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A produção da pesquisa histórica vinculada aos programas de pós-graduação no Brasil, 1972 a 2004

Historical research vinculated to nursing graduate programs in Brazil from 1972 to 2004

La producción de la investigación histórica de los programas de postgrado en el Brasil, 1972 a 2004

Resumos

Este estudo objetivou analisar a produção bibliográfica relativa aos estudos históricos vinculados aos Programas de Pós-Graduação de Enfermagem no Brasil, no período de 1972 a 2004. Foi realizada a pesquisa documental em 126 resumos na perspectiva histórica e utilizada análise de conteúdo para selecionar quatro categorias: identidade profissional e institucionalização da enfermagem; escolas; especialidades; e entidades organizativas. Os resultados apontam para maior quantitativo de estudos nas especialidades demonstrando que a prática assistencial é o foco de investimento das pesquisas. Os temas principais são: relações de poder, as questões de gênero, o saber e a profissionalização e institucionalização da enfermagem, evidenciando questionamentos de problemas contemporâneos. Concluímos que a produção científica dos estudos históricos é pequena, o que evidencia a necessidade de fortalecimento nesta linha de pesquisa, buscando os constituintes históricos que respondam a problemática contemporânea da compreensão da construção profissional bem como, da prática assistencial da enfermagem.

Enfermagem; História; História da enfermagem


The objective of this study is to analyze the bibliographic production relative to the historical studies carried out in Nursing Graduate Programs from 1972 to 2004. It is a documental research of 126 abstracts that have historical study characteristics. The content analysis resulted in four categories: the professional identity and institutionalization of nursing; nursing schools; nursing specialties; and organizational entities in nursing. The results point out that a quantitative majority of the studies concern nursing specialties, demonstrating that care practice is the invested focus of most research. Other frequent themes were: power relationships, genre, knowledge, and the professionalization and institutionalization of nursing, which evidence questioning surrounding contemporary problems. We conclude that scientific production of historical studies of nursing in Brazil is still budding. This proves the necessity for strengthening this line of research, seeking the historical constituents that answer the contemporary challenge of comprehending professional construction as well as care practice in nursing.

Nursing; History; History of nursing


El objetivo de este estudio es analizar la producción bibliográfica concerniente a los estudios históricos realizados por los Programas de Postgrado de Enfermería en el Brasil, en el período de 1972 a 2004. Se realizó una investigación documental en 126 resúmenes con enfoque histórico, utilizando para el estudio, el análisis de contenido, el cual permitió seleccionar cuatro categorías: identidad profesional e institucionalización de la enfermería; escuelas; especialidades; y, entidades organizativas. Del punto de vista cuantitativo, los resultados obtenidos señalan un número mayor de estudios en las especialidades, demostrando que la práctica asistencial es el centro de las investigaciones. Los principales temas encontrados son: las relaciones de poder, las cuestiones de género, el saber y la profesionalización e institucionalización de la enfermería, revelando cuestionamientos a los problemas contemporáneos. Con esta investigación podemos concluir que la producción científica de los estudios históricos es pequeña, lo que evidencia la necesidad de fortalecer esa área de investigación, buscando elementos históricos que respondan a la problemática contemporánea de la comprensión de la construcción profesional, así como, de la práctica asistencial de la enfermería.

Enfermería; Historia; Historia de la enfermería


ARTIGO ORIGINAL

PESQUISA

A produção da pesquisa histórica vinculada aos programas de pós-graduação no Brasil, 1972 a 2004

Historical research vinculated to nursing graduate programs in Brazil from 1972 to 2004

La producción de la investigación histórica de los programas de postgrado en el Brasil, 1972 a 2004

Maria Itayra Coelho de Souza PadilhaI; Denise Faucz KletembergII; Vitória Regina Petters GregórioIII; Laurete Medeiros BorgesIV; Miriam Süsskind BorensteinV

IDoutora em Enfermagem. Professora Associado do Departamento de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Vice-líder do Grupo de Estudos de História do Conhecimento da Enfermagem (GEHCE), do Programa de Pós-Graduação de Enfermagem (PEN) da UFSC. Pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Realiza estágio Pós-Doutoral na Lawrence Bloomberg Faculty of Nursing at University of Toronto, Ontário, Canadá. Santa Catarina, Brasil

IIMestre em Enfermagem. Professora Assistente da Faculdade Evangélica do Paraná. Doutoranda do PEN/UFSC. Membro do GEHCE/PEN/UFSC. Santa Catarina, Brasil

IIIMestre em Enfermagem. Professora Assistente do Departamento de Enfermagem da UFSC. Doutoranda do PEN/UFSC. Membro do GEHCE/PEN/UFSC. Santa Catarina, Brasil

IVEnfermeira. Mestre em Administração. Santa Catarina, Brasil

VDoutora em Enfermagem. Professora Associado do Departamento de Enfermagem da UFSC. Coordenadora do GEHCE. Pesquisadora do CNPq. Santa Catarina, Brasil

Endereço para correspondência Endereço para correspondência: Maria Itayra Coelho de Souza Padilha R. José Dutra, 70, Ap. 102 A 88.036-205 - Trindade, Florianópolis, SC, Brasil E-mail: padilha@nfr.ufsc.br

RESUMO

Este estudo objetivou analisar a produção bibliográfica relativa aos estudos históricos vinculados aos Programas de Pós-Graduação de Enfermagem no Brasil, no período de 1972 a 2004. Foi realizada a pesquisa documental em 126 resumos na perspectiva histórica e utilizada análise de conteúdo para selecionar quatro categorias: identidade profissional e institucionalização da enfermagem; escolas; especialidades; e entidades organizativas. Os resultados apontam para maior quantitativo de estudos nas especialidades demonstrando que a prática assistencial é o foco de investimento das pesquisas. Os temas principais são: relações de poder, as questões de gênero, o saber e a profissionalização e institucionalização da enfermagem, evidenciando questionamentos de problemas contemporâneos. Concluímos que a produção científica dos estudos históricos é pequena, o que evidencia a necessidade de fortalecimento nesta linha de pesquisa, buscando os constituintes históricos que respondam a problemática contemporânea da compreensão da construção profissional bem como, da prática assistencial da enfermagem.

