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VIVÊNCIAS DE VIOLÊNCIA NO PROCESSO DE FORMAÇÃO EM ENFERMAGEM: REPERCUSSÕES NA CORPOREIDADE DOS JOVENS1 1 Artigo extraído da tese - Compreensões de jovens universitários sobre a violência - sob o olhar da corporeidade, da vulnerabilidade e do cuidado, apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em 2013.

VIVENCIAS DE VIOLENCIA EN EL PROCESO DE FORMACIÓN EN ENFERMERÍA: REPERCUSIONES EN LA CORPOREIDAD DE LOS JOVENES

RESUMO

Objetivo:

conhecer as vivências de violência entre os jovens estudantes de enfermagem no decorrer da sua formação profissional e as repercussões desse fenômeno em sua corporeidade.

Método:

pesquisa exploratória, descritiva, com abordagem qualitativa, realizada entre junho e agosto de 2013 com 21 jovens estudantes de enfermagem em uma universidade pública de Santa Catarina. A produção das informações ocorreu com base no Método Criativo e Sensível, mediado pelas Dinâmicas de Criatividade e Sensibilidade. Para a análise das informações, foi utilizada a Hermenêutica com suporte do referencial teórico-filosófico de Maurice Merleau-Ponty.

Resultados:

emergiram dois temas: situações de violência vivenciadas pelos jovens no processo de formação em enfermagem e repercussões da violência na corporeidade do jovem. Os resultados revelam a violência simbólica presente nas relações de autoridade entre docentes e discentes e nos conflitos entre profissionais dos serviços de saúde e acadêmicos. Os jovens entendem que a violência está naturalizada no seu viver e interfere em sua corporeidade perturbando o existir, provocando sentimentos de ausência, distanciamento e indiferença, os quais repercutem em sua saúde e nas suas práticas de cuidado.

Conclusão:

a violência presente no processo de formação em enfermagem interfere na corporeidade, no modo de ser e na construção do jovem como um ser de cuidado. A pesquisa revelou elementos importantes para refletir acerca da violência presente no contexto da formação em enfermagem e subsidiar ações dos docentes e profissionais de saúde e enfermagem que atuam nos cenários de práticas.

DESCRITORES:
Violência; Adolescente; Enfermagem; Educação em enfermagem; Estudantes de enfermagem

RESUMEN

Objetivo:

conocer las vivencias de violencia entre los jóvenes estudiantes de enfermería en el curso de su formación profesional y las repercusiones de ese fenómeno en su corporeidad.

Método:

investigación exploratoria, descriptiva, con abordaje cualitativo, realizada entre junio y agosto de 2013 con 21 jóvenes estudiantes de enfermería en una universidad pública de Santa Catarina. La producción de las informaciones ocurrió con base en el Método Creativo y Sensible, mediado por las Dinámicas de Creatividad y Sensibilidad. Para el análisis de las informaciones, fue utilizada la Hermenéutica con soporte del referencial teórico-filosófico de Maurice Merleau-Ponty.

Resultados:

surgieron dos temas: situaciones de violencia vivenciadas por los jóvenes en el proceso de formación en enfermería y repercusiones de la violencia en la corporeidad del joven. Los resultados revelan la violencia simbólica presente en las relaciones de autoridad entre docentes y discentes y en los conflictos entre profesionales de los servicios de salud y académicos. Los jóvenes entienden que la violencia está naturalizada en su vida e interfiere en su corporeidad perturbando el existir, provocando sentimientos de ausencia, distanciamiento e indiferencia, los cuales repercuten en su salud y en sus prácticas de cuidado.

Conclusión:

la violencia presente en el proceso de formación en enfermería interfiere en la corporeidad, en el modo de ser y en la construcción del joven como un ser de cuidado. La investigación reveló elementos importantes para reflexionar acerca de la violencia presente en el contexto de la formación en enfermería y subsidiar acciones de los docentes y profesionales de salud y enfermería que actúan en los escenarios de prácticas.

DESCRIPTORES:
Violencia; Adolescente; Enfermería; Educación en enfermería; Estudiantes de enfermería

ABSTRACT

Objective:

to understand the experiences of violence among young nursing students in the their professional training course and the repercussions of this phenomenon on their corporeity.

Method:

an exploratory, descriptive, qualitative study conducted between June and August 2013 with 21 young nursing students at a public university in Santa Catarina. The production of the information occurred based on the Creative and Sensitive Method, mediated by Creativity and Sensitivity Dynamics. Hermeneutics was used with the support of the theoretical-philosophical reference of Maurice Merleau-Ponty.

Results:

two themes emerged: situations of violence experienced by young students in the nursing training process and repercussions of violence on the student’s corporeity. The results reveal the symbolic violence present in the relationships of authority between teachers and students and in the conflicts between health professionals and academics. The young people understand that violence is a natural occurrence in their lives and that it interferes with their corporeity by disturbing their existence, provoking feelings of absence, distancing and indifference, which have repercussions on their health and their care practices.

Conclusion:

the violence present in the nursing training process interferes with the corporeity by the way of being and the construction of the young person as a being who provides care. The research revealed important elements to reflect on regarding the violence present in the context of nursing education as well as the need to support the actions of the teachers, health and nursing professionals who work in the clinical scenarios.

