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Alfred Schütz: do referencial teórico-filosófico aos princípios metodológicos de pesquisa fenomenológica

Alfred Schütz: del referencial teórico- filosófico hacia los principios metodológicos de la investigación fenomenológica

Resumos

Trata-se de uma reflexão sobre o referencial teórico-filosófico da sociologia fenomenológica, apresentando princípios metodológicos de pesquisa em Alfred Schütz, entendendo-se que este referencial permite a composição completa da pesquisa fenomenológica. Cada princípio é apresentado detalhadamente, usando-se a pesquisa que originou a proposta como referência, exemplificando como foram trabalhadas suas etapas para alcançar uma atitude fenomenológica. Percebeu-se que é preciso fluir no método, adotando um fio condutor que faça com que se compreenda a proposta de pesquisa e proporcione uma visão global da mesma. A ideia de construir esses princípios foi no intuito de demonstrar o potencial de uso do referencial teórico-filosófico de Schütz como possibilidade metodológica para o alcance dos objetivos da pesquisa que os originou.

Pesquisa qualitativa; Metodologia; Enfermagem; Ciências sociais


Se trata de una reflexión sobre el referencial teórico-filosófico de la sociología fenomenológica, presentando los principios metodológicos de la investigación de Alfred Schütz, entendiendo que este referencial permite la composición completa de la investigación fenomenológica. Cada principio es presentado detalladamente usando la investigación que condujo a la propuesta como referencia, ejemplificando la forma en que fueron trabajadas las etapas para lograr una actitud fenomenológica. Se percibió que es necesario ser fluente en el método, adoptando un hilo conductor que explique la propuesta de investigación y proporcione una visión general de la misma. La idea de construir estos principios fue con el fin de demostrar el uso potencial de la utilización del referencial teórico-filosófico de Schütz como posibilidad metodológica para la consecución de los objetivos de la investigación que los originó.

Investigación cualitativa; Metodología; Enfermería; Ciencias sociales


This is a reflection on the phenomenological theoretical-philosophical referential of the sociology, presenting the research-methodological principles by Alfred Schütz, considering this because the referential outlines the path to the full composition of the phenomenological research. Each principle is presented in detail using research that led to the referential proposal. This illustrates the manner in which the steps were executed to achieve a phenomenological approach. It was noted that it is compulsory to be fluent in the method by adopting a common thread that explains the research proposal and provides an overview of it. The idea of building these principles was to demonstrate the potential of using the theoretical-philosophical referential by Schütz as a methodological possibility to achieve the objectives of the research.

Qualitative research; Methodology; Nursing; Social science


REFLEXÃO

Alfred Schütz: do referencial teórico-filosófico aos princípios metodológicos de pesquisa fenomenológica1 1 Este estudo é parte da tese - Mundo-vida de caminhoneiros: uma abordagem compreensiva para a enfermagem na perspectiva de Alfred Schütz, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PEN) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em 2010

Alfred Schütz: del referencial teórico- filosófico hacia los principios metodológicos de la investigación fenomenológica

Maria Terezinha ZeferinoI; Telma Elisa CarraroII

IDoutora em Enfermagem. Docente do Departamento de Enfermagem da UFSC. Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. E-mail: tzeferino@ccs.ufsc.br

IIDoutora em Enfermagem. Docente Aposentada do Departamento de Enfermagem e do PEN/UFSC. Florianópolis, Santa Catarina, Brasil. E-mail: telua@hotmail.com

Correspondência Correspondência: Maria Terezinha Zeferino Rua Alm. Carlos da Silveira Carneiro, 94, ap. 602 - Agronômica 88025350 , Florianópolis, SC, Brasil E-mail: tzeferino@ccs.ufsc.br

RESUMO

Trata-se de uma reflexão sobre o referencial teórico-filosófico da sociologia fenomenológica, apresentando princípios metodológicos de pesquisa em Alfred Schütz, entendendo-se que este referencial permite a composição completa da pesquisa fenomenológica. Cada princípio é apresentado detalhadamente, usando-se a pesquisa que originou a proposta como referência, exemplificando como foram trabalhadas suas etapas para alcançar uma atitude fenomenológica. Percebeu-se que é preciso fluir no método, adotando um fio condutor que faça com que se compreenda a proposta de pesquisa e proporcione uma visão global da mesma. A ideia de construir esses princípios foi no intuito de demonstrar o potencial de uso do referencial teórico-filosófico de Schütz como possibilidade metodológica para o alcance dos objetivos da pesquisa que os originou.

Descritores: Pesquisa qualitativa. Metodologia. Enfermagem. Ciências sociais.

RESUMEN

Se trata de una reflexión sobre el referencial teórico-filosófico de la sociología fenomenológica, presentando los principios metodológicos de la investigación de Alfred Schütz, entendiendo que este referencial permite la composición completa de la investigación fenomenológica. Cada principio es presentado detalladamente usando la investigación que condujo a la propuesta como referencia, ejemplificando la forma en que fueron trabajadas las etapas para lograr una actitud fenomenológica. Se percibió que es necesario ser fluente en el método, adoptando un hilo conductor que explique la propuesta de investigación y proporcione una visión general de la misma. La idea de construir estos principios fue con el fin de demostrar el uso potencial de la utilización del referencial teórico-filosófico de Schütz como posibilidad metodológica para la consecución de los objetivos de la investigación que los originó.

Descriptores: Investigación cualitativa. Metodología. Enfermería. Ciencias sociales.

