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Recorrência da parentalidade na adolescência na perspectiva dos sujeitos envolvidos

Recurrencia de la paternidad y la maternidad en la adolescencia desde la perspectiva de los sujetos involucrados

Repeated adolescent parenthood from the perspective of the subjects involved

Resumos

Estudo com enfoque na Fenomenologia Social de Alfred Schültz que objetivou compreender a percepção que os adolescentes têm da parentalidade recorrente na adolescência e a relação com seus projetos de vida. Foram entrevistados cinco pais e 10 mães que haviam experienciado a parentalidade recorrente. Dos depoimentos, emergiram cinco categorias: contextualizando a percepção sobre ser pai/mãe adolescente; vivenciando perdas; vivenciando ganhos; buscando segurança para o futuro e experienciando situação ambivalente. O estudo permitiu compreender que a parentalidade adolescente recorrente é um fenômeno complexo, de inesgotável possibilidades, cujas diversas vivências dependem do contexto social que define os desejos, os projetos e as significações nas distintas classes sociais. Com este entendimento, o enfermeiro tem uma situação de destaque ao assistir esta clientela, centrado na dimensão humana/existencial.

Adolescente; Gravidez na adolescência; Pesquisa qualitativa; Enfermagem obstétrica


Estudio centrado en la Fenomenología Social de Alfred Schültz, cuyo objetivo fue comprender la percepción que los adolescentes tienen acerca de la paternidad y la maternidad recurrente y la relación con sus proyectos de vida. Para el estudio fueron entrevistados cinco padres y diez madres recurrentes. De las declaraciones surgieron cinco categorías: contextualizando la percepción de ser padre/madre adolescente; viviendo las pérdidas; experimentando beneficios; buscando seguridad para el futuro y experimentando una situación ambivalente. El estudio permitió comprender que la paternidad/maternidad del adolescente recurrente es un fenómeno complejo, con una infinidad de posibilidades, cuyas diversas vivencias dependen del contexto social que define los deseos, los proyectos y las significaciones en las distintas clases sociales. Con base en ese entendimiento, el enfermero tiene una posición de preeminencia para asistir esta clientela, centrándose en la dimension humana/existencial.

Adolescente; Embarazo en adolescencia; Investigación cualitativa; Enfermería obstetrica


This study focuses upon Alfred Schültz's Social Phenomenology and aims to better understand perceptions of adolescents experiencing reoccurring parenthood during adolescence and its relationship with their life projects. Fifteen interviews were carried out with five fathers and ten mothers who have experienced reoccurring adolescent parenthood. Five categories surfaced from the subjects' statements: contextualizing the perception about being an adolescent mother/father; experiencing losses; experiencing gains; seeking safety for the future; and experiencing an ambivalent situation. The study allowed a better understanding that reoccurring adolescent parenthood is a complex phenomenon with endless perceptive possibilities, whose diverse experiences depend on the social context which defines wishes, projects, and meanings through the distinct social classes. Based on this understanding, the nurse plays a very important role as regards assisting this clientele, centered on the human/existential dimension.

Adolescent; Pregnancy in adolescence; Qualitative research; Obstetrical nursing


ARTIGO ORIGINAL

Recorrência da parentalidade na adolescência na perspectiva dos sujeitos envolvidos

Repeated adolescent parenthood from the perspective of the subjects involved

Recurrencia de la paternidad y la maternidad en la adolescencia desde la perspectiva de los sujetos involucrados

Geraldo Mota de CarvalhoI; Miriam Aparecida Barbosa MerighiII; Maria Cristina Pinto de JesusIII

IDoutor em Enfermagem. Docente do Curso de Especialização em Enfermagem Obstétrica do Centro Universitário São Camilo. São Paulo, Brasil. E-mail: enfobstetrica@scamilo.edu.br

IILivre-Docente em Enfermagem. Professor Titular do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Psiquiátrica da Universidade de São Paulo. São Paulo, Brasil. E-mail: merighi@usp.br

IIIDoutora em Enfermagem. Docente da Universidade Federal de Minas Gerais em Juiz de Fora. Minas Gerais, Brasil. E-mail: rodolfo38@acessa.com.br

Correspondência Correspondência: Geraldo Mota de Carvalho Rua Guiratinga, 931, ap. 113 04141-001 - Saúde, São Paulo, SP, Brasil E-mail: enfobstetrica@scamilo.edu.br

