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Por que a elasticidade-preço das importações é baixa no Brasil? Evidências a partir das desagregações das importações por categorias de uso

Why is the price elasticity of imports low in Brazil? Evidence from disaggregated imports

Resumo

Estudos recentes indicam que a elasticidade-preço das importações brasileiras é baixa. Este trabalho procura racionalizar o referido resultado revisitando as estimativas das importações do país desagregadas por “categoria de uso”. Os resultados reportados sugerem que a baixa elasticidade-preço das importações agregadas reflete fundamentalmente a baixa elasticidade-preço das importações de combustíveis, bens intermediários e de alguns tipos de serviços - notadamente, transporte, aluguel de equipamentos e pagamentos de royalties - produtos que, somados, respondem por pouco menos de dois terços do total importado. Isso ocorre porque vários desses produtos têm pouca ou nenhuma possibilidade de substituição por similares nacionais, devido principalmente a deficiências estruturais na oferta nacional.

Palavras-chave:
Elasticidade-preço das importações; Importações brasileiras; Importações desagregadas; Categorias de uso; Brasil

Abstract

Recent studies have pointed out to a low price elasticity of Brazilian imports. In this study we provide a rationale for this result by revisiting the behavior of imports disaggregated in seven different categories. According to the results reported in this paper, the low price elasticity of total imports reflects the low price elasticities of intermediate goods, oil and fuel, and services such as transportation, royalties, and rents paid on machinery and equipment - products which together amount to about two thirds of aggregate Brazilian imports. We find that several of these imports have low or null possibility of substitution for domestic products, due to structural deficiencies in Brazilian productive capacity.

Keywords:
Price-elasticity of imports; Brazilian imports; Disaggregated imports; Imports categories; Brazil

Introdução

Estudos recentes têm convergido para a visão de que a elasticidade-preço das importações brasileiras é baixa. Minella e Souza-Sobrinho (2009MINELLA, A.; SOUZA-SOBRINHO, N. Canais monetários no Brasil sob a ótica de um modelo semiestrutural. In: BANCO Central do Brasil. Dez anos de metas para a inflação - 1999-2009. Brasília: Banco Central do Brasil, 2011.), por exemplo, apontam que uma desvalorização de 1% na taxa de câmbio real leva a uma redução de 0,17% no índice de volume das importações totais. Resultados semelhantes foram reportados também por Muinhos e Alves (2003MUINHOS, M. K.; ALVES, S. A. L. Medium-size macroeconomic model for the Brazilian economy. Brasília: Banco Central do Brasil, 2003. (Working Paper Series, n. 64).) e Gouvea e Schettini (2011GOUVEA, R; SCHETTINI, B. Estimativas econométricas para as importações agregadas com dados das contas nacionais trimestrais - 1996-2010. Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2011. (Texto para Discussão, n.1683).).

Este trabalho tem o objetivo de aprofundar as análises anteriores revisitando as estimativas das importações totais do país por “categoria de uso”. Trata-se de um tema clássico, sem dúvida. A literatura de especificações econométricas da dinâmica das importações brasileiras é rica em análises desagregadas. Portugal (1992PORTUGAL, M. S. Um modelo de correção de erros para a demanda por importações brasileiras. Pesquisa e Planejamento Econômico, v. 22, n. 3, 1992.) e Carvalho e Parente (1999CARVALHO, A.; PARENTE, M. A. Estimação de equações de demanda de importação por categoria de uso no Brasil (1978/1996). Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 1999. (Texto para Discussão, n. 636).), por exemplo, estimaram especificações semelhantes às reportadas neste trabalho. Todavia, pouco se escreveu sobre o assunto nos últimos tempos1 1 Sapienza (2007) é uma exceção a esta regra. Contudo, o autor essencialmente desconsidera a possibilidade de quebras estruturais nos dados. Daí, aparentemente, os resultados “contrários ao esperado pela teoria econômica” que reporta (ver seções 2 e 3 deste texto). - talvez por conta da bonança externa que caracterizou a última década - e poucos duvidariam que muita coisa mudou na estrutura produtiva brasileira desde então.

A natureza periférica do capitalismo brasileiro continua a mesma, entretanto. Não surpreende, assim, que - tal como Tavares (1972TAVARES, M. D. C. Auge e declínio do processo de substituição de importações no Brasil. In: TAVARES, M. D. C. Da substituição de importações ao capitalismo financeiro. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1972. p. 27-124. ) em sua clássica análise do processo de substituição de importações - argumentemos aqui que a baixa elasticidade-preço das importações totais reflete fundamentalmente deficiências da estrutura produtiva nacional.

A referida argumentação é construída em duas etapas. Primeiramente, os resultados econométricos reportados nesse trabalho sugerem que a baixa elasticidade-preço das importações agregadas reflete basicamente a baixa elasticidade-preço das importações de combustíveis, bens intermediários e alguns tipos de serviços - notadamente, transporte, aluguéis de equipamentos e pagamentos de royalties - produtos que, somados, respondem por pouco menos de dois terços das importações totais de bens e serviços do país.

Ora, a baixa substitutibilidade entre as importações de combustíveis e de serviços e a produção doméstica desses últimos é um fato estilizado clássico da dinâmica das importações brasileiras (e.g. Zini, 1988ZINI JR., A. A. Funções de exportação e de importação para o Brasil. Pesquisa e Planejamento Econômico, v. 18, n. 3, p. 615-662, 1988.; Reis et al. 1999REIS, E. R. et al. Model for projections and simulations of the Brazilian economy. Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 1999. (Texto para Discussão, n. 619).). Já a baixa substituição entre as importações de bens intermediários e a produção doméstica é um fenômeno mais recente - Portugal (1992PORTUGAL, M. S. Um modelo de correção de erros para a demanda por importações brasileiras. Pesquisa e Planejamento Econômico, v. 22, n. 3, 1992.) e Carvalho e Parente (1999CARVALHO, A.; PARENTE, M. A. Estimação de equações de demanda de importação por categoria de uso no Brasil (1978/1996). Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 1999. (Texto para Discussão, n. 636).), por exemplo, encontram elasticidades-preço próximas a ou maiores do que um, em valores absolutos, para estes bens e serviços. Mas esta mudança parece plausível à medida que se tem claro o segundo passo do argumento desse texto, qual seja, o fato de a maior parte destes bens intermediários serem hoje autopeças, fertilizantes, outros compostos químicos e petroquímicos, e componentes eletrônicos. Setores, em suma, nos quais o país tem claros problemas de oferta.