DESCRIPTORS:
Violence; Adolescent; Nursing; Nursing education; Nursing students

INTRODUÇÃO

A violência é um fenômeno multifacetado, que permeia a historicidade humana, acomete indivíduos de diferentes culturas, religiões, classes sociais, níveis de escolaridade, faixas de renda e origens étnicas; representa um grande problema de saúde pública, assumindo crescente papel nas estatísticas de morbimortalidade no Brasil e no mundo.11 Reichenheim ME, Souza ER, Moraes CL, Jorge MHPM, Silva CMFP, Minayo MCS. Violence and injuries in Brazil: the effect, progress made, and challenges ahead. Lancet [Internet]. 2011 Jun [cited 2014 Nov 27]; 377(9781):1962-75. Available from: http://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736%2811%2960053-6/fulltext#article_upsell.
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2 Santana JSS, Santana RP, Lopes ML. Violência sexual contra crianças e adolescentes: análise de notificações dos conselhos Tutelares e Departamento de Polícia Técnica. Rev Baiana de Saúde Pública [Internet]. 2011 Jan-Jun [cited 2015 Jun 15]; 35(Suppl. 1):68-86. Available from: http://inseer.ibict.br/rbsp/index.php/rbsp/article/viewFile/148/143
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3 Gunnlaugsson G, Kristjánsson AL, Einarsdóttir J, Sigfúsdóttir ID. Intrafamilial conflict and emotional well-being: a population based study among Icelandic adolescents. Child Abuse Neglect [Internet]. 2011 Mai [cited 2014 Dez 18]; 35(4):372-81. Available from: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0145213411000755
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4 Ho MY, Cheung FM, You J, Kam C, Zhang X, Kliewer W. The moderating role of emotional stability in the relationship between exposure to violence and anxiety and depression. Personality and Individual Differences [Internet]. 2013 Oct [cited 2015 Mai 14]; 55(6):634-9. Available from: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0191886913002067
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-55 Barry SA, Rabkin AN, Olezeski CL, Rivers AJ, Gordis EB. Relation between aggression exposure in adolescence and adult posttraumatic stress symptoms: moderating role of the parasympathetic nervous system. Physiol Behavior [Internet]. 2015 Mar [cited 2015 Fev 20]; 141:97-102. Available from: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0031938415000207
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Pode ser conceituada como uso intencional da força física ou do poder contra si, contra outra pessoa ou grupo, podendo resultar em lesões, morte ou danos psicológicos.66 World Health Organization. Global status report on violence prevention 2014. Geneva: WHO; 2014

A violência precisa ser compreendida para além dos danos físicos, pois interfere fortemente na vida das vítimas, de acordo com a sua natureza e tipologia. Além das violências psicológica e física, destacam-se a sexual e a negligência que implica na privação de cuidados essenciais. Ressalta-se que a violência psicológica está relacionada a danos não fatais, apresentando-se nas relações pessoais em locais de trabalho, escolas e no contexto familiar.77 Modin TC, Cardoso TA, Jasen K, Konradt CE, Zaltron RF, Behenck MO, et al. Sexual violence, mooddisorder sand suicide risk: a population-basedstudy. Ciênc Saúde Coletiva. [Internet]. 2016 Mês [cited 2017 Mar 22]; 21(3):853-60. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csc/v21n3/1413-8123-csc-21-03-0853.pdf
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Pode-se também conceituar esse fenômeno pela ótica do filósofo e psicanalista contemporâneo Slavoj Zizek, que classifica a violência no laço social em: violência subjetiva, simbólica e objetiva ou sistêmica. A violência subjetiva, praticada por meio de agressões físicas, geralmente envolvendo o uso da força, é mais fácil de ser identificada no contexto social. A violência simbólica é produzida pela linguagem, além de ser mais sutil, muitas vezes não reconhecida como violência. Já a violência objetiva ou sistêmica contempla as relações sociais, políticas e econômicas, sendo marcada por laços de dominação e exploração. Esse tipo de violência envolve características da violência simbólica e física como forma de dominação e ocorre em instituições sociais, especialmente no ambiente escolar.88 Bispo FS, Lima NL. A violência no contexto escolar: uma leitura interdisciplinar. Educ Revista [Internet]. 2014 Abr-Mai [cited 2017 Mar 22]; 30(2):161-80. Available from: http://www.scielo.br/pdf/edur/v30n2/08.pdf
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Considerando essa contextualização, destacam-se entre os mais vulneráveis à violência, os jovens. Estudos nacionais99 Waiselfisz JJ. Mapa da Violência 2014: os jovens do Brasil [Internet]. Brasília (DF): Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres; Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos; Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais; 2014 [cited 2014 Jun 18]. Available from: http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2014/Mapa2014_JovensBrasil.pdf
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-1010 Soares JSF, Lopes MJM, Njaine K. Violência nos relacionamentos afetivo-sexuais entre adolescentes de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil: busca de ajuda e rede de apoio. Cad Saúde Pública [Internet]. 2013 Jun [cited 2015 Fev 20]; 29(6):1121-30. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csp/v29n6/a09v29n6.pdf
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sobre o tema, nos últimos anos, evidenciam a alta prevalência de violência entre esses indivíduos. Revelam aumento da mortalidade e morbidade por causas externas, especialmente homicídios, acidentes e suicídios.99 Waiselfisz JJ. Mapa da Violência 2014: os jovens do Brasil [Internet]. Brasília (DF): Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres; Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos; Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais; 2014 [cited 2014 Jun 18]. Available from: http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2014/Mapa2014_JovensBrasil.pdf
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Observa-se, ainda, tendência para investigações com foco na violência intrafamiliar e, mais recentemente, para a violência no namoro entre os jovens.1010 Soares JSF, Lopes MJM, Njaine K. Violência nos relacionamentos afetivo-sexuais entre adolescentes de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, Brasil: busca de ajuda e rede de apoio. Cad Saúde Pública [Internet]. 2013 Jun [cited 2015 Fev 20]; 29(6):1121-30. Available from: http://www.scielo.br/pdf/csp/v29n6/a09v29n6.pdf
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-1111 Carlos DM, Ferriani MGC, Silva MAL, Roque SEM, Vendruscolo TS. Institutional shelter to protect adolescent victims of domestic violence: theory or practice? Rev Latino-Am. Enfermagem [Internet]. 2013 Mar-Apr [cited 2015 Dec]; 21(2):579-85. Available from: http://www.scielo.br/pdf/rlae/v21n2/pt_0104-1169-rlae-21-02-0579.pdf
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Percebe-se, também, no cenário nacional, preocupação dos profissionais de saúde em entender como está organizada a rede de proteção e cuidado com os adolescentes, vítimas de violência. Buscam-se subsídios para a implantação e implementação de políticas públicas de enfrentamento à violência, bem como, chamar a atenção para a necessidade de consolidar a atuação em rede que integra profissionais de diversas áreas e serviços.1212 Gonçalves CFG, Silva LMP, Pitangui ACR, Silva CC, Santana MV. Network action for the care of adolescent victims of violence: challenges and possibilities. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2015 Dec [cited 2016 Aug 22]; 24(4):976-83. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/0104-0707201500004580014
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No cenário internacional, evidencia-se uma tendência para estudos que buscam associação entre a violência intrafamiliar e problemas relacionados à saúde mental, entre eles: ansiedade, depressão, raiva e baixa autoestima, revelando significativa associação entre tais fatores.33 Gunnlaugsson G, Kristjánsson AL, Einarsdóttir J, Sigfúsdóttir ID. Intrafamilial conflict and emotional well-being: a population based study among Icelandic adolescents. Child Abuse Neglect [Internet]. 2011 Mai [cited 2014 Dez 18]; 35(4):372-81. Available from: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0145213411000755
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-44 Ho MY, Cheung FM, You J, Kam C, Zhang X, Kliewer W. The moderating role of emotional stability in the relationship between exposure to violence and anxiety and depression. Personality and Individual Differences [Internet]. 2013 Oct [cited 2015 Mai 14]; 55(6):634-9. Available from: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0191886913002067
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Outra perspectiva sobre a violência, trata-se do bullying sofrido por jovens homoafetivos no contexto da escola. A discriminação e a vitimização dos jovens, devido a sua orientação sexual, tem elevado o risco de suicídio e depressão, contribuindo para a diminuição da autoestima, além do baixo desempenho escolar.1313 Olsen EOM, Kann L, Vivolo-Kantor A, Kinchen S, McManus T. School Violence and Bullying Among Sexual Minority High School Students, 2009 e 2011. J Adolesc Health [Internet]. 2014 Sep [cited 2015 Fev 20]; 55(3):432-8. Available from: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S1054139X14001141
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Cabe salientar que o desenvolvimento dos jovens é marcado por um complexo processo biopsicossocial que envolve modificações, afirmações, definições e a construção de valores. Assim, destaca-se a importância de entendê-lo como um ser corpóreo, que utiliza a linguagem falada e escrita, a gestualidade, as expressões corporais para se comunicar com seus pares e com o mundo, bem como, para fazer frente à violência. É com o corpo que o jovem recebe informações, emociona-se e vivencia as sensações do mundo que o cerca. O corpo é o veículo do ser no mundo. O corpo precisa ser assumido como corporeidade, pois é por meio do corpo que o mundo existe para cada um a partir das suas experiências.1414 Merleau-Ponty, M. Fenomenologia da Percepção. 3ª ed. São Paulo (SP): Martins Fontes; 2006.

