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IMPACTO DA AUTOESTIMA E DOS FATORES SOCIODEMOGRÁFICOS NA AUTOEFICÁCIA DE ESTUDANTES DE GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM

RESUMO

Objetivos:

identificar os níveis de autoeficácia e autoestima em estudantes de graduação em enfermagem e verificar a relação destes constructos entre si e com variáveis sociodemográficas.

Método:

estudo transversal, com amostra constituída por 264 estudantes de duas instituições de ensino superior. A autoestima e a autoeficácia foram mensuradas pelas versões brasileiras das Escalas de Autoestima de Rosenberg e de Autoeficácia Geral e Percebida, respectivamente.

Resultados:

identificou-se predomínio de autoeficácia moderada a alta, com pontuação média de 35,29 e de autoestima moderada, com uma média de 23,48. A autoeficácia foi associada ao sexo masculino, opção prioritária no vestibular pela enfermagem, satisfação com o curso e ausência de sobrecarga, além de correlacionar-se positivamente com a idade e autoestima.

Conclusão:

os níveis de autoeficácia e autoestima foram moderados/altos e moderados, respectivamente. Estes constructos mostraram relação entre si e assumem um papel imprescindível tanto na vida pessoal do indivíduo como no processo de profissionalização. Estes achados apontam para a necessidade do fortalecimento da saúde mental nesta população, sobretudo, em estudantes vulneráveis (sexo feminino, sobrecarga de atividades, insatisfação com o curso e baixa autoestima e autoeficácia), de modo a favorecer o sentimento de valor que atribuem a si próprios e a crença em suas capacidades.

DESCRITORES:
Autoimagem; Autoeficácia; Estudantes de enfermagem; Saúde mental; Enfermagem

ABSTRACT

Objectives:

to identify self-efficacy and self-esteem levels in undergraduate nursing students and to verify the mutual relationship between these constructs and with sociodemographic variables.

Method:

a cross-sectional study, with a sample of 264 students from two universities. Self-esteem and self-efficacy were measured by the Brazilian versions of the Rosenberg's Self-Esteem and of the General and Perceived Self-Efficacy scales, respectively.

Results:

a predominance of moderate to high self-efficacy was identified, with a mean score of 35.29 and moderate self-esteem, with a mean of 23.48. Self-efficacy was associated with the male gender, priority option in the college entrance examination by nursing, satisfaction with the course and absence of overload, besides correlating positively with age and self-esteem.

Conclusion:

self-efficacy and self-esteem levels were moderate/high and moderate, respectively. These constructs have shown a mutual relationship and assume an indispensable role both in the individual's personal life and in the professionalization process. These findings point to the need to strengthen mental health in this population, especially in vulnerable students (female, activity overload, dissatisfaction with the course and low self-esteem and self-efficacy), in order to foster their sense of value and the belief in their abilities.

DESCRIPTORS:
Self-image; Self-efficacy; Nursing students; Mental health; Nursing

RESUMEN

Objetivos:

identificar los niveles de autoeficacia y autoestima en estudiantes universitarios de enfermería y verificar la relación de estos constructos entre sí y con las variables sociodemográficas.

Método:

estudio transversal con una muestra compuesta por 264 estudiantes de dos instituciones de enseñanza superior. La autoestima y la autoeficacia se midieron conforme a las versiones brasileñas de la Escala de Autoestima de Rosenberg y de la Escala de Autoeficacia General y Percibida, respectivamente.

Resultados:

se identificó un predominio de autoeficacia de moderada a alta, con un puntaje medio de 35,29 y de autoestima moderada, con una media de 23,48. La autoeficacia se asoció con el sexo masculino, con opción prioritaria de ingreso a la carrera de enfermería, satisfacción con la carrera y ausencia de sobrecarga, además de correlacionarse positivamente con la edad y la autoestima.

Conclusión:

los niveles de autoeficacia y autoestima fueron moderados/altos y moderados, respectivamente. Estos constructos evidenciaron una relación entre sí y asumen un rol imprescindible tanto en la vida personal del individuo como en el proceso de profesionalización. Estos hallazgos apuntan a la necesidad de fortalecer la salud mental en esta población, especialmente en estudiantes vulnerables (sexo femenino, sobrecarga de actividades, insatisfacción con la carrera y bajos niveles de autoestima y autoeficacia), de modo de favorecer la sensación de valor que se atribuyen como personas y lo que creen con respecto a sus capacidades.

DESCRIPTORES:
Imagen propia; Autoeficacia; Estudiantes de enfermería; Salud mental; Enfermería

INTRODUÇÃO

Estudantes de graduação em enfermagem experienciam situações novas, diferentes e desafiadoras em seu cotidiano. Ingressam em um ambiente diferente e precisam se adaptar rapidamente para que possam desempenhar suas atividades acadêmicas e se habituarem às mudanças socioculturais. Alguns desafios incluem: estar longe do lar pela primeira vez, mudança na rotina diária, necessidade de maior responsabilidade e organização, exposição à prática profissional, cobranças, expectativas e apoio limitado por deixar a família e os amigos.11. Porteous DJ, Machin A. The lived experience of first year undergraduate student nurses: A hermeneutic phenomenological study. Nurse Educ Today [Internet]. 2018 [cited 2018 Mar 14]; 60:56-61. Available from: https://dx.doi.org/10.1016/j.nedt.2017.09.017
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A vivência neste contexto ainda desconhecido pode gerar tensões, preocupações, ansiedade e instabilidade emocional.