INTRODUÇÃO

As cogitações teóricas são ações desenvolvidas segundo um projeto elaborado, dentro de uma hierarquia de planos estabelecidos pela decisão de perseguir e desenvolver atividades científicas com o propósito de solucionar a situação em questão. Sendo assim, o pensamento teórico não afeta o mundo exterior estando sujeito à revisão permanente, podendo ser modificado sem gerar qualquer mudança no mundo real, o pensador teórico está interessado em questões e soluções válidas em si próprios. Pois o seu objetivo não é dominar o mundo, mas observá-lo e, se possível, compreendê-lo.1-2

Pensador austríaco, Alfred Schütz (1899-1959) buscou na metodologia das ciências sociais e na fenomenologia suporte para atingir seu propósito de estabelecer os fundamentos de uma sociologia fenomenológica compreensiva, elaborando assim sua teoria, a qual propõe a análise das relações sociais mútuas que envolvem pessoas. Destaca as características próprias de cada relação, cujas ações ocorrem de maneira consciente, pois são intencionais, colocando em discussão a relação entre a consciência e a ação, tendo um significado para o sujeito.

Sendo assim, os homens agem em função de motivações dirigidas a objetivos, que apontam para o futuro, denominadas de "motivos para", e as razões para as suas ações estão enraizadas em experiências do passado, na personalidade que desenvolveu durante sua vida, chamadas de "motivos porque".1-2

Entende-se que nesse referencial a realidade é construída pelos homens para si próprios, a partir de suas experiências intersubjetivas. O autor, com suas ideias, fundamenta uma sociologia do conhecimento, que parte do senso comum da vida cotidiana e dos processos cognitivos através dos quais é estabelecida e aplicada, tratando a intersubjetividade como um dado intramundano sobre o qual se ergue qualquer atividade do eu de relação e da própria ciência social. Com isso a "fenomenologia assume outro olhar, onde o humano passa a ser considerado não somente como um uno, mas como um ser social".3:95

Para sustentar suas ideias, Schütz se apropria dos conceitos husserlianos de intencionalidade, intersubjetividade e Lebenswelt (mundo vivido), além dos conceitos weberianos de ação, ação social e compreensão, tendo, então, a tarefa de esclarecer o sentido objetivo e o sentido subjetivo da ação. Entendeu que a resolução deste problema requer uma reflexão filosófica para a elaboração de uma teoria da ação humana e de sua compreensão, e buscou na fenomenologia as suas respostas. Dessa forma, Schütz fundamentou a sua teoria e levou a fenomenologia para o mundo da vida onde o homem se encontra situado.1-2 Assim, debruça-se sobre o mundo da vida social, recorrendo para tal a um método de análise descritiva da constituição da experiência cotidiana. Apesar de concordarmos com a influência destes autores nas ideias de Schütz, neste trabalho optamos por utilizar somente os conceitos propostos por Alfred Schütz.

Salienta que, para compreender-se o mundo, ou seja, a realidade social, deve-se apreender as suas tipificações, designadas como construtos de primeiro grau, que surgem das falas dos sujeitos. Assim, a função das Ciências Sociais é a elaboração dos construtos de segundo grau, a partir dos de primeiro, construindo, dessa forma, os tipos vividos, sendo que estes esquemas interpretativos do mundo social devem estar de acordo com a compreensão do mundo científico e do senso comum, para serem válidos cientificamente.1-2

Assim, ao desenvolver uma investigação fenomenológica4 fundamentada no referencial teórico filosófico de Alfred Schütz, buscou-se estudos que apontassem operacionalizações metodológicas embasadas em suas ideias, no entanto, não foram encontrados. Os trabalhos localizados não utilizam Schütz, mas sim autores clássicos, nacionais e internacionais, experts em métodos de análise, para direcionar a análise compreensiva de suas pesquisas. Este fato gerou inquietudes. Por quê motivos isso ocorre? Por quê não se utiliza o próprio Schütz?

Por se acreditar que Schütz deixa o caminho para a composição completa da pesquisa, ou seja, da formulação das inquietações à análise compreensiva das descrições experienciais, surgiu o objetivo deste manuscrito: refletir sobre o referencial teórico-filosófico da sociologia fenomenológica, apresentando princípios metodológicos de pesquisa em Alfred Schütz. Para balizar esta reflexão utilizaremos como referência a pesquisa4 que originou estes princípios.

APRESENTANDO OS PRINCÍPIOS METODOLÓGICOS DE PESQUISA FENOMENOLÓGICA EM SCHÜTZ

Para iniciar a apresentação dos resultados, cabe trazer alguns estudos selecionados que utilizaram o referencial teórico-filosófico de Alfred Schütz, como o que abordou profissionais que atuam em um Centro de Atenção Psicossocial, com o objetivo de desvelar o significado do o trabalho de uma equipe de saúde mental.5 Outro estudo tratou do cotidiano de usuários de uma instituição de saúde.6 Já o trabalho referência4 deste manuscrito teve como sujeitos significativos, caminhoneiros de longa distância, com a finalidade de compreender o seu mundo-vida. Pesquisas compreensivas utilizando Schütz vêm sendo efetivadas, configurando, assim, a expressão da importância de se apresentar estes princípios metodológicos, com o intuito de contribuir para o avanço do conhecimento e a comunidade científica que deseja pesquisar com este referencial.