Nesse contexto que envolve a subjetividade do jovem como um ser corpóreo, vivenciando rápidas modificações que marcam a sua existência e pode levá-lo ao enfrentamento de situações conflituosas na relação consigo mesmo, com a sua família e com a sociedade,1515 Zanatta EA, Motta MGC. Violence in the view of young people in the perspective of corporeality and vulnerability. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2015 Jun [cited 2016 Jul 19]; 24(2):476-485. Available from: http://www.scielo.br/pdf/tce/v24n2/0104-0707-tce-24-02-00476.pdf
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identifica-se escassez de pesquisas com o objetivo de entender e enfrentar a violência sob a ótica dos jovens, especialmente no cenário de formação profissional e, ainda, entender como ela pode interferir em sua corporeidade.

Para melhor compreensão do fenômeno da violência e sua relação com a corporeidade do jovem estudante de enfermagem, questionou-se: quais são as vivências de violência entre esses jovens no contexto da formação profissional e como esse fenômeno pode interferir em sua corporeidade? Objetivou-se conhecer as vivências de violência entre os jovens estudantes de enfermagem no decorrer da sua formação profissional, bem como as repercussões desse fenômeno em sua corporeidade.

MÉTODO

Pesquisa exploratória, descritiva, com abordagem qualitativa, realizada em uma universidade pública do Estado de Santa Catarina, Brasil. Teve como participantes jovens, estudantes de enfermagem, da referida universidade. Os critérios de inclusão foram: ser estudante da primeira ou da última fase do curso de graduação em enfermagem (optou-se por escolher essas fases para melhor conhecer as vivências de violência entre os jovens nas etapas de ingresso e finalização do curso) e ter idade entre 15 e 24 anos.1616 Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção em Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Diretrizes nacionais para a atenção integral à saúde de adolescentes e jovens na promoção, proteção e recuperação da saúde. Brasília (DF): MS; 2010. Critérios de exclusão: jovem com dificuldade de horários e tempo para participar dos momentos destinados à coleta das informações.

Para a captação dos participantes foi realizada uma reunião com todos os acadêmicos da primeira e da última fase do curso. Nessa, foi apresentada a pesquisa e estendido o convite para participação. De um total de 48 jovens, 21 aceitaram participar. Assim foram constituídos dois grupos: um com dez jovens que estavam cursando a primeira fase (Grupo 1) e o outro com 11 jovens da última fase (Grupo 2). A idade dos participantes variou entre 17 e 23 anos, sendo esses oriundos de diversas regiões dos Estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

A produção das informações ocorreu entre os meses de junho e agosto de 2013, por meio de Dinâmicas de Criatividade e Sensibilidade (DCS) preconizadas pelo Método Criativo e Sensível (MCS).1717 Cabral IE. Uma abordagem Criativo-Sensível de pesquisar a família. In: Althoff CR, Ingrid E, Nitschke RG. Pesquisando a família: olhares contemporâneos. Florianópolis (SC): Papa-livros; 2004. Esse método busca desvelar a questão de pesquisa que é definida pelo pesquisador e posteriormente, reorientada pelas discussões coletivas no grupo. Para isso, privilegia a participação coletiva e valoriza o que emerge do pensamento e da percepção dos participantes.1717 Cabral IE. Uma abordagem Criativo-Sensível de pesquisar a família. In: Althoff CR, Ingrid E, Nitschke RG. Pesquisando a família: olhares contemporâneos. Florianópolis (SC): Papa-livros; 2004.-1818 Soratto J, Pires DEP, Cabral IE, Lazzari DD, Witt RR, Sipriano CA. A creative and sensitive way to research. Rev Bras Enferm [Internet]. 2014 Nov-Dez [cited 2015 Fev 18]; 67(6):994-9. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v67n6/0034-7167-reben-67-06-0994.pdf
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As DCS propiciam um espaço de discussão coletiva em que as vivências dos participantes sobre o tema em estudo são expressas em produções artísticas.