Pesquisas destacam que estes estudantes são, geralmente, vulneráveis ao estresse,22. Acharya Pandey R, Chalise HN. Self-Esteem and Academic Stress among Nursing Students. Kathmandu Univ Med J (KUMJ) [Internet]. 2015 [cited 2017 Apr 17]; 3(52):298-302. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27423278
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-44. McCarthy B, Trace A, O'Donovan M, Brady-Nevin C, Murphy M, O'Shea M, et al. Nursing and midwifery students' stress and coping during their undergraduate education programmes: An integrative review. Nurse Educ Today [Internet]. 2018 [cited 2018 Mar 14]; 61:197-209. Available from: https://dx.doi.org/10.1016/j.nedt.2017.11.029
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possuem baixa autoestima55. Valizadeh L, Zamanzadeh V, Gargari RB, Ghahramanian A, Tabrizi FJ, Keogh B. Pressure and protective factors influencing nursing students' self-esteem: A content analysis study. Nurse Educ Today [Internet]. 2016 [cited 2017 Apr 17]; 36:468-72. Available from: https://dx.doi.org/10.1016/j.nedt.2015.10.019
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-66. Saleh D, Camart N, Romo L. Predictors of Stress in College Students. Front Psychol [Internet]. 2017 [cited 2018 Mar 14];8:19. Available from: https://dx.doi.org/10.3389/fpsyg.2017.00019
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e transtornos de ansiedade e depressão,66. Saleh D, Camart N, Romo L. Predictors of Stress in College Students. Front Psychol [Internet]. 2017 [cited 2018 Mar 14];8:19. Available from: https://dx.doi.org/10.3389/fpsyg.2017.00019
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-77. Bajaj B, Robins RW, Pande N. Mediating role of self-esteem on the relationship between mindfulness, anxiety, and depression. Pers Individ Dif [Internet]. 2016 [cited 2018 Mar 14];96:127-31. Available from: https://dx.doi.org/10.1016/j.paid.2016.02.085
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além de apresentarem aspectos de qualidade de vida relacionados à vitalidade, estado geral de saúde e variáveis emocionais diminuídos.88. Sawicki WC, Barbosa DA, Fram DS, Belasco AGS. Alcohol consumption, Quality of Life and Brief Intervention among Nursing university students. Rev Bras Enferm [Internet]. 2018 [cited 2018 May 01];71(Suppl 1):505-12. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0692
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Ademais, a Organização Mundial da Saúde (OMS) alerta que esta população jovem possui alta prevalência de ideação e comportamento suicida, que corresponde a segunda causa mais comum de óbito em pessoas com idade entre 15 e 29 anos, enfatizando que a prevenção do suicídio, nesta faixa etária, deve ser uma das prioridades na agenda global de saúde pública.99. World Health Organization (WHO). Preventing Suicide: A Global Imperative. Geneva: World Health Organization; 2014. Available from: http://www.who.int/mental_health/suicide-prevention/world_report_2014/en/
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Uma atual investigação, que estudou a prevalência de comportamento suicida em 5.572 estudantes universitários em 12 países, evidenciou relatos de ideação suicida em quase 29% da amostra e tentativa de suicídio em 7% dos participantes, estando fortemente associado a algum tipo de sofrimento psicológico.1010. Eskin M, Sun JM, Abuidhail J, Yoshimasu K, Kujan O, Janghorbani M, et al. Suicidal Behavior and Psychological Distress in University Students: A 12-nation Study. Arch Suicide Res [Internet]. 2016 [cited 2017 Apr 17];20(3):369-88. Available from: https://dx.doi.org/10.1080/13811118.2015.1054055
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Considerando-se especificamente graduandos em enfermagem, encontrou-se uma prevalência de 6,4%, indicando risco de suicídio, que se correlacionou de forma negativa e significativa com autoestima e resiliência,1111. Montes-Hidalgo J, Tomás-Sábado J. Self-esteem, resilience, locus of control and suicide risk in nursing students. Enferm Clin [Internet]. 2016 [cited 2017 Apr 17];26(3):188-93. Available from: https://dx.doi.org/10.1016/j.enfcli.2016.03.002
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apontando a importância destes constructos no fortalecimento da saúde mental.

