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Independência funcional em idosos longevos na admissão hospitalar1 1 Extraído da dissertação - Capacidade funcional do idoso longevo admitido em unidades de internação hospitalar na cidade de Curitiba-PR, defendida no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Paraná (UFPR), 2011

Resumos

Trata-se de estudo quantitativo de corte transversal, cujo objetivo foi avaliar a independência funcional do longevo no momento da internação hospitalar. O estudo foi realizado em dois hospitais de ensino, no período amostral entre janeiro a junho de 2011, com 116 longevos. Para a coleta de dados foi aplicada a Escala de Medida de Independência Funcional, e as análises foram realizadas por meio de estatísticas descritivas. A pontuação da Medida de Independência Funcional total variou de 48 a 126, com a média de 105,9% (±17,9), o que representa independência funcional. A Medida de Independência Funcional motora, de 30 a 91 (77,3%; ±14,5) e a Medida de Independência Funcional cognitiva/social, de 18 a 35 (28,6%; ±4,9). Na admissão hospitalar, os longevos se mostraram independentes para todos os domínios da Medida de Independência Funcional. Conhecer a capacidade funcional é essencial para o planejamento do cuidado durante todo processo de hospitalização.

Idoso de 80 anos ou mais; Longevidade; Hospitalização; Enfermagem geriátrica


The aim of this quantitative cross-sectional study was to assess the functional independence of long-living elderly at the time of hospitalization. The study was conducted in two teaching hospitals, in the period between January and June of 2011, with 116 long-living elderly. The Functional Independence Measure Scale was applied for data collection and data analyses were performed using descriptive statistics. The score of the total Functional Independence Measure varied from 48 to 126, with a mean of 105.9% (±17.9), which represents functional independence. The motor Functional Independence Measurement of 30 to 91 (77.3%; ±14.5) and the social/cognitive Functional Independence Measurement of 18 to 35 (28.6%; ±4.9). At the hospital admission, the long-living elderly appeared to be independent in all of the Functional Independence Measurement domains. Knowing the functional capacity is essential to plan care throughout the entire hospitalization process.

Aged 80 and over; Longevity; Hospitalization; Geriatric nursing


Se trata de un estudio cuantitativo de carácter transversal, cuyo objetivo fue evaluar la independencia funcional del anciano longevo en el momento del ingreso hospitalario. El estudio ha sido realizado en dos hospitales universitarios, en el periodo de prueba entre enero y junio de 2011, con 116 longevos. Para la recolección de los datos se aplicó la Escala de Medida de Independencia Funcional, y los análisis fueron realizados mediante estadísticas descriptivas. La puntuación de la Medida de Independencia Funcional total osciló entre 48 y 126, con un promedio de 105,9% (±17,9), lo que representa independencia funcional. En la Medida de Independencia Funcional motriz los valores oscilaron entre 30 y 91 (77,3%; ±14,5) y en la Medida de Independencia Funcional cognitiva/social los valores oscilaron entre 18 y 35 (28,6%; ±4,9). Al ingreso, los más antiguos eran independientes para todos los dominios de la Medida de Independencia Funcional. Conocer la capacidad funcional es esencial para la planificación de la atención a lo largo de proceso de hospitalización.

Anciano de 80 o más años; Longevidad; Hospitalización; Enfermería geriátrica


INTRODUÇÃO

O crescente aumento de idosos com mais de 80 anos, também denominados de muito idosos ou longevos, presentes nos espaços de atenção à saúde, principalmente em unidades de internação hospitalar, exige dos profissionais maior atenção para os riscos de declínio da independência prevalentes nesta faixa etária. Esse direcionamento profissional está pautado na Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa,1Ministry of Health (BR). Ordinance No.. 2528 of 12 of October of 2006: approved by the National Policy of an Elderly Individual Health. Brasília (DF): MS, 2006. que traz o modelo de promoção e manutenção da autonomia e independência do idoso, com ênfase na capacidade funcional.