Note-se que não atribuímos estas deficiências a um suposto processo de desindustrialização - em contraste, por exemplo, com Bresser-Pereira (2012BRESSER-PEREIRA, L. C. A taxa de câmbio no centro da teoria do desenvolvimento. Estudos Avançados, v. 26, n. 75, p. 7-28, 2012.) e Oreiro e Feijó (2010OREIRO, J. L.; FEIJÓ, C. A. Desindustrialização: conceituação, causas, efeitos eo caso brasileiro. Revista de Economia Política, v. 30, n. 2, p. 219-232, 2010.). Com efeito, os principais produtos deficitários na balança comercial brasileira são principalmente de alto conteúdo tecnológico e correspondem a cadeias produtivas que sequer foram efetivamente instaladas no âmbito nacional, como a química fina, microchips e semicondutores, ou a produtos inseridos nas cadeias globais de valor cujas importações e exportações dependem principalmente das estratégias de empresas transnacionais e da maneira como as empresas nacionais se inserem nestas cadeias (Gereffi et al., 2005GEREFFI, G.; HUMPHREY, J.; STURGEON, T. The governance of global value chains. Review of International Political Economy, v. 12, n. 1, p. 78-104, 2005.).

O restante do texto está organizado em cinco seções. A seguir, na primeira seção, são apresentados os dados relativos à composição das importações brasileiras. A seção dois faz uma breve resenha da literatura empírica que trata da elasticidade-preço das importações. A terceira parte do texto expõe a metodologia empírica utilizada e está dividida entre os procedimentos econométricos adotados e a descrição das variáveis empregadas nos testes. Por fim, a quarta seção apresenta os resultados econométricos propriamente ditos enquanto a última os discute e apresenta nossas considerações finais.

1 Descrição dos dados

O presente estudo faz uso dos dados de importação de bens disponibilizados pela Funcex2 2 Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (www.funcex.org.br). e das despesas com serviços do balanço de pagamentos, doravante denominadas importações de serviços. Além das importações agregadas, utiliza-se a desagregação tradicional dos bens em cinco categorias de uso, a saber: i) bens de consumo duráveis (BCD), ii) não duráveis (BCND), iii) intermediários (BI), iv) de capital (BK) e v) combustíveis e lubrificantes (C&L); e duas classes de importações de serviços: vi) transportes, royalties e aluguel de equipamentos (Serv. TRA) e vii). outros serviços (Serv. Outros). Estas sete categorias incluem bens com características bastante distintas - notadamente no que tange a intensidade tecnológica e complexidade de seus respectivos processos produtivos.

O Gráfico 1 mostra uma composição relativamente estável das importações nominais totais entre 1996 e 2013. Os bens intermediários há tempos constituem a maior parcela das importações, somando em média 43% do total, seguidos pelos serviços com 24%, bens de capital, 13%, combustíveis e lubrificantes, 11%, bens de consumo não duráveis 6% e duráveis com 3%.

Gráfico 1
Distribuição das importações agregadas (1996-2013)

Gráfico 2
Distribuição das Importações de Bens (1978-2013)

Mudanças na composição das importações de bens são mais evidentes quando se amplia o prazo da análise para o período 1978-2013. De fato, os dados demonstram uma notável redução das importações de combustíveis ao longo da década de 1980 e, em menor grau, na primeira metade dos 90. Esta mudança nas importações de petróleo está diretamente ligada às descobertas dos reservatórios offshore na Bacia de Campos. Apesar dos primeiros campos terem sido descobertos já no início da década de 1970, foi apenas a partir dos anos 803 3 O ano de 1984 marca a descoberta do primeiro campo gigante em águas profundas de Albacora. que se observou um aumento significativo na extração de óleo em território nacional.

Um olhar mais detalhado sobre as importações de serviços, por sua vez, evidencia o forte crescimento das despesas com aluguel de equipamentos, de aproximadamente 5% em 1996 para 22% em 2013, que reflete principalmente o aluguel de equipamentos de exploração “exportados” da Petrobras4 4 O aumento nas despesas com aluguel de equipamentos pode ser explicado pelos pagamentos realizados pela Petrobras pelo uso de equipamentos de exploração. Apesar de produzidas nacionalmente, diversas plataformas de sondagem e exploração de petróleo são “exportados” pela estatal para suas subsidiárias no exterior por questões tributárias e depois “alugadas” para uso em território nacional. . Ainda assim transportes e viagens internacionais seguem como os dois itens principais, somando em média 47% das importações de serviço.

Gráfico 3
Importações de Serviços (1996-2013)

Dada a ênfase do texto na desagregação das importações por categoria de uso, cumpre notar que as importações de BCD e BCND consistem essencialmente em bens de consumo finais. No primeiro caso sobressaem os automóveis e em menor proporção aparelhos eletrônicos e eletrodomésticos, e no segundo principalmente medicamentos, produtos farmacêuticos, vestuário, assim como alguns artigos alimentícios como peixes e frutas. Já os bens intermediários são compostos principalmente por autopeças, componentes eletrônicos e compostos químicos diversos, que abarcam três dos cinco bens intermediários com maiores valores importados. As importações de bens de capital, por seu turno, consistem basicamente em máquinas e equipamentos, caminhões e ônibus e em menor medida materiais elétricos e eletrônicos, enquanto que as importações de combustíveis e lubrificantes abarcam majoritariamente compras de petróleo bruto, produtos de refino e óleo combustível. Já destacamos acima a importância dos transportes, viagens e aluguel de equipamentos nas importações de serviços. Os cinco principais itens de cada categoria estão listados no Quadro 1.

Quadro 1
Principais itens de cada categoria importada

Registre-se que no ano de 2013 os cinco bens intermediários mais importantes somaram, em valores nominais, cerca de 18% das importações totais5 5 Divididos em 5.6% de parte e peças para veículos, 3.7% de componentes eletrônicos e 8.5% para os três tipos de componentes químicos. - valor maior do que as importações de bens de capital (11%) e do que a soma das importações de BCD e BCND (10%). O maior item individual das importações é o gasto com viagens internacionais (7.8% das importações totais) - que, por seu turno, equivale a pouco menos de dois terços da soma das despesas com transportes, royalties e alugueis de equipamentos (12%). Por fim, 75% das importações de combustíveis - que correspondem a 13% das importações totais - se concentram em óleos brutos de petróleo e outros produtos de refino de petróleo.

Destaque-se, ainda, que as duas categorias de bens de consumo são compostas por bens finais para os quais existem produtos nacionais equivalentes6 6 Ainda que a substituição entre a produção doméstica e a oferta internacional desses bens esteja longe de ser perfeita. É sabido que parte das importações de automóveis corresponde a veículos de luxo. O mesmo caso se aplica a diversos bens de consumo não duráveis importados como perfumes, roupas e certos tipos de alimentos. De todo modo, esses bens possuem algum substituto mesmo que imperfeito produzido internamente. . Espera-se, assim, que a elevação dos preços desses bens importados em função de uma desvalorização cambial tenha reflexos expressivos em suas quantidades demandadas. Um caso diametralmente oposto é verificado para combustíveis, transportes, aluguel de equipamentos e royalties. A demanda interna por petróleo e derivados deve estar vinculada ao nível de atividade da economia e principalmente à capacidade de abastecer plenamente o mercado interno com a exploração e refino nacionais. Deste modo, não há motivo para que um encarecimento relativo das importações leve, pelo menos no curto e médio prazos, a reduções significativas no consumo interno de combustíveis e outros derivados de petróleo. Os itens inclusos na categoria Serv. TRA são um caso ainda mais evidente de produtos preço-inelásticos. Devido à ausência de uma marinha mercante nacional, bem como a natureza contábil das despesas com royalties e aluguel de equipamentos não há justificativa para que qualquer destas despesas seja sensível a variações no câmbio7 7 Ainda que se espere que os fretes guardem uma correspondência próxima com o nível de atividade interna e mundial. É um fato estilizado que a corrente de comércio internacional, e consequentemente os serviços de transporte, tendem a crescer mais rapidamente do que a renda em períodos de expansão e também reduzir-se de forma análoga. .

