Acessibilidade / Reportar erro

A METODOLOGIA DA TEORIA FUNDAMENTADA NOS DADOS CLÁSSICA: CONSIDERAÇÕES SOBRE SUA APLICAÇÃO NA PESQUISA EM ENFERMAGEM

LA METODOLOGÍA DE LA GROUNDED THEORY CLÁSICA: CONSIDERACIONES SOBRE SU APLICACIÓN EN LA INVESTIGACIÓN EN ENFERMERÍA

RESUMO

Objetivo:

discutir o papel dos orientadores e estudantes que usam a Teoria Fundamentada dos dados no contexto da pós-graduação em enfermagem, como mestrado, doutorado ou doutorado profissional.

Método:

utilizou-se análise reflexiva, organizada em três seções: 1) Visão geral da Teoria Fundamentada nos dados; 2) Papel dos orientadores; e 3) Papel dos estudantes.

Resultados:

a Teoria Fundamentada nos dados é uma das metodologias de pesquisa qualitativa mais utilizadas na enfermagem. No entanto, na prática, diferentes abordagens são empregadas, gerando confusão. A metodologia Teoria Fundamentada nos dados, desenvolvida por Glaser e Strauss, busca compreender o que está acontecendo em uma área substantiva, e seus procedimentos orientam os pesquisadores na descoberta da principal preocupação dos participantes com base em dados emergentes, não em dados pré-concebidos.

Conclusão:

a Teoria Fundamentada nos Dados incentiva a autonomia de pesquisadores, e os orientadores precisam adotar um estilo de supervisão que maximize o desenvolvimento da teoria, sabendo que a Teoria fundamentada dos Dados é melhor aprendida por meio de experiências. Os pesquisadores devem confiar que a metodologia permitirá que eles desenvolvam uma teoria significativa, contando a forma utilizada pelos participantes para resolverem suas principais preocupações.

DESCRITORES:
Pesquisa qualitativa; Pesquisa em enfermagem; Teoria fundamentada nos dados; Coleta de dados

RESUMEN

Objetivo:

discutir el papel de los supervisores y los estudiantes que utilizan la Teoría de Grounded Theory en el contexto de los grados de investigación de enfermería, tales como en la Maestría, doctorado académico o Doctorado Profesional.

Método:

análisis reflexivo, organizado en tres secciones: 1) Visión general de la grounded theory clásica; 2) El papel de los supervisores; y 3) El papel de los estudiantes.

Resultados:

la Grounded Theory es una de las metodologías de investigación cualitativa más utilizadas en enfermería. Sin embargo, en la práctica se utilizan diferentes enfoques, lo que genera mucha confusión. La metodología de la Grounded Theroy como originada por Glaser y Strauss enfatiza la apertura a lo que está sucediendo en un área sustantiva y sus procedimientos orientan a los investigadores a descubrir la principal preocupación de los participantes basada en la emergencia y no en los preconceptos.

Conclusión:

fomenta la autonomía de los investigadores y los supervisores deben supervisar de una manera que maximice esto, siendo conscientes de que la teoría fundamentada es mejor aprendida experimentalmente. Los estudiantes deben confiar en que la metodología les permitirá desarrollar una teoría multivariable que explique cómo los participantes resuelven o procesan su principal preocupación.

DESCRIPTORES:
Investigación cualitativa; Investigación en enfermería; Grounded Theory; Investigación metodológica en enfermería; Recopilación de datos

ABSTRACT

Objective:

to discuss the role of supervisors and students using Classic Grounded Theory within the context of nursing research degrees such as a Masters, Ph.D. or Professional Doctorate.

Method:

it is a reflexive analysis, organized into three sections: 1) Overview of Classic Grounded Theory; 2) The role of supervisors; and 3) The role of students.

Results:

Grounded Theory is one of the most widely used qualitative research methodologies in nursing. However, in practice different approaches are used, leading to much confusion. Grounded Theory methodology as originated by Glaser and Strauss emphasises openness to what is happening in a substantive area and its procedures guide researchers in discovering the main concern of participants based on emergence rather than preconceptions.

Conclusion:

it encourages researcher autonomy and supervisors need to supervise in a way that maximises this, while being aware that Grounded Theory is best learned experientially. Students should trust that the methodology will enable them to develop a multivariate theory accounting for how participants resolve or process their main concern.

DESCRIPTORS:
Qualitative research; Nursing research; Grounded theory; Nursing methodology research; Data collection

INTRODUÇÃO

A Teoria Fundamentada nos Dados (TFD) é uma das metodologias de pesquisa qualitativa mais usada em enfermagem, que inclui um conjunto de etapas rigorosas e sistemáticas,1Evans GL. A novice researcher’s first walk through the maze of grounded theory: rationalization for classical grounded theory. Int J Grounded Theory Rev [Internet]. 2013 [cited 2017 Jan 20]; 12(1):37-55. Available from: http://groundedtheoryreview.com/2013/06/22/a-novice-researchers-first-walk-through-the-maze-of-grounded-theory-rationalization-for-classical-grounded-theory/
http://groundedtheoryreview.com/2013/06/...
as quais guiam pesquisadores desde o momento em que entram no campo de estudo.2Glaser BG. Theoretical sensitivity: advances in the methodology of grounded theory. Mill Valley (CA): Sociology Press; 1978. O potencial da TFD é fornecer um guia para uma maior compreensão do fenômeno, o que é especialmente importante no campo da enfermagem e da saúde.1Evans GL. A novice researcher’s first walk through the maze of grounded theory: rationalization for classical grounded theory. Int J Grounded Theory Rev [Internet]. 2013 [cited 2017 Jan 20]; 12(1):37-55. Available from: http://groundedtheoryreview.com/2013/06/22/a-novice-researchers-first-walk-through-the-maze-of-grounded-theory-rationalization-for-classical-grounded-theory/
http://groundedtheoryreview.com/2013/06/...
,3Lanzoni GMM, Meirelles BHS, Cummings G. Nurse leadership practices in primary health care: a grounded theory. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2016 [cited 2017 Mar 30]; 25(4):e4190015. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072016000400305&lng=pt
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
-4Santos JLG, Erdmann AL, Sousa FGM, Lanzoni GMM, Melo ALSF, Leite JL. Methodological perspectives in the use of grounded theory in nursing and health research. Esc Anna Nery [Internet]. 2016 [cited 2017 Jan 20]; 20(3):e20160056. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-81452016000300201&lng=en
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...