RESUMO

Estudo com enfoque na Fenomenologia Social de Alfred Schültz que objetivou compreender a percepção que os adolescentes têm da parentalidade recorrente na adolescência e a relação com seus projetos de vida. Foram entrevistados cinco pais e 10 mães que haviam experienciado a parentalidade recorrente. Dos depoimentos, emergiram cinco categorias: contextualizando a percepção sobre ser pai/mãe adolescente; vivenciando perdas; vivenciando ganhos; buscando segurança para o futuro e experienciando situação ambivalente. O estudo permitiu compreender que a parentalidade adolescente recorrente é um fenômeno complexo, de inesgotável possibilidades, cujas diversas vivências dependem do contexto social que define os desejos, os projetos e as significações nas distintas classes sociais. Com este entendimento, o enfermeiro tem uma situação de destaque ao assistir esta clientela, centrado na dimensão humana/existencial.

Descritores: Adolescente. Gravidez na adolescência. Pesquisa qualitativa. Enfermagem obstétrica.

ABSTRACT

This study focuses upon Alfred Schültz's Social Phenomenology and aims to better understand perceptions of adolescents experiencing reoccurring parenthood during adolescence and its relationship with their life projects. Fifteen interviews were carried out with five fathers and ten mothers who have experienced reoccurring adolescent parenthood. Five categories surfaced from the subjects' statements: contextualizing the perception about being an adolescent mother/father; experiencing losses; experiencing gains; seeking safety for the future; and experiencing an ambivalent situation. The study allowed a better understanding that reoccurring adolescent parenthood is a complex phenomenon with endless perceptive possibilities, whose diverse experiences depend on the social context which defines wishes, projects, and meanings through the distinct social classes. Based on this understanding, the nurse plays a very important role as regards assisting this clientele, centered on the human/existential dimension.

Descriptors: Adolescent. Pregnancy in adolescence. Qualitative research. Obstetrical nursing.

RESUMEN

Estudio centrado en la Fenomenología Social de Alfred Schültz, cuyo objetivo fue comprender la percepción que los adolescentes tienen acerca de la paternidad y la maternidad recurrente y la relación con sus proyectos de vida. Para el estudio fueron entrevistados cinco padres y diez madres recurrentes. De las declaraciones surgieron cinco categorías: contextualizando la percepción de ser padre/madre adolescente; viviendo las pérdidas; experimentando beneficios; buscando seguridad para el futuro y experimentando una situación ambivalente. El estudio permitió comprender que la paternidad/maternidad del adolescente recurrente es un fenómeno complejo, con una infinidad de posibilidades, cuyas diversas vivencias dependen del contexto social que define los deseos, los proyectos y las significaciones en las distintas clases sociales. Con base en ese entendimiento, el enfermero tiene una posición de preeminencia para asistir esta clientela, centrándose en la dimension humana/existencial.

Descriptores: Adolescente. Embarazo en adolescencia. Investigación cualitativa. Enfermería obstetrica.

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas no mundo, a repetição da parentalidade na adolescência tem aumentado, porém esta fica mais evidente nos países emergentes, tendo em vista a pouca escolaridade, a falta de informação, a desagregação familiar, a instabilidade econômica, especialmente, nos adolescentes de nível socioeconômico mais baixo.

No Brasil, nos últimos anos, observamos que a taxa de fecundidade da mulher adulta diminuiu, enquanto parece aumentar na população adolescente.1No Estado de São Paulo, em 1998, foram feitos 45 mil partos de adolescentes que estavam na terceira gravidez.2

Dados estatísticos mostram que 40% das adolescentes voltam a engravidar, após 36 meses da primeira gestação.3 A parentalidade recorrente entre os adolescentes requer uma análise de vários fatores; a fase mais elementar dessa compreensão resulta das transformações sociais das últimas décadas e dos fatores psicossocioculturais considerados como associados ao mesmo.

A maternidade na adolescência é um grande desafio que precisa ser enfrentado. Estudo realizado com 140 adolescentes no interior paulista, constatou que 24% destas já estavam na segunda, terceira, quarta ou até quinta gestação e 10% já haviam praticado aborto, pelo menos, uma vez.4

A paternidade nesta faixa etária pode ser uma afirmação da virilidade. Assim, os jovens cientes de que foram responsáveis por uma gravidez prévia, são os que menos provavelmente utilizam os anticoncepcionais eficientemente em relação à aqueles que nunca engravidaram alguém. Os primeiros costumam relatar prazer na paternidade e um "realce" em sua masculinidade.5

Com base em nossa vivência profissional e da revisão da literatura sobre a parentalidade recorrente, percebemos que existia algo oculto em relação a esta temática. A maioria dos estudos apóia-se em uma abordagem positivista, baseada em fatos objetivos e causalidades, não se utilizando da vivência dos sujeitos.

