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Vacinação contra influenza: construção de um instrumento educativo para maior adesão dos profissionais de enfermagem

Vacunación contra la influenza: elaboración de una herramienta educativa para lograr una mayor adhesión de los profesionales de enfermería

Resumos

Este estudo objetivou construir um instrumento educativo, na modalidade de cartilha, com o intuito de sensibilizar e promover maior adesão dos profissionais de enfermagem à vacinação contra Influenza. Trata-se de uma pesquisa construtivista, com participação de profissionais de enfermagem de um hospital universitário, nas etapas de elaboração e validação dos conhecimentos. A cartilha impressa "Influenza/Gripe - O profissional da saúde precisa saber" foi disponibilizada no site www.hu.ufsc.br, por ocasião da campanha de vacinação 2011. Confirmou-se desinformação sobre o tema; ampla consulta ao site, pelo número de acessos e possíveis leituras; sua importância para a sensibilização dos profissionais de enfermagem; e contribuição para ações educativas na instituição. A Cartilha é um instrumento que pode permitir o alcance de níveis adequados de adesão à vacinação, proporcionando assistência segura ao paciente, e proteção da saúde do profissional, da família e da comunidade.

Enfermagem; Vacinação; Educação em saúde; Manuais


Este estudio tuvo como objetivo la construcción de una herramienta educativa en forma de panfleto, con el fin de conocer y promover una mayor adhesión de los profesionales de enfermería a la vacunación contra la influenza. Se contó con la participación de los profesionales de Enfermería de un hospital universitario en las etapas de desarrollo y validación de los conocimientos. El panfleto impreso "Influenza/Gripe - El profesional de la salud necesita saber", fue lanzado en el sitio: www.hu.ufsc.br, en la Campaña de vacunación 2011. Se confirmó la desinformación sobre el tema; gran consulta del sitio por el número de visitas y lecturas posibles de la misma; la importancia para sensibilizar a los profesionales de Enfermería, y la contribución para acciones educativas en la institución. El panfleto es una herramienta que puede permitir el logro de niveles apropiados de adhesión a la vacunación y la revacunación, proporcionando una atención más segura del paciente y la protección de la salud de los profesionales, la familia y la comunidad.

Enfermería; Vacunación; Educación en salud; Manuales


This study aimed to construct an educational instrument in the modality of a booklet, so as to sensitize nursing professionals to vaccination against influenza, and promote greater adherence among these to it. It is constructivist research in which nursing professionals from a university hospital participated in the stages of its elaboration and the validation of knowledge. The printed booklet "Influenza/Flu - health professionals need to know" was made available on the site www.hu.ufsc.br, during the 2011 vaccination campaign. The following were confirmed: Lack of information on the theme; broad use of the site, by the number of accesses and possible readings; its importance for sensitizing nursing professionals; and contribution to educational actions in the institution. The booklet is an instrument which permits the achieving of adequate levels of adherence to the vaccination, allowing safe care for the patient, and protection of the health of the professional, the family and the community.

Nursing; Vaccination; Health education; Handbooks


ARTIGO ORIGINAL

Vacinação contra influenza: construção de um instrumento educativo para maior adesão dos profissionais de enfermagem1 1 Parte do projeto de pesquisa - Situação vacinal contra a Influenza dos profissionais de enfermagem um hospital de ensino: diagnóstico e intervenções, apresentado ao Mestrado Profissional em Gestão do Cuidado de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

Vacunación contra la influenza: elaboración de una herramienta educativa para lograr una mayor adhesión de los profesionales de enfermería

Raquel Heloisa Guedes VieiraI; Alacoque Lorenzini ErdmannII; Selma Regina de AndradeIII

IMestre Profissional em Gestão do Cuidado em Enfermagem. Enfermeira do Ambulatório de Pediatria do Hospital da UFSC. Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. E-mail: raquelhgv@hotmail.com

IIDoutora em Filosofia da Enfermagem. Professora Titular do Departamento e Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFSC. Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. E-mail: alacoque@newsite.com.br

IIIDoutora em Enfermagem. Professora do Departamento e do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFSC. Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. E-mail: selma@ccs.ufsc.br