A capacidade funcional2Ramos LR. Determinant factors of healthy aging in elderly individuals living in an urban center: project EDIPOSO. Cad Public Health. 2003 May-Jun; 19(3):793-8. é entendida como interação multidimensional entre saúde física e mental, independência na vida diária, apoio social, suporte familiar e independência econômica. Surge como novo indicativo de saúde na avaliação de idosos.

Observa-se, empiricamente, que alguns idosos, no momento da internação, mostram-se independentes para realização de atividades básicas de vida diária (ABVDs), ou seja, com independência funcional e, durante a hospitalização, evoluem para o declínio na execução de algumas dessas atividades.

Essa percepção justifica-se, parcialmente, pelas condições físicas decorrentes do agravamento de doenças, mas também pela própria hospitalização. Ao retirar o idoso longevo de seu ambiente familiar, de sua rotina diária e inseri-lo em um local regido por normas ditadas por pessoas desconhecidas, pode-se traduzir como um evento estressante, complexo, peculiar e potencialmente perigoso para eles. Esses eventos são capazes de levar ao declínio ou perda da capacidade funcional.3Volpato S, Cavalieri M, Sioulis F, Guerra G, Maraldi C, Zuliani G, et al. Predictive value of the short physical performance battery following hospitalization in older patients. J Gerontol Biol Sci Med Sci. 2011 Jan; 66A(1):89-96.

Kawasaki K, Diogo MJDE. Functional independence change in hospitalized elderly individuals related to social and health variables. Acta Fisiátr. 2007 Sept; 14(3):164-69.

Depalma G, Xu H, Covinsky KE, Craig BA, Stallard E, Thomas J, Sands LP. Hospital readmission among older adults who return home with unmet need for ADL disability. Gerontologist. 2013 Jun; 53(3):454-61.
- 6Boyd CM, Landefeld OS, Cownsell SR, Palmer RM, Fortinsky RH, Kresevic D, et al. Recovery of activities of daily living in older adults after hospitalization for acute medical illness. J Am Geriatric Soc. 2008 Dec; 56(12):2171-9.

Autores7Mudge AM, O'Rourke P, Denaro C. Timing and risk factors for functional changes associated with medical hospitalization in older patients. J Gerontol Biol Sci Med Sci. 2010 Aug; 65(8):866-72. - 8Lindenberger E, Landefeld CS, Sands LP, Counsell SR, Fortinski RH, Palmer RM, et al. Unsteadiness reported by older hospitalized patients predicts functional decline. J Am Geriatric Soc. 2003 May; 51(5):621-6. alertam para a possibilidade desse declínio funcional do idoso anteceder ao momento da internação, o que pode acontecer até duas semanas antes da necessidade de hospitalização. Há possibilidade também do longevo incorrer em um ciclo vicioso de perda da capacidade funcional, hospitalização e perda da capacidade funcional. Desse modo, considera-se a necessidade de avaliações efetivas, ou seja, que busquem resoluções rápidas e eficazes no momento da admissão e durante o processo de internação hospitalar, visto que esta avaliação poderá fornecer parâmetros para o planejamento de ações que visem à prevenção, recuperação e promoção da capacidade funcional dos idosos.

A ausência da avaliação inicial pode ter como consequência a constatação tardia da dependência e, por sua vez, a recuperação mais custosa e até mesmo irremediável. Nesse sentido, o objetivo desta investigação foi avaliar a independência funcional do idoso longevo no momento da internação hospitalar.

METODOLOGIA

Trata-se de estudo quantitativo, descritivo, transversal, realizado em unidades de internação de dois hospitais de ensino de grande porte de uma capital brasileira. Ambos atendem usuários do Sistema Único de Saúde, sendo o primeiro de gestão pública e o segundo de caráter privado e filantrópico.

