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Tradução e adaptação da escala do controle da ação visando ao cuidado de enfermagem1 1 Artigo resultante da tese - O controle das ações do estudante de enfermagem na implementação dos cuidados preventivos para úlceras de pressão, apresentada ao Programa de Pós-Graduação da Escola de Enfermagem Anna Nery (EEAN) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), em 2007.

Resumos

O artigo objetivou descrever as fases da tradução e adaptação do questionário HAKEMP 90 para a versão brasileira. Derivado da Teoria do Controle da Ação, o questionário consiste em 36 itens que identificam a orientação para ação ou estado. No estudo, a versão espanhola foi traduzida para o português, retraduzida para o espanhol, reavaliada por tradutores bilíngues e testada com cinco graduandos de enfermagem. Na versão brasileira, o questionário manteve o formato original e nove itens sofreram substituição de termos para equivalência semântica. Os conceitos fundamentais para a investigação da ação ou estado foram mantidos em todas as etapas. A adaptação transcultural resultou em um instrumento adequado à língua portuguesa, apresentando compreensão e concordância entre os itens. O questionário adaptado configurou um recurso valioso para o êxito do estudante enquanto ferramenta diagnóstica, por viabilizar a descoberta precoce do risco para o desempenho insatisfatório em situações específicas.

Tradução; Adaptação; Aprendizagem; Enfermagem


The study aimed to describe the of translation and adaptation phases of the questionnaire HAKEMP 90 to the Brazilian version. Derived from the Action Control Theory, the questionnaire consists of 36 items that identify the orientation towards action or state. The Spanish version was translated into Portuguese, back-translated into Spanish, reassessed by bilingual translators and tested in five nursing students. In the Brazilian version, the questionnaire kept the original format and nine items underwent replacement of terms for semantic equivalence. The fundamental concepts to investigate the action or state were kept in all stages. The cross-cultural adaptation to Portuguese language resulted in an appropriate tool, with understanding and agreement between the items. The adapted questionnaire represented a valuable resource for the student's success as a diagnostic tool, by enabling the early detection of risk factors for poor performance in specific situations.

Translation; Adaptation; Learning; Nursing


El propósito del artículo es describir las fases de traducción y adaptación del cuestionario HAKEMP 90 a la versión brasileña. Derivado de la Teoría del Control de la Acción, el cuestionario contiene 36 ítems que identifican la orientación a acción o estado. La versión española fue traducida al portugués, traducida al español, revisada por traductor bilingüe y probado en cinco estudiantes de enfermería. En la versión brasileña, el cuestionario mantuvo el formato original y nueve ítems sufrieron sustitución de términos para equivalencia semántica. Los conceptos fundamentales para la orientación a acción o estado se mantuvieron en todas las etapas. La adaptación resultó en un instrumento adecuado para el portugués, con entendimiento y acuerdo entre los artículos. El cuestionario adaptado establece un recurso valioso para el éxito del estudiante como una herramienta de diagnóstico, al permitir la detección de factores de riesgo de mal desempeño en situaciones específicas.

Traducción; Adaptación; Aprendizaje; Enfermería


INTRODUÇÃO

Este artigo descreve as etapas de tradução e adaptação do questionário HAKEMP 90 para a versão brasileira. O questionário HAKEMP 90 é derivado da Teoria do Controle da Ação (TCA), que se apoia em duas proposições básicas. A primeira refere-se a desejos, expectativas, valores e outras tendências motivacionais como fatores determinantes da ação. A segunda trata de processos volitivos, distrações internas e externas, como fatores que interferem na relação entre a intenção e a ação concreta.

Sua aplicação possibilita identificar a orientação para ação ou estado e colabora para a recomendação de estratégias autorreguladoras para a realização das tarefas de aprendizagem. Descreve, também, a manutenção do foco na realização de tarefas específicas na presença de distrações que ocorrem internamente, como o insucesso acadêmico, e nas de origem externa, como os estímulos ambientais.1Kuhl J. A theory of self-regulation: action versus state orientation, self-discrimination, and some applications. Appl Psychol. 1992; 41(2):97-129.

Cabe destacar que as atividades diárias, as características pessoais e situacionais próprias do ambiente hospitalar causam desvios na atenção do enfermeiro, podendo afetar a qualidade da assistência dispensada aos pacientes e seus familiares.2Guirardello EB. Adaptação cultural e validação do instrumento Demandas de Atenção Dirigida. Rev Esc Enferm USP. 2005; 39(1):77-84.