A TFD originou-se na sociologia, a partir de um estudo sobre o processo de morrer no hospital.5Glaser BG, Strauss A. The discovery of grounded theory: strategies for qualitative research. London (UK): Aldine Transaction, 1967. Logo depois, houve divergência na metodologia. Há evidências de alunos que, desde o início, Glaser e Strauss não compartilhavam a mesma compreensão sobre a TFD.

Existem três versões principais da metodologia: TFD clássica (Glaser); TFD straussiana (Corbin e Strauss) e TFD construtivista (Charmaz).4Santos JLG, Erdmann AL, Sousa FGM, Lanzoni GMM, Melo ALSF, Leite JL. Methodological perspectives in the use of grounded theory in nursing and health research. Esc Anna Nery [Internet]. 2016 [cited 2017 Jan 20]; 20(3):e20160056. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-81452016000300201&lng=en
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
,6Gibson B, Hartman J. Rediscovering grounded theory. London (UK): Sage Publications Ltd., 2014. Essas diferentes versões originaram-se em resposta ao que é visto como um fracasso da TFD em levar em conta o pós-modernismo, em particular os debates em torno da natureza da realidade, resultando em críticas por ser “objetivista”.7Bryant A, Charmaz K. GT in historical perspective. The sage handbook of grounded theory. London (UK): Sage Publications Ltd., 2010. No entanto, a TFD não é objetivista, mas de natureza conceitual.8Glaser BG. Constructivist grounded theory? FQS. 2002; 3(3):1-14. Essas questões são discutidas em outros estudos.6Gibson B, Hartman J. Rediscovering grounded theory. London (UK): Sage Publications Ltd., 2014.,9Andrews T. What is social constructionism? Int J Grounded Theory Rev. 2012; 11(1):39-46. Este artigo enfoca a Teoria Fundamentada clássica como originada e elaborada por Glaser2Glaser BG. Theoretical sensitivity: advances in the methodology of grounded theory. Mill Valley (CA): Sociology Press; 1978.,4Santos JLG, Erdmann AL, Sousa FGM, Lanzoni GMM, Melo ALSF, Leite JL. Methodological perspectives in the use of grounded theory in nursing and health research. Esc Anna Nery [Internet]. 2016 [cited 2017 Jan 20]; 20(3):e20160056. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-81452016000300201&lng=en
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
,10Glaser BG. Doing grounded theory: issues and discussions. Mill Valley (CA): Sociology Press, 1998.-13Glaser BG, Holton J. Remodeling grounded theory. FQS. 2004; 5(2):1-22. e outras publicações.

O objetivo deste artigo é discutir o papel dos orientadores e estudantes no contexto do desenvolvimento de pesquisas no contexto da pós-graduação em enfermagem, como mestrado, doutorado ou doutorado profissional, quando os alunos decidem utilizar a metodologia. A natureza aberta e emergente da TFD é enfatizada em conjunto com conselhos práticos para orientadores e alunos sobre como lidar com o relacionamento de orientação em benefício mútuo. Isso é melhor alcançado quando o relacionamento fundamenta-se no respeito pela autonomia do pesquisador, em uma orientação positiva e encorajadora. Primeiramente, a Teoria Fundamentada nos Dados é apresentada de maneira resumida.

VISÃO GERAL DA TEORIA FUNDAMENTADA NOS DADOS CLÁSSICA

A Teoria Fundamentada nos Dados é muito simples em sua essência. Baseia-se na tendência natural das pessoas para a teorização e na ideia de que o comportamento é padronizado. A TFD assume que a organização social da vida é tal que os indivíduos estão sempre no processo de resolução de problemas relevantes.2Glaser BG. Theoretical sensitivity: advances in the methodology of grounded theory. Mill Valley (CA): Sociology Press; 1978. O objetivo daqueles que usam essa metodologia é identificar esses padrões e conceitualizá-los. Por esse motivo, a unidade de análise é o comportamento das pessoas, e não as pessoas em si. O objetivo da TFD é fornecer uma explicação teórica de como a principal preocupação dos participantes é gerenciada por eles.2Glaser BG. Theoretical sensitivity: advances in the methodology of grounded theory. Mill Valley (CA): Sociology Press; 1978.,4Santos JLG, Erdmann AL, Sousa FGM, Lanzoni GMM, Melo ALSF, Leite JL. Methodological perspectives in the use of grounded theory in nursing and health research. Esc Anna Nery [Internet]. 2016 [cited 2017 Jan 20]; 20(3):e20160056. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-81452016000300201&lng=en
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
A principal preocupação refere-se à algo importante para os indivíduos. É uma metodologia geral que pode ser usada com dados qualitativos ou quantitativos, mas é usada principalmente no desenvolvimento de pesquisas qualitativas.10Glaser BG. Doing grounded theory: issues and discussions. Mill Valley (CA): Sociology Press, 1998.,14Kenny M. Fourie R. Contrasting classic, straussian, and constructivist grounded theory: methodological and philosophical conflicts. Qualitative Report. 2015; 20(8):1270-89.

Uma das características definidoras da TFD é a liberdade e flexibilidade para permitir a emergência dos conceitos.4Santos JLG, Erdmann AL, Sousa FGM, Lanzoni GMM, Melo ALSF, Leite JL. Methodological perspectives in the use of grounded theory in nursing and health research. Esc Anna Nery [Internet]. 2016 [cited 2017 Jan 20]; 20(3):e20160056. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-81452016000300201&lng=en
http://www.scielo.br/scielo.php?script=s...
O significado dessa liberdade na TFD não é rejeitar o conhecimento prévio e aconselhamento externo na sequência de uma exploração irrestrita para estudar o que quer que seja interessante, mas focar no que interessa aos participantes, lembrando que o objetivo da TFD é gerar uma teoria que explique padrões de comportamento que são problemáticos e relevantes para eles. A liberdade e flexibilidade na TFD é sobre confiar na emergência da teoria, o que significa estar aberto ao que está acontecendo na área substantiva, enquanto tolera não saber sobre o que será o estudo. Glaser10Glaser BG. Doing grounded theory: issues and discussions. Mill Valley (CA): Sociology Press, 1998. desaconselha a pesquisa de um problema profissionalmente preconcebido ao invés de confiar que o problema surgirá.