As DCS foram realizadas em dois encontros com cada grupo, separadamente, com duração média de 90 minutos. Optou-se por utilizar a DCS Livre para Criar1919 Motta MGC, Pedro ENR, Paula CC, Coelho DF, Ribeiro AC, Greff AP, et al. Vivências do Adolescente com HIV/AIDS. Rev Min Enfer [Internet]. 2014 Jan.-Fev [cited 2017 May 06]; 18(1):181-7. Available from: http://reme.org.br/artigo/detalhes/917
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em todos os encontros. O MCS foi aplicado em cinco momentos: “preparação do ambiente e acolhimento do grupo; apresentação dos participantes; explicação da dinâmica e trabalho individual ou coletivo; apresentação das produções; análise coletiva e validação dos dados”.1717 Cabral IE. Uma abordagem Criativo-Sensível de pesquisar a família. In: Althoff CR, Ingrid E, Nitschke RG. Pesquisando a família: olhares contemporâneos. Florianópolis (SC): Papa-livros; 2004.:132

Após o acolhimento dos participantes, no segundo momento o grupo foi convidado a se apresentar, começando pelas pessoas que estavam conduzindo a coleta das informações (pesquisadora e duas estudantes de enfermagem que foram as auxiliares de pesquisa) e, na sequência, os jovens.

O terceiro momento consistiu na explicação da dinâmica do trabalho e exposição da questão norteadora, sendo dividido em dois encontros. No primeiro, os jovens responderam à seguinte questão: quais as suas vivências em relação às situações de violência como acadêmico de enfermagem? E no segundo encontro: como você imagina que a violência possa interferir em sua corporeidade? Salienta-se que para facilitar a reflexão sobre corporeidade, fez-se uma discussão prévia desse termo a partir do referencial de Merleau-Ponty, que entende o corpo como um veículo do ser no mundo, por meio do qual agrega as significações vividas e interage, percebe-se e é percebido.

A corporeidade se expressa pelo corpo visto-vidente, sensível, e como tal senti-sentant, ou seja, que sente e é sentido; é também tocado-tocante pelo processo de coexistência.1414 Merleau-Ponty, M. Fenomenologia da Percepção. 3ª ed. São Paulo (SP): Martins Fontes; 2006. Nessa etapa os jovens, individualmente ou em duplas, reproduziram por meio de desenhos, recortes e colagens as respostas para as questões de pesquisa e socializaram sua produção com o grupo, acontecendo o desvelar do tema. Essa etapa denomina-se codificação.1717 Cabral IE. Uma abordagem Criativo-Sensível de pesquisar a família. In: Althoff CR, Ingrid E, Nitschke RG. Pesquisando a família: olhares contemporâneos. Florianópolis (SC): Papa-livros; 2004.

No quarto momento, a partir da apresentação dos jovens sobre sua produção, iniciou-se o debate grupal. Nessa etapa, as auxiliares de pesquisa registraram no diário de campo os temas convergentes e divergentes que surgiram com as discussões, permitindo que os temas fossem codificados em temas geradores. Os temas geradores codificados foram negociados com os participantes, que os decodificaram em subtemas durante a análise coletiva e a discussão grupal. Essa etapa é chamada de decodificação.2020 Vernier ETN. O empoderamento de cuidadoras de crianças com necessidades especiais de saúde: interfaces com o cuidado de enfermagem [tese]. Rio de Janeiro (RJ): Universidade Federal do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery; 2007.

No quinto momento foi realizada a síntese temática dos temas e subtemas, ou seja, uma síntese final e a validação dos dados. Essa etapa é chamada de recodificação.1717 Cabral IE. Uma abordagem Criativo-Sensível de pesquisar a família. In: Althoff CR, Ingrid E, Nitschke RG. Pesquisando a família: olhares contemporâneos. Florianópolis (SC): Papa-livros; 2004.,2020 Vernier ETN. O empoderamento de cuidadoras de crianças com necessidades especiais de saúde: interfaces com o cuidado de enfermagem [tese]. Rio de Janeiro (RJ): Universidade Federal do Rio de Janeiro, Programa de Pós-Graduação e Pesquisa em Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna Nery; 2007. Para encerrar a coleta de informações foi considerada a ausência de novos elementos relevantes para a temática abordada, bem como, a quantidade e a qualidade de informações que permitissem o alcance da recodificação, considerando a construção de temas e subtemas.

A análise das informações foi realizada à luz da hermenêutica de Paul Ricoeur2121 Ricoeur P. O conflito das interpretações: ensaios de hermenêutica. Rio de Janeiro (RJ): Imago; 1978. em quatro etapas: a) leitura inicial: ao transcrever as falas dos participantes, o texto falado transformou-se em texto escrito. Para isso foram realizadas inúmeras leituras, sem julgamentos, com o intuito de apreender os significados que emergiram das falas; b) leitura reflexiva: realizou-se uma releitura profunda do texto.2121 Ricoeur P. O conflito das interpretações: ensaios de hermenêutica. Rio de Janeiro (RJ): Imago; 1978.-2222 Terra MG, Gonçalvez LHT, Santos EKA, Erdmann AL The use of Paul Ricoeur’s Hermeneutic-phenomenology philosophy as a methodological framework to guide an educational nursing research. Acta Paul Enferm [Internet]. 2009 Jan-Fev [cited 2015 jun 20]; 22(1):93-9. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ape/v22n1/a16v22n1.pdf
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Iniciou-se a leitura pela frase, seguida do parágrafo e após do texto na íntegra com o intuito de interpretar e compreender os prováveis significados manifestos e ocultos;2121 Ricoeur P. O conflito das interpretações: ensaios de hermenêutica. Rio de Janeiro (RJ): Imago; 1978.-2222 Terra MG, Gonçalvez LHT, Santos EKA, Erdmann AL The use of Paul Ricoeur’s Hermeneutic-phenomenology philosophy as a methodological framework to guide an educational nursing research. Acta Paul Enferm [Internet]. 2009 Jan-Fev [cited 2015 jun 20]; 22(1):93-9. Available from: http://www.scielo.br/pdf/ape/v22n1/a16v22n1.pdf
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c) identificação da metáfora: nessa etapa, ocorreu a interpretação hermenêutica,2121 Ricoeur P. O conflito das interpretações: ensaios de hermenêutica. Rio de Janeiro (RJ): Imago; 1978. ou seja, o momento em que se compreenderam as vivências dos jovens em relação à violência no decorrer do processo de formação profissional e como essas poderiam repercutir em sua corporeidade.