A alta prevalência de estresse e transtornos emocionais nesta população ocorrem, muitas vezes, pelas longas horas dedicadas ao estudo,1212. Benavente SBT, Silva RM, Higashi AB, Guido LA, Costa ALS. Influence of stress factors and socio-demographic characteristics on the sleep quality of nursing students. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2014 [cited 2017 Apr 17];48(3):514-20. Available from: https://dx.doi.org/10.1590/S0080-623420140000300018
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falta de tempo livre para atividades de lazer,1212. Benavente SBT, Silva RM, Higashi AB, Guido LA, Costa ALS. Influence of stress factors and socio-demographic characteristics on the sleep quality of nursing students. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2014 [cited 2017 Apr 17];48(3):514-20. Available from: https://dx.doi.org/10.1590/S0080-623420140000300018
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apoio insuficiente,11. Porteous DJ, Machin A. The lived experience of first year undergraduate student nurses: A hermeneutic phenomenological study. Nurse Educ Today [Internet]. 2018 [cited 2018 Mar 14]; 60:56-61. Available from: https://dx.doi.org/10.1016/j.nedt.2017.09.017
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insegurança para exercer as atividades com competência clínica,55. Valizadeh L, Zamanzadeh V, Gargari RB, Ghahramanian A, Tabrizi FJ, Keogh B. Pressure and protective factors influencing nursing students' self-esteem: A content analysis study. Nurse Educ Today [Internet]. 2016 [cited 2017 Apr 17]; 36:468-72. Available from: https://dx.doi.org/10.1016/j.nedt.2015.10.019
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problemas interpessoais com o paciente, seus familiares e a equipe de enfermagem,55. Valizadeh L, Zamanzadeh V, Gargari RB, Ghahramanian A, Tabrizi FJ, Keogh B. Pressure and protective factors influencing nursing students' self-esteem: A content analysis study. Nurse Educ Today [Internet]. 2016 [cited 2017 Apr 17]; 36:468-72. Available from: https://dx.doi.org/10.1016/j.nedt.2015.10.019
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,1313. Zanatta EA, Motta MGC, Trindade LL, Vendruscolo C. Experiences of violence in the nursing training process: repercussions of corporeity in youths. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2018 [cited 2018 Sept 11]; 27(3):e3670016. Available from: https://dx.doi.org/10.1590/0104-07072018003670016
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dificuldades de lidar com pacientes em estado crítico,33. Tharani A, Husain Y, Warwick I. Learning environment and emotional well-being: A qualitative study of undergraduate nursing students. Nurse Educ Today [Internet]. 2017 [cited 2018 Mar 14]; 59:82-7. Available from: https://dx.doi.org/10.1016/j.nedt.2017.09.008
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rigor das atividades curriculares,33. Tharani A, Husain Y, Warwick I. Learning environment and emotional well-being: A qualitative study of undergraduate nursing students. Nurse Educ Today [Internet]. 2017 [cited 2018 Mar 14]; 59:82-7. Available from: https://dx.doi.org/10.1016/j.nedt.2017.09.008
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além das relações verticalizadas presentes entre educadores e estudantes.1313. Zanatta EA, Motta MGC, Trindade LL, Vendruscolo C. Experiences of violence in the nursing training process: repercussions of corporeity in youths. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2018 [cited 2018 Sept 11]; 27(3):e3670016. Available from: https://dx.doi.org/10.1590/0104-07072018003670016
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Desta forma, estudantes universitários constituem uma população vulnerável a um desequilíbrio mental e/ou a uma crise advinda dos estressores relacionados à graduação. Prejuízos físicos e psicológicos, como os sintomas ansiosos, depressivos e a baixa autoestima podem ocorrer com frequência, prejudicando o desempenho acadêmico,1414. Jirdehi MM, Asgari F, Tabari R, Leyli EK. Study the relationship between medical sciences students' self-esteem and academic achievement of Guilan university of medical sciences. J Educ Health Promot [Internet]. 2018 [cited 2018 May 1];7:52. Available from: https://dx.doi.org/10.4103/jehp.jehp_136_17
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o relacionamento interpessoal,55. Valizadeh L, Zamanzadeh V, Gargari RB, Ghahramanian A, Tabrizi FJ, Keogh B. Pressure and protective factors influencing nursing students' self-esteem: A content analysis study. Nurse Educ Today [Internet]. 2016 [cited 2017 Apr 17]; 36:468-72. Available from: https://dx.doi.org/10.1016/j.nedt.2015.10.019
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a qualidade de vida,88. Sawicki WC, Barbosa DA, Fram DS, Belasco AGS. Alcohol consumption, Quality of Life and Brief Intervention among Nursing university students. Rev Bras Enferm [Internet]. 2018 [cited 2018 May 01];71(Suppl 1):505-12. Available from: http://dx.doi.org/10.1590/0034-7167-2017-0692
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a satisfação com o sono,1212. Benavente SBT, Silva RM, Higashi AB, Guido LA, Costa ALS. Influence of stress factors and socio-demographic characteristics on the sleep quality of nursing students. Rev Esc Enferm USP [Internet]. 2014 [cited 2017 Apr 17];48(3):514-20. Available from: https://dx.doi.org/10.1590/S0080-623420140000300018
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o padrão alimentar1515. Phillips L, Kemppainen JK, Mechling BM, MacKain S, Kim-Godwin Y, Leopard L. Eating disorders and spirituality in college students. J Psychosoc Nurs Ment Health Serv [Internet]. 2015 [cited 2017 Apr 17];53(1):30-7. Available from: http://doi.org/10.3928/02793695-20141201-01
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e o desejo de viver.1010. Eskin M, Sun JM, Abuidhail J, Yoshimasu K, Kujan O, Janghorbani M, et al. Suicidal Behavior and Psychological Distress in University Students: A 12-nation Study. Arch Suicide Res [Internet]. 2016 [cited 2017 Apr 17];20(3):369-88. Available from: https://dx.doi.org/10.1080/13811118.2015.1054055
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Além destes possíveis distúrbios físicos e emocionais, a baixa autoestima pode ainda ocasionar comportamento autodestrutivo, menor autoeficácia e abandono do curso.1111. Montes-Hidalgo J, Tomás-Sábado J. Self-esteem, resilience, locus of control and suicide risk in nursing students. Enferm Clin [Internet]. 2016 [cited 2017 Apr 17];26(3):188-93. Available from: https://dx.doi.org/10.1016/j.enfcli.2016.03.002
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Diante deste contexto, a autoestima, e mais recentemente, a autoeficácia, parecem compor as variáveis mais importantes que enraízam a saúde mental e a capacidade de gerir processos de tomada de decisão de maneira saudável em estudantes universitários. A autoestima pode ser definida como uma atitude de aprovação ou de reprovação de si e engloba o autojulgamento em relação à competência e valor, podendo ser classificada como alta, moderada ou baixa.55. Valizadeh L, Zamanzadeh V, Gargari RB, Ghahramanian A, Tabrizi FJ, Keogh B. Pressure and protective factors influencing nursing students' self-esteem: A content analysis study. Nurse Educ Today [Internet]. 2016 [cited 2017 Apr 17]; 36:468-72. Available from: https://dx.doi.org/10.1016/j.nedt.2015.10.019
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,1616. Dini GM, Quaresma MR, Ferreira LM. Translation into Portuguese, Cultural Adaptation and Validation of the Rosenberg Self-esteem Scale. Rev Bras Cir Plást [Internet]. 2004 [cited 2017 Apr 17];19(1):41-52. Available from: http://www.rbcp.org.br/details/322/pt-BR/adaptacao-cultural-e-validacao-da-versao-brasileira-da-escala-de-auto-estima-de-rosenberg
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A autoeficácia, por sua vez, é definida como a crença que a pessoa possui sobre a sua própria competência e capacidade de executar e organizar tarefas com efeito desejado. Não se trata de possuir certas aptidões, mas sim, de acreditar que as têm ou que pode adquiri-las por meio de esforço pessoal.1717. Polydoro SAJ, Guerreiro-Casanova DC. Higher education self-efficacy scale: Construction and validation research. Aval Psicol [Internet]. 2010 [cited 2017 Apr 17]; 9(2):267-278. Available from: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-04712010000200011
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Essas crenças de autoeficácia são necessárias para adaptações eficazes, enfrentamento de desafios e transposição de obstáculos de maneira saudável e assertiva,11. Porteous DJ, Machin A. The lived experience of first year undergraduate student nurses: A hermeneutic phenomenological study. Nurse Educ Today [Internet]. 2018 [cited 2018 Mar 14]; 60:56-61. Available from: https://dx.doi.org/10.1016/j.nedt.2017.09.017
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além de se correlacionar com o desempenho acadêmico.1818. Farokhzadian J, Karami A, Azizzadeh Forouzi M. Health-promoting behaviors in nursing students: is it related to self-efficacy for health practices and academic achievement? Int J Adolesc Med Health [Internet]. 2018 June 28 [cited 2018 Sept 20]. Available from: http://doi.org/10.1515/ijamh-2017-0148
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Esse constructo caracteriza-se como um dos elementos vitais da Teoria Social Cognitiva de Bandura na aprendizagem, motivação e metas acadêmicas.1717. Polydoro SAJ, Guerreiro-Casanova DC. Higher education self-efficacy scale: Construction and validation research. Aval Psicol [Internet]. 2010 [cited 2017 Apr 17]; 9(2):267-278. Available from: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-04712010000200011
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Desta forma, entende-se que a autoestima, associada à autoeficácia, assume um papel importante tanto na vida pessoal do indivíduo como no processo de profissionalização e ambas devem ser consideradas, em conjunto, no âmbito emocional de jovens estudantes.

Diante destes achados e da prioridade elencada pela OMS na prevenção de suicídio em jovens, torna-se inestimável conhecer o perfil de estudantes de enfermagem em relação à sua autoestima e autoeficácia. Esses dados podem propiciar a reflexão de estratégias que ofereçam oportunidades para que estes estudantes possam desenvolver e fortalecer sua saúde mental, o sentimento de valor que dão a si mesmos e a crença em suas capacidades. Observa-se uma tímida produção científica no que diz respeito a estes constructos em graduandos de enfermagem, principalmente, em relação à autoeficácia e a sua associação com a autoestima e os fatores que os promovem ou os prejudiquem.

Assim, este estudo tem por objetivo identificar os níveis de autoeficácia e autoestima em estudantes de graduação em enfermagem e verificar a relação destes constructos entre si e com as variáveis sociodemográficas.

MÉTODO

Estudo transversal, realizado em duas Instituições de Ensino Superior (IES) do interior do estado de São Paulo, que oferecem Curso de Graduação em Enfermagem. Estas instituições foram selecionadas pela facilidade de coleta de dados dos pesquisadores. A IES 1 é uma faculdade de ensino público estadual, de regime integral, que oferece ensino, pesquisa e extensão. O Curso de Enfermagem existe desde 1991, com aproximadamente 1200 enfermeiros formados e 148 alunos matriculados. A IES 2 é uma universidade privada, que oferece o curso de Enfermagem em oito semestres, desde 2004, nos períodos matutino e noturno, articulando as atividades de ensino, pesquisa e extensão. Conta com 256 alunos matriculados no período matutino e noturno.