Os pesquisadores não podem saber antecipadamente o que está acontecendo no campo em estudo. No entanto, os requisitos das universidades, comitês de ética e órgãos de financiamento geralmente exigem que uma proposta de pesquisa inclua questões ou objetivos de pesquisa específicos. Embora isso pareça em desacordo com a TFD, a proposta pode ser escrita de forma a manter a flexibilidade nas questões de pesquisa e no desenho metodológico. Por exemplo, a primeira poderia ser escrita de forma não específica e geral, com questões e objetivos de pesquisa amplos. Não é incomum que o foco da pesquisa mude ao longo do desenvolvimento da pesquisa qualitativa.

Coleta de dados

O mantra da TFD é que “tudo é dado”.2Glaser BG. Theoretical sensitivity: advances in the methodology of grounded theory. Mill Valley (CA): Sociology Press; 1978. Existem múltiplas fontes de dados potenciais e disponíveis para os pesquisadores. Na verdade, Hartman e Gibson6Gibson B, Hartman J. Rediscovering grounded theory. London (UK): Sage Publications Ltd., 2014. preconizam que os pesquisadores devem usar diversas fontes de dados em qualquer estudo, incluindo entrevistas, observações, documentários e biografias/autobiografias.10Glaser BG. Doing grounded theory: issues and discussions. Mill Valley (CA): Sociology Press, 1998. Se as entrevistas forem usadas, Glaser recomenda que estas sejam de natureza conversacional e curtas, entendendo que os pesquisadores podem retornar aos mesmos participantes em várias ocasiões.8Glaser BG. Constructivist grounded theory? FQS. 2002; 3(3):1-14. No entanto, o pragmatismo pode julgar necessário que os participantes sejam entrevistados por mais tempo.

Amostragem teórica

Na TFD, os dados são analisados assim que são coletados, antes de retornar ao campo para uma nova coleta. A amostragem é teórica, por meio da qual as questões a serem feitas ou os tópicos a serem explorados baseiam-se no que está emergindo da análise dos dados e não podem ser predeterminadas.2Glaser BG. Theoretical sensitivity: advances in the methodology of grounded theory. Mill Valley (CA): Sociology Press; 1978. Isso envolve fazer a coleta, codificar e analisar os dados ao mesmo tempo e decidir quais dados coletar em seguida e onde encontrá-los, para desenvolver a teoria à medida que ele emerge.2Glaser BG. Theoretical sensitivity: advances in the methodology of grounded theory. Mill Valley (CA): Sociology Press; 1978. A idéia é que os pesquisadores não coletem os mesmos dados repetidamente ou façam as mesmas perguntas. Esse procedimento reduz o tempo da coleta de dados.10Glaser BG. Doing grounded theory: issues and discussions. Mill Valley (CA): Sociology Press, 1998.

Codificação

A análise não é uma descrição da “voz” dos participantes, mas uma explicação teórica abstrata do que eles estão fazendo.10Glaser BG. Doing grounded theory: issues and discussions. Mill Valley (CA): Sociology Press, 1998. A explicação é conceitual, não interacional.10Glaser BG. Doing grounded theory: issues and discussions. Mill Valley (CA): Sociology Press, 1998. A elaboração de conceitos é uma atividade interdependente à coleta e análise de dados, bem como à escrita de memorandos sobre as categorias.10Glaser BG. Doing grounded theory: issues and discussions. Mill Valley (CA): Sociology Press, 1998. O processo central na análise de dados é a codificação substantiva, composta por codificação aberta e seletiva, e codificação teórica.2Glaser BG. Theoretical sensitivity: advances in the methodology of grounded theory. Mill Valley (CA): Sociology Press; 1978.

Codificação Substantiva

O objetivo da codificação aberta é gerar um conjunto emergente de categorias e suas propriedades que se encaixam, funcionam e são relevantes para a integração em uma teoria.2Glaser BG. Theoretical sensitivity: advances in the methodology of grounded theory. Mill Valley (CA): Sociology Press; 1978. Para isso, os dados são analisados linha por linha e cada incidente é codificado com uma palavra-chave, que resume as seções de dados.14Kenny M. Fourie R. Contrasting classic, straussian, and constructivist grounded theory: methodological and philosophical conflicts. Qualitative Report. 2015; 20(8):1270-89. No entanto, é importante não codificar cada linha, uma vez que isso leva à geração de muitos códigos e causa confusão. Um código pode ser encontrado em uma frase, um parágrafo ou em uma página.10Glaser BG. Doing grounded theory: issues and discussions. Mill Valley (CA): Sociology Press, 1998. Ao codificar, os pesquisadores fazem quatro perguntas: 1) Sobre o que é esse estudo?; 2) A qual categoria este incidente pertence?; 3) O que está acontecendo nos dados?; 4) Qual é a principal preocupação dos participantes?

Pesquisadores que usam a TFD codificam padrões de comportamento. Pesquisadores que utilizam a TFD codificam padrões de comportamento. Dessa forma, o código é simplesmente uma representação de tal padrão, cujo processo é interrompido quando a saturação teórica é alcançada, ou seja, quando os incidentes não geram novas propriedades e a categoria apresentada corpo conceitual.

A comparação constante é um procedimento central na TFD, em que os dados - incidentes, códigos, categorias - são comparados entre si e a coleta de mais dados modificam a teoria.2Glaser BG. Theoretical sensitivity: advances in the methodology of grounded theory. Mill Valley (CA): Sociology Press; 1978. A amostragem teórica e a comparação constante ajudam a garantir que apenas os conceitos baseados nos dados ganhem seu caminho na teoria.5Glaser BG, Strauss A. The discovery of grounded theory: strategies for qualitative research. London (UK): Aldine Transaction, 1967.,8Glaser BG. Constructivist grounded theory? FQS. 2002; 3(3):1-14.

