COMPETÊNCIAS NO PROCESSO DE FORMAÇÃO DO ENFERMEIRO PARA O CUIDADO AO ENVELHECIMENTO: REVISÃO INTEGRATIVA

RESUMO

O objetivo deste estudo foi sintetizar os estudos produzidos nas bases de dados nacionais sobre processo de formação de estudantes de enfermagem, considerando a proposta curricular orientada por competências profissionais relacionadas ao cuidado ao envelhecimento. Foi realizada uma revisão integrativa nas bases LILACS e BDENF com os seguintes descritores: "enfermagem geriátrica", "enfermagem gerontológica" e "educação". Para análise dos artigos foi utilizada a análise de conteúdo. Em seguida foram construídas nuvens de palavras. Nos 17 artigos que preencheram os critérios de inclusão e exclusão, os principais temas abordados foram idoso, envelhecimento, velhice, gerontologia e geriatria, enfermagem gerontogeriátrica, cuidados aos idosos e formação acadêmica. Na pesquisa feita, é possível observar a ausência de estudos que abordem, de forma mais estruturada, as competências para o cuidado ao envelhecimento nos cursos de graduação em enfermagem. Os artigos abordam, geralmente, as estruturas de currículos orientados pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Enfermagem, porém, predominantemente, na metodologia tradicional, com foco na transmissão do conhecimento.

DESCRITORES:
Competência profissional; Programas de graduação em enfermagem; Envelhecimento

ABSTRACT

The aim of this study was to synthesize the knowledge produced about nursing students' education process in national databases, considering the curricular proposal of competency-based guidance related to care for the aging. An integrative review was performed in LILACS and BDENF bases with the following descriptors: "geriatric nursing", "gerontological nursing" and "education." Content analysis was applied in the articles. Subsequently, word clouds were built. In the seventeen articles that met the inclusion and exclusion criteria, the main topics discussed were elderly, aging, old age, gerontology and geriatrics, geriatric nursing, care for the elderly and academic education. The lack of studies that address the competencies to care for the aging in a more structured way in undergraduate nursing courses was, therefore, observes through this research. Articles generally address the curricula structures guided by the National Curriculum Guidelines for Nursing Courses, with the focus on knowledge transmission, usually following the traditional methodology.

DESCRIPTORS:
Professional competence. Education; nursing; diploma programs. Aging

RESUMEN

Este estudio sintetiza los estudios realizados en las bases de datos sobre el proceso de formación de estudiantes de enfermería sobre los planes de estudio orientados en competencias profesionales relacionadas con el cuidado del envejecimiento. Revisión integrativa en las bases LILACS y BDENF con los descriptores: "enfermería geriátrica", "enfermería gerontológica" y "educación". Para el análisis de los artículos se realizó un análisis de contenido, posteriormente fueron construidas nubes de palabras. En los 17 artículos que cumplían los criterios de inclusión y exclusión, los principales temas que se trataron fueron: edad, envejecimiento, vejez, gerontología y geriatría, enfermería geriátrica, atención a la formación de edad avanzada y formación académica. En los artículos encontrados es posible observar la ausencia de estudios que abordan de forma estructurada, las competencias para el cuidado del envejecimiento en los cursos de enfermería. Los artículos presentan estructuras curriculares basadas en las Directrices Curriculares Nacionales para la Carrera de Enfermería centrados en la transmisión del conocimiento con enfoque en la metodología tradicional.

DESCRIPTORES:
Competencia profesional; Programas de graduación en enfermería; Envejecimiento

INTRODUÇÃO

A discussão sobre o ensino superior em enfermagem, com a inclusão da disciplina geriatria e gerontologia no currículo acadêmico, acontece há tempos e intensificou-se com a implantação das Diretrizes Nacionais Curriculares, em 1994. Apesar das diretrizes apontarem o uso de competências nos cursos de formação para a saúde, pouco se discute o modelo curricular, principalmente o currículo orientado por competência profissional para o cuidado ao envelhecimento. O conceito de competências profissionais é polissêmico. Um deles, em uso, refere-se à competência profissional como "a capacidade de mobilizar articuladamente diferentes recursos (cognitivos, afetivos, psicomotores) que permitam abordar/resolver situações complexas referentes à prática profissional".^1:35