A população foi constituída por todos os estudantes dos Cursos de Enfermagem das instituições selecionadas (n=404). A identificação dos discentes ocorreu por meio de listagem fornecida pelos coordenadores dos cursos. Todos os estudantes que manifestaram interesse em participar foram incluídos na pesquisa.

Os critérios de inclusão estabelecidos foram: estar matriculado em qualquer período do curso de Enfermagem, ter 18 anos ou mais e estar presente nas datas de coleta de dados. A amostra foi constituída por 264 estudantes. Os motivos de exclusão foram: idade inferior a 18 anos (n=3), ausência nos dias de coleta de dados (n=58) e os que não aceitaram participar da pesquisa (n=79).

Três instrumentos de coleta de dados foram aplicados: Caracterização Sociodemográfica, Escala de Autoestima de Rosenberg e Escala de Autoeficácia Geral e Percebida.

O instrumento de caracterização sociodemográfica contém as seguintes variáveis: dados de identificação, sexo, idade, estado civil, procedência, se morava na mesma cidade dos pais, renda mensal, com quem residia, número de pessoas que residiam na casa, perfil da instituição de ensino (pública ou privada), ano da graduação, satisfação com a profissão, se a enfermagem foi sua primeira opção no vestibular, se já pensou ou pensa em abandonar o curso, se exercia atividades profissionais remuneradas e se sentia sobrecarga com as atividades acadêmicas.

A Escala de Autoestima de Rosenberg (EAR), validada para o português em 2001,1616. Dini GM, Quaresma MR, Ferreira LM. Translation into Portuguese, Cultural Adaptation and Validation of the Rosenberg Self-esteem Scale. Rev Bras Cir Plást [Internet]. 2004 [cited 2017 Apr 17];19(1):41-52. Available from: http://www.rbcp.org.br/details/322/pt-BR/adaptacao-cultural-e-validacao-da-versao-brasileira-da-escala-de-auto-estima-de-rosenberg
http://www.rbcp.org.br/details/322/pt-BR...
tipo Likert, de quatro pontos, em que o número 1 representa o concordo fortemente e o 4 discordo fortemente. É composta por 10 itens que mensuram uma única dimensão; cinco destes avaliam sentimentos positivos do indivíduo sobre si mesmo e cinco sentimentos negativos. A medida da autoestima é obtida pela soma dos valores das respostas aos itens da escala, após recodificação dos cinco itens com pontuação reversa (2, 5, 6, 8, 9). A somatória das respostas pode variar de 10 a 40, e a autoestima classificada em alta ou satisfatória (maior que 30 pontos), moderada (de 20 a 30 pontos) e baixa ou insatisfatória (menor que 20 pontos).1616. Dini GM, Quaresma MR, Ferreira LM. Translation into Portuguese, Cultural Adaptation and Validation of the Rosenberg Self-esteem Scale. Rev Bras Cir Plást [Internet]. 2004 [cited 2017 Apr 17];19(1):41-52. Available from: http://www.rbcp.org.br/details/322/pt-BR/adaptacao-cultural-e-validacao-da-versao-brasileira-da-escala-de-auto-estima-de-rosenberg
http://www.rbcp.org.br/details/322/pt-BR...

Para mensurar a autoeficácia foi selecionada a Escala de Autoeficácia Geral e Percebida (General Perceived Self-Efficacy Scale), originalmente criada por Schwarzer e Jerusalem.1919. Schwarzer R, Jerusalem M. Generalized Self-Efficacy scale. In: Weinman J, Wright S, Johnston M. Measures in health psychology: A user’s portfolio. Causal and control beliefs. Windsor (UK): NFER-NELSON; 1995[cited 2018 Sept 20]. p. 35-7. Available from: https://userpage.fu-berlin.de/health/engscal.htm.
https://userpage.fu-berlin.de/health/eng...
Esta escala foi adaptada e validada para o Brasil,2020. Souza I, Souza MA. Validação da escala de autoeficácia geral percebida. Rev Univ Rural [Internet]. 2004 [cited 2017 Apr 17]; 26(1-2):12-7. Available from: https://www.researchgate.net/publication/260338439_Validacao_da_Escala_de_Autoeficacia_Geral_Percebida
https://www.researchgate.net/publication...
obtendo boa consistência interna (alfa de Cronbach de 0,81).

Trata-se de um instrumento composto por 10 itens, tipo Likert, com respostas que variam de um a cinco. Cada item refere-se ao alcance de metas e atribui à percepção interna do sucesso, sendo que uma maior pontuação indica maior percepção da autoeficácia, em um intervalo de 10 a 50.2020. Souza I, Souza MA. Validação da escala de autoeficácia geral percebida. Rev Univ Rural [Internet]. 2004 [cited 2017 Apr 17]; 26(1-2):12-7. Available from: https://www.researchgate.net/publication/260338439_Validacao_da_Escala_de_Autoeficacia_Geral_Percebida
https://www.researchgate.net/publication...

A coleta de dados ocorreu no mês de fevereiro de 2017. Os dados foram processados e analisados por meio do programa Minitab 17 (Minitab Inc.). Foram realizadas análises descritivas para as variáveis de caracterização amostral, como sexo, estado civil, ano da graduação, procedência, renda familiar e satisfação com o curso de Enfermagem. Para analisar a influência de variáveis de caracterização amostral nos escores de autoestima de Rosenberg e autoeficácia, foram empregados testes t para amostras independentes, e teste de Análise de Variância com teste de comparação múltipla de Tukey post-hoc. Para observar as possíveis correlações entre os escores de autoestima de Rosenberg e autoeficácia com as variáveis quantitativas foi empregado o teste de correlação de Spearman.

Os participantes preencheram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

RESULTADOS

Participaram desse estudo 264 estudantes de graduação em enfermagem. Os resultados mostraram que a maioria era do sexo feminino (232; 87,88%), sem companheiro (167; 63,26%), pertencentes à instituição privada (142; 53,79%), cursando o segundo ano de graduação (83; 31,44%), residentes na mesma cidade dos pais/família (192; 72,73%), com renda familiar de três a seis salários mínimos (114; 43,35%), com quatro pessoas morando na mesma residência (96; 36,36%) e não exercendo trabalho remunerado (167; 63,26%).

A maior parte dos estudantes mencionou o curso de enfermagem como primeira opção no vestibular (161; 60,98%). Os demais (n=103; 39,02%) declararam preferência por outras graduações: medicina (n=61; 59,22%), seguida de direito (n=5; 4,85). Grande parte dos estudantes diz-se satisfeito com o curso (227; 85,98%) e não pensaram em abandoná-lo (162; 61,36%). A maioria deles refere sentir-se sobrecarregado com as atividades da graduação (154; 58,33%) e se autoavalia com bom desempenho no curso (173; 66,03%).