Palavras-Chave: Enfermagem. História. História da enfermagem.

ABSTRACT

The objective of this study is to analyze the bibliographic production relative to the historical studies carried out in Nursing Graduate Programs from 1972 to 2004. It is a documental research of 126 abstracts that have historical study characteristics. The content analysis resulted in four categories: the professional identity and institutionalization of nursing; nursing schools; nursing specialties; and organizational entities in nursing. The results point out that a quantitative majority of the studies concern nursing specialties, demonstrating that care practice is the invested focus of most research. Other frequent themes were: power relationships, genre, knowledge, and the professionalization and institutionalization of nursing, which evidence questioning surrounding contemporary problems. We conclude that scientific production of historical studies of nursing in Brazil is still budding. This proves the necessity for strengthening this line of research, seeking the historical constituents that answer the contemporary challenge of comprehending professional construction as well as care practice in nursing.

Keywords: Nursing. History. History of nursing.

RESUMEN

El objetivo de este estudio es analizar la producción bibliográfica concerniente a los estudios históricos realizados por los Programas de Postgrado de Enfermería en el Brasil, en el período de 1972 a 2004. Se realizó una investigación documental en 126 resúmenes con enfoque histórico, utilizando para el estudio, el análisis de contenido, el cual permitió seleccionar cuatro categorías: identidad profesional e institucionalización de la enfermería; escuelas; especialidades; y, entidades organizativas. Del punto de vista cuantitativo, los resultados obtenidos señalan un número mayor de estudios en las especialidades, demostrando que la práctica asistencial es el centro de las investigaciones. Los principales temas encontrados son: las relaciones de poder, las cuestiones de género, el saber y la profesionalización e institucionalización de la enfermería, revelando cuestionamientos a los problemas contemporáneos. Con esta investigación podemos concluir que la producción científica de los estudios históricos es pequeña, lo que evidencia la necesidad de fortalecer esa área de investigación, buscando elementos históricos que respondan a la problemática contemporánea de la comprensión de la construcción profesional, así como, de la práctica asistencial de la enfermería.

Palabras Clave: Enfermería. Historia. Historia de la enfermería.

CONSIDERAÇÕES INICIAIS

O trabalho mais conhecido no Brasil sobre a história da enfermagem foi escrito por Waleska Paixão que, mediante pesquisa bibliográfica, faz uma retrospectiva cronológica da enfermagem desde a idade antiga até o século XX, dando ênfase à influência religiosa sobre a profissão.1 Citado em muitos estudos sobre o assunto, também vem sendo utilizado como livro texto em cursos de graduação em enfermagem do país, pois depois deste não tivemos outro livro em português que trate da historia da enfermagem desde a idade antiga ate a primeira metade do século XX. Porém temos dois outros livros considerados importantes para a compreensão da enfermagem brasileira. O primeiro enfoca especialmente a Associação Brasileira de Enfermagem e sua influência sobre o ensino, a prática e a atuação política da enfermagem no período de 1926-1976, que foi escrito por Anayde Correa de Carvalho.2 E o segundo, a Tese de Livre Docência de Glete de Alcântara,3 a qual discute a identidade profissional da enfermeira, e os obstáculos a sua expansão. Este último tem uma característica mais crítica e política que os dois anteriores, os quais seguem o modelo tradicional de contar a história, ou seja, valorização do "fato singular", dos personagens e das datas históricas, consideradas importantes pelas autoras, e que influenciaram e influenciam os modos de ensinar e pesquisar a história da profissão em muitas escolas do país.

Temos vários outros livros em outros idiomas, com a mesma perspectiva historiográfica linear e acrítica da história. No caso da enfermagem, especificamente, há uma supremacia na influência religiosa sobre o agir da Enfermeira, com o enfoque nos grandes personagens que posteriormente foram santificados, tais como, São Francisco de Assis, São Vicente de Paulo, Santa Margarida e Santa Luiza de Marillac, dentre outros.

Com o franco desenvolvimento da Pós-graduação a partir da década de oitenta, foi inegável a ampliação da produção científica na área de enfermagem, tanto do ponto de vista de dissertações e teses, como de artigos publicados em periódicos indexados e livros, dentre outros. Se hoje a Pós-Graduação Strictu Sensu é um segmento consolidado no cenário educacional brasileiro e internacional, na área de saúde e de enfermagem a mesma tem contribuído, decisivamente para a formação de recursos humanos qualificados e para o desenvolvimento científico-tecnológico nacional, deixando claro o seu papel estratégico neste cenário.

Articulado a este desenvolvimento, estudos mais críticos foram publicados no Brasil, a partir da década de 80, com uma preocupação em compreender a enfermagem como parte de um processo histórico, social, cultural, político, educativo e de gênero, analisando e denunciando de modo mais nítido a conduta humilde, conformista e dócil das enfermeiras nas relações com quem representa o poder, contrário à sua conduta autoritária, freqüentemente assumida nas relações com os demais elementos da equipe de enfermagem. Não obstante, a maioria destes estudos é restritos à enfermagem nightingaleana, a qual só tornou-se realidade no Brasil, com a criação, no Rio de Janeiro, da Escola de Enfermeiras do Departamento Nacional de Saúde Pública, em 1922, posterior Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN).