Falar de ciência, referindo-se a Schütz, significa falar da fenomenologia sociológica compreensiva como método de pesquisa e, para tal, as considerações sobre aspectos metodológicos começam com a descrição da atitude desinteressada do observador, fundamental no estilo científico de investigação. A isso se segue um estudo da formação das construções sociológicas de acordo com as regras de relevância e seus postulados* * Os postulados são princípios a serem adotados para construção de um modelo científico da ação humana, que devem ser levados em conta na utilização do método em Ciências Sociais. 7 : consistência lógica, interpretação subjetiva e adequação. Vem, então, a discussão das razões e funções da adaptação à sociologia de modelos de ação racional.1-2

Salienta-se que os princípios aqui apresentados estão entrelaçados entre si, e o trabalho não se dá em etapas estanques. Desde o início necessita-se pensar em todas as etapas para nortear a caminhada, pois o método fenomenológico é recorrente. Somente organizou-se em etapas para oferecer uma ordem didática de apresentação.

Primeiro princípio metodológico de pesquisa fenomenológica em Schütz

Atitude desinteressada do observador científico. Em relação ao mundo-vida, o pesquisador é um mero observador desinteressado do mundo social. Não está envolvido na situação observada, na qual não tem interesse prático, mas apenas cognitivo, pois não é o palco das suas atividades, mas tão somente objeto de sua contemplação. Ao adotar esta atitude, o cientista social se desliga de sua situação biográfica dentro do mundo social e passa a adotar uma atitude científica.1-2

Por atitude desinteressada do observador científico entende-se a neutralidade do pesquisador, ou seja, a passagem de uma atitude natural para uma atitude científica, modificando a sua zona de relevância, de interesse na vida prática do senso comum para o interesse na apreensão cognitiva das vivências, levando em consideração o corpo da sua ciência. Tendo como passo inicial colocar-se em epoché, num exercício de olhar o fenômeno suspendendo os seus pressupostos que levam em conta todo o seu conhecimento adquirido e deixando-se guiar pelo conjunto metodológico adotado. Ele desloca a sua atenção para as suas inquietações, ou seja, a sua questão em estudo, delimitando o seu campo de atuação.

Na pesquisa de referência4 ao adotar a atitude desinteressada de observador, as pré-reflexões e inquietações que surgiram foram: o que sabem os caminhoneiros acerca dos efeitos das anfetaminas no organismo? A necessidade de trabalho dos caminhoneiros para o seu sustento e de sua família é a responsável pelo uso? Há, por parte dos caminhoneiros, uma pré-disposição ao uso de rebites? Suscitaram novas questões: existem outras formas de fazer longos percursos ao volante sem utilizar rebites? Quais? Por que e com que intenção?4

Segundo princípio metodológico de pesquisa fenomenológica em Schütz

Regras de relevância sociológica. Devem ser levadas em consideração para determinação da questão em estudo, pela busca desinteressada de desvelamentos, de acordo com regras preestabelecidas do método científico. O cientista ingressa num campo de conhecimento previamente organizado, o corpo de sua ciência. O qual se traduz na ideia de que a questão delimitada por ele cria um esquema de referências e os limites do domínio dentro dos quais os tipos ideais relevantes se formam.1-2

A relevância sociológica considera que a situação em estudo tem exatamente a mesma significância para a atividade da ciência como os interesses práticos para as atividades do trabalho cotidiano. É preciso entender que o conceito de "tipo" não é independente, mas deve indicar o código de referência dentro do qual esse tipo ideal pode ser utilizado, ou seja, a situação em função da qual esse tipo foi construído.1-2

O sistema de relevâncias do cientista social é diferente do sistema de relevâncias do homem da vida cotidiana, pois o cientista social toma como relevante a sua questão a ser estudada e o homem, na atitude natural, toma como relevantes os seus problemas da vida cotidiana. Então, o cientista quer compreender cognitivamente e o homem na atitude natural quer resolver os seus problemas no mundo social.

Assim, o observador que trabalha no campo estabelece contato com o grupo estudado como um homem entre semelhantes, só que o sistema de relevâncias que lhe serve de código de seleção e interpretação é determinado pela atitude científica temporariamente deixada de lado para a entrada no campo, e logo a ser retomada quando inicia o trabalho.1-2

Neste princípio definem-se os limites "do que", "quem" e "onde" deve ser investigado. Do que: o assunto - fenômeno; quem: sujeitos significantes com as características que possam fornecer informações confiáveis sobre o fenômeno investigado; onde: local de acesso aos sujeitos significantes da pesquisa. Este é o momento das inquietações, questionamentos e do traçado do objetivo. Assim, delimitando o fenômeno, os sujeitos e o local de acesso, ou seja, o campo de atuação do estudo.

Na pesquisa de referência4 os limites foram: do que: ações praticadas pelo caminhoneiro de longa distância para se manter alerta por longos percursos ao volante; quem: caminhoneiros que transportam cargas perecíveis em percursos de longa distância; onde: Central de Abastecimento de Santa Catarina. Em razão das inquietações, da definição do fenômeno e dos sujeitos significantes, surgiram os questionamentos: como é a vida do caminhoneiro de longo percurso? Que ações o caminhoneiro pratica para se manter alerta durante os longos percursos ao volante? Quais os significados para os caminhoneiros das suas ações praticadas para se manterem alertas por longos percursos ao volante? Dos questionamentos, o objetivo: compreender o mundo-vida de caminhoneiros de longa distância que praticam ações para se manterem alertas por longos percursos ao volante, segundo o referencial teórico filosófico de Alfred Schütz. Em razão dos questionamentos e dos objetivos formulou-se as questões norteadoras para a entrevista: descreva a sua vida de caminhoneiro; que ações você pratica para se manter alerta durante os longos percursos ao volante?; qual o significado dessas ações para você?