Correspondência Correspondência: Raquel Heloisa Guedes Vieira Rua Dep. Antônio Edu Vieira, 1304/203-C 88.040-001 - Florianópolis, SC, Brasil E-mail: raquelhgv@hotmail.com

RESUMO

Este estudo objetivou construir um instrumento educativo, na modalidade de cartilha, com o intuito de sensibilizar e promover maior adesão dos profissionais de enfermagem à vacinação contra Influenza. Trata-se de uma pesquisa construtivista, com participação de profissionais de enfermagem de um hospital universitário, nas etapas de elaboração e validação dos conhecimentos. A cartilha impressa "Influenza/Gripe - O profissional da saúde precisa saber" foi disponibilizada no site www.hu.ufsc.br, por ocasião da campanha de vacinação 2011. Confirmou-se desinformação sobre o tema; ampla consulta ao site, pelo número de acessos e possíveis leituras; sua importância para a sensibilização dos profissionais de enfermagem; e contribuição para ações educativas na instituição. A Cartilha é um instrumento que pode permitir o alcance de níveis adequados de adesão à vacinação, proporcionando assistência segura ao paciente, e proteção da saúde do profissional, da família e da comunidade.

Descritores: Enfermagem. Vacinação. Educação em saúde. Manuais.

RESUMEN

Este estudio tuvo como objetivo la construcción de una herramienta educativa en forma de panfleto, con el fin de conocer y promover una mayor adhesión de los profesionales de enfermería a la vacunación contra la influenza. Se contó con la participación de los profesionales de Enfermería de un hospital universitario en las etapas de desarrollo y validación de los conocimientos. El panfleto impreso "Influenza/Gripe - El profesional de la salud necesita saber", fue lanzado en el sitio: www.hu.ufsc.br, en la Campaña de vacunación 2011. Se confirmó la desinformación sobre el tema; gran consulta del sitio por el número de visitas y lecturas posibles de la misma; la importancia para sensibilizar a los profesionales de Enfermería, y la contribución para acciones educativas en la institución. El panfleto es una herramienta que puede permitir el logro de niveles apropiados de adhesión a la vacunación y la revacunación, proporcionando una atención más segura del paciente y la protección de la salud de los profesionales, la familia y la comunidad.

Descriptores: Enfermería. Vacunación. Educación en salud. Manuales.

INTRODUÇÃO

Os profissionais de enfermagem convivem, em seu cotidiano hospitalar, com condições inadequadas e insalubres, expostos a situações que podem ser danosas à manutenção de sua saúde.1

Pelas características da atividade, estes profissionais estão mais susceptíveis à doença infecciosa que a população em geral e, uma vez infectados, como no caso da Influenza, eles poderão adoecer, ou, mesmo não adoecendo, transmitir a infecção para pacientes e outros profissionais, no seu local de trabalho, família e comunidade.2-4 Além do custo individual e social provocado pela doença infecciosa, há também o ônus institucional e financeiro, por ser esta a causa mais frequente de absenteísmo no trabalho dos profissionais da área.2

Embora a imunização pela vacina trivalente inativada contra Influenza previna entre 70 e 90% a infecção em adultos jovens, a procura dos profissionais de enfermagem pelos serviços de vacinação ainda está abaixo do percentual esperado de 80%,5 revelando uma relativa despreocupação com sua própria saúde. Este fato ocorre não só no Brasil, mas também em outras partes do mundo, destacando-se taxas de vacinação contra Influenza entre enfermeiras menores do que aquelas observadas em outros profissionais de saúde.3,6-7

O reconhecimento do profissional de saúde e, dentro deste grupo, do profissional de enfermagem, como sendo uma categoria que pode influenciar não só no cuidado e tratamento desta doença infecciosa, mas também na sua disseminação pelo contato direto com o paciente susceptível, levou à criação, em diversos países, de um calendário vacinal específico para este fim, fato que ainda não ocorre de modo oficial no Brasil. Nesta perspectiva, aumentar a adesão à vacinação entre estes profissionais é um desafio que se impõe às instituições de saúde. Para esse enfrentamento, o fator educação vem sendo apontado como um dos elementos-chave.2-4,6-8

A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) tem seu Hospital Universitário (HU) como um órgão suplementar. O HU/UFSC é uma instituição pública de grande porte, de complexidade terciária, sendo o único do Estado vinculado ao Ministério da Educação (MEC), e que atende exclusivamente pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). É referência para o ensino, pesquisa e extensão na área de saúde em todo o Estado de Santa Catarina.