Essa relação de passado e presente se estabelece na busca do conhecimento, de maneira a se questionar o passado numa série de questões que são o "agora". Com essas questões, a concepção de verdade sofre uma grande mudança, como também a aceitação do que vem a ser o resultado da produção do conhecimento e do valor deste conhecimento produzido. Se lida com a produção do conhecimento através de uma forma um pouco mais livre de leitura do tempo histórico.4 O avanço da profissão de enfermagem deve ser orientado pelo entendimento e respeito pela enfermagem como uma prática com uma história.5

Percebe-se que desenvolver a pesquisa histórica para construir a memória da enfermagem e, analisar criticamente a história das enfermeiras e da enfermagem é um desafio a ser enfrentado crescentemente. Para tanto, o registro sistematizado da história da enfermagem, nas diversas faces e fases e desenvolvida nas diferentes regiões do mundo poderá ser um exercício de auto-conhecimento dos enfermeiros com conseqüente explicação de sua identidade enquanto profissão. O reconhecimento da sociedade, possivelmente virá através de uma prática exercida efetivamente e consubstanciada pelo próprio desempenho de profissionais da enfermagem, sendo que isto ainda é um outro desafio a ser enfrentado.6

Uma grande vitória conseguida pelas pesquisadoras da história da enfermagem brasileira foi o fato de ter sido reconhecida como Linha de Pesquisa no Fórum Nacional de coordenadores de Cursos de Pós-graduação em Enfermagem, promovido em 2000 pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Isto legitima enquanto área importante de investigação e também possibilita que sejam ampliados os financiamentos de pesquisas e pesquisadores em História da Enfermagem. Entretanto, a aceitação desta linha como importante no cenário das pesquisas ainda não é unânime no Brasil, apontando-se como um dos aspectos, retratado pelo quantitativo reduzido de financiamentos dos estudos históricos em detrimento de outros, com objetivos mais voltados para a realidade do presente e pragmáticos, o que se torna uma ameaça para a "existência da história da enfermagem como área de domínio, pois é no seio da comunidade científica que se constituem estes espaços".7:704

Assim, considerando a trajetória dos cursos de mestrado e doutorado, buscou-se realizar um estudo que tem como objetivo analisar a produção bibliográfica relativa aos estudos históricos vinculados aos programas de Pós-graduação de Enfermagem strictu sensu no Brasil no período de 1972 a 2004, com uma perspectiva histórico social, e em que medida este conhecimento tem contribuído para a compreensão da profissão de um modo mais crítico e condizente com a realidade atual, mas sem perder de vista a perspectiva histórica.

Entendemos que a análise da produção científica da história da enfermagem se faz necessária para propiciar a análise crítica de sua evolução, revelando qual o direcionamento que permeia estas pesquisas, quais as temáticas abordadas, qual é a lacuna de alguns temas, agrupar os resultados obtidos, com o intuito de evidenciar o fomento ocorrido nesta área nas ultimas décadas, consolidando-a como linha de pesquisa na produção da Pós-graduação em Enfermagem no Brasil.

METODOLOGIA

É um estudo qualitativo que utiliza a pesquisa documental como método para analisar a produção científica dos Programas de Pós-Graduação em Enfermagem. A fonte de pesquisa foi o Banco de Dados do Centro de Estudos e Pesquisa em Enfermagem (CEPEn) da Associação Brasileira de Enfermagem (ABEn)* * Editados no período de 1979-2000 documentando 3.226 títulos. In: Associação Brasileira de Enfermagem. CEPEn/ABEn. Informações sobre pesquisas e pesquisadores em enfermagem. Brasília, 2001.1 CD-ROM. Vol. Public.: v. 1-18, 1979-2000. Ítens recentes de volume XIX a XXIII, 2001-2004. . Os documentos, e fatos existem como evidências dos acontecimentos, assim estes são elaborados com o propósito expresso de transmitir a informação que possa ser usada no futuro.6 As fontes estudadas foram de aproximadamente 3.226, resumos de teses e dissertações produzidas desde a criação de seus primeiros programas (1972) até o ano de 2004. Este estudo complementa estudo anterior,8 atualizando os dados acrescidos posteriormente ao banco de dados do CEPEn/ABEn.9

Inicialmente a busca se deu por consulta dirigida pelo índice por assunto, utilizando palavras-chave como história, história da enfermagem, poder, políticas, educação. No entanto, devido à falhas na elaboração dos resumos e de seus descritores, foram lidos todos os resumos cujo título evidenciasse qualquer possibilidade de relação com os temas históricos. Foram localizados 126 resumos com características de estudos históricos, distribuídos em 52 Teses de Doutorado e 74 Dissertações de Mestrado. Para a análise dos dados foi utilizado o método de análise de conteúdo por possibilitar uma descrição objetiva do conteúdo e posterior interpretação. A análise de conteúdo é "um conjunto de técnica de análise das comunicações visando obter, por procedimento sistemático e objetivo de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores que permitam a inferência de conhecimentos relativos as condições de produção/recepção destas mensagens".10:42

Os estudos históricos, no total de 126, envolvendo direta ou indiretamente a profissão de enfermagem, evidenciaram com clareza os referenciais de: Pierre Bordieu (11), Michel Foucault (07), Gramsci (03), Michel Mafesoli (01), Meyhi (02), Vygotsky (01), Wilhelm Guillermo Dilthey (01), Giovanni Berlinguer (01), Norbert Elias (02), Garfinkel (01), G. Bachelard (01), Florence Nightingale (01), Peter Drucker (01), Karl Manheim (01), Nietzsche (01), Michel Löwy (01), 90 estudos não apresentaram o referencial teórico adotado.