Entre outros fatores, é relevante considerar que uma distração pode ocasionar diminuição da atenção voluntária. As distrações retardam ou impedem a ação e sua presença, em maior ou menor grau, interfere na concentração, inclusive afastando ou abolindo o alcance do objetivo inicial. Pelo exposto, diante dos fatores geradores de distrações, é pertinente buscar uma abordagem integradora que contribua para a aprendizagem consciente e ativa.

A investigação do controle da ação é essencial para a autonomia da aprendizagem, pois avalia e adequa as ações, possibilitando maior atenção e concentração. Nessa perspectiva se insere a autorregulação, concebida como a capacidade da pessoa dirigir sua própria conduta por meio da reflexão e operação sobre as características individuais e contextuais.3Freire LGL. Auto regulação da aprendizagem. Ciênc Cognição [online]. 2009 [acesso 2009 Set 20]; 14(2):276-86 Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-58212009000200019&lng=pt&tlng=pt .
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Estudantes autorregulados demonstram maior constância no planejamento, na implementação e na execução da ação, pois as autorreflexões sobre as situações anteriores de aprendizagem afetam a fase prévia das situações de aprendizagem seguintes.4Monteiro SC, Almeida LS, Vasconcelos RMCF. Abordagens à aprendizagem, autorregulação e motivação: convergência no desempenho acadêmico excelente. Rev Bras Orientac Prof [online] 2012 [acesso 2015 Fev 10]; 13(2):153-62 Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1679-33902012000200003&lng=pt&nrm=iso .
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Ademais, evidenciam adaptação e modificação das estratégias adotadas, quando surgem obstáculos entre as fases preparatória e de realização para o alcance dos objetivos, ao final. O gerenciamento das distrações é mais eficaz, os objetivos são concretos e há coerência no planejamento das ações e no modo de agir. Além disso, o rendimento e alcance das metas tornam-se mais efetivos, pois se percebe maior capacidade para superar pequenos fracassos.5Hofer J, Holger B, Joscha K. Self-regulation and well-being: the influence of identity and motives. Europ J Personality. 2011; 25(3):211-24. - 6Andrés A, Abal F, Lozzia G, Gómez-Benito J, Aguerrí María E, Galibert MS et al. Adaptación del Cuestionario de Voluntad de Trabajo a una muestra de universitarios españoles. Anal Psicol [online]. 2013 [acesso 2015 Fev 11]; 29(1):171-7 Disponível em: http://scielo.isciii.es/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0212-97282013000100020&lng=es .
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A autorregulação incorpora diferentes processos que monitoram e controlam o comportamento. Esses processos, tais como a atenção, a motivação, a emoção e o controle da ação, são úteis para o uso de estratégias cognitivas.7Papantoniou G, Moraitou D, Katsadima E, Dinou M. Control de la acción y disposición a la esperanza: um studio de su incidência em la autorregulación del aprendizage. Electr J Resn Educ Psychol [online]. 2010 [acesso 2011 Ago]; 8(1):5-32 Disponível em: http://www.redalyc.org/pdf/2931/293121995002.pdf .
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Em síntese, a TCA possibilita a classificação dos estudantes em orientados para ação ou para estado, segundo características motivacionais, volitivas e intencionais peculiares. As pessoas orientadas para a ação mostram-se ativamente envolvidas no alcance dos objetivos, mantêm atitudes otimistas perante a vida e mostram níveis elevados de bem-estar emocional, em contraste com as pessoas orientadas para o estado.1Kuhl J. A theory of self-regulation: action versus state orientation, self-discrimination, and some applications. Appl Psychol. 1992; 41(2):97-129.