As competências profissionais envolvem três eixos ou recursos que as compõem: conhecimentos, compreendidos como o saber do profissional; habilidades, entendidas como o saber fazer; e atitudes, aqui definidas como saber agir, julgar, escolher e decidir em uma situação específica.²

A publicação da Política Nacional do Idoso (PNI),³ embasada no crescimento demográfico dessa faixa etária, estabelece como, diretrizes entre outras, o atendimento qualificado e a formação de recursos humanos. Deve haver, portanto, reflexo dessa exigência na estrutura e na composição dos currículos dos cursos de enfermagem.

A abordagem por competências na formação em saúde procura ir além do simples repasse de conhecimento teórico. O aprendiz precisa inserir-se em práticas em que seja possível o exercício da mobilização de conhecimentos em situações complexas, formação esta que pode responder à demanda apontada nas Diretrizes Curriculares e na PNI, de acordo com as necessidades do SUS.⁴

O envelhecimento da população, a necessidade de formação por competência profissional e a legislação são fatores que apontam para a necessidade de revisar os currículos e agregar o conhecimento já produzido sobre o tema para auxiliar o desenvolvimento de programas acadêmicos reais e eficazes para as futuras gerações de enfermeiros e profissionais de saúde em geral.

Sendo assim, estipulou-se como questão desta pesquisa: "de que modo os artigos publicados na área de saúde refletem o processo de formação dos estudantes de enfermagem, considerando as competências profissionais para o cuidado ao envelhecimento durante a graduação?"

O objetivo deste estudo foi sintetizar o que se tem produzido e publicado, nas bases de dados nacionais, sobre o processo de formação de estudantes de enfermagem, numa proposta curricular orientada por competências profissionais relacionadas ao cuidado para o envelhecimento.

MÉTODO

Procedeu-se a uma revisão integrativa,⁵ de acordo com os seis passos apontados por Ganong^6-7 para a realização da mesma.

O levantamento bibliográfico apoiou-se nos bancos de dados LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde) e BDENF (Base de Dados Bibliográficos Especializada na área de Enfermagem), no período de abril de 2014.

Foram utilizados os seguintes descritores: "enfermagem geriátrica", "enfermagem gerontológica" e "educação", estabelecendo a estratégia: (enfermagem and (geriatr$ or geronto$^*)) and (educacao), nas plataformas de busca a fim de encontrar resultados favoráveis para a discussão do tema.

Para a coleta dos dados, agrupamento e análise dos trabalhos foi utilizado o formulário validado por Ursi,⁸ cujo objetivo é assegurar a extração da totalidade dos dados relevantes, minimizar o risco de erros na transcrição, garantir precisão na checagem das informações e servir como registro seguro.

Como critérios para a seleção foram estabelecidos os seguintes: estudos publicados na íntegra em periódicos nacionais e os que abordassem a temática de competência profissional durante a graduação no curso de enfermagem, com foco no cuidado ao envelhecimento ou a idosos.

Os critérios de exclusão foram estudos sem resumo, duplicados, editoriais, monografias, dissertações, teses, cartas e estudos internacionais. Não foram excluídos artigos anteriores à publicação das Diretrizes Curriculares para o curso de graduação em enfermagem (2001), pois foram considerados importantes para o entendimento do processo de construção histórica do currículo.

Para a seleção e a exclusão dos artigos houve apoio das reflexões acerca dos elementos estruturantes dos trabalhos publicados.⁹ Ao final, no geral, foram levantados 63 artigos. Sobre a temática proposta havia 20 e por serem dissertações, três deles foram excluídos. Assim, para a análise, restaram 17 artigos.

Para análise qualitativa foi realizada a análise de conteúdo. Para ilustração dos resultados utilizou-se a ferramenta de nuvens de palavras do aplicativo Wordle(tm). Este é uma ferramenta para geração de visualizações personalizadas pelos usuários. Os resultados são apresentados como imagens que mostram as palavras mais proeminentes. Há uma correlação entre as nuvens de palavras e a análise de discurso, modalidade temática.¹⁰ Neste estudo, as palavras utilizadas foram retiradas dos periódicos selecionados.