Desse modo, buscamos nesta pesquisa a experiência da parentalidade recorrente na adolescência sob a perspectiva do sujeito que a vivencia, com a intenção de preencher a vacuidade existente nos estudos, sobretudo, no que diz respeito à recorrência da parentalidade e inclusão dos pais. Assim, o objetivo deste estudo voltou-se para a compreensão da percepção que os adolescentes pais e mães têm da parentalidade recorrente na adolescência.

Incluímos os adolescentes pais na pesquisa, acreditando que, ao se tratar de gravidez precoce, geralmente, estes são excluídos. Fala-se das conseqüências da concepção à mãe, esquecendo-se do pai adolescente.

Pretendemos com os resultados obtidos contribuir para o incremento de qualidade à assistência de enfermagem aos adolescentes, na elaboração de programas de saúde e outras investigações na área relacionadas a esta faixa etária.

PROCEDIMENTO METODOLÓGICO E FILOSÓFICO

Optamos pela realização de um estudo qualitativo fenomenológico. Entendemos que o significado nunca é individual pois, embora cada um de nós o vivencie num contexto objetivo de significação, está contextualizado na intersubjetividade, configurando um grupo social.6 Utilizamos a Sociologia Fenomenológica de Alfred Schütz, enquanto referencial filosófico, para subsidiar a análise dos dados.7

As pessoas agem em função de motivações dirigidas a objetivos que apontam para o futuro: os motivos para. E as razões e preocupações para suas ações constituem-se os motivos por que. Os primeiros referem-se ao futuro, ao fim a atingir, ao projeto a realizar e a vontade de fazê-lo. Enquanto que os motivos por que, se prendem ao passado, aos gostos, inclinações, preferências, conceitos e preconceitos.7

A motivação por que serve para contextualizar, motivar a ação futura. Nela está embutida o acervo de conhecimentos acumulados transmitidos pelos predecessores, a herança cultural com a história pessoal. Apesar da motivação por que estar enraizada em experiências passadas, os atores não a têm consciente, enquanto atuam. Estes só podem compreendê-la em reflexão retrospectiva, que pode ocorrer, ainda que não necessariamente, depois de terminado o ato. Entretanto, um pesquisador poderá ser capaz de reconstruí-la com base no ato consumado.

A ação social individual tem um significado para o grupo de indivíduos envolvidos no mesmo fenômeno e vai mostrar a característica típica, ou seja o tipo vivido, deste grupo que está vivendo a mesma situação.7-8

Nesse cenário, a análise compreensiva dos discursos dos adolescentes voltou-se ao comportamento social dos adolescentes em relação aos motivos, às intenções que orientam suas ações, assim como às suas significações.

Ao examinar as categorias originárias dos motivos por que e motivos para dos sujeitos, foi possível construir o seu tipo vivido em relação à parentalidade recorrente na adolescência. O tipo vivido é um constructo elaborado pela reflexão sobre a vivência do sentido comum que se verifica em um determinado contexto, no cotidiano do mundo social.

Fizeram parte do estudo cinco pais e 10 mães. Este número de sujeitos não foi definido previamente, mas, sim, com base nas descrições obtidas nos depoimentos. Desta forma, quando os dados foram repetindo-se, mostrando sinais de desvelamento do fenômeno, decidimos que era o momento de parar de coletá-los.

Para definir a região de inquérito, levamos em consideração o fato dos sujeitos serem adolescentes, ou seja, estarem, entre 10 e 20 anos1 e serem pais e mães recorrentes. O critério de inclusão foi, portanto, a vivência da repetição da maternidade/ paternidade na adolescência.

A abordagem inicial dos sujeitos deu-se no Ambulatório de Ginecologia e Obstetrícia de um hospital público da cidade de São Paulo, mediante autorização da instituição. Como forma de ampliar o universo das experiências, a aproximação com os demais sujeitos também foi feita por meio de indicação dos primeiros adolescentes entrevistados nos locais acima referidos.

A coleta de dados foi feita por meio de depoimentos, no período de julho a setembro de 2005, sendo gravados, mediante autorização dos participantes e norteados por um roteiro constituído de questões abertas. Alguns depoimentos aconteceram no próprio ambulatório da instituição acima mencionada, outros aconteceram em locais combinados, conforme a conveniência dos entrevistados.