Na orientação para a ação evidencia-se maior capacidade de concentração diante de distrações, por pensamentos ou eventos irrelevantes, sejam eles presentes ou passados. Nesse sentido, a tendência é para mudança o que facilita a integração com as experiências negativas e a consecução das metas. Na orientação para o estado, as pessoas demonstram as regulações descritas anteriormente em menor grau. Apresentam um enfoque excessivo nas experiências negativas do passado e tendência para o imobilismo, ou seja, há carência de habilidades individuais para regular a emoção e as atitudes necessárias para a conclusão das ações pretendidas.8Kuhl J, Kazén M, Quirin M. La teoría de la interacción de sistemas de la personalidad. Rev Mex Psicol [online]. 2014 [acesso 2015 Jan 12]; 31(2):90-9 Disponível em: www.researchgate.net/.../0046353cd60c79fbdb000000.pdf .
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Em parâmetros opostos, a orientação para o estado apresenta três componentes correspondentes à orientação para a ação: a preocupação, a hesitação e a volatilidade (instabilidade).9Dieffendorf JM, Hall RJ, Lord RG, Strean ML. Action-state orientation: construct validity of a revised measure and its relationship to work-related variables. J Appl Psychol. 2000; 85(2):250-63. As pessoas orientadas para o estado evidenciam estados emocionais negativos e duradouros após vivenciar situações desagradáveis. Ressalta-se que nesse tipo de orientação as pessoas preocupam-se muito com a opinião dos outros e buscam os meios para impressioná-los. A tendência para abandonar a ação ou tarefa diante do fracasso acadêmico revela a baixa persistência. O estudante orientado para o estado se mantém aprisionado aos eventos passados, em vez de concentrar-se no desempenho futuro. As distrações facilmente causam desvio da atenção e reduzem os recursos cognitivos que contribuem para o alcance das metas.6Andrés A, Abal F, Lozzia G, Gómez-Benito J, Aguerrí María E, Galibert MS et al. Adaptación del Cuestionario de Voluntad de Trabajo a una muestra de universitarios españoles. Anal Psicol [online]. 2013 [acesso 2015 Fev 11]; 29(1):171-7 Disponível em: http://scielo.isciii.es/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0212-97282013000100020&lng=es .
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No campo acadêmico, o questionário HAKEMP 90 mostra-se um instrumento válido, desenvolvido na década de 1980 por Julius Kuhl, psicólogo e pesquisador da Universidade de Osnabruück, na Alemanha, e reúne atitudes esperadas em ambos os estados de orientação, considerando que o caminho entre a vontade e a intenção é repleto de obstáculos.1010 Heckhausen H, Kuhl J. From wishes to action: the dead ends and short cuts on the long way to action. In: Frese M, Sabini J, organizadores. Goal-directed behavior: psychological theory and research on action. Hillsdale (NJ): Erlbaum; 1985. p. 134-60. Nele, os pressupostos da TCA proporcionam a melhor compreensão do processo ativo que transforma intenções em ações. Como decorrência da sua aplicação, a autodeterminação do estudante de enfermagem sobre o pensar e o agir na própria aprendizagem torna-se ainda mais valiosa. Além disso, possibilita o estudo individual ou coletivo da relação entre as expectativas dos estudantes e o curso de suas ações.1111 Castelo Branco EMS, Peixoto MAP, Alvim NAT. Escala do controle da ação para o diagnóstico de desempenho em estudantes de enfermagem. Rev Bras Enferm [online] 2013 [acesso 2014 Dez 3]; 66(6):942-8 Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672013000600020&lng=en .
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- 1212 Kuhl J, Kazén M, Koole SL. Putting Self-Regulation Theory into practice: a user's manual. Appl Psychol. 2006; 55(3):408-18.

Pelo exposto, apresenta-se como objetivo descrever a tradução e adaptação do questionário HAKEMP 90 para o português. Para tanto, o instrumento deve ser apropriado quanto à equivalência semântica e adaptação transcultural, de forma a ser aplicado em estudantes de enfermagem no Brasil.

MÉTODO

A tradução e adaptação cultural é um processo metodológico que se preocupa com instrumentos que serão utilizados em situações diferentes daquelas para as quais foram desenvolvidos. A avaliação da equivalência semântica envolve a capacidade de transferência de sentido dos conceitos contidos no instrumento original para a versão, propiciando um efeito nos respondentes semelhante nas duas culturas.1313 Reichenheim ME, Moraes CL. Operacionalização de adaptação transcultural de instrumentos de aferição usados em epidemiologia. Rev Saúde Pública [online]. 2007 [acesso 2014 Dez 12]; 41(4):665-73 Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102007000400024&lng=pt&nrm=iso .
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Para a tradução, a retrotradução e a adaptação transcultural do questionário HAKEMP 90, realizada durante os meses de julho, agosto e setembro de 2007, foram seguidas estas etapas: envio da versão em espanhol para dois tradutores bilíngues independentes, elaboração da versão preliminar em português, retrotradução ou back translation da versão preliminar para espanhol, comparação entre versão original e versão traduzida para análise semântica, idiomática e conceitual, aplicação do pré-teste e formatação final do questionário.1414 Dorcas EB, Bombardie C, Guillemin F. Guidelines for the process of cross-cultural adaptation of self-report measures. Spine [online]. 2000 [acesso 2014 Dez 3];25(24):3186-91 Disponível em: http://journals.lww.com/spinejournal/Abstract/2000/12150/Guidelines_for_the_Process_of_Cross_Cultural.14.aspx .
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- 1515 Viana, HB, Guirardello, EB, Madruga, VA. Tradução e adaptação cultural da Escala Askas: aging sexual knowledge and attitudes scale em idosos brasileiros. Texto Contexto Enferm. 2010 Abr-Jun; 19(2): 238-45.

