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A importância da qualificação dos periódicos para o avanço da produção e visibilidade da pesquisa em enfermagem

EDITORIAL

A importância da qualificação dos periódicos para o avanço da produção e visibilidade da pesquisa em enfermagem

Carmen Gracinda Silvan ScochiI; Denize Bouttelet MunariII; Mavilde da Luz Gonçalves PedreiraIII; Maria Itayra PadilhaIV; Maria Helena MarzialeV

IProfessora Titular do Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Coordenadora Área Enfermagem - CAPES 2011-2013. Livre-docente pela Universidade de São Paulo

IIProfessora Titular da Faculdade de Enfermagem da Universidade Federal de Goiás. Coordenadora Adjunta Área Enfermagem - CAPES 2011-2013. Doutora em Enfermagem. Líder do Núcleo de Pesquisa em Enfermagem na Gestão, Desenvolvimento de Pessoas e da Tecnologia de Grupo no Contexto do Trabalho em Saúde

IIIProfessora Associado do Departamento de Enfermagem Pediátrica da Escola Paulista de Enfermagem da Universidade Federal de São Paulo. Doutora em Enfermagem. Pesquisadora do CNPq

IVEditora da Revista Texto & Contexto Enfermagem. Professora do Departamento de Enfermagem e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC. Pós-Doutora pela Universidade de Toronto, Canadá. Líder do Grupo de Estudos da História do Conhecimento de Enfermagem e Saúde. Pesquisadora do CNPq

VProfessora Titular da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Doutora em Ciências da Saúde. Líder do Núcleo de Estudos Saúde e Trabalho e da Rede de Prevenção de Acidentes de Trabalho. Pesquisadora do CNPq

A pós-graduação em enfermagem encontra-se em franca expansão, constatada pelo aumento do número de cursos e programas, de egressos e da produtividade científica com publicação de artigos em periódicos com fator de impacto. Essa expansão é caracterizada pela cobertura em todo o território nacional de 58 programas de pós-graduação stricto sensu, perfazendo 83 cursos (45 mestrados e 27 doutorados e 11 mestrados profissionais), embora nas regiões Norte e Centro-Oeste ainda há carência de oferta para esse nível de ensino, com a qualidade exigida pela Área e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).

Ao comparar a produção científica da área de enfermagem no triênio 2004-2006 em que foram publicados 3563 artigos em 373 periódicos, com o triênio 2007-2009, constata-se um crescimento para 5194 artigos publicados em 595 periódicos, mostrando um avanço de quase o dobro de publicações em três anos. Uma análise da produção nesse ultimo triênio mostra que 78,2% dos artigos foram publicados em periódicos com Qualis B2 ou superior, sendo 2,8% em A1, 28% em A2, 28,4% em B1 e 19% em B2. Dados recentes no Webqualis da Área 20 - Enfermagem constam 794 periódicos, 199 deles incluídos a partir de publicações no ano de 2010, que já totalizam 3000 artigos produzidos nos programas de pós-gra­duação, mostrando que a área continua em franco desenvolvimento e crescimento.

O produto e o processo da atividade científica dependem da comunicação eficaz e as revistas especializadas constituem importantes veículos de divulgação do conhecimento científico. Os resultados de pesquisa ganharão reconhecimento e credibilidade em função de sua publicação em revistas científicas de prestígio.1-2

O impacto do crescimento da pós-graduação na visibilidade internacional da produção científica da enfermagem brasileira é constatado pelo ranking do número de artigos na base Scopus/SCImago, no qual ocupávamos o 25º lugar da produção mundial da área em 2000 e ascendemos para o 6º lugar em 2010, superado pelos Estados Unidos da América, Reino Unido, Canadá, França e Austrália.3

Tais avanços, no auge dos 40 anos da pós-graduação na área de enfermagem, destacam não apenas a qualidade da produção científica dos pesquisadores enfermeiros, mas também a qualidade dos periódicos sediados no Brasil, que vem ganhando espaço no cenário internacional, projetando com maior visibilidade a enfermagem brasileira.

O reconhecimento do crescimento da qualidade da pesquisa em enfermagem ainda é notório pela ampliação do número de revistas indexadas nas principais bases nacionais e internacionais e de referência para a área de enfermagem e da saúde, além do aumento dos índices censiométricos. O número de periódicos científicos de enfermagem com fator de impacto medido no Journal Citation Report em 2004 era de 35 periódicos, com uma mediana de impacto de 0,689 e apenas seis possuíam fator de impacto >1.00. Em 2009 observa-se notável incremento para 74 periódicos, com mediana de fator de impacto de 0,909 e 30 com impacto>1.00.4 Ressaltamos que quatro periódicos de Enfermagem, editados no Brasil, foram indexados na base Web of Science, três dos quais obtiveram WoS/JCR com fatores de impacto equivalentes ao de outras revistas editadas nos Estados Unidos, de referência internacional para a área. Esses e mais quatro outros periódicos brasileiros de enfermagem estão indexados na base Scopus/SCImago - SJR com índice H. Outras indexações importantes em bases referenciais são: quatro periódicos brasileiros na MEDLINE - National Library of Medicine, seis no CINAHL - Cumulative Index to Nursing & Allied Health Literature, dez no CUIDEN que disponibiliza o Índice das Revistas sobre Cuidados de Salud con Repercusión en Iberoamérica, sete no SciELO - Scientific Electronic Library Online, 19 na Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde - LILACS e 15 na Rev@Enf da Biblioteca Virtual de Saúde-Enfermagem (BVS/Enf) que inclui uma coleção das melhores revistas de enfermagem de diferentes países, publicadas na metodologia SciELO.