A população do estudo foi composta por idosos de 80 anos ou mais, de ambos os sexos, admitidos para tratamento clínico ou cirúrgico e com pontuação superior ao ponto de corte no Mini-Exame do Estado Mental (MEEM).9Fostein MF, Fostein SE, Mchugh PR. Mini-mental state: a practical method for grading the cognitive state of patients for the clinician. J Psychiatr Res. 1975 Nov; 12(3):189-98.Foram considerados os pontos de corte de 13 pontos para analfabetos, 18 para os de escolaridade baixa e média, e 26 pontos para aqueles com escolaridade alta.1010 Bertolucci PHF, Brucki SMD, Campacci SR, Juliano Y. the mini-exam of the mental state in a general population. Schooling impact. Arq Neuro-Psiquiatr. 1994 Mar ; 52(1):1-7. A coleta de dados ocorreu no período amostral de janeiro a junho de 2011 e os idosos longevos foram selecionados por meio de consulta no sistema de informática de internação dos hospitais. No total, foram abordados 310 idosos longevos. Destes, 179 não preencheram os critérios de inclusão, 12 necessitaram mais de uma internação no período do estudo e três não aceitaram participar da pesquisa. A amostra final foi constituída por 116 idosos de 80 anos ou mais.

A coleta de dados aconteceu nas primeiras 48 horas de internação e foram utilizados dois instrumentos: MEEM para screening cognitivo,9Fostein MF, Fostein SE, Mchugh PR. Mini-mental state: a practical method for grading the cognitive state of patients for the clinician. J Psychiatr Res. 1975 Nov; 12(3):189-98. e a escala de Medida de Independência Funcional (MIF) para a avaliação da capacidade funcional. Esta escala foi traduzida e validada para o Brasil e trata-se de um conjunto de 18 atividades divididas em duas sub-escalas: a MIF motora (MIF m) e a MIF cognitiva (MIF c). A primeira avalia as atividades como autocuidado, controle de esfíncteres, transferências e locomoção. A segunda é subdividida em comunicação e interação social. Para cada item pode ser atribuído um escore entre um e sete, sendo o valor sete para a atividade independente e valor um para a atividade com dependência completa. A pontuação final corresponde à soma de todos os escores, sendo que a variação máxima equivale a 126 pontos (independência completa) e a mínima a 18 pontos (dependência total).1111 Riberto M, Miyazaki MH, Filho DJ, Sakamoto H, Battistella LR. Reproducibility of the Brazilian verson of measure of functional independence. Acta Fisiatr. 2001 Apr; 8(1):45-52.

O banco de dados foi organizado no programa Excel, e para a análise dos dados, o software Epinfo (versão 6.04). Os dados foram submetidos à estatística descritiva, por meio da distribuição de frequência absoluta e percentual, média e desvio padrão.

O estudo respeitou os critérios éticos conforme a Resolução do Conselho Nacional de Saúde n. 196/96,1212 Ministry of Health (BR). Nacional Health Council. Resolution 196, of 10 of October of 1996: regulatory guidelines and standards for research involving human beings. Brasília (DF): MS; 1996. sendo aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Setor de Ciências da Saúde, sob o parecer n. CEP/SD 1062.187.10.12.

RESULTADOS

Observa-se predomínio de idosos longevos na faixa etária entre 80-84 anos (n=92, 79,3%). A média de idade foi de 82,5 anos (DP=2,8), sendo que prevaleceu o sexo feminino (n=65; 56%), e escolaridade entre a 1ª e a 4ª série (n=61, 52,6%). Os diagnósticos mais frequentes foram os problemas gastrointestinais (n=37; 31,7%), cardíacos (n=21; 18,1%), urológicos (n=14; 12,1%) e ginecológicos (n=9; 7,6%).

Verifica-se na tabela 1 a variação observada na pontuação dos itens da MIF que corresponde à variação possível de pontuação. A pontuação da MIF total variou de 48 a 126, com a média de 105,9% (±17,9), o que representa independência funcional. Entre os domínios, a MIF motora variou de 30 a 91, com média de 77,3% (±14,5), e para a MIF cognitiva/social os valores variaram de 18 a 35, com média de 28,6% e (±4,9). Estes valores médios representaram independência para ambos os domínios da MIF motora e cognitiva.