As importações de bens de capital, por seu turno, estão no cerne do processo de estrangulamento descrito por Tavares (1972TAVARES, M. D. C. Auge e declínio do processo de substituição de importações no Brasil. In: TAVARES, M. D. C. Da substituição de importações ao capitalismo financeiro. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1972. p. 27-124. ) que ensejou a industrialização por substituição de importações. Entretanto, existe hoje uma expressiva produção nacional de bens de capital. Logo, mesmo que ainda importemos diversas máquinas de equipamentos de maior conteúdo tecnológico, espera-se que haja algum grau de substituição nos bens de capital. Basta verificar que diversos dos BK listados no Quadro 1 acima são fabricados nacionalmente, como caminhões, máquinas agrícolas e materiais elétricos diversos.

Por fim, cumpre notar - no caso dos bens intermediários - que grande parte destes bens são insumos para processos industriais específicos. Ou seja, a substituição de bens intermediários está, em grande medida, ligada a novos investimentos e/ou alterações significativas nos processos produtivos - sendo natural supor, portanto, que a demanda por esses bens dependa mais de fatores tecnológicos8 8 Cuja dinâmica, cumpre acrescentar, é, em ampla medida, exógena à economia nacional, tendo em vista o grande peso de corporações multinacionais no setor industrial brasileiro. do que de variações cambiais no curto prazo de alguns poucos trimestres.

Ao considerar os principais BIs importados da pauta brasileira atual temos ainda mais justificativas para pessimismo quanto à elasticidade-preço das importações. O maior item desta categoria, a saber, partes e peças para veículos, está inteiramente inserido no contexto das cadeias globais de valor - vale dizer, as importações desses bens estão sujeitas às estratégias de empresas multinacionais que controlam o mercado automobilístico brasileiro. Com o aval do governo, é bom que se diga, posto que, apesar da efetiva proteção no mercado automobilístico brasileiro, “as tarifas do setor de autopeças são substancialmente menores do que aquelas do setor de veículos” (De Negri, 2010DE NEGRI, J. A. A cadeia global de valor da indústria automobilística no Brasil. In: PROSCHNIK, V. (Coord.). La inserción de América Latina en las cadenas globales de valor. Montevideo: Red Mercosur de Investigaciones Económicas, 2010., p. 202).

Já as importações de componentes eletrônicos e diversos compostos químicos enfrentam uma situação clara de deficiência de oferta. A produção nacional de eletrônicos é “(...) fortemente assentada em montagem de bens (...) para uso final no país” (Sarti; Hiratuka, 2010SARTI, F.; HIRATUKA, C. (Coord.). Perspectivas do investimento no Brasil. v. 2: Perspectivas do investimento na indústria. Rio de Janeiro: Synergia, Instituto de Economia da UFRJ; Campinas: Unicamp. Instituto de Economia, 2010., p. 201) com escassa produção de intermediários como microchips e semicondutores. A indústria química brasileira não é diferente e se concentra principalmente em commodities químicas orgânicas como resinas plásticas. Nas palavras de Bastos e Costa (2011BASTOS, V. D.; COSTA, L. M. Déficit comercial, exportações e perspectivas da indústria química brasileira. Rio de Janeiro: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, 2011. p. 163-206. (BNDES Setorial, n. 33)., p. 166):

A forte dependência de importações resulta (...) também da insuficiência da oferta doméstica e da limitada diversificação da produção química brasileira, apoiada em um leque reduzido de produtos e subcadeias químicas comparado ao padrão altamente diversificado da indústria mundial (...).

Não surpreende, assim, que o Gráfico 4 indique que a forte elevação do quantum importado de bens intermediários se dá tanto em períodos de queda quanto de aumento dos preços.

Gráfico 4
Importações de BI (índice 2006=100)

2 Uma breve resenha seletiva da literatura econométrica sobre a dinâmica das importações brasileiras desagregadas por categorias de uso

A literatura econométrica sobre a dinâmica das importações brasileiras é bastante rica, constituída por dezenas de textos escritos desde, pelo menos, a década de 1980. Particularmente importantes para os propósitos deste trabalho são os estudos que procuram modelar explicitamente a dinâmica das importações desagregadas “por categoria de uso” a partir de técnicas de cointegração9 9 Tendo em vista as fortes evidências empíricas – encontradas neste estudo e em vários outros textos – de que as séries relevantes têm raízes unitárias. - e.g. Portugal (1992PORTUGAL, M. S. Um modelo de correção de erros para a demanda por importações brasileiras. Pesquisa e Planejamento Econômico, v. 22, n. 3, 1992.), Cavalcanti e Castro (1997CASTRO, Alexandre Samy de; CAVALCANTI, Marco Antônio F. H. Estimação de exportação e importação para o Brasil - 1955/95. Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 1997. (Texto para Discussão, n. 469).), Carvalho e Parente (1999CARVALHO, A.; PARENTE, M. A. Estimação de equações de demanda de importação por categoria de uso no Brasil (1978/1996). Brasília: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 1999. (Texto para Discussão, n. 636).), Resende (2001RESENDE, M. F. C. Crescimento econômico, disponibilidade de divisas e importações no Brasil: um modelo de correção de erros. Pesquisa e Planejamento Econômico, v. 31, n. 2, p. 289-330, 2001.), Cavalcanti e Frischtak (2001CAVALCANTI, M. A. F. H.; FRISCHTAK, C. R. Crescimento econômico, balança comercial e a relação câmbio-investimento. Rio de Janeiro: Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, 2001. (Texto para Discussão, n. 821).) e Sapienza (2007SAPIENZA, L. D. Análise do desempenho da balança comercial brasileira - Estimações das elasticidades das funções de oferta de exportação e demanda de importação (1980/2006). Dissertação (Mestrado)-Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, 2007.). As especificações utilizadas e os resultados obtidos por estes autores são apresentados na Tabela 1.

Tabela 1
Estudos com análises de cointegração para o quantum das importações desagregadas por categorias de uso

Estes estudos, de modo geral, indicam elasticidades-preço expressivas, quase sempre maiores do que a unidade. Estimam também elasticidades-renda positivas e aparentemente crescentes entre o início das décadas de 1990 e 2000.