O texto foi então organizado em temas em acordo com as ideias convergentes e/ou divergentes, surgindo dois temas principais: situações de violência vivenciadas pelos jovens no processo de formação em enfermagem e repercussões da violência na corporeidade do jovem; d) apropriação: nessa etapa foi possível compreender e assimilar os significados de cada mensagem, permitindo tornar conhecido o que, até então, era desconhecido.2121 Ricoeur P. O conflito das interpretações: ensaios de hermenêutica. Rio de Janeiro (RJ): Imago; 1978. Esse foi o momento em que os sentidos dos discursos tornaram-se mais visíveis para responder à questão de pesquisa, ou seja, as ideias dos jovens foram interpretadas a partir dos referenciais de violência e de obras do filósofo Maurice Merleau-Ponty.1414 Merleau-Ponty, M. Fenomenologia da Percepção. 3ª ed. São Paulo (SP): Martins Fontes; 2006.,2323 Merleau-Ponty MA. A prosa do mundo. Trad. Paulo Neves. São Paulo: Cosac &Naify, 2002.

Os encontros foram gravados e posteriormente transcritos na íntegra. As produções artísticas, apresentadas e discutidas pelos participantes, foram fotografadas com o intuito de ilustrar os resultados da pesquisa. Os participantes permitiram a gravação e as fotografias de suas produções mediante autorização e assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE).

A pesquisa seguiu as orientações propostas pela Resolução 466/2012 e foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (CAAE: 02870012.8.0000.5347). Os jovens maiores de 18 anos assinaram o TCLE. Para os menores de 18 anos o termo foi assinado pelos pais e os jovens assinaram o Termo de Assentimento. Os participantes foram identificados pela palavra “Jovem”, seguida por um número ordinal.

RESULTADOS

Nas discussões do tema “situações de violência vivenciadas pelos jovens no processo de formação em enfermagem”, os participantes do Grupo 1 declararam que não vivenciaram ou não se perceberam vítimas de violência. Entretanto, afirmaram presenciar agressões verbais e discriminações raciais e de gênero entre colegas. Contudo, os discursos de dois jovens, um de cada grupo, indiciaram a presença da violência psicológica, manifestada no descrédito quanto ao potencial do acadêmico, como exemplificam as falas e a imagem 1.

Imagem 1
Produção do Jovem 4. Chapecó, SC, Brasil, 2013

Uma professora disse que eu tinha feito ausculta pulmonar e ela nem foi ver o paciente, disse que estava errado, teimou comigo, me xingou, porque eu não sabia fazer. No outro dia, ela foi verificar e viu que eu não tinha me enganado, mas antes disso me xingou, disse que eu era incapaz e que não sabia fazer (Jovem 14).

Uma vez, fazendo trabalho, o professor virou para mim e disse: você não consegue fazer isso. Isso desanimou bem legal, então sei lá, quase desisti de fazer aquilo (Jovem 4).

Os jovens do Grupo 2, concluintes do curso, também se declararam vítimas de violência psicológica, contudo essas vivências são produzidas nas relações de poder entre docentes e discentes, as quais envolvem reprovação e não aceitação do erro, conforme declaram os jovens 16 e 12 nas falas que seguem.

Eu tive duas professoras durante a academia que o prazer delas era dizer: ‘eu sou a professora que tem o maior índice de reprovação aqui’. O prazer dela era reprovar aluno, era dizer: você está fazendo errado (Jovem 16).

Uma professora disse que ela não aceita que o aluno erre. A minha primeira semana de estágio é com ela, então eu estou com bastante medo (Jovem 12).

Outra forma de violência, percebida pelos jovens do Grupo 2, refere-se à violência psicológica, vivenciada nas relações entre os profissionais que atuam nos serviços de saúde e acadêmicos. Alguns declararam terem sofrido humilhações, vivenciado situações de desrespeito por parte de profissionais que atuam nos locais onde as aulas teórico-práticas e estágios acontecem, tanto no sentido de julgar o conhecimento do estudante quanto em direcionar atividades que exigem menos capacidade intelectual e maior habilidade técnica. Conforme exemplificam as falas e a imagem 2.

Imagem 2
Produção dos Jovens 11 e 16. Chapecó, SC, Brasil, 2013.

Me senti humilhada também em estágios, ouvi palavras de profissionais como ‘vaza daqui’, ‘saia daqui, você está atrapalhando’. Isso é violência psicológica (Jovem 13).

Colocamos um lixeiro [imagem 2] porque muitas e muitas vezes a gente se sente assim. Porque você é o estagiário então vai dar banho de leito, tem um curativo medonho, fedido, que faz cinco dias que não é feito, que a equipe não queria trocar. As estagiárias estão ali e podem ir lá fazer, parece que desmerece o nosso conhecimento (Jovem 11 e 16).

No tema repercussões da violência na corporeidade do jovem, os acadêmicos declararam que a violência está naturalizada no seu cotidiano, situação que os leva, muitas vezes, a não perceberem a sua presença ou a não se reconhecerem como vítimas em seus diferentes contextos - na família, na universidade, nas ruas, nos espaços de lazer e trabalho e diariamente, através dos meios de comunicação, como pode ser observado na fala do jovem 5.

[...] a sociedade está acostumada com a violência, você liga o jornal e você só vê notícias de violência, é normal. No início, você se assusta com essa discrepância, mas com o passar do tempo a violência se torna parte do nosso dia a dia, está naturalizada e interferindo na vida do jovem, porque se você acha que é normal acontecer um acidente de carro, alguém atropelar alguém ou alguém atirar em uma pessoa ou estuprar, tipo é normal isso? Violência no trânsito, violência por causa do álcool, a própria sociedade usa da própria violência para combater a violência digamos assim é um ciclo vicioso [...] (Jovem 5).

Outro jovem, mesmo declarando que, perante as inúmeras ocorrências da violência, acaba considerando normais determinadas condutas, entende que elas causam danos, perturbando-o.

A violência pode interferir na minha corporeidade como eu desenhei uma cabeça toda bagunçada [imagem 3] com um cérebro bem confuso, bagunçado. [...] A violência mexe muito com a cabeça de uma pessoa que sofre a violência, percebe ou vê a violência. [...] Com o tempo tu vai achar isso tão normal que vai tratar a violência com descaso, normalidade ou com indiferença (Jovem 4).

Imagem 3
Produção do Jovem 4. Chapecó, SC, Brasil, 2013.

Os jovens entendem, ainda, que a violência interfere em sua corporeidade ao provocar um vazio em suas vidas, condição que leva ao sofrimento, à dor e ao desespero. Conforme exemplifica a fala do jovem 8 e a imagem 4.

Imagem 4
Produção do Jovem 8. Chapecó, SC, Brasil, 2013.

A violência me deixa vazia, eu botei o foco principal o vazio, e ao redor o sofrimento, não só para mim, mas para a minha família, as pessoas que estão ao meu redor. Causa desespero dor e angústia (Jovem 8).