As seguintes questões nortearam a entrevista: como foi para você ser mãe/pai pela primeira vez? Como aconteceu o nascimento do outro filho? Como é ser mãe/pai mais de uma vez, ainda adolescente? O que você espera do futuro sendo mãe/pai tão jovem?

Não houve ordem rígida para formular as questões, permitindo aos adolescentes a livre exposição de relatos sobre o tema proposto com base em suas vivências.

Este estudo obedeceu às normas regulamentadoras da Resolução Nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que trata de pesquisas envolvendo seres humanos. Assim, antes de realizar cada entrevista, apresentamos o objetivo do estudo e o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, para que os entrevistados pudessem assinar, caso concordassem conceder seus depoimentos. Por se tratar de adolescentes, a assinatura no referido termo, também, foi realizada por uma testemunha ou pelo responsável legal do interessado.

Identificamos os participantes com pseudônimos a fim de assegurar-lhes o anonimato. O projeto de pesquisa foi submetido a uma avaliação do Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo, obtendo o parecer positivo, Processo Nº 440/2005/ CEP-EEUSP.

A análise e interpretação dos depoimentos, segundo o referencial teórico-filosófico de Alfred Schütz, possibilitou construir cinco categorias temáticas - Contextualizando a percepção sobre ser pai/mãe adolescente; Vivenciando perdas; Vivenciando ganhos; Buscando segurança para o futuro; e Experienciando situação ambivalente. As três primeiras categorias referiram-se aos motivos por que, isto é, à realidade vivida pelos sujeitos deste estudo, ao contexto motivacional e as duas últimas aos motivos para da ação, ou seja, aos projetos, ao que se pretende alcançar.

Lendo e relendo os depoimentos, percebemos que não havia diferenças significativas entres as falas dos pais e mães adolescentes. A maneira de vivenciar a parentalidade recorrente era comum a estes jovens, com algumas variações próprias dos gêneros, constituindo, assim, o mesmo tipo vivido. Tornou-se, então, mais adequado realizar a análise compreensiva de todos os depoimentos em conjunto.

Desse modo, os adolescentes percebem-se pai/mãe mais de uma vez, retratando um tipo vivido que experiência perdas e ganhos: percebemse maduros, responsáveis, preocupados com o cuidado e a educação dos filhos, almejando segurança para o futuro. Motivo que os leva a buscar trabalho, moradia própria, retomada dos estudos, estabilidade conjugal e construção de uma família. Vivenciam uma situação de ambivalência entre o que desejam e a realidade vivida, pois, pelo fato de serem pais/mães adolescentes lastimam ter perdido a liberdade.

ANÁLISE COMPREENSIVA

Os dados foram agrupados em categorias, considerando as motivações, as similaridades e as divergências, tomando como base os depoimentos dos adolescentes.

Na categoria Contextualizando a percepção sobre ser pai/mãe adolescente as falas dos sujeitos mostram uma certa estranheza, um encantamento, surpresa e a satisfação em relação ao nascimento de seus primeiros filhos.

Eu adorei! Adorei porque eu já estava planejando, já estava tendo um relacionamento com ele. Eu namorava ele desde os 12 anos e a gente já estava morando junto (Água-marinha).

Quando nasceu (o primeiro) foi uma surpresa... você vê a criança, assim, lá no berçário... é uma coisa inexplicável, né? O meu coração acelerou, as lágrimas caíram, é uma emoção, fora do comum (Topázio).

As vivências e transformações dos adolescentes são individuais, devendo ser compreendidas dentro de seu próprio mundo vida, na sua atitude natural, de acordo com sua situação biográfica e não em um conceito cronobiomédico, de maneira massificada como ocorre com grande parte do conhecimento científico atual sobre a progenitura adolescente.

Ainda que a realidade social padronize toda ação social, cada indivíduo situa-se no mundo da vida de maneira própria, sendo esta sua situação biográfica.7

Parece haver uma busca de estabilidade revelada por meio da percepção do filho como algo próprio, um bem. Isto pode revelar uma tentativa de obter autonomia, atingir a maturidade e perceber sua própria competência para cuidar do filho.

[...] Eu gostei, eu me senti bem! [...] Eu não sabia dar de mamar, dar banho, trocar... mas aprendi (Ágata).

Em outros discursos, a percepção perpassa por estranhamento, por surpresa, por dificuldade com a experiência e até por sentimentos de raiva e solidão:

O amor parental, como qualquer forma de amor, é algo construído. Sendo assim nem todos os homens ou todas mulheres sentem de imediato o amor que se espera deles. Então, como esperar esse sentimento de indivíduos em formação de uma identidade, ainda sem um completo estabelecimento de valores pessoais, sobretudo, quando a maternidade e ou paternidade não foram planejadas?