Uma vez que a categoria principal emerge, a codificação aberta é substituída pela codificação seletiva, em que os pesquisadores somente coletam e codificam para melhor explicar o fenômeno emergente. A categoria principal orienta a coleta de dados e a amostragem teórica. Isso continua até que não surjam novas categorias ou propriedades de categorias.2Glaser BG. Theoretical sensitivity: advances in the methodology of grounded theory. Mill Valley (CA): Sociology Press; 1978. O fenômeno é a categoria central e integra todas as outras categorias. O quadro 1 apresenta exemplos de Teoria Fundamentada nos Dados clássica na pesquisa na enfermagem.

Quadro 1
Exemplos de Teoria Fundamentada nos Dados Clássica na pesquisa na enfermagem. Florianópolis, SC, Brasil, 2017

Codificação teórica

Na pesquisa qualitativa, o quadro teórico é o fundamento conceitual de um estudo. Isso não é diferente no TFD, em que o propósito do quadro teórico é integrar a teoria ao conceituar como os códigos substantivos se relacionam uns aos outros como hipóteses.12Glaser BG. The grounded theory perspective III: theoretical coding. Mill Valley (US): Sociology Press , 2005. Como tudo no TFD, esse quadro teórico emerge no que é conhecido como codificação teórica. Esse processo leva a teoria emergente a um nível mais alto de conceituação, mas mantém a teoria fundamentada nos dados.19Holton J. The coding process and its challenges. Int J Grounded Theory Rev. 2010; 9(1):21-40.

Memorandos

Os memorandos são tão importantes para a TFD que se os pesquisadores não os escrevem, não estão fazendo TFD. Tratam-se de anotações de idéias sobre os códigos substantivos e sobre como se relacionam entre si.2Glaser BG. Theoretical sensitivity: advances in the methodology of grounded theory. Mill Valley (CA): Sociology Press; 1978. Esse é um processo constante e deve ser feito ao longo da pesquisa. Ideias sobre nomes a serem atribuídos à conceitos, sua relação entre si e o núcleo são desenvolvidas em memorandos. Eles aumentam o nível conceitual e ajudam a acompanhar as ideias a serem integradas mais tarde na teoria. Apesar da formulação excessiva de memorandos por alguns escritores, os pesquisadores são livres para fazer os memorandos como desejarem. Há apenas uma regra: interromper o que está sendo feito imediatamente para escrever uma nota, senão, a ideia pode ser perdida e por isso pode ser pensado como “captura do momento”.8Glaser BG. Constructivist grounded theory? FQS. 2002; 3(3):1-14. Os memorandos são eventualmente classificados e, com eles, a teoria está pronta para ser escrita.

Integração da literatura

Com a emergência da categoria principal, a literatura relevante sobre a área em estudo pode ser considerada. Ao decidir qual literatura buscar, os alunos decidem em que aspecto conferir maior impacto na teoria em desenvolvimento.2Glaser BG. Theoretical sensitivity: advances in the methodology of grounded theory. Mill Valley (CA): Sociology Press; 1978.,8Glaser BG. Constructivist grounded theory? FQS. 2002; 3(3):1-14.

Escrevendo a teoria

Glaser aconselha a ler outras monografias e artigos científicos para descobrir como eles são construídos. Ao escrever uma tese, ele sugere começar apresentando a natureza do problema e as propriedades gerais da categoria principal. Isso significa apresentar o conceito central em termos de suas categorias. Na TFD, o desafio é escrever conceitualmente. Isso significa relacionar conceito com conceito, e não com pessoas.10Glaser BG. Doing grounded theory: issues and discussions. Mill Valley (CA): Sociology Press, 1998. A teoria pode ser bastante densa e, portanto, deve ser fracionada para fornecer ilustrações das categorias. Estes podem ser na forma de citações directas ou vinhetas. Estes são para fins ilustrativos e não evidenciais. O produto final é uma teoria multivariada, que explica a preponderância do comportamento de como os participantes resolvem ou processam sua principal preocupação.

Finalmente, a TFD vem com seus próprios critérios para julgar o rigor da pesquisa. O ajuste define o quão bem os conceitos e a teoria refletem o que está acontecendo na área substantiva. Isso significa que as categorias devem ser indicadas pelos dados.2Glaser BG. Theoretical sensitivity: advances in the methodology of grounded theory. Mill Valley (CA): Sociology Press; 1978.,5Glaser BG, Strauss A. The discovery of grounded theory: strategies for qualitative research. London (UK): Aldine Transaction, 1967. Para que uma teoria seja considerada funcional, ela deve prever ou explicar o que acontecerá ou estará acontecendo dentro da área substantiva. A relevância significa que os conceitos e a teoria são relevantes para as pessoas cujo comportamento eles explicam.2Glaser BG. Theoretical sensitivity: advances in the methodology of grounded theory. Mill Valley (CA): Sociology Press; 1978.,10Glaser BG. Doing grounded theory: issues and discussions. Mill Valley (CA): Sociology Press, 1998. A modificabilidade significa que a teoria pode mudar para acomodar novos dados.10Glaser BG. Doing grounded theory: issues and discussions. Mill Valley (CA): Sociology Press, 1998.,20Glaser BG. Basics of grounded theory analysis: Emergence vs forcing. Mill Valley (US): Sociology Press , 1992.

O PAPEL DOS ORIENTADORES

Muitas características de um bom orientador de estudantes que usam TFD foram discutidas,21Glaser BG. The grounded theory perspective: conceptualization contrasted with description. Mill Valley (US): Sociology Press , 2011. mas, em geral, isso deve assumir a forma de orientação de suporte. Como isso pode ser feito e mantido é discutido mais adiante. O conhecimento do orientador sobre TFD varia muito. Apresentamos três tipos de orientações principais, embora existam muitas variações dentro de cada tipologia: 1) o que não sabe nada de TFD; 2) o que acha que sabe mais; e 3) o expert na metodologia.