RESULTADOS

A época de publicação dos artigos variou de 1988 a 2013. Os principais temas abordados foram idoso, envelhecimento, velhice, gerontologia e geriatria, enfermagem gerontogeriátrica, cuidados aos idosos e formação acadêmica. Quanto à metodologia utilizada, houve predominância de métodos qualitativos. Três estudos não apresentaram a descrição da metodologia. Os dados principais dos artigos estão sintetizadas no quadro 1.

Quadro 1
Distribuição das publicações da temática competências de enfermagem para o cuidado ao idoso, segundo título do artigo, periódico, método do estudo, tipo de análise de dados e local da pesquisa. Marília-SP, Brasil, 2014

A análise dos dados ocorreu, predominantemente, por análise de conteúdo nas pesquisas qualitativas e distribuição de frequência simples, Teste estatístico paramétrico e não paramétrico (ANOVA), "t" de Student e Modelo de Spearman-Cronbach para os estudos quantitativos.

Nos artigos pesquisados foram elencados os seguintes pilares temáticos: competências para o cuidado ao envelhecimento durante a graduação nos cursos de nível superior de enfermagem; disciplinas implantadas nos cursos de enfermagem, referentes ao envelhecimento e carga horária destinada ao estudo e à prática; estratégias utilizadas no processo de formação de competências; e principais percepções dos alunos acerca da estrutura do currículo acadêmico de enfermagem e velhice.

As competências identificadas foram transformadas em nuvens de palavras e estão ilustradas na figura 1.

Figura 1
Competências para o cuidado ao envelhecimento durante a graduação nos cursos de nível superior de enfermagem, conforme artigos revisados. Marília-SP, Brasil, 2014

Quanto à carga horária das disciplinas destinadas ao ensino do processo do envelhecimento, foram encontradas variações locais e lacunas de informações. O conteúdo é trabalhado entre aulas teóricas e práticas, nas disciplinas Assistência de Enfermagem Gerontológica, Fundamentos à Atenção Gerontológica e Aspectos Legais, Compreendimento da Senescência, envolvendo aspectos gerais e específicos, Aspectos Políticossociais, Econômicos e Culturais do Envelhecimento, Senilidade, Atenção à Saúde do Idoso em Diferentes Contextos, Aspectos Demográficos e Epidemiológicos e Enfoque Multidisciplinar no Ensino de Graduação em Enfermagem.

Quanto às estratégias utilizadas no processo de formação por competências profissionais foram evidenciadas diversas formas, de acordo com a imagem da figura 2, em que se observa sua diversidade na composição do processo de ensino-aprendizagem nos cursos de enfermagem de distintas instituições.

Figura 2
Estratégias de ensino-aprendizagem utilizadas no processo de formação por competência profissional. Marília-SP, Brasil, 2014

Na descrição das atividades didáticas extraídas dos artigos é possível captar diferentes percepções dos discentes e docentes acerca da estrutura do currículo acadêmico de enfermagem voltado para o cuidado ao envelhecimento, como mostra a figura 3.

Figura 3
Principais percepções dos discentes e docentes acerca da estrutura das disciplinas do curso de enfermagem para o cuidado ao envelhecimento. Marília-SP, Brasil, 2014

Na figura 4 estão as palavras que definem as percepções dos discentes quando questionados sobre o que é velhice.

Figura 4
Percepção dos discentes sobre o que é velhice. Marília-SP, Brasil, 2014

DISCUSSÃO

Competência profissional - nuvem de palavras da figura 1

As competências profissionais podem ser consideradas aspectos essenciais na conformação dos projetos pedagógicos e das matrizes curriculares dos cursos de enfermagem, segundo as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs). Consequentemente, norteiam a formação dos profissionais. Assim, o modelo de currículo baseado em competências é privilegiado para alavancar as transformações que vêm acontecendo no mundo do trabalho, especificamente nos serviços de saúde.²⁸

O conceito de competência profissional remete a uma série de distintas correntes filosóficas. Em essência, esse conceito diz respeito aos elementos ou recursos que compõem essa competência.² Assim, aparecem, na nuvem de palavras da figura 1, em destaque: "atitude" e "habilidade". A palavra "conteúdo" aparece em menor tamanho, assim como "saber", "estudo" e "técnica". Também aparecem verbos de ação, como cuidar, falar, participação, aproximação e orientação.