O fato de grande número de resumos não explicitarem o referencial teórico demonstra falha na elaboração destes, prejudicando sua análise na perspectiva da produção acadêmica. Cabe aqui um alerta aos pesquisadores/orientadores quanto à necessidade de evidenciar em suas produções o embasamento teórico utilizado, possibilitando a socialização do conhecimento da história da enfermagem no Brasil.

Com relação ao procedimento metodológico utilizado, verificou-se que 22 estudos especificaram ter utilizado a história oral, 24 análise documental, 5 história de vida, 37 aliaram a pesquisa documental à história oral, 1 moldes Haussmannianos e higienistas, 2 convergente-assistencial, 1 Arco de Maguerez, 2 estudo de caso, 2 discurso do sujeito coletivo, 1 Técnica Delphi. Em 19 não há citação da metodologia.

Cabe ainda evidenciar que os Programas de Enfermagem que abrigaram tais estudos foram principalmente os da EEAN da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) (40 títulos), da Universidade de São Paulo (USP/RP) (22 títulos), e da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) (06), seguidos pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) (13), Universidade de São Paulo (USP/SP) (12) e Universidade de Campinas (UNICAMP) (10). Outros trabalhos foram da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) (05), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) (03) e Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) (02), e com apenas um estudo a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade Metodista de Piracicaba, da Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP), a Universidade Gama Filho (UGF), a Universidade Federal do Ceará (UFCE), a Universidade Salgado de Oliveira (UNIVERSO), a Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), a Universidade Federal da Bahia (UFBA), a Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT), a Universidade de Brasília (UNB).

Para análise dos resumos de teses e dissertações dos Programas de Pós-graduação no Brasil, na perspectiva histórica, foram utilizadas as seguintes categorias: o olhar da história sobre a identidade profissional e institucionalização da enfermagem brasileira (43); o olhar da história sobre as escolas de enfermagem (26); o olhar da história sobre as especialidades de enfermagem (50); o olhar da história sobre as entidades organizativas de enfermagem (07).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

O olhar da história sobre a identidade profissional e institucionalização da enfermagem brasileira

A formação da identidade profissional perpassa pela historicidade da apropriação do saber da categoria, quais foram os constituintes históricos que compuseram a construção do conhecimento profissional, como os estereótipos foram construídos e como os profissionais se percebem e são percebidos em uma sociedade. A identidade profissional é definida pela rede de representações sociais da enfermagem, as quais por meio de um conjunto de conceitos, afirmações e explicações, reproduzem e são reproduzidas pelas ideologias originadas nos cotidianos das práticas sociais, interno-externas a ela, sendo um fenômeno histórico social e político.

A produção científica dos Programas de Pós-Graduação da Enfermagem retrata os modos como a identidade profissional é discutida ao desvelar a apropriação dos saberes realizada pela categoria, ao se constituir como profissão desde o início do século XX. As teses e dissertações no período analisado descrevem como ocorreu a construção do saber da enfermagem em algumas áreas, com os constituintes históricos da profissionalização no Brasil, historicizando as práticas do período colonial até seu emergir como trabalho institucional, no âmbito da especialização do setor saúde. Estes estudos demonstram como ocorreu a divisão técnica do trabalho, as relações de trabalho na sociedade capitalista, a forte influência do modelo de Nightingale e o padrão da escola Anna Nery, enquanto formadora da identidade profissional da enfermeira brasileira.

Um dos constituintes para a formação da identidade profissional são as relações de poder que envolvem as profissões que coabitam o espaço institucional e na área da saúde. Este tema é foco de 12 Teses de Doutorado. Destes, apenas um trata da enfermagem pré-profissional no Brasil, discutindo as relações de poder no cotidiano hospitalar da Santa Casa de Misericórdia, a partir da vinda das irmãs de caridade de São Vicente de Paulo para o Brasil no século XIX.11 Os demais analisam a identidade profissional da enfermeira numa abordagem histórica estrutural. Além destes, poderíamos citar muitos outros estudos também importantes, que vem sendo escritos e permitindo uma desconstrução da história da enfermagem brasileira, para realmente uma nova história, mais crítica, mais vinculada à realidade e ao cotidiano da enfermagem atual.

As questões de gênero permeiam também a apropriação do saber e conseqüentemente do poder. Os estudos deste tema estão centrados na discussão da caracterização da enfermagem como profissão eminentemente feminina, introjetando a posição sócio-histórica feminina na sociedade, em cada época estudada. Assim, a enfermagem vem buscando na sua produção histórica sua identidade profissional, permeada pela apropriação do saber, questão de gênero e de poder, a influência da igreja e pelo mercado de trabalho.