A versão brasileira do questionário foi submetida a um teste-piloto aplicado em cinco estudantes de enfermagem de uma instituição federal de ensino superior, quatro participantes do sexo feminino e um do sexo masculino, na faixa etária entre 19 e 23 anos. Como critérios de inclusão, os estudantes deveriam estar cursando o quinto período, em atividades no ambiente hospitalar e aceitar participar do estudo mediante a assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Os participantes foram informados que o teste-piloto não influenciaria a avaliação das atividades curriculares.

O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, sob o protocolo de pesquisa n. 097/06. Cabe ressaltar que os participantes do teste-piloto não foram incluídos posteriormente na coleta de dados para a tese, pois à época já cursavam o sexto período.

RESULTADOS

Descrição das etapas

A escolha do questionário

O questionário HAKEMP 90 encontra-se disponível nas versões em alemão, inglês e espanhol. Contém 36 itens, divididos em três subescalas que investigam o controle da ação na realização das tarefas, no planejamento e na decisão da ação para a execução de uma atividade. São possíveis duas respostas para cada item: uma indica a orientação para a ação e a outra para o estado. As assertivas do questionário são apropriadas para a aplicação tanto em adolescentes (a partir de 12 anos) como em adultos.1616 Kuhl J. Action and state orientation: psychometric properties of the action control scales (ACS-90). In: Kuhl J, Beckmann J, organizadores. Volition and personality: action versus state orientation. Göttingen (DE): Hogrefe; 1994. p. 47-59.

A primeira subescala contém os itens que se referem à orientação para a ação/estado subsequente ao fracasso (OAF). Na segunda, estão dispostos os itens para a ação/estado no planejamento e na decisão para a ação (OAP) e a terceira contempla a orientação para a ação/estado na atividade bem-sucedida ou motivação intrínseca (OAA).

Indica-se o uso da escala OAF, em especial, nas situações em que o foco é o déficit de execução que se observa nos estudantes diante da experiência do fracasso. Assim, possibilita predizer que, na orientação para o estado, há menos controle sobre pensamentos e atitudes negativas diante do fracasso recente e, também, que a persistência e o esforço diminuídos interferem na execução da nova tarefa.1616 Kuhl J. Action and state orientation: psychometric properties of the action control scales (ACS-90). In: Kuhl J, Beckmann J, organizadores. Volition and personality: action versus state orientation. Göttingen (DE): Hogrefe; 1994. p. 47-59. - 1717 Chatterjee M B, Baumann N, Osborne D. You are not alone: Relatedness reduces adverse effects of state orientation on well-being under stress. Pers Soc Psychol B. [online] 2013 [acesso 2015 Fev 11]; 39(4):432-41 Disponível em: http://psp.sagepub.com/content/early/2013/02/07/0146167213476895full .
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A escala OAP possibilita detectar a coerência entre a intenção e a ação concreta. O comportamento coerente predomina entre os indivíduos orientados para a ação. A escala OAA indica o grau de envolvimento intencional do sujeito para a realização da tarefa. Tal medida pode ser interpretada como o enfoque motivacional intrínseco na atividade em si, em contraste com a atividade centrada essencialmente no alcance da meta.1616 Kuhl J. Action and state orientation: psychometric properties of the action control scales (ACS-90). In: Kuhl J, Beckmann J, organizadores. Volition and personality: action versus state orientation. Göttingen (DE): Hogrefe; 1994. p. 47-59.

Para o estudo, a escolha da versão em espanhol justificou-se por se tratar de um idioma latino, próximo ao português. O processo de avaliação de equivalência semântica para o português utilizou a tradução do instrumento original para o idioma alvo, retradução para o espanhol e adaptação transcultural. A autorização para o uso foi intermediada por um dos membros da equipe de pesquisa do autor do questionário que prontamente enviou, por correio eletrônico, as versões em inglês e espanhol e as instruções para sua interpretação.