Em relação às categorias descritas na seção 1 percebe-se que as elasticidades-preço dos bens de consumo apresentam valores elevados, como presumido. Os parâmetros dos bens de capital também são elásticos. Também em linha com a descrição anterior a única estimativa que considera os combustíveis encontra um valor reduzido de -0.6.

Os intermediários se mostram mais sensíveis ao câmbio real do que indica nossa exposição da seção 1. Todavia, como já indicamos, esta categoria sofreu grande aumento do quantum importado na última década. É plausível supor, portanto, que a partir do final do século passado tenha havido uma mudança na estrutura produtiva brasileira - e, por conseguinte, na dinâmica das importações dos BI - que não foi captada nos estudos em questão.

Cumpre mencionar, em particular, as profundas transformações da indústria automobilística nacional desde a abertura comercial e do regime automotivo brasileiro - não apenas por meio da entrada de novas montadoras de capital transnacional, mas também pelas mudanças no relacionamento entre essas montadoras e seus fornecedores de autopeças por meio do “aproveitamento das plataformas globais para criar capacidade de montagem mais genérica e menos presa a modelos específicos, buscando a flexibilidade de suas plantas” (Torres; Cairo, 2012, p. 78).

Em relação à indústria eletroeletrônica, a década de 1990 foi marcada por uma intensa fragmentação da produção10 10 Segundo Lall, Albadejo e Zhang (2004, p. 1) a fragmentação da produção no complexo eletroeletrônico foi mais rápida do que no automobilístico. e também aumento da participação dos eletrônicos no comércio mundial. Concomitantemente, as exportações de partes e componentes cresceram mais rápido do que as de produtos finais (Lall; Albadejo; Zhang, 2004, p. 8). Aliados à ausência de uma produção nacional de componentes eletrônicos estes fatos esclarecem não só o aumento do quantum importado de intermediários, mas também constituem uma possível explicação para sua baixa elasticidade-preço.

De um ponto de vista metodológico, é importante dividir a literatura em textos que consideram e não consideram explicitamente a possibilidade e as implicações de múltiplas quebras estruturais, tanto na dinâmica individual das séries quanto na relação entre elas. Há vastas evidências na literatura de quebras estruturais dos dois tipos e a existência destas quebras têm pelo menos três consequências importantes. Primeiramente, os resultados dos testes de raízes unitárias convencionais são afetados (Lee; Strazicich, 2003LEE, J.; STRAZICICH, M. C. Minimum LM unit root test with two structural breaks. Review of Economics and Statistics, v. 63, p.1082-1089, 2003.). Segundo, dummies nos VARs de partida provavelmente terão que ser utilizadas quando da implementação dos testes de Johansen (1988JOHANSEN, S. Statistical analysis of cointegration vectors. Journal of Economic Dynamics and Control, v. 12, p. 231-254, 1988., 1991JOHANSEN, S. Estimation and hypothesis testing of cointegration vectors in Gaussian vector autoregressive models. Econometrica, v. 59, p. 1551-1580, 1991.) a fim de garantir erros homocedásticos e não correlacionados. Em terceiro lugar, os resultados dos testes de (não) cointegração clássicos (Engle; Granger, 1987ENGLE, R.; GRANGER, C. W. J. Co-integration and error correction: representation, estimation and testing. Econometrica, v. 55, n. 2, p. 251-267, 1987.; Johansen, 1988JOHANSEN, S. Statistical analysis of cointegration vectors. Journal of Economic Dynamics and Control, v. 12, p. 231-254, 1988., 1991JOHANSEN, S. Estimation and hypothesis testing of cointegration vectors in Gaussian vector autoregressive models. Econometrica, v. 59, p. 1551-1580, 1991.) não são válidos na presença de quebras estruturais na relação de cointegração (Gregory; Hansen, 1996GREGORY, A. W.; HANSEN, B. E. Residual-based tests for cointegration in models with regime shifts. Journal of Econometrics, v. 70, p. 99-126, 1996.) e são enviesados no sentido de uma identificação espúria de relações de cointegração quando há quebras estruturais nas séries (Leybourne; Newbold, 2003LEYBOURNE, S.; NEWBOLD, P. Spurious rejections by cointegration tests induced by structural breaks. Applied Economics, v. 35, p. 1117-1121, 2003.; Cook, 2004COOK, S. Spurious rejection by cointegration tests incorporating structural change in the cointegrating relationship. Applied Economics Letters, n. 11, p. 879-884, 2004.).

Uma vez que vários dos resultados supracitados só ficaram disponíveis após a virada do século, não surpreende que os estudos listados na Tabela 1 lidem de forma sub-ótima com - ou mesmo desconsiderem - a possibilidade de quebras estruturais nos dados/relações de cointegração relevantes. Adicionalmente, as amostras utilizadas nos referidos estudos são, por motivos óbvios, bastante diferentes das utilizadas neste trabalho. Registre-se, por fim, que nenhum dos estudos mencionados leva em conta as importações de serviços que constituem cerca de 20% das importações brasileiras totais.

3 Metodologia

Os procedimentos econométricos adotados neste texto

Os procedimentos econométricos adotados neste trabalho têm como objetivo explícito tratar - ou pelo menos mitigar - os problemas decorrentes da presença de múltiplas quebras estruturais e ainda atentar para o possível viés de endogeneidade nas equações estimadas. Não parece injusta a afirmação de que tais problemas afetam praticamente todos os textos citados na Tabela 1.

O primeiro passo da estratégia econométrica adotada consiste na análise dos resultados dos testes de raiz unitária de LS (Lee; Strazicich, 2003LEE, J.; STRAZICICH, M. C. Minimum LM unit root test with two structural breaks. Review of Economics and Statistics, v. 63, p.1082-1089, 2003.), ZA (Zivot; Andrews, 1993ZIVOT, E.; ANDREWS, D. W. K. Further evidence on the great crash, the oil price shock and the unit root hypothesis. Journal of Business and Economic Statistics, v. 10, p. 251-270, 1992.) e ADF-t (Quadro 2). Dois casos são dignos de nota. Em primeiro lugar, as relações relevantes podem envolver apenas séries estacionárias ou, alternativamente, combinações de séries estacionárias e não estacionárias. Neste caso, estimam-se modelos VAR clássicos, uma vez que Sims, Stock e Watson (1990SIMS, C.; STOCK, J.; WATSON, M. Inference in linear time series models with some unit roots. Econometrica, v. 58, n. 1, p. 113-144, Jan. 1990.) mostram que este procedimento será consistente se “o[s] modelo[s] puder[em] ser reescrito[s] de maneira que os coeficientes sob inspeção passem a multiplicar variáveis estacionárias” (Bueno, 2008BUENO, R. D. L. S. Econometria de Séries Temporais. São Paulo: Cengage Learning, 2008., p. 172).