Tabela 1
Valores e variáveis da MIF total e seus domínios nos idosos longevos admitidos nas unidades hospitalares. Curitiba-PR, 2011

Visualiza-se na tabela 2 os resultados encontrados para as categorias da MIF. Na categoria do autocuidado há maior concentração de longevos classificados como independente completo/modificado, ou seja, são os que realizam as atividades com desempenho seguro ou em algumas tarefas requerem um tempo maior para desempenhá-las.

Tabela 2
Distribuição da independência funcional dos idosos longevos por dimensões e categorias da MIF motora e cognitiva. Curitiba-PR, 2011

Uma parcela significativa apresenta dependência mínima ou necessidade de supervisão, demonstrado pelos 26 (22,6%) idosos longevos com necessidade de ajuda para tarefa vestir-se abaixo da cintura, 22 (19%) para vestir-se acima da cintura, 20 (17,2%) para uso do vaso sanitário, 18 (15,5%) para alimentação, 14(12,1%) para o banho e 10 (8,7%) para higiene pessoal. Para estas atividades, o auxílio de terceiros foi necessário, o que caracteriza idosos com necessidade de supervisão ou dependência mínima.

Os 33 idosos com dependência moderada ou máxima apresentavam maior necessidade de ajuda para realizar atividades como: alimentação (n=4; 3,4%), higiene pessoal (n=3; 2,6%), vestir a roupa acima da cintura (n=8; 6,9%), vestir roupa abaixo da cintura (n=6; 5,2%), uso do vaso sanitário (n=6; 5,2%) e banho (n=6; 5,2%). Já quatro idosos, sendo um (0,9%) com dependência completa para o banho e três (2,6%) para uso do vaso sanitário, necessitam de suporte de terceiros para realização destas tarefas (Tabela 2).

Nas tarefas de controle esfincteriano, o número de idosos que apresentam independência funcional para o controle urinário foi de 75 (64,7%), com necessidade de supervisão ou dependência mínima 31 (15,5%), dependência moderada ou máxima, nove (7,8%) e um (0,9%) com dependência completa para esta tarefa. Para o controle das fezes, 93 (80,2%) idosos apresentaram independência funcional, 19 (16,4%) necessitam de supervisão ou dependência mínima e quatro (3,4%) apresentam dependência moderada ou máxima (Tabela 2).

Nas atividades em que a mobilidade é avaliada através das transferências necessárias para determinadas tarefas, os idosos apresentaram independência funcional nos três tipos de transferências propostos pela MIF. Do total, 84 (72,4%) idosos são independentes para transferências de leito/cadeira/cadeira de rodas, 83 (71,6%) para o vaso sanitário e 94 (81%) para o chuveiro/banheira. Nesta dimensão, seis idosos apresentaram dependência completa para realização das transferências: um (0,9%) idoso para transferência cama/cadeira/cadeira de rodas, três (2,6%) para transferências para o vaso sanitário e dois (1,7%) para o chuveiro/banheira (Tabela 2).

Nas tarefas de locomoção, o número de idosos longevos que manifestaram independência completa ou modificada foi de 75 (64,7%) para marcha/cadeira de rodas e 55 (47,4%) para subir ou descer escadas. Sete (6%) apresentaram dependência completa para subir ou descer escada e um (0,9%) para caminhar ou usar a cadeira de rodas (Tabela 2). Ressalta-se entre os longevos aqueles que necessitam de ajuda para subir/descer escadas 40 (34,5%) tem dependência mínima e 14(12,1%) moderada e máxima, formando um grupo com necessidades de ajuda, mesmo que parcialmente.