Os jovens entendem, ainda, que a violência deixa a vida sem cor e interfere em sua corporeidade ao modificar seu modo de pensar, agir e interagir com o mundo, especialmente como apresentado nas falas e ilustrado na imagem 5, em que é possível identificar uma pessoa sendo calada com um soco na boca.

Imagem 5
Produção do Jovem 1. Chapecó, SC, Brasil, 2013

A gente colocou aqui [referindo-se à sua produção] uma mulher vestida de branco, perde as cores que fazem a vida ter sentido. Uma coisa sem sentido, sem cor, sem vida. (Jovens 12 e 19).

A violência interfere na maneira de agir, de ver o mundo, de pensar, como que a gente vai ser como enfermeiro. [...] Se vai ser inseguro, vai ter medo de várias coisas e vai interferir, principalmente, na vida pessoal e profissional. Interfere na corporeidade quando faz a gente se calar, como se fosse um soco (Jovem 1).

No conjunto das vivências, os jovens revelaram que a violência pode calar sua voz pelo medo, pela vergonha e pelo receio de não serem entendidos ou mesmo de serem julgados.

DISCUSSÃO

Os jovens vivem, na contemporaneidade, um momento crítico, relacionado ao aumento alarmante das cifras da violência. No seu cotidiano, estão expostos às mais variadas situações de violência que invadem suas vidas de forma marcante, interferindo em seu processo de crescimento e desenvolvimento, deixando-os expostos a diferentes situações de vulnerabilidade e risco.11 Reichenheim ME, Souza ER, Moraes CL, Jorge MHPM, Silva CMFP, Minayo MCS. Violence and injuries in Brazil: the effect, progress made, and challenges ahead. Lancet [Internet]. 2011 Jun [cited 2014 Nov 27]; 377(9781):1962-75. Available from: http://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736%2811%2960053-6/fulltext#article_upsell.
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,2424 Faria CS, Martins CBG. Violence among adolescent students: conditions of vulnerability. Enfermería Global [Internet]. 2016 Abr [cited 2017 Jun 02]; 15(2):185-98. Available from: http://revistas.um.es/eglobal/article/view/206901/191571
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O contexto universitário, por vezes, parece ir ao encontro dessa realidade pois, muitas vezes, é marcado por relações de autoridade, com posicionamentos assimétricos e hierárquicos entre docentes e discentes, sendo recorrentes as relações de poder que favorecem as situações de violência.2525 Cruz GV, Pereira WR. Different configurations of violence in pedagogical relationships between teachers and students of higher education. Rev Bras Enferm [Internet]. 2013 Mar-Abr [cited 2014 Dez 16]; 66(2):241-50. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v66n2/14.pdf
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Os resultados dessa pesquisa corroboram essas afirmações, uma vez que permitem ponderar que, em alguns momentos, no cotidiano do processo de formação profissional, é possível identificar a presença da violência psicológica, um tipo de violência que se concretiza quando uma pessoa constantemente deprecia e desrespeita a outra, faz cobranças exageradas, aplica punições humilhantes afetando a saúde mental da vítima.2626 Ministério da Saúde (BR). Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Linha de cuidado para a atenção integral à saúde de crianças, adolescentes e suas famílias em situação de violências: orientação para gestores e profissionais de saúde. Brasília (DF): MS; 2010. Nesse estudo, a violência psicológica foi revelada nos relatos de situações em que o professor sinalizou não acreditar ou não incentivar os acadêmicos para a realização de determinada tarefa ou atividade prática, por vezes, instigando o sentimento de descrédito, humilhação ou fragilização, evidenciado quando a conduta do docente inclui expressões verbais que anunciam que o estudante não sabe ou não é capaz de fazer.

Essa situação pode ser interpretada como violência simbólica ou institucional, marcada por relações hierarquizadas e assimétricas. A violência simbólica é expressa por meio da linguagem, tem um caráter de invisibilidade, porém com grande potencial de excluir, dominar e destruir psicologicamente a vítima.88 Bispo FS, Lima NL. A violência no contexto escolar: uma leitura interdisciplinar. Educ Revista [Internet]. 2014 Abr-Mai [cited 2017 Mar 22]; 30(2):161-80. Available from: http://www.scielo.br/pdf/edur/v30n2/08.pdf
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,2525 Cruz GV, Pereira WR. Different configurations of violence in pedagogical relationships between teachers and students of higher education. Rev Bras Enferm [Internet]. 2013 Mar-Abr [cited 2014 Dez 16]; 66(2):241-50. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v66n2/14.pdf
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Essa violência é marcada por um poder simbólico, um tipo de dominação que encobre as relações de poder ao mesmo tempo em que ofusca a capacidade do sujeito que aprende.2525 Cruz GV, Pereira WR. Different configurations of violence in pedagogical relationships between teachers and students of higher education. Rev Bras Enferm [Internet]. 2013 Mar-Abr [cited 2014 Dez 16]; 66(2):241-50. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v66n2/14.pdf
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Nesse contexto, entende-se que sendo a instituição universitária um espaço de criação, reflexão, onde se prima pela criticidade e pelas transformações sociais, pode diante de algumas atitudes disciplinares contribuir para a propagação desse tipo de violência, especialmente quando vítima e vitimizador não se reconhecem como sujeitos da violência.88 Bispo FS, Lima NL. A violência no contexto escolar: uma leitura interdisciplinar. Educ Revista [Internet]. 2014 Abr-Mai [cited 2017 Mar 22]; 30(2):161-80. Available from: http://www.scielo.br/pdf/edur/v30n2/08.pdf
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As vivências de violência dos jovens indicam uma necessidade urgente de olhar para esse contexto de ensino-aprendizagem e escutá-los; requer do docente sensibilidade para entender que eles precisam ser ouvidos e valorizados. Implica em empreender um diálogo que favoreça relações menos verticalizadas, pois é por meio desse que ocorre a conexão dos saberes, o pensamento de cada um se torna uma operação comum, na qual nenhum é o criador, todos coexistem através do mundo do outro.1414 Merleau-Ponty, M. Fenomenologia da Percepção. 3ª ed. São Paulo (SP): Martins Fontes; 2006.