Existem orientadores que sabem pouco ou nada sobre a TFD, mas incentivam seus alunos a estudá-la e são humildes o suficiente para aprender com eles. Eles podem fornecer uma orientação muito eficaz. Uma vez que eles aceitam que os alunos sabem mais sobre a metodologia do que eles e como sua compreensão da TFD se desenvolve, é provável que lhes dê a autonomia para fazerem suas pesquisas de acordo com a metodologia TFD. O segundo tipo de orientador, que geralmente tem experiência na análise de dados qualitativos, conhece um pouco da metodologia TFD, mas pode confundir as diferentes versões.

Eles podem tentar impor seus pontos de vista sobre os alunos, forçando-os a aplicar a metodologia à maneira deles. Isso pode fazer com que o aluno se sinta alienado, levando à frustração e ao conflito. Eles têm o potencial de causar o maior dano, prejudicando a confiança dos alunos e criando uma dependência que é a antítese da TFD.

Orientadores que foram capacitados em TFD têm maiores condições de atuarem como orientadores. É mais provável que sejam capazes de orientar os alunos e avaliar a TFD.2Glaser BG. Theoretical sensitivity: advances in the methodology of grounded theory. Mill Valley (CA): Sociology Press; 1978. O entendimento do orientador garantirá que os estudantes produzam uma teoria multivariada, desde que os alunos sigam suas orientações e consigam conceituar a partir dos dados. De modo geral, eles têm experiência em usar ou ensinar TFD, estudam constantemente a metodologia e atualizam seus conhecimentos.

Se os orientadores não tiverem certeza sobre qualquer aspecto da TFD, eles são encorajados a se referir periodicamente a um especialista no método, pois seus alunos podem inadvertidamente acabar fazendo uma análise de dados qualitativa.21Glaser BG. The grounded theory perspective: conceptualization contrasted with description. Mill Valley (US): Sociology Press , 2011. Os especialistas podem ser encontrados em suas publicações sobre TFD ou no site www.groundedtheoryonline.com. Os orientadores mais eficazes são os que se mostram abertos, flexíveis, que facilitam e promovem a autonomia dos alunos.21Glaser BG. The grounded theory perspective: conceptualization contrasted with description. Mill Valley (US): Sociology Press , 2011.

Não saber o que os alunos estão pesquisando pode ser muito difícil para os orientadores, já que muitos não gostam dessa incerteza. Se os orientadores não estão confortáveis com a confusão cognitiva em si e seus alunos, então,é improvável que eles supervisionem os alunos usando a TFD com sucesso. Isso significa não sugerir códigos ou dizer aos alunos sobre o que é o estudo, pois isso provavelmente levará ao uso de conceitos preconcebidos, diluindo o poder da TFD. A estratégia mais eficaz é confiar na metodologia, enquanto apoia os alunos a fazerem o mesmo.

Os orientadores precisam estar atentos à possibilidade de estudantes usarem preconcepções, pois isso levará a forçar os dados. É provável que eles estejam preconcebendo o problema ou fazendo perguntas preconcebidas se não estiverem obtendo dados. Outros indicadores de preconceitos incluem participantes que não respondem a perguntas ou que mudaram o assunto para falar sobre o que realmente os preocupa. Além disso, os alunos não vêem padrões nos dados. Encorajar os alunos para buscarem uma amostragem teórica e desenvolverem a comparação constante são estratégias para lidar com essas questões. Isso também significa que um guia de entrevista ou lista de tópicos não podem ser utilizados, se a entrevista for o principal método de coleta de dados.

No entanto, os orientadores precisam ser pragmáticos, pois os estudantes podem não ter a confiança para entrar no campo sem esse guia. À medida que os alunos se tornam mais confiantes, eles costumam se envolver com a amostragem teórica completamente. As interpretações disciplinares quanto ao que é ou deve ser uma metodologia têm uma compreensão limitada da TFD e contribuiu para pensar nela como outro método qualitativo, em vez de uma metolodologia independente.22McCallin A, Nathaniel A, Andrews T. Learning methodology minus mentorship. In Martin VB, Gynnild A, organizers. Grounded theory: the philosophy, method, and work of Barney Glaser. Boca Raton (US): Brown Walker Press; 2011. Assim, é essencial que os orientadores estejam conscientes de suas próprias disciplinas, metodologias e preconceitos experienciais. Se eles estudaram metodologias qualitativas, então eles provavelmente terão que desaprender, uma vez que muitos de seus princípios não se aplicam à TFD.

A TFD oferece aos alunos autonomia e apropriação10Glaser BG. Doing grounded theory: issues and discussions. Mill Valley (CA): Sociology Press, 1998. e contradiz a maneira usual de fazer pesquisas qualitativas que define o problema de pesquisa a partir da preconcepção de uma questão de pesquisa, um guia de entrevista e uma estrutura teórica ou conceitual.23Glaser, B. No preconceptions the grounded theory dictum. Mill Valley (US): Sociology Press , 2013. A tese, tradicionalmente começa com uma revisão da literatura e as questões a serem investigadas mais emergente na literatura. Isso significa não obrigar os alunos a perseguir um problema que deveria existir, como sugerido pela literatura. A principal preocupação ou problema que os participantes enfrentam não pode ser conhecida antes, mas emergir dos dados dos participantes. É por isso escrevendo uma revisão da literatura em um estágio inicial não é recomendável, uma vez que pode levar a preconceber o problema, bem como usar conceitos pré-concebidos. Desta forma, os alunos podem evitar a captura conceitual da literatura.

É essencial que os alunos tentem entender a ação na área substantiva da perspectiva dos participantes.10Glaser BG. Doing grounded theory: issues and discussions. Mill Valley (CA): Sociology Press, 1998. No espírito de descoberta, abertura e autonomia, os alunos precisam desenvolver seus próprios conceitos. É imperativo que os orientadores percebam que os alunos devem fazer sua própria codificação sem interferência. Isso mantém e sustenta a autonomia.

Portanto, é fundamental que os orientadores não falem aos alunos como ver os dados, diga-lhes quais conceitos usar ou codificar em conjunto com eles. Não é o papel dos orientadores concordarem com os conceitos gerados, uma vez que eles não têm acesso aos dados na sua totalidade e não são capazes de nomear padrões de comportamento. Em vez disso, é seu papel desafiar continuamente os estudantes a elevar o nível conceitual.