No domínio cognitivo, verificou-se que, nas dimensões comunicação e interação social, 84 (72,4%) idosos apresentaram independência completa ou modificada para ambas as áreas de comunicação e expressão. Nenhum idoso foi encontrado com dependência completa para essas tarefas. Quanto às atividades relacionadas interação social, 76 (65,5%) apresentaram independência completa ou modificada, 35 (30,2%) necessidade de supervisão ou dependência mínima e cinco (4,3%) dependência moderada ou máxima (Tabela 2).

Para a tarefa resolução de problemas, mostra-se na Tabela 2, que 63 (54,3%) apresentaram independência completa ou modificada, 42 (36,2%) apresentaram necessidade de supervisão ou dependência mínima e dois (1,7%) são completamente dependentes para realização desta tarefa. Quanto à atividade de memória, 60 (51,7%) apresentaram independência completa ou modificada e 42 (42,2%) mostraram necessidade de supervisão ou dependência mínima para ativação da memória.

DISCUSSÃO

Na literatura, ainda são poucos os estudos que abordam idoso longevo hospitalizado com utilização da MIF. Para subsidiar as discussões foram analisados estudos que adotaram como sujeitos, idosos com esta faixa etária, a e que se aproximavam com as características deste estudo.

Os dados sociodemográficos desta pesquisa foram semelhantes aos encontrados em outros estudos nacionais,1313 Morais EP, Rodrigues RAP, Gerhardt TE. The oldest senior citizens in rural areas: the health and life reality of populations on gaócho interior. Texto Contexto Enferm. 2008 Apr-Jun; 17(2):374-83.

14 Pedrazzi EC. Living arrangement and suppor of the family of senior citizens [dissertation]. Ribeirão Preto (SP): São Paulo University, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto; 2008.
- 1515 Nogueira SL, Ribeiro RCL, Rosado LEFPL, Franceschini SCC, Ribeiro AQ, Pereira ET. Determinant factors of functional capacity in senior citizens. Rev Bras Fisioter. 2010 Jul-Aug; 14(4):322-9. cujas amostras foram equivalentes. Majoritariamente, os longevos apresentaram problemas gastrointestinal, cardíaco e urológico, que podem ser explicados pelo próprio processo de envelhecimento, relacionado aos hábitos de vida inadequados e/ou procura tardia por cuidados médicos, condições de trabalho adversas e/ou em lugares insalubres, e dificuldades para compreensão da receita médica, consequentemente desencadeando e intensificando agravos na saúde nesta etapa da vida.

Os idosos longevos mostraram-se com bom desempenho funcional para as atividades cotidianas, principalmente para aquelas relacionadas às atividades de vida diária AVDs. Valores semelhantes para a MIF total, motora e cognitiva foram encontrados em estudos com amostra semelhantes, porém com objetivos diferentes.3Volpato S, Cavalieri M, Sioulis F, Guerra G, Maraldi C, Zuliani G, et al. Predictive value of the short physical performance battery following hospitalization in older patients. J Gerontol Biol Sci Med Sci. 2011 Jan; 66A(1):89-96. , 1414 Pedrazzi EC. Living arrangement and suppor of the family of senior citizens [dissertation]. Ribeirão Preto (SP): São Paulo University, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto; 2008.

Dentro do domínio motor, a maioria dos idosos longevos apresentou boa capacidade funcional no momento da admissão hospitalar. Entretanto, nas tarefas de autocuidado, que estão relacionadas às AVDs, em que se necessitava de maior destreza com as mãos, como desabotoar camisa, retirar sapatos, entre outras, a dificuldade foi mais expressiva, e precisavam de auxilio de uma terceira pessoa, em alguns momentos.

Na tarefa "controle de esfíncteres", parcela significativa apresentou algum grau de dependência, principalmente para o controle urinário, motivada pela dificuldade de deslocamento, por vezes, pelo uso de medicamentos como diuréticos e/ou anti-hipertensivos e a acuidade visual/auditiva diminuída. Para alguns, a dificuldade em controlar a urina provocava perdas involuntárias, gerando situações desagradáveis e, por este motivo, o afastamento do convívio entre amigos e familiares.