Terceiro princípio metodológico de pesquisa fenomenológica em Schütz

Postulado de coerência lógica. "O sistema de construtos típicos designados pelo cientista necessita ser estabelecido com o mais alto grau de clareza e nitidez da estrutura conceitual em pauta e precisa ser totalmente compatível com os princípios da lógica formal. O preenchimento desse postulado garante a validade objetiva dos objetos de pensamento construídos pelo cientista social, e o seu caráter estritamente lógico é um dos traços mais importantes para fazer-se distinção entre os objetos de pensamento científico e os objetos de pensamento construídos pelo pensamento típico na vida diária, os quais os primeiros devem substituir".7:67

Este postulado traz a lógica formal da pesquisa, entendendo que em estudos de epistemologia positivista são criadas hipóteses e levadas a campo com a intenção de confirmar ou refutar. Já, na fenomenologia, o conhecimento é construído a partir do senso comum, do construto de primeiro grau já vivenciado e experienciado e, com isso, estandardizado na tipificação do senso comum. O pesquisador somente organiza os dados subjetivos e, para tanto, tem como objeto descrever o vivido, trazendo-o para a ordem das significações. E ele utiliza a entrevista como instrumento para a obtenção das descrições experienciais vividas.

Na abordagem fenomenológica a principal fonte de dados é o diálogo entre pesquisador e informante, sendo que o pesquisador provoca o informante a descrever as experiências vividas, procurando entrar no mundo dele para ter acesso às suas experiências.8

Num estudo fenomenológico as reduções são ferramentas metodológicas e as raízes do conhecimento devem ser encontradas nas coisas, nos fenômenos, no senso comum, ao qual todos os nossos conceitos são referenciados. Então, se busca na consciência do sujeito que conhece, para que os fenômenos apareçam. Para tanto, o pesquisador se vale da subjetividade dos sujeitos. Se a raiz do conhecimento está no sujeito do senso comum, é para ele que deve voltar-se, iniciando pelos preceitos éticos da pesquisa com o encaminhamento do projeto ao comitê de ética. A pesquisa de referência4 teve seu projeto aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com Seres Humanos da UFSC em 14 de dezembro de 2009, sob o processo 551 FR 307654, com a expedição do certificado de n. 551, e todos os sujeitos significantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, atendendo, assim, aos preceitos éticos da pesquisa. A aprovação do comitê desencadeia a operacionalização da pesquisa como segue.

Ir aos sujeitos: ambientação e encontro informal; Entrevistas: obtenção das descrições experienciais com áudio gravação das falas, ou seja, descrição do fenômeno pelo próprio sujeito que o vivenciou ou vivencia, captando a intencionalidade com base em questões norteadoras, além de questões empáticas. A obtenção das descrições deve ser realizada até quando emergirem repetições de ideias nas falas, havendo suficiência de significado para o alcance do objetivo proposto, isto é, para apreender o típico da ação. Para este autor as falas significam construtos de primeiro nível.7

Transcrições: ouvir as gravações repetidas vezes para que não fiquem dúvidas e que toda a fala seja transcrita na íntegra, utilizando o próprio vocabulário dos atores/sujeitos da pesquisa para a formação dos textos. Organização sistemática das falas: Inicialmente, organizar os textos por sujeito, de acordo com as questões norteadoras; com isso se consegue apreender o significado individual. Após as repetidas leituras, agrupar as falas de acordo com as questões norteadoras, facilitando assim a apreensão global do texto. Além das descrições experienciais, juntar neste material as anotações de campo que foram sendo acumuladas, no sentido de facilitar a compreensão dos significados das ações praticadas pelos sujeitos.

Desvelamento das estruturas de significados subjetivos da ação: ler repetidas vezes até que comecem a ser desveladas as estruturas de significados subjetivos da ação, ou seja, aquilo que aparece nas falas como respostas aos questionamentos e que é repetido nas descrições dos diversos sujeitos; Organização dos construtos de primeiro nível: é quando se consegue apreender e formar as estruturas de significados subjetivos da ação. Cabe salientar que essas estruturas já começam a ser evidenciadas a partir das repetições das falas, no momento das entrevistas.

Assim, se vai caminhando com o trabalho num movimento de desvelar e velar, pois a cada desvelamento muitos velamentos se sucedem. Nesse movimento, a situação biográfica dos atores é revelada e as estruturas das falas organizadas.

Na pesquisa de referência4 foi se fazendo as entrevistas, transcrevendo, analisando e voltando ao campo para outras entrevistas, até haver suficiência de significado para o alcance do objetivo proposto. A partir da organização sistemática das falas ouve o desvelamento das ações praticadas pelos caminhoneiros para manterem-se alertas por longos percursos ao volante, e seus significados subjetivos. Estas estruturas conduziram à organização dos construtos de primeiro nível: descrições das experiências vividas dos caminhoneiros.