A tradução para o idioma alvo e a retradução para o espanhol

Os dois tradutores receberam um roteiro com o detalhamento da sua participação, uma cópia do estudo e a listagem dos 36 itens da escala em espanhol, a fim de registrar a tradução, principalmente no que tange à clareza da linguagem, pertinência e consistência dos enunciados, relacionando-os aos objetivos da etapa e do estudo em geral.

A versão em espanhol foi enviada ao tradutor cuja língua materna é o português e, assim, foi criada uma nova versão do questionário HAKEMP 90, ora denominada H1. A seguir, a versão em português (H1) foi enviada para o outro tradutor, com o objetivo de fazer a retradução do idioma alvo para o original em espanhol, e foi denominada H2.

Posteriormente, foi agendado um encontro com os tradutores para a comparação entre as duas, H1 e H2, a fim de identificar as discrepâncias e proporcionar a correspondência dos significados ao contexto brasileiro. Desse modo, os dois tradutores fizeram a equivalência semântica em nove itens para maior adequação ao questionário original. A versão preliminar foi preparada para o teste-piloto, respeitando-se a disposição dos itens e as recomendações do autor.

Na tradução, ocorreram adaptações de palavras, expressões e conjugação verbal, para aproximar a possibilidade de compreensão do sujeito. Em todos os itens houve supressões e substituições de palavras, como, por exemplo, no item 1, "Quando perco algo valioso para mim e não posso encontrar em nenhum lugar", foi retirada a expressão "para mim" e no item 17, "Normalmente, consigo fazê-lo de imediato" houve substituição por "fazê-lo imediatamente". O quadro 1 apresenta os nove itens modificados após a tradução, retradução e comparação entre as versões H1 e H2.

Quadro 1.
Comparação entre os itens originais e modificados pelos tradutores

Teste-piloto do questionário

Os estudantes receberam a versão preliminar do questionário e as orientações para o preenchimento e grau de dificuldade quanto à compreensão dos itens. O objetivo da etapa foi verificar a compreensão acerca do instrumento e obter subsídios para considerar que a versão na língua portuguesa estava pronta para uso.

Nessa etapa, a tradução foi aceita em quase sua totalidade. Após a leitura e análise do instrumento, os participantes do teste-piloto sugeriram alterações em cinco itens (5, 14, 24, 26 e 36). As modificações necessárias para a concordância nesses itens, como a substituição de termos com o mesmo significado e mudança na disposição das sentenças, não alteraram, em essência, as atitudes que se almejava investigar na versão original. O quadro 2apresenta a comparação entre os itens originais e modificados após o teste-piloto.

Quadro 2.
Comparação entre os itens traduzidos e os modificados segundo o teste-piloto

As sugestões foram encaminhadas aos tradutores para nova avaliação e, assim, definiu-se a redação da versão brasileira que foi aplicada posteriormente em 46 estudantes de enfermagem como instrumento de coleta de dados da tese e analisada quanto à sensibilidade e especificidade.1111 Castelo Branco EMS, Peixoto MAP, Alvim NAT. Escala do controle da ação para o diagnóstico de desempenho em estudantes de enfermagem. Rev Bras Enferm [online] 2013 [acesso 2014 Dez 3]; 66(6):942-8 Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-71672013000600020&lng=en .
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Versão brasileira da escala do controle da ação - HAKEMP 90

O processo de adaptação do questionário HAKEMP 90 foi considerado adequado em todas as etapas. Na versão brasileira, a escala passou a ser denominada "Escala do Controle da Ação". O formato original, com 36 itens, foi preservado e as três subescalas permaneceram mescladas entre si, respeitando a distribuição original da versão em espanhol. No quadro 3, a subescala OAF corresponde, na versão integral em português, aos itens 1, 4, 7, 10, 13, 16, 19, 22, 25, 28, 31 e 34. A subescala OAP apresenta os itens 2, 5, 8, 11, 14, 17, 20, 23, 26, 29, 32 e 35 (Quadro 4). Por fim, o quadro 5 apresenta a subescala OAA, que consiste dos itens 3, 6, 9, 12, 15, 18, 21, 24, 27, 30, 33 e 36.1616 Kuhl J. Action and state orientation: psychometric properties of the action control scales (ACS-90). In: Kuhl J, Beckmann J, organizadores. Volition and personality: action versus state orientation. Göttingen (DE): Hogrefe; 1994. p. 47-59.