Nas dimensões de transferência (banheiro/chuveiro) e locomoção, a maioria dos idosos longevos apresentou independência completa. As maiores dificuldades foram observadas na realização de atividades que demandam movimento para a execução de determinadas necessidades básicas.

Na dimensão subir e descer escada, a maioria dos longevos apresentou algum tipo de dependência para execução desta atividade. Estudo1616 Nunes DP, Nakatani AYK, Silveira EA, Bachion MM, Souza MR. Functional capacity, socioeconomic and health conditions of elderly individuals served by Family Health Teams of Goiânia (GO, Brazil). Public Health Science. 2010 Sept; 15(6):2887-98. realizado com 388 idosos de 60 anos ou mais, avaliados pela equipe de profissionais da Saúde da Família, na cidade de Goiânia-GO, mostrou que os idosos com 80 anos ou mais apresentavam associação para dependência na variável subir e descer escada. Dados de estudos longitudinais demonstram que a força muscular dos indivíduos diminui cerca de 15% por década, até alcançarem a 6ª e 7ª década de vida. Após essa idade, a força muscular diminui aproximadamente 30%.1717 Unicovsky MAR. Elderly individual with sarcopenia: an approach to nursing care. Rev Bras Enferm. 2004 May-Jun; 57(3):298-302. Observa-se uma relação inversa entre força muscular e idade, sendo os longevos os indivíduos que tendem a possuir menor musculatura, devido ao desuso, incidência de doenças, subnutrição e aos efeitos cumulativos da idade.1717 Unicovsky MAR. Elderly individual with sarcopenia: an approach to nursing care. Rev Bras Enferm. 2004 May-Jun; 57(3):298-302.

A sarcopenia, ou a perda da massa muscular, fenômeno muito presente no envelhecimento, tem como consequência as alterações da mobilidade e do equilíbrio, levando à ocorrência de quedas e fraturas. É um dos maiores desafios na geronto-geriatria, pois ela apresenta-se como um círculo vicioso: a sarcopenia leva a fraturas, que gera imobilização, seguida de desnutrição, com piora da síntese protéica e piora novamente da sarcopenia.1818 Doherty TJ. Invited review: aging and sarcopenia. J Appl Physiol. 2003 Oct; 95(4):1717-27. - 1919 Marcell TJ. Sarcopenia: causes, consequences and preventions. J Gerontol A Biol Sci Med Sci. 2003 Oct;58(10):M911-6.

Dentro do domínio cognitivo, que contempla as dimensões comunicação e interação social, mesmo os idosos que apresentaram baixa escolaridade demonstraram facilidade para a comunicação. Dados semelhantes foram encontrados em outro estudo transversal, com amostra de 272 idosos longevos, cujo objetivo foi identificar as características demográficas e socioeconômicas relacionadas ao estado de saúde de idosos longevos residentes em duas cidades, no Brasil.2020 Rosset I, Cruz MRZ, Santos JLF, Hass VJ, Wehbe SCCF, Rodrigues RAP. Socioeconomic and health differences between two senior citizens communities. Rev Saúde Pública. 2011 Apr; 45(2):391-411. Nesse estudo apenas um (0,9%) idoso com mais de 80 anos apresentou dificuldade para responder as perguntas, o que pode ser explicado pela perda da acuidade auditiva, ou pela timidez nas respostas ou por dificuldade na compreensão das perguntas.

A maioria dos longevos apresentou autonomia e independência para interação social, porém, uma parcela pequena (n=5; 4,3%) já apresenta perda desta função, delegando muitas das atividades instrumentais de vida diária para terceiros, em função da dificuldade de deambulação, diminuição da visão ou dificuldade de deslocamento urbano.

Dentro da categoria que avalia memória, mais da metade dos longevos consegue se lembrar dos remédios a serem tomados, das contas a serem pagas, entre outras atividades. Uma minoria apresentou dificuldade para memorizar horário de medicamentos, e isso pode representar um problema para aqueles que vivem sozinhos.