Segundo, as relações relevantes podem envolver apenas séries não estacionárias, caso que contempla a maior parte das especificações deste texto. Neste caso, analisam-se inicialmente os resultados dos testes de Engle e Granger (1987ENGLE, R.; GRANGER, C. W. J. Co-integration and error correction: representation, estimation and testing. Econometrica, v. 55, n. 2, p. 251-267, 1987.) e Gregory e Hansen (1996GREGORY, A. W.; HANSEN, B. E. Residual-based tests for cointegration in models with regime shifts. Journal of Econometrics, v. 70, p. 99-126, 1996.) - respectivamente EG e GH daqui por diante11 11 Considera-se aqui que a existência de múltiplas quebras estruturais nas séries e nas relações de cointegração torna desaconselhável a aplicação dos testes de Johansen (1988, 1991). . Três possibilidades devem ser levadas em consideração. Primeiro, é possível que a existência de quebras estruturais nas séries seja rejeitada pelos testes de Lee e Strazicich (LS). Neste caso, os resultados do teste EG devem ser examinados à luz da aplicação do teste de GH a fim de controlar pela existência de quebras estruturais nas relações de cointegração. Em segundo lugar, é possível que a existência de quebras estruturais nas séries não seja rejeitada pelos testes LS e não se encontre evidências de cointegração nos testes mencionados. Neste caso, é bastante provável que não exista cointegração entre as variáveis, em vista os resultados de Leybourne e Newbold (2003LEYBOURNE, S.; NEWBOLD, P. Spurious rejections by cointegration tests induced by structural breaks. Applied Economics, v. 35, p. 1117-1121, 2003.) e Cook (2004COOK, S. Spurious rejection by cointegration tests incorporating structural change in the cointegrating relationship. Applied Economics Letters, n. 11, p. 879-884, 2004.). Por fim, é possível que a existência de quebras estruturais nas séries não seja rejeitada pelos testes LS e que se encontre evidências de cointegração nos testes mencionados. Neste caso, os resultados de Leybourne e Newbold (2003LEYBOURNE, S.; NEWBOLD, P. Spurious rejections by cointegration tests induced by structural breaks. Applied Economics, v. 35, p. 1117-1121, 2003.) e Cook (2004COOK, S. Spurious rejection by cointegration tests incorporating structural change in the cointegrating relationship. Applied Economics Letters, n. 11, p. 879-884, 2004.) sugerem a possibilidade de que as evidências de cointegração sejam espúrias.

Para se controlar por esta última possibilidade - e pela provável existência de não linearidades mais complexas do que simples quebras estruturais nos dados estejam a enviesar os resultados dos testes EG e GH - estimam-se também modelos Markovianos de alternância de regimes (Hamilton, 1989HAMILTON, J. D. A new approach to the economic analysis of nonstationary time series and the business cycle. Econometrica: Journal of the Econometric Society, p. 357-384, 1989. e 1994HAMILTON, J. D. Time series analysis. Princeton: Princeton University Press, 1994.). Tais modelos aninham a existência de uma ou mais quebras estruturais na relação entre as variáveis como casos particulares - e são utilizados aqui como testes de robustez dos resultados qualitativos obtidos com a análise de cointegração.

A existência de quebras estruturais nas relações de cointegração prejudica ainda a aplicação dos testes de exogeneidade convencionais - que partem da especificação de um modelo vetorial de correção de erros com erros bem comportados e vetor(es) de cointegração constante(s) obtidos por meio da análise de Johansen convencional. Daí a opção por examinar a possibilidade da existência do viés de endogeneidade nas especificações baseadas na existência de um único vetor de cointegração por meio do exame das funções impulso-resposta de VARs congruentes construídas a partir de várias hipóteses diferentes de identificação.

Descrição das variáveis

Além dos dados desagregados já descritos utilizamos a séries de importações agregadas das contas nacionais trimestrais (CNT\IBGE). Os dois gráficos a seguir ilustram a compatibilidade entre a soma das categorias desagregadas12 12 Todas free on board (FOB). Os valores nominais em milhões de dólares foram convertidos pelo câmbio nominal médio de cada período. e o total importado (M), em termos nominais e em taxas de crescimento real. As séries utilizadas se estendem do primeiro semestre de 1996 até o segundo de 2013, totalizando 70 observações.

Gráfico 5
Importações nominais das CNT reconstruídas a partir de dados da Funcex e do Bacen* (esq) e Taxas de Crescimento do Volume Total Importado** (dir)

Naturalmente, as variáveis de interesse utilizadas nas regressões são expressas em termos reais13 13 Portanto, além dos índices de quantum das categorias de uso dos bens disponibilizados pela Funcex utilizou-se para as importações agregadas o índice encadeado e dessazonalizado das importações a preços constantes, disponível nas CNT. Já as séries nominais de despesas com serviços em dólares foram deflacionados pelo índice de preços ao consumidor dos EUA. Todas as variáveis estão em logaritmos e foram dessazonalizadas pelo método x-12 multiplicativo utilizando o Gretl. Exceto as importações agregadas que já estão dessazonalizadas nas CNT . Ademais, em todas as especificações estimadas utilizamos a mesma variável como proxy da demanda por importações (Y): a série do produto interno bruto, em termo reais, com ajuste sazonal, também das contas nacionais trimestrais14 14 Poder-se ia pensar, por exemplo, em usar o consumo das famílias como variável de demanda para as importações de BCD e BCND. Ou a formação bruta de capital fixo como variável de demanda para as importações de BK. A análise destas especificações alternativas faz parte de um segundo texto ora em andamento. .

Por fim, foram construídas variáveis de câmbio real para cada uma das desagregações analisadas: ei = t) · (1 +

Onde E é a taxa de câmbio nominal, P * i o índice de preços das importações das categorias de uso, P o índice de preços ao atacado do Brasil e t a alíquota efetiva de importação15 15 Cuja proxy utilizada foi a divisão do valor nominal da arrecadação de impostos de importação pelo total nominal das importações nominais. . Para as duas variáveis referentes a serviços foi utilizada a taxa de câmbio real agregada, onde P * i é o índice de preços ao atacado dos Estados Unidos.

A ideia é captar mudanças de preço relativo não relacionadas as taxas de câmbio que também podem afetar as importações - o que parece especialmente importante no caso dos combustíveis e lubrificantes (Gráfico 7).

Gráfico 6
Taxas de Câmbio Reais (em logaritmos neperianos)

Gráfico 7
Taxa de Câmbio Real - Combustíveis e Lubrificantes (em logaritmos neperianos)

Todas as variáveis são devidamente descritas no Quadro 2 abaixo.