Esse cenário evidencia o reconhecimento da qualidade da editoração das revistas de enfermagem editadas no Brasil pelas bases indexadoras internacionais e a conquista de espaços políticos e maior participação de editores em processos decisórios em instituições e associações de editoração nacional e internacional. Uma publicação recente5 que trata do processo de cientifização da enfermagem brasileira, do habitus científico e da construção do campo científico da enfermagem, analisada do ponto de vista da formação de grupos geracionais de pesquisadores e do seu comportamento no desenvolvimento da ciência da enfermagem no Brasil, mostra como esses avanços são perceptíveis. Esse estudo destaca em sua conclusão, como um dos desafios das gerações, que no momento são responsáveis pela formação de novos pesquisadores, a responsabilidade de impulsionar a internacionalização, por meio do fortalecimento das revistas científicas nacionais.

Embora não se possa caracterizar o processo de internacionalização da produção cientifica da enfermagem brasileira apenas pela publicação em periódicos nacionais de circulação internacional, é inegável a importância desses no crescimento da enfermagem mundial.

Nesse sentido, o Qualis, que consiste em um sistema de estratificação da qualidade da produção intelectual dos programas de pós-graduação, embora seja questionado em sua concepção e propósito,6 sem dúvidas tem impulsionado o processo de melhoria dos periódicos nacionais em busca de padrões internacionais.

No entanto, algumas barreiras ainda precisam ser superadas no alcance desse padrão de qualidade tão almejado pelos periódicos e entendemos que essas derivam de alguns fatores. Em primeiro lugar, destacamos o papel dos programas de pós-graduação em compreender a importância de se produzir conhecimento novo e que gere novidade capaz de despertar o interesse pelos nossos produtos científicos. Esse interesse precisa ir além de uma simples leitura; deve causar impacto suficiente para que nossas conclusões sejam reconhecidas pelos nossos pares.7

Para que isso aconteça, a pós-graduação deve se ocupar de produção de inovação, "devemos ser empreendedores ao visualizarmos a evolução do conhecimento e devemos nos aventurar sem medo em pensamentos inovadores".7:374 A produção de novidades requer muito domínio do estado da arte sobre o tema que se pesquisa, a ponto de se investigar o que de fato se constitui em lacunas, para se produzir fortes evidências. Finalmente, além da produção de conhecimento novo é fundamental, na formação de novos pesquisadores, o desenvolvimento de habilidades para a comunicação e redação científica, aspecto que merece mais atenção dos programas.

Outra barreira ainda a ser superada nesse processo é a necessidade de mudanças no processo de editoração científica, de forma que esse seja profissionalizado, no sentido de tornar os periódicos mais atrativos, em particular, na lógica da seleção de produções que tenham impacto e que comuniquem de fato novidades.6,8 A profissionalização dos periódicos ainda requer mais agilidade na publicação e comunicação com os autores, a adoção de padrão de normatização capaz de ser reconhecido por pesquisadores do mundo inteiro, e do uso do inglês como linguagem oficial da comunicação científica. Finalmente, destacamos que a disponibilidade dos periódicos em sistemas abertos, que possibilitem ampla divulgação e democratização da ciência é uma necessidade, principalmente, para dar visibilidade a produção, contribuindo como espaços de interação entre pesquisadores, editores, leitores, o que favorece e amplia o fluxo da comunicação científica.9

Para a superação dessas barreiras é imperativo se romper uma última, que diz respeito ao financiamento, para incorporação de melhorias estruturais no processo de editoração, mas também de profissionalização da editoração científica, haja vista a necessidade de melhorar os periódicos, buscando alcançar padrões internacionais e impacto. Esse só se consegue quando o periódico de reconhecida qualidade é aceito em bases de indexação internacionais que os coloca em evidência no mundo científico.

  • 1. Marziale MHP. Produção científica da enfermagem brasileira: a busca pelo impacto internacional. Rev Latino-am Enfermagem. 2005 Mai-Jun; 13(3):285-90.
  • 2. Erdmann AL, Marziale MHP, Pedreira MLG, Lana FCF, Pagliuca LMF, Padilha MI, Fernandes JD. Evaluation of scientific periodicals and the Brazilian production of nursing articles. Rev Latino-am Enfermagem. 2009 May-Jun; 17(3):403-9.
  • 3. SCImago Journal Country Rank (SJR). Country Ranks [Internet]. 2010 [cited 2012 May 31]. Available from: http://www.scimagojr.com/countryrank.php?area=2900&category=0®ion=all&year=2010&order=it&min=0&min_type=it
  • 4. Polit DF, Northam S. Impact factors in nursing journals. Nurs Outlook. 2011 Jan-Feb; 59(1):18-28.
  • 5. Salles EB, Barreira IA. Formação da comunidade científica de enfermagem no Brasil. Texto Contexto Enferm. 2010 Jan-Mar; 19(1):137-46.
  • 6. Rocha e Silva M. Periódicos científicos brasileiros: visibilidade e charme. Rev Esc Enferm USP. 2012 Fev; 46(1):9-10.
  • 7. Volpato GL. Ciência, publicação e redação científica. Rev Eletr Enf [online]. 2011 Jul-Set [acesso 2012 Mai 18]; 13(3):374. Disponível em: http://www.fen.ufg.br/revista/v13/n3/v13n3a01.htm
  • 8. Erdmann AL, Fernandes JD. Publicações científicas qualificadas na enfermagem brasileira. Rev Bras Enferm. 2009 Jul-Ago; 62(4):499-501.
  • 9. Ribas CRP, Zanetti ML, Caliri MHL. A arte da comunicação do conhecimento científico. Rev Eletr Enf [online]. 2009 [acesso 2012 Mai 18]; 11(3):712-6. Disponível em: http://www.fen.ufg.br/revista/v11/n3/v11n3a32.htm

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    26 Jul 2012
  • Data do Fascículo
    Jun 2012
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