Quarto princípio metodológico de pesquisa fenomenológica em Schütz

Postulado da interpretação subjetiva. "A fim de estudar ações humanas, o cientista deve perguntar que modelo de mente individual pode ser construído e que conteúdos típicos devem ser a ele atribuídos, a fim de explicar os fatos observados como resultado da atividade dessa mente, numa relação compreensível. A concordância com esse postulado garante a possibilidade de se referir todos os tipos de ação humana ou seus resultados ao significado subjetivo que tal ação ou resultados de ação tiveram para o ator".7:67

Este princípio é o ponto-chave para a análise e compreensão das ações. Enfatiza o significado primordial de considerar a situação biográfica do ator estudado, uma vez que os "motivos porque" só poderão ser compreendidos tendo-se conhecimento da sua história de vida, daquilo que levou este sujeito a praticar tais ações. Esses motivos estão enraizados na sua personalidade, no aprendizado que acumulou por toda a vida; só conhecendo o seu passado é que se tem a possibilidade de conhecer o tipo de mente que empreendeu tal ação.

A partir da compreensão dos significados individuais pela correspondente análise e junção em categorias, é que se pode conhecer o conjunto de conteúdos típicos capazes de descrever as intenções de tais ações, constituindo os "motivos para". Dessa forma, entende-se que a significação com que se designa uma ação é interpretada pelo ator a partir dos seus motivos "porque" e "para", e a reunião desses motivos formam as categorias das ações humanas passíveis de análise.

Os construtos científicos de segundo grau, formados de acordo com as regras de procedimento válidas para todas as ciências empíricas, são construtos objetivos típicos, idealizados e, como tais, de tipo diferente dos desenvolvidos no primeiro grau, o do pensamento do senso comum, o qual deve substituir. Os construtos são criados pelo cientista a partir das falas, ou seja, já são conhecimentos experimentados pela sociedade, pois a fenomenologia social parte do princípio de que os dados científicos já são todos preexistentes, o cientista tão somente utiliza os seus métodos para organizá-los. Em outras palavras, interpretam-se as falas, sistematizam-se nos construtos de segundo grau, sendo estes já observados nas próprias falas dos sujeitos. Diferente do cientista lógico positivista, que formula hipóteses e vai a campo para comprovar ou refutar na prática.

É por isso que um estudo fenomenológico não formula hipóteses nem tese, pois a tese é construída durante o trabalho, partindo-se das falas, elaborando-se os construtos e chegando à tese geral do trabalho que, pelo método de Schütz, é quando se elabora o típico da ação, construindo assim o tipo vivido. Então, o que se faz é objetivar o subjetivo dos atores sociais e, para tal, se adota a atitude fenomenológica - e nesta é preciso fazer as reduções fenomenológica (epoché) e eidética.

Redução fenomenológica ou epoché: suspensão do julgamento - o cientista não duvida da existência do mundo, mas essa existência deve ser colocada entre parênteses, porque o mundo existente não é o tema verdadeiro da fenomenologia e sim a forma pela qual o conhecimento do mundo se revela. Pois, a redução fenomenológica se constitui num momento em que nós devemos compreender que os cidadãos do senso comum também têm a sua epoché e, por isso, eles suspendem a dúvida, acreditando assim em tudo o que é dado como existente e verdadeiro.1-2

O pesquisador é o questionador - ele coloca em questão estas verdades existentes, para chegar à sua essência. Esta é uma maneira diferente de olhar para este momento, ou seja, pensar na epoché do senso comum, do mundo-vida e nos aproximarmos dessa construção compreendendo a forma com que ela é criada nas pessoas. E isso nos coloca em posição de pensar novamente, não de desconstruir o construído no senso comum, mas de buscar nele a nossa compreensão de mundo.

Nesse momento, a situação biográfica do cientista deve ser colocada entre parênteses, para abster-se de seus pressupostos e preconceitos. Cabe salientar que este momento de colocar-se em epoché, é um exercício mental do pesquisador essencial na sua atitude fenomenológica de conceber uma pesquisa. Entende-se que a todo o momento a situação biográfica de homem do senso comum pode falar mais alto, e corrermos o risco de procurar nos sujeitos aquilo que os nossos pressupostos predizem, dessa forma podendo deixar velados os verdadeiros desvelamentos.

Compreende-se que a fenomenologia é movimento e este se dá fazendo, então é recomendado um caminhar contínuo de fazer entrevistas, ouvir descrições, transcrever, fazer leituras dos textos, analisar, voltar às entrevistas, neste movimento de ir e vir de ser humano do senso comum e pesquisador a desvelar significados nas vivências; e assim o trabalho vai sendo construído. Mas, sempre voltar aos ensinamentos de Schütz é fundamental, pois ele ressalta que as análises vão sendo feitas mediadas pela situação biográfica do cientista, por isto o exercício mental do distanciamento se faz necessário. Cabe enfatizar que não só as análises, mas todo o permear do trabalho.

Redução eidética: na teoria são variações imaginativas do fenômeno; no estudo fenomenológico, é substituída por uma análise consciente que o pesquisador elabora a partir das unidades de significação de cada indivíduo, que já variam na sua individualidade.9 O significado das experiências, então, não é mais do que aquele código de interpretação que as vê como comportamento. Assim, também no caso do comportamento, somente o que já está feito, terminado, tem significado. Só a experiência percebida reflexivamente na forma de atividade espontânea tem significado.1-2

Com isso, para compreender o fenômeno deve-se captar a sua essência, deixando emergir o significado. As essências são estruturas de sentido vistas por diferentes indivíduos nas mesmas ações; representam as estruturas básicas de entendimento comum de qualquer fenômeno, aquilo sem o que o próprio fenômeno não pode ser pensado. A consciência dá sentido às coisas e o sentido se interpreta.