O HU/UFSC, como hospital de ensino, tem entre seus compromissos o de desenvolver a educação permanente também para seus profissionais, pois não basta fazer ações educativas visando somente o paciente, o aluno e a comunidade. A educação é um processo permanente que precisa ser garantido também para os profissionais. Esta visão vai ao encontro do preconizado pela Política Nacional de Humanização do Ministério da Saúde, que associa humanização à valorização dos usuários, profissionais e gestores, e é operacionalizada, entre outras ações, na troca e construção de saberes, estimulando processos de educação permanente.9

Por sua vez, a enfermagem do HU/UFSC tem, desde sua concepção, uma história de preocupação com a educação em serviço, formalizada em 1988 com a criação do Centro de Educação e Pesquisa em Enfermagem (CEPEn), órgão de assessoria da Diretoria de Enfermagem (DE) do HU/UFSC, que trabalha em estreita parceria com o Curso de Enfermagem10 e o Mestrado Profissional em Gestão do Cuidado de Enfermagem da UFSC. Este curso propõe a construção e desenvolvimento de produtos gerenciais em enfermagem, para aplicação dentro do HU/UFSC.

Frente à importância da vacinação e da dificuldade de obtenção de níveis adequados de imunização para esse profissional, e na qualidade de instrumento auxiliar com o intuito de ampliar a adesão, o produto proposto constituiu da elaboração de um recurso educativo denominado cartilha, assumindo o pressuposto de que os materiais educativos facilitam o processo de ensino e de aprendizagem.3-4,11-12 Cartilha é aqui entendida como uma compilação básica que oferece instruções, por meio de ilustrações, para um determinado padrão de comportamento.13 É um instrumento que, ao auxiliar na aquisição de conhecimentos, favorece a mudança de atitudes e comportamentos.14 Este tipo de material também permite consultas rápidas e permanentes a respeito de um tema e, se for levado para o domicílio, poderá favorecer o aprendizado nas famílias.15

O uso da cartilha no processo de ensinar e aprender, ou em educação no trabalho, tem as vantagens de: poder conter textos mais extensos, permitindo melhor explicitação da mensagem e favorecendo o convencimento; possuir elevada seletividade; permitir a incorporação de variadas peças de comunicação; permitir uma variedade de tamanhos e formatos; e fazer uso de tratamento pessoal, auxiliando na incorporação da mensagem.

Partindo destas premissas, questionou-se: como podemos construir um instrumento educativo que possa sensibilizar e promover maior adesão dos profissionais de enfermagem à vacinação contra a Influenza? Para tanto, este estudo teve como objetivo construir um instrumento educativo na modalidade de uma cartilha, com a finalidade de sensibilizar e promover maior adesão dos profissionais de enfermagem à vacinação contra Influenza, e com isso, melhorar a cobertura vacinal na instituição.

MÉTODO

A metodologia utilizada para elaboração da cartilha foi de natureza construtivista, com a participação de profissionais de enfermagem do Hospital Universitário da UFSC. A abordagem construtivista como método de pesquisa possibilita "conhecer a realidade, a partir das questões problemas nela identificadas, traçar estratégias resolutivas no coletivo e assim construir o conhecimento com os sujeitos participantes".16:291 Partindo deste pressuposto, a produção do conhecimento resulta de uma construção relacional e dialógica de significados, na qual a avaliação da credibilidade e aceitabilidade de afirmações requer avaliação crítica de seu impacto.16 O método prevê o desenvolvimento do conhecimento em três etapas não estanques, caracterizadas por um ponto de partida, pelo qual emerge todo o processo de pesquisa; uma dialogicidade gerando conhecimento, na qual se estabelecem as relações entre pesquisador e participantes; e um momento de verificação de resultados obtidos nas etapas anteriores, com os diálogos e interações, e com previsão de retorno para validação.17

Neste estudo, tais etapas foram desenvolvidas no período de setembro a novembro de 2010, por meio do processo participativo, resultando na produção da cartilha denominada "Influenza/Gripe - O profissional da saúde precisa saber", da seguinte maneira: o ponto de partida - a etapa inicial, constituída pela definição do objetivo, da linha metodológica a ser seguida e a meta a ser alcançada, qual seja, a de ampliar a cobertura vacinal contra a Influenza, através da sensibilização pelo conhecimento. Também integrou este momento inicial o estudo do tema a partir da literatura atual e, fundamentado neste, a elaboração de 28 perguntas sobre prevenção, imunização e influenza.