O olhar da história sobre as Escolas de Enfermagem

Os estudos relativos à história das instituições de ensino de enfermagem brasileira começaram a ser produzidos a partir de 1990, totalizando 26 produções acadêmicas. Este olhar sobre a história das escolas de Enfermagem evidenciou principalmente a criação, desenvolvimento e consolidação dos Cursos de Graduação em Enfermagem nas Universidades. Mas, além disso, permitiram conhecer as concepções filosóficas e políticas, pelas quais o currículo foi construído, representado nos estudos que tratam das reformas curriculares, das especificidades dos cursos, da integração docente assistencial. Estes estudos são importantes, na medida que permitem compreender a constituição formal das Escolas, as lutas e desafios enfrentados pelas pioneiras, e as prioridades estabelecidas para a sua concretização. O primeiro trabalho sob o olhar da história para as escolas de enfermagem se dá a partir dos estudos de Moreira,12 relatando a história da criação, estruturação, desenvolvimento e trajetória histórica da Escola de Enfermagem Alfredo Pinto da UNIRIO e demonstrando a necessidade de estudos sobre os aspectos sócio-históricos, culturais e de saúde para compreensão das reais causas e objetivos da criação desta escola. A maioria dos estudos desta categoria também relata a trajetória histórica de outras escolas no Brasil.

As disputas de poder estão evidenciadas nos estudos que tratam da implantação dos cursos de graduação em Enfermagem e manutenção da hegemonia médica, comprometendo a autonomia e liberdade e causando prejuízos no processo de construção da identidade das instituições. A criação e consolidação dos cursos foi tema de grande parte dos trabalhos que se dedicaram a apresentar a trajetória histórica principalmente das escolas públicas.

Ficou evidenciado também, a formação do enfermeiro nos estados do norte e nordeste do país, que aparece em três estudos demonstrando a influência dos modelos de ensino de enfermagem Salpêtriere e Nightingaleano-Americano; a preocupação em registrar a história através da criação de documentos que servissem de subsídio para a reflexão sobre o ensino, mostrando a necessidade de re-significar a formação do Enfermeiro e os registros sobre a luta para a criação dos cursos de Enfermagem nestas regiões.

Alguns estudos abordam as questões referentes às mudanças curriculares que já caracterizavam a integração teórico-prática e com uma perspectiva de interdisciplinaridade, aqueles relativos às modalidades de internato que se configurou com um espaço de lutas, visando uma formação mais adequada do aluno de enfermagem e a modalidade seniorato (termo utilizado pela EEAN para os alunos do último período do curso de graduação), como estratégia de ensino aprendizagem que contribui para o exercício profissional através das experiências práticas.

Uma melhor compreensão sobre a trajetória das escolas de enfermagem revela a preocupação em preservar a história das mesmas, em ir além do conhecimento da história, mas, sobretudo, despertar a consciência de todos nós de certo modo envolvidos no passado e presente para a valorização do nosso papel como participante no movimento da história.

O olhar da história sobre as especialidades de enfermagem

As teses e dissertações são documentos que se organizam de forma científica e sobre diferentes especialidades e períodos usando instrumental teórico que permite ver as distinções e as diferenças entre eles. Apresenta os campos historiográficos em que se organiza a história na atualidade. Fornece-nos exemplos de utilização de vários referenciais teóricos e metodológicos utilizados na pesquisa histórica. Revelam as possibilidades de interconexões dos campos da história com outras disciplinas. Mostra as tendências dos saberes atuais. Também mostra que hoje o conhecimento histórico pode se dividir em vários campos ou especialidades. Mesmo a história sendo múltipla, há possibilidades de examiná-la de perspectivas específicas.

Este movimento para as especialidades não ocorreu só com a história, mas se acentuou na segunda metade do século XX, quando as especialidades médicas serviram de modelo para a enfermagem criar suas próprias especificidades no cuidar. Este assunto gera ainda muitas controvérsias, no sentido daqueles que defendem que os profissionais devem centrar-se em uma única área de conhecimento e daqueles que apregoam a necessidade do conhecimento geral sobre o cuidar.13 Na defesa deste último, se coloca que as especialidades geram um crescente isolamento disciplinar e por isto pensadores apregoam a necessidade de interdisciplinaridade e interligação dos saberes.

Os trabalhos pesquisados se preocupam com uma ancoragem teórica e cultural substanciada. Podemos ver com mais clareza a questão de qual foi o fio condutor destes estudos. Os estudos apresentam evidências históricas do processo como também indicações teórico-metodológicas para entendimento e explicação da história da enfermagem. Colaboram para uma consciência crítica e de novas formas de perceber a enfermagem, além de ser uma forma integradora entre o ensino e pesquisa, estruturando o conhecimento sobre a pesquisa histórica da enfermagem brasileira, instrumentalizando para a identidade profissional e o desenvolvimento da profissão, promovendo maior visibilidade e melhor inserção junto à comunidade.

Observou-se que de todas as categorias elencadas, destacou-se um olhar sobre as especialidades com 50 estudos, mostrando uma maior concentração dos estudos na área de saúde pública e saúde mental com 16 e 11 estudos, respectivamente. Na área de saúde pública, o tema mais representativo foi o da enfermagem e as práticas sanitárias, sua história e inserção. A enfermagem ocupa um significante papel na organização e prestação de serviços à população, seu núcleo de atuação faz interação com todas as áreas do campo da saúde e as enfermeiras são sujeito de movimento de transformação na saúde pública. A segunda área evidenciada foi Saúde Mental e, estes estudos, procuraram contribuir para a história da enfermagem psiquiátrica. Destes, cinco estudos revelam sua prática e evolução como agentes de mudanças nesta área.