Para isso, procede-se ao recorte das falas que representam as estruturas de significados, agrupando-se os trechos que expressam motivos em comum referentes à ação. Começa-se a formular as categorias de análise separando em: motivos porque e motivos para; Agrupamento dos trechos das falas que expressam os "motivos porque" (razão) da prática daquela determinada ação; Agrupamento dos trechos das falas que expressam os "motivos para" (intencionalidade) da prática daquela determinada ação.

Esse movimento indica a construção das categorias da ação humana que comportam as ações dos sujeitos em relação ao significado do fenômeno, revelando a tipicidade das vivências, conforme o referencial de Alfred Schütz. Cabe salientar que categoria da ação humana é a denominação utilizada por este autor, o qual enfatiza que a compreensão dos fenômenos sociais deve ser pelo código das motivações humanas, dos fins e meios humanos, do planejamento humano, ou seja, das categorias da ação humana a partir das falas dos sujeitos.1-2

Assim, ao captar aquilo que aparece como aspecto global, comum nos depoimentos, identifica-se os principais aspectos significativos da experiência de cada sujeito, de modo a atingir significações pertinentes à pesquisa realizada. Porém salienta-se que a identificação de um tema, ou seja, o aspecto significativo, se baseia na sua importância e sua centralidade, e não na frequência com que ocorre. Sendo assim, se extrai o tema a partir de um conjunto de essências que caracterizam a estrutura do fenômeno, a sua categorização.10

Na pesquisa de referência,4 a partir dos construtos de primeiro nível, foram realizadas as reduções, fenomenológica e eidética, culminando com a formulação das categorias de análise, separando as falas em: "motivos porque" (razão) e "motivos para" (intencionalidade), de acordo com o grupo de ações praticadas pelos caminhoneiros. Segue exemplo abaixo:

- motivos porque - categoria da ação humana: calcular a viagem, programar, não perder tempo, não parar à toa, dormir um pouco e descansar, como razões de não usar rebite.

- motivos para - categoria da ação humana: calcular a viagem, programar, não perder tempo, não parar à toa, descansar, com a intenção de parar para dormir durante o percurso.

Quinto princípio metodológico de pesquisa fenomenológica em Schütz

Postulado da adequação. "Num modelo científico da ação humana, cada termo deve ser construído de tal forma que um ato humano, desempenhado no mundo da vida por um ator individual, da maneira indicada pelo construto típico, seja compreensível para o próprio ator, bem como para os seus semelhantes, em termos da interpretação prática da vida cotidiana. Esse postulado garante a consistência dos construtos do cientista social com relação aos construtos da experiência prática da realidade social".7:68

A adequação dos dados à realidade, no sentido de que as ações possam ser compreendidas tanto pelo ator, pelos seus semelhantes, como pelo pesquisador, é o ponto central deste postulado. A linguagem deve ser compreendida pelo mundo científico e pelo mundo-vida no senso comum. Este postulado requer que a construção típica seja compatível com a totalidade tanto de nossa vida diária, quanto de nossa experiência científica.

Para tanto, o observador recorre ao estoque de conhecimentos disponíveis, nos quais ele buscará encontrar o motivo típico que lhe permitiu compreender a ação típica que ele observa. A descrição do mundo social, que está na possibilidade da nossa experiência direta, diz respeito à situação face a face, ao estar voltado para um tu - pesquisador-sujeito, e ao estar numa relação que se desenvolve entre nós - pesquisadores-sujeitos.

Para colocar este postulado em prática, as descrições dos sujeitos devem ser interpretadas e, tão logo elaborados os construtos de segundo grau, se deve voltar aos sujeitos, no sentido de conciliar os termos para sua compreensão, dos seus colegas de grupo e do próprio pesquisador. É possível considerar este como um passo final da pesquisa que pode ser obtido retornando-se a cada participante, perguntando-lhe sobre se as construções de segundo grau são compatíveis com as suas falas. Assim, pode-se ter clareza de que se captou as essências, qualificando o método.

Na pesquisa de referência4 voltou-se aos sujeitos e novas conversas se sucederam, mostrando a eles as categorias da ação humana que, juntas, formam o típico da ação, verificando se o que estava posto era compatível com o entendimento de cada um e do grupo de caminhoneiros.

Sexto princípio metodológico de pesquisa fenomenológica em Schütz

Racionalidade lógica científica. Considera que a linha de ação racional e os tipos de pessoas devem ser construídos de tal forma, que um ator no mundo-vida desempenharia a ação tipificada, se tivesse um conhecimento perfeitamente claro e nítido de todos os elementos,7 mas aqui se fala apenas daqueles elementos assumidos pelo cientista social como sendo relevantes para essa ação; e ele tenderia a usar os meios mais apropriados, supostamente à sua disposição, para alcançar os fins definidos pelo próprio construto. A racionalidade científica é vista na formação do "tipo ideal" ou típico da ação, no chamado "boneco típico" criado pelo cientista como recurso para elaborar o construto de segundo grau, ou seja, o tipo vivido.