Os orientadores devem incentivar seus alunos a usar códigos in vivo, se relevante, mas acima de tudo incentivar a procurar por padrões nos dados. Uma maneira de garantir isso é perguntar-lhes: quais são os indicadores do conceito? Isso irá proteger-se contra uma conceitualização excessiva, em que cada incidente é nomeado, mas sem o estabelecimento de padrões. Isso geralmente é devido a uma interpretação errada da codificação linha a linha.

A conseqüência provável disso é que os alunos acabam sendo dominados por centenas de códigos. Um estudante chegou a um seminário de TFD com mais de 600 códigos de três entrevistas, enquanto outro tinha 1.000 de apenas uma entrevista. Ambos os exemplos são devido ao mal entendido de codificação linha a linha ou orientadores que pensam que eles sabem como codificar TFD e impõem isso aos seus alunos. Os alunos sempre precisam lembrar que a unidade de análise é o comportamento e não as pessoas. Incentivar os alunos para fazer quatro perguntas continuamente sobre os dados, conforme descrito anteriormente, ajudará a análise. À medida que os alunos tornam-se mais experientes na codificação e comparação constante, os orientadores devem desafiá-los a se envolverem na elaboração conceitual para garantir mais ajuste ou relevância.10Glaser BG. Doing grounded theory: issues and discussions. Mill Valley (CA): Sociology Press, 1998.

Existem três questões que os orientadores precisam estar cientes ao gerar a categoria principal e a redação: descrição de incidentes, descrição conceitual completa e desvio para a especulação lógico-dedutiva.10Glaser BG. Doing grounded theory: issues and discussions. Mill Valley (CA): Sociology Press, 1998.

A descrição de incidentes ocorre quando os alunos descrevem detalhadamente a categoria principal ou qualquer categoria, usando incidentes, em vez de conceituar o padrão de comportamento. Com a ajuda dos orientadores, isso pode ser evitado garantindo que os alunos se envolvam em comparação constante, como discutido, bem como usando códigos teóricos para integrar a teoria. Isso minimiza a descrição, enquanto assegura a concepção e saturação de dados.

A descrição conceitual completa é similar, mas não há tentativa de distinguir entre conceitos e suas propriedades. Além disso, não há uso de códigos teóricos para integrar hipóteses. Isso pode ser tratado de forma semelhante à descrição de incidentes, ao mesmo tempo em que incentiva os alunos a escreverem de maneira a relacionar o conceito ao conceito em vez de simplesmente descrever cada um. O desvio para a especulação lógica-dedutiva ocorre quando os alunos assumem que um código emergente é a categoria principal e acreditam ter alcançado a amostragem teórica.

Eles podem conjecturar logicamente outras categorias e suas propriedades para tecer a teoria, muitas vezes sem saber o que eles estão fazendo. Muitas vezes, o produto final é preconcebido, conjeturado ou sem fundamento. Dessa forma, deve-se incentivar os alunos a permanecerem abertos para outras categorias principais possíveis.

Desafie os alunos sobre por que eles acham que encontraram a categoria principal pedindo que eles demonstrem como ele integra as outras categorias. Isso pode ser feito por meio de diagramas ou por escrito em um breve resumo da teoria. Se não é central e não integra as outras categorias, então não é fundamental e alguma outra categoria deve ser testada. Pedir aos alunos para falar sobre a teoria em termos de seus conceitos ajuda a integração teórica. A elaboração de diagramas da teoria é muito eficaz para que eles vejam como os conceitos se relacionam um com o outro.

O passo final do TFD é a classificação, em que os memorandos são integrados.2Glaser BG. Theoretical sensitivity: advances in the methodology of grounded theory. Mill Valley (CA): Sociology Press; 1978.,6Gibson B, Hartman J. Rediscovering grounded theory. London (UK): Sage Publications Ltd., 2014.,10Glaser BG. Doing grounded theory: issues and discussions. Mill Valley (CA): Sociology Press, 1998. É importante que os orientadores compreendam que os alunos precisam fazer isso sem interferência, uma vez que apenas eles conhecem os conceitos e como eles se relacionam uns com os outros.10Glaser BG. Doing grounded theory: issues and discussions. Mill Valley (CA): Sociology Press, 1998. Os orientadores perceberão que este passo foi perdido se a teoria não estiver integrada, sem amplitude e profundidade.

Escrever a teoria é sempre um desafio para estudantes e os orientadores e ambos devem se familiarizar com a forma como isso é feito. Os orientadores devem constantemente desafiar os alunos a elevar o nível conceitual de sua teoria, assegurando ao mesmo tempo que a teoria seja eminentemente legível. É imperativo lembrar aos estudantes que a teoria é independente do tempo, do lugar e das pessoas. Pensar nas implicações gerais da categoria básica e da teoria pode ajudar os alunos a escrever de forma mais conceitual.

O PAPEL DOS ESTUDANTES

A autonomia e a responsabilidade dos alunos em atender as expectativas dos orientadores são importantes para a adesão à TFD. Como isso pode ser feito e mantido é explicado nesta seção. Os alunos devem permanecer responsáveis pela produção da TFD. No início da pesquisa, eles devem aprender a assumir riscos e trabalhar de forma independente, bem como em colaboração com especialistas em TFD. Existem cinco aspetos para o sucesso no relacionamento do orientador e estudante de doutorado: 1) Compreensão mútua do propósito da busca por um diploma de pós-graduação; 2) Seleção de um orientador que irá auxiliar no desenvolvimento da TFD; 3) Garantir que a universidade aceite a TFD como método de pesquisa; 4) Avaliação contínua do comitê de avaliação para manter o foco para a conclusão bem sucedida; e 5) Publicar TFD com coautor.24Guthrie W, Lowe A. Getting through the PHD process using GT: a supervisor-researcher perspective. In: Martin VB, Gynnild A, organizers. Grounded theory: the philosophy, method, and work of Barney Glaser. Boca Raton (US): Brown Walker Press; 2011.

É imperativo que, ao estudar TFD, os alunos leiam textos originais, uma vez que fontes secundárias podem distorcer ou deturpar a metodologia. Os alunos devem ser responsáveis pela conclusão completa da pesquisa e ter participação ativa para o desenvolvimento de um relacionamento efetivo entre o orientador e o aluno.