O primeiro eu achei estranho. Assim, depois me acostumei. Mas nós programamos ele, não teve problema nenhum. [...] Primeiro, eu achei estranho, depois me acostumei, é bom... não acho ruim, não ruim. Acho que sou bom pai, é... eu ajudo a cuidar dele... trocar, dar banho... (Jacinto).

Nesta visão, a figura da mãe, sobretudo da mãe das adolescentes, revela-se como a mais importante referência aos jovens na transmissão de conhecimentos à próxima geração. A gravidez e a maternidade precoce da mãe da adolescente prenunciam uma forte influência intergeracional no padrão sexual e reprodutivo dos filhos, sobretudo, no gênero feminino.

Este tipo de ambiente promove a repetição do ciclo gravidez-parentalidade repetida. Percebemos esta influência nos trechos de discursos de alguns adolescentes que também tiveram mãe e ou pai que foram pais adolescentes, como serão apresentados, a seguir.

Não posso falar que é muito cedo, minha irmã teve o filho dela aos 14 anos e, pra ela, foi bom! (Pepita).

[...] minha mãe também casou cedo, com 12, com 13 teve minha irmã e com 14 eu nasci. ... Pra mim, não tem nada a ver a idade se a pessoa se gosta se assume o filho, não tem diferença (Jacinto).

Meus pais tiveram muitos filhos, cinco, e cedo (a mãe teve o primeiro aos 17 anos) (Topázio).

As experiências acumuladas auxiliam no projeto de ação relacionado ao presente vivido. Desse modo, as pessoas podem orientar-se no mundo da vida, utilizando estas experiências para criar códigos de interpretação de vivências passadas e presentes.7

Diante da parentalidade e de sua repetição os adolescentes vão elaborando as mudanças, realizando adaptações que acreditam ser necessárias e a partir do segundo nascimento não há grande estranhamento ou surpresa com o nascimento dos filhos.

Acho que vou dar conta das duas. Não vai dar problema, pode dar ciúmes. No começo da gravidez, eu queria tirar. Ai!, eu queria tirarrr! Aí, ele brigou comigo... Agora, tá tudo bem! (Água-marinha).

Não foi planejado, mas está diferente do primeiro porque tenho mais experiência. Está bom! (Esmeralda).

Esse aqui não foi planejado. Eu parei de tomar remédio, tava descansando, tava usando camisinha, mas queria mais um, mais cedo ou mais tarde (Ágata).

Ah! Eu me assustei um pouco, ele não foi programado, então, no começo fiquei meio assim. Depois você vai acostumando, acostumando e, se tiver uma educação como o outro, vai ser normal... vai educar a mesma coisa, vai dar a mesma educação do outro (Crisólito).

Na categoria Vivenciando perdas percebemos que a parentalidade exigiu dos jovens a assunção de novas responsabilidades, o que demandou a diminuição de participação em atividades de lazer e recreação. Interromper os estudos antes do planejado ou impossibilitar sua continuidade e para alguns rapazes a busca de algum trabalho.

O nascimento dos filhos, impediu os adolescentes de um convívio social mais intenso como antes, restringindo-os ao ambiente familiar. Passaram de uma vida social ativa tão necessária a estes jovens que estão buscando a construção de uma identidade adulta, para uma vida caseira, como passamos a apresentar.

[...] Hoje, tenho que trabalhar. Não posso ficar com eles (os filhos) porque onde trabalho é longe (em tempo integral). Então, eu passo minha responsabilidade toda para o pai deles, por algum tempo, né? (Jaspe).

[...] (no primeiro) não sabia cuidar de criança, cuidava na marra, né? (Safira).

Eu não era de sair, mas agora com os filhos fica difícil, né? (Jade).

[...] a liberdade é o pior, não poder sair, não poder fazer quase nada... (Esmeralda).

Na categoria Vivenciando ganhos os relatos mostram que para muitos a parentalidade representa, também, lucros. A experiência dos ganhos está relacionada ao amadurecimento, à responsabilidade, à satisfação advindos do exercício parental e à satisfação pessoal de realizar-se como mulher/ mãe, homem/pai.

É bom porque a gente pode cuidar melhor, pode dar mais atenção ... porque a gente pode acompanhar o crescimento ... a gente é mais nova, tem mais tempo ... não trabalha (Esmeralda).