A ação racional pode ser caracterizada pela possibilidade de construir padrões de interação social, tal como os papéis sociais. O comportamento racional de um tipo de pessoa pode ser previsível dentro dos elementos tipificados no construto, portanto pode ser utilizado para constatar o comportamento "desviado" que, no mundo real, são elementos não tipificados. Então, por meio da variação de alguns dos elementos podem ser construídos e comparados, uns com os outros, diversos modelos de ações racionais com vistas à solução da mesma situação.1-2

Admite-se que, para compreender os fenômenos sociais, é necessário apreendê-los pelo código das motivações humanas, dos fins e meios, do planejamento, enfim, das categorias da ação humana. O cientista social precisa perguntar sempre o que acontece na mente de um ator individual cujo ato resultou no fenômeno em questão.

Na racionalidade lógica científica é o momento de compreensão dos motivos das ações dos atores e de sua análise por meio do referencial de Schütz. A análise visa compreender o significado das falas/categorias e consegue-se implementá-las analisando as informações na busca do significado, ou seja, estudando-se as categorias. A interpretação é uma espécie de síntese, no sentido de compreensão para formular o típico da ação e compreender o tipo vivido.

Pelas descrições experienciais dos sujeitos, vão sendo captados os aspectos desse fenômeno mais enfatizados por eles, considerando que estes sejam os de maior significado. Através de um processo de intuição, vai sendo construído um tipo ideal desse fenômeno, sendo este uma ferramenta de análise do pesquisador para elaborar o construto de segundo grau. Este é um processo de interpretação procurando agregar neste tipo ideal os aspectos captados. São elementos da experiência e da vivência subjetiva dos atores e que se procura interpretar para a compreensão do tipo vivido.

Para a compreensão do típico da ação por meio da análise interpretativa das categorias da ação humana, este autor enfatiza que a construção das categorias vai se dando sempre mediada pela situação biográfica do pesquisador.1-2 Nesse sentido, a intuição e a subjetividade têm um papel fundamental no processo de localização desse tipo de informação, além do quadro teórico no qual o estudo se situa.

Assim, a partir das falas, construtos de primeiro nível, elaboram-se as categorias da ação humana e a partir destas o típico da ação, ou seja, os construtos de segundo nível, que possibilitam a constituição da tipologia do vivido dos sujeitos, de modo que esse vivido vai se mostrando em seus aspectos mais relevantes. Eles traduzirão o ponto de vista, o modo de agir dos sujeitos, para que os motivos das suas ações possam ser compreendidos e, dessa forma, compreende-se o fenômeno.

Apresenta-se, então, o tipo vivido que é um construto elaborado pela reflexão sobre a vivência do sentido comum que se dá em um determinado contexto, no cotidiano do mundo social, significando uma elaboração de segundo nível. Considera que a concepção básica de todo o conhecimento do mundo, tanto do senso comum, como no pensamento científico, envolve construtos, que ele identifica como um conjunto de abstrações, generalizações, formalizações e idealizações relacionadas a um determinado nível de pensar.7 Todos os fatos são, em princípio, selecionados a partir de um contexto universal pelas atividades de nossa mente, e, como tal, são sempre fatos interpretados.

Após a construção do tipo vivido, passa-se à análise compreensiva, retornando ao referencial teórico-filosófico de Schütz, e procedendo a uma comparação dos achados com os seus ensinamentos. Pode-se ainda buscar outros autores que estudaram a mesma temática, na intenção de verificar a evolução do conhecimento a partir de pesquisas na área.

Compreende-se que a condução da pesquisa traz em si a questão da subjetividade, pois tanto o sujeito como o fenômeno estão no mundo-vida com outros sujeitos. Os sujeitos que participam em experiências vividas em comum partilham compreensões, interpretações, comunicações, estabelecendo assim uma intersubjetividade. Para a fenomenologia, nada é objetivo antes de ter sido subjetivo, ou seja, é a subjetividade que permite alcançar graus de objetividade.11

Na pesquisa de referência4 foram desveladas as razões (porque) e as intenções (para que) dos caminhoneiros ao praticarem determinadas ações para manterem-se alertas por longos percursos ao volante, apontando o típico da ação, isto não é uma tipificação individual, mas do tipo vivido objetivo - o caminhoneiro de longa distância que pratica ações para se manter alerta por longos percursos ao volante.

Ao unir as razões e intenções formou-se o caminhoneiro típico: "aquele que calcula o tempo de viagem, programa com antecedência, não perde tempo durante o percurso, não para à toa, somente faz as paradas necessárias, dorme um pouco quando está com sono e descansa quando se sente fatigado; e, para isso, ele planeja a sua viagem antes de sair de casa, com a intenção de parar para dormir durante o percurso. Porém, se acontecer algum imprevisto e isso fizer com que ele se atrase no percurso, sendo assim terá que aumentar as suas horas de volante por mais tempo do que o planejado. Ele então para, lava a 'cara' e toma café, e continua a viagem. Se o sono persistir, para, lava a cara, toma Coca-Cola, ou toma café com Coca-Cola, e prossegue. Se essas ações não forem eficientes, ele para e toma banho para se manter alerta, sem o uso de rebites. Mas, se praticar todas essas ações e, mesmo assim, o sono chegar, e ele precisar continuar a viagem, recorre ao uso do rebite para se manter alerta, no intuito de prevenir acidentes de trânsito e conseguir cumprir o compromisso assumido, ou seja, entregar a carga no horário e, se desejado, adiantar a viagem para chegar em casa mais cedo, inclusive para rever a família".4:108

Compreender o tipo vivido caminhoneiro de longa distância e o significado das ações que pratica para se manter alerta durante os longos percursos ao volante constituiu-se em um constante movimento de desvelar, velar, desvelar à luz do referencial teórico-filosófico de Alfred Schütz. Assim, colocou-se em prática todos os princípios aqui descritos propostos como uma metodologia de pesquisa fenomenológica para alcançar o objetivo da tese e compreender a operacionalização da pesquisa.