O conhecimento atrelado, como "o saber adquirido pelo profissional",² acoplou-se ao ato de estudar conteúdos teóricos relacionados ao processo de envelhecimento e geriatria. Já as habilidades "saber fazer específico do profissional", na visão desses autores, podem estar correlacionadas aos projetos de extensão e pesquisa e assistência ao idoso, com foco na realização de procedimentos.

Organização curricular, disciplinas e carga horária

Quanto à organização curricular, observa-se que há diversas maneiras de se abordar o conteúdo nos artigos revisados. Em âmbito internacional, a gerontologia pode ser compreendida como o estudo do envelhecimento. Sendo assim, em seu núcleo estão abrigadas a geriatria, cujo foco é a prevenção e o tratamento de doenças na velhice, e a gerontologia social, articulada com diversas áreas, como psicologia, serviço social e direito, entre outras.²⁹

A discussão sobre o ensino superior em enfermagem, com a implantação da disciplina geriatria e gerontologia no currículo acadêmico, intensificou-se com a implantação das Diretrizes Nacionais Curriculares em 1994. No final da década de 90 surge outra proposta curricular para os cursos de graduação em enfermagem que abrange o que rege os princípios curriculares propostos pela ABEn, ou seja, incluir o ser idoso na área de assistência de Enfermagem.¹¹ Assim, a graduação torna-se um espaço privilegiado para formação de profissionais competentes e capazes de atender às necessidades sociais de saúde.³⁰

As disciplinas que aparecem nos artigos de "Enfermagem Geriátrica" e de "Gerontologia e Geriatria" revisados representam propostas de inserção curricular deste campo da ciência no processo de ensino-aprendizagem. Um artigo propõe, no 5º período, a disciplina "Enfermagem em Saúde do Adulto e Idoso", em que o conteúdo envelhecimento e saúde do idoso é abordado dentro da saúde do adulto. Essa junção adulto e idoso tem um componente histórico quanto à organização curricular.

Estratégias de ensino - nuvem de palavras da figura 2

Os cenários práticos podem ser considerados ferramentas articuladoras para o desenvolvimento das competências profissionais. A nuvem de palavras mostra processos de aprendizagem embasados em atividades de cunho prático. Essas atividades práticas com os idosos concretizam-se pela inserção dos estudantes em cenários como hospitais, asilos e visitas domiciliares (VDs). Experiências no campo prático permitem conhecer a diversidade e a heterogeneidade do processo de envelhecimento; proporcionam envolvimento em pesquisas e conhecimento dos avanços tecnológicos da área; os estudantes passam a reconhecer, tanto na teoria como na prática, a importância da ação interdisciplinar; contribuem para implantação de programas de educação para o envelhecimento; assumem os desafios da área na promoção da saúde, do bem-estar e da qualidade de vida do idoso; e promovem junto à sociedade, por meio da ação educativa, mudanças de percepções e atitudes sobre a velhice e o envelhecimento.¹³

Outras atividades também aparecem como estratégias de ensino. A interdisciplinaridade entre pesquisa, extensão, participação social, oferta de conteúdos geriátricos parciais integrados a outras disciplinas e aperfeiçoamento específico aparece como ideal de formação nos artigos revisados. Conteúdos sobre idosos na matriz curricular, reportando-se a conceitos de geriatria, gerontologia, autonomia, independência, autocuidado, alterações que ocorrem no processo de envelhecimento, promoção e prevenção, paliativismo, apoio social e fragilidades tornam-se necessários. A implementação de Ligas de Geriatria e Gerontologia e de Projetos de Extensão e participação em eventos científicos são algumas das estratégias para uma formação articulada e sólida.