Ainda, relações de autoridade e superioridade entre docente e discentes, ou mesmo entre profissionais de saúde e acadêmicos, podem ser chamadas de violência objetiva ou sistêmica, demarcada por laços de dominação e exploração que pode lançar mão de estruturas e elementos que remetem a pensar em diferentes apresentações de violência como a simbólica ou mesmo a física praticada de forma direta contra determinados sujeitos.88 Bispo FS, Lima NL. A violência no contexto escolar: uma leitura interdisciplinar. Educ Revista [Internet]. 2014 Abr-Mai [cited 2017 Mar 22]; 30(2):161-80. Available from: http://www.scielo.br/pdf/edur/v30n2/08.pdf
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Essas considerações reforçam a necessidade de pensar na relação ensino-aprendizagem e enfatizar que o olhar e a conduta do docente precisam voltar-se não apenas para os resultados do processo de ensinar e aprender, pois pressupõe o compartilhamento de saberes que favorece a reflexão da realidade e a construção coletiva.2727 Mereghi MA, Jesus MCP, Domingos SRF, Oliveira DMO, Ito TN. Teaching and learning in the clinical field: perspective of teachers, nurses and nursing students. Rev Bra. Enferm [Internet]. 2014 Jul-Ago [cited 2015 Fev 18]; 67(4):505-11. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v67n4/0034-7167-reben-67-04-0505.pdf
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Na atualidade, é imprescindível pensar em um processo de aprendizagem menos verticalizado e distante dos interesses e necessidades dos jovens. Para isso, a relação pedagógica precisa deixar de ser impositiva para centrar-se em uma construção conjunta.2525 Cruz GV, Pereira WR. Different configurations of violence in pedagogical relationships between teachers and students of higher education. Rev Bras Enferm [Internet]. 2013 Mar-Abr [cited 2014 Dez 16]; 66(2):241-50. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v66n2/14.pdf
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Acredita-se que quando o processo de formação é conduzido pautado em relações de igualdade, responsabilidades e autorias partilhadas,2525 Cruz GV, Pereira WR. Different configurations of violence in pedagogical relationships between teachers and students of higher education. Rev Bras Enferm [Internet]. 2013 Mar-Abr [cited 2014 Dez 16]; 66(2):241-50. Available from: http://www.scielo.br/pdf/reben/v66n2/14.pdf
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ele pode, também, contribuir para diluir as relações de poder que favorecem as ocorrências de violência reveladas pelos jovens e, ainda, auxiliá-los na construção dos seus projetos de vida2828 Feuerwerker LCM. Cuidar em saúde. In: Ferla AA, Ramos AS, Leal MB, Carvalho MS, organizadores. VER-SUS Brasil: cadernos de textos [Internet]. Porto Alegre (RS): Rede Unida; 2013. [cited 2017 Jun 06]. Available from: http://www.otics.org/estacoes-de-observacao/versus/acervo/caderno-de-textos-do-ver-sus-brasil/caderno-de-textos-do-ver-sus-brasil-documento-eletronico
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da melhor maneira possível.

Contudo, para isso é necessário que os jovens estabeleçam boas conexões e bons encontros, uma vez que esses potencializam a sua capacidade de entender que a vida possibilita momentos de ganhos e perdas, frustrações, dificuldades, realizações, encontros e desencontros,2828 Feuerwerker LCM. Cuidar em saúde. In: Ferla AA, Ramos AS, Leal MB, Carvalho MS, organizadores. VER-SUS Brasil: cadernos de textos [Internet]. Porto Alegre (RS): Rede Unida; 2013. [cited 2017 Jun 06]. Available from: http://www.otics.org/estacoes-de-observacao/versus/acervo/caderno-de-textos-do-ver-sus-brasil/caderno-de-textos-do-ver-sus-brasil-documento-eletronico
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elementos essenciais para ajudá-los a encontrarem meios e respostas que auxiliam na construção de estratégias para agir frente às adversidades que os atingem, como é o caso da violência, a qual pode tornar-se um obstáculo para a construção dos seus projetos de vida, pois é um fenômeno que repercute negativamente na corporeidade dos jovens.

Os jovens, a partir de suas vivências - materializadas nessa pesquisa, entendem que a violência interfere em sua corporeidade e no seu modo de ser de diferentes maneiras: tornando-os indiferentes, provocando um vazio, tirando a cor de suas vidas e calando-os. Observa-se que a repetição diária de fatos e notícias pode levar à naturalização e banalização da violência,99 Waiselfisz JJ. Mapa da Violência 2014: os jovens do Brasil [Internet]. Brasília (DF): Organização Pan-Americana da Saúde/Organização Mundial da Saúde; Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres; Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos; Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais; 2014 [cited 2014 Jun 18]. Available from: http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2014/Mapa2014_JovensBrasil.pdf
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deixando-os menos sensíveis para reconhecê-la em situações do seu dia a dia, como por exemplo, identificá-la em pequenos atos presentes no cotidiano do seu processo de formação.

A violência também interfere na corporeidade do jovem perturbando o seu existir, deixando-o confuso, indiferente a ela, sem reação, ou provocando um vazio. No entanto, mesmo que os jovens tenham a sensação de estarem indiferentes, insensíveis ou alheios a esse fenômeno que perpassa suas vidas diariamente, de maneira mais visível ou mais velada, defende-se a ideia de que eles sentem e percebem a presença da violência por meio de seus estímulos táteis, visuais, auditivos e motores, pois os movimentos do corpo são coordenados e “estão a nossa disposição a partir de uma significação comum”.1414 Merleau-Ponty, M. Fenomenologia da Percepção. 3ª ed. São Paulo (SP): Martins Fontes; 2006.:206 Os movimentos do corpo estão em sincronia para que o jovem consiga perceber o mundo e as facticidades que dele fazem parte e interferem na sua corporeidade.

A corporeidade pode ser entendida como processos fisiológicos e psicológicos que permitem ao ser humano, como corpo, tomar consciência de si mesmo. São as relações estabelecidas pela percepção entre o corpo próprio e o mundo. Ao compreender o corpo como ativo, e não como um mero receptáculo de movimentos externos, pensa-se que ele se comunica com o mundo, passando pelos locais sociais da vida do homem. Trata-se do corpo-sujeito, expressão da existência humana e, como tal, conjunto de significações vividas e produção de novas significações, fruto do estar no mundo.1414 Merleau-Ponty, M. Fenomenologia da Percepção. 3ª ed. São Paulo (SP): Martins Fontes; 2006.