A autoestima dos estudantes foi classificada como moderada, com média de 23,48±2,86, mediana 24 e valores mínimo e máximo, respectivamente, de 4 e 31. Já os níveis de autoeficácia foram considerados medianos a alto, com escore médio de 35,29±6,84 pontos (mediana: 36; mínimo: 11 e máximo: 50) (intervalo permitido de 10 a 50 pontos, sendo que quanto maior este escore, maior é a percepção da autoeficácia pelo respondente).

Os resultados indicaram a ausência de diferenças quando os escores de autoestima foram comparados às variáveis de caracterização (P˃0,05). Neste contexto, nenhuma variável de caracterização avaliada influenciou os escores de autoestima dos participantes, de acordo com a Tabela 1.

Tabela 1
Estatísticas descritivas da autoestima, segundo as variáveis de caracterização amostral: sexo, ano de graduação, se reside na mesma cidade dos pais, renda familiar, Enfermagem como primeira opção, satisfação e sobrecarga com o curso. São José do Rio Preto, SP, Brasil, 2017. (n=264)

Os resultados da Tabela 2 indicam a presença de diferenças nos escores de autoeficácia em quatro casos.

Tabela 2
Estatísticas descritivas da autoeficácia, segundo as variáveis de caracterização amostral: sexo, ano de graduação, se reside na mesma cidade dos pais, renda familiar, Enfermagem como primeira opção, satisfação e sobrecarga com o curso. São José do Rio Preto, SP, Brasil, 2017. (n=264)

O sexo dos estudantes influenciou os escores de autoeficácia, mostrando que, em média, os estudantes do sexo masculino apresentaram maior autoeficácia do que os do sexo feminino. Os estudantes que optaram pela enfermagem como primeira opção de curso apresentaram escore médio de autoeficácia significativamente superior quando comparados aos estudantes que não escolheram a Enfermagem como prioridade. Os participantes que referiram satisfação com o curso de Enfermagem apresentaram escores significativamente superior de autoeficácia em relação àqueles que não souberam responder tal questão. A ausência de sobrecarga com as atividades acadêmicas influenciou para que os estudantes apresentassem escores mais elevados de autoeficácia.

Com exceção da idade dos estudantes e os escores de autoestima, os resultados evidenciaram correlações positivas (P<0,05) entre as variáveis investigadas, ou seja, à medida que uma das variáveis aumenta a outra variável correlacionada também aumenta o seu escore (Tabela 3).

Tabela 3
Coeficientes de correlação de Spearman (valores P) para as correlações avaliadas. São José do Rio Preto, SP, Brasil, 2017. (n=264)

Apesar da evidência de correlação, observa-se que foi considerada fraca, apresentando coeficiente de Spearman abaixo de 0,300.

DISCUSSÃO

Observa-se na amostra um predomínio de autoeficácia moderada a alta, com pontuação média de 35,29, corroborando achados de outros estudos, realizados em âmbito internacional, que também demonstraram predomínio de autoeficácia moderada nesta mesma população.1818. Farokhzadian J, Karami A, Azizzadeh Forouzi M. Health-promoting behaviors in nursing students: is it related to self-efficacy for health practices and academic achievement? Int J Adolesc Med Health [Internet]. 2018 June 28 [cited 2018 Sept 20]. Available from: http://doi.org/10.1515/ijamh-2017-0148
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,2121. Abdal M, Masoudi Alavi N, Adib-Hajbaghery M. Clinical Self-Efficacy in Senior Nursing Students: A Mixed- Methods Study. Nurs Midwifery Stud [Internet]. 2015 [cited 2017 Apr 17]; 4(3):e29143. Available from: https://dx.doi.org/10.17795/nmsjournal29143
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-2222. Sohrabi Z, Kheirkhah M, Sahebzad ES, Rasoulighasemlouei S, Khavandi S. Correlation between Students’ Self-Efficacy and Teachers’ Educational Leadership Style in Iranian. Glob J Health Sci [Internet]. 2016 [cited 2018 Mar 14]; 8(7):260-5. Available from: https://dx.doi.org/10.5539/gjhs.v8n7p260
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Os resultados mostraram que indivíduos do sexo masculino apresentaram maior autoeficácia em comparação ao feminino. A literatura também aponta maior nível de autoeficácia em homens, relacionando este fato aos escores mais elevados de estresse percebido, sofrimento psicológico, sintomas somáticos e ansiosos, presentes em mulheres.66. Saleh D, Camart N, Romo L. Predictors of Stress in College Students. Front Psychol [Internet]. 2017 [cited 2018 Mar 14];8:19. Available from: https://dx.doi.org/10.3389/fpsyg.2017.00019
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Portando, a maior prevalência de estressores mentais no sexo feminino pode fundamentar os menores níveis de autoeficácia encontrados nas mulheres neste estudo.

Por outro lado, diferente dos achados deste estudo, foram encontradas evidências de predomínio de baixa autoeficácia (62,7%) em universitários66. Saleh D, Camart N, Romo L. Predictors of Stress in College Students. Front Psychol [Internet]. 2017 [cited 2018 Mar 14];8:19. Available from: https://dx.doi.org/10.3389/fpsyg.2017.00019
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e ausência de diferenças desse escore entre os sexos,2121. Abdal M, Masoudi Alavi N, Adib-Hajbaghery M. Clinical Self-Efficacy in Senior Nursing Students: A Mixed- Methods Study. Nurs Midwifery Stud [Internet]. 2015 [cited 2017 Apr 17]; 4(3):e29143. Available from: https://dx.doi.org/10.17795/nmsjournal29143
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traduzindo o caráter heterogêneo e as peculiaridades de cada população.

Adicionalmente, os presentes dados demonstraram que a opção prioritária no vestibular pelo curso de enfermagem, a satisfação com o curso e a ausência de sobrecarga foram relacionadas com níveis mais elevados de autoeficácia. Estas variáveis podem traduzir o bem estar dos alunos e lhes auxiliarem no enfrentamento do estresse. Achados recentes na literatura comprovaram a relação inversa entre autoeficácia e níveis de estresse,2323. Bodys-Cupak I, Majda A, Zalewska-Puchała J, Kamińska A. The impact of a sense of self-efficacy on the level of stress and the ways of coping with difficult situations in Polish nursing students. Nurse Educ Today [Internet]. 2016 [cited 2017 Apr 17]; 45:102-7. Available from: https://doi.org/10.1016/j.nedt.2016.07.004
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o que pode explicar, em parte, a relação encontrada neste estudo.

