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REDES SOCIAIS DIGITAIS: EXPOSIÇÃO À VIOLÊNCIA NA INTIMIDADE ENTRE ADOLESCENTES À LUZ DA COMPLEXIDADE

RESUMO

Objetivo:

o presente estudo visa conhecer a percepção de adolescentes, imersos na era digital, sobre a violência nos realcionamentos íntimos sob a perspectiva do Paradigma da Complexidade.

Método:

abordagem qualitativa do tipo pesquisa social estratégica, e teve como participantes 39 adolescentes, de ambos os sexos, frequentadores do ensino médio de duas escolas estaduais de um município do interior do estado de São Paulo, Brasil. Os dados foram coletados utilizando entrevistas, grupos focais, no período compreendido entre outubro de 2016 a abril de 2017 sendo analisados à luz do referido Paradigma.

Resultados:

os resultados indicaram: a aceitação da ocorrência de violência nos relacionamentos íntimos entre os adolescentes; persistência de tabus, mitos e crenças na sociedade e reproduzidos nos relatos dos participantes; novas formas de violência, relacionamento e noções engendradas e atualizadas pela era digital; prevalência de violência psicológica entre os adolescentes.

Conclusão:

o estudo evidencia a associação entre amor e violência por ciúme, o controle e dominação das redes sociais do parceiro como forma de amor legitimadas no cotidiano das relações íntimas, sendo estas expressas de diversas formas. A não aceitação de determinadas condições é percebida como uma forma de traição. O Paradigma da Complexidade contribuiu de forma imprescindível para o desenvolvimento de um olhar integral sobre a temática, proporcionando maior clareza sobre os elementos que compõem o fenômeno de modo articulado e contextualizado.

DESCRITORES:
Violência por parceiro íntimo; Adolescente; Saúde escolar; Pesquisa qualitativa

ABSTRACT

Objective:

this study aims to learn the perception of adolescents, who are immersed in the digital age, about intimate partner violence, from the perspective of the Paradigm of Complexity.

Method:

a qualitative and strategic social research; 39 adolescents, males and females, attending high school in two state schools in a city in the state of São Paulo, Brazil, participated in the study. Data was collected through interviews and focus groups between October 2016 and April 2017 and analyzed in the light of the referred Paradigm.

Results:

the results showed the following: acceptance of violence in intimate relationships among adolescents; persistence of taboos, myths and beliefs in society that were reproduced in the participants’ reports; new forms of violence, relationships and notions engendered and updated by the digital age; prevalence of psychological violence among adolescents.

Conclusion:

the study shows the association between love and violence out of jealousy and the control and power over the partner’s social networks as a legitimate form of love in the daily life of intimate relationships, which are expressed in different ways. Failure to accept certain conditions is perceived as a form of cheating. The Paradigm of Complexity contributed in an indispensable way by offering an integral look on the theme and by providing greater clarity about the elements that make up the phenomenon in an articulated and contextualized way.

DESCRIPTORS:
Intimate partner violence; Adolescent; School health; Qualitative research

RESUMEN

Objetivo:

el presente estudio pretende conocer la percepción de los adolescentes, inmersos en la era digital, sobre la violencia en las relaciones íntimas, desde la perspectiva del Paradigma de la Complejidad.

Método:

enfoque cualitativo del tipo investigación social estratégica, que tuvo como participantes a 39 adolescentes, de ambos sexos, estudiantes secundarios en dos escuelas estatales de un municipio del interior del estado de San Pablo, Brasil. Los datos se recolectaron por medio de entrevistas y grupos focales en el período comprendido entre octubre de 2016 y abril de 2017, siendo analizados a la luz del mencionado Paradigma.

Resultados:

los resultados indicaron lo siguiente: la aceptación de hechos de violencia en las relaciones íntimas entre; la persistencia de tabúes, mitos y creencias en la sociedad y reproducidos en los testimonios de los participantes; nuevas formas de violencia, vinculación y nociones engendradas y actualizadas por la era digital; y prevalencia de la violencia psicológica entre los adolescentes.

Conclusión:

en el estudio se evidencia una asociación entre el amor y la violencia por celos, el control y la dominación de las redes sociales de la pareja como forma de amor legitimándolas en la vida diaria de las relaciones íntimas y manifestándose de diversas formas. No aceptar determinadas condiciones se percibe como una forma de traición. El Paradigma de la Complejidad contribuyó de manera imprescindible para lograr una perspectiva integral sobre la temática, proporcionando mayor claridad sobre los elementos que componen el fenómeno de un modo articulado y contextualizado.

DESCRIPTORES:
Violencia ejercida por la pareja; Adolescente; Salud escolar; Investigación cualitativa