Estudos relativos à atuação da Enfermagem/Enfermeira no combate ou na prevenção da Tuberculose foram tratados em três trabalhos, permitindo traçar um paralelo entre o papel da enfermeira e as políticas de saúde brasileiras. Com relação à Hanseníase encontramos apenas dois estudos, avaliando a assistência prestada e outro para compreender o movimento migratório da doença. Sobre a área Saúde da Criança, encontramos três estudos, sendo dois sobre a assistência de enfermagem à criança hospitalizada e um apresenta informações epidemiológicas sobre a mortalidade. Na área de administração, embora seja uma especialidade considerada como de alta relevância, evidenciamos apenas três estudos abordando a organização do trabalho nos serviços de enfermagem. Estudos relativos ao idoso/gerontologia ainda estão em expansão e detectamos apenas dois estudos numa abordagem histórica, sendo referida a assistência de enfermagem e a percepção do idoso sobre a assistência.

De modo geral, a produção de teses e dissertações nesta categoria vinha se concretizando de forma crescente como, por exemplo, nos anos de 1991 a 1995 eram produzidos três estudos por ano. Já nos anos de 1996 a 2001 passou para quatro estudos, mas no ano de 2002 houve um salto para nove estudos, destacando-se a região sudeste. Nos anos seguintes, 2003 e 2004, a produção diminui para dois e três estudos, alertando assim os historiadores para a necessidade de estimular os mestrandos e doutorandos para produzirem nesta área, contribuindo para a construção e socialização do conhecimento da pesquisa histórica.

A pesquisa histórica torna viva a profissão, buscando vestígios do seu passado e encontrando no presente a sua identidade. É uma forma democrática de apresentar os estudos históricos socializando o conhecimento. Estes estudos são necessários para (re)construção da história da enfermagem brasileira e para uma melhor compreensão da sua trajetória, oferecendo subsídios para o seu conhecimento, e possibilitando uma consciência crítica da realidade da profissão.

O olhar da história sobre as entidades organizativas de Enfermagem

As entidades organizativas da Enfermagem são as representantes legais da categoria perante a sociedade portanto, a representatividade efetiva destas acarreta um maior entrelaçamento e fortalecimento profissional. A reduzida produção científica nesta categoria parece espelhar a relativização da enfermagem com os aspectos políticos e sindicais enquanto profissão, priorizando a prática assistencial em seu corpo de conhecimento. Entretanto, apesar de ainda restrita, percebemos um fomento desta temática no século XXI, podendo indicar uma maior atenção dos profissionais aos aspectos políticos da profissão.

Os estudos demonstraram a preocupação em compreender a relação da profissão com suas entidades representativas, procurando os constituintes históricos que nortearam e ainda permanecem nesta relação. Entretanto, estes constituintes estão apenas apontados nos resumos, mas não explicitados, restringindo-se na análise destes, a influência do sistema educacional e a própria identidade profissional da enfermeira como trabalhadora.

A representação da ABEn para as enfermeiras assistenciais é influenciada pelos eventos de enfermagem (Congressos), as publicações da ABEn, especialmente a Revista Brasileira de Enfermagem e a Educação em Enfermagem, através dos Seminários Nacionais de Educação em Enfermagem (SENADEns), percebendo-a também como importante parceira das políticas de educação e saúde no cenário nacional.14

A constatação da participação da ABEn na formação e construção da profissionalização da Enfermagem no Brasil está relatada nestas pesquisas, confirmando sua função como entidade organizativa com representatividade nos campos cultural, educacional, científico e político. A participação política dentro da ABEn está representada por dois trabalhos que tem como foco de pesquisa o "Movimento Participação"(MP) nos anos 1979/1989, sendo o primeiro da autoria de Francisca Valda de Oliveira.15 Os estudos mostram em seus resultados a potencialidade e a intencionalidade do movimento para o fortalecimento e democratização da ABEn, fomentando novo conceito de profissão, rompimento com a alienação e a formação de uma nova identidade profissional.

O movimento participação é considerado pelos autores destes trabalhos um dos mais importantes movimentos sociais da história da Enfermagem Brasileira, por fazer uma ruptura com a prática política que vinha sendo desempenhada pela ABEn, representando um salto qualitativo na história da profissão no país, ao criar uma nova visão sobre a profissão de Enfermagem.

"Uma profissão que se compromete com o desenvolvimento de uma prática criativa, com o exercício constante de avaliação crítica da mesma; que compreende a sua prática como uma prática social que é parte de um contexto histórico-social pelo qual é constituída e, também, constituinte".15:48 A enfermagem vem assim, buscando nas pesquisas históricas compreender quais são as representações da categoria com suas entidades de classe e quais os constituintes históricos que permeiam esta relação, encaminhando os profissionais para uma reflexão crítica e na construção de um projeto congregado, democrático e com compromisso social, para o alcance de uma profissão reconhecida e fortalecida perante a sociedade contemporânea.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo possibilitou a reconstrução e o fortalecimento do saber histórico da enfermagem promovendo novas reflexões e propiciando a análise da evolução da linha de pesquisa da histórica da enfermagem nos Programas de Pós-Graduação de Enfermagem strictu sensu no Brasil. A produção foi incrementada a partir da década de 1990, fato que culmina com o reconhecimento como linha de pesquisa pela CAPES em 2000.