A dialogicidade gerando conhecimento - etapa intermediária, caracterizou-se por uma apresentação das 28 perguntas, elaboradas na etapa anterior, para 15 integrantes da DE/HU/UFSC (enfermeiras, técnicas e auxiliares de enfermagem). Solicitou-se a classificação de 15 questões, por ordem de importância, para serem contempladas na cartilha.

A verificação dos resultados, etapa final, contou com a análise da classificação anterior e a definição das mensagens que seriam transmitidas aos profissionais de saúde. Esta verificação resultou na elaboração da cartilha, através do formato de perguntas e respostas, observando as seguintes premissas: linguagem sucinta, introdução de novos termos, adequação ao nível técnico e intelectual do público-alvo.13 Ainda, nesta etapa, procedeu-se à validação da primeira versão da cartilha por outros 15 representantes das categorias que formam o público-alvo, e de dois especialistas da área de vacinas, com incorporação das sugestões oferecidas relativas à linguagem, diagramação e precisão das informações.

Em seguida, nova validação foi realizada, através de Oficinas de sensibilização sobre a Gripe/Influenza. Estas oficinas foram realizadas em três momentos distintos e tiveram como participantes 15 servidores efetivos de enfermagem da DE/HU/UFSC. A seleção dos participantes de todas as etapas, exceto dos especialistas, foi aleatória, a partir de uma listagem dos servidores, fornecida pelo Departamento Auxiliar de Pessoal do HU e, anteriormente, utilizada na Campanha de vacinação contra Influenza, no ano de 2010, em que foram identificados servidores lotados em áreas críticas e não críticas do hospital, vacinados e não vacinados, dentro do espaço do HU/UFSC. A técnica desenvolvida durante as oficinas incluiu reflexão sobre o tema, leitura crítica da versão preliminar da cartilha, e preenchimento individual de um impresso com duas colunas, sendo que na da esquerda deveriam escrever o que percebiam de positivo na cartilha e, na da direita, o que poderia melhorar ou não deveria constar. Ao final de cada oficina, solicitou-se o compartilhar das reflexões individuais com o grupo, com vistas a novas análises e reflexões a partir das reflexões realizadas individualmente.

Após as validações, com o apoio da DE e Direção Geral do HU/UFSC foi realizada a impressão e distribuição da versão final do instrumento educativo, bem como sua disponibilização por meio eletrônico, através da internet, no site www.hu.ufsc.br, por ocasião da Campanha de vacinação do Influenza, de 2011. Por facilidade de divulgação no sistema de informação, foi também colocada nos sites http://www.gepades.ufsc.br, http://www.pen.ufsc.br, Secretaria Municipal de Saúde de Florianópolis-Epidemiológicas http://epidemiologicasfloripa.snappages.com/inicio.htm, sendo acessado pelo sistema de busca no Google em http://issuu.com/rodrigo_gv20/docs/cartilha_2011_-_versao_da_internet.

Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos (CEPSH) da UFSC, sob parecer n. 723, em 26/04/2010.

RESULTADOS

Os resultados encontrados foram descritos e analisados sob duas perspectivas: a do processo dialógico da construção do instrumento educativo e a de sua materialização para consulta.

Dialogicidade gerando conhecimento: da idealização à concepção do produto educativo

A formulação das perguntas se deu a partir de revisão da literatura nacional e internacional a respeito do tema, acrescidos dos questionamentos informais feitos pelos servidores durante a Campanha da Influenza/Gripe 2010.