Uma adequada organização curricular pode proporcionar aprofundamento do estudo de gerontologia em relação à atenção à saúde do idoso, possibilitando conhecer as principais necessidades de saúde dessa população, bem como delinear cuidados para a melhoria da assistência, visando à prevenção, à promoção e à reabilitação da saúde, baseando-se no desenvolvimento das competências para formação de profissionais capacitados para assistirem essa clientela.¹⁷

A integralidade do cuidado também deve contextualizar o envelhecimento num panorama mais amplo do que o estritamente biológico. Assim, cabe estabelecer conexões que não sejam estritamente biológicas, entendendo os múltiplos fatores e conceitos, como o da velhice, que estão atrelados ao processo de envelhecimento. Há poucos espaços de reflexão para a consideração da velhice como uma fase do ciclo de vida do indivíduo que, além de doenças, tem uma história, uma identidade, um lugar social e necessidades de saúde.³¹

Percepções dos discentes e docentes - nuvem de palavras da figura 3

A percepção dos docentes e discentes esteve principalmente relacionada à estrutura das disciplinas do curso de enfermagem voltadas para o cuidado ao envelhecimento. Há variados fundamentos sobre a importância do ensino de gerontologia nas universidades. Esse ensino possibilita mudança na concepção de idoso, favorecendo a atenção à saúde dos idosos, em especial sobre o relacionamento interpessoal, o que ajuda a rever preconceitos em relação a esse indivíduo.

Os estudantes têm clara a percepção de que a discussão na graduação sobre o processo do envelhecimento torna-se importante para a realidade atual e para os futuros profissionais que irão trabalhar com idosos. Os estudantes acham interessantes as discussões, porém não desejam estudar o assunto em uma disciplina específica, podendo ser abordado em outras disciplinas. Compartilham que discutindo mais o assunto poderão ter melhor aceitação das pessoas na família, além de conhecer as questões políticas e sociais que se referem a está população.²³

O cuidar remete-se a sensibilidade, conhecimento técnico especializado e reconhecimento social, razão pela qual há necessidade de criação de um componente curricular em gerontologia, de inserção do tema Saúde do Idoso em todos os componentes curriculares, de criação de práticas de grupos específicos e de docente/discente nas universidades a fim de consolidar o processo de aprendizagem.²⁵

Os investigados contribuem, de forma significativa, com suas percepções, reconhecendo que a organização curricular proporciona aprofundamento do estudo em gerontologia em relação à atenção à saúde do idoso e possibilita conhecer as principais necessidades e especificidades dessa população, bem como planejar intervenções para a melhoria da assistência. Visam assim à prevenção de doenças e à promoção da saúde, aperfeiçoando, por meio desses conhecimentos, a formação de profissionais especializados para assistirem essa clientela, que corresponde à grande demanda da população atual.¹⁸

A integralidade do cuidado contextualiza o envelhecimento num panorama mais amplo do que o estritamente biológico.²⁴ Os profissionais ainda discutem a organização curricular, que dá atenção predominante a aspectos patológicos e à superespecialização, havendo pouco espaço para a consideração da velhice como uma fase do ciclo de vida do indivíduo que, além de doenças, tem uma história, uma identidade e um lugar social inseparável no processo saúde-doença.

Entendimento sobre velhice - nuvem de palavras da figura 4

Cabe ressaltar que envelhecimento e velhice são termos distintos. O envelhecimento é definido em termos biológicos, e a velhice, delimitada por eventos de natureza múltipla e tendo significado amplo. É possível entendê-la como sendo a última fase do ciclo vital, marcada por eventos múltiplos. À medida que o ciclo vital humano se alonga, a velhice passa a comportar subdivisões que atendem a necessidades organizacionais da ciência e da vida social.²⁹

Refletindo sobre os conceitos sobre envelhecimento e velhice, aprofunda-se a reflexão.³² "Nada flutua mais do que os limites da velhice em termos de complexidade fisiológica, psicológica e social. Uma pessoa é tão velha quanto suas artérias, seu cérebro, seu coração, seu moral ou sua situação civil? Ou é uma maneira pela qual outras pessoas passam a encarar certas características que classifica as pessoas como velhas?"^32:73

O envelhecimento é geralmente percebido como algo negativo. Por outro lado, também é descrito como um processo natural. Na realidade, trata-se de um estado de dependência e de fragilidade, em que os idosos necessitam de cuidados especiais. Como o processo de envelhecimento é encarado como algo que gera dependências, caracteriza-se o indivíduo idoso como velho e incapaz. O processo de envelhecimento é visto pelos acadêmicos como um conjunto de alterações fisiológicas, bioquímicas e psicoemocionais e, embora haja perdas que prejudicam as atividades diárias, ao mesmo tempo, pode haver mecanismos de aproveitamento de sua capacidade funcional. O entendimento do social é um preceito a ser contextualizado e ligado ao envelhecer.²⁵