Quadro 2
Descrição das Variáveis

A análise gráfica das séries das importações brasileiras sugere a existência de - por vezes múltiplas - quebras estruturais (e.g. Gráfico 7). Daí a opção por examinar a possibilidade de existência de raízes unitárias nas 8 variáveis de importações e no PIB (que apresentam tendência) por meio dos supracitados testes de LS e ZA16 16 O teste ZA (Zivot; Andrews, 1992) testa a hipótese nula de um passeio aleatório com tendência e sem quebras contra a alternativa de um processo estacionário em torno de uma tendência determinística com uma quebra estrutural. Já o teste LS (Lee; Strazicich, 2003) testa a hipótese nula de um passeio aleatório com tendência e até duas quebras estruturais contra a hipótese alternativa de um processo estacionário em torno de uma tendência determinística com até duas quebras estruturais. O teste LS tem ainda a vantagem de nos permitir testar a significância das referidas quebras estruturais. . No caso das variáveis que não apresentam tendência, as taxas de câmbio, foi utilizado o tradicional teste ADF.

Tabela 2
Testes de Raiz Unitária (1)

Os resultados sugerem a existência de duas quebras estruturais em M, BCD, BK, Serv Outros, ServTRA e T, todas I(1)17 17 Na série Serv. TRA deve-se decidir entre os dois testes de LS com duas quebras. O modelo A indica estacionariedade enquanto o modelo C indica uma série integrada. A decisão de tratar esta série como I(1) parece encontrar respaldo nas relações de cointegração reportadas mais adiante neste texto. . O mesmo teste sugere a existência de apenas um quebra estrutural em BCND, também I(1). Os resultados indicam fortemente, ainda, que as séries de C&L e BI são I(0)18 18 No primeiro caso por conta do teste LS com duas quebras (modelo A) e no segundo pelo teste de LS com uma quebra (modelo C). . Por fim, os testes indicam que todas as séries de câmbio possuem raízes unitárias na amostra analisada.

Resultados

Nesta seção apresentamos os resultados dos testes de cointegração e dos modelos markovianos de alternância de regimes (MS), tentando interpretá-los à luz das características estruturais da economia e da pauta de importações brasileira expostas ao decorrer deste trabalho. Para todos os casos foi estimada uma função de demanda por importações contendo as taxas de câmbio real e a demanda interna como variáveis explicativas e as diversas desagregações das importações como variáveis dependentes, conforme a equação (1) abaixo na qual o subscrito i representa cada uma dos 8 índices de quantum dos importado, M representa as importações e e as taxas de câmbio real19 19 Lembrando que a taxa de câmbio real usual e é aplicada tanto as importações agregadas (M) quanto as de serviços (Serv.TRA) e (Serv.Outros). Para as demais categorias temos: e.bcd, e.bcnd, e.bi, e.bk e e.c&l. .

(1)

Gráfico 8
Funções de demanda por importação

São reportados na Tabela 3 as estatísticas de teste, o período das quebras estruturais e as elasticidades estimadas nos vetores de cointegração encontrados. Como esperado, feita uma única exceção nos BCD, as relações de cointegração foram estimadas pelos testes de GH, portanto, identificando a presença de quebras estruturais nas relações entre as variáveis.

Tabela 3
Testes de Cointegração e Elasticidades

Os testes GH-C, GH-C/T, GH-C/S e GH-C/T/S correspondem a quebras na constante, constante e tendência, constante e nos parâmetros e constante, tendência e parâmetros, respectivamente.

Os resultados estão em grande parte de acordo com a análise da seção 1. Primeiro, é importante notar a grande concentração das quebras estruturais no final de 2002. Como vemos nos Gráficos 7, este ponto está próximo do final de um longo período de estagnação nos índices de volume das importações e da renda, seguido de uma tendência crescente nos anos em que o Brasil experimentou um forte aumento do nível de atividade econômica, dos investimentos (dos Santos, 2013DOS SANTOS, C. H. Notas sobre as dinâmicas relacionadas do consumo das famílias, da formação bruta de capital fixo e das finanças públicas brasileiras no período 2004-2012. In: PETRELLI, V (Org.). Padrão de acumulação e desenvolvimento brasileiro. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2013.) e do nível de emprego que durou até 201120 20 Entre o final de 2002 e início de 2003 também foram estimadas diversas das quebras identificadas nos testes de LS e ZA, ver Tabela 3. . Não foram realizados testes para C&L, pois a série é estacionária, enquanto para os BI não foi identificada nenhuma relação de cointegração.

As elasticidades-preço do total importado já eram baixas -0.51 e -0.37, mesmo antes de 2002 enquanto a renda parecia ter um efeito muito maior para a dinâmica trimestral das importações com elasticidades de 3.17 e 2.22. Como esperado os BCD apresentaram elasticidade-preço e renda altas. Por outro lado, os resultados para os BCND sugerem uma relação positiva com o câmbio - provavelmente associada ao peso dos bens de luxo inseridos nesta rubrica, o que faz com que o consumo destes seja pouco sensível a variações de preço. De todo modo, vale lembrar que ambos constituem uma parcela reduzida do total e, portanto, têm pouca influência nas elasticidades das importações agregadas.

Os BK se mostraram mais elásticos ao câmbio do que o agregado, assim como os outros serviços. Não obstante, ambos também são fortemente influenciados pela demanda doméstica. E, como seria de se esperar, os serviços de transporte, aluguel e royalties apresentaram baixa sensibilidade cambial e alta elasticidade-renda.

Cabe notar que os modelos com quebras estruturais apresentam uma característica comum, qual seja: a queda da elasticidade-preço e aumento da elasticidade-renda após 2002/2003. Este fato é verificado para M, BK e Serv. Outros. Soa razoável, portanto, supor que o câmbio exerça maior efeito nas importações em períodos de estagnação e a demanda durante o crescimento. Mesmo assim, em quase todos os testes reportados a elasticidade-renda supera a elasticidade-preço tanto antes quanto depois das quebras.

Dito isso, cumpre notar que a análise de cointegração apresentada não considera as importações de intermediários e combustíveis que juntas representam cerca de 43% do total. Daí a necessidade de reportamos, a seguir, os modelos de MS21 21 Os modelos econométricos com alternância de regime remontam à Hamilton (1989). E partem da ideia de permitir que o modelo dependa do estado da economia. Por exemplo, é possível estimar uma equação na qual as mesmas variáveis tenham impactos diferentes sobre o nível de atividade da economia em regimes de recessão e expansão. A especificação de cada um dos regimes é linear, mas a probabilidade de transição entre eles se dá por meio de uma cadeia de Markov, resultando em um modelo não linear estimada por métodos numéricos de máxima verossimilhança. As equações dinâmicas com alternância de regimes nesta seção foram estimadas no pacote PcGive 13, para OxMetrics. O Método de estimação utilizado é o de Programação Quadrática Sequencial Factível (SQPF) padrão do Software. A mudança de regimes é estimada por uma variável aleatória discreta não observada descrita por uma cadeia de Markov para a qual são computadas as probabilidades de transição. Segundo Hamilton (1994, p. 678) “The simplest time series model for a discrete-valued random variable is a Markov Chain”. . Foram estimadas, para cada uma das 8 categorias, especificações que permitem alternância do intercepto (MSI), dos coeficientes das variáveis (MSIM), do coeficiente da variância (MSH), e suas combinações MSIH, MSIM e MSIHM22 22 As siglas são para Markov Switching em I (intercepto), M (médias) e H (heterocedasticidade). Ver Krolzig (1998). , com dois e três regimes.