Do total de 28 perguntas prévias apresentadas aos integrantes da Diretoria de Enfermagem, foram classificadas 15 questões, por ordem de importância. A questão que recebeu maior destaque foi: a vacina contra a Influenza H1N1 é "nova" ou "experimental"? Seguida das perguntas: existe diferença entre Influenza Sazonal (gripe comum) e Influenza A (H1N1)?; e A vacina contra o vírus Influenza A (H1N1) disponível no Brasil é constituída de vírus vivo atenuado ou inativado?

Foram classificadas, em sequência, questões referentes à existência de recomendações para evitar surtos de gripe nas instituições de saúde, simultaneidade de vacinação e tempo de proteção da vacina. Também foram identificados como relevantes os questionamentos sobre: o que é Influenza A (H1N1), sua transmissão, período de incubação, medidas de prevenção, relação com doença crônica e a vacinação do profissional da saúde. Perguntas relacionadas à resistência do vírus no ambiente, relação com a gravidez e amamentação, época de vacinação e eventos adversos seguem em importância as questões anteriores. Embora importantes, questões consideradas, por ordem, menos relevantes, finalizaram a classificação, compostas pelo significado dos termos H1N1 e adjuvante, virulência do agente, teste diagnóstico, vacinação pós-gripe, alergia, armazenamento da vacina e proteção cruzada entre as vacinas contra Influenza H1N1 e Sazonal.

Alguns participantes estabeleceram o mesmo grau de importância para perguntas diversas indicando ter pouca clareza sobre um tema com exposição intensa na mídia e que se poderia supor já de amplo domínio por parte de profissionais, que tem entre suas atribuições, orientar pessoas sobre questões de saúde.

O texto apresentado na modalidade de perguntas/respostas e chamadas foi encadeado, formando um enredo simples e acessível, a fim de promover a identificação do público-alvo com o tema proposto. As ilustrações foram pensadas como auxiliares na compreensão da mensagem, para destacar pontos relevantes e manter a atenção do leitor.

A validação desenvolvida através de oficinas de sensibilização mostrou que as sugestões para a melhoria da cartilha centralizaram-se em aspectos gráficos como tamanho da letra, cor da caixa de texto e disposição das ilustrações. Entre os enfermeiros surgiu o questionamento se a quantidade de informações não estaria excessiva, com risco de desmotivar sua leitura para pessoas com níveis mais básicos de formação. Entre os técnicos e auxiliares de enfermagem esta preocupação não surgiu. Estes profissionais avaliaram que a quantidade e a qualidade das informações estavam adequadas para auxiliar os profissionais na tomada de decisão sobre aderir ou não à vacinação contra a Gripe/Influenza.

O instrumento educativo "Influenza/Gripe - O profissional da saúde precisa saber"

Na saúde, o uso de cartilhas visando a educação do usuário é prática comum. A literatura mostra que o uso destes instrumentos na formação de cuidadores, como no caso dos bebês pré-termos, na orientação para o autocuidado dos pacientes com diabetes e câncer, apresenta bons resultados.11,14-15,18 Contudo, cartilhas voltadas para a educação do profissional de saúde não são tão comuns, fato que deve ser incrementado no processo de educação permanente em saúde e no de ensino-aprendizagem, de modo a complementar necessidades e preencher lacunas em uma perspectiva construtivista-dialética.

No HU/UFSC, a vacina contra a Influenza é oferecida gratuitamente aos seus profissionais desde o ano 2000. A partir de então, muitas estratégias vêm sendo implementadas para melhorar sua adesão, como por exemplo, equipes de vacinação móveis, horários de vacinação atingindo os três turnos de trabalho, folhetos junto ao contra-cheque, palestras, chamadas no sistema de som e cartazes.

Considerando números absolutos, é visível o aumento desta adesão: 1.394 doses distribuídas entre servidores, alunos e professores no ano 2000, e 2.271 doses em 2010. No entanto, até o ano de 2010 não havia estatística sobre a cobertura em bases percentuais por área. Feito isto, observou-se que, dos profissionais lotados na Diretoria de Enfermagem, em 2010, foram vacinados 59,9% do seu quadro de efetivos (dados ainda não publicados). Este percentual, embora esteja acima dos obtidos por outros estudos, ainda está aquém do ideal.19