A enfermagem gerontogeriátrica contribui para a formação do futuro enfermeiro, despertando-o para a importância de aprender, a saber, cuidar do ser humano idoso, tanto quanto saber cuidar dos outros seres humanos. A pesquisa oportuniza ao futuro profissional a reconstrução de suas concepções sobre o objeto que lhe foi foco de discussão e pode unificar atitudes de responsabilidade, autonomia, ética, análise e individuação do seu processo formativo. Pode também motivar o futuro trabalhador a ampliar o seu olhar sobre as situações que se apresentarem em sua vida profissional relacionadas aos idosos. Estabelecer relações entre o saber escolar e o saber em sociedade termina por influenciar positivamente a formulação de currículos e programas mais adequados, despertando os professores para uma maior intensificação neste intercâmbio e, por conseguinte, para uma melhora do processo ensino-aprendizagem.²¹

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nos artigos analisados nesta revisão é possível observar a ausência de estudos que abordem de forma mais estruturada as competências para o cuidado ao envelhecimento no curso de graduação de enfermagem. Os artigos apresentam estruturas de currículos, orientados pelas Diretrizes Curriculares Nacionais para o curso de enfermagem, porém, predominantemente, estão formuladas, na metodologia tradicional, com foco na transmissão do conhecimento. Os processos de ensino-aprendizagem encontrados nos artigos desta revisão apresentam pouco avanço, mesmo considerando que alguns são anteriores à publicação das DCNs, fazendo imaginar que é necessário muito mais do que 10 anos para implantar novos currículos e avaliá-los para posterior publicação de resultados.

Espera-se, com esta revisão, despertar para o desenvolvimento de novos estudos que possam favorecer o processo de formação ao cuidado, orientado por competências. Buscamos identificar as competências que permeiam a formação acadêmica do enfermeiro e, com isso, contribuir para a criação de estratégias de ensino aprendizagem por meio de uma formação generalista.

Essa busca por soluções de implementação do que é definido nas diretrizes e na Política Nacional ao Idoso, estratégias de ensino-aprendizagem adequadas nas instituições de ensino superior dos cursos de enfermagem envolvem o desenvolvimento das competências necessárias para o cuidado ao idoso, que não deve ser considerado um velho adulto, uma vez que possui suas particularidades nos contextos biopsicosociais, requisitando competências específicas dos profissionais de saúde.

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  Prado SD, Sayd JD. A gerontologia como campo do conhecimento científico: conceito, interesses e projeto político. Cienc Saúde Coletiva [Internet]. 2006 [cited 2014 nov 20]; 11(2):491-501. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v11n2/30436.pdf
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• ³⁰
  Araújo DV, Silva CCS, Silva, ATMC. Formação de força de trabalho em saúde: contribuição para a prática educativa em enfermagem. Cogitare Enferm [Internet]. 2008 [cited 2015 Jan 20]; 13(1):10-7. Available from: http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs/index.php/cogitare/article/view/11944/8428
  » http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs/index.php/cogitare/article/view/11944/8428
• ³¹
  Cecílio LCO. As necessidades de saúde como conceito estruturante na luta pela integralidade e equidade na atenção à saúde. In: Pinheiro R, Mattos RA, organizadores. Os sentidos da integralidade na atenção e no cuidado à saúde. Rio de Janeiro: ABRASCO; 2001. p. 113-26.
• ³²
  Veras RP. País jovem com cabelos brancos: a saúde do idoso no Brasil. Rio de Janeiro: Relume Dumará; 1994.

• *
  O uso do $ tem a função de buscar palavras derivadas que se iniciem pelo prefixo utilizado, no caso farão parte da estratégia palavras como: gerontologia, gerontólogo, gerontóloga, entre outras, facilitando a busca.

Datas de Publicação

• Publicação nesta coleção
  2016

Histórico

• Recebido
  24 Set 2015
• Aceito
  05 Maio 2016