinas ou soleiras de portas.

Apesar disso, deslocar o conteúdo dos anúncios de seu objetivo original nos proporcionou acessar, de alguma maneira, uma de suas possíveis estratégias de atuação quando da produção do espaço urbano. Ou ainda, aproximarmo-nos da maneira por meio da qual “o corpo urbano se manifestava no corpo dessas mulheres”. Nesse sentido, imaginamos que o presente trabalho venha a se juntar a outros cujo objetivo era descrever as dinâmicas históricas que envolviam as mulheres negras de Desterro/Florianópolis, complementando-os ao inserir a dimensão espacial acerca do tema, assim como propondo outra possibilidade às narrativas que descrevem o processo de construção da paisagem urbana.

Consideramos que estratégias como as do presente trabalho contribuam, por esse motivo, esgarçando o tecido que define quais aspectos possuem relevância na construção da história urbana, revelando novas possibilidades de pesquisa e entendimento quanto à temática das cidades. Ainda, o contexto abordado no presente artigo confirma a dependência dessas mulheres invisibilizadas quanto às sutilezas cotidianas, como forma de se fazerem presentes na dinâmica urbana, pois é nessas “brechas” que residiam as oportunidades de manifestação do feminino (SOIHET, 2007SOIHET, Rachel. “A emergência da pesquisa da História das Mulheres e das Relações de Gênero”. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 27, n. 54, p. 281-300, dez. 2007., p. 284). Ou seja, basta um olhar acurado para revelarmos as espacialidades femininas que, estando sobrepostas às demais, muitas vezes não eram possíveis de revelação, em função de disputas assimétricas sobre o que iria compor o “enredo” da história.

Segundo Lynne Breslin (1996BRESLIN, Lynne. “Confessions in Public Space”. In: AGREST, Diana; CONWAY, Patricia; WEISMAN, Leslie (Orgs.). The Sex of Architecture. New York: Harry Abrams, 1996. p. 263-273.), a oferta de visibilidade, ou a possibilidade de “olhares”, é um dos definidores da condição da esfera pública, associada à rua. Nesse sentido, podemos entender que o oposto, ou o espaço privado da casa, seria o local protegido dessa exposição ao desconhecido. Baseando-nos nesse pressuposto, transpomos tal argumentação para o espaço de Desterro como forma de reforçar o argumento quanto à diluição da diferenciação entre espaço público e privado. Se imaginarmos que as mulheres negras eram “estranhas” ao núcleo familiar, e que a maior parte delas cumpria funções associadas tanto a casa quanto à rua, sugerimos que essas mulheres representassem justamente este “olhar estranho”, carregando para dentro do espaço doméstico a visibilidade até então experimentada somente nos espaços públicos da cidade, e comprometendo, com isso, a construção da intimidade, idealizada pelas camadas senhoriais urbanas.

Referências

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  • VEIGA, Eliane Veras. Florianópolis: Memória Urbana Florianópolis: Fundação Franklin Cascaes, 2010.
  • 1
    Dos jornais consultados na HDC, aqueles que apresentaram resultados, e por isso compõem os dados do presente artigo, foram: O Argos, O Cacique, O Catharinense, Correio Catharinense, Despertador, Estrella, O Mercantil, O Progressista, A Regeneração, República, O Mensageiro, O Novo Íris, O Conservador e O Dia.
  • 2
    As edições dos jornais que estão disponíveis não representam a totalidade das publicações, mas somente aqueles que se mantiveram em condições de preservação.
  • 3
    Dentre as variações, estariam as expressões crioula, creoula, preta e escrava.
  • 4
    São exemplos desses títulos potenciais “diz-se por ahi”, “dizia-se baixinho” e “fatos e boatos”.
  • 5
    Relativos, respectivamente, ao anos de 1760-1770, 1876 e 1921 e de 1754-1764, de 1876 e de 1916.
  • 6
    “Tigres ferozes” faz referência ao odor das barricas e tonéis de madeira carregados de dejetos.
  • 7
    O Binóculo, de 11/05/1902
  • 8
    Em O Livro Negro, de 16/10/1861.
  • 9
    O Mercantil - Edição 00392, de 1864.
  • 10
    O Mercantil - Edição 00265, de 1863.
  • 11
    O Argos - Edição 00103, de 1857.
  • 12
    O Novo Íris, de 1850.
  • 13
    O Mercantil - Edição 675, de 1867.
  • 14
    O Mercantil - Edição 00265, de 1863.
  • 15
    O Argos - Edição 00829, de 1861, e O Despertador - Edição 00562, de 1867.
  • 16
    O Mercantil - Edição 675, de 1867.
  • 17
    O Argos - 05/02/1856.
  • 18
    O Argos - Edição 00844, de 1861.
  • 19
    O Despertador - Edição 00259, de 1865.
  • 20
    O Argos - Edição 00039, de 1856.
  • 21
    O Despertador - Edição 01088, de 1873.
  • 22
    O Novo Íris - Edição 00100, de 1851.
  • 23
    Amas de leite corresponderam à aproximadamente 61% das escravas que cumpriam Serviços Internos.
  • 24
    Jornal O Artista, de 29/06/1879.
  • 25
    O Mensageiro - Edição 00222, de 1857.
  • 26
    Em Desterro, as obras de saneamento foram consolidadas apenas no início do Século XX. Apesar de existirem residências com tanque particular de lavação, como sugerido pelos anúncios de “vende-se casa com fonte de beber e lavar” (O Argos, 1859), nem todas as residências da cidade possuíam tanque próprio, o que implicava a necessidade de, possivelmente, essas escravas acessarem os locais públicos para executar o ofício.
  • Como citar esse artigo de acordo com as normas da revista:

    SILVA, Odila Rosa Carneiro da; SABOYA, Renato Tibiriçá de. “Anúncios de mulheres negras escravizadas e as dinâmicas urbanas femininas em Desterro”. Revista Estudos Feministas, Florianópolis, v. 31, n. 1, e80623, 2023
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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    01 Maio 2023
  • Data do Fascículo
    2023

Histórico

  • Recebido
    15 Abr 2021
  • Revisado
    22 Dez 2021
  • Aceito
    08 Mar 2022
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