Na categoria resolução de problemas a maioria dos longevos resolve seus problemas ou consegue dar diretrizes aos familiares, entretanto os resultados revelam também a presença daqueles que já apresentam perda da função e que necessitam auxílio de terceiros para a resolução de algumas atividades. Esses resultados convergem aos dados do estudo,1414 Pedrazzi EC. Living arrangement and suppor of the family of senior citizens [dissertation]. Ribeirão Preto (SP): São Paulo University, Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto; 2008. realizado com idosos mais velhos da comunidade de Ribeirão Preto, cujo participantes apresentam independência para as atividades de comunicação e expressão, com ótima interação social e boa memória, porém com necessidade de supervisão/orientação para resolução de problemas.

Os dados demonstram que os longevos, no geral, apresentam boa capacidade funcional no momento da admissão hospitalar, porém é imprescindível o olhar atento da equipe de saúde, especialmente da enfermagem, para as atividades que requerem maior habilidade motora como vestir-se e subir e descer escadas. Estas atividades podem passar despercebidas pela equipe de saúde, uma vez que o idoso é independente para as demais ADVs, e podem trazer agravos à sua saúde no momento da internação hospitalar.

A capacidade de controlar os esfíncteres também pode incapacitar o longevo para a manutenção da vida social e o desfecho pode ser o acometimento por doenças como a depressão, e esta, por sua vez, potencializa a incapacidade funcional.

CONCLUSÃO

A realização desse estudo permitiu avaliar a independência funcional de idosos longevos admitidos em unidades hospitalares. Os idosos longevos no momento da admissão hospitalar apresenta significativa independência no domínio motor, porém no domínio cognitivo mostram dependência em atividades relacionadas à interação social, resolução de problemas e memória.

Apesar dos valores médios representarem independência funcional para MIF total e MIF motora e cognitiva, pode-se observar que em algumas categorias como controle de esfíncteres, transferências entre cama/cadeira/cadeira de rodas ou vaso sanitário ou chuveiro/banheira e locomoção especificamente em escadas, uma parcela de idosos apresentam dificuldades na realização destas tarefas. Esses idosos, portanto, necessitam de maior atenção por parte da equipe de enfermagem, com intervenções direcionadas de modo a atender as necessidades de cada um.

O crescente aumento de idosos longevos, dentro das mais diversas esferas de atendimento da saúde, torna a avaliação da capacidade funcional uma variável importante a ser conhecida pelos profissionais no momento da entrada desses indivíduos no ambiente hospitalar. A capacitação dos profissionais de saúde que atuam nesses locais de atendimento deve ser incentivada, para que tenham instrumentos capazes de identificar as necessidades funcionais de cada idoso e que forneçam parâmetros para o planejamento assistencial. A utilização da MIF nas unidades de internamento hospitalar é eficaz, principalmente quando aplicadas nos idosos longevos, por tratar-se de escala de rápido e fácil manejo e que fornece mapeamento detalhado da capacidade funcional dos indivíduos e alicerça o plano de cuidados da enfermagem. A realização de um plano de cuidados específico permite acompanhar, e controlar a evolução da capacidade funcional, prevenir agravos e antecipar declínio ao longo do processo de internação. Ressalta-se a importância da realização de estudos com o segmento etário dos 80 anos ou mais, em virtude do déficit constatado na literatura vigente.

Do mesmo modo, a temática sobre independência funcional de idosos longevos necessita de maior aprofundamento e, para tanto, são indicados os estudos longitudinais, os quais trazem dados significativos, em razão do acompanhamento do longevo, com a coleta de dados em vários momentos do período pesquisado.

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  • 1
    Extraído da dissertação - Capacidade funcional do idoso longevo admitido em unidades de internação hospitalar na cidade de Curitiba-PR, defendida no Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da Universidade Federal do Paraná (UFPR), 2011

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Jul-Sep 2014

Histórico

  • Recebido
    16 Maio 2012
  • Aceito
    04 Dez 2013
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