Acreditamos que um dos aspectos que também vem fortalecendo a preocupação com o desenvolvimento e ampliação dos estudos históricos foi à ampliação dos Grupos de Pesquisa em História da Enfermagem. Nos últimos 14 anos foram criados 16 Grupos que estão registrados no Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq e que colocam como uma de suas linhas de Pesquisa a História da Enfermagem† † História e legislação da Enfermagem – USP/SP; Centro de Estudos e Pesquisas sobre História da Enfermagem – UNISA/SP; Desenvolvimento da Enfermagem e as entidades de classe – UFRJ/RJ; O poder simbólico nas Instituições de Enfermagem – UFRJ/RJ; Gênero, Saúde e Enfermagem – USP/SP; Grupo de Estudos da História do Conhecimento da Enfermagem – UFSC/SC; DUAS DÉCADAS DE HIV/AIDS: um resgate da produção científica da Enfermagem em periódicos Qualis A e B - Dissertações e Teses – UNIRIO/RJ; Grupo de Pesquisa em Fundamentos de Enfermagem – UFF/RJ; A PRÁTICA PROFISSIONAL E A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE DA ENFERMEIRA BRASILEIRA – UFRJ/RJ; Grupo de Pesquisa em História da Enfermagem da UFF– UFF/RJ; SAÚDE DA CRIANÇA - CENÁRIO HOSPITALAR – UFRJ/RJ; Laboratório de Pesquisa de História da Enfermagem – UNIRIO/RJ; ENFERMAGEM E DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO-SOCIAL – UERJ/RJ; Estudos teóricos, práticos, históricos e culturais em saúde – UFS/SE; Grupo de Estudos em Educação e Formação em Saúde – FASM/ RS;CRESCER – UFBA/Ba (Fonte: www.cnpq.br/gruposdepesquisa). . Destes, 12 situam-se na Região Sudeste, dois na Região Sul, e dois na Região Nordeste. Se considerarmos que a Enfermagem tem 301 Grupos de Pesquisa registrados, este número é insignificante, mas por outro lado, entendendo-se a História da Enfermagem como campo de pesquisa em desenvolvimento, é um grande passo. Os Grupos de Pesquisa encontram-se articulados aos 30 Programas de Pós-Graduação em Enfermagem existentes no país, sendo 06 na região Nordeste; 02 na região Centro-Oeste; 16 na região Sudeste e 06 na região Sul. Destes, 13 tem Mestrado e Doutorado; 13 apenas Mestrados Acadêmicos e 03 Mestrados Profissionais.

Dentre os Programas de Pós-Graduação em Enfermagem que incluíram dentre as suas linhas de pesquisa, a de pesquisa histórica, está o da Universidade Federal de Santa Catarina, com a linha de pesquisa "História em Enfermagem e Saúde". Esta linha e vinculada ao Grupo de Estudos da História do Conhecimento da Enfermagem (GEHCE), do qual as autoras fazem parte, é uma das linhas com o maior numero de projetos de pesquisa vinculados.

Como resultado da análise dos dados deste estudo, entendemos que este aumento no número de trabalhos com abordagem histórica, ainda é pouco significativo quando avaliado na perspectiva da produção científica da categoria, perfazendo um percentual de apenas 3% deste total. Este dado evidencia a necessidade de incremento nesta linha de pesquisa, buscando os constituintes históricos que respondam à problemática contemporânea da compreensão da construção profissional bem como, da prática assistencial da enfermagem. Porém já é possível falar de uma história da enfermagem, que percorreu e se deteve em várias fases. Como continuam sendo elaborados artigos, livros, teses e dissertações referentes a sua evolução, o resultado é um quadro bastante heterogêneo desta produção.

A heterogeneidade não se refere apenas à postura teórica dos trabalhos. Refere-se aos objetos de pesquisa, as abordagens críticas ou descritivas, às influências predominantes da bibliografia americana ou européia. Como ocorre em quase todos os "objetos novos" de estudo, a história da enfermagem, passa por diversos tipos de abordagem. Entendemos a história da enfermagem no campo do ensino e pesquisa ainda em processo de sedimentação e ampliação, cabe ainda reconhecer as limitações visíveis na produção científica da enfermagem brasileira, em processo de acelerado desenvolvimento, no que se refere aos estudos de natureza sócio-histórica, criando possibilidades de 'reconstrução' dos saberes, constituintes dos contextos históricos e culturais específicos, inclusive o de um campo de saber e prática como o da enfermagem.8 Estes estudos que vem sendo produzidos, embora ainda em quantidade relativamente reduzida, se comparadas com as demais, vem demonstrando a importância da perspectiva histórica para a enfermagem e contribuindo para divulgar este conhecimento para um público maior, sendo utilizados também como bibliografia básica para o ensino da história da enfermagem.

A história serve para elucidar o contexto vivido e fornecer os significados deste contexto. Na verdade, à medida que se conhece a história de uma profissão, como em nosso caso, a da enfermagem, se percebe quanto e como a enfermagem é inseparável de outras atividades da vida, do mundo da saúde e seus compromissos sociais. A enfermagem quando trata de sua história, necessariamente se apropria e se aproxima dos territórios interdisciplinares, não apenas do historiador, mas também, do antropólogo, sociólogo, psicólogo, filósofo, apenas para falar de alguns, porque sem eles não há como compreender os processos pelos quais a história da profissão foi construída. Isto foi influenciado sim, pela Nova História, que ampliou o olhar do historiador para as demais disciplinas, estabelecendo "relações de boa vizinhança" entre estas. Cada disciplina carrega as suas particularidades e recupera o passado pelas pontes interdisciplinares, como um caleidoscópio, de inúmeras facetas. A relação da profissão com a sociedade, é permeada pelos conceitos, preconceitos e estereótipos que se estabeleceram na sua trajetória histórica e que influenciam até hoje a concepção do que é, a que vem e qual o seu significado enquanto profissão da saúde. Em parte, a história da enfermagem continua como um campo suplementar. Hoje, se tem clareza sobre a historicidade da história que contribui para o desdobramento dos processos de recuperação da verdade entre o presente e o passado.