TECENDO CONSIDERAÇÕES

É importante destacar que este movimento de reflexão e elaboração de princípios metodológicos de pesquisa, pautados nos postulados de Alfred Schütz, foi um verdadeiro estudo fenomenológico, pois em alguns momentos a forma de caminhar parecia clara, desvelada. Em outros ela se velava e se tornava difícil o entendimento. Foram necessárias muitas aproximações e um mergulho profundo em seus escritos, além dos escritos de outros que se aprofundaram em sua obra, com o intuito de esclarecê-la, para conseguir encadear os princípios para concluir esta proposta.

Os escritos desse autor como teoria parecem claros, mas quando se buscou o inter-relacionamento dos seus conceitos e a apropriação dos seus postulados, a tarefa se tornou profunda e em alguns momentos deveras difícil, mas ao mesmo tempo desafiadora, pois reflete pensamentos cheios de nuances e pormenores que, uma vez despercebidos, podem trazer prejuízos ao raciocínio científico do estudo.

Além de apresentar os princípios metodológicos de pesquisa fenomenológica em Schütz, procurou-se descrever como foram trabalhadas, na pesquisa que os originou, as etapas desta proposta com a intenção de possibilitar ao leitor melhor compreensão da sua operacionalização. Acredita-se que esta exemplificação ao longo do texto contribuirá para que o pesquisador venha a alcançar uma atitude fenomenológica compreensiva.

Durante a elaboração e aplicação da proposta metodológica aqui apresentada, percebeu-se que é preciso fluir no método, que não se deve seguir receitas, mas sim adotar um fio condutor que faça com que se compreenda a proposta de pesquisa fenomenológica e proporcione uma visão global da mesma. A ideia de construir esses princípios foi no intuito de demonstrar o potencial de uso do referencial teórico filosófico de Schütz como possibilidade metodológica para o alcance dos objetivos da pesquisa que os originou.

Deixa-se claro que os princípios aqui descritos se referem ao nosso entendimento do referencial, mas que muito ainda há por fazer para desvelar novas possibilidades da sua obra. Considera-se que operacionalizar o referencial teórico-filosófico de Schütz traz um avanço para o conhecimento, apontando possibilidades para embasar pesquisas fenomenológicas na área da saúde e afins.

Recebido: 13 de Junho de 2012

Aprovação: 19 de Março de 2013

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  • 2. Schütz A. Sobre fenomenologia e relações sociais. Petrópolis (RJ): Vozes; 2012.
  • 3. Carraro TE, Kempfer SS, Sebold LF, Oliveira MFV, Zeferino MT, Ramos DJS, et al. Cuidado de Saúde: uma aproximação teórico-filosófica com a fenomenologia. Cultura de los Cuidados. 2011 Jan-Abr; 29(1):89-96.
  • 4. Zeferino MT. Mundo-vida de caminhoneiros: uma abordagem compreensiva para a enfermagem na perspectiva de Alfred Schütz [tese]. Florianópolis (SC): Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós-Graduação em Enfermagem; 2010.
  • 5. Camatta M, Schneider JF. O trabalho da equipe de um centro de atenção psicossocial na perspectiva da família. Rev Esc Enferm USP. 2009 Jun; 43(2):393-400.
  • 6. Schneider JF, Camatta MW, Nasi C. O trabalho em um centro de atenção psicossocial: uma análise sociológica fenomenológica em Alfred Schütz. Rev Gaúcha Enferm. 2007 Dez; 28(4):520-6.
  • 7. Schütz A. El problema de la realidad social. Escritos I. 2Ş ed. Buenos Aires (AR): Amorrortu; 2003.
  • 8. Terra, MG, Silva, LC, Camponogara, S, Santos, EAK, Souza, AIJ, Erdmann, AL. Na trilha da fenomenologia: um caminho para a pesquisa em enfermagem. Texto Contexto Enfermagem. 2006 Out-Dez; 15(4):672-8.
  • 9. Moreira DA. O método fenomenológico na pesquisa. São Paulo (SP): Pioneira Thomson Learning; 2004.
  • 10. Sanders P. Phenomenology: a new way of viewing organizational research. AMR. 1982 Jul; 7(3):353-60.
  • 11. Correa AK. Fenomenologia: uma alternativa para pesquisa em enfermagem. Rev Latino-Am Enfermagem. 1997 Jan; 5(1):83-8.
  • Correspondência:
    Maria Terezinha Zeferino
    Rua Alm. Carlos da Silveira Carneiro, 94, ap. 602 - Agronômica
    88025350 , Florianópolis, SC, Brasil
    E-mail:
  • *
    Os postulados são princípios a serem adotados para construção de um modelo científico da ação humana, que devem ser levados em conta na utilização do método em Ciências Sociais.
    7
  • 1
    Este estudo é parte da tese - Mundo-vida de caminhoneiros: uma abordagem compreensiva para a enfermagem na perspectiva de Alfred Schütz, apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PEN) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), em 2010
  • Datas de Publicação

    • Publicação nesta coleção
      01 Out 2013
    • Data do Fascículo
      Set 2013

    Histórico

    • Recebido
      13 Jun 2012
    • Aceito
      19 Mar 2013
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