Eu acho que, pra mim, foi bom porque eu amadureci mais rápido. Veio uma responsabilidade pra mim. Fiquei mais responsável, tudo que vou fazer, tenho mais consciência por causa dos meus filhos. Acho que a coisa boa pra mim, é que tenho eles e isso ajudou também para mim... para... como vou falar... ficar mais maduro... amadureci mais rápido do que o normal (Diamante).

Pelas falas dos sujeitos, foi possível apreender que a parentalidade parece inserir os adolescentes no mundo adulto. No que se refere aos rapazes, a responsabilidade pelos seus atos demonstra ser um dos atributos de virilidade, que fazem parte do ideário da masculinidade. No entanto, ressalto que se torna difícil para os jovens assumir a paternidade sem os suportes familiares e sociais.

Apoiados nos depoimentos dos sujeitos, depreendemos que nem sempre a experiência parental foi planejada, mesmo assim, esta não foi indesejável. Relatam uma satisfação com o nascimento dos filhos.

Ao refletir sobre a questão da idade dos sujeitos, intuimos que as dificuldades que os jovens enfrentam estão mais associadas à carência econômica, à precariedade de serviços de apoio e/ou da família e aos recursos disponíveis que incrementam as perdas e frustrações no processo paternal, podendo levar a um desempenho parental insatisfatório.

Na categoria Buscando segurança para o futuro percebemos que as dificuldades para projetarem-se estão claramente associadas às condições objetivas de vida, nas quais os adolescentes encontram-se imersos. A magnitude dos problemas enfrentados no cotidiano é vinculada à alimentação, moradia, vestuário, sustento da família etc, em contrapartida com as escassas alternativas para resolvê-los que dificultam a possibilidade de planejar e pensar no futuro, visto que não podem exercer um controle mínimo sobre o que lhes sucede.

O relato sobre os recursos econômicos necessários para criar um filho, assim como sua educação, além do desejo de uma moradia própria foi uma constante nos discursos dos sujeitos deste estudo.

Ter um futuro bom... assim, cuidar deles. Ah! Eu penso assim... dar o melhor pra eles, ensinar o que é certo e errado (Crisólito).

Eu espero que eles peguem firme com o estudo, se formem, não sei. [...] Cada um vai escolher a profissão que vai querer. Eu espero mesmo que todos concluam os estudos, e... Ah! Que fiquem bem! Cada um tenha a sua vida bem firmada, bem estruturada, que siga um caminho certo, seja pessoa honesta, que trabalhe, não desvie, não desande para o lado errado... drogas, roubo, essas coisas, assim... (Diamante).

Tomamos conhecimento que os familiares, com freqüência, assumem um papel relevante no cuidado da criança, permitindo aos adolescentes lidar de forma adequada com o estresse da parentalidade.

[...] minha mãe me ensinou um pouco no começo... cuidando da casa; no momento eu não tô cuidando, tem gente que tá cuidando. Minha mãe paga uma moça para cuidar da casa. Eu acho que sou uma boa mãe, minha mãe acha que só ela é a melhor... só ela que cuida bem dele e, pronto! (Jade).

Trabalho no departamento de vendas de cilindros hidráulicos (com o pai) (Jaspe).

Alguns adolescentes falam do empenho para estabelecer e/ou manter o relacionamento afetivo. Um pai de 17 anos chegou a empregar a expressão lutar para ficar com a segunda companheira, mãe de seu segundo filho.

Acho essencial o pai ficar junto com o filho, entendeu? [...] Só que com a mãe do meu primeiro filho não pude ficar, porque nós não lutamos pra isso. Agora, com esse segundo, eu vou lutar pra ficar junto com ela. Vou ser um pai melhor... lutar pra isso... vou lutar pra ficar mais junto com ele (Ônix).

Chama a atenção o fato de que a união conjugal e/ou assunção da paternidade pode não somente alterar a percepção da gravidez/ maternidade pela adolescente, mas a percepção de toda a família, que passa a ter uma visão mais favorável do evento.

Em relação às conseqüências da parentalidade na vida conjugal de adolescentes observa-se duas situações, uma positiva e outra negativa. Se por um lado, esta uniria o casal, pela decisão de viverem juntos, promovendo o crescimento de ambos e uma relação afetiva positiva, também, com benefícios à(s) criança(s). Por outro lado, o nascimento de um filho e a decisão de morar juntos poderia desfazer o estado de enamoramento anterior, levando esses casais a experimentarem mais problemas conjugais e separações.9

Pretendo casar, mas só quando tiver 18 anos (Jacinto).

[...] mas quando tem família, você pensa, tem que trabalhar direitinho, certo, pra dar um futuro melhor pra eles... ensinar o que é certo e errado (Crisólito).