A partir do resultado de menos de dois terços de profissionais imunizados por anti-influenza, foi proposta a elaboração da cartilha "Influenza/Gripe - O profissional da saúde precisa saber", observando as seguintes premissas: linguagem sucinta, introdução de novos termos e adequação técnica ao público-alvo.13 Foram incorporados, também, conteúdos sobre o tema, com a chamada "Você sabia", objetivando manter a atenção do leitor, sem cansá-lo. Por fim, optou-se por apresentar o conteúdo de todas as questões inicialmente propostas, mesmo que não no formato de perguntas, para instigar o leitor a pensar sobre novas facetas do assunto. Recursos gráficos foram inseridos no corpo da cartilha, com ilustrações que auxiliassem na incorporação da mensagem e a tornasse atrativa.

A cartilha foi impressa em folha A4, com 12 páginas frente/verso, para ocupar pouco espaço e poder ser guardada junto ao profissional, para utilização em consultas rápidas e contemplar as principais informações. Diversas fontes de letras, com diferentes tamanhos foram utilizadas, visando inibir a monotonia e manter o interesse do leitor. Caixas de texto, em cores diferentes e dispostas de modo não uniforme foram introduzidas para destacar alguns aspectos sobre os quais se procurou grifar a mensagem.

Embora a cartilha tenha sido elaborada pensando no profissional de enfermagem lotado na Diretoria de Enfermagem do HU/UFSC, a Direção Geral do hospital apoiou que seu acesso se estendesse aos profissionais das demais Diretorias da instituição (Medicina, Administração e Apoio Assistencial).

A mensagem principal que essa cartilha procura transmitir é: o profissional do HU/UFSC, ao se vacinar contra Influenza, estará se protegendo, protegendo sua família, protegendo os pacientes sob seus cuidados e a comunidade como um todo. Como mensagens secundárias: a Gripe/Influenza é uma doença que pode se tornar séria e a vacina para preveni-la é segura e efetiva.

Quanto aos aspectos positivos, houve consenso sobre a validade e aplicabilidade da ideia, configurando um instrumento educativo simples e objetivo, de fácil leitura e entendimento, e que mostra de modo claro a importância da vacina e da vacinação dos profissionais de enfermagem. Além disso, observaram que sua distribuição para os servidores mostraria o interesse da instituição por seus profissionais. Por fim, há expectativa de que seu uso poderá auxiliar na melhoria da adesão a esta prática.

Considerando ser esta a primeira versão da cartilha, entende-se que ela poderá e deverá sofrer revisões progressivas, com incorporação de futuras sugestões que possa receber.

DISCUSSÃO

O construtivismo, como método de investigação, remete ao princípio interacionista no qual o conhecimento não é relativo somente ao objeto e nem à razão, mas decorre da interação do sujeito e do objeto, com destaque do sujeito como produtor do conhecimento. É um processo que envolve o estimular e o compartilhar de ideias, que possibilita um pensar e agir coletivo capaz de construir novas sequências mentais, que podem ser acrescidas aos valores que cada um possui, ou mesmo modificá-los. Este método de pesquisa apresenta-se como um sistema dinâmico de aprender coletivamente, utilizando como instrumento a discussão, a reflexão dialógica, modificando o modelo mental dos sujeitos e construindo novos modos de pensar e agir. É um procedimento construído com um esforço criativo que pode fortalecer o relacionamento inter e intragrupo e impulsionar a remodelação da estrutura ou organização da instituição, em se tratando de estudos em cenários organizacionais.16 Gerar conhecimento centrado na problemática vivida pelos sujeitos, atores integrantes desse mundo vivido, nos remete a reconhecer a importância do pensar e agir no seu mundo real.