A Tabela 4 apresenta os valores estimados da elasticidade-preço e renda do melhor modelo estimado para cada categoria das importações23 23 Foram selecionados os modelos com menor raiz do erro quadrático médio (RMSE) e erro percentual médio (MAPE), dentre os modelos estimados que não apresentaram problemas nos resíduos pelo testes de de Portmanteau, de Normalidade e ARCH-LM. . Os valores nulos indicam os modelos nos quais os coeficientes das elasticidades são os mesmos para todos os regimes, enquanto os N/A no modelo dos bens de capital sinaliza que este foi estimado com apenas dois regimes.

Tabela 4
Modelos Markovianos de Alternância de Regime

Os resultados da Tabela 4 corroboram e estendem os resultados dos testes de cointegração. Mais uma vez temos a baixa elasticidade-preço das importações agregadas e a demanda interna com elasticidades altas que variam pouco entre os regimes. Os BCD permanecem bastante sensíveis ao câmbio, principalmente nos regimes 1 e 2 em que a renda e as importações de BCD estão estagnadas, do início da amostra até 2003 T2 e de 2012 T1 até o final. Mais uma vez a elasticidade-preço dos BCND é positiva e diferente de zero nos regimes 1 e 2.

As importações de BK também exibem o mesmo comportamento identificado na análise de cointegração com uma queda - em termos absolutos - do coeficiente do câmbio de -0.85 para -0.38 e aumento da renda de 0.74 para 3.4 no regime 1 que se estende de 2002 T4 até 2013 T2. E mais uma vez temos Serv.Outros bastante sensíveis e Serv.TRA insensíveis ao câmbio real.

Já os bens intermediários apresentam uma elasticidade-preço muito baixa, de -0.15, e elasticidade-renda próxima de 2. Contribuem, assim, decisivamente para a insensibilidade das importações agregadas à taxa de câmbio. Também como esperado, as importações de C&L guardam pouco ou nenhuma relação com as variáveis explicativas.

Por fim, foram estimados oito VARs, um para cada uma das especificações das importações, com o objetivo de verificar a presença de um viés de endogeneidade. Como já afirmamos o teste tradicional de exogeneidade depende da hipótese de constância paramétrica que não é garantida na presença de quebras estruturais. Portanto, optou-se por verificar a importância do viés de endogeneidade pela observação dar funções impulso resposta a partir de diferentes hipóteses de identificação dos VARs.

Foi possível obter um VAR congruente para cada uma das especificações por meio da adição de dummies, geralmente nos períodos onde foram identificadas quebras estruturais24 24 Apesar de pouco usual hoje em dia o uso de dummies para captar efeito de mudanças significativas ou choques exógenos em um VAR não é incomum na literatura macroeconômica aplicada como em Blanchard e Perotti (1999), Ramey e Shapiro (1998). . As diferentes identificações não causaram grandes variações nas funções de impulso resposta - cujos sinais foram todos compatíveis com os dos modelos apresentados acima - sugerindo que os resultados qualitativos das especificações apresentadas nessa seção não foram determinados pelo viés de endogeneidade25 25 Por motivos de espaço não apresentaremos os resultados dos VARs nesse texto. Os leitores interessados podem obtê-los, entretanto, por meio de contato com os autores. .

Considerações finais

As estimativas apresentadas da seção 4 corroboram a hipótese central deste artigo de que a elasticidade-preço das importações é baixa no Brasil porque a composição das importações brasileiras é fortemente concentrada em bens intermediários, combustíveis e lubrificantes e serviços de transportes e pagamentos de royalties e aluguéis de equipamentos (BI, C&L e ServTRA) - setores nos quais os bens importados não são facilmente substituídos por outros produzidos domesticamente e que respondem por cerca de dois terços das importações totais.

Com efeito, todas as especificações econométricas apresentadas neste texto para as importações de BI, C&L e ServTRA foram unânimes em apontar baixas elasticidades-preço. Adicionalmente, todas as especificações econométricas para as importações de bens de capital, bens de consumo duráveis e outros serviços (BK, BCD e ServOutros) reportadas indicaram elasticidades-preço bem mais elevadas do que as verificadas para as importações de BI, C&L, ServTRA e para as importações agregadas. Ocorre que as importações de BK, BCD e Serv. Outros juntas não ultrapassam 30% do total, ou pouco mais de um terço do total caso sejam adicionadas das importações de bens de consumo não duráveis - cujos resultados, talvez surpreendentemente, também indicam uma elasticidade-preço baixa.

Naturalmente, mais estudos - setoriais, em alguns casos - são necessários para se estabelecer a causa precisa e a robustez do resultado da baixa substitutibilidade entre os bens domésticos e importados nos casos dos setores de bens intermediários e de bens de consumo não duráveis em particular.

De todo modo, os resultados apresentados neste trabalho sugerem fortemente que a pauta de importações brasileiras vem se enrijecendo desde os anos 1990 e que este problema é estrutural e, portanto, dificilmente poderá ser corrigido no curto prazo de alguns trimestres ou mesmo anos.