Existem quatro recomendações para que estudantes estabeleçam e mantenham um relacionamento efetivo entre o orientador e o aluno: 1) Compromisso com a metodologia da TFD com consideração aos requisitos institucionais e buscar independentemente de oportunidades obter conhecimento e compreensão; 2) Comunicação aberta e confiança com os orientadores durante toda a jornada educacional; 3) Confiança para articular claramente todos os aspectos relevantes da TFD e para escrever ao longo do processo; e 4) Compromisso com a divulgação da teoria. Os alunos podem esperar um compromisso semelhante dos orientadores.

Se os orientadores não apoiam os alunos no uso da TFD ou exibem uma atitude obstrutiva, é aconselhável a busca por um orientador diferente. É aconselhável que orientadores e alunos estabeleçam um cronograma detalhado para revisar o trabalho e progredir na pesquisa. Às vezes, o aluno precisa dar sua opinão e ser educadamente assertivo para permanecer fiel à metodologia da TFD, e ao mesmo tempo atender aos requisitos institucionais.25Ahmed S, Haag M. Entering the field: decisions of an early career researcher adopting classic grounded theory. Int J Grounded Theory Rev. 2016; 15(2):76-92.

O relacionamento orientador-aluno aumenta o potencial de sucesso na TFD se ambos estiverem inbuídos da essência da metodologia, o que exige que os alunos permaneçam responsáveis e apropriem-se do método. No início, essa metodologia pode ser intimidante e frustrante. No entanto, é importante que os alunos sejam resilientes, perseverantes, permaneçam comprometidos e em contato com seu orientador, buscando todas as oportunidades para aprender sobre TFD, como seminários sobre TFD e treinamento metodológico. A inclusão das quatro recomendações acima é necessária para estabelecer e manter uma relação orientador-aluno efetiva e para minimizar frustrações e atrasos na conclusão da tese.26Elliott N, Higgins A. Surviving grounded theory research method in an academic world: proposed writing and theoretical frameworks.Int J Grounded Theory Rev. 2012; 11(2):1-12.

Os alunos são incentivados em aderir aos estágios metodológicos da TFD, como apresentado anteriormente. Os alunos são incentivados a manter a sensibilidade teórica, minimizando os preconceitos e deixando os conceitos surgirem por meio de uma análise cuidadosa. Ao abordar preconceitos, “lembre-se que o pesquisador não joga fora tudo o que aprendeu. O pesquisador apenas coloca em suspensão o seu conhecimento sobre o tema ao usar a metodologia da TFD, especialmente durante a codificação dos dados e codificação teórica”.23Glaser, B. No preconceptions the grounded theory dictum. Mill Valley (US): Sociology Press , 2013.:14

Os alunos podem esperar o tipo de orientação que construirá autoconfiança e apoiar a autonomia. A comunicação aberta entre orientadores e alunos começa cedo. Crítica extensiva e significativa e feedback formativo são as expectativa de um aluno para avançar na concepção e no desenvolvimento da teoria, bem como a compreensão da TFD. No mínimo, isso incluirá o orientador ouvindo o aluno de forma respeitosa.

Se os orientadores não tiverem experiência em TFD, os alunos devem ter o apoio dos orientadores para participarem de um seminário sobre TFD ou algo parecido e estabelecerem uma parceria com um professor/pesquisador com expertise no método. A participação em um seminário sobre TFD, como os que são promovidos pelo Grounded Theory Institute (GTI), no início dos estudos é uma base exelente para a compreensão do TFD. Seria benéfico para os orientadores e os alunos participarem de um seminário em conjunto. Existem cinco áreas a serem consideradas pelos alunos ao escolher a metodologia TFD: 1) Buscar experiência; 2) Envolver-se na comunidade; 3) ‘Apenas fazê-lo’; 4) Conhecer a si mesmo; e 5) Equilibrar desafio e apoio.27Roderick C. Learning classic grounded theory: an account of the journey and advice for new researchers. Int J Grounded Theory Rev. 2009; 8(2):49-63

A metodologia da TFD geralmente é ensinada como parte de um curso mais amplo de pesquisa qualitativa, mas as instituições acadêmicas podem considerar a adição de TFD aos programas de doutorado devido ao aumento do número de alunos interessados no uso dessa metodologia. Se isso não for possível, os alunos beneficiam-se muito com o apoio e a orientação de um especialista em TFD, por exemplo, um palestrante convidado.22McCallin A, Nathaniel A, Andrews T. Learning methodology minus mentorship. In Martin VB, Gynnild A, organizers. Grounded theory: the philosophy, method, and work of Barney Glaser. Boca Raton (US): Brown Walker Press; 2011. Além disso, é recomendado para os alunos encontrarem um mentor para garantir que uma tese do TFD seja bem sucedida. O GTI conta com uma lista de membros e desenvolve seminários para apoiar estudantes no estudo da TFD.

Portanto, os alunos são incentivados a adotar a autonomia que a TFD oferece buscando orientadores que ouçam, permanecem abertos à singularidade da metodologia e oferecem apoio de forma confiável e respeitosa para assegurar a conclusão adequada da tese. Os alunos são cobrados de manter a responsabilidade e assumir o controle da TFD por meio do compromisso, da comunicação e da confiança para defendê-la e deixar a instituição acadêmica com um relacionamento duradouro com os orientadores e o potencial de colaboração futura.

CONCLUSÃO

Como foi enfatizado, a TFD é caracterizada por sua abertura ao que está acontecendo em uma área substantiva e é a antítese do preconceito. Ela é baseada no reconhecimento de padrões de comportamento e nomeá-los usando conceitos. É importante reconhecer que existem outras versões da TFD que podem ser usadas para investigar questões de importância na enfermagem. Por exemplo, se os alunos quiserem estudar um tópico específico ou valorizaram a coconstrução de dados, uma TFD construtivista pode ser mais apropriada. No entanto, os alunos e seus orientadores devem perceber que a abertura pode ser comprometida, porque os alunos entram no campo com uma questão de pesquisa definida. É possível que os orientadores mais eficazes sejam aqueles mais flexíveis ao invés de controladores. A abertura à descoberta incentiva os alunos a perceberem plenamente o poder da TFD e o desenvolvimento da teoria. A flexibilidade do orientador incentiva a autonomia e a aprendizagem experiencial em estudantes. Por sua vez, os alunos precisam estar abertos à descoberta e confiar na emergência da teoria. É imperativo que eles aprendam a TFD por meio das experiencias e estudem a metodologia completamente. Uma relação boa e mutuamente respeitosa entre estudantes e orientadores preparará os alunos para serem pesquisadores independentes, lembrando que um doutorado é um processo de capacitação para alcançar a autonomia e criatividade intelectuais, bem como o desenvolvimento da autoconfiança pessoal.