Causa que, o meu futuro, é o futuro dos meus filhos. Esse está sendo o meu projeto, dar o melhor, ter uma família estruturada. Eu estou botando muita confiança neste meu novo relacionamento (Ônix).

A categoria Expressando situação ambivalente caracteriza a reflexão a respeito do que os adolescentes anelam e a realidade vivida por eles, ou seja, a ambivalência de sentimentos, o desejo de ser pai e/ou mãe em contraste com o fato de muitos não quererem ter mais filhos; a opinião de que ser pai/mãe cedo é bom, entretanto, não aconselha ninguém a tê-los tão cedo; a opinião de que ser pai/mãe é bom, torna-os responsáveis e amadurecidos mas, em contrapartida, tira-lhes a liberdade, a juventude e impede a continuação dos estudos.

[...] Certo ter filho cedo não é, né? [...] mas se vir também tem cuidar igual normal... o filho não tira a liberdade... não tira, se você tiver sentimento, faz a coisa certa... como eu. Pra mim, não tem nada de ruim de ser pai jovem... pra algumas pessoas tem, né? Pra mim, não! Nem pra ela... (Crisólito).

[...] eu gostei de ser mãe, mas foi um trauma no instante que eu soube que estava grávida... foi um susto... a gravidez foi um caos... ficava pensando, um com dois anos... e outro menor ainda e eu ainda estou um pouco assustada. [...] Foi uma experiência muito séria, mas estou achando maravilhoso... estou encantada com eles. Eu aconselho as outras meninas para estudar, construir sua vida primeiro, depois, sim, pensar em construir uma família. Agora, eu não dou conselho a ninguém (Turmalina).

O processo gestacional, como a parentalidade, envolve alterações intrapsíquicas, interpessoais, etc. Pautada na percepção de concepção surge a ambivalência afetiva - a oscilação entre desejo e não desejo da gestação, o querer e não-querer a criança. Não há uma aceitação total ou rejeição total da gravidez, pois o sentimento oposto jamais estará inteiramente ausente.10

De igual modo, a adolescência, por si só, é um momento de conflito, de ambivalência, de sentimentos paradoxais, de crise. É muito mais que uma fase de transformações físicas, portanto, deve ser contemplada como um período existencial de tomada de posição social, familiar, sexual entre o grupo. Entretanto, é na condição de ser adolescente, na realidade social vivida por estes jovens que se encontra o grande diferencial entre parentalidade adolescente e adulta.

Uma coisa de ruim de ter filho cedo é que agora eu não vou poder continuar estudando. Mas uma coisa de bom é que a gente pega experiência de vida e tudo, amadurece bastante, tem responsabilidade (Rubi).

[...] é bom que quando você tiver uns 30 anos, eles já vão estar grandes... quando eu tiver uns 30, o primeiro vai estar com 20 e este vai ter mais ou menos 18 anos. Por outro lado, você perde a sua juventude. Assim... mas é só olhar pra carinha deles... que já basta. Eu acho que... no começo, eu me arrependo ... (Marcassita).

Uma razão para o conflito e ambivalência existencial é que a parentalidade na adolescência contraria os projetos que a sociedade prescreve aos indivíduos: as atividades escolares, a preparação profissional, a aquisição de um trabalho remunerado, o estabelecimento de uma relação amorosa estável, duradoura e, só então, a reprodução dentro dos laços do matrimônio. Quando as situações da vida não ocorrem mais ou menos dentro desta seqüência, podem causar certa dificuldade aos jovens como destacamos.

Depois você quer viver a adolescência que você não viveu, aí, fica tudo bagunçado... (Jaspe).

[...] uma coisa de ruim em ser pai jovem é que você perde muito, muita oportunidade, escola, trabalho... (Ônix).

Percebemos que os adolescentes deste estudo tinham uma relação cuidadosa com suas crianças. Externavam queixas pelas limitações às atividades sociais impostas pela criação dos filhos, entretanto não existiam sentimentos de ambivalência em relação aos filhos e, sim, pelas obrigações conseqüentes da parentalidade. Quanto ao desejo de ter filhos, expresso por eles, este também poderia representar um desejo de independência ou uma fuga e não um verdadeiro amadurecimento psicoemocional e sexual.

Vai ser um pouco mais difícil porque você não tem aquele dinheiro, né? Mas aí, nós dá um jeito. Minha mãe ajuda nós.[...] O segundo vai ser mais fácil, o primeiro a gente já tira de letra... segundo e último! (Crisólito).