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  • 26
    JEL F14, L16, F40.
  • 1
    Sapienza (2007SAPIENZA, L. D. Análise do desempenho da balança comercial brasileira - Estimações das elasticidades das funções de oferta de exportação e demanda de importação (1980/2006). Dissertação (Mestrado)-Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas, 2007.) é uma exceção a esta regra. Contudo, o autor essencialmente desconsidera a possibilidade de quebras estruturais nos dados. Daí, aparentemente, os resultados “contrários ao esperado pela teoria econômica” que reporta (ver seções 2 e 3 deste texto).
  • 3
    O ano de 1984 marca a descoberta do primeiro campo gigante em águas profundas de Albacora.
  • 4
    O aumento nas despesas com aluguel de equipamentos pode ser explicado pelos pagamentos realizados pela Petrobras pelo uso de equipamentos de exploração. Apesar de produzidas nacionalmente, diversas plataformas de sondagem e exploração de petróleo são “exportados” pela estatal para suas subsidiárias no exterior por questões tributárias e depois “alugadas” para uso em território nacional.
  • 5
    Divididos em 5.6% de parte e peças para veículos, 3.7% de componentes eletrônicos e 8.5% para os três tipos de componentes químicos.
  • 6
    Ainda que a substituição entre a produção doméstica e a oferta internacional desses bens esteja longe de ser perfeita. É sabido que parte das importações de automóveis corresponde a veículos de luxo. O mesmo caso se aplica a diversos bens de consumo não duráveis importados como perfumes, roupas e certos tipos de alimentos. De todo modo, esses bens possuem algum substituto mesmo que imperfeito produzido internamente.
  • 7
    Ainda que se espere que os fretes guardem uma correspondência próxima com o nível de atividade interna e mundial. É um fato estilizado que a corrente de comércio internacional, e consequentemente os serviços de transporte, tendem a crescer mais rapidamente do que a renda em períodos de expansão e também reduzir-se de forma análoga.
  • 8
    Cuja dinâmica, cumpre acrescentar, é, em ampla medida, exógena à economia nacional, tendo em vista o grande peso de corporações multinacionais no setor industrial brasileiro.
  • 9
    Tendo em vista as fortes evidências empíricas – encontradas neste estudo e em vários outros textos – de que as séries relevantes têm raízes unitárias.
  • 10
    Segundo Lall, Albadejo e Zhang (2004, p. 1) a fragmentação da produção no complexo eletroeletrônico foi mais rápida do que no automobilístico.
  • 11
    Considera-se aqui que a existência de múltiplas quebras estruturais nas séries e nas relações de cointegração torna desaconselhável a aplicação dos testes de Johansen (1988JOHANSEN, S. Statistical analysis of cointegration vectors. Journal of Economic Dynamics and Control, v. 12, p. 231-254, 1988., 1991JOHANSEN, S. Estimation and hypothesis testing of cointegration vectors in Gaussian vector autoregressive models. Econometrica, v. 59, p. 1551-1580, 1991.).
  • 12
    Todas free on board (FOB). Os valores nominais em milhões de dólares foram convertidos pelo câmbio nominal médio de cada período.
  • 13
    Portanto, além dos índices de quantum das categorias de uso dos bens disponibilizados pela Funcex utilizou-se para as importações agregadas o índice encadeado e dessazonalizado das importações a preços constantes, disponível nas CNT. Já as séries nominais de despesas com serviços em dólares foram deflacionados pelo índice de preços ao consumidor dos EUA. Todas as variáveis estão em logaritmos e foram dessazonalizadas pelo método x-12 multiplicativo utilizando o Gretl. Exceto as importações agregadas que já estão dessazonalizadas nas CNT
  • 14
    Poder-se ia pensar, por exemplo, em usar o consumo das famílias como variável de demanda para as importações de BCD e BCND. Ou a formação bruta de capital fixo como variável de demanda para as importações de BK. A análise destas especificações alternativas faz parte de um segundo texto ora em andamento.
  • 15
    Cuja proxy utilizada foi a divisão do valor nominal da arrecadação de impostos de importação pelo total nominal das importações nominais.
  • 16
    O teste ZA (Zivot; Andrews, 1992ZIVOT, E.; ANDREWS, D. W. K. Further evidence on the great crash, the oil price shock and the unit root hypothesis. Journal of Business and Economic Statistics, v. 10, p. 251-270, 1992.) testa a hipótese nula de um passeio aleatório com tendência e sem quebras contra a alternativa de um processo estacionário em torno de uma tendência determinística com uma quebra estrutural. Já o teste LS (Lee; Strazicich, 2003LEE, J.; STRAZICICH, M. C. Minimum LM unit root test with two structural breaks. Review of Economics and Statistics, v. 63, p.1082-1089, 2003.) testa a hipótese nula de um passeio aleatório com tendência e até duas quebras estruturais contra a hipótese alternativa de um processo estacionário em torno de uma tendência determinística com até duas quebras estruturais. O teste LS tem ainda a vantagem de nos permitir testar a significância das referidas quebras estruturais.
  • 17
    Na série Serv. TRA deve-se decidir entre os dois testes de LS com duas quebras. O modelo A indica estacionariedade enquanto o modelo C indica uma série integrada. A decisão de tratar esta série como I(1) parece encontrar respaldo nas relações de cointegração reportadas mais adiante neste texto.
  • 18
    No primeiro caso por conta do teste LS com duas quebras (modelo A) e no segundo pelo teste de LS com uma quebra (modelo C).
  • 19
    Lembrando que a taxa de câmbio real usual e é aplicada tanto as importações agregadas (M) quanto as de serviços (Serv.TRA) e (Serv.Outros). Para as demais categorias temos: e.bcd, e.bcnd, e.bi, e.bk e e.c&l.
  • 20
    Entre o final de 2002 e início de 2003 também foram estimadas diversas das quebras identificadas nos testes de LS e ZA, ver Tabela 3.
  • 21
    Os modelos econométricos com alternância de regime remontam à Hamilton (1989HAMILTON, J. D. A new approach to the economic analysis of nonstationary time series and the business cycle. Econometrica: Journal of the Econometric Society, p. 357-384, 1989.). E partem da ideia de permitir que o modelo dependa do estado da economia. Por exemplo, é possível estimar uma equação na qual as mesmas variáveis tenham impactos diferentes sobre o nível de atividade da economia em regimes de recessão e expansão. A especificação de cada um dos regimes é linear, mas a probabilidade de transição entre eles se dá por meio de uma cadeia de Markov, resultando em um modelo não linear estimada por métodos numéricos de máxima verossimilhança. As equações dinâmicas com alternância de regimes nesta seção foram estimadas no pacote PcGive 13, para OxMetrics. O Método de estimação utilizado é o de Programação Quadrática Sequencial Factível (SQPF) padrão do Software. A mudança de regimes é estimada por uma variável aleatória discreta não observada descrita por uma cadeia de Markov para a qual são computadas as probabilidades de transição. Segundo Hamilton (1994HAMILTON, J. D. Time series analysis. Princeton: Princeton University Press, 1994., p. 678) “The simplest time series model for a discrete-valued random variable is a Markov Chain”.
  • 22
    As siglas são para Markov Switching em I (intercepto), M (médias) e H (heterocedasticidade). Ver Krolzig (1998).
  • 23
    Foram selecionados os modelos com menor raiz do erro quadrático médio (RMSE) e erro percentual médio (MAPE), dentre os modelos estimados que não apresentaram problemas nos resíduos pelo testes de de Portmanteau, de Normalidade e ARCH-LM.
  • 24
    Apesar de pouco usual hoje em dia o uso de dummies para captar efeito de mudanças significativas ou choques exógenos em um VAR não é incomum na literatura macroeconômica aplicada como em Blanchard e Perotti (1999BLANCHARD, O.; PEROTTI, R. An empirical characterization of the dynamic effects of changes in government spending and taxes on output. Cambridge, MA: National Bureau of Economic Research, 1999. (NBER Working Papers, n. 7269).), Ramey e Shapiro (1998RAMEY, V. A.; SHAPIRO, M. D. Costly capital reallocation and the effects of government spending. Carnegie-Rochester Conference Series on Public Policy, North-Holland, v. 48, p. 145-194, Jun. 1998.).
  • 25
    Por motivos de espaço não apresentaremos os resultados dos VARs nesse texto. Os leitores interessados podem obtê-los, entretanto, por meio de contato com os autores.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Abr 2017

Histórico

  • Recebido
    08 Set 2014
  • Aceito
    25 Nov 2016
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