REFERÊNCIAS

  • Evans GL. A novice researcher’s first walk through the maze of grounded theory: rationalization for classical grounded theory. Int J Grounded Theory Rev [Internet]. 2013 [cited 2017 Jan 20]; 12(1):37-55. Available from: http://groundedtheoryreview.com/2013/06/22/a-novice-researchers-first-walk-through-the-maze-of-grounded-theory-rationalization-for-classical-grounded-theory/
    » http://groundedtheoryreview.com/2013/06/22/a-novice-researchers-first-walk-through-the-maze-of-grounded-theory-rationalization-for-classical-grounded-theory/
  • Glaser BG. Theoretical sensitivity: advances in the methodology of grounded theory. Mill Valley (CA): Sociology Press; 1978.
  • Lanzoni GMM, Meirelles BHS, Cummings G. Nurse leadership practices in primary health care: a grounded theory. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2016 [cited 2017 Mar 30]; 25(4):e4190015. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072016000400305&lng=pt
    » http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-07072016000400305&lng=pt
  • Santos JLG, Erdmann AL, Sousa FGM, Lanzoni GMM, Melo ALSF, Leite JL. Methodological perspectives in the use of grounded theory in nursing and health research. Esc Anna Nery [Internet]. 2016 [cited 2017 Jan 20]; 20(3):e20160056. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-81452016000300201&lng=en
    » http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-81452016000300201&lng=en
  • Glaser BG, Strauss A. The discovery of grounded theory: strategies for qualitative research. London (UK): Aldine Transaction, 1967.
  • Gibson B, Hartman J. Rediscovering grounded theory. London (UK): Sage Publications Ltd., 2014.
  • Bryant A, Charmaz K. GT in historical perspective. The sage handbook of grounded theory. London (UK): Sage Publications Ltd., 2010.
  • Glaser BG. Constructivist grounded theory? FQS. 2002; 3(3):1-14.
  • Andrews T. What is social constructionism? Int J Grounded Theory Rev. 2012; 11(1):39-46.
  • Glaser BG. Doing grounded theory: issues and discussions. Mill Valley (CA): Sociology Press, 1998.
  • Glaser BG. The grounded theory perspective II: description’s remodelling of grounded theory methodology. Mill Valley (US): Sociology Press, 2003.
  • Glaser BG. The grounded theory perspective III: theoretical coding. Mill Valley (US): Sociology Press , 2005.
  • Glaser BG, Holton J. Remodeling grounded theory. FQS. 2004; 5(2):1-22.
  • Kenny M. Fourie R. Contrasting classic, straussian, and constructivist grounded theory: methodological and philosophical conflicts. Qualitative Report. 2015; 20(8):1270-89.
  • Khademi M, Mohammadi E, Vanaki Z. A grounded theory of humanistic nursing in acute care work environments. Nurs Ethics. 2016 Mar 23 [cited 2017 Jan 20]. pii: 0969733016638140. Available from: http://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/0969733016638140
    » http://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/0969733016638140
  • Winters N. Seeking status: the process of becoming and remaining an emergency nurse. J Emerg Nurs. 2016;42(5):412-9.
  • Thomas J, Jinks A, Jack B. Finessing incivility: the professional socialisation experiences of student nurses’ first clinical placement, a grounded theory. Nurse Educ Today. 2015;35(12):e4-9.
  • Gallagher A, Bousso RS, McCarthy J, Kohlen H, Andrews T, Paganini MC, et al. Negotiated reorienting: a grounded theory of nurses’ end-of-life decision-making in the intensive care unit. Int J Nurs Stud. 2015; 52(4):794-803.
  • Holton J. The coding process and its challenges. Int J Grounded Theory Rev. 2010; 9(1):21-40.
  • Glaser BG. Basics of grounded theory analysis: Emergence vs forcing. Mill Valley (US): Sociology Press , 1992.
  • Glaser BG. The grounded theory perspective: conceptualization contrasted with description. Mill Valley (US): Sociology Press , 2011.
  • McCallin A, Nathaniel A, Andrews T. Learning methodology minus mentorship. In Martin VB, Gynnild A, organizers. Grounded theory: the philosophy, method, and work of Barney Glaser. Boca Raton (US): Brown Walker Press; 2011.
  • Glaser, B. No preconceptions the grounded theory dictum. Mill Valley (US): Sociology Press , 2013.
  • Guthrie W, Lowe A. Getting through the PHD process using GT: a supervisor-researcher perspective. In: Martin VB, Gynnild A, organizers. Grounded theory: the philosophy, method, and work of Barney Glaser. Boca Raton (US): Brown Walker Press; 2011.
  • Ahmed S, Haag M. Entering the field: decisions of an early career researcher adopting classic grounded theory. Int J Grounded Theory Rev. 2016; 15(2):76-92.
  • Elliott N, Higgins A. Surviving grounded theory research method in an academic world: proposed writing and theoretical frameworks.Int J Grounded Theory Rev. 2012; 11(2):1-12.
  • Roderick C. Learning classic grounded theory: an account of the journey and advice for new researchers. Int J Grounded Theory Rev. 2009; 8(2):49-63

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    2017

Histórico

  • Recebido
    31 Mar 2017
  • Aceito
    20 Jul 2017
Universidade Federal de Santa Catarina, Programa de Pós Graduação em Enfermagem Campus Universitário Trindade, 88040-970 Florianópolis - Santa Catarina - Brasil, Tel.: (55 48) 3721-4915 / (55 48) 3721-9043 - Florianópolis - SC - Brazil
E-mail: textoecontexto@contato.ufsc.br