Mais uma vez a ambivalência é desvelada na difícil situação vivenciada pelos adolescentes ao lidar com os dois novos papéis sociais, simultaneamente, o de ser adolescente e ser pai/mãe.

A sua vida muda, você não pode fazer as mesmas coisas que fazia. Mas assim, se a pessoa quiser coisa séria, criar uma família, ela tem que ter. Eu não posso falar o que é muito cedo, pois a minha irmã mesmo teve o primeiro filho dela aos 14 anos e, pra ela, também foi bom (Pepita).

Não que me arrependi, mas, se fosse um tempo atrás, eu não teria... perdi bastaaante a liberdade! O bom é que eu tenho eles! Assim, idade ideal pra ter filho, não tem... tem que ter uma situação boa, sua casa... (Jade).

A ambivalência é uma das características da existência do Homem que só se constitui sob laços de tensão, que unem e afastam. Grande parte dos adolescentes tornou-se genitor e genitora recorrentes em uma época de maiores conflitos e ambivalência humana quando estão formando sua identidade e conquistando um lugar na sociedade. Nesse período vital, existe uma ambivalência de se firmar como mulher/mãe e homem/pai.

Na adolescência o desejo de ter um filho traz fortes componentes ligados aos sentimentos ambivalentes frente ao processo de tornar-se independente dos pais. Mais uma vez afirmamos, entre adultos a ambivalência também existe, porém, na adolescência, é intensa e bem marcada pelas transformações próprias do período.11

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados deste estudo permitiram compreender que a vivência da parentalidade na adolescência não diverge muito da vivência na adultícia. As maiores diferenças estão nas singularidades dessa faixa etária e na realidade social vivida pelos adolescentes. Pais e mães adolescentes enfrentam uma tarefa dupla: tornarem-se adultos, superando as contingências da adolescência e, ainda, educar seus filhos.

As implicações da parentalidade recorrente para o adolescente são inúmeras e, obviamente, o apoio familiar, psicológico e social constituem-se em fatores protetores, minimizando as perdas e desvantagens.

Mesmo considerando o aumento da responsabilidade, em alguns aspectos avaliados como positivos e a perda da liberdade, a maioria dos adolescentes revelou satisfação com a condição parental, demonstrando apego afetivo aos filhos e esforço no sentido de reorganizar suas vidas por meio de projetos, expectativas, desejos e sonhos.

Nesta perspectiva, a parentalidade parece prover um rito de passagem da adolescência à adultícia e a esperança de um futuro melhor, particularmente, quando outras alternativas são difíceis de ser escolhidas no meio social onde se vive, pela falta de boa formação educacional, falta de serviços de saúde de qualidade, a escassa ou, até mesmo, inexistência de oportunidade de emprego. Eventualmente, isso refletiu na solicitude desses adolescentes por um futuro melhor para os filhos, diferente do que eles tiveram.

No vasto corpo da produção científica consultada, resgatamos que as ações de conceber e criar filhos apresentam-se como experiências atribuídas culturalmente, quase de modo exclusivo ao gênero feminino, ignorando-se a participação, os desejos e sentimentos dos homens nesses processos. Quando incluídos nos estudos, seu envolvimento é abordado sob a ótica feminina, reforçando a idéia de que a procriação e cuidado dos filhos são circunstâncias inerentes a este gênero. Quanto ao pai, após um coito fecundante, encara uma grande lacuna em seu papel.

Sendo assim, evidencia-se a necessidade de construção de um lugar social para a paternidade, sobretudo, da paternidade adolescente. É preciso lembrar que a gravidez adolescente não é um evento exclusivamente feminino e, certamente, não haverá nenhuma resolução se não dermos maior atenção ao gênero masculino.

A assistência aos adolescentes deve considerar não só os aspectos teóricos e cronobiológicos, mas, os fatores psicossociais e culturais e as vivências desse grupo social.

Defendemos ações educativas do enfermeiro por meio técnicas de atividades prática, representação de papéis que são essenciais, tanto à prevenção da gravidez indesejada como para encorajar a boa vivência da parentalidade.

Recebido em: 16 de julho de 2008

Aprovação final: 5 de janeiro de 2009

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  • Correspondência:
    Geraldo Mota de Carvalho
    Rua Guiratinga, 931, ap. 113
    04141-001 - Saúde, São Paulo, SP, Brasil
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  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      13 Abr 2009
    • Data do Fascículo
      Mar 2009

    Histórico

    • Aceito
      05 Jan 2009
    • Recebido
      16 Jul 2008
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