Acessibilidade / Reportar erro

Questões em debate na produção do conhecimento em enfermagem

EDITORIAL

Questões em debate na produção do conhecimento em enfermagem

Dra. Denise Maria Guerreiro Vieira da SilvaI; Dra. Marisa MonticelliII; Dra. Odaléa Maria BrüggemannIII

IEditora de seleção de manuscritos da revista Texto & Contexto Enfermagem

IIEditora de texto e layout da revista Texto & Contexto Enfermagem

IIIEditora de submissão de manuscritos da revista Texto & Contexto Enfermagem

O processo de desenvolvimento de pesquisas vem sendo conduzido sob enorme pressão, seja pelo tempo que o pesquisador dispõe; pela competição por financiamento; pelo impacto dos resultados da investigação na prática; pelo acesso ao conhecimento já produzido; para acompanhar a dinâmica das mudanças científicas, tecnológicas, sociais e políticas ou, ainda; pelos fatores relacionados à divulgação dos resultados produzidos, relacionados à demanda cada vez mais reprimida em periódicos de qualidade, medida através de fatores de impacto, dentre outros.1

Além dessas forças – que fazem parte do cotidiano dos profissionais enfermeiros, especialmente os que se encontram em interlocução com a área acadêmica – há, ainda, algumas questões que têm se tornado fonte de preocupação, particularmente aquelas ligadas aos aspectos ético-epistemológicos.

Antes de apontar soluções, este texto possui a pretensão de suscitar reflexões em torno de discussões contemporâneas acerca da produção científica da Enfermagem, a partir do destaque de algumas questões.

Uma dessas questões diz respeito à posição ou ao status que os enfermeiros assumem (ou deveriam assumir): enfermeiros fazendo pesquisa ou cientistas/pesquisadores? De maneira geral, os enfermeiros têm dificuldade em assumir a posição de cientistas ou de investigadores. Isso pode ser consequência da recente inserção da Enfermagem no mundo da ciência, se comparada a outras disciplinas (quatro décadas versus quatro séculos).2

Outra questão diz respeito à polarização Generalista/Especialista e tudo o que está nela envolvido em relação à produção de conhecimentos propriamente dita. Haveria alguma vantagem no campo das ciências? Qual seria ela?3 Sem deixar de considerar a profundidade de escopo e lateralidade de pensamento, inseridos como critérios qualitativos encarnados no "Perfil do Doutor em Enfermagem".4

Em adição, outro enfrentamento tem que ser considerado: produção coletiva ou produção individual? Junto a programas de pesquisa? A grupos de pesquisa? E o (quase) imperativo contemporâneo da Interdisciplinaridade?3 Além disso, de que modo alinhavar (e conduzir) parcerias internacionais? E os estudos multicêntricos? Qual estratégia adotar para a propalada "visibilidade internacional"? Como realizar parcerias "além-mar"?

A escolha das abordagens teórico-metodológicas também tem sido um desafio: Como superar as discussões quali versus quanti? Mixed methods?5 Como respeitar as diferenças teórico-conceituais das distintas abordagens sem perder a especificidade e a sofisticação reflexiva de cada uma delas?6 Igualmente relevantes são as reflexões em torno da necessidade de avançar para além da descrição da realidade. Torna-se indispensável pensar em estratégias que busquem também explicar, predizer e controlar fenômenos/fatos sob escrutínio investigativo1... Estaríamos nós preparados para a Pesquisa Translacional?

Outra interrogação também se encontra na base de tal discussão e se relaciona à seguinte questão: Para quê pesquisamos? Para vislumbrar estratégias de resolução de problemas da prática? Para a edificação e aprofundamento de construtos/conceitos? Para quê, afinal, produzir pesquisa em Enfermagem? Seria para contribuir com a qualidade do cuidado e dos seus resultados? Para fundamentar decisões e ações na prática, administração e educação, a partir de conhecimento cientificamente documentado? Para diminuir os custos dos cuidados? Para construir bases científicas para a prática?1 Para delimitar o corpo de conhecimentos, a fim de distinguir de outras profissões? Para buscar respostas científicas para assuntos da profissão? Para evidenciar o benefício que a Enfermagem traz para a sociedade? Para documentar a diferença que a enfermeira faz, no sentido de demarcar sua relevância prática e social?