Uma pesquisa polonesa identificou que o nível de estresse e de autoeficácia foi elevado na maioria dos estudantes de enfermagem da amostra. Evidenciou ainda que os estudantes com baixos níveis de estresse percebido apresentaram maior autoeficácia e aqueles com maiores escores desta variável utilizaram com mais frequência estratégias ativas de enfrentamento em situações estressantes. Os autores concluíram que a autoeficácia elevada influenciou o nível de estresse e, também as formas de lidar com situações desafiadoras em estudantes de enfermagem.2323. Bodys-Cupak I, Majda A, Zalewska-Puchała J, Kamińska A. The impact of a sense of self-efficacy on the level of stress and the ways of coping with difficult situations in Polish nursing students. Nurse Educ Today [Internet]. 2016 [cited 2017 Apr 17]; 45:102-7. Available from: https://doi.org/10.1016/j.nedt.2016.07.004
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Os resultados apontaram, ainda, que os escores de autoeficácia correlacionaram-se positivamente com a idade e autoestima. Essa condição pode estar relacionada com o amadurecimento trazido pelo tempo1 e uma maior capacidade de resolução dos conflitos advindos da graduação.

A correlação entre autoestima e autoeficácia também foi encontrada na literatura55. Valizadeh L, Zamanzadeh V, Gargari RB, Ghahramanian A, Tabrizi FJ, Keogh B. Pressure and protective factors influencing nursing students' self-esteem: A content analysis study. Nurse Educ Today [Internet]. 2016 [cited 2017 Apr 17]; 36:468-72. Available from: https://dx.doi.org/10.1016/j.nedt.2015.10.019
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e demonstra a importância de se investigar e trabalhar nesta população estes dois constructos em conjunto. Apesar de a existência de correlação entre autoestima e autoeficácia, algumas características investigadas nesta amostra foram associadas à autoeficácia, mas não à autoestima (sexo masculino, preferência pela enfermagem como opção no vestibular, satisfação com o curso e ausência de sobrecarga). Pesquisas que busquem esclarecer os mecanismos envolvidos na relação entre autoestima e autoeficácia são necessárias, visto a escassez destas informações na literatura.

Vale ressaltar que, embora esses conceitos sejam semelhantes e relacionados, não têm o mesmo significado. Autoeficácia é a crença que um indivíduo tem sobre sua capacidade de realizar com sucesso determinada tarefa que está por vir. Já autoestima são as ideias que uma pessoa tem sobre si mesma, construídas ao longo de sua vida e que geram um sentimento de aceitação ou negação. Desta forma, ainda que esses fenômenos sejam correlacionados positivamente, a autoestima pode não influenciar a capacidade da pessoa na realização de algumas atividades específicas.1717. Polydoro SAJ, Guerreiro-Casanova DC. Higher education self-efficacy scale: Construction and validation research. Aval Psicol [Internet]. 2010 [cited 2017 Apr 17]; 9(2):267-278. Available from: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1677-04712010000200011
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Considerando-se o momento oportuno para reflexão diante do tema investigado e as relações entre docentes e discentes, presentes durante toda graduação, torna-se valioso descrever outras variáveis importantes encontradas na literatura que influenciaram os níveis de autoeficácia em estudantes. As análises qualitativas de uma pesquisa, embasada em métodos mistos, demonstraram que a autoeficácia em estudantes de enfermagem sofreu influências da postura do professor, dos enfermeiros clínicos e dos próprios pacientes. Os alunos relataram que precisavam de confiança e encorajamento de seus professores.2121. Abdal M, Masoudi Alavi N, Adib-Hajbaghery M. Clinical Self-Efficacy in Senior Nursing Students: A Mixed- Methods Study. Nurs Midwifery Stud [Internet]. 2015 [cited 2017 Apr 17]; 4(3):e29143. Available from: https://dx.doi.org/10.17795/nmsjournal29143
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Dados adicionais refletem a influência dos formadores na autoeficácia de seus alunos. Em consonância com os nossos resultados, um estudo recente também identificou que a maioria de estudantes de graduação em enfermagem apresentou de moderada a alta autoeficácia. Os autores evidenciaram, ainda, que o estilo de liderança adotado pelos professores foi associado a estes escores. Esta associação foi observada principalmente no estilo de liderança transformacional, cujos pilares são fundamentados na confiança, respeito, colaboração e comprometimento, características que favoreceram uma maior autoeficácia dos alunos.2222. Sohrabi Z, Kheirkhah M, Sahebzad ES, Rasoulighasemlouei S, Khavandi S. Correlation between Students’ Self-Efficacy and Teachers’ Educational Leadership Style in Iranian. Glob J Health Sci [Internet]. 2016 [cited 2018 Mar 14]; 8(7):260-5. Available from: https://dx.doi.org/10.5539/gjhs.v8n7p260
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Para compreender melhor o comportamento desta variável e o papel do professor neste contexto, um estudo longitudinal, realizado no Reino Unido, apresentou uma curva de adaptação vivida pelos alunos ao longo da graduação. Entre o primeiro e o quarto mês deste período houve níveis aumentados de ansiedade e incerteza relacionados ao processo de transição e adaptações necessárias. Entre o quarto e o oitavo mês, a maioria ilustrou uma maior autoeficácia, começando a demonstrar suas estratégias de enfrentamento para lidar com o estresse. Neste momento, a empatia, a atenção, o respeito e o feedback positivo de professores, bem como, um senso crescente de pertencer a uma comunidade, facilitaram o empoderamento e a autoeficácia dos alunos. Essas condições foram fundamentais para a transição bem sucedida ao final de doze meses.11. Porteous DJ, Machin A. The lived experience of first year undergraduate student nurses: A hermeneutic phenomenological study. Nurse Educ Today [Internet]. 2018 [cited 2018 Mar 14]; 60:56-61. Available from: https://dx.doi.org/10.1016/j.nedt.2017.09.017
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Em relação aos escores de autoestima, observou-se um predomínio de autoestima moderada, com média de 23,48, que não apresentou relação com as variáveis estudadas. Foram encontradas na literatura prevalências heterogêneas desta variável na população universitária, variando de baixa,22. Acharya Pandey R, Chalise HN. Self-Esteem and Academic Stress among Nursing Students. Kathmandu Univ Med J (KUMJ) [Internet]. 2015 [cited 2017 Apr 17]; 3(52):298-302. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27423278
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,66. Saleh D, Camart N, Romo L. Predictors of Stress in College Students. Front Psychol [Internet]. 2017 [cited 2018 Mar 14];8:19. Available from: https://dx.doi.org/10.3389/fpsyg.2017.00019
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moderada2424. Younes F, Halawi G, Jabbour H, El Osta N, Karam L, Hajj A, et al. Internet addiction and relationships with insomnia, anxiety, depression, stress and self-esteem in university students: a cross-sectional designed study. PLoS One [Internet]. 2016 [cited 2017 Apr 17]; 11(9):e0161126. Available from: https://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0161126
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e até elevada.2525. Shi J, Wang L, Yao Y, Su N, Zhao X, Chen F. Family Impacts on Self-Esteem in Chinese College Freshmen. Front Psychiatry [Internet]. 2017 [cited 2018 Mar 14]; 8:279. Available from: https://dx.doi.org/10.3389/fpsyt.2017.00279.
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-2626. Papazisis G, Nicolaou P, Tsiga E, Christoforou T, Sapountzi-Krepia D. Religious and spiritual beliefs, self-esteem, anxiety, and depression among nursing students. Nurs Health Sci [Internet]. 2014 [cited 2018 Mar 14]; 16(2):232-8. Available from: https://dx.doi.org/10.1111/nhs.12093
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Corroborando os dados desta pesquisa, um recente estudo americano, conduzido com estudantes universitários, identificou uma média de autoestima de 22,63, pela escala de Rosenberg. Os autores ainda encontraram relação da autoestima com o uso excessivo de Internet e o perfil psicológico dos estudantes. A baixa autoestima associou-se ao aumento da insônia, ansiedade, depressão, estresse e ao uso em excesso de Internet.2424. Younes F, Halawi G, Jabbour H, El Osta N, Karam L, Hajj A, et al. Internet addiction and relationships with insomnia, anxiety, depression, stress and self-esteem in university students: a cross-sectional designed study. PLoS One [Internet]. 2016 [cited 2017 Apr 17]; 11(9):e0161126. Available from: https://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0161126
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Estes dados remetem a uma outra interface da autoestima, influenciada negativamente pelo uso crescente de tecnologias digitais, que necessita ser mais explorado por investigações futuras.