O conhecimento das correntes sócio-econômicas, culturais e políticas que influenciaram o longo percurso da história sobre a prática dos cuidados, possibilitam que as enfermeiras possam libertar-se de heranças passadas, na compreensão do presente. É com este olhar que a história adere à possibilidade de delinear e identificar quem são, o que pensam, o que sentem, como agem e, ainda, quais as perspectivas do que serão as enfermeiras em sua caminhada como um grupo profissional contextualizado.

Recebido em: 16 de abril de 2007

Aprovação final: 10 de outubro de 2007

  • 1 Paixão W. História da enfermagem. 5a ed. Rio de Janeiro (RJ): Júlio C. Reis Liv.; 1979.
  • 2 Carvalho AC. Associação Brasileira de Enfermagem: 1926-1976. Brasília (DF): ABEn:, 1976.
  • 3 Alcântara G. A enfermagem moderna como categoria profissional: obstáculos à sua expansão na sociedade brasileira. Ribeirão Preto (SP): USP/EERP; 1966.
  • 4 Padilha MICS, Borenstein MS. História da Enfermagem e interdisciplinaridade. Escola Anna Nery: rev. enferm. 2006 Dez; 10 (3): 532-8.
  • 5 Nelson S, Gordon S. The rhetoric of rupture: nursing as a practice with a history? Nursing Outlook. 2004 Jan; 52 (5): 255-61.
  • 6 Padilha MCS, Borenstein MS. O método de pesquisa histórica na enfermagem. Texto Contexto Enferm. 2005 Out-Dez; 14 (4): 575-84.
  • 7 Barreira I, Baptista S. O movimento de reconsideração do ensino e da pesquisa em história da enfermagem. Rev. Bras. Enferm. 2003 Nov-Dez; 56 (6): 702-6.
  • 8 Padilha MICS. A enfermagem em foco: perspectivas no ensinar e aprender a história da profissão. In: Anais do 56o Congresso Brasileiro de Enfermagem, 2004 Out 10-18; Gramado, Brasil. Gramado (RS): ABEn; 2004. p.235-40.
  • 9 Associação Brasileira de Enfermagem. Informações sobre pesquisas e pesquisadores em enfermagem. Brasília (DF): CEPEN/ABEn; 2001.
  • 10 Bardin L. Análise de conteúdo. Lisboa (PT): Edição 70; 1977.
  • 11 Padilha MICS. A mística do silêncio: a enfermagem na Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro no século XIX. v.1. Pelotas (RS): UFPel; 1998.
  • 12 Moreira A. Escola de Enfermagem Alfredo Pinto: 100 anos de história [tese]. Rio de Janeiro (RJ): UNIRIO/Escola de Enfermagem Alfredo Pinto; 1990.
  • 13 Moraes MAM. O legado histórico das mulheres provedoras de cuidado [dissertação]. São Paulo (SP): UNIFESP/Escola Paulista de Medicina; 1998.
  • 14 Mancia JR. A ABEn-RS e as enfermeiras assistenciais: uma análise reflexiva [dissertação]. Florianópolis (SC): UFSC/PEN; 2002.
  • 15 Oliveira FVS. Associação Brasileira de Enfermagem: mudanças e continuidades a propósito do movimento participação (1799/1989) [dissertação]. Natal (RN): UFRN/Programa de Pós-Graduação em Enfermagem; 1990.
  • Endereço para correspondência:

    Maria Itayra Coelho de Souza Padilha
    R. José Dutra, 70, Ap. 102 A
    88.036-205 - Trindade, Florianópolis, SC, Brasil
    E-mail:
  • *
    Editados no período de 1979-2000 documentando 3.226 títulos. In: Associação Brasileira de Enfermagem. CEPEn/ABEn. Informações sobre pesquisas e pesquisadores em enfermagem. Brasília, 2001.1 CD-ROM. Vol. Public.: v. 1-18, 1979-2000. Ítens recentes de volume XIX a XXIII, 2001-2004.
  • †
    História e legislação da Enfermagem – USP/SP; Centro de Estudos e Pesquisas sobre História da Enfermagem – UNISA/SP; Desenvolvimento da Enfermagem e as entidades de classe – UFRJ/RJ; O poder simbólico nas Instituições de Enfermagem – UFRJ/RJ; Gênero, Saúde e Enfermagem – USP/SP; Grupo de Estudos da História do Conhecimento da Enfermagem – UFSC/SC; DUAS DÉCADAS DE HIV/AIDS: um resgate da produção científica da Enfermagem em periódicos Qualis A e B - Dissertações e Teses – UNIRIO/RJ; Grupo de Pesquisa em Fundamentos de Enfermagem – UFF/RJ; A PRÁTICA PROFISSIONAL E A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE DA ENFERMEIRA BRASILEIRA – UFRJ/RJ; Grupo de Pesquisa em História da Enfermagem da UFF– UFF/RJ; SAÚDE DA CRIANÇA - CENÁRIO HOSPITALAR – UFRJ/RJ; Laboratório de Pesquisa de História da Enfermagem – UNIRIO/RJ; ENFERMAGEM E DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO-SOCIAL – UERJ/RJ; Estudos teóricos, práticos, históricos e culturais em saúde – UFS/SE; Grupo de Estudos em Educação e Formação em Saúde – FASM/ RS;CRESCER – UFBA/Ba (Fonte:
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      11 Mar 2008
    • Data do Fascículo
      Dez 2007

    Histórico

    • Recebido
      16 Abr 2007
    • Aceito
      10 Out 2007
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