Ainda outra interrogação toma vulto: como estimular para que a Enfermagem consuma o conhecimento produzido? Como disseminar o conhecimento de modo que ele tenha impacto na prática? Essas questões certamente estão relacionadas com o acesso à informação (open acess ou acesso restrito), com o idioma utilizado na publicação e com a valorização que os profissionais atribuem ao conhecimento produzido.

Finalmente, mas não por último, temos que considerar que a publicação do conhecimento é um "produto" que será fonte de avaliação da capacidade científica da Enfermagem, seja por avaliadores internos ou externos.

Os novos caminhos apontados, principalmente pelos órgãos avaliadores (e atribuidores de "notas" aos Programas de Pós-Graduação), nos fazem olhar para o horizonte e questionar: enfim, quais os requisitos que definem a qualidade do conhecimento produzido e quais as características definidoras da almejada "maturidade científica" para conquistar os melhores patamares de acesso e permanência na comunidade científica?

REFERÊNCIAS

1. Hoskins CN, Mariano C. Research in nursing health: understanding and using quantitative and qualitative methods. 2nd ed. New York (US): Springer, 2004.

2. Holden JE. Basic science is not nursing research? If it isn't, what is? [editorial]. West J Nurs Res. 2009 Nov; 31(7):815-7.

3. Taylor J. Generalism vs. Specificism: what direction for early research careers? [editorial]. J Clin Nurs. 2010 May; 19(9-10):1195-7.

4. Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Documento de àrea Enfermagem – Triênio 2007-2009 [online]. Capes; 2010 [acesso 2010 Set 8]. Disponível em: http://www.capes.gov.br/images/stories/download/avaliacao/ENFERMAGEM_22jun10b.pdf

5. Furegato ARF. Reflexões sobre o dualismo metodológico nas pesquisas em saúde [editorial]. Rev Latino-am Enfermagem. 2008 Nov-Dez; 16(6):937-8.

6. Deslandes SF, Assis SG. Abordagens quantitativas e qualitativa em saúde: o diálogo das diferenças. In: Deslandes SF, Assis SG, organizadores. Caminhos do pensamento: epistemologia e método. Rio de Janeiro (RJ): Editora Fiocruz, 2002. p. 195-223.

  • 1. Hoskins CN, Mariano C. Research in nursing health: understanding and using quantitative and qualitative methods. 2nd ed. New York (US): Springer, 2004.
  • 2. Holden JE. Basic science is not nursing research? If it isn't, what is? [editorial]. West J Nurs Res. 2009 Nov; 31(7):815-7.
  • 3. Taylor J. Generalism vs. Specificism: what direction for early research careers? [editorial]. J Clin Nurs. 2010 May; 19(9-10):1195-7.
  • 4
    Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior. Documento de àrea Enfermagem – Triênio 2007-2009 [online]. Capes; 2010 [acesso 2010 Set 8]. Disponível em: http://www.capes.gov.br/images/stories/download/avaliacao/ENFERMAGEM_22jun10b.pdf
  • 6. Deslandes SF, Assis SG. Abordagens quantitativas e qualitativa em saúde: o diálogo das diferenças. In: Deslandes SF, Assis SG, organizadores. Caminhos do pensamento: epistemologia e método. Rio de Janeiro (RJ): Editora Fiocruz, 2002. p. 195-223.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Out 2010
  • Data do Fascículo
    Set 2010
Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós Graduação em Enfermagem Campus Universitário Trindade, 88040-970 Florianópolis - Santa Catarina - Brasil, Tel.: (55 48) 3721-4915 / (55 48) 3721-9043 - Florianópolis - SC - Brazil
E-mail: textoecontexto@contato.ufsc.br