Em se tratando de doença infectocontagiosa, o conhecimento, principalmente, das formas de prevenção, é primordial para o cuidado e para os sujeitos que vivem e convivem com essa problemática. É interessante também lembrar que a saúde do profissional que cuida está diretamente relacionada à saúde do paciente sob seus cuidados, ou seja, o profissional de enfermagem infectado, se não tomar as medidas adequadas, poderá transmitir a doença ao paciente e acarretar-lhe danos.2,19

Infelizmente, apesar de todo o cuidado que caracteristicamente tem com o paciente, este profissional não mostra ter este mesmo cuidado com sua saúde. Especificamente no caso da doença Influenza, medidas simples como a lavagem das mãos e a etiqueta da tosse, quando associadas à vacinação, mostram-se altamente eficazes como ações preventivas.3

Apesar disso, o nível mundial de cobertura vacinal dos profissionais de saúde, embora seja um dos indicadores de qualidade para programas de segurança do paciente, ainda está muito abaixo do nível de 80% necessário para proporcionar "imunidade de rebanho" visando a proteção dos pacientes suscetíveis à doença, mas que não respondem de forma efetiva à vacinação.5 Em parte, muitas vezes isto ocorre pelo desconhecimento sobre vacinação, a persistência de tabus e crenças equivocadas.6

O conhecimento gerado pela informação é um dos determinantes psicossociais que motivam a percepção de risco e atitudes de autoproteção.20 Portanto, o indivíduo que possui conhecimento sobre determinado tema, fundamentado em informações cientificas, terá mais condições de tomar uma decisão consciente dos benefícios e riscos da vacina, o que permitirá melhor promoção da sua saúde e favorecimento da sua qualidade de vida. Porém, não se pode esquecer que, para gerar conhecimento, a informação precisa ser recebida, processada e assimilada pelo indivíduo, de forma que, ao ser incorporada, gere mudança no comportamento. Para que isso aconteça, barreiras como as relacionadas a crenças individuais e coletivas, percepção de tempo disponível e nível de entendimento precisam ser removidas.21

Em busca de melhores práticas e acreditando-se que há relação positiva entre adesão à vacinação contra Influenza e educação, as instituições e organizações de saúde têm procurado desenvolver e aplicar estratégias educacionais diversas como a adoção de slogans incluídos em materiais de marketing institucionais, vídeos educativos, folhetos junto ao contracheque, e cartazes expostos em áreas comuns e cartilhas. Sempre com o objetivo de atenuar, ou mesmo eliminar, as barreiras existentes, para fazer frente a este desafio que se lhes impõe.4,7-8,12

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A enfermagem do HU/UFSC tem se preocupado em qualificar adequadamente e promover a segurança de seus profissionais. Para isso, ações educativas são uma constante no dia a dia da instituição, incluindo a preocupação com uma cobertura vacinal que proteja não só o paciente, mas também o profissional responsável pelo seu cuidado.

Neste contexto, muitas ações de caráter educativo vêm sendo realizadas através dos anos. A elaboração desta cartilha vem se somar a essas ações, buscando informar, sensibilizar, educar e motivar o profissional de enfermagem para uma mudança de comportamento em relação à vacinação, cujo aumento da adesão a níveis adequados levará a uma assistência mais segura para o paciente e proteção da saúde do profissional, sua família e comunidade.

A cartilha impressa "Influenza/Gripe - O profissional da saúde precisa saber" foi disponibilizada na página do HU/UFSC na internet por ocasião da Campanha de vacinação 2011. As estatísticas fornecidas pelo website de postagem indicou que no período de abril a setembro de 2011, a mesma foi acessada 580.374 vezes e lida por 154.473 internautas, perfazendo aproximadamente um leitor para cada quatro acessos. Estes foram identificados como provenientes de 23 países dos cinco continentes, apesar de a cartilha estar escrita no idioma português falado no Brasil.

Pretende-se que este trabalho se desdobre em novas iniciativas visando promover e valorizar o trabalhador de enfermagem e contribuir com ações educativas, não só no HU/UFSC, mas também em outras instituições que desejem trilhar o mesmo caminho.

Recebido: 26 de Janeiro de 2012

Aprovação: 04 de Outubro de 2012

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  • Correspondência:
    Raquel Heloisa Guedes Vieira
    Rua Dep. Antônio Edu Vieira, 1304/203-C
    88.040-001 - Florianópolis, SC, Brasil
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    Parte do projeto de pesquisa - Situação vacinal contra a Influenza dos profissionais de enfermagem um hospital de ensino: diagnóstico e intervenções, apresentado ao Mestrado Profissional em Gestão do Cuidado de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      01 Out 2013
    • Data do Fascículo
      Set 2013

    Histórico

    • Recebido
      26 Jan 2012
    • Aceito
      04 Out 2012
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