Os jovens também entendem que a violência interfere em sua corporeidade deixando o corpo sem cor. O corpo sem cor pode ser comparado a um corpo desprovido de um membro.1414 Merleau-Ponty, M. Fenomenologia da Percepção. 3ª ed. São Paulo (SP): Martins Fontes; 2006. A falta de um membro pode dificultar a ação e a interação com o mundo,1414 Merleau-Ponty, M. Fenomenologia da Percepção. 3ª ed. São Paulo (SP): Martins Fontes; 2006. especialmente em uma profissão que exige o contato e, por vezes, o envolvimento com o ser que será cuidado. A violência pode deixar a vida do jovem sem cor pelo sofrimento que ela causa, pode deixá-lo sem a alegria de viver e contemplar o mundo com sua diversidade de cores; dificulta-lhe a realização dos seus sonhos e a busca pelas coisas que deseja, impede-o, em alguns momentos, de ser e estar no mundo, de construir-se como um ser de cuidado.

Construir-se como um ser de cuidado requer entender que a relação de cuidar envolve responsabilidade, compromisso, reconhecimento e preocupação com o ser que está sendo cuidado, que sobretudo é um processo interativo que ocorre entre cuidador e ser cuidado.2929 Waldow VR. Enfermagem: a prática do cuidado sob o ponto de vista filosófico Investigación en Enfermería: Imagen y Desarrollo [Internet]. 2015 [cited 2017 Mai 06]; 17(1):13-25 Available from: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=145233516002
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Para que o jovem consiga se construir em um ser de cuidado, primeiramente, ele precisa ser cuidado, pois antes de ensinar a arte do cuidado ao outro é necessário cuidar daquele que será um cuidador.2929 Waldow VR. Enfermagem: a prática do cuidado sob o ponto de vista filosófico Investigación en Enfermería: Imagen y Desarrollo [Internet]. 2015 [cited 2017 Mai 06]; 17(1):13-25 Available from: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=145233516002
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Cumpre dizer, portanto, que o cuidado desse jovem compete aos docentes, à comunidade acadêmica, aos profissionais de saúde que o recebem em seus cenários de prática, por meio do acolhimento, da escuta sensível, da linguagem, do reconhecimento das suas limitações e necessidades de ajuda.1515 Zanatta EA, Motta MGC. Violence in the view of young people in the perspective of corporeality and vulnerability. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2015 Jun [cited 2016 Jul 19]; 24(2):476-485. Available from: http://www.scielo.br/pdf/tce/v24n2/0104-0707-tce-24-02-00476.pdf
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Ainda, os resultados revelaram que a violência cala. A linguagem é a existência efetiva de imagens verbais. É pela linguagem que o corpo se torna corporeidade, a linguagem permite uma nova forma de ser ao corpo que percebe, é percebido e passa a exigir a presença do outro.2323 Merleau-Ponty MA. A prosa do mundo. Trad. Paulo Neves. São Paulo: Cosac &Naify, 2002. Cala-se a voz, entretanto não se pode perder de vista que o corpo fala por meio de gestos, expressões, silêncio. Se a violência cala a voz do jovem, é necessário entendê-lo, ouvi-lo, por outros ângulos da expressão da sua corporeidade, até mesmo por meio do silêncio. Merleau-Ponty2323 Merleau-Ponty MA. A prosa do mundo. Trad. Paulo Neves. São Paulo: Cosac &Naify, 2002. ressalta que a linguagem congrega a comunicação verbal, não verbal e também o silêncio, ou seja, qualquer forma de comunicação sempre diz algo.

Sendo assim, pode-se entender que o corpo é sensação e expressão, e sentir acontece de diferentes maneiras, pelo respirar, pelo toque, por gestos e postura. Em meio a essa contextualização, é possível concluir que diferentes formas de violência podem calar o jovem, oprimindo e dificultando sua interação com o mundo que o cerca.

Frente a essas discussões, ressalta-se a importância de pensar no jovem como um ser provido de conhecimentos e capacidades e entendê-lo como (co) partícipe no seu processo de formação, como um ser em construção que possui seu tempo de aprendizagem, limitações e concepções próprias. Contrariamente, quando esse processo de formação profissional é conduzido desconsiderando-se o potencial ou as necessidades do jovem, potencializam-se os espaços para a violência.

Por fim, destaca-se a singularidade do referencial e da abordagem adotada para compreender a violência presente na formação do jovem, futuro enfermeiro. Contudo, os achados do presente estudo não devem ser generalizados, requerendo novos olhares sobre o jovem nos diferentes espaços que circula e nos quais faz história, cuidando dele, dando-lhe voz e propondo ações que o visualizem e entendam como corporeidade.

CONCLUSÃO

Dentre as situações vivenciadas pelos estudantes no processo de formação em enfermagem, a violência psicológica permeia o cenário acadêmico, sobretudo quando se trata da ausência de um diálogo profícuo entre docente e discente. Nessa direção, observou-se, por vezes, um processo educativo verticalizado, que distancia os sujeitos interessados no aprendizado e que negligencia o potencial de conhecimento do jovem. Ainda, no cenário prático, a convivência com profissionais do serviço pode ser violenta, quando se desvaloriza o conhecimento do acadêmico.

As repercussões da violência na corporeidade do jovem se expressam no corpo que sente e é sentido, e podem ser compreendidas a partir da descrição de um cotidiano que está naturalizado no acadêmico de enfermagem, o que repercute na banalização de seu sofrimento. O fenômeno se apresenta nos diferentes contextos de vida do estudante, contudo, ele não se sente seguro em manifestar e denominar essa sensação. A expressão mais frequente é o silêncio e as implicações geram problemas sociais, emocionais, psicológicos e cognitivos, capazes de impactar sensivelmente sua existência pessoal e profissional quando ele aprende que calar faz parte da sua história de vida.

Acredita-se que os resultados dessa pesquisa geraram subsídios, tanto para o campo da formação profissional em enfermagem quanto para a prática assistencial, sinalizando a urgência de olhar para o jovem, respeitar seus conhecimentos, seu tempo de aprendizagem, suas limitações e acolhê-lo, fazendo-o se sentir (co) partícipe da sua construção como um ser de cuidado, contribuindo, também, para a redução das situações de violência que permeiam esse processo.

  • 1
    Artigo extraído da tese - Compreensões de jovens universitários sobre a violência - sob o olhar da corporeidade, da vulnerabilidade e do cuidado, apresentada à Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em 2013.

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Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    09 Ago 2018
  • Data do Fascículo
    2018

Histórico

  • Recebido
    09 Out 2016
  • Aceito
    27 Jul 2017
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