Este estudo demonstrou, ainda, que não houve influência das variáveis sociodemográficas na autoestima dos participantes. Recentes pesquisas também não encontraram associação de autoestima com o sexo66. Saleh D, Camart N, Romo L. Predictors of Stress in College Students. Front Psychol [Internet]. 2017 [cited 2018 Mar 14];8:19. Available from: https://dx.doi.org/10.3389/fpsyg.2017.00019
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,2525. Shi J, Wang L, Yao Y, Su N, Zhao X, Chen F. Family Impacts on Self-Esteem in Chinese College Freshmen. Front Psychiatry [Internet]. 2017 [cited 2018 Mar 14]; 8:279. Available from: https://dx.doi.org/10.3389/fpsyt.2017.00279.
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-2626. Papazisis G, Nicolaou P, Tsiga E, Christoforou T, Sapountzi-Krepia D. Religious and spiritual beliefs, self-esteem, anxiety, and depression among nursing students. Nurs Health Sci [Internet]. 2014 [cited 2018 Mar 14]; 16(2):232-8. Available from: https://dx.doi.org/10.1111/nhs.12093
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e a renda familiar.22. Acharya Pandey R, Chalise HN. Self-Esteem and Academic Stress among Nursing Students. Kathmandu Univ Med J (KUMJ) [Internet]. 2015 [cited 2017 Apr 17]; 3(52):298-302. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27423278
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,2727. Nematollahi A, Tavakoli P, Akbarzadeh M. The relationship between self-esteem and students' academic achievement and some parental demographic factors. Sch J App Med Sci [Internet]. 2017 [cited 2018 Mar 16];5(5A):1758-64 Available from: https://dx.doi.org/10.21276/sjams
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Contrariamente, outra investigação revelou que a autoestima foi significativamente maior em homens, além de sofrer influência direta da idade, da renda familiar, dos gastos mensais e da área de residência dos estudantes.2828. Haq MA. Association Between Socio-Demographic Background and Self-Esteem of University Students. Psychiatr Q [Internet]. 2016 [cited 2018 Mar 16]; 87(4):755-62. Available from: https://doi.org/10.1007/s11126-016-9423-5
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Uma pesquisa de âmbito mundial, com envolvimento de 48 países, demonstrou diferenças de sexo e idade na autoestima. Em todas as nações, os homens tinham níveis mais elevados de autoestima do que as mulheres. Ambos mostraram aumentos graduados de autoestima a partir do final da adolescência até a idade adulta média. Os autores ainda hipotetizaram que fatores socioeconômicos, sociodemográficos e de igualdade de gêneros contribuíram para as diferenças encontradas.2929. Bleidorn W, Arslan RC, Denissen JJ, Rentfrow PJ, Gebauer JE, Potter J, et al. Age and gender differences in self-esteem-A cross-cultural window. J Pers Soc Psychol [Internet]. 2016 [cited 2018 Mar 16]; 111(3):396-410. Available from: https://dx.doi.org/10.1037/pspp0000078
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Ademais, os presentes dados não demonstraram diferença entre os níveis de autoestima e o ano da faculdade. Estes dados divergem dos achados de uma recente pesquisa longitudinal que avaliou a autoestima do primeiro ao último ano da graduação. Em média, os níveis de autoestima diminuíram substancialmente durante o primeiro semestre, recuperaram-se no final do primeiro ano e aumentaram gradualmente ao longo dos três anos seguintes, produzindo um pequeno, mas significativo aumento da média de autoestima do início ao fim da faculdade.3030. Chung JM, Robins RW, Trzesniewski KH, Noftle EE, Roberts BW, Widaman KF. Continuity and change in self-esteem during emerging adulthood. J Pers Soc Psychol [Internet]. 2014 [cited 2018 Mar 16]; 106(3):469-83. Available from: https://dx.doi.org/10.1037/a0035135
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A literatura ainda demonstra outros fatores relacionados à autoestima. Dentre os fatores que a influenciaram positivamente destacam-se apoio familiar percebido,22. Acharya Pandey R, Chalise HN. Self-Esteem and Academic Stress among Nursing Students. Kathmandu Univ Med J (KUMJ) [Internet]. 2015 [cited 2017 Apr 17]; 3(52):298-302. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27423278
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,2525. Shi J, Wang L, Yao Y, Su N, Zhao X, Chen F. Family Impacts on Self-Esteem in Chinese College Freshmen. Front Psychiatry [Internet]. 2017 [cited 2018 Mar 14]; 8:279. Available from: https://dx.doi.org/10.3389/fpsyt.2017.00279.
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renda mensal satisfatória,2525. Shi J, Wang L, Yao Y, Su N, Zhao X, Chen F. Family Impacts on Self-Esteem in Chinese College Freshmen. Front Psychiatry [Internet]. 2017 [cited 2018 Mar 14]; 8:279. Available from: https://dx.doi.org/10.3389/fpsyt.2017.00279.
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e crença religiosa.2626. Papazisis G, Nicolaou P, Tsiga E, Christoforou T, Sapountzi-Krepia D. Religious and spiritual beliefs, self-esteem, anxiety, and depression among nursing students. Nurs Health Sci [Internet]. 2014 [cited 2018 Mar 14]; 16(2):232-8. Available from: https://dx.doi.org/10.1111/nhs.12093
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Dentre aqueles que se relacionaram de maneira negativa com esse constructo destaca-se o estresse,22. Acharya Pandey R, Chalise HN. Self-Esteem and Academic Stress among Nursing Students. Kathmandu Univ Med J (KUMJ) [Internet]. 2015 [cited 2017 Apr 17]; 3(52):298-302. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27423278
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2742...
menor idade,22. Acharya Pandey R, Chalise HN. Self-Esteem and Academic Stress among Nursing Students. Kathmandu Univ Med J (KUMJ) [Internet]. 2015 [cited 2017 Apr 17]; 3(52):298-302. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27423278
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2742...
e menor escolaridade.22. Acharya Pandey R, Chalise HN. Self-Esteem and Academic Stress among Nursing Students. Kathmandu Univ Med J (KUMJ) [Internet]. 2015 [cited 2017 Apr 17]; 3(52):298-302. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/27423278
https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/2742...