INTRODUÇÃO

Na contemporaneidade, a violência é apontada e reconhecida como um problema social e de saúde pública, posto que afeta a saúde das pessoas envolvidas.11. Organização Mundial da Saúde. Prevenindo a violência juvenil: um panorama das evidências. São Paulo, SP (BR): OMS; 2016 [cited 2019 Aug 07]. Available from: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/181008/9789241509251-por.pdf?sequence=5
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Entende-se a violência por parceiro íntimo ou dentro de uma relação íntima como aquela que gera detrimento físico, sexual ou psicológico, figurando entre atos de agressão física, coerção sexual, abuso psicológico e comportamentos controladores.22. Centers for Disease Control and Prevention. Preventing teen dating violence. Atlanta (US): CDC; 2019 [cited 2019 Aug 08]. Available from: https://www.cdc.gov/violenceprevention/pdf/tdv-factsheet.pdf
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Para refletir sobre a violência nas relações de intimidade entre adolescentes, o presente estudo considera o conceito de adolescência proposto pela Organização Mundial da Saúde como uma fase da infância para a vida adulta, identificada por mudanças e desenvolvimento físico, emocional, mental e social, e estruturação da personalidade, correspondente à faixa etária de 10 a 19 anos.11. Organização Mundial da Saúde. Prevenindo a violência juvenil: um panorama das evidências. São Paulo, SP (BR): OMS; 2016 [cited 2019 Aug 07]. Available from: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/181008/9789241509251-por.pdf?sequence=5
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A adolescência é o período de maior vulnerabilidade para o ser humano desenvolver conflitos em relacionamentos íntimos devido a diversos fatores, incluindo imaturidade emocional, desejo de independência, tendência em agravar as desigualdades de gênero, bem como pelo consentimento da violência pela idealização do parceiro/a e do amor romântico.33. Cecchetto F, Oliveira Q, Njaine K, Minayo MC. Violence as perceived by adolescent males in the affective-sexual interaction, in ten Brazilian cities. Interface (Botucatu) [Internet]. 2016 [cited 2019 Mar 06];20(59):853-64. Available from: https://doi.org/10.1590/1807-57622015.0082
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,44. Rosa DOA, Ramos RCS, Gomes TMV, Melo MM, Melo VH. Violence caused by an intimate partner in users of Primary Health Care: prevalence and associated factors. Saúde Debate. [Internet] 2018 [cited 2019 Aug 08];42(4):67-80. Available from: https://doi.org/10.1590/0103-11042018s405
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Neste contexto, a presença da violência é aceita e manifesta de diversos modos sendo muitas vezes interpretada como uma forma de amor.33. Cecchetto F, Oliveira Q, Njaine K, Minayo MC. Violence as perceived by adolescent males in the affective-sexual interaction, in ten Brazilian cities. Interface (Botucatu) [Internet]. 2016 [cited 2019 Mar 06];20(59):853-64. Available from: https://doi.org/10.1590/1807-57622015.0082
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-55. Beserra MA, Leitão MNC, Fabião JASAO, Dixe MAR, Veríssimo CMF, Ferriani MGC. Prevalence and characteristics of dating violence among school-aged adolescents in Portugal. Esc. Anna Nery [Internet]. 2016 [cited 2019 Mar 06];20(1):183-91. Available from: https://doi.org/10.5935/1414-8145.20160024
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A banalização de atos de violência vivenciados nos relacionamentos íntimos possivelmente se dá muitas vezes pela convivência diária com tais atos dos mais diversos tipos, tais como apalpões, toques, beliscões, apertões nos braços, ciúmes e o próprio ato sexual. Essas expressões muitas vezes não são entendidas como forma de violência pelos adolescentes, mas são estratégias românticas regidas por valores de dominação e subjugação.33. Cecchetto F, Oliveira Q, Njaine K, Minayo MC. Violence as perceived by adolescent males in the affective-sexual interaction, in ten Brazilian cities. Interface (Botucatu) [Internet]. 2016 [cited 2019 Mar 06];20(59):853-64. Available from: https://doi.org/10.1590/1807-57622015.0082
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Adolescentes que sofrem alguma forma de violência no relacionamento íntimo tendem a ficar indiferentes ou a normalizar o acontecimento, a aceitá-la e a permitir e/ou reproduzir comportamentos violentos nos seus relacionamentos futuros.44. Rosa DOA, Ramos RCS, Gomes TMV, Melo MM, Melo VH. Violence caused by an intimate partner in users of Primary Health Care: prevalence and associated factors. Saúde Debate. [Internet] 2018 [cited 2019 Aug 08];42(4):67-80. Available from: https://doi.org/10.1590/0103-11042018s405
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-66. Beserra MA, Leitão MNC, Fernandes MID, Scatena L, Vidinha TSS, Silva LMP et al. Prevalence of Dating Violence among Adolescents from Brazilian Public Schools of Recife/Pe - Brazil. Rev Enf Ref [Internet]. 2015 [cited 2019 Mar 04];4(7):91-9. Available from: https://doi.org/10.12707/RIV15006 .
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Na atualidade da era digital, os adolescentes apresentam novas demandas às instituições escolares, de saúde, de segurança, entre outras, já que fazem uso constante de dispositivos tecnológicos de comunicação e entretenimento, permanecendo conectados e integrando as tecnologias em suas vidas.77. Linne J. Two generations of digital natives. Intercom: Rev Bras Cien Communication [Internet]. 2014 [cited 2019 Mar 06];37(2):203-21. Available from: https://doi.org/10.1590/1809-584420149 .
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Assim, a experiência e presença da violência nos relacionamentos íntimos e disseminada entre os adolescentes pelo acesso às Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) compõem um mosaico que desafia a construção de modelos de atenção integral à saúde capazes de favorecer, nesse momento peculiar da vida, o protagonismo, a autonomia e o cuidado consigo e com o outro. Para minimizar essa dificuldade, é necessário compreender como esse público se expressa e vivencia o fenômeno da violência na relação de intimidade na contemporaneidade.

Destarte, estudo visa conhecer a percepção de adolescentes, imersos na era digital, sobre a violência nos realcionamentos íntimos sob a perspectiva do Paradigma da Complexidade. Dessa forma, esse estudo oferece subsídios para compreender nos relacionamentos íntimos digital experienciam a violência, e poderá auxiliar profissionais da Atenção Primária em Saúde na construção intersetorial de estratégias de prevenção da violência.

O tema possui grande relevância internacional, tanto para melhorar as relações íntimas entre os jovens quanto para prevenir a violência conjugal.33. Cecchetto F, Oliveira Q, Njaine K, Minayo MC. Violence as perceived by adolescent males in the affective-sexual interaction, in ten Brazilian cities. Interface (Botucatu) [Internet]. 2016 [cited 2019 Mar 06];20(59):853-64. Available from: https://doi.org/10.1590/1807-57622015.0082
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Ademais, a investigação sobre as diversas expressões e manifestações que a violência nas relações afetivas vem possuindo é um meio de fornecer subsídios para trabalhos de interação/intervenção com a proposta de aperfeiçoar as experiências afetivas, fomentar a equidade de gênero e prevenir a violência entre parceiros íntimos.

MÉTODO

Trata-se de pesquisa com abordagem qualitativa do tipo pesquisa social estratégica à medida em que visa compreender os sujeitos em seus próprios contextos onde se desenvolvem os fenômenos sociais e os aspectos subjetivos da ação social.88. Pádua EMM. Complexidade e Pesquisa Qualitativa: aproximações. Série Acad [Internet] 2015 [cited 2016 Jan 09];32(2):39-48. Available from: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5554725/mod_resource/content/1/artigo_disciplina_quali_complexidade.pdf
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O estudo foi realizado em duas escolas públicas do município de Batatais (SP), Brasil, com 39 estudantes adolescentes frequentadores do ensino médio.

Como critério de inclusão participaram adolescentes regularmente matriculados e frequentes no ensino médio no momento da pesquisa, podendo ou não já ter vivenciado um relacionamento íntimo e independente de sua orientação sexual. A escolha pelo 2º e 3º anos fora proposta pelas direção da escola viabilizando a organização interna das instituições, orientação respeitada pelas pesquisadoras.

A coleta dos dados ocorreu entre outubro de 2016 e abril de 2017, por meio da realização de grupos focais (GFs) e de entrevistas semiestruturadas dentro das escolas em sala reservada. As duas estratégias utilizadas foram moderadas pela pesquisadora principal da pesquisa. Optou-se por não ter observadores por tratar-se de uma temática delicada priorizando a fidedignidade dos dados, e por considerar que tal presença poderia acarretar desconforto aos participantes.

Os GFs, também chamados de grupos de diálogo, propiciam o processo de fala e escuta qualificada e o registro pormenorizado das percepções de adolescentes, permitindo, pela interação, a captação e a comparação das distintas e semelhantes percepções e experiências partilhadas88. Pádua EMM. Complexidade e Pesquisa Qualitativa: aproximações. Série Acad [Internet] 2015 [cited 2016 Jan 09];32(2):39-48. Available from: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5554725/mod_resource/content/1/artigo_disciplina_quali_complexidade.pdf
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. Foram realizados quatro GFs.Em cada GF realizou-se duas atividades e cada sessão contou com a participação de sete a onze adolescentes, e durou entre 40 e 60 minutos. Na primeira atividade, realizou-se a sensibilização do tema por meio da apresentação de figuras impressas que representavam situações que ocorrem entre casais, como casais abraçados, mensagens de amor, um casal discutindo e redes sociais. Um roteiro pré-estabelecido norteava a discussão, problematizando-as, a saber: i) O que é um relacionamento íntimo (ideal)? ii) Quais comportamentos são positivos e quais são prejudiciais numa relação de intimidade? iii) O que é violência?

Na segunda atividade do GF, realizou-se uma atividade para discussão de crenças a respeito de violência e relações de intimidade dos adolescentes, na qual a pesquisadora apresentou-se aos participantes um roteiro com frases afirmativas tais como: i) O namorado/a tem o direito de controlar aonde a/o namorada/o vai ou com quem conversa; ii) Em briga de casal ninguém pode se intrometer; iii) As pessoas que são maltratadas e não pedem ajuda é porque não se importam com a situação. Os adolescentes foram convidados a se manifestar quando identificavam suas crenças, seguindo o parâmetro de resposta estabelecido como 1- Não concordo; 2- Concordo pouco (talvez); 3- Concordo; e 4- Concordo muito. Posteriormente, foram estimulados a discorrer mais sobre suas convicções.

Outra estratégia utilizada para complementar o GF na coleta de dados foi a realização de entrevistas semiestruturadas, que contemplaram questões relativas ao núcleo familiar, testemunho de violência entre os pais, e experiências amorosas positivas e negativas. Foram realizadas 15 entrevistas, com seis participantes do sexo masculino e nove participantes do sexo feminino, com duração média de 20 a 35 minutos. Os critérios para escolha dos entrevistados foram: ter participado do GF, demonstração de livre interesse e ter chamado a atenção de algum modo durante a realização do GF, seja por iniciar o relato de algo, mas não completá-lo, desistir do relato, demonstrar incômodo frente a alguma pergunta ou ao relato de outro participante.

O roteiro das entrevistas abrangeu três questões norteadoras e abertas que permitiram obter um olhar específico do participante sobre o fenômeno em estudo: i) O que é namorar ou estar em um relacionamento íntimo para você? ii) Pode existir violência em uma relação de intimidade? Como? iii) Você já vivenciou alguma situação de violência?

Para manter anonimato dos participantes, adotou-se a codificação associando o sexo (H para homem; M para mulher) e a ordem do GF (g1, g2,...), dos participantes (p1, p2,...), e das entrevistas (e1, e2,...), numerados de acordo com a sequência em que foram realizados. As gravações dos GFs e entrevistas junto aos adolescentes foram autorizadas, sob garantia de anonimato, e posteriormente transcritas na íntegra. Os dados obtidos apresentaram redundância e repetição após o 4º GF e 15ª entrevista, o que a levou a finalização a inclusão de novos participantes no estudo.

A conjugação desses métodos de construção dos dados, sua análise e posterior interpretação guiou-se pelo Paradigma da Complexidade.99. Morin E. Introdução ao pensamento complexo. 3th ed. Porto Alegre, RS (BR): Sulina; 2007. O Paradigma da Complexidade emergiu em busca da compreensão dos fenômenos complexos e considera as contradições, a instabilidade, a imprevisibilidade e a incontrolabilidade dos fenômenos, entendendo-os em constante transformação, sempre em processo de devir e de tornar a ser, dialeticamente, desse modo, viabiliza a abordagem multidimensional, transdisciplinar, dinâmica e contextual da realidade.1010. Morin E. Ciência com consciência. 8th ed. Rio de Janeiro, RJ (BR): Bertrand Brasil; 2005

Os princípios do Pensamento Complexo que fundamentarão este trabalho são o Dialógico, o Recurso Organizacional e o Hologramático. O princípio Dialógico reivindica a conjugação e associação de elementos contraditórios na análise de um determinado fenômeno, relacionando-os ao mesmo tempo como complementares e antagônicos, produzindo reorganização e complexidade.99. Morin E. Introdução ao pensamento complexo. 3th ed. Porto Alegre, RS (BR): Sulina; 2007. O princípio Recurso Organizacional concebe, diferentemente da relação causa-efeito, o processo não linear nas relações causais, que evidência os produtos e os efeitos como causas e produtores daquilo que os produziu, ou seja, o indivíduo é produto e produtor dos processos interacionais.1010. Morin E. Ciência com consciência. 8th ed. Rio de Janeiro, RJ (BR): Bertrand Brasil; 2005 O Hologramático preconiza que o estudo de um fenômeno deve proporcionar a distinção entre as partes e a constatação do todo, incorporando essas partes, sem que estas se dissolvam e percam suas diferenças.99. Morin E. Introdução ao pensamento complexo. 3th ed. Porto Alegre, RS (BR): Sulina; 2007.-1010. Morin E. Ciência com consciência. 8th ed. Rio de Janeiro, RJ (BR): Bertrand Brasil; 2005

Os dados foram analisados mediante o Paradigma da Complexidade, seguindo-se o roteiro com três fases:88. Pádua EMM. Complexidade e Pesquisa Qualitativa: aproximações. Série Acad [Internet] 2015 [cited 2016 Jan 09];32(2):39-48. Available from: https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/5554725/mod_resource/content/1/artigo_disciplina_quali_complexidade.pdf
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i) Classificação e organização das informações coletadas para obter um olhar do conjunto da pesquisa e a visão de questões específicas conexas à totalidade do pesquisado. Os relatos foram transcritos na íntegra, elencando-se os pontos mais citados, mais relevantes, e específicos ao fenômeno em estudo; ii) Organização de quadros referenciais com os significativos elementos das respostas dos participantes, de modo a se ter um olhar ampliado do conjunto das informações que viabilizam categorizá-las; e, iii) Concentração dos relatos, entendimentos, ideias que se conversavam e eram implicados/compreendidos por conceitos, para estabelecer relações entre os dados por meio da organização destes em categorias.

O trabalho de pesquisa seguiu as normas para pesquisas envolvendo seres humanos e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo.

RESULTADOS

O estudo teve como participantes 39 estudantes adolescentes, sendo 25 (64,1%) do sexo feminino e 14 (35,9%) do sexo masculino, entre 15 e 18 anos de idade, do Ensino Médio (82,1% do segundo ano e 17,9% do terceiro ano) que aceitaram espontaneamente participar do estudo. No que tange a orientação sexual, apenas um (2,5%) participante se autodeclarou homo afetivo, sendo do sexo masculino, e por este percentual baixo optou-se não haver distinção na coleta de dados nesta esfera.

Quando os participantes foram questionados sobre a ocorrência de violência no relacionamento íntimo, a passividade e a aceitação foram identificadas como fenômenos comuns:

É normal, porque faz parte de um relacionamento (p9/H-g3).

Um beliscão faz parte, xingar faz parte [...] (e13/M).

As explanações acima indicam que “normalizar” algumas manifestações de violência, aparentemente, podem ser justificadas pelo estado emocional de quem a proferiu.

Dentre as estratégias que podem ser adotadas para garantir a fidelidade da relação de intimidade, a aceitação se mostrou naturalizada, tendendo à banalização:

Xingar, um apertozinho, beliscão, não forte, acontece, vai (p10/H-g1).

[...] na hora da raiva acontece, todo mundo sabe (p4/M-g3).

Mandar foto pelada pra qualquer coisa. Isso já é falta de vergonha na cara, a mulher manda porque quer, não tem essa de chantagem (p5/H-g1).

Nessa seara, a idealização do amor é apontada como justificativa para suportar ou praticar algumas violências, ainda que algumas regras sejam acordadas.

Tipo quando você começa a namorar cria um vínculo, tipo você é um corpo só. O que você pode, pode; o que não pode, não pode (p6/M-g2).

É porque ela gosta dele, e quando a mulher tem sentimento pelo homem ela aguenta qualquer coisa. Não é só a mulher, o homem também quando gosta (p1/M-g1).

Os relatos também se concentraram no sentimento de querer controlar o outro e na expressão de ciúme:

Pra minha namorada ir num lugar, eu tenho que saber, se não, não vai (p8/H-g3).

Se você gostar, vai ter ciúmes, é normal... Eu sei que eu sou ciumento, tento não ser obsessivo. [...] Mas se não tiver ciúmes você pensa que a pessoa não te ama, não gosta de você (p3/H-g4).

Eu larguei da minha namorada [...] Teve uma vez que ela pediu pra eu tirar foto pra mostrar que eu ia tomar banho, que tava no quarto. Me ligava tempo todo pra saber onde tava, o que tava fazendo. Muito melosa sabe, muito amorosa, amorosa demais, ai não dava não [...] (e2/H).

Diante disso, saber aonde o/a parceiro/a vai e autorizá-lo/a; mostrar-se obsessivo/a e agir sem pensar; e obter controle por meio de instrumentos como os smartphones seriam demonstrações de amor.

Como exposto no relato de e2/H, a comunicação instantânea excessiva, quando levada às últimas consequências foi interpretada como um comportamento “meloso”, mas que sugere a desconfiança da mesma, dada à insistência na vigilância sobre os hábitos cotidianos do namorado. A facilidade de acesso às Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) via smartphones, e com estes compartilhar sons, imagens, localização por meio de uma infinidade de aplicativos tem se apresentado como um possível e novo fator de risco que pode desencadear, além de uma aproximação instantânea, também a violência no relacionamento íntimo entre os adolescentes.

Diante disso, tem-se uma sistematização das crenças e noções encontrados nos enunciados dospartipantes, ilustrada na Figura 1. Em suma, constatou-se que as relações dos adolescentes foram construídas com base em crenças e senso comum, propagados ao longo do tempo, constituindo-se em elementos propiciadores para a aceitação/banalização de algumas dimensões da violência por esta não ser reconhecida como tal.

Figura 1 -
Configuração dos elementos existentes nos relatos dos adolescentes sobre o fenômeno da violência nas relações de intimidade, 2018.

Diversos fatores como mentira, falta de confiança, traição, uso de álcool e drogas, questão social e econômica, tempo, e redes sociais digitais foram apontados como motivadores para a ocorrência da violência, sendo este último o elemento mais evidenciado pelos participantes.

Verifica-se uma ação de vigilância manifestada quando o/a parceiro/a deseja saber os conteúdos contidos nas contas das redes sociais virtuais, pois na medida em que o/a parceiro/a insiste em querer a senha do smartphone e das redes sociais concretiza-se uma invasão de privacidade, de estratégia de manipulação, de desejo de controlar as conversas, logo, de violência.

Quando fica insistindo muito é tipo violência né, por causa da senha... tem gente que quebra até o celular por causa de Facebook e mensagem de WhatsApp... aí eu acho violência, você está tirando espaço da pessoa e tirando a privacidade dela (e5/M).

O que gera a violência é ciúmes por causa de celular, WhatsApp, Facebook e internet... todos os tipos de redes sociais que existe na vida, porque sempre tem coisa que um ou outro não gosta, ou que alguém faz, ai quer “ficar” controlando celular do outro, olhando senha e o que faz (p5/H-g4).

Meu ex era de outra cidade [...]. a gente se via de final de semana, a primeira coisa que ele fazia quando ia lá em casa, era pedir pra ver meu celular. E isso pra mim é a pior coisa num relacionamento (p5/M-g1).

Nessa dimensão relacional, as redes sociais digitais têm se caracterizado como um possível e novo fator de risco para o desencadeamento da violência no relacionamento íntimo entre adolescentes, sendo utilizada como um canal para obter o saber-poder e, logo, o controle sobre o/a companheiro/a.

O não compartilhar a senha dos smartphones e o acesso às redes sociais entre si e desejar manter a privacidade representa motivo de desconfiança e suspeitação, mas o acesso irrestrito não pode ser visto como violência, afinal, há um pacto entre ambos. Ademais, há compreensão desse desejo de controle como prova de confiança, que foi um dos pilares dos relacionamentos desejados por muitos participantes.

Pra mim não, não é violência, É normal isso, eu não tenho nada pra esconder. Eu tive que ficar insistindo muito pra ter, pra poder mexer no celular. Eu pego o celular dele e vejo e ele também pega meu celular e vê, Facebook fica aberto, sem senha (p/M-g4).

Não acho que é violência [insistir], se a pessoa não passar a senha, ela vai começar a desconfiar que tem algo ali, que tá conversando com outro, que tá traindo (p3/M-g1).

Não tem que obrigar, você pede. Se ele não quer dar, alguma coisa tem. Eu espero ele dormir e vou mexer no WhatsApp dele, sem ele acordar (p7/M-g3).

Dessa forma, o acesso às redes sociais, unilateral ou não, seja pela posse da senha de acesso ou do aparelho celular, foi relacionado à ocorrência de violência, manifestada de diferentes modos.

Meu namorado pediu a senha do meu face e fica mexendo no meu Whats. Era pra eu ter o dele também, mas ele não deu de jeito nenhum. Acho que ele fica mais no meu face do que no dele. A gente tá junto 2 anos e 8 meses e a gente briga por tudo, tudo. Tem vez que ele fica muito estressado, aí ele começa a dar soco na parede e eu começo a rir, rir de medo. Ele é obsessivo, ele é doente. Chega a dar medo (p6/M-g4).

Querem controlar tudo, até celular... Aí os dois vão ficando estressado, perde a noção das coisas, tem cara aqui da escola que bate na namorada porque ela aceitou um homem no Facebook ou seguiu no Instagram, e a namorada fica louca quando ele curte foto de outra garota e acaba atacando ele também (p3/H-g4).

Embora as expressões de ciúmes dentro de certos limites fossem consideradas pelos/as adolescentes como demonstrações de amor, algumas vieram acompanhadas de manifestações de violência amedrontadoras que evidenciaram um amor obsessivo, doentio. Os fragmentos expressam uma nova manifestação da violência nos relacionamentos íntimos entre adolescentes: a redução e o controle da privacidade. Esta se manifesta na insistência para conseguir a senha do celular e ter acesso às redes sociais digitais, como Instagram, Facebook, WhatsApp e muitas outras, ao buscar o domínio sobre a vida do outro.

O ideal de transparência das relações, manifesto pela necessidade de acesso irrestrito de smartphones e mídias sociais, expõe, paradoxalmente, a fragilidade dessas mesmas relações de intimidade. Os relatos demonstram o entendimento de que na vivencia em um relacionamento íntimo, nada pode estar oculto aos olhos do outro, caso contrário, é considerado uma forma de traição.

Namoro para mim tem que unir os dois porque senão, não adianta nada namorar e ‘ficar’ um pro lado e outro pro outro. Tem que tá junto e saber de tudo o tempo todo [...] (P8/H-G2).

O perfil sempre foi em conjunto, porque pra mim esconder algo é uma traição. Traição não é só ‘ficar’ com outra pessoa [...] (p1/M-g1).

Nessa esteira, ceder as senhas de acesso às redes sociais digitais ao(a) parceiro(a) tem sido interpretado como uma nova forma de prova de amor pelos adolescentes.

Sim, já me pediram uma prova de amor: a senha do Facebook, WhatsApp, para ver quantos contatos, quantas meninas, o que eu conversava e com quem conversava (e2/H).

Porque é amor né, você não dá a senha se não amar ele, porque ele vai saber da minha vida tudo ali, e se ele ama, também tem que dá (e14/M).

A senha de um aparelho eletrônico que possibilita o acesso às redes sociais digitais do outro tem se tornado uma das principais ferramentas que viabiliza uma nova forma e um novo canal para uma forma sutil de violência, e uma nova forma de demonstração de amor na contemporaneidade.

Uma das estratégias utilizadas pelos partipantes para lidar com possíveis brigas decorrentes do acesso às redes sociais digitais foi a criação de um perfil em comum em tais redes. Pressupõe-se que esta seria não só uma alternativa para a resolução dos conflitos e das desconfianças, mas também a manifestação de um contrato estabelecido e desejado, em que ambos se permitem, para terem um controle mútuo de si mesmos, conforme ilustrado pelas seguintes falas:

É... quando a gente começou a namorar sério mesmo, eu e ele fizemos um Facebook juntos sabe. Ainda mais, se eu te falar que acho ruim é mentira, porque acho muito melhor desse jeito. Porque não tem esse negócio, se ele tiver fazendo aquilo ou isso e nem ele comigo, entendeu? Então foi um jeito de a gente ter uma rede social, usar à vontade, fazer o que querer, sem ter esse problema de desconfiança. A gente fez e deu certo! (p8/M-g1).

Nós fizemos o perfil junto no Facebook, porque, tipo assim, eu não quero que meu namorado converse com outra menina. Eu não converso. Eu conversava antes, mas namorando não. Só tenho amigos homens dentro da sala, tenho colegas, né? Nem tem esse negócio de ‘ficar’ no face conversando com os outros, ele não tem esse negócio de amigas, né? (p5/M-g3).

A díade relacional público x privado se fica evidente com a criação de um perfil de utilização comum entre os parceiros, possibilitando certo controle do outro e a exclusão de assuntos de foro íntimo e amigos do sexo oposto neste meio de comunicação. Neste cenário, diferentes tramas foram tecidas pelos participantes em torno das redes sociais digitais na atualidade. As novas configurações e estratégias engendradas por eles estão sistematizadas na Figura 2.

Figura 2 -
Novos elementos, configurações e estratégias engendradas pelos adolescentes em torno das redes sociais digitais, 2018.

DISCUSSÃO

A apreensão dos relatos sob o princípio dialógico99. Morin E. Introdução ao pensamento complexo. 3th ed. Porto Alegre, RS (BR): Sulina; 2007. exibe a relação e a co-dependência existente entre as lógicas afeto e agressão. Estes fatores se completam e são opostos nas relações. Esse princípio permitiu observar como os/as autores/as da violência ou as vítimas lidam com os conflitos, com as incertezas e instabilidades no relacionamento. Sendo assim, os vários aspectos apontados pelos adolescentes se convergiam para um elemento em comum, a saber: a não distinção entre amor e violência, sendo o controle ou dominação do parceiro interpretado como muito “melosa” e “amorosa” demais.

O mesmo acontece com o desejo de controle manifesto na cessão de uma autorização para sair ou conversar com amigo/as como sendo uma prática sinônima ao amor. Esses dados confirmam estudos que encontraram atos de ciúme associada ao amor pelos adolescentes, e a violência como um ato de amor aceito nas relações afetivas, demonstrando, assim, certa dificuldade no reconhecimento de ações violentas e de expressões de amor que se misturam na percepção dos adolescentes.33. Cecchetto F, Oliveira Q, Njaine K, Minayo MC. Violence as perceived by adolescent males in the affective-sexual interaction, in ten Brazilian cities. Interface (Botucatu) [Internet]. 2016 [cited 2019 Mar 06];20(59):853-64. Available from: https://doi.org/10.1590/1807-57622015.0082
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-55. Beserra MA, Leitão MNC, Fabião JASAO, Dixe MAR, Veríssimo CMF, Ferriani MGC. Prevalence and characteristics of dating violence among school-aged adolescents in Portugal. Esc. Anna Nery [Internet]. 2016 [cited 2019 Mar 06];20(1):183-91. Available from: https://doi.org/10.5935/1414-8145.20160024
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A demonstração de ciúme e o sentimento de controle se comportaram como importantes elementos na construção e no estabelecimento das relações de intimidade dos e pelos adolescentes. Destarte, o controle excessivo que pode prevenir brigas ou o ciúme exposto como demonstração de zelo são paradoxais na trama das relações de intimidade. Em meio à materialização da crença do amor romantizado, do relacionamento ideal que deve ser preservado a todo custo; de que o outro é a “metade da laranja” e que a felicidade completa reside no estar junto foram manifestos sutilmente em muitos relatos. Esses dados corroboraram com os estudos que explicitam como o mito de amor ideal é o mecanismo cultural e um dos principais motivos para a aceitação da violência.33. Cecchetto F, Oliveira Q, Njaine K, Minayo MC. Violence as perceived by adolescent males in the affective-sexual interaction, in ten Brazilian cities. Interface (Botucatu) [Internet]. 2016 [cited 2019 Mar 06];20(59):853-64. Available from: https://doi.org/10.1590/1807-57622015.0082
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-55. Beserra MA, Leitão MNC, Fabião JASAO, Dixe MAR, Veríssimo CMF, Ferriani MGC. Prevalence and characteristics of dating violence among school-aged adolescents in Portugal. Esc. Anna Nery [Internet]. 2016 [cited 2019 Mar 06];20(1):183-91. Available from: https://doi.org/10.5935/1414-8145.20160024
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,1111. Andrade TA, Lima AO. Violência e namoro na adolescência: uma revisão de literatura. Desidades: Rev Eletr Divulg Cient Infan Juvent [Internet]; 2018 [cited 2019 Aug 12];19(6):20-35. Available from: https://revistas.ufrj.br/index.php/desidades/article/view/18889/11132
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Sob a lente do princípio de recurso organizacional foi possível observar o/a autor/a da violência e a vítima como produtos e produtores dos seus processos interacionais e da sociedade, para assim compreender a interconexão que fornece as características das violências no relacionamento íntimo. Neste contexto, percebe-se a existência do paradoxo da atualidade, característico da pós-modernidade, nas relações de intimidade desses adolescentes, em que há a busca pelo prazer, da ética hedonista, da individualidade, das redes de relações efêmeras e amores líquidos.1212. Bauman, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro, RJ (BR): Zahar Editora; 2001. Contudo, mesmo diante dessas dissoluções e dos desejos de autonomia e liberdade em seus relacionamentos íntimos, simultaneamente, reproduzem condutas frente a situações de violência, baseadas em referências tradicionais, fazendo com que a idealização de um amor romântico se faça tão presente como há 40, 50, 60 anos.

Esta modernidade líquida1212. Bauman, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro, RJ (BR): Zahar Editora; 2001. exibe os sentimentos e significados atribuídos à violência pelos adolescentes do estudo e suas relações de intimidade, a saber: de indiferença, de aceitação e naturalização. Diante disso, muitas formas de violências se tornaram invisíveis e, frequentemente, tanto o autor quanto a vítima da violência não tiveram ciência da sua manifestação e do seu significado na relação ou, quando cientes, tornaram-na aceita e consentida. Esses achados convergem com os estudos que destacam a naturalização da violência nas relações dos jovens brasileiros ao demonstrar que os/as adolescentes agredidos/as pelos parceiros/as acharam normal ou indiferente e que dificilmente elaboravam sentimentos ou reflexões acerca da agressão, o que colaboravam para a invisibilização e na banalização do fenômeno.33. Cecchetto F, Oliveira Q, Njaine K, Minayo MC. Violence as perceived by adolescent males in the affective-sexual interaction, in ten Brazilian cities. Interface (Botucatu) [Internet]. 2016 [cited 2019 Mar 06];20(59):853-64. Available from: https://doi.org/10.1590/1807-57622015.0082
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-66. Beserra MA, Leitão MNC, Fernandes MID, Scatena L, Vidinha TSS, Silva LMP et al. Prevalence of Dating Violence among Adolescents from Brazilian Public Schools of Recife/Pe - Brazil. Rev Enf Ref [Internet]. 2015 [cited 2019 Mar 04];4(7):91-9. Available from: https://doi.org/10.12707/RIV15006 .
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O princípio hologramático favoreceu uma visão ampliada das violências nas relações de intimidade entre os adolescentes em suas distintas dimensões. Esse princípio possibilita analisar a violência em sua totalidade, mas desmembrada em dimensões distintas, sem perder suas especificidades e conectividades. Portanto, neste estudo, apesar do alto índice de violência física relatada entre os participantes, as agressões verbais e psicológicas foram as mais frequentes. Esses dados são reforçados por estudos de em que a existência de violência verbal e física advinham de xingamentos, ciúme, o desejo de controle do parceiro, traição e fofoca.33. Cecchetto F, Oliveira Q, Njaine K, Minayo MC. Violence as perceived by adolescent males in the affective-sexual interaction, in ten Brazilian cities. Interface (Botucatu) [Internet]. 2016 [cited 2019 Mar 06];20(59):853-64. Available from: https://doi.org/10.1590/1807-57622015.0082
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,1111. Andrade TA, Lima AO. Violência e namoro na adolescência: uma revisão de literatura. Desidades: Rev Eletr Divulg Cient Infan Juvent [Internet]; 2018 [cited 2019 Aug 12];19(6):20-35. Available from: https://revistas.ufrj.br/index.php/desidades/article/view/18889/11132
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-1313. Oliveira RNG, Gessner R, Brancaglioni BC, Fonseca RMGS, Egry EY. Preventing violence by intimate partners in adolescence: an integrative review. Rev Esc Enf USP [Internet]. 2016 [cited 2018 June 20];50(1):134-43. Available from: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0408
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Revelam-se, também, as conexões entre as diferentes dimensões de violência, de ordem física, verbal, psicológica, financeira e cyberviolência (redes sociais), atuando concomitantemente.

As principais configurações inseridas na violência psicológica entre os participantes do presente estudo foram o uso do controle em si, ao tentar dominar ou monitorar o que o/a parceiro/a fazia e ao insistir no acesso das redes sociais digitais do outro, sendo tais atitudes interpretadas como ações de confiança e fidelidade; e a chantagem emocional, por meio do ciúme e da crença no amor ideal que legitimaram a violência, justificaram ações irrefletidas e isentaram a responsabilidade do/a autor/a da violência.

Com o advento das redes sociais e mídias digitais novas ideias e ações foram engendradas e atualizadas nas relações de intimidade, conforme o contexto social digital dos adolescentes do estudo, a saber: i) uma nova forma de relacionamento conhecida como crush, que adveio do termo utilizado nos aplicativos digitais e redes sociais como Facebook ® , Twitter ® , Instagram ® e WhatsApp ® para designar a pessoa que se paquera, tem uma “queda”, uma paixão, romance; ii) um novo conceito de “prova de amor” que foi transformado para o consentimento do acesso a senha do celular e aplicativos digitais, para acesso ao conteúdo pelo companheiro; e, iii) novas e diferentes formas de violência, como a cyberviolência e por meio da insistência do/a parceiro/a em querer a senha e os acessos ao celular e às redes sociais digitais do outro. Assim, resultam em manipulação, no controle sobre o outro, e na ausência da privacidade de uma (ou ambas) das partes, constituindo uma nova modalidade para atingir o equilíbrio emocional do/a parceiro/a íntimo/a. Percebe-se que para os adolescentes do sexo masculino, ocorre a desqualificação do sofrimento da mulher, sendo menos valorizada e sempre será julgada, enquanto que o homem que pede e recebe a foto de nudez, sendo por meio de chantagem emocional ou não, não será penalizado. Ademais, as explanações dos adolescentes evidenciaram o não entendimento desse fenômeno como uma forma de violência.

Esse estilo de vida, permeado pelo consumo de tecnologias digitais/virtuais, condiciona os jovens e adolescentes a desvios das redes cognitivo-afetivas configuradas pela rápida adaptação e fluidez, fazendo com que estes sujeitos nem sempre usufruam de espaços para reflexão sobre eles e sobre as decisões tomadas.1414. Gardner H, Davis K. La Generación APP. Buenos Aires (AR): Paidós; 2014. Na busca de resoluções para os problemas e conflitos, os adolescentes tendem a ausência de criatividade e ao desejo de estratégias/alternativas pré-fabricadas.1414. Gardner H, Davis K. La Generación APP. Buenos Aires (AR): Paidós; 2014.

Uma das estratégias utilizadas pelos pesrticipantes do estudado para lidar com a situação das redes sociais digitais e possíveis brigas/desconfianças foi a criação de um perfil em comum nas redes sociais digitais. Dessa forma, há a refutação da noção de que cada um pode ter sua vida particular e seus/uas próprios/as amigos/as, principalmente os/as pertencentes ao sexo oposto ao do/a parceiro/a. Esta ideia aludiu a uma violência emocional velada e não reconhecida pelos adolescentes, configurada na perpetuação e aceitação do afastamento de amigos. Desse modo, há menção á concepção de que há um contrato para a vivência de um relacionamento íntimo, seja para demarcação de território, seja para assegurar o acesso e o conhecimento da vida do outro, como garantia de lealdade e fidelidade.

Ademais, a manifestação desse contrato estabelecido é desejada por ambos, o que permite controle mútuo de si mesmos. Dessa forma, a ideia de que haveria assuntos de foro íntimo, particular de um dos dois acaba sendo deixada em segundo plano e até mesmo sem importância. Isso remete a um mecanismo de anulação a que grande parte destes adolescentes se submete, principalmente, para a manutenção do relacionamento.

No material foi encontrado o fenômeno da violência materializada de diversas formas nas relações de intimidade dos participantes, tendo como autores e vítimas ambos os sexos. É sabido que a violência de gênero transpassa a violência na relação de intimidade e que ambos os sexos a sofrem mesmo que de modo distinto e com diferente proporção, pois para as mulheres as consequências são mais atenuantes e graves.33. Cecchetto F, Oliveira Q, Njaine K, Minayo MC. Violence as perceived by adolescent males in the affective-sexual interaction, in ten Brazilian cities. Interface (Botucatu) [Internet]. 2016 [cited 2019 Mar 06];20(59):853-64. Available from: https://doi.org/10.1590/1807-57622015.0082
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-66. Beserra MA, Leitão MNC, Fernandes MID, Scatena L, Vidinha TSS, Silva LMP et al. Prevalence of Dating Violence among Adolescents from Brazilian Public Schools of Recife/Pe - Brazil. Rev Enf Ref [Internet]. 2015 [cited 2019 Mar 04];4(7):91-9. Available from: https://doi.org/10.12707/RIV15006 .
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Ademais, estudos apontam que a autoria de violência por parte dos adolescentes do sexo feminino está intensamente associada e é decorrente de sentimentos de raiva e revidação ou autodefesa diante da violência perpetrada pelo parceiro.1111. Andrade TA, Lima AO. Violência e namoro na adolescência: uma revisão de literatura. Desidades: Rev Eletr Divulg Cient Infan Juvent [Internet]; 2018 [cited 2019 Aug 12];19(6):20-35. Available from: https://revistas.ufrj.br/index.php/desidades/article/view/18889/11132
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-1313. Oliveira RNG, Gessner R, Brancaglioni BC, Fonseca RMGS, Egry EY. Preventing violence by intimate partners in adolescence: an integrative review. Rev Esc Enf USP [Internet]. 2016 [cited 2018 June 20];50(1):134-43. Available from: https://doi.org/10.1590/0034-7167-2016-0408
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O Paradigma da Complexidade propõe um recurso às ideias, às práticas de vida, aos valores, às noções e aos conceitos sociais e culturais que sofreram um esvaziamento de seus conteúdos pela modernidade, por meio do método e forma de pensar do Pensamento Complexo, que conduz à ressignificação e produz/origina novos significados a todos esses elementos.99. Morin E. Introdução ao pensamento complexo. 3th ed. Porto Alegre, RS (BR): Sulina; 2007.,1010. Morin E. Ciência com consciência. 8th ed. Rio de Janeiro, RJ (BR): Bertrand Brasil; 2005 Desse modo, os adolescentes seriam capazes de engendrar novos modos de resolver os conflitos de violência, sem serem autores da violência e sem responderem à situação da mesma forma, mas com estratégias que possibilitassem novos diálogos, novas estratégias de comunicação, e a erradicação das ações violentas. Na atuação de profissionais da saúde, educação, segurança urbana e proteção social, e dos próprios adolescentes busca-se, multiprofissionalmente e como referência social, desenvolver um conjunto de interações que, no interior dos relacionamentos dos adolescentes entre si e destes com a sociedade, haja novas possibilidades.

Estudos realizados com profissionais da saúde apontam a falta de conhecimento das competências éticas e legais no cuidado às pessoas que vivenciam violência em realacionamentos íntimos, como a ausência de clareza sobre sigilo, orientações de práticas adequadas e diferenciação entre denúncia policial e notificação compulsória, e ressaltam procedimentos assistenciais com perspectiva biológica.1515. Acosta DF, Gomes VLO, Oliveira DC, Gomes GC, Fonseca AD. Ethical and legal aspects in nursing care for victims of domestic violence. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2017 [cited 2019 Mar 04];26(3):e6770015. Available from: https://doi.org/10.1590/0104-07072017006770015
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,1616. Silva EB, Padoin SMM, Vianna LAC. Violence against women and care practice in the perception of the health professionals. Texto Contexto Enferm [Internet]. 2015 [cited 2019 Mar 05];24(1):229-37. Available from: https://doi.org/10.1590/0104-07072015003350013
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Reforça-se a necessidade de debates sérios para a construção de um currículo na educação básica e superior dos cursos de educação e saúde, atento ao fenômeno entre os adolescentes, suas dimensões e gravidade; e para a formação e preparo dos professores e enfermeiros que lidam com o fenômeno no cotidiano, para que desenvolvam um olhar integral sobre o mesmo e produzam novos conhecimentos e práticas realmente capazes de enfrentar esta situação.

A realização deste estudo também foi marcada por algumas limitações. Por se tratar de aspectos de experiência pessoal, pode haver uma tendência a respostas que sejam consideradas pelos participantes mais aceitáveis pela sociedade. Outra limitação seria o tempo reduzido para construção de dados, por meio de entrevistas e de GFs. enários como o da escola exigiu a negociação com os docentes e com os participantes diante de possíveis atrasos.

CONCLUSÃO

Os métodos adotados para a abordagem qualitativa promoveram uma maior aproximação ao cenário de pesquisa e aos participantes e a prévia contextualização seguida da aproximação resultou no respeito à singularidade dos mesmos. Uma vez que a temática pesquisada tem sido eminentemente investigada com metodologias quantitativas, significantes lacunas para o conhecimento são deixadas abertas para uma importante e complexa problemática no campo da Saúde Coletiva.

Diante deste quadro, os vários aspectos apontados pelos adolescentes imersos na era digital expressam a percepção de amor associada à violência, por não as distinguir. As percepçâos de ciúme, controle e dominação das redes sociais do parceiro como forma de amor foram legitimadas no cotidiano das relações íntimas e expressas em diversas formas, como no afastamento de familiares e amigos, pela ausência de privacidade aceita de uma ou ambas as partes e por meio da coação para consentimento do acesso ao celular do outro. A não aceitação destas condições é percebida como uma forma de traição.

A presença da violência nos relacionamentos íntimos entre adolescentes escolares se manifesta de maneira plural: verbal e psicológica sendo as predominantes nos relatos. A tecnologia por meio das redes sociais digitais foi preponderante para a violência na intimidade entre adolescentes, denotando novas formas de controle e coerção. Diante disso, destaca-se aqui a escassez de pesquisas sobre as plataformas digitais como elementos e fatores de exposição que influenciam a ocorrência da violência nas relações de intimidade entre os adolescentes.

A ênfase em um modelo de educação em saúde crítico, com expressão promocional da saúde e prevenção da violência, a atuação de equipes de saúde nas escolas, bem como parcerias com sociedade civil são consistentes com a perspectiva de se combinar níveis de intervenções, capazes de empoderar os sujeitos para á transformação de fatores vulnerabilizantes que incidem sobre essa população.

Os três princípios adotados a partir do Paradigma da Complexidade proporcionou o apontamento de algumas possibilidades para superar as visões simplificadoras e reducionistas, ainda muito vigentes, sobre o fenômeno em estudo e fundamentaram a construção de uma perspectiva integrada sobre a temática. Essa ampliação pode resultar, além de uma maior clareza sobre os elementos que compõem o fenômeno da violência em sua interdependência e interconectividade, na construção intersetorial e interdisciplinar de estratégias de enfrentamento de modo articulado e contextualizado.

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NOTAS

  • ORIGEM DO ARTIGO

    Extraído da dissertação - A violência nas relações de intimidade entre os adolescentes sob a perspectiva do Paradigma da Complexidade, apresentada ao Programa de Enfermagem Materno infantil e Saúde Pública da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, em 2018.
  • FINANCIAMENTO

    Fomentos da Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP com número do processo: 2015/24069-5 e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES.
  • APROVAÇÃO DE COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA

    Aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo sob o protocolo de número 279/2016 e CAAE 56894116.0.0000.5393.

Datas de Publicação

  • Publicação nesta coleção
    07 Dez 2020
  • Data do Fascículo
    2020

Histórico

  • Recebido
    10 Abr 2019
  • Aceito
    10 Set 2019
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