Quadro 3.
Orientação para a ação subsequente ao fracasso (OAF) versus preocupação

Quadro 4.
Orientação para a ação no planejamento da ação (OAP) versus hesitação

Quadro 5.
para a ação na atividade focalizada (OAA) versus volatilidade

DISCUSSÃO

Na versão brasileira, o cálculo da qualificação obedeceu originalmente à recomendação do autor, qual seja atribuir um ponto a cada uma das respostas cuja alternativa corresponda à ação e, a seguir, totalizar os pontos. Desse modo, os valores das três subescalas devem ser calculados separadamente, devido à correlação com os comportamentos distintos em cada uma delas. Portanto, a soma das respostas orientadas para a ação corresponde a um valor contido entre zero e 12. Os escores inferiores à média do grupo indicam uma disposição à orientação para o estado e, acima da média, indicam orientação para a ação.1616 Kuhl J. Action and state orientation: psychometric properties of the action control scales (ACS-90). In: Kuhl J, Beckmann J, organizadores. Volition and personality: action versus state orientation. Göttingen (DE): Hogrefe; 1994. p. 47-59.

A organização do questionário HAKEMP 90 considerou as recomendações metodológicas processuais de tradução e adaptação transcultural. Em essência, os conceitos fundamentais para a investigação da orientação para ação ou estado foram mantidos em todas as etapas do estudo. Destaca-se que a realização do teste-piloto foi fundamental para a avaliação da adequação do questionário no que se refere à compreensão e ao tempo médio gasto para aplicação.

A versão traduzida do questionário HAKEMP 90 preservou a capacidade de identificação dos elementos essenciais, que, entre outros de igual importância, devem estar presentes nos estudantes para o planejamento mais eficiente do cuidado de enfermagem. À medida que se aproxima do nosso contexto, difunde a investigação de projetos que adotem uma perspectiva mais global e integrada sobre a motivação, a cognição e a volição, intenção, atenção e fatores motivacionais.1818 Koole SL, Kuhl J. Dealing with unwanted feelings: The role of affect regulation in volitional action control. In: Shah JY, Gardner WL, organizadores. Handbook of motivation science. New York (US): Gilford Press; 2008. p. 295-305. Ressalta-se, também, que suscita a discussão das bases teóricas que fundamentam a aprendizagem ativa e auxilia o estudante a avocar o controle de suas ações, a integração cognitiva, a autonomia e o senso de autodeterminação1919 Kuhl J, Beckmann J. Action control from cognition to behavior. 2ª ed. Berlim (DE): Springer-Verlag; 2012. - 2020 Simão AMV, Frison LMB. Autorregulação da aprendizagem: abordagens teóricas e desafios para as práticas em contextos educativos. Cad Educ FaE/PPGE/UFPel. [online] 2013 [acesso 2015 Jan 5]; 45: 2-20 Disponível em: http://periodicos.ufpel.edu.br/ojs2/index.php/caduc/article/view/3814/3061 .
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para o alcance de metas nas situações específicas de enfermagem.

No contexto do estudo, o questionário adaptado configurou um recurso valioso para o êxito do estudante enquanto instrumento diagnóstico, por viabilizar a descoberta precoce do risco para o desempenho insatisfatório em situações peculiares. Afinal, os fatores que afetam o aprendizado e a tomada de decisões constituem elementos seminais para o planejamento e a implementação dos cuidados de enfermagem sob a ótica da Teoria do Controle da Ação.2121 Castelo Branco EMS. O controle das ações do estudante de enfermagem na implementação dos cuidados preventivos para úlceras por pressão [tese]. Rio de Janeiro (RJ): Universidade Federal do Rio de Janeiro; 2007.

CONCLUSÃO

A tradução e adaptação transcultural do questionário HAKEMP 90 resultou em um instrumento adequado à língua portuguesa, apresentando compreensão e concordância entre os itens. Os componentes do controle da ação que permeiam o processo de aprendizagem apresentados na versão brasileira do HAKEMP 90 agregam contribuições relevantes para o planejamento do cuidado de enfermagem competente e humano. Desse modo, intervém qualitativamente nas ações do estudante, na medida em que se torna uma ferramenta que cria condições para a manutenção do desejo de aprender, de tomar decisões conscientes e determinadas para a consecução da tarefa e o alcance dos objetivos.

REFERENCES

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    Apr-Jun 2015

Histórico

  • Recebido
    12 Dez 2013
  • Aceito
    24 Nov 2014
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