Um recente estudo classificou fatores que afetaram a autoestima de estudantes de enfermagem em dois grupos: um positivo chamado de proteção e outro negativo chamado de pressão. Dentre os fatores de pressão foram destacados: baixa autoeficácia dos alunos, senso de trivialidade, interação ineficaz entre professor e aluno e baixa autoconfiança. Já os fatores de proteção incluíram aquisição de conhecimento, autonomia profissional, crenças religiosas e o interesse ao escolher a área de enfermagem.55. Valizadeh L, Zamanzadeh V, Gargari RB, Ghahramanian A, Tabrizi FJ, Keogh B. Pressure and protective factors influencing nursing students' self-esteem: A content analysis study. Nurse Educ Today [Internet]. 2016 [cited 2017 Apr 17]; 36:468-72. Available from: https://dx.doi.org/10.1016/j.nedt.2015.10.019
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Vale ressaltar, ainda, que evidências recentes sugerem que altos níveis de autoestima contribuem para a diminuição dos transtornos de ansiedade e depressão.77. Bajaj B, Robins RW, Pande N. Mediating role of self-esteem on the relationship between mindfulness, anxiety, and depression. Pers Individ Dif [Internet]. 2016 [cited 2018 Mar 14];96:127-31. Available from: https://dx.doi.org/10.1016/j.paid.2016.02.085
https://dx.doi.org/10.1016/j.paid.2016.0...
Pesquisas têm comprovado a relação inversa entre a depressão e a autoestima,66. Saleh D, Camart N, Romo L. Predictors of Stress in College Students. Front Psychol [Internet]. 2017 [cited 2018 Mar 14];8:19. Available from: https://dx.doi.org/10.3389/fpsyg.2017.00019
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-77. Bajaj B, Robins RW, Pande N. Mediating role of self-esteem on the relationship between mindfulness, anxiety, and depression. Pers Individ Dif [Internet]. 2016 [cited 2018 Mar 14];96:127-31. Available from: https://dx.doi.org/10.1016/j.paid.2016.02.085
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,2424. Younes F, Halawi G, Jabbour H, El Osta N, Karam L, Hajj A, et al. Internet addiction and relationships with insomnia, anxiety, depression, stress and self-esteem in university students: a cross-sectional designed study. PLoS One [Internet]. 2016 [cited 2017 Apr 17]; 11(9):e0161126. Available from: https://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0161126
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demonstrando a magnitude das vantagens na promoção de saúde mental ao se trabalhar a autoestima dos graduandos.

Ao explorar a literatura corrente pode-se observar que a autoestima e a autoeficácia consistiram em objetos de estudo em diversas pesquisas. No entanto, nota-se claramente uma prevalência heterogênea de seus níveis e das variáveis que podem influenciar os estudantes universitários. Este aspecto traduz a necessidade de investigações em diferentes instituições de ensino, que propiciem dados peculiares e a vulnerabilidade de cada população, considerando-se diferentes contextos sociais e culturais, imprescindíveis para o embasamento de ações assertivas por parte das autoridades educacionais.

Ademais, embora as evidências deixem claro o papel dos professores na promoção da saúde mental dos estudantes, dados recentes apontaram a presença de uma violência simbólica e psicológica nas relações docentes-discentes. Essa condição pode causar um distanciamento entre estes, que muitas vezes, repercute de maneira negativa na saúde dos graduandos,1313. Zanatta EA, Motta MGC, Trindade LL, Vendruscolo C. Experiences of violence in the nursing training process: repercussions of corporeity in youths. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2018 [cited 2018 Sept 11]; 27(3):e3670016. Available from: https://dx.doi.org/10.1590/0104-07072018003670016
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demonstrando que o tema ainda precisa ser amplamente debatido dentro do contexto acadêmico.

Importantes implicações para a prática devem ser consideradas a partir do presente estudo. Os achados apontam para a necessidade do fortalecimento da saúde mental em estudantes de enfermagem, favorecendo o sentimento de valor que dão a si mesmos e a crença em suas capacidades. Autoridades educacionais precisam estar alerta a esta vulnerabilidade; bem como, aos fatores associados, uma vez que esses constructos mostraram relação entre si e assumem um papel imprescindível tanto na vida pessoal do indivíduo como no processo de profissionalização. Promovê-los em ambiente universitário torna-se imprescindível para contribuição na construção de jovens saudáveis e produtivos.

Além disso, os achados subsidiam um olhar ampliado para futuras pesquisas de intervenção com foco na autoestima e na autoeficácia dos estudantes para que consigam transpor os obstáculos de forma mais saudável e efetiva, prevenindo desfechos negativos e facilitando a aprendizagem.

Este estudo foi limitado pelo seu delineamento transversal e pela impossibilidade de avaliar os estudantes ao longo do curso de graduação para que se pudessem identificar as fases mais críticas. Deve-se destacar como frágil a escolha de um instrumento genérico para mensuração da autoeficácia dos participantes. Não há instrumentos específicos, traduzidos e validados para o Brasil direcionados a essa população.

Ademais, os instrumentos empregados nesta pesquisa são subjetivos e de autorrelato, portanto, exigem reflexão e autoconhecimento por parte do respondente. Além disso, apesar da garantia do anonimato, o participante pode se sentir desconfortável em expressar crenças depreciativas em relação a si mesmo e admitir capacidade reduzida de realizar tarefas com sucesso.

CONCLUSÃO

O presente estudo identificou um predomínio de autoestima moderada e autoeficácia moderada a alta. Estudantes de enfermagem com maiores escores de autoestima apresentaram melhor autoeficácia.

A autoeficácia foi mais bem desempenhada pelos estudantes do sexo masculino, que optaram prioritariamente pelo curso de Enfermagem no vestibular, que relataram satisfação com o curso e ausência de sobrecarga, além de ter se correlacionado positivamente com a idade dos estudantes.

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NOTAS

  • APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

    Aprovado no Comitê de Ética em Pesquisa Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto, parecer 1.586.156 e CAAE 55752516.2.0000.5415.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    20 Dez 2019
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    12 Nov 2018
  • Aceito